quarta-feira, 18 de julho de 2018

A Guerra Civil na Rússia (1918-1922) – Parte IV | The Russian Civil War (1918-1922) – Part IV


A Campanha Ocidental
-- A Ofensiva Polaca de 1919
-- A Campanha de 1920
    Aspectos Gerais
    A Ofensiva Polaca e Contra-Ofensiva Vermelha
    A Batalha de Varsóvia
    Prisioneiros de Guerra e Crueldade Polaca
    A Propaganda e Perseguições Polacas
-- Erros Militares e Políticos
   Erros Militares
   Erros Políticos
The Western Campaign
-- The Polish Offensive of 1919
-- The 1920 Campaign
    General Aspects
    The Polish Offensive and Red Counter-Offensive
    The Battle of Warsaw
    POWs and Polish Cruelty
    The Polish Propaganda and Persecutions
-- Military and Political Mistakes
    Military Mistakes
    Political Mistakes


A Campanha Ocidental

A Ofensiva Polaca de 1919

Na Conferência de Paz de Paris (18-21 de Janeiro de 1919) – para a qual, como já vimos, a RSFSF não foi convidada, e na qual foi preparada a guerra da Entente contra a RSFSR – foi discutida a independência da Polónia, um dos «catorze pontos» de Woodrow Wilson. Na discussão participaram líderes reaccionários polacos que defenderam a fronteira leste da Grande Polónia de 1772. Essa «Grande Polónia» englobava a Leste: a Lituânia, quase toda a Letónia, toda a Bielorrússia e toda a Ucrânia a oeste do Dniepre, o território de Kalininegrado (Prússia Oriental antes da 2.ª GM). Tratava-se de enormes territórios povoados maioritariamente por etnias não polacas, com língua, cultura e história próprias, onde camponesas e trabalhadores tinham sofrido desde tempos imemoriais a opressão de latifundiários e burguesia polacas. Apesar disso, e sem qualquer consulta às populações, a Dieta polaca numa resolução de 23 de Maio de 1919 declarou a fronteira Leste da Grande Polónia «consistente com o princípio de autodeterminação» [81]!

A Dieta surgiu na sequência da revolta polaca de 27 de Dezembro de 1918, quando já estalara a revolução na Alemanha. Era dominada por chauvinistas polacos, predominantes na nobreza, clero e intelectuais. O próprio Partido Socialista Polaco, que dominava o governo de coligação formado pelo chefe de Estado e Comandante-Chefe Josef Pilsudski, seguia uma linha chauvinista. Refere Phillips Price [11]: «a Polónia privada do seu proletariado industrial por quatro anos de guerra e deportações alemãs, estava inteiramente nas mãos dos intelectuais chauvinistas e social-imperialistas do tipo de Pilsudski».

O General Pilsudski tinha servido a Alemanha na 1.ªGM, combatendo contra a Rússia. Em troca do apoio de Pilsudski os alemães criaram em Novembro de 1916 o estado fantoche «Reino da Regência da Polónia» em cujo governo Pilsudski serviu como Ministro da Guerra, chefe aa Polnische Wehrmacht. Com a derrota iminente da Alemanha e a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, Pilsudski trocou de amigos. Começou a olhar para a Entente que lhe garantia continuar a luta contra a Rússia. Uma passagem sem perigo pela prisão de Magdeburgo dos seus ex-amigos alemães, ajudou os chauvinistas polacos a fazerem dele um herói.

Inspirador da política externa do governo, Pilsudki era um reaccionário fanaticamente anti-russo e anti-comunista [82], defensor da Grande Polónia opressora de povos. (A partir de 1926, tornou-se abertamente fascista e, por isso mesmo, foi agraciado pelo governo fascista de Carmona e Salazar, a 20 de Fevereiro de 1931, com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal.) A sua política visava «o permanente enfraquecimento da Rússia» e a sua redução a potência de segunda classe, «cortada dos mares Báltico e Negro, privada da riqueza agrícola e mineral do Sul e do Sudeste» [16]. Pilsudski reunia, portanto, todas as condições para ser apoiado pelos imperialistas da Entente como «gendarme do Leste».

A Entente, não tendo chegado a um entendimento oficial sobre a fronteira Leste com os representantes polacos na Conferência de Paris, nomeou comissões e subcomissões para estudar nos seus gabinetes o magno problema. A leitura dos trabalhos das comissões – vide [81] – é extremamente edificante. Em 29 de Março, a primeira Comissão aceitava como princípio mais importante o da maioria étnica, mas tendo em atenção «a necessidade de fortalecer as suas fronteiras defensivas [da Polónia]». O princípio da consulta aos povos foi enunciado, mas adiado até que «um governo russo, com quem os Aliados possam lidar, seja estabelecido». Por esta altura os Aliados ajudavam arduamente Koltchak, Denikin, Yudenitch, etc., a estabelecer tal governo.

Entretanto, o exército polaco de Jozef Haller (que tinha combatido na França na 1.ª GM e «se tornou parte do sistema militar de Foch para o domínio da Europa no interesse dos credores franceses» [11]) tinha saído de França e atravessado a Alemanha juntando-se aos exércitos de Pilsudski que trataram de invadir a Bielorrússia, Lituânia e Ucrânia, aproveitando o facto de o Exército Vermelho estar ocupado noutros teatros de guerra.

Em Março 1919 os exércitos polacos já tinham excedido largamente a fronteira étnica, na Bielorrússia e Ucrânia. A Entente permaneceu impassível. No início de Abril a Comissão debateu a questão de um território que a Entente queria reservar para a Lituânia. A 19 de Abril os exércitos polacos resolveram a questão tomando Vilnius e ocupando toda a Lituânia que anexaram.

A Entente continuou impassível, mas entregou a questão de definir uma «fronteira mínima» a uma subcomissão. Esta passou a esquecer a questão étnica, favorecendo os aspectos «económicos e estratégicos», e começou abertamente a incluir na Polónia territórios da Bielorrússia porque, segundo o representante dos EUA, os «russos brancos eram católicos, o seu dialecto era em parte polaco e a “polonização” estava a progredir rapidamente entre eles». O representante francês «também favoreceu uma solução “generosa” para a Polónia nesta região». Parte da Ucrânia a Oeste do rio Bug, entre Brest-Litovsk e Chelm, foi também incluída na Polónia pela subcomissão porque “toda a região a oeste estava histórica e economicamente ligada à Polónia, e o elemento ucraniano na população era comparativamente pequeno e tinha pouca consciência nacional”. Vemos, portanto, que nunca faltavam às comissões e subcomissões argumentos para transformar a «fronteira mínima» na «fronteira máxima» que as tropas de Pilsudski iam impondo no terreno.

As tropas polacas continuaram a avançar e a ocupar territórios muito para além dos definidos pelas Comissões. E a Entente continuou impassível. Ao fim e ao cabo os polacos iam subtraindo territórios aos bolcheviques e isso era o que interessava [83]. As comissões, as maiorias étnicas, etc., etc., eram mera propaganda para a opinião pública. Satisfeita com as provas dadas pelos polacos, a Entente reconheceu a independência da Polónia num anexo ao Tratado de Versalhes assinado a 28 de Junho de 1919. Conluiada com a reacção polaca, a Entente concebeu, desde o início, a Polónia independente como um estado tampão, uma espécie de chargé d’affaires do imperialismo no Leste, um gendarme do Leste europeu.

As tropas polacas continuaram a avançar. Invadiram a Galícia e a Ucrânia Ocidental, a Lituânia e o sul da Letónia, e ocuparam Minsk a 8 de Agosto de 1919. O Conselho Supremo da Entente entendeu em Agosto que a «A Galícia Oriental deveria ter autonomia provisória sob soberania polaca».

Por fim, depois de muitas peripécias em que digladiaram britânicos, franceses e americanos (os dois últimos querendo favorecer mais a Polónia), o Conselho Supremo dos Aliados emitiu uma declaração em 8 de Dezembro de 1919 em que reconhecia «o direito do governo polaco de […] de organizar uma administração regular dos territórios do antigo Império Russo situado a oeste da linha descrita abaixo». Essa linha, que veio mais tarde a ser conhecida por «linha Curzon», é mostrada no mapa abaixo. Quando a declaração foi emitida já as tropas polacas estavam muito para além da linha Curzon e o governo polaco não aceitou essa linha, nem mesmo como «fronteira provisória».
The Western Campaign

The Polish Offensive of 1919

At the Peace Conference in Paris (18-21 January 1919) -- to which, as we have seen, the RSFSF was not invited, and during which the Entente prepared the war against the RSFSR -- the independence of Poland was discussed -- one of the "fourteen points" of Woodrow Wilson. This discussion was participated by Polish reactionary leaders who defended the eastern frontier of the Greater Poland of 1772. This "Greater Poland" comprised in the East: Lithuania, almost all of Latvia, all of Belarus and all of Ukraine west of the Dnieper, the territory of Kaliningrad (Eastern Prussia before the WWII). These were vast territories populated mainly by non-Polish ethnic populations, with their own language, culture and history, where peasants and workers had suffered from time immemorial the oppression of Polish landowners and bourgeoisie. Despite this, and without any consultation with the populations, the Polish Diet in a resolution of 23 May 1919 declared the eastern frontier of Greater Poland “consistent with the principle of self-determination” [81]!

The Diet came as a result of the Polish revolt of December 27, 1918, when the revolution in Germany had begun. It was dominated by Polish chauvinists, predominant in the nobility, clergy and intellectuals. Even the Polish Socialist Party itself, which dominated the coalition government formed by the head of state and Commander-in-Chief Josef Pilsudski, followed a chauvinistic line. Phillips Price states [11]: "Poland deprived of its industrial proletariat by four years of war and German deportations, was entirely in the hands of the chauvinist intellectuals and social imperialists of the Pilsudsky type."

General Pilsudski had served Germany in the First World War, fighting against Russia. In exchange for Pilsudski's support, the Germans created in November 1916 the puppet state "Regency Kingdom of Poland" in whose government Pilsudski served as Minister of War, chief of the Polnische Wehrmacht. With the impending defeat of Germany and the Russian Revolution of February 1917, Pilsudski made a change of friends. He began looking to the Entente, assuring him the continuation of the fight against Russia. A safe passage by the Magdeburg prison of his former German friends helped the Polish chauvinists to make him a hero.

As inspirational figure of the government foreign policy, the reactionary Pilsudki, fanatically anti-Russian and anti-communist [82], defended the Greater Poland oppressor of peoples. (He became overtly fascist from 1926 onwards and for this very reason was bestowed by the fascist Portuguese government of Carmona and Salazar on February 20, 1931, the Grand Cross of the Tower and Sword Military Order of Valor, Loyalty and Merit.) His policy aimed at "the permanent weakening of Russia" and its reduction to a second-class power, "cut off from the Baltic and Black Seas, deprived of the agricultural and mineral wealth of the South and Southeast" [16]. For these reasons Pilsudski met all conditions to be upheld by the imperialists of the Entente as "gendarme of the East."

Having failed to reach an official under-standing about the Eastern frontier with the Polish representatives at the Paris Conference, the Entente nominated commissions and sub-commissions to study in their offices that major problem. The reading of the labors of the commissions -- see [81] -- is extremely edifying. On March 29, the first Commission adopted as most important principle the ethnic majority, with the proviso of taking into account “the need for strengthening its [Poland’s] defensive frontiers”. The principle of consultation with populations was enunciated, but postponed until "a Russian government, with whom the Allies could deal, was established." By this time the Allies were strenuously helping Kolchak, Denikin, Yudenitch, etc., to establish such government.

In the meantime the Polish army of Jozef Haller (who had fought in France in WWI and "became part of Foch’s military system for the domination of Europe in the interest of French creditors" [11]) had left France and went through Germany joining the armies of Pilsudski who then got ready to invade Belarus, Lithuania and Ukraine, taking advantage of the Red Army being occupied in other theaters of war.

By March 1919 the Polish armies had already far exceeded the ethnic frontier in Belarus and Ukraine. The Entente remained unmoved. In early April the Commission discussed the question of a territory that the Entente wanted to reserve for Lithuania. On April 19 the Polish armies settled the matter by taking Vilnius and occupying all of Lithuania which they annexed.

The Entente remained impassive, but it did entrust the task of defining a “minimum frontier” to a Sub-Commission. This one dropped now the ethnic issue, favoring the “economic and strategic” aspects, and proceeded to openly incorporate Belarus territories in Poland because, according to the US representative, “White Russians were Catholics, their dialect was partly Polish, and that ‘Polonization’ was making rapid progress among them". The French representative also "favored a ‘generous’ solution for Poland in this region”. Part of Ukraine west of the Bug River, between Brest-Litovsk and Chelm, was also absorbed in Poland by the Sub-Commission because "the whole region to the west of it was historically and economically connected with Poland, and the Ukrainian element in the population was comparatively small and had little national consciousness". We thus see that the Commissions and Sub-Commission were never short of arguments to transform a “minimum frontier” into the “maximum frontier” imposed on the terrain by Pilsudski's troops.

The Polish troops kept advancing and occupying territories far beyond those defined by the Commissions. And the Entente kept impassive. After all, the Poles were subtracting territories from the Bolsheviks, and that did really matter [83]. Commissions, ethnic majorities, etc., etc., were mere propaganda for public opinion. Satisfied with the Polish accomplishments, the Entente recognized the independence of Poland in an annex to the Treaty of Versailles signed on 28 June 1919. Conniving with the Polish reaction, the Entente conceived, from the outset, independent Poland as a buffer state, a kind of chargé d'affaires of imperialism in the East, a gendarme of Eastern Europe.

The Polish troops kept steadily advancing. They invaded Galicia and Western Ukraine, Lithuania and southern Latvia, and occupied Minsk on 8 August 1919. The Supreme Council of the Entente decided in August that "Eastern Galicia should have provisional autonomy under Polish sovereignty".

Lastly, after eventful hot debates among the British, the French and the Americans (the latter two wishing the furthering of favors to Poland), the Supreme Allied Council issued a declaration on December 8, 1919, in which it pledged to recognize "the right of the Polish government […] to organize a regular administration of the territories of the former Russian Empire situated to the West of the line described below." This line, which came later to be known as the “Curzon line”, is shown in the map below. When the declaration was issued the Polish troops were already far beyond the Curzon line and the Polish government did not accept that line, even as a "provisional frontier."



A Campanha de 1920

Aspectos Gerais

No início de 1920, Pilsudski, animado pelo avanço imparável das suas tropas em 1919, dispôs-se a atacar a RSFSR e a República Soviética da Ucrânia. Por trás dos polacos estava a Entente. Schuman escreve [3]: «À luz dos acontecimentos posteriores, vale a pena notar que as extravagantes ambições dos líderes polacos em 1920 foram consistente-mente combatidas pelos governos britânico e americano». É certo que a França foi quem mais ajudou Pilsudski. Mas a afirmação de Schuman é incorrecta. O RU e EUA também ajudaram Pilsudski, conforme disse Estaline num artigo de 25 de Maio 1920 [84]: «O aspecto principal é que, sem o apoio da Entente, a Polónia não poderia ter organizado o ataque à Rússia, e que a França em primeiro lugar, mas também a Grã-Bretanha e América, estão a fazer tudo o que podem para apoiar a ofensiva polaca com armas, equipamentos, dinheiro e instrutores». Tinha-se acabado o tempo das comissões e subcomissões, das fronteiras mínima, provisória, etc.

A França forneceu em 1920 os seguintes volu-mes de armas e equipamento a Pilsudski [85]:
The 1920 Campaign

General Aspects

In early 1920, Pilsudski, encouraged by the unstoppable progression of his troops in 1919, set out to attack the RSFSR and the Soviet Republic of Ukraine. Behind the Poles was the Entente. Schuman wrote [3]: "In the light of later events it is worth noting that the extravagant ambitions of the Polish leaders in 1920 were consistently opposed by the British and American Governments." Indeed, it was France who most helped Pilsudski. But Schuman's statement is incorrect. The UK and USA also provided aid to Pilsudski, as Stalin wrote in an article of May 25, 1920 [84]: "The chief point is that without the Entente’s support Poland could not have organized her attack on Russia, that France in the first place, and also Britain and America, are doing all they can to support Poland’s offensive with arms, equipment, money and instructors." The time of Commissions and Sub-Commissions, of minimum and provisional frontiers, and so on, had come to an end.

France supplied in 1920 the following quantities of weapons and equipment to Pilsudski [85]:


Estes valores, excepto para metralhadoras e camiões, são bastante superiores aos fornecidos pelos britânicos a Denikin (ver Parte III): 2,68 vezes mais canhões, 1,7 vezes mais aviões, e 1,52 vezes mais espingardas.

O governo francês gastou 350.000.000 de francos (cerca de 24,6 milhões de US$ em 1920, aprox. 303,7 milhões de US$ em 2017) a treinar e equipar entre 70 a 80 mil homens do exército de Haller. A França enviou à Polónia uma enorme missão militar compreendendo 600 instrutores e conselheiros ([11, 86]). Esta missão compreendia altos oficiais militares. Assinalem-se o General M. Weygand e o capitão Charles de Gaulle. Dos EUA, Pilsudski recebeu 40,000,000 de dólares (cerca de 493 milhões de dólares de 2017) da já conhecida American Relief Administration. As dádivas desta caridosa organização foram quase todas gastas em armamentos dos exércitos brancos [87]. O RU forneceu equipamento e transportes para Danzig.

O CCP da RSFSR, fiel à sua política de autodeterminação, aprovava a existência de uma Polónia independente. A Rússia apresentou várias propostas de paz à Polónia desde o final da 1.ª GM. Trotski [88] descreve essas propostas, de que se salienta: a de 22 de Dezembro de 1919, feita pelo Comissário do Povo dos Negócios Estrangeiros, Georgi Chicherin; a de 28 de Janeiro de 1920 feita pelo CCP; a de 2 de Fevereiro de 1920 feita pelo CEC. Mais tarde, já depois da invasão polaca de 1920, o CEC chegou a propor a paz com base na «linha Pilsudski» -- a linha em que se encontravam as tropas polacas em 26 de Abril de 1920 -- conforme refere Lenine [89]. Todas as ofertas de paz da RSFSR ou ficaram sem resposta, ou, quando as houve, foram rejeitadas sob variados e inaceitáveis pretextos. Isto mesmo é reconhecido pelo historiador burguês Schuman, que sobre as «ambições extravagantes dos polacos», refere: «Varsóvia pediu a Moscovo no final de Março [1920] que renunciasse à soberania sobre todos os territórios a oeste da fronteira de 1772, reconhecesse um protectorado polaco sobre as terras não polacas, pagasse a Varsóvia uma indemnização e permitisse a ocupação polaca de Smolensk como garantia de pagamento» [3].

Pilsudski e líderes polacos procuraram justifi-car o ataque polaco de 1920 como sendo um ataque de antecipação ao que estava a preparar a RSFSR. Os historiadores reaccionários polacos ainda hoje defendem essa tese. É uma descarada mentira destinada a mistificar a opinião pública. Tal justificação não tem sentido dado que apenas forças russas muito fracas estavam posicionadas junto à Polónia; por isso mesmo o avanço das tropas polacas em 1919 foi feito sem grandes dificuldades. De Dezembro de 1919 a Abril de 1920, a região destinada a tornar-se a Frente Ocidental estava ocupada por apenas três divisões de infantaria e três brigadas da RSFSR; na região sudoeste da Ucrânia, onde Pilsudski tinha afirmado ter notado grandes concentrações de forças, havia em Janeiro de 1920 apenas uma única divisão de infantaria [29].

Na realidade, foi só depois do início da invasão pela Polónia a 6 de Março que a RSFSR tomou medidas para transferir forças para a Frente Ocidental (ver telegrama de Lenine de 11 de Março, [90]). E essa transferência levou tempo dadas as grandes distâncias a percorrer, o que permitiu rápidos e profundos avanços dos exércitos polacos. Existem outras razões para rejeitar a tese dos reaccionários polacos (que faz estranhamente lembrar a tese dos nazis quando invadiram a Polónia), nomeadamente o facto de que a RSFSR chegou, como já dissemos, a propor a paz em plena invasão polaca, com os exércitos na «linha Pilsudski», em condições extremamente vantajosas para os polacos. A boa fé dos dirigentes da RSFSR também transparece noutros factos. «Lenine estava tão ansioso por uma resposta positiva da Polónia que quando Varsóvia anunciou a 4 de Fevereiro ter recebido a proposta de paz do CCP, tomou isso como consentimento para iniciar conversações e denominou este evento como uma vitória sem sangue e de grande significado [91].

Em 1920 Pilsudski dispunha de um exército estimado em mais de 200 mil homens. Com o apoio de Pilsudski o terrorista russo Boris Savinkov tinha organizado um exército branco de 30 mil homens [1]. Outros exércitos pro-vinham do Leste Europeu, nomeadamente da Ucrânia Ocidental, graças aos serviços de Simon Petliura, líder militar e político do movimento ucraniano de independência, anti-semita e fanático anti-russo que tinha sido vassalo de Denikin e se tornou vassalo de Pilsudski. Em 23 de Abril de 1920, Pilsudski concluiu um tratado com Petliura, segundo o qual este reconhecia a soberania polaca sobre a Galícia Oriental em troca da ajuda polaca na criação dum regime anti-soviético na Ucrânia. Mais tarde, quando os polacos invadiram a Ucrânia, tornou-se claro que era a Polónia quem controlava a Ucrânia. Petliura era um mero fantoche. Os grupos de bandidos de Petliura, cujas bandeiras ostentavam a suástica [3], pouca ajuda prestaram na guerra, mas foram eficientes no assassinato de judeus, apesar das inúmeras ordens anti-pogrom que emitiram para impressionar bem a Entente. A «independência» da Ucrânia de Petliura foi reconhecida pelo Papa Bento XV.

Em suma, o exército polaco era efectivamente um exército branco, com toda a corja branca do Leste Europeu, apoiada pelos intervencionistas da Entente, com bênção papal. A invasão polaca branca tinha como objectivo retirar à RSFSR ou subtrair à sua influência territórios com recursos que interessavam ao ocidente e erigir a Polónia numa forte guarda avançada contra o comunismo. A cruzada polaca foi articulada pela Entente com os ataques de Wrangel na Crimeia, flagelando a retaguarda do Exército Vermelho e impedindo ou dificultando a transferência de unidades para a Frente Ocidental.
These figures, except for machine-guns and trucks, are much higher than those supplied by the British to Denikin (see Part III): 2.68 times more guns, 1.7 times more airplanes, and 1.52 times more rifles.

The French government spent 350,000,000 francs (about US$ 24.6 million in 1920, i.e. approx. US$ 303.7 million in 2017) training and equipping between 70,000 to 80,000 men of Haller's army. France sent a huge military mission to Poland, comprising 600 instructors and advisers ([11, 86]). This mission comprised high-ranking military officers. Worth mentioning were General M. Weygand and captain Charles de Gaulle. From the US, Pilsudski received US$ 40,000,000 (about US$ 493 million in 2017) from the already mentioned American Relief Administration. The donations of this charitable organization were almost all spent on armaments of the White Polish armies [87]. The UK supplied equipment and transports to Danzig.

The CPC of the RSFSR, in line with its policy of self-determination, endorsed the existence of an independent Poland. Russia had submitted a number of peace proposals to Poland since the end of WWI. Trotsky [88] describes these proposals, of which the following are worth highlighting: the one dated December 22, 1919, by Georgi Chicherin, People’s Commissar of Foreign Affairs; the one of January 28, 1920, made by the CPC; the one made by the CEC on February 2 1920. Later, after the Polish invasion of 1920, the CEC even proposed peace on the basis of the "Pilsudski line" -- the line on which the Polish troops stood on April 26, 1920 -- as mentioned by Lenin [89]. All the RSFSR peace offerings either went unanswered, or when answered they were rejected under various and unacceptable pretexts. This much is acknowledged by the bourgeois historian Schuman, who states on the Polish “extravagant ambitions”: "Warsaw asked Moscow at the end of March to renounce sovereignty over all territories west of the border of 1772, to recognize a Polish protectorate over the non-Polish lands, to pay Warsaw an indemnity and to permit Polish occupation of Smolensk as a guarantee of payment." [3].

Pilsudski and Polish leaders sought to justify the Polish attack of 1920 as a pre-emptive attack to the one the RSFSR was preparing. The Polish reactionary historians still defend this thesis today. It is a brazen lie intended to mystify public opinion. Such a justification makes no sense at all given that only very weak Russian forces were stationed near Poland; it was precisely for that reason the advance of the Polish troops in 1919 was carried out with no great difficulties. From December 1919 to April 1920, the region destined to become the Western Front was occupied by only three infantry divisions and three brigades of the RSFSR; in the southwestern part of Ukraine, where Pilsudski had claimed to have noticed large concentrations of forces, there was only one infantry division in January 1920. [29]


In reality, it was only after the start of the Polish invasion on March 6 that the RSFSR took steps to transfer forces to the Western Front (see Lenin's telegram dated March 11, [90]). And this transfer took time, given the great distances to be covered, which allowed for the quick and deep advances of the Polish armies. There are other reasons to reject the thesis of the Polish reactionaries (which makes strangely remember the Nazis' thesis when they invaded Poland), namely the fact, as we have said, that the RSFSR even went so far as to propose peace in full Polish invasion, with armies on the “Pilsudski line”, under extremely advantageous conditions for the Poles. The good faith of the leaders of the RSFSR is also evident in other facts. "Lenin was so eager for a positive Polish reaction that even the February 4 announcement from Warsaw on receiving proposals from the Council of People's Commissars of the RSFSR was considered consent to the beginning of peace talks and he called this event a bloodless victory of great significance.” [91]


In 1920 Pilsudski had an army estimated at over 200,000 men. With the support of Pilsudski the Russian terrorist Boris Savinkov had organized a White army of 30 thousand men [1]. Other armies came from Eastern Europe, notably Western Ukraine, thanks to the services of Simon Petliura, a military and political leader of the Ukrainian independence movement, an anti-Semitic and anti-Russian fanatic who had been Denikin's vassal and then became Pilsudski's vassal. On April 23, 1920, Pilsudski concluded a treaty with Petliura, according to which the latter recognized Polish sovereignty over Eastern Galicia in exchange for Polish aid in creating an anti-Soviet regime in Ukraine. Later, when the Poles invaded Ukraine, it became clear that it was Poland who controlled Ukraine. Petliura was a mere puppet. Petliura's detachments of bandits, whose flags bore the swastika [3], were of little help in the war, but were effective in murdering Jews despite the numerous anti-pogrom orders they issued to give a good impression to the Entente. The “independence” of Petliura’s Ukraine was recognized by Pope Benedict XV.

In short, the Polish army was indeed a White army, with all the White scum of Eastern Europe, supported by interventionists of the Entente, and with papal blessing. The White Polish invasion aimed to remove from the RSFSR or to subtract from its influence territories with resources that interested the west, at the same time erecting Poland as a strong advance guard against communism. The Polish crusade was articulated by the Entente with the attacks of Wrangel in the Crimea, flagellating the rear of the Red Army and preventing or hindering the transfer of units to the Western Front.

A Ofensiva Polaca e Contra-Ofensiva Vermelha

Em 6 de Março de 1920 o III exército polaco tomou as cidades de Mazyr, Kalinkovichy e Rechitsa na Bielorrússia, perto de Gomel, e as tropas do VI exército tomaram Ovruch a norte de Kiev. A 23 de Abril, os polacos lançaram uma ofensiva na frente Volhynia-Kiev, tomando Jitomir e Jmerinka (ver mapa abaixo). Nesse dia, as 2.ª e 3.ª brigadas da Galícia, influenciadas pela agitação contra-revolucionária, traíram o poder soviético e amotinaram-se. Abandonaram a linha da frente e deslocaram-se para trás de Lytin e Vinnitsa. Este motim contribuiu grandemente para perturbar a disposição dos 14.º e 12.º exércitos vermelhos. A 1.ª Brigada da Galícia manteve-se fiel ao Exército Vermelho e mostrou grande coragem nos combates subsequentes.
The Polish Offensive and Red Counter-Offensive

On March 6, 1920, Polish troops from the III Army took the cities of Mazyr, Kalinkovichy and Rechitsa in Belarus, near Gomel, and the VI Army troops took Ovruch north of Kiev. On 23 April, the Poles launched an offensive on the Volhynia-Kiev front, taking Zhitomir and Zhmerinka (see map below). On that day, the 2nd and 3rd brigades of Galicia, influenced by counterrevolutionary agitation, betrayed Soviet power and mutinied. They abandoned the front line and moved behind Lytin and Vinnytsa. This mutiny contributed greatly to disrupt the deployment of the 14th and 12th Red Armies. The 1st Brigade of Galicia remained faithful to the Red Army and showed great courage in the subsequent combats.



A 26 de Abril, um exército de 40.000 homens (polacos e formações de Petliura) lançou fortes ataques que lhe permitiram repelir o 12.º Exército Vermelho de 12.000 homens para além do Dniepre e entrar em Kiev a 7 de Maio. Ao sul, próximo da Bessarábia, o 14.º Exército Vermelho confrontava-se com as tropas de Petliura e formações romenas. As forças polacas progrediram até 14 de Maio na Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia.

O CMRR decidiu criar dois grupos de exerci-tos. Um, na Frente Ocidental, sob o comando de M. Tukhatchevsky, com I. Smilga como membro do CMR. O outro, na Frente Sudoeste (Ucrânia), comandado por A. Yegorov, com Estaline como membro do CMR [93]. O CMRR decidiu também que as duas frentes seriam coordenadas pelo Comandante-Chefe Sergei Kamenev (não confundir com Lev Kamenev, membro do CC), até as forças de Tukhatchevsky terem ultrapassado o meridiano de Brest-Litovsk. Nessa altura as forças da Frente Sudoeste ficariam sob a liderança única de Tukhatchevsky. Além disso, o CMRR ordenou que tropas de quase todas as partes da Rússia fossem transferidas para as duas novas frentes.

A maioria das forças de Tukhatchevsky ainda estava a caminho em 20 de Maio [29]. Apesar disso, Tukhatchevsky que dispunha de 12 divisões de infantaria e um corpo de cavalaria comandado por G. Gaya lançou uma ofensiva a 14 de Maio. Apesar de algum sucesso inicial (retomada de posições na margem direita do Dniepre), a ofensiva foi travada e uma contra-ofensiva dos I e IV exércitos polacos acabou por derrotar o 15.º exército soviético a 8 de Junho.

A 4 de Julho os exércitos completados da Frente Ocidental lançaram nova ofensiva no flanco direito (N) [94]. Num rápido avanço de mais de 600 km o Exército Vermelho tomou Bobruisk (10 de Julho), Minsk (11 de Julho) e Vilnius (14 de Julho). No início de Julho o governo polaco em pânico recorreu à Entente em busca de apoio. Os aliados condicionaram esse apoio à retirada das tropas polacas para a linha de fronteira indicada pelo Conselho Supremo em Dezembro de 1919. O governo polaco concordou em 10 de Julho. Em 11 de Julho, G. Curzon, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do RU, enviou uma nota ao CCP, propondo que suspendesse a ofensiva a uma distância de 50 km a leste dessa linha, que passaria a ser a fronteira oriental da Polónia. A «linha da Entente» ficou então conhecida como Linha Curzon. A proposta não foi aceite pela RSFSR, entre outras razões porque nos termos da nota Wrangel permaneceria na Crimeia [95].

Já antes da ofensiva de 4 de Julho da Frente Ocidental a situação tinha mudado completa-mente a favor da RSFSR na frente sudoeste. A transferência do Cáucaso do 1.º Corpo de Cavalaria de Semyon Budyonny (16.700 sabres, 48 canhões, 6 comboios blindados e 12 aeronaves) teve nisso importante papel. Deixou Maikop em 3 de Abril, derrotou os destaca-mentos de Makhno em Gulyaypole, e cruzou o Dniepre ao norte de Yekaterinoslav a 6 de Maio. A 26 de Maio, após a concentração de todas as forças em Uman, o 1.º de Cavalaria atacou Kazatin e a 5 de Junho, Budyonny, descobrindo um ponto fraco na defesa polaca, rompeu as linhas inimigas em Samgorodok e impeliu o 12.º e 14.º Exércitos que avançaram na retaguarda das unidades polacas, atacando Berdichev e Jitomir. As forças polacas bateram uma retirada precipitada; em 8 de Junho, Budyonny tomou Jitomir [96].

Deve aqui assinalar-se que o sucesso inicial de Tukhatchevsky na ofensiva de Maio se deveu em parte à contra-ofensiva da Frente Sudoeste de Maio e Junho. Porém, a partir de 6 de Junho, a situação na frente sudoeste tornou-se mais difícil: Wrangel iniciara nesse dia um avanço vitorioso para norte a partir da Crimeia e estava a desviar reforços da frente sudoeste que precisaram de ser enviados contra ele. [96]

A 10 de Junho o III Exército polaco, temendo ser cercado, abandonou Kiev movendo-se para o distrito de Mazovia. Dois dias depois, o 1.º de Cavalaria entrou em Kiev. Em 25 de Junho, Brody foi tomada. As tentativas de Yegorov de impedir a retirada do III Exército polaco não resultaram. As tropas polacas, reagrupando-se, tentaram lançar uma contra-ofensiva a 1 de Julho e atacaram o 1.º Corpo de Cavalaria per-to de Rovno. O ataque não foi apoiado pelas unidades polacas adjacentes e o III Exército foi repelido. Em 10 de Julho Kiev ficou firme-mente sob controlo do Exército Vermelho. [96]

Com os exércitos polacos em retirada o Exército Vermelho entrou em 26 de Julho em território etnicamente polaco na área de Bialystok. A 1 de Agosto tomou Brest-Litovsk que se entregou quase sem resistência, e a 3 de Agosto, Bialystok. A 8 de Agosto a frente ocidental situava-se a menos de 25 km de Varsóvia. Na frente sudoeste os sucessos eram também impressionantes. Numa nova ofensiva em direcção a Lvov o 14.º exército tomou Khmelnitski a 9 de Julho e a 12 de Julho Kamenetz-Podolsky foi tomada de assalto. Não conseguiu, porém, capturar Lvov (Lviv) na ofensiva lançada em 25 de Julho, deparando com forte resistência dos polacos.

Os grandes sucessos nas duas frentes levaram o CC do PCR(b) a decidir em 19 de Julho a tomada de Varsóvia, com vista à «sovietiza-ção» da Polónia. Foi formado em Smolensk o Comité Revolucionário Provisório da Polónia, que deveria assumir plenos poderes após a captura de Varsóvia e derrube de Pilsudski. Num «Apelo ao Povo Polaco» a 1 de Agosto o Comité anunciou a criação da República Soviética da Polónia, a nacionalização da terra, a separação da Igreja do Estado, exortando os trabalhadores a afastar os capitalistas e latifun-diários, a ocupar as fábricas, e a criar sovietes como órgãos de poder. Foram formados 65 sovietes. O Comité não teve sucesso na criação de um Exército Vermelho Polaco.

No início de Agosto a Polónia de Pilsudski estava à beira do desastre. A Grã-Bretanha, onde se tinha formado um influente «Comité de Acção» que representava a oposição dos trabalhadores contra qualquer ataque à RSFSR, deixara praticamente de fornecer assistência militar e económica à Polónia; a Alemanha e a Checoslováquia tinham fechado as fronteiras. A França e os EUA eram os únicos a prestar ajuda a Pilsudski. Com a aproximação do Exército Vermelho de Varsóvia as missões diplomáticas evacuaram a cidade.
On 26 April, an army of 40,000 men (Polish and Petliura detachments) launched strong attacks that allowed it to repel the 12th Red Army of 12,000 men beyond the Dnieper and enter Kiev on 7 May. To the south, near Bessarabia, the 14th Red Army was confronted with Petliura troops and Romanian formations. The Polish forces advanced until May 14 in Lithuania, Belarus and Ukraine.

The MRCR decided to create two groups of armies. One, on the Western Front, under the command of M. Tukhachevsky, with I. Smilga as a member of the CMR. The other, on the South-Western Front (Ukraine), commanded by A. Yegorov, with Stalin as member of the MRC [93]. The MRCR also decided that the two fronts would be coordinated by the Commander-in-Chief Sergei Kamenev (not to be confused with the CC member Lev Kamenev), until Tukhachevsky's forces had crossed the meridian of Brest-Litovsk. At that time the forces of the South-Western Front would be placed under the unique leadership of Tukhachevsky. In addition, the MRCR ordered troops from almost all parts of Russia to be transferred to the two new fronts.


Most of Tukhachevsky's forces were still underway on 20 May [29]. Despite this, Tukhachevsky who had at his disposal 12 infantry divisions and a Cavalry Corps commanded by G. Gaya launched an offensive on 14 May. Though he achieved some initial success (resumption of positions on the right bank of the Dnieper), the offensive was halted and a counter-offensive from the Polish armies I and IV eventually defeated the 15th Soviet Army on 8 June.

On 4 July the completed armies of the Western Front launched a new offensive on the right (N) wing [94]. In a rapid advance of over 600 km the Red Army took Bobruisk (10 July), Minsk (11 July) and Vilnius (14 July). In early July the Polish government appealed in panic to the Entente for support. The allies conditioned their support to the withdrawal of the Polish troops to the frontier line appointed by the Supreme Council in December 1919. The Polish government agreed on 10 July. On July 11, G. Curzon, UK Secretary of State for Foreign Affairs, sent a note to the CPC proposing that it would suspend the offensive at a distance of 50 km east of that line, which would then become the Eastern frontier of Poland. The “Entente Line” became then known as the Curzon Line. The proposal was not accepted by the RSFSR, among other reasons because in the terms of the Note Wrangel would retain the Crimea [95].

Even before the offensive of the Western Front on July 4, the situation had completely changed in favor of the RSFSR on the South-Western front. The transfer from Caucasus of Semyon Budyonny's 1st Cavalry Corps (16,700 sabers, 48 cannons, 6 armored trains and 12 aircraft) played an important role in this. He left Maikop on 3 April, defeated the Makhno detachments at Gulyaypol, and crossed the Dnieper north of Yekaterinoslav on 6 May. On 26 May, after the concentration of all forces in Uman the 1st Cavalry attacked Kazatin and on June 5, Budyonny, uncovering a weak stretch in the Polish defense, broke the enemy lines in Samgorodok and impelled the 12th and 14 Armies which advanced over the rear of the Polish units, attacking Berdichev and Zhitomir. The Polish forces fought a hasty retreat; on 8 June, Budyonny took Zhitomir [96].


It should be noted here that Tukhachevsky's initial success in his May offensive was partly due to the counter-offensive of the South-Western Front in May and June. However, as of 6 June, the situation on the South-Western Front became more difficult, since Wrangel had begun on that day a victorious advance northward from the Crimea and was diverting reinforcements to the South-Western Front which were needed to be sent against him.

On 10 June the Polish III Army, fearing encirclement, abandoned Kiev and moved to the district of Mazovia. Two days later, the 1st Cavalry entered Kiev. On June 25, Brody was seized. Yegorov's attempts to prevent the withdrawal of the Polish III Army were not successful. The Polish troops regrouped and tried to launch a counter-offensive on the 1st July and attacked the 1st Cavalry Corps near Rovno. This attack was not aided by the adjacent Polish units and the III Army was repelled. On 10 July Kiev was firmly under the control of the Red Army. [96]

With the Polish armies in retreat the Red Army entered on July 26 in ethnically Polish territory in the Bialystok area. On the 1st August it seized Brest-Litovsk, who gave itself up almost without resistance, and on 3 August, Bialystok. On 8 August the Western Front was situated less than 25 km from Warsaw. On the South-Western Front the successes were also impressive. In a new offensive towards Lvov the 14th army took Khmelnitski on 9 July and on 12 July Kamenetz-Podolsky was seized by storm. However, it was unable to capture Lvov (Lviv) in the offensive on 25 July, encountering fierce resistance from the Poles.

The great successes on both fronts prompted the CC of the RCP(B) to decide on 19 July to take Warsaw, having view the “sovietization” of Poland. The Polish Provisional Revolutionary Committee was constituted in Smolensk, which was to take full power after the capture of Warsaw and the overthrow of Pilsudski. In an "Appeal to the Polish People" of the 1st August the Committee announced the creation of the Soviet Republic of Poland, the nationalization of the land, the separation of the Church from the State, urging the workers to drive out capitalists and landowners, to occupy the factories, and to create soviets as organs of power. 65 soviets were formed. The Committee had no success in establishing a Polish Red Army.

At the beginning of August Pilsudski's Poland was on the verge of disaster. Great Britain, where an influential “Action Committee” had been formed which represented the opposition of the workers against any attack on the RSFSR, had practically stopped providing military and economic assistance to Poland; Germany and Czechoslovakia had closed the borders. France and the United States were the only ones to give assistance to Pilsudski. With the approach of the Red Army to Warsaw the diplomatic missions evacuated the city.

A Batalha de Varsóvia

Os exércitos da Frente Ocidental, comandados por Tukhatchevsky, desencadearam a 12 de Agosto de 1920 a ofensiva para capturar Varsóvia. Previa-se a travessia do rio Vístula pelo norte e atacar Varsóvia pelo oeste. O avanço para norte era justificado com a ocupação do corredor de Danzig pelo qual a Entente fornecia as forças de Pilsudski. Trotsky tinha dado de Moscovo ordens nesse sentido a 14 de Agosto [97]. Em 13 de Agosto, duas divisões de infantaria atingiram e captu-raram Radzymin (a 23 km NE de Varsóvia). Então, uma delas avançou para Praga-Poludnie (perto da margem direita do Vístula em Varsóvia), e a segunda para Jablonna (NNO de Varsóvia). As forças polacas retiraram-se para a segunda linha de defesa.

No início de Agosto o comando polaco-francês tinha elaborado um plano de contra-ofensiva com contribuição significativa dos militares franceses, especialmente Weygand. [98] Previa a concentração de grandes forças no rio Vepsh e um golpe repentino de sudeste na retaguarda dos exércitos vermelhos da Frente Ocidental a executar por dois grupos de choque da Frente Central polaca. [99] A 13 de Agosto o reconhecimento de rádio polaco interceptou a ordem para o 16.º Exército marcando o ataque a Varsóvia para 14 de Agosto.

De facto, já em Agosto-Setembro de 1919 a divisão polaca de informação e contra-informação do Estado-Maior General tinha decifrado cifras do Exército Vermelho (e também do Exército Voluntário de Denikin). Toda uma rede de estações de intercepção de rádio fora criada. Quase todas as cifras soviéticas acabaram decifradas, dando uma imagem clara de tudo que acontecia na Rússia. Em Agosto, p. ex., os polacos decifraram 410 mensagens de rádio assinadas por Trotsky, Tukhatchevsky, Yakir e Gaya. O comando do Exército polaco foi assim capaz de tomar as decisões certas durante a batalha de Varsóvia.

Uma vez interceptada a ordem de 13 de Agosto ao 16.º Exército, o V Exército que defendia Modlin, para se antecipar aos soviéticos, atacou a partir da área do rio Vkra a extensa frente de Tukhatchevsky na junção dos 3.º e 15.º exércitos e quebrou-a (ver mapa abaixo). A 14-15 de Agosto o 15.º e 16.º exércitos ainda alcançaram alguns sucessos em Radzymin e perto de Modlin, mas no limite das forças [97]. Os polacos sentiram isso e a 16 de Agosto puseram o seu plano em execução. Romperam o fraco Grupo Mozir (os polacos sabiam da fraqueza do grupo por intercepção rádio e concentraram aí 47.500 combatentes contra 21 mil) e destroçaram a ala sul do 16.º Exército. Simultaneamente, partes das tropas apoiadas por tanques da Entente avançaram sobre Wlodawa e Minsk-Mazowiecki. O Exército Vermelho viu-se ameaçado de cerco [100].
The Battle of Warsaw

The armies of the Western Front, commanded by Tukhachevsky, launched an offensive to seize Warsaw on 12 August 1920. It had been planned to cross the Vistula River from the north and attack Warsaw from the west. The advance to the north was justified with the seizure of the Danzig corridor through which the Entente supplied the forces of Pilsudski. Trotsky had given orders from Moscow to that effect on August 14 [97]. On 13 August, two infantry divisions got to Radzymin (23 km NE from Warsaw) and seized it. Then, one of them advanced to Prague-Poludnie (near the right bank of the Vistula in Warsaw), and the second to Jablonna (NNO of Warsaw). The Polish forces retreated to the second line of defense.


In the beginning of August, the Polish-French command had drawn up a counter-offensive plan, with significant contribution of the French military, notably Weygand. [98] It anticipated the concentration of large forces on the Vepsh River and a sudden southeasterly coup on the rear of the Western Front red armies to be carried out by two shock groups of the Polish Central Front. [99] On 13 August the Polish radio reconnaissance intercepted the order to the 16th Army scheduling the attack on Warsaw to 14 August.

Indeed, already in August-September 1919 the Polish division of information and counter-information of the High General Staff had deciphered codes of the Red Army (and of Denikin’s Volunteer Army too). A whole network of radio interception stations was set up. Almost all the Soviet codes were eventually deciphered, which gave a clear picture of everything happening in Russia. In August, for example, the Poles deciphered 410 radio messages signed by Trotsky, Tukhachevsky, Yakir and Gaya. The command of the Polish Army was thus able to take the right decisions during the battle of Warsaw.


Once the order of August 13 to the 16th Army was intercepted, the V Army which defended Modlin, in anticipation to the Soviets, attacked from the Vkra river area the elongated front of Tukhachevsky at the junction of the 3rd and 15th. Armies and broke it (see map below). On 14-15 August the 15th and 16th armies still achieved some successes in Radzymin and near Modlin, but at the limit of their forces [97]. The Poles felt this and on 16 August they put their plan into execution. They broke through the weak Mozir Group (the Poles knew of the group's weakness by radio interception and concentrated there 47,500 combatants against 21,000) and destroyed the southern wing of the 16th Army. Simultaneously, parts of the troops backed by Entente tanks advanced on Wlodawa and Minsk-Mazowiecki. The Red Army came under threat of encirclement [100].




