quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Milosevitch ilibado pelo tribunal de Haia e os hodiernos belicistas

Em 18 de Julho passado o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia em Haia (ICTY) ilibou o ex-Presidente e dirigente da Liga dos Comunistas da Sérvia, Slobodan Milosevitch, de todas as acusações de crimes de guerra, limpeza étnica, etc. Esta notícia merece-nos os seguintes aditamentos e comentários:
   
-- O veredicto, extremamente incómodo para o Império Ianque & C.ª, não foi noticiado pelos media imperiais: as grandes cadeias internacionais e nacionais de notícias que o Império controla. Incluindo a TV portuguