quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Gaspar ao ataque; PS-UGT assistem.

Gaspar anunciou ontem um novo pacote de medidas contra o povo trabalhador:
-       O maior aumento de IRS de sempre: somados os efeitos da redução de escalões com a aplicação de uma sobretaxa de 4%, a taxa média efectiva de imposto que incide sobre o rendimento dos portugueses vai subir de 9,8% para 13,2%. Um agravamento de 34,6%!
-       Quem vai sofrer com isso é a «classe média», eufemismo que designa quem ganha mais de cerca de 1500 €/mês; contudo, os novos escalões ainda não foram revelados, pelo que as medidas podem vir a afectar quem ganha menos de 1500€/mês. São também particularmente afectados os funcionários públicos.
-       Nas contas do bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, o efeito médio será de perda de um mês de salário! Isto é, a acumular ao corte de subsídio de férias e de Natal (13/10/2011) muitas famílias vão passar de 14 salários mensais para 11 no curto espaço de cerca de um ano. E mais: vai funcionar por retenção na fonte!
-       O IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) vai aumentar, já a partir de Janeiro, para cima de 30% mais (ou valores superiores).

Com estas medidas Gaspar espera um encaixe de 3 biliões de euros, bem maior (cerca do triplo segundo algumas contas) do que aquele que conseguiria com a alteração da TSU. Isto é, a resposta de Passos-Gaspar às demonstrações de descontentamento popular, foi como prevíamos (ver n/ anterior artigo «Por enquanto, Passos-Gaspar 1, Povo 0») não ligar nada a esses factos sem importância – até disse chocarreiramente, que as manifestações tinham decorrido com muita dignidade, ou como diria outro, «o povo é sereno» (Pinheiro de Azevedo em 1975) – e passar ao ataque.
Estas medidas surgem cumulativamente a outras: cortes salariais, menos isenções na saúde, corte de subsídios de Natal e férias, scuts a pagar, degradação dos serviços sociais, aumentos da água, gás e luz, etc., etc.
Entretanto, Gaspar também se lembrou dos capitalistas. Anunciou taxas sobre transacções financeiras (Oh gentes da CGTP! Estais a ver que não havia necessidade de pôr tal nas vossas propostas, porque o Gaspar também se lembrou disso?) e diminuição de escalões no IRC. Quanto à segunda, vai diminuir o número de escalões; ainda se sabe mal o que isso vai significar. Quanto à primeira, menos se sabe. Sobre especulação bancária e grandes fortunas, nicles.

Mas, afinal, porquê estas novas medidas? Justificou-se Gaspar dizendo que era por causa do deficit orçamental estar em 6% em vez dos 4,5% que esperava ter no final de 2012 ter com as medidas anteriores. Isto é, Gaspar enganou-se e, como se enganou, paga o povo trabalhador. Ora, como o génio de Gaspar não se tem mostrado muito bom a fazer contas, podemos ter a certeza que irá reconhecer mais tarde (digamos Setembro de 2013, se chegar até lá) duas coisas: 1 - que afinal não eram 6%, era algo mais; 2 – que as novas medidas não deram os resultados que queria, pelo que são necessárias novas medidas sobre os trabalhadores.

E isto tudo num clima em que a nojeira continua impune. Por exemplo, ficou agora a saber-se que afinal o rombo do BPN (por outras palavras, o dinheiro que oficialmente ainda não se sabe muito bem onde está, mas oficiosamente já se sabe a avaliar pelos dirigentes que foram constituídos arguidos) é de 3,5 biliões de euros e não de 1,8 biliões como inicialmente se pensava; o dobro! O BPN para quem já se esqueceu era o banco de Oliveira e Costa, Duarte Lima, Khadafi, Dias Loureiro, etc. Dizia o Jornal de Notícias (3/10) que o rombo do BPN dava para pagar 5 meses de salários à função pública ou, em alternativa, para pagar o dobro da sobretaxa cobrada aos trabalhadores sobrando ainda dinheiro para a redução da TSU e a aquisição de 2 submarinos! Entretanto, as participações de corrupção ao PGR aumentam; em 2011 foram mais 2555 participações. (Os media deviam divulgar os resultados destes processos. O PCP e o BE deviam, a nosso ver, contribuir e insistir para que o povo conheça esses resultados; para que o povo saiba a que nível de ladroeira chegou o capitalismo em Portugal.)

O sector produtivo continua a ser destruído. Agora foi a vez da fábrica Valadares (fundada em 1921 e bem conhecida a nível nacional e internacional) declarar insolvência.
Cavaco Silva (o homem das acções da Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do BPN) apela a mais crescimento económico. Como é que espera que tal seja conseguido com a actual política Passos-Gaspar? Ou trata-se apenas de um apelo platónico?

E que dizem PS e UGT de tudo isto?
Bom, a UGT tem dito pouco; a única afirmação positiva é de que não alinhará na greve geral de 14 de Novembro anunciada pela CGTP. Também já não tinha alinhado na manifestação de Sábado, 29 de Outubro. Safa! Era o que faltava estar agora ao lado de maltrapilhos que se insurgem contra um governo legítimo!
O PS também afina por um diapasão semelhante. Rejeita as moções de censura do PCP e do BE. Diz Seguro que isso é resistir ao «populismo fácil» e que «As moções de censura não são para brincar e há quem brinque às moções de censura e seja mesmo viciado nelas.» Ainda se ao menos houvesse motivos para moções de censura, como por exemplo o governo estar a destruir a economia do país e a vida dos trabalhadores; então aí, sim, não seria «populismo fácil» e não se estaria a «brincar» às moções de censura. Ora, pelos vistos no entender do PS não é nada disso que se passa. Ainda p'ra mais PCP e BE são «viciados» em moções de censura. Então não é que neste governo do Passos Coelho já apresentaram p'ra aí umas dez? Não, o PS irá apresentar «propostas alternativas» durante o debate do Orçamento de Estado; irá prosseguir na sua linha de «abstenção violenta e construtiva». Disse também o impagável Francisco Assis que os «socialistas» estão equidistantes da «direita neoliberal» e da «extrema-esquerda neomarxista». Que estão distantes do marxismo e da defesa dos interesses dos trabalhadores, sem qualquer dúvida. Já quanto à direita neoliberal, como se tem verificado desde há largos anos e, em particular, com o anterior governo Sócrates, a distância é curta. E mais outra coisa: não existe neomarxismo; existe apenas marxismo. O Francisco Assis devia estar a pensar em neomodernismo e coisas semelhantes; lá para as bandas ideológicas dele é que há uma profusão de «neo» e «pós».

Até quando vai o povo trabalhador português aguentar isto? Até quando vai permitir ser enganado?

«Acordai!»