Tendo recebido informações sobre a acção do inimigo na frente do grupo Mozyr, o seu comando e o comando do 16.º Exército decidiram inicialmente que era apenas um pequeno contra-ataque. As tropas polacas ganharam, assim, um tempo precioso para a sua operação e continuaram o avanço rápido para Brest-Litovsk, [97]

Perante a situação crítica na Frente Ocidental, Kamenev ordenou a 12 de Agosto a transfe-rência do 12.º Exército e do 1.º de Cavalaria da Frente Sudoeste para a Frente Ocidental [96]. A transferência iniciou-se a 20 de Agosto, mas quando saíram de Lvov já as forças da Frente Ocidental estavam em retirada desorganizada para Leste. Os polacos ocuparam Brest-Litovsk em 19 de Agosto e Bialystok em 23 de Agosto. Entre 22 e 26 de Agosto o 4.º Exército, o 3.º de Cavalaria e duas divisões do 15.º Exército (cerca de 40 mil homens) cruzaram a fronteira alemã e foram internados. A 12 de Outubro foi assinado o armistício.

Prisioneiros de Guerra e Crueldade Polaca

Em resultado da derrota em Varsóvia, as tropas soviéticas sofreram pesadas perdas. Segundo algumas estimativas, 25.000 soldados foram mortos, 117.550 capturados e em cativeiro polaco [101], 45.000 internados pelos alemães. Vários milhares de pessoas desapareceram. O tratado de paz entre a Polónia e a RSFSR que permitiu a libertação de prisioneiros só foi assinado em 18 de Março de 1921. «Tendo recebido 1/2 do território da Bielorrússia e 1/4 da Ucrânia, vistos como "subúrbios selvagens" destinados à polonização, a Polónia tornou-se um estado em que os polacos representavam apenas 64% da população» [97].

Tendo em conta os prisioneiros de 1919 e da ofensiva polaca na Ucrânia, havia no final de Agosto de 1920 um total de 165.550 prisionei-ros em campos polacos [101]: Strzalkowo, Pikulice, Wadowice e Tuchola. As condições nos campos eram terríveis. (Ver em [102] as observações de um membro do Comité Internacional da Cruz Vermelha em Brest-Litovsk). Os maus-tratos eram frequentes. Várias estimativas convergem para uma taxa de mortalidade de 18%, ou seja cerca de 30 mil prisioneiros morreram nos campos polacos. Há ainda que referir os massacres sistemáticos de prisioneiros russos que depunham as armas. Svitalsky, um dos colaboradores mais próxi-mos de Pilsudski, menciona na entrada de 22 de Junho, 1920, do seu diário (publicado em 1992): «O que prejudica a deserção e vinda para o nosso lado do exército bolchevique, por desmoralização, é a destruição feroz e impie-dosa dos prisioneiros pelos nossos soldados».

Logo no início do ataque polaco em 1920 o carácter da crueldade do exército polaco se revelou, conforme relata Trotsky num encontro a 10 de Maio em Gomel [88]: «Hoje, camaradas, estive em frente a Rechitsa. Lá, à nossa frente, contaram-me as atrocidades indescritíveis que foram cometidas pelos oficiais da Guarda Branca e kulaks polacos contra homens do Exército Vermelho capturados e feridos. Deixaram de reconhecer o estatuto de prisioneiros de guerra. Estão a enforcar não só comunistas, mas o cidadão comum sem partido do Exército Vermelho que lhes cai nas mãos, estão a exterminar inclusive os feridos e doentes. Camaradas, perguntei se isso não era um exagero, uma difamação -- porque não se deve caluniar nem mesmo um inimigo. Disseram-me: "Fulano chegou em tal data, um outro lutou até aqui -- são todos homens dignos de confiança, todos eles viram, e todos confirmam essas terríveis atrocidades».

Quanto aos prisioneiros de guerra polacos, o número total foi de 41 a 42 mil segundo fontes russas; 40 mil, segundo dados polacos. O total de mortos foi de cerca de 3 a 4 mil. Isto dá uma taxa de mortalidade entre 7,1% e 9,8%, ou seja, cerca de metade da dos prisioneiros russos em campos polacos. Nos termos do tratado de paz foram libertados prisioneiros, russos e polacos. 34.839 prisioneiros polacos foram repatriados entre Março de 1921 a Julho de 1922. Cerca de 3.000 manifestaram o desejo de permanecer na RSFSR.
Having received information about the action of the enemy on the front of the Mozyr group, its command and the command of the 16th Army initially decided that it was only a small counterblow. The Polish troops gained thus a precious time for their operation and continued their rapid advance to Brest-Litovsk, [97]

Faced with the critical situation on the Western Front, Kamenev ordered on 12 August the transfer of the 12th Army and the 1st Cavalry from the South-Western Front to the Western Front. [96] The transfer began on August 20, but when they left Lvov the forces of the Western Front were in disorganized retreat to the East. The Poles occupied Brest-Litovsk on 19 August and Bialystok on 23 August. Between August 22nd and 26th, the 4th Army, the 3rd Cavalry Corps and two divisions of the 15th Army (about 40,000 men) crossed the German border and were interned. The armistice was signed on 12 October.

POWs and Polish Cruelty


As a result of the defeat at Warsaw, the Soviet troops suffered heavy losses. According to some estimates, 25,000 Red Army soldiers were killed, 117,550 were captured and held in Polish captivity [101] and 45,000 interned by the Germans. Several thousand people disappeared. The peace treaty between Poland and the RSFSR, which allowed for the release of prisoners, was only signed on 18 March 1921. "Having received 1/2 of the territory of Belarus and 1/4 of Ukraine, seen as ‘wild suburbs’ destined to polonization, Poland became a state in which the Poles accounted for only 64% of the population" [97].



Taking into account the 1919 prisoners and the Polish offensive in Ukraine, a total of 165,550 prisoners were by the end of August 1920 in various Polish camps [101]: Strzalkowo, Pikulice, Wadowice and Tuchola. The conditions in the fields were terrible. (See in [102] the comments of a member of the International Committee of the Red Cross in Brest-Litovsk). Ill-treatment was frequent. Several estimates converge to a mortality rate of 18%, i.e. about 30,000 prisoners died in Polish camps. In addition to those one has to mention the systematic massacres of Russian prisoners who laid down their arms. Svitalsky, one of Pilsudski's closest collaborators, mentions in the entry of June 22, 1920, of his diary (published in 1992): "What detracts from the desertion and move to our side of the Bolshevik army, due to demoralization, is the ferocious and merciless destruction of the prisoners by our soldiers."


At the very beginning of the Polish attack in 1920 the character of the cruelty of the Polish army was revealed, as Trotsky reports in a meeting on 10 May in Gomel: “Today, comrades, I was before Rechitsa. There, on our front, I was told of the indescribable atrocities that have been committed by the Polish White-Guard officers and kulaks on captured and wounded Red Army men. They no longer recognise the status of prisoners-of-war. They are hanging not only Communists but every ordinary non-Party Red Army man who falls into their hands, they are exterminating even the wounded and the sick. Comrades, I asked if this was not an exaggeration, a slander – because one ought not to slander even an enemy. They told me: ‘So-and-so arrived on such-and-such a date, another fought his way here – they are all men worthy of trust, they have all seen, and they all confirm, these frightful atrocities.”

As for the Polish prisoners of war, the total number was from 41 to 42 thousand according to Russian sources; 40 thousand, according to Polish data. The total death toll was about 3 to 4 thousand. This gives a mortality rate between 7.1% and 9.8%, i.e., about half of the Russian prisoners in Polish camps. Under the terms of the peace treaty, Russian and Polish prisoners were released. 34,839 Polish prisoners were repatriated from March 1921 to July 1922. About 3,000 expressed their desire to remain in the RSFSR.

A Propaganda e Perseguições Polacas

Durante todo o período de guerra entre a Polónia e a RSFSR as autoridades reaccioná-rias polacas desencadearam uma forte propa-ganda anti-bolchevique para a população católica polaca e populações ortodoxas da Ucrânia e Bielorrússia, baseada no anti-semitismo. (Ver a «razão» disto em [103].) O clero católico polaco sempre se celebrizou pelo anti-semitismo e anti-comunismo. Os bispos polacos também apelaram aos católicos de todo o mundo, com um discurso no qual a guerra era encarada sob uma perspectiva anti-semita («os bolcheviques são judeus») e escatológico («se eles ganham é o fim do mundo»). Durante a guerra, as autoridades polacas levaram a cabo execuções de civis suspeitos de bolchevismo (logo judaísmo). As tropas polacas realizaram limpezas étnicas, principalmente de judeus. Durante a batalha de Varsóvia, os voluntários judeus foram retirados do exército polaco e internados. Na RSFSR o anti-semitismo era severamente combatido.
The Polish Propaganda and Persecutions


Throughout the period of war between Poland and the RSFSR the reactionary Polish authorities unleashed a fierce anti-Bolshevik propaganda for the Polish Catholic population and Orthodox populations of Ukraine and Belarus based on anti-Semitism. (See the "reason" for this in [103].) The Polish Catholic clergy have always been celebrated for anti-Semitism and anti-communism. The Polish bishops also appealed to Catholics around the world, with a speech in which the war was seen from an anti-Semitic ("Bolsheviks are Jews") and eschatological ("if they win is the end of the world") perspective. During the war, Polish executions of civilians suspected of Bolshevism (thus, Judaism) were carried out by the Poles, while Polish troops carried out ethnic cleansings, mainly of Jews. During the battle of Warsaw, Jewish volunteers were withdrawn from the Polish army and interned. In the RSFSR anti-Semitism was severely fought.

Erros Militares e Políticos

No início de Agosto o exército polaco estava à beira do desastre, mesmo segundo apreciações de observadores da Entente, como o General Fori, membro da missão militar francesa, que observou: «no início da operação no Vístula o destino da Polónia parecia totalmente sombrio para todos os especialistas militares; a situação estratégica era desesperada e também o moral das tropas polacas mostrava sinais ameaçado-res, que pareciam ter levado finalmente o país à ruína». Como foi então possível a pesada derrota do Exército Vermelho no espaço de alguns dias? A resposta tem a ver com erros militares e políticos.

Erros Militares

Vários autores, conhecedores das questões mi-litares, apontam como erros militares: (a) alon-gamento da frente e das ligações entre frente e retaguarda sem a devida preparação logística, (b) frente com flancos descobertos, (c) infrac-ção de ordens recebidas, (d) aventureirismo.

Wollenberg [29] escreveu quanto a (b): «Ape-sar do avanço constante, os russos na frente ocidental estavam em posição crítica. As duas alas da massa principal foram deixados no ar». Refere ainda que o 4.º Exército, com a cavala-ria de Gaya, apesar de ter recebido ordens a 5 de Agosto de virar para sul, para Varsóvia, avançou pelo contrário para noroeste (c). E a 18 de Agosto, aquando da ordem de retirada geral de Tukhatchesvsky, o comandante do 4.º exército desobedeceu e continuou a avançar para a Prússia Oriental, acabando os combaten-tes por ser internados na Alemanha (c).

O Marechal Ivan Konev, figura célebre da 2.ªGM, entrevistado por Simonov, referiu-se a Tukhachevsky nestes termos [104]: «O seu avanço com flancos a descoberto [b], com comunicações extensas [a] e todo o seu com-portamento durante esse período não produz uma impressão sólida e positiva [d]». O pró-prio Simonov diz sobre Tukhatchevsky: «Entre os seus defeitos havia um bem conhecido traço de aventureirismo, que se manifestou na cam-panha polaca, na batalha perto de Varsóvia».

O Comandante-Chefe Kamenev exprime-se assim [92]: «[…] o Exército Vermelho assumiu claramente riscos e o risco era exces-sivo. A operação […] tinha de ser conduzida fundamentalmente sem retaguarda [a], a qual era impossível restaurar rapidamente depois da destruição causada pelos polacos brancos. Havia um outro ponto de risco, criado pelo significado político do corredor de Danzig, que o Exército Vermelho não poderia estimar, e foi forçado a aceitar o plano de capturar Varsóvia a partir do norte, já que havia antes de tudo que cortá-la da estrada principal, pela qual era fornecida a ajuda material […] no momento do desfecho, as munições diminuíam todos os dias e a nossa frente alongava-se [a]». A penúria de munições já se tinha feito sentir na batalha de Radzymin a 13 de Agosto [97], a ponto de na noite desse dia o comandante da 27ª Divisão do 16.º Exército, V.K. Putna, ter sugerido ao comando recuar para o Bug porque «é melhor deixar Varsóvia não derrotado e por iniciativa própria, que recuar sob compulsão inimiga e derrotado».

Tukhatchestvsky -- e Trotsky de quem era amigo -- culpou Estaline, Yegorov e Voroshilov do colapso da ofensiva russa por terem desobedecido ao Comandante-Chefe, Kamenev. Segundo essa tese, a liderança da Frente Sudoeste, que sitiava Lvov, ignorou a ordem de transferência de tropas, e um dos opositores da transferência do 1.º Corpo de Cavalaria foi Estaline, que era um opositor de exportar a revolução para a Polónia. Esta tese apareceu quase imediatamente após a Guerra Civil, mas foi especialmente divulgada nos anos 60, no âmbito da difamação de Estaline por Krutchev. Todavia, já nos anos 20 esta opinião foi desmentida, inclusive por Vatsetis que era hostil a Estaline. No livro A Guerra Civil de Kakurin e Vatsetis, os autores chegaram à conclusão, com base em documentos, de que o comando da Frente Sudoeste não se recusou a cumprir a ordem de Kamenev e que esta só não foi feita a tempo principalmente devido ao mau desempenho do serviço de campo do Quartel-General.

Tukhatchestvsky escreveu: «Antecipando que o Exército de Cavalaria estaria a qualquer momento à disposição da frente ocidental e que seríamos capazes de efectuar uma junção com ele, planeámos a formação de um grupo forte, que deveria marchar sobre Lublin enquanto concentrávamos aí as principais forças do 12.º Exército e do 1.º Exército de Cavalaria» [29]. Um chefe militar não deve antecipar sem fundamento a disponibilidade «a qualquer momento» de unidades militares. Só a 12 de Agosto, dois dias antes do início da contra-ofensiva polaca, o 1.º de Cavalaria recebeu ordem de Kamenev colocando-o sob controlo da Frente Ocidental, isto é, de Tukhatchevsky. [96] A 16 de Agosto o próprio Tukhatchevsky enviou uma ordem à 6.ª divisão do 1.º de Cavalaria de reafectação para a área de Ustilug - Volodimir-Volynsky na Ucrânia, a 100 km de Lvov e junto à fronteira com a Polónia. Contudo, veio a decidir que a ofensiva contra Lvov continuasse. Só na noite de 19 de Agosto Tukhatchevsky finalmente emitiu a ordem para o 1.º de Cavalaria seguir de imediato para a área de Lublin quando esta área já estava firmemente ocupada pelos polacos. O 1.º de Cavalaria obedeceu, seguiu imediatamente para Lublin, mas nunca lá chegou. O máximo que conseguiu avançar a norte foi até Zamosc, a 76 km de Lublin, onde se envolveu em ferozes batalhas.

Só a 20 de Agosto Trotsky emitiu uma directiva de «enérgica e imediata assistência do Exército de Cavalaria à Frente Ocidental», mas acrescentando que o CMR devia prestar espe-cial atenção para «que a ocupação de Lvov não afectasse o prazo de execução destas ordens». «Assim, em vez duma ordem clara para acabar com o ataque a Lvov, Moscovo [Trotsky] limitou-se de novo a uma ordem vaga» [97]. Seja como for, esta ordem de Trotsky de 20 de Agosto já não era pertinente. Quando em cumprimento da ordem de Tukhatchevsky de 19 de Agosto, o 1.º de Cavalaria se lançou a 25 de Agosto na incursão a Zamosc esta «não tinha significado nem propósito» [97].

Wollenberg [29] escreve que, embora as forças de Tukhatchesvsky tivessem capturado Brest-Litovsk a 1 de Agosto, foi só a 11 de Agosto que Kamenev deu ordens de «reagrupar as formações e despachar de imediato o Exército de Cavalaria para Zamosc-Hrubieszow». Também afirma que «O 12.º Exército de Yego-rov foi colocado sob o comando de Tukhatche-vsky em 13 de Agosto mas, tal como o Exército de Cavalaria, foi induzido por Estali-ne e Voroshilov a desobedecer a essas ordens». Contudo, tendo participado nos combates em Lvov, o ataque do 12.º Exército em Chelm, Polónia, a 20 de Agosto, depois de atravessar dois rios e ocupar Kovel, desmente o alegado não cumprimento da ordem de 19 de Agosto.

A tabela abaixo mostra estimativas das médias de avanço diário das divisões dianteiras do 1.º de Cavalaria (usando dados de [96]). A tabela concretiza o que era de esperar: quanto maior a oposição inimiga durante o percurso, tanto menor o avanço diário. Vemos que a etapa Lvov-Zamosc foi uma das mais rapidamente percorridas, reflectindo o facto de que nos primeiros dois dias não encontrou grande resistência – a maior parte das forças polacas nessa região da Ucrânia estavam concentradas em Lvov. Mesmo que tivesse conseguido manter essa boa média para Lublin, que fica a 215 km de Lvov, o 1.º de Cavalaria demoraria 15 dias a lá chegar. Isto é, em condições óptimas, mesmo que Tukhatchesvsky tivesse dado ordem de marcha para Lublin em 11 de Agosto, só em 26 de Agosto o 1.º de Cavalaria lá chegaria.

Em suma, todos os factos mostram que, ao culpar Estaline, Tukhatchesvsky e outros quiseram lavar-se de culpas próprias. Quiseram também, como partidários de Trotski, difamar Estaline.
Military and Political Mistakes

In early August the Polish army was on the verge of disaster, even according to Entente observers, as e.g. General Fori, a member of the French military mission, who noted: "at the beginning of the operation in the Vistula for all military specialists the fate of Poland seemed totally gloomy, not only was the strategic situation desperate but also the morale of the Polish troops showed threatening signs that seemed to have finally brought the country to ruin." How, then, was the heavy defeat of the Red Army possible, in the space of a few days? The answer has to do with military and political mistakes.


Military Mistakes

Several authors, familiar with military matters, point as military mistakes: (a) lengthening of the front and connections between front and rear without proper logistical preparation, (b) uncovered flanks of the front, (c) infringement of received orders, and (d) adventurism.


Wollenberg [29] wrote as to (b): "Despite their continuous advance, the Russians on the western front were in a critical position. Both wings of the main mass were left in the air." He also notes that the 4th Army, with Gaya's cavalry, despite having received orders on 5 August to turn south towards Warsaw, had advanced to the north-west (c). Also on August 18, when Tukhachesvsky ordered the general withdrawal, the 4th Army commander disobeyed this order and continued to advance to Eastern Prussia, ending up the combatants being interned in Germany (c).


Marshal Ivan Konev, famous WWII personality, interviewed by Simonov, referred to Tukhachevsky in these terms [104]: "His own advance with open flanks [b], with extended communications [a] and all his behavior during this period does not produce a solid and positive impression [d]”. Simonov himself says about Tukhachevsky: "Among his defects there was a well-known feature of adventurism, which manifested itself in the Polish campaign, in the battle near Warsaw."


The Commander-in-Chief Kamenev expresses himself this way [92]: "[...] the Red Army clearly took risks and the risk was excessive. The operation [...] had to be conducted essentially without a rearguard [a], which it was impossible to restore quickly after the destruction caused by the White Poles. There was another danger point, created by the political significance of the Danzig corridor, which the Red Army could not estimate, and was forced to accept the plan to capture Warsaw from the north, since there was first of all to cut it from the main road, by which material aid was provided [...] at the time of the last combats, the ammunition decreased every day and our front was extended [a]”. The shortage of ammunition had already been felt at the Battle of Radzymin on August 13, [97] to the point that on that night the commander of the 27th Division of the 16th Army, V.K. Putna suggested to the command to retreat to the Bug because "it is better to leave Warsaw undefeated and on one own initiative than to retreat under enemy compulsion and defeated."

Tukhachestvsky – and Trotsky of whom he was a friend -- blamed Stalin, Yegorov and Voroshilov for having disobeyed the Commander-in-Chief Kamenev causing the collapse of the Russian offensive. According to this thesis, the leadership of the South-Western Front, besieging Lvov, ignored the order to transfer troops, and one of the opponents to the transfer of the 1st Cavalry Corps was Stalin, who was an opponent of exporting the revolution to Poland. This thesis appeared almost immediately after the Civil War, but was especially divulged in the 60s, in the frame of Khrutchev’s slandering of Stalin. Yet, even in the 1920s this view was denied, including by Vatsetis, hostile to Stalin. In the book The Civil War by Kakurin and Vatsetis, the authors came to the conclusion, based on documents, that the command of the South-Western Front did not refuse to comply with Kamenev's order and that it was not carried out in time, mainly because of the bad performance of the Headquarters field service.

Tukhachestvsky wrote: "Anticipating that the Cavalry Army would be at the disposal of the western front at any moment and that we would be able to effect a junction with it, we planned the formation of a strong group, which was to march on Lublin while we concentrated the main forces of the 12th Army and the 1st Cavalry Army there." [29] A military commander should not anticipate without firm grounds the availability "at any moment" of military units. It was only on 12 August, two days before the start of the Polish counter-offensive, that the 1st Cavalry was ordered by Kamenev to be placed under the control of the Western Front, i.e., Tukhachevsky. [96] On 16 August Tukhachevsky himself sent an order to the 6th division of the 1st Cavalry to redeploy to the Ustilug - Volodimir-Volynsky area in Ukraine, 100 km from Lvov and close to the border with Poland. However, he came to decide that the offensive against Lvov should go on. It was only on the night of 19 August that Tukhachevsky finally issued the order for the 1st Cavalry to immediately move to the Lublin area, when this area was already firmly occupied by the Poles. The 1st Cavalry did obey; it did immediately move to Lublin but never arrived there. The maximum that it was able to advance northward was to Zamosc, 76 km away from Lublin, where it got entangled in ferocious battles.

Trotsky issued a directive demanding the “energetic and immediate assistance of the Cavalry Army to the Western Front" only on 20 August, adding that the RMC should pay special attention that “the occupation of Lvov itself does not affect the deadline for fulfilling these orders." “Thus, instead of a clear order to end Lvov's attack, Moscow [Trotsky] once again limited itself to a vague order." [97] Anyway, this order of Trotsky of 20 August was no longer pertinent. When in compliance with Tukhachevsky's order of August 19, the 1st Cavalry launched the incursion to Zamosc on 25 August, "it had no meaning and no purpose" [97].

Wollenberg [29] writes that in spite of the fact that Tukhachesvsky's forces had captured Brest-Litovsk on the 1st August, it was only on 11 August that Kamenev issued orders “to regroup their formations and dispatch the Cavalry Army to Zamosc-Hrubeszov at once." He also states that "Yegorov’s 12th Army was placed under Tuchachevsky’s command on August 13, but, like the Cavalry Army, it was induced by Stalin and Voroshilov to disobey these orders." However, having participated in the fighting in Lvov, the attack of the 12th Army in Chelm, Poland, on 20 August, after having crossed two rivers and occupied Kovel, belies the alleged non-compliance with the order of 19 August.

The table below shows estimates of the average daily progress of the vanguard divisions of the 1st Cavalry (using data from [96]). The table exemplifies what was to be expected: the greater the enemy opposition along the route, the smaller the daily progress. We see that the Lvov-Zamosc stretch was one of the most rapidly traveled, reflecting the fact that in the first two days they did not find much resistance -- most of the Polish forces in that region of Ukraine were concentrated in Lvov. Even if it had managed to maintain that good average during the advance to Lublin, which lies 215 km from Lvov, it would take the 1st Cavalry 15 days to arrive. That is, under optimum conditions, even if Tukhachesvsky had issued the order to march over Lublin on 11 August, the 1st Cavalry would only arrive there on 26 August.

In short, all the facts show that, by blaming Stalin, Tukhachesvsky and others wanted to wash themselves out of their own faults. They also wanted, as supporters of Trotsky, to slander Stalin.

Etapa
Stretch
Chegada
Arrival
Dias
Days
Distância
Distance
(km)
Média
Average
 km/dia|day)
Maikop -- Uman
27 de Maio| May
52
1200
23
Uman -- Zhivotov (6.ª Divisão | 6th Division)
29 de Maio| May
2
41
21
Zhivotov – Samgorodok – Snizhna -- Zhitomir
(4ª Divisão | 4th Division)
7 de Junho | June
9
145
16
Zhitomir (12 de Junho | 12th June) -- Novograd-Volynski
27 de Junho | June
15
84
6
Novograd-Volynski -- Rovno
10 de Julho | July
13
112
9
Rovno -- Pobuzhany (15 km de Lvov | 15 km from Lvov)
16 de Agosto | August
36
195
5
Lvov  --  Zamosc
25 de Agosto | August
9
130
14

Erros Políticos

Ao caracterizar segundo o «calendário bolche-vique» a maturação revolucionária em Varsó-via, Lenine diz num discurso de Março de 1919 [105] (itálicos nossos): «Mas, em primei-ro lugar, nenhum decreto foi ainda emitido afirmando que todos os países devem viver de acordo com o calendário revolucionário bol-chevique; e mesmo que fosse emitido, não seria observado. Em segundo lugar, a situação actual é tal que a maioria dos trabalhadores polacos, mais avançados que os nossos e mais cultos, defendem o ponto de vista do social-defensismo, do social-patriotismo. […] O movimento proletário polaco segue o mesmo caminho que o nosso, em direcção à ditadura do proletariado, mas não da mesma maneira que na Rússia. Ali os trabalhadores estão a ser intimidados por declarações de que os moscovitas, os grão-russos, que sempre oprimiram os polacos, querem levar o seu chauvinismo grão-russo para a Polónia sob o disfarce do comunismo. O comunismo não pode ser imposto pela força».

Portanto, em Março de 1919, a posição de Lenine era a de que não havia um modelo único de maturação revolucionária do prole-tariado, e de que o socialismo-comunismo não podia ser imposto à força na Polónia pelos bolcheviques (russos).

Em 24 de Outubro de 1919, Lenine diz [106]: «Os polacos receberam ajuda da Grã-Bretanha, França e América, que procuraram despertar o antigo ódio da Polónia contra os opressores da Rússia, e tentaram transferir o ódio dos tra-balhadores polacos aos proprietários e czares, cem vezes merecidos, para os trabalhadores e camponeses russos, procuraram que os trabalhadores polacos pensassem que os bolcheviques, tal como os chauvinistas russos, sonham conquistar a Polónia».

Este discurso e o anterior mostram que Lenine sabia bem do sentimento anti-russo que grassa-va na Polónia -- que teria necessariamente que contaminar uma parte do proletariado, já que este não vive num mundo à parte da burguesia.

As brilhantes vitórias do Exército Vermelho no período de 4 de Julho a 8 de Agosto de 1920 modificaram a atitude de Lenine quanto ao inicial carácter defensivo da guerra travada pela RSFSR. O rápido avanço do Exército Vermelho entre 4 e 11 de Julho e a nota de Curzon recebida em Moscovo a 12 de Julho, que denunciava fraqueza da Entente-Polónia, abriram a perspectiva de rapidamente vencer o regime burguês polaco e, decorrendo disso, ajudar o proletariado polaco no estabelecimen-to de um estado socialista. Num discurso na IX Conferência do PCR(b), em 22 de Setembro de 1920 [107], comentando a Nota Curzon, Lenine diz: «A questão que se nos colocava era se aceitávamos esta proposta, que nos dava uma fronteira vantajosa e, portanto, se de uma forma geral adoptávamos uma posição puramente defensiva, ou se pelo contrário usávamos o ascendente do nosso exército e a vantagem de ajudar a sovietização da Polónia. Esta era uma questão fundamental de guerra defensiva ou ofensiva, e nós sabíamos no Comité Central que esta era uma nova questão de princípio, que estávamos num ponto de viragem de toda a política do poder soviético».

Quando Lenine diz «que se nos colocava» está a referir-se ao plenário do CC de 16 de Julho onde a questão foi debatida. Antes do plenário Lenine procurou saber a opinião de outros camaradas. [108] Não existem Actas deste ple-nário do CC, mas através das notas de E. Preobrajensky que nele participou [109] conhecem-se alguns aspectos do que se passou. Lenine apresentou dez teses sobre a questão. A primeira -- «Ajudar o proletariado e as massas trabalhadoras da Polónia e da Lituânia a liber-tarem-se da burguesia e dos latifundiários» -- enquadrava-se, nesta formulação geral, no quadro do internacionalismo proletário. Res-tava saber o que se entendia por «ajudar». A nota 2 da tese 3 -- «O CC recomenda a criação de autoridades soviéticas na Polónia e dar-lhes assistência» -- não era polémica; no quadro do internacionalismo proletário são sempre aceitá-veis certas «recomendações» e «assistências». A questão, contudo, é que a «ajuda», «reco-mendação» e «assistência» eram entendidas por Lenine como «É necessário sondar com a baioneta do Exército Vermelho se a Polónia está pronta para o poder soviético», conforme consta não só nas notas de Preobrajensky, mas no referido discurso de Lenine [107]: «Mas dissemos entre nós que deveríamos sondar com as baionetas: está a Polónia madura para a revolução social do proletariado?». Lenine defendia, portanto, uma ofensiva contra os exércitos de Pilsudski, da Polónia burguesa, na perspectiva de que a consciência política do proletariado polaco estivesse suficientemente madura e ganha para o próximo passo: a revolução socialista com a ajuda da RSFSR.

Na discussão das teses de Lenine no CC surgiram duas posições. A de Lenine defendia também a rejeição de qualquer mediação da Entente no conflito com a Polónia. Com Lenine estavam L. Kamenev [110], G. Zinoviev, N. Bukharin e J. Rudzutak, os direitistas e os «esquerdistas».

Um dos oponentes de Lenine era Trotski, que, segundo as notas de Preobrajenski [109], exortou a não sobrestimar a fraqueza do exército polaco e defendeu a mediação do RU no conflito o que daria uma fronteira vantajosa à RSFSR e aprofundaria a fricção entre Londres e Paris. (Por esta altura já havia contactos comerciais entre Londres e Moscovo e tinha sido formado no RU um «Comité de Acção», com forte participação dos trabalhadores, que lançou eficazmente uma campanha contra qualquer ataque à RSFSR.) No final da discussão todos os membros do CC votaram unanimemente pela continuação da ofensiva contra a Polónia. Quanto à mediação do RU só votaram a favor Trotski, A. Rykov, Preobrajenski, K. Radek e M. Kalinine. Tukhatchevstky fez uma exortação às tropas: «A Varsóvia!». O Comandante-Chefe Kamenev já se tinha pronunciado pelo desarmamento completo do exército polaco e pela recusa à mediação britânica.

Há quem escreva que Lenine queria usar a sovietização da Polónia para ligar com a revolução na Alemanha. Não encontrámos apoio para esta tese nos documentos de Lenine. Concretamente, no longo discurso na IX Conferência, Lenine apenas analisa a sovietização da Polónia. Na verdade, em todo o período de Dezembro de 1919 a Setembro de 1920 a Alemanha não vivia um período revolucionário, mas um período reaccionário (putsch de Kapp etc.). Lenine sabia muito bem que as perspectivas de um ascenso revolucionária na Alemanha eram escassas. A tese da ligação com a Alemanha provém de Trotsky (ver abaixo) e seus associados. Tukhatchevsky e Gaya também eram entusiastas do «A Berlim!».

Estaline era contra a sovietização da Polónia pelo Exército Vermelho. Já num importante trabalho publicado no Pravda em Maio de 1920 [111] dizia:

«Nenhum exército do mundo pode ser vito-rioso (estamos a falar, claro, de uma vitória firme e duradoura) sem uma retaguarda estável. A retaguarda é de primordial impor-tância para a frente, porque é da retaguarda, e apenas da retaguarda, que a frente obtém não apenas todos os tipos de fornecimentos, mas também a sua força humana -- forças de combate, sentimentos e ideias. Uma retaguarda instável, e pior ainda, uma retaguarda hostil, irá inevitavelmente transformar o melhor e mais unido exército numa massa instável e em desagregação. A fraqueza de Koltchak e Denikin deveu-se ao facto de que não tinham a “sua própria” retaguarda […].
Neste aspecto, a retaguarda das forças polacas difere muito substancialmente da de Koltchak e Denikin -- para grande vantagem da Polónia. […] a retaguarda das forças polacas é homo-génea e nacionalmente unida. Daí a sua uni-dade e convicção. O seu sentimento predomi-nante -- um “sentido de pátria” -- é comunica-do através de numerosos canais à Frente Polaca, dando às unidades coesão nacional e firmeza. Daí a resistência das tropas polacas. A retaguarda polaca, é claro, não é (e não pode ser!) homogénea no sentido de classe; mas os conflitos de classe ainda não atingiram tal ponto que minem o senso de unidade nacional e criem antagonismos numa frente de composi-ção de classe heterogénea. Se as forças polacas estivessem a operar no território da Polónia, seria sem dúvida difícil lutar contra elas».

Em 24 de Junho, quando o Exército Vermelho já estava a obter grandes êxitos na Frente Sudoeste, Estaline [112] avisou contra o optimismo excessivo e pronunciou-se contra os que apelavam a uma «marcha sobre Varsóvia»:
«Mas seria um erro pensar que os polacos foram eliminados da nossa frente. De facto, nós estamos a lutar não apenas contra os polacos, mas contra toda a Entente, que mobi-lizou todas as forças das trevas da Alemanha, Áustria, Hungria e Roménia e está a fornecer aos polacos suprimentos de todos os tipos.
Além disso, não se deve esquecer que os polacos têm reservas, que estão já concentradas em Novogrado-Volynsk, e o seu efeito será indubitavelmente sentido nos próximos dias.
Deve-se também ter em conta que ainda não há desmoralização em massa no exército polaco. Não há dúvida de que mais lutas ainda estão por vir, e portanto combates ferozes.
Considero, por isso, que a arrogância e a presunção nociva mostrados por alguns dos nossos camaradas são despropositadas; alguns deles, não contentes com os sucessos na frente, apelam a uma “marcha sobre Varsóvia”; outros, não contentes em defender a nossa República contra o ataque inimigo, declaram altivamente que só poderiam ficar satisfeitos com uma "Varsóvia Soviética Vermelha"».

Em 11 de Julho, Estaline [113] aborda de novo o assunto nos mesmos termos:
«Os nossos sucessos na Frente Anti-Polaca são inquestionáveis. É também inquestionável que esses sucessos se desenvolverão. Mas seria uma jactância imprópria pensar que os polacos já estão arrumados, que tudo o que nos resta fazer é “marchar sobre Varsóvia”. Essa jactância, que mina a energia dos nossos funcionários e gera uma presunção prejudicial, é despropositada não só porque a Polónia tem reservas que sem dúvida enviará para a frente, não só porque a Polónia não está sozinha e é apoiada pela Entente, que a apoia incondicionalmente contra a Rússia, mas também e principalmente porque na retaguarda dos nossos exércitos surgiu um novo aliado da Polónia […] – Wrangel […]
É, portanto, ridículo falar de uma “marcha sobre Varsóvia” ou, em geral, do carácter duradouro de nossos sucessos, enquanto o perigo de Wrangel não tiver sido eliminado».

Estaline continuou a manter esta atitude. Bastante mais tarde, numa entrevista a um americano [114], definiu concisamente a sua posição: «Veja, nós, marxistas, acreditamos que uma revolução irá também ocorrer noutros países. Mas só ocorrerá quando os revolucionários nesses países acharem possível ou necessário. A exportação da revolução é um disparate. Cada país fará a sua própria revolução, se quiser, e se não quiser, não haverá revolução. O nosso país, por exemplo, queria fazer uma revolução e fê-la, e estamos agora a construir uma nova sociedade, sem classes. Mas afirmar que queremos fazer uma revolução noutros países, interferir nas suas vidas, significa dizer o que não é verdade e o que nunca defendemos».

Lenine, ao analisar na IX Conferência «a derrota profunda, a derrota catastrófica que sofremos» reconhece que houve um erro: «O que significa isto? Significa, sem dúvida, que um erro foi cometido, já que tivemos uma vitória nas nossas mãos e perdemo-la. Houve, portanto, um erro. […] O erro, claramente, deverá estar na política ou na estratégia da guerra. Mas, como sabem, estratégia e política estão inextrincavelmente ligadas. Talvez, repito, tenha havido um erro político, pelo qual o CC é responsável em geral, e pelo qual cada um de nós assume a responsabilidade. […] Estamos agora convictos de que, se tivéssemos então parado [na fronteira étnica], teríamos agora uma paz absolutamente vitoriosa e preservaríamos toda essa aura e todo esse impacto na política internacional. Talvez tenha sido um erro estratégico.»

Mais tarde, num discurso ao X Congresso do PCR(b) em Março de 1921 [115] diz: «É indubitável que na nossa ofensiva se cometeu um erro ao avançar com excessiva rapidez quase até Varsóvia. Não analisarei agora se foi um erro estratégico ou político, pois isso levar-me-ia muito longe. Vamos deixar isso para os futuros historiadores […] Seja como for, o erro existiu, e foi devido a sobrestimarmos a superi-oridade das nossas forças. Seria muito difícil decidir agora até que ponto essa superioridade de forças dependeu das condições económicas e até que ponto dependeu de que a guerra com a Polónia despertou sentimentos patrióticos mesmo entre os elementos pequeno-burgueses […] o facto é que cometemos um erro claro na guerra com a Polónia».

Na verdade, os «sentimentos patrióticos», ou o «sentido de pátria» como disse Estaline, acabaram por ter um peso político decisivo. Como disse Voroshilov, referindo-se à entrada na Polónia, «Esperávamos revoltas e revolu-ções dos trabalhadores e dos camponeses polacos, mas recebíamos chauvinismo e um ódio estúpido pelos "russos"». Lembremo-nos também da actividade fracassada do Comité Revolucionário Provisório da Polónia que revela a inexistência de uma situação revoluci-onária e de um pedido claro de assistência internacionalista. A Polónia tinha-se tornado independente há pouco tempo, vivia-se a grande festa da independência que ofusca os conflitos de classe, e a população estava imersa na cultura de chauvinismo imposta pelos possidentes. Era irrealista pensar que a esmagadora maioria dos trabalhadores e camponeses polacos não vissem a chegada dos «russos» senão como ocupação.

Autores de diferentes persuasões, não trotskis-tas, escreveram que o ataque a Varsóvia foi um erro cuja responsabilidade principal cabe a Lenine, e que contra essa decisão esteve Estaline. Não mencionam qualquer oposição de Trotski [116]. Quanto aos autores trotskis-tas, consultámos Wollenberg, para quem só Trotski se opôs., e I. Deutscher que menciona a oposição de Trotski e Estaline [34] e diz ainda: «Depois de todas as sóbrias advertências, ele [Estaline] votou com os aderentes "fanfarrões e complacentes" da ofensiva». A frase "fanfar-rões e complacentes" não se encontra nas obras de Estaline e não sabemos em que se baseia Deutscher para tal afirmação. Deutscher tinha o péssimo hábito, não científico, de citar de cor e quase nunca dar referências das suas afirmações. No respeitante a «votos» só existiram os do plenário do CC. Estaline não esteve presente. Em 12 de Julho tinha saído de Moscovo e seguido para a Frente Sudoeste em Kharkov e a 14 de Julho seguiu para a Frente da Crimeia. A afirmação de Deutscher é falsa.

A tese de que Trotski se opôs a Lenine provém do próprio Trotsky. Em My Life escrito em 1930, para além de falsamente acusar Estaline pelo desastre de Tukhachevsky, diz que quando «fiz a minha visita regular a Moscovo encontrei a opinião fortemente a favor de levar a guerra “até ao fim”. Opus-me resolutamente a isto. Os polacos já estavam a pedir a paz». Trotski não coloca datas, mas deve ter sido perto de 11 de Julho quando foi emitida a Nota Curzon. Já vimos que no plenário do CC o voto de Trotski não foi de «oposição resoluta». Diz também que nessa altura pediu a conclusão imediata da paz «antes do exército ficar demasiado exausto». Não menciona outras razões.

Na realidade, nos seus escritos no período em causa (os pertinentes: [88, 117]) nada se en-contra de oposição a uma guerra de sovieti-zação da Polónia. No de 2 de Maio manifesta a convicção de que «a guerra da burguesia pola-ca contra os trabalhadores e camponeses russos e ucranianos terminará com uma revolução dos trabalhadores na Polónia». No de 5 de Maio defende a sovietização da Polónia e não só: «Mas estamos a lutar em direcção a Oeste, para chegar aos trabalhadores europeus, que sabem que só podemos chegar a eles por cima do cadáver da Polónia da Guarda Branca, numa Polónia livre e independente dos traba-lhadores e camponeses» No de 1 de Junho deturpa a ideia leninista de sovietização quan-do diz «Com o proletariado polaco e o campe-sinato polaco tornar-nos-emos donos absolutos do seu país, formaremos sem dificuldade uma aliança fraternal». No de 11 de Agosto diz «Se tivéssemos de deixar de perseguir as forças po-lacas em retirada, privar-nos-íamos dos frutos da vitória. Se perseguirmos os polacos, pene-traremos no território polaco e seremos obriga-dos a tomar Varsóvia.». E a 8 de Setembro, em plena retirada, distorce a verdade -- «Mas foi suficiente para as forças vermelhas inter-romperem o seu avanço e começarem a recuar para o governo da Polónia esquecer a lição que tinha recebido» -- e defende com total irrealismo: «Se uma lição não foi suficiente para Pilsudski, vamos dar-lhe outra». Afinal o exército não estava demasiado exausto!
Political Mistakes

When characterizing according to the Bolshevik calendar the revolutionary ripening in Warsaw, Lenin says in a speech of March 1919 [105] (our italics): "But, firstly, no decree has yet been issued stating that all countries must live according to the Bolshevik revolutionary calendar; and even if it were issued, it would not be observed. And, secondly, the situation at present is such that the majority of the Polish workers, who are more advanced than ours and more cultured, share the standpoint of social-defencism, social-patriotism. […] The Polish proletarian movement is taking the same course as ours, towards the dictatorship of the proletariat, but not in the same way as in Russia. And there the workers are being intimidated by statements to the effect that the Muscovites, the Great Russians, who have always oppressed the Poles, want to carry their Great-Russian chauvinism into Poland in the guise of communism. Communism cannot be imposed by force.

Thus, in March 1919, Lenin's position was of there being no single model of revolutionary ripening of the proletariat, and that socialism-communism could not be imposed forcefully in Poland by the (Russian) Bolsheviks.

On October 24, 1919, Lenin says [106]: "The Poles got help from Britain, France and America who all tried to arouse Poland's ancient hatred towards her Great-Russian oppressors, tried to transfer the Polish workers' hatred of the landowners and tsars, a hundred times deserved, to the Russian workers and peasants, and tried to make the Polish workers think that the Bolsheviks, like the Russian chauvinists, dream of conquering Poland."

This and the previous speech show that Lenin was well aware of the anti-Russian sentiment in Poland – a sentiment which would necessarily have to contaminate part of the proletariat, since the proletariat does not live in a world apart from the bourgeoisie.

The brilliant victories of the Red Army in the period from July 4 to August 8, 1920, changed Lenin's attitude towards the initial defensive character of the war waged by the RSFSR. The rapid advance of the Red Army between 4 and 11 July and the Curzon Note received in Moscow on 12 July, denouncing the weakness of the Entente-Poland, opened the prospect of rapidly overcoming the bourgeois Polish regime and, as a result, of helping the Polish proletariat to establish a socialist state. In a speech to the Ninth Conference of the RCP(B), on September 22, 1920 [107], commenting on the Curzon Note, Lenin says: "The question before us was whether we accepted this proposal, which gave us an advantageous frontier, and therefore whether we generally adopted a purely defensive position, or whether on the contrary we used the ascendant of our army and the advantage of helping the sovietization of Poland. This was a fundamental question of defensive or offensive warfare, and we knew in the Central Committee that this was a new matter of principle, that we were at a turning point of the whole policy of Soviet power."

When Lenin says "the question before us" he is referring to the CC plenum of July 16 where the question was debated. Before the plenum Lenin sought the opinion of other comrades. [108] There are no Minutes of this CC plenum, but through the notes of E. Preobrazhensky who participated in it [109] we know some aspects of what has happened. Lenin presented ten theses on the subject. The first one -- "To help the proletariat and the working masses of Poland and Lithuania to free themselves from the bourgeoisie and the landlords" -- was in this general formulation within the framework of proletarian internationalism. It remained to be known what was meant by “help”. Note 2 of Thesis 3 -- "The CC recommends the establishment of Soviet authorities in Poland and assisting them" -- was not controversial; in the framework of proletarian internationalism certain “recommendations” and “assistances” are always acceptable. The point, however, is that “help”, “recommendation” and “assistance” were understood by Lenin as “It is necessary to probe with the bayonet of the Red Army if Poland is ready for Soviet power”, as stands not only in the notes of Preobrazhensky, but also in the mentioned speech of Lenin [107]: "But we said among ourselves that we should feel with bayonets: is Poland ripe for the social revolution of the proletariat?" Lenin, therefore, advocated an offensive against the armies of Pilsudski of bourgeois Poland, with the prospect that the political consciousness of the Polish proletariat would be sufficiently mature and won over for the next step: the socialist revolution with the help of the RSFSR.

In the discussion of Lenin's theses in the CC, two positions emerged. Lenin’s position also defended the rejection of any mediation of the Entente in the conflict with Poland. With Lenin were L. Kamenev [110], G. Zinoviev, N. Bukharin and J. Rudzutak, the rightists and the "leftists".



One of Lenin's opponents was Trotsky, who, according to the notes of Preobrazhnesky [109], urged not to overestimate the weakness of the Polish army and defended the mediation of the UK in the conflict, since it would give an advantageous frontier to the RSFSR and would deepen the friction between London and Paris. (By this time, there were trade contacts between London and Moscow, and an “Action Committee” with strong workers’ participation had been formed in the UK, which launched a successful campaign against any attack on the RSFSR.) In the end of the discussion all CC members voted unanimously for the con-tinuation of the offensive against Poland. As regards the mediation of UK, only Trotsky, A. Rykov, Preobrajenski, K. Radek and M. Kalinin voted in favor. Tukhachevstky made an exhortation to the troops: "To Warsaw!" The Commander-in-Chief Kamenev had already spoken out for the complete disarmament of the Polish army and the refusal of British mediation.


There are people who write that Lenin wanted to use the sovietization of Poland to link with the revolution in Germany. We didn’t find support for this thesis in Lenin’s documents. Concretely, in the lengthy speech at the IX Conference, Lenin only elaborates on the sovietization of Poland. As a matter of fact, in the whole period from December 1919 to September 1920 Germany was living no revolutionary period but a reactionary period (Kapp’s putsch, etc.) Lenin knew very well that the prospects of a revolutionary rise in Germany were dim. The thesis of linking with Germany comes from Trotsky (see below) and his associates. Tukhachevsky and Gaya were also enthusiasts of “To Berlin!”

Stalin was against the sovietization of Poland by the Red Army. in an important work published by Pravda already in May 1920 [111] he wrote:


"No army in the world can be victorious (we are speaking of firm and enduring victory, of course) without a stable rear. The rear is of prime importance to the front, because it is from the rear, and the rear alone, that the front obtains not only all kinds of supplies, but also its man power -- its fighting forces, sentiments and ideas. An unstable rear, and so much the more a hostile rear, is bound to turn the best and most united army into an unstable and crumbling mass. The weakness of Kolchak and Denikin was due to the fact that they had no rear of “their own,” […]

In this respect, the rear of the Polish forces differs very substantially from that of Kolchak and Denikin -- to the great advantage of Poland. […] the rear of the Polish forces is homogeneous and nationally united. Hence, its unity and staunchness. Its predominant sentiment -- a “sense of motherland” -- is communicated through numerous channels to the Polish Front, lending the units national cohesion and firmness. Hence, the staunchness of the Polish troops. Poland’s rear, of course, is not (and cannot be!) homogeneous in the class sense; but class conflicts have not yet reached such a pitch as to undermine the sense of national unity and to breed antagonisms in a front of heterogeneous class composition. If the Polish forces were operating in Poland’s own territory, it would undoubtedly be difficult to fight against them.”

On June 24, when the Red Army was already making great achievements on the South-Western Front, Stalin [112] warned against excessive optimism and spoke out against those who called for a "march on Warsaw":
"But it would be a mistake to think that the Poles on our front have been disposed of. After all, we are contending not only against the Poles, but against the whole Entente, which has mobilized all the dark forces of Germany, Austria, Hungary and Rumania and is providing the Poles with supplies of every kind.
Moreover, it should not be forgotten that the Poles have reserves, which are already concentrated at Novograd-Volynsk, and their effect will undoubtedly be felt within the next few days.
It should also be borne in mind that there is as yet no mass demoralization in the Polish army. There is no doubt that more fighting is still to come, and fierce fighting at that.
Hence I consider the boastfulness and harmful self-conceit displayed by some of our comrades as out of place: some of them, not content with the successes at the front, are calling for a ‘march on Warsaw’; others, not content with defending our Republic against enemy attack, haughtily declare that they could be satisfied only with a ‘Red Soviet Warsaw’.”

On 11 July, Stalin [113] addresses the subject again in the same terms:
"Our successes on the anti-Polish Front are unquestionable. It is equally unquestionable that these successes will develop. But it would be unbecoming boastfulness to think that the Poles are as good as done with, that all that remains for us to do is to ‘march on Warsaw.’ Such boastfulness, which saps the energy of our officials and breeds a harmful self-conceit, is out of place not only because Poland has reserves which she will undoubtedly send to the front, not only because Poland is not alone and is backed by the Entente, which supports her unreservedly against Russia, but also, and chiefly, because there has appeared in the rear of our armies a new ally of Poland […] – Wrangel […]
It is therefore ridiculous to talk of a ‘march on Warsaw,’ or in general of the lasting character of our successes so long as the Wrangel danger has not been eliminated.”

Stalin kept on maintaining this attitude. In an interview with an American in 1936 [114] he defined his position in a concise way: "You see, we Marxists believe that a revolution will also take place in other countries. But it will take place only when the revolutionaries in those countries think it possible, or necessary. The export of revolution is nonsense. Every country will make its own revolution if it wants to, and if it does not want to, there will be no revolution. For example, our country wanted to make a revolution and made it, and now we are building a new, classless society. But to assert that we want to make a revolution in other countries, to interfere in their lives, means saying what is untrue, and what we have never advocated."

Lenin, when analyzing at the IX Conference "the deep defeat, the catastrophic defeat that we suffered” recognizes that there was an error: "What does this mean? This means that, undoubtedly, a mistake was made, because we had a victory in our hands and lost it. Therefore, there was a mistake. […] The error, clearly, should be either in politics or in the strategy of war. But you know that strategy and politics are inextricably linked. Perhaps, I repeat, there was a political mistake, for which the CC is responsible in general, and for which each of us takes responsibility. […] We are now certain that if we had stopped then [in the ethnic frontier], we would now have an absolutely victorious peace, and preserved all that aura and all that impact on international politics. Perhaps it was a strategic mistake."

Later, in a speech to the X Congress of the RCP(B) in March 1921 [115] he states: "Our offensive, our too swift advance almost as far as Warsaw, was undoubtedly a mistake. I shall not now analyse whether it was a strategic or a political error, as this would take me too far afield. Let us leave it to future historians, […]. At any rate, the mistake is there, and it was due to the fact that we had overestimated the superiority of our forces. It would be too difficult to decide now to what extent this superiority of forces depended on the economic conditions, and on the fact that the war with Poland aroused patriotic feelings even among the petty-bourgeois elements […] the fact remains that we had made a definite mistake in the war with Poland."


In truth, "patriotic sentiments," or the "sense of motherland," as Stalin said, ended up having a decisive political weight. As Voroshilov said, referring to the entry into Poland, "We expected revolts and revolutions of Polish workers and peasants, but we received chauvinism and a stupid hatred for the ‘Russians’." Let us also remember the failed activity of the Provisional Revolutionary Committee of Poland which reveals the absence of a revolutionary situation and of a clear request for internationalist assistance. Poland had recently become independent, the great feast of independence was being daily lived, which overshadowed class conflicts, and further the population was immersed in the culture of chauvinism imposed by the proprietors. It was unrealistic to think that the overwhelming majority of the Polish workers and peasants would not see the arrival of the Russians as an occupation.


Authors of different persuasions, non Trotskyites, wrote that the attack on Warsaw was a mistake whose main responsibility rests with Lenin, and that Stalin stood against that decision. They do not mention any opposition from Trotsky [116]. As for the Trotskyite authors, we have consulted Wollenberg, for whom only Trotsky was an opponent, and I. Deutscher who mentions the opposition of Trotsky and Stalin [34] and says further: "After all the sober warnings, he [Stalin] cast his vote with the ‘bragging and complacent’ adherents of the offensive." The phrase "bragging and complacent" is not found in Stalin's works and we do not know on what Deutscher based himself for such assertion. Deutscher had the bad, unscientific, habit of citing by heart and almost never gave references of his statements. With regard to “votes”, there were only those of the CC plenum. Stalin was not present. On 12 July he had left Moscow and had gone to the South-Western Front in Kharkov, and on 14 July he had gone to the Crimean Front. Deutscher's statement is false.

The thesis that Trotsky opposed Lenin comes from Trotsky himself. In My Life written in 1930, in addition to falsely accusing Stalin of the Tukhachevsky disaster, he says that when "I paid my regular visit to Moscow, I found it strongly in favor of carrying on the war ‘until the end.’ To this I was resolutely opposed. The Poles were already asking for peace.” Trotsky does not put dates, but it must have been close to July 11 when the Curzon Note was issued. We have already seen that in the CC plenum Trotsky's vote was not of “resolute opposition”. He also said that at that time he asked for the immediate conclusion of the peace "before the army should grow too exhausted.” He does not mention other reasons.

Actually, in his writings during the period of interest (the relevant ones: [88, 117]) nothing stands out in opposition to a war of sovietizing Poland. On May 2 he expressed his conviction that “the war of the Polish bourgeoisie against the Ukrainian and Russian workers and peasants will end with a workers' revolution in Poland”. On May 5 he defends the sovietization of Poland and others: "But we are striving toward the West, to meet the European workers, who know that we can meet them only over the corpse of White-Guard Poland, in a free and independent workers 'and peasants' Poland." On 1 June he misrepresents the Leninist idea of ​​sovietization when he says: "With the Polish proletariat and the Polish peasantry, who will become absolute masters in their country, we shall without difficulty form a fraternal alliance". In August 11 says "If we were to halt our pursuit of the retreating Polish forces, we should deprive ourselves of the fruits of victory. If we pursue the Poles we shall penetrate into Polish territory and shall find ourselves obliged to take Warsaw”. And on September 8, in full retreat, he distorts the truth -- "But it was enough for the Red forces to halt their advance and begin retreating for the government of Poland at once to forget the lesson they had received" -- and defends with total unrealism: “If one lesson was insufficient for Pilsudski, we shall let him have another." After all, the army was not too exhausted!

Notas e Referências IV | Notes and References IV

De 1 a 45 na Parte I | From 1 through 45 in Part I.
De 46 a 63 na Parte II | From 46 through 63 in Part II
De 64 a 80 na Parte III | From 64 through 80 in Part III


[82] Não nos deve admirar o facto do reaccionário Pilsudski formar um governo de coligação dominado pelo Partido Socialista Polaco. De ambas as partes havia uma jogada oportunista. A pró-Pilsudski wikipedia-en relata uma cena que reflecte esse oportunismo: «No dia seguinte à sua chegada a Varsóvia, [Pilsudski] encontrou-se com velhos colegas dos dias da clandestinidade, que se lhe dirigiram em estilo socialista como "Camarada" pedindo-lhe apoio para as suas políticas revolucionárias; ele recusou e respondeu: "Camaradas, eu tomei o eléctrico vermelho do socialismo até à paragem chamada Independência, e saí aí. Vocês podem continuar até à paragem final se quiserem, mas a partir de agora vamos tratar-nos um ao outro por 'Senhor’!”».
A wikipedia-en também refere que, a seguir à 1ªGM, Pilsudski «procurou construir um governo num país destruído. Grande parte da antiga Polónia russa tinha sido destruída na guerra, e a pilhagem sistemática dos alemães reduzira a riqueza da região em pelo menos 10%» sem reconhecer que, tendo estado ao serviço dos alemães, Pilsudski era, portanto, conivente com a destruição e a pilhagem sistemática.
One shouldn’t be surprised for the fact that the reactionary Pilsudsky formed a coalition government dominated by the Polish Socialist Party. There was an opportunist play on both sides. The pro-Pilsudsky Wikipedia-en narrates a scene reflecting that opportunism: “The day after his arrival in Warsaw, he [Pilsudsky] met with old colleagues from underground days, who addressed him socialist-style as "Comrade" and asked for his support for their revolutionary policies; he refused it and answered: "Comrades, I took the red tram of socialism to the stop called Independence, and that's where I got off. You may keep on to the final stop if you wish, but from now on let's address each other as 'Mister'!"
Wikipedia-en also mentions that after WWI Pilsudsky “attempted to build a government in a shattered country. Much of former Russian Poland had been destroyed in the war, and systematic looting by the Germans had reduced the region's wealth by at least 10%” without recognizing that by having placed himself at the service of the Germans Pilsudsky was thereby an accomplice of the destruction and systematic looting.

[83] Por esta altura existiam repúblicas soviéticas na Ucrânia, Bielorrússia e Leste da Lituânia. No Oeste da Lituânia, com capital em Kaunas, existia um governo burguês relacionado com uma Lituânia «independente» constituída durante a ocupação alemã como protectorado da Alemanha.
By this time there were Soviet republics in Ukraine, Belarus and Eastern Lithuania. In the West of Lithuania, with capital in Kaunas, stood a bourgeois government related to an "independent" Lithuania created during the German occupation as a German protectorate.

[84] J.V. Stalin, The Entente’s New Campaign Against Russia, 25 May 1920. This work contains an interesting characterization of the Entente campaigns. Este trabalho contém uma caracterização interessante das campanhas da Entente.

[85] Vatsetis II, Kakurin N. Ye., Grazhdanskaya Voyna 1918-1921 g., Moscow 1930.

[86] Ekaterina Blinova, The Untold Story of Soviet POWs Tormented in Polish Captivity in 1920s, Sputnik 21.10.2015 who quotes Michael Jabara Carley’s essay (University of Montreal) "Anti-Bolshevism in French Foreign Policy: The Crisis in Poland in 1920."

[87] «Herbert Hoover disponibilizou aos polacos milhões de dólares em fornecimentos da American Relief Administration. Em 4 de Janeiro de 1921, o Senador James Reed, do Missouri, acusou no Senado que 40.000.000 US$ dos fundos de assistência do Congresso “foram gastos para manter o exército polaco em campo”. O Congresso originalmente destinara 100.000.000 US$ para ajuda. O relatório de Hoover mostrou que quase todos os 94.938.417 US$ contabilizados foram dados aos exércitos russos brancos e aos intervencionistas aliados» [1].
“Herbert Hoover placed millions of dollars worth of American Relief Administration supplies at the disposal of the Poles. On January 4, 1921, Senator James Reed of Missouri charged on the floor of the Senate that $40,000,000 of the Congressional relief funds ‘was spent to keep the Polish army in the field.’ The Congress had originally appropriated $100,000,000 for relief. Hoover’s report showed that almost all of the $94,938,417 accounted for was given to White Russian armies and the Allied interventionists.” [1]

[88] L. Trotsky, The War with Poland, Report to the Joint Session of the All-Russia Central Executive Committee, the Moscow Soviet of Workers’ Red Army Men’s Deputies, and the Leaderships of the Trade Unions and Factory Committees, May 5, 1920. (With a May 10 addition to the Speech presented at Gomel.)

[89] Lenin, Political Report of the Central Committee of the RCP(B) at the Ninth All-Russian Conference of the RCP(B) and Concluding Remarks on the Results of the Discussion, September 22, 1920.

[90] V.I. Lenin, Telegram To I. T. Smilga And G. K. Orjonikidze, (“Smilga and Orjonikidze, R.M.C., Caucasus Front, Copy to Stalin, R.M.C., South-Western Front) March 11, 1920
«[…] Os polacos, evidentemente, vão tornar inevitável a guerra contra eles. Portanto, o principal problema agora não é o Exército de Trabalho do Cáucaso, mas os preparativos para a mais rápida possível transferência do máximo de tropas para a Frente Ocidental. Concentrem todos os vossos esforços neste problema […]».
[…] The Poles evidently are going to make war with them inevitable. Therefore the main problem now is not the Caucasus Labour Army, but preparations for the speediest possible transfer of the maximum troops to the Western Front. Concentrate all your efforts on this problem. […]

[91] Gennady Matveev, «Ispol'zovat' zazhzhennyy fakel», ("Use a lighted torch") «Использовать зажженный факел» | Историк (consulted June 8 2018).
Matveev é um historiador burguês. Este artigo, contudo, contém informação documental de interesse, muita da qual pudemos confirmar.
Matveev is a bourgeois historian. This article, however, contains documentary information of interest, much of which we were able to confirm.

[92] Kamenev S.S., Записки о Гражданской войне и военном строительстве (Notes on the Civil War and Military Questions), Moscow, 1963.

[93] As composições das frentes no período de interesse eram:
Exército Vermelho: Frente Ocidental (Comandante: M. Tukhatchevsky; CMR: I. Smilga): 3.º Corpo de Cavalaria (G. Gaya), 3.º Exército (V. Lazarevich), 4.º Exército (A. Shuvaev), 15.º Exército (A. Cork), 16.º Exército (N. Sollogub), Grupo de Mozir (T. Khvesin). Frente Sudoeste (Comandante: A. Yegorov; CMR: J.V. Estaline): 12.º Exército (G. Voskanov), 13.º Exército (I. Spider, R. Eideman, I. Uborevich), 14.º Exército (M. Molkochanov); 1.º Corpo de Cavalaria (S. Budionny); 2.º Corpo de Cavalaria (O. Gorodovikov)
Exército Polaco: Frente Norte do General J. Haller: I Exército (F. Latinik), II Exército (B. Roy), V Exército (V. Sikorsky). Frente Central do General E. Rydz-Smigly: III Exército (Z. Zelinsky), IV Exército (L. Skersky). Frente Sul do General W. Ivashkevich: VI Exército (V. Yendzheevsky), Exército dos nacionalistas ucranianos (Mikhaylovich-Pavlenko).
Parece que o número de homens nunca excedeu 200 mil de cada lado e seria, inicialmente entre 100 a 120 mil.[29]
The compositions of the fronts in the period of interest were:
Red Army: Western Front (Commander: M. Tukhachevsky, CMR: I. Smilga): 3rd Cavalry Corps (G. Gaya), 3rd Army (V. Lazarevich), 4th Army (A. Shuvaev), 15. Army (A. Cork), 16th Army (N. Sollogub), Mozir Group (T. Khvesin). South-Western Front (Commander: A. Yegorov, CMR: JV Stalin): 12th Army (G. Voskanov), 13th Army (I. Spider, R. Eideman, I. Uborevich), 14th Army (M. Molkochanov); 1st Cavalry Corps (S. Budionny); 2nd Cavalry Corps (O. Gorodovikov)
Polish Army: Northern Front of General J. Haller: I Army (F. Latinik), II Army (B. Roy), V Army (V. Sikorsky). Central Front of General E. Rydz-Smigly: III Army (Z. Zelinsky), IV Army (L. Skersky). Southern Front of General W. Ivashkevich: VI Army (V. Yendzheevsky), Army of Ukrainian nationalists (Mikhaylovich-Pavlenko).
It seems that the number of men never exceeded 200 thousand on each side and was initially between 100 and 120 thousand. [29]

[94] A ideia da operação era contornar as unidades polacas com o corpo de cavalaria de Gaya e impelir o 4º Exército do Exército Vermelho da frente bielorrussa para a fronteira lituana. Essa táctica foi bem-sucedida. (Gaya D. Gay combateu na 1.ª GM num corpo de voluntários arménios, sob o comando de Yudenitch. Após a Revolução de Outubro juntou-se ao PCR(b).)
The idea of the operation was to go around the Polish units with Gaya's cavalry corps and impel the 4th army of the Red Army from the Belarusian front to the Lithuanian border. This tactic was successful. (Gaya D. Gay fought in the WWI in a body of Armenian volunteers, under the command of Yudenitch. He joined the RCP(B) after the October Revolution.)

[95] V.I. Lenin, Mensagem Telefónica para J. V. Stalin, 12 ou 13 de Julho de 1920.
«Foi recebida uma Nota de Curzon. Propõe um armistício com a Polónia nos seguintes termos: o exército polaco deve retirar-se para além da linha fixada pela conferência de paz do ano passado, nomeadamente, Grodno, Yalovka, Nemirov, Brest-Litovsk, Dorogiisk, Ustilug, Krylov. O nosso exército deve retirar-se 50 quilómetros para leste dessa linha ... Foi-nos proposto que concluíssemos um armistício com Wrangel, desde que ele se retirasse para a Crimeia ... Peço a Estaline:
1) Agilizar a execução da ordem para intensificar furiosamente a ofensiva;
2) Informar-me da sua opinião (de Estaline).
Pela minha parte, penso que tudo isto é uma peça de canalhice com vista à anexação da Crimeia, que é proposta de forma tão insolente na Nota. A ideia é arrancar-nos a vitória das nossas mãos recorrendo a falsas promessas.
V.I. Lenin, Telephone Message to J. V. Stalin, July 12 or 13, 1920.
“A Note has been received from Curzon. He proposes an armistice with Poland on the following terms: the Polish army to withdraw beyond the line fixed by last year’s peace conference, viz., Grodno, Yalovka, Nemirov, Brest-Litovsk, Dorogiisk, Ustilug, Krylov. ... Our army is to withdraw 50 kilometres east of this line. ... It has been proposed to us that we conclude an armistice with Wrangel, provided he withdraws to the Crimea. .. I ask Stalin:
1) to expedite execution of the order to furiously intensify the offensive;
2) to inform me of his (Stalin’s) opinion.
For my part, I think that all this is a piece of knavery aimed at the annexation of the Crimea, which is advanced so insolently in the Note. The idea is to snatch victory out of our hands with the aid of false promises.”

[96] Vikipediya, Armii RKKA v Grazhdanskoy Voyne (Armies of the Red Army during the Civil War).
Este portal da wikipedia-ru dá acesso a muita informação fiável e de interesse sobre a estrutura, capacidade de combate e operações de unidades do Exército Vermelho. Deveria constituir a nota 53 da Parte II, mas por lapso não foi incluída.
This wikipedia-ru site gives access to a lot of reliable and interesting information about the Red Army's structure, combat capability and operations. It should have been note 53 of Part II but was not inserted by mistake.

[97] Kopylov, Nikolai Alexandrovich, Красные полководцы, Начало масштабных военных действий (Red Generals -- The beginning of large-scale military operations), Komsomolskaya Pravda, Russian Military Historical Society, 2015.

[98] É esta a conclusão a que chega o historiador da guerra soviético-polaca N. Kakurin que estudou em detalhe a formação desse plano e as mudanças introduzidas nele. | This is the conclusion arrived at by the historian of the Soviet-Polish war N. Kakurin who studied in detail the creation of the plan and the changes introduced in it.

[99] A ordem 8358/III do contra-ataque do Vepsh com um mapa detalhado caiu nas mãos do Exército Vermelho, mas o alto comando soviético considerou o documento como desinformação cujo objectivo era interromper a ofensiva do Exército Vermelho contra Varsóvia.
The order 8358/III of the counter-attack on the Vepsh with a detailed map fell into the hands of the Red Army, but the Soviet high command considered the document as misinformation whose aim was to halt the Red Army offensive against Warsaw.

[100] Варшавская битва - Великая Страна СССР (Warsaw Battle - The Great Country of USSR)

[101] Estimativa de | An estimate of Irina V. Mihutina, Так была ли «ошибка»? (There was then a mstake?), Независимая газета (www.ng.ru), January 13, 2001, que nos parece objectivamente argumentada. Os polacos apontam para 110 mil. | which seems objectively justified. The Poles point to 110,000.

[102] Um membro do Comité Internacional da Cruz Vermelha descreveu assim as condições do campo em Brest-Litovsk (wikipedia.ru):
«Das salas de guarda, bem como dos antigos estábulos nos quais os prisioneiros de guerra estão alojados, emana um cheiro doentio. Os cativos estão com frio ao redor do fogão improvisado, onde vários troncos estão a arder, a única maneira de se aquecerem. À noite, fugindo do primeiro resfriado, são acondicionados em grupos de 300 pessoas em tábuas, sem colchões e sem cobertores, em quartéis mal iluminados e mal ventilados. Os prisioneiros estão, na maioria das vezes, vestidos com trapos... por causa da aglomeração em locais não apropriados para habitação, vida íntima e próxima de prisioneiros de guerra saudáveis ​​e pacientes infecciosos, muitos dos quais morreram imediatamente; desnutrição, evidenciada por inúmeros casos, edema e fome -- o campo de Brest-Litovsk é uma verdadeira necrópole».
A member of the International Committee of the Red Cross thus described the conditions of the camp in Brest-Litovsk (wikipedia.ru):
"From the guard-rooms, as well as from the old stables in which prisoners of war are housed, a sickly odor emanates. The captives are chilling around the makeshift stove, where several trunks are burning, the only way to warm up. At night, fleeing from the first cold, they are packaged in groups of 300 people on planks, without mattresses and without blankets, in poorly lit and poorly ventilated rooms. The prisoners are, most of the time, dressed in rags ... because of the crowding in places not suitable for housing, intimate and close life of healthy prisoners of war and infectious patients, many of whom died immediately, malnutrition, evidenced by innumerable cases, edema and famine -- the Brest-Litovsk camp is a veritable necropolis."

[103] Como se sabe, o racismo é sempre usado pelos reaccionários como arma para dividir os trabalhadores e desviar a atenção do verdadeiro inimigo, o capital. Os países do Leste Europeu, particularmente a Polónia, tinham nessa altura uma importante minoria judaica, que os «patrões» -- a burguesia, nobreza e clero -- discriminavam fortemente, impedindo-a de ascensão social e sujeita a piores empregos e mais baixos salários. O anti-semitismo era também fortemente atiçado pelos reaccionários como forma de escape social. A propaganda anti-semita, baseada no obscurantismo feudal, era forjada para contaminar as camadas de menor rendimento, incluindo trabalhadores de consciência social e política atrasada. Um trabalhador contaminado por anti-semitismo (ou qualquer outra forma de racismo) verá sempre uma justificação para o «outro» ser impedido de ascensão social, sujeito a piores empregos e a mais baixos salários, e ver-se-á sempre favorecido face ao judeu, apesar do seu salário de miséria. Participar no anti-semitismo, nos pogroms – razias a bairros judeus planeadas e comandadas por dirigentes reaccionários que contavam com a cumplicidade da polícia e das autoridades – era então frequente no Leste Europeu, especialmente na Polónia. Para além de desclassificados (lumpen-proletariado) participavam também nos pogroms trabalhadores e camponeses mercenarizados e/ou de consciência social retrógrada, como forma de auto-afirmação e para fazer dos judeus bode expiatório do próprio desespero.
Como também é sabido, os comunistas defendem a unidade dos trabalhadores, independentemente de raça e credo, e o internacionalismo proletário. Valores que eram ferozmente combatidos pelos patrões com apoio ideológico do clero, assimilando para fins de propaganda o bolchevismo ao semitismo, pregando a tese de que as ideias comunistas –os valores da solidariedade, da unidade de todos os trabalhadores e o internacionalismo proletário -- tinham sido inventadas por judeus.
It’s well-know that racism is always used by the reactionaries as a weapon to divide the workers and divert the attention from the real enemy, the capital. The Eastern European countries, particularly Poland, had at that time an important Jewish minority, that the 'bosses' -- bourgeoisie, nobility and clergy -- discriminated harshly, preventing it from rising socially and subject to the worst and lower salary employments. Anti-Semitism was also strongly fanned by reactionaries as a form of social escape. Anti-Semitic propaganda, based on feudal obscurantism, was forged to contaminate lower-income layers, including workers with belated social and political consciousness. A worker contaminated by anti-Semitism (or any other form of racism) will always see a justification for the "other" being prevented from social advancement, subject to worse jobs and lower wages, and will always feel himself favored compared with the Jew, despite his wage of misery. Participation in anti-Semitism, in the pogroms – raids on Jewish quarters planned and commanded by reactionary leaders with the complicity of police and authorities -- was then frequent in Eastern Europe, especially in Poland. Besides declassified elements (lumpen proletariat) pogroms were also participated by mercenarized and / or socially retrograde workers and peasants as a form of self-assertion and to make Jews a scapegoat for their own despair.
As is also known, Communists defend the unity of workers, regardless of race and creed, and proletarian internationalism. Values ​​that were fiercely opposed by the bosses with ideological support of the clergy, assimilating Bolshevism with Semitism for propaganda purposes, preaching the thesis that communist ideas -- the values ​​of solidarity, the unity of all workers and proletarian internationalism -- had been invented by Jews.

[104] Quotation from vikipedia-ru of: Records of Konstantin Simonov on conversations with Marshal Konev, Simonov K. Favorites: Poems. Reflections, Ekaterinburg: "U-Faktoriya", 2005.

[105] V. I. Lenin, Eighth Congress of the R.C.P.(B.), 3 - Report On The Party Programme (March 19), March 18-23, 1919.
«A autodeterminação do proletariado está a ocorrer entre os polacos. Aqui estão os últimos dados sobre a composição do Soviete de Varsóvia dos Deputados dos Trabalhadores. Os traidores-socialistas polacos - 333, comunistas - 297. Isso mostra que, de acordo com o nosso calendário revolucionário, o Outubro desse país não está muito longe. Está algures em Agosto ou Setembro de 1917.»
“Self-determination of the proletariat is proceeding among the Poles. Here are the latest figures on the composition of the Warsaw Soviet of Workers’ Deputies. Polish traitor-socialists --333, Communists --297. This shows that, according to our revolutionary calendar, October in that country is not very far off. It is somewhere about August or September 1917.”

[106] V.I. Lenin, Speech to Students of the Sverdlov University Leaving for the Front, October 24, 1919.

[107] V.I. Lenin, Political Report of the Central Committee of the RCP(B) at the Ninth All-Russian Conference of the RCP(B) and Concluding Remarks on the Results of the Discussion, September 22, 1920. (in Russian)

[108] Segundo Matveev, op. cit., o Comissário do Povo dos Negócios Estrangeiros, G. Chicherin, definiu em 13 de Julho a «sovietização da Polónia com baionetas moscovitas» como «aventura». O polaco J. Unshlikht e o Letão I. Smilga, membros do PCR(b) concordavam com a sovietização da Polónia. Mas K. Radek que representava no PCR(b) o PC da Polónia-Lituânia com outros camaradas polacos considerava a Polónia impreparada para a sovietização.
According to Matveev, op. cit., the People's Commissar of Foreign Affairs, G. Chicherin, defined on 13 July the "sovietization of Poland with Muscovite bayonets" as "adventure". The Polish J. Unshlikht and the Latvian I. Smilga, members of the RCP(b) agreed on the sovietization of Poland. But K. Radek who represented in RCP(b) the CP of Poland-Lithuania considered with other Polish comrades Poland unprepared for sovietization.

[109] As notas de Preobrajenski foram publicadas em 2006. Não conseguimos consultá-las. Usamos as citações de Matveev, op. cit. | Preobrazhenski's notes were published in 2006. We were unable to consult them. We use Matveev's, op. cit., quotations.

[110] Segundo Matveev, op. cit., L. Kamenev disse: «A adopção das propostas britânicas significaria a inevitabilidade de nova guerra com a Polónia o mais tardar até à próxima Primavera. Uma garantia só pode ser a sovietização da Polónia»
According to Matveev, op. cit., L. Kamenev had said: "Adoption of the British proposals would mean the inevitability of a new war with Poland not later than next spring. A guarantee can only be Sovietization of Poland."

[111] Stalin, The Entente's New Campaign Against Russia, May 25 and 26, 1920.

[112] J.V. Stalin, The Situation On The South-Western Front, Ukrainian ROSTA Interview, June 24, 1920.

[113] J.V. Stalin, The Situation On The Polish Front, Pravda Interview, July 11, 1920.

[114] J.V. Stalin, Interview Between J. Stalin and Roy Howard, March 1, 1936.

[115] Lenin, Tenth Congress of the RCP (B.), Report On The Political Work Of The Central Committee Of The RCP(B.), March 8- 16, 1921.

[116] John T. Murphy ([69]), Jerome Davis (Behind Soviet Power. N.Y., c1946), Ian Grey (Stalin, Man of History. L., 1979), Adam Ulam (Stalin, The Man and his Era. N.Y., 1973), Robert Service (Stalin, Harvard Univ. Press, 2005).

[117] Trotsky: The Polish Front, Talk with a Representative of the Soviet Press, May 2, 1920; To All Workers, Peasants and Honourable Citizens of Russia, June 1, 1920; Theses On the Military-Political Campaign in Connection with the Conclusion of Peace with Poland (Communicated to Comrades Lenin, Krestinsky, Chicherin, Zinoviev, Bukharin and Steklov and to the Moscow Committee of the Party), August 11, 1920; Is a Second Lesson Needed? September 8, 1920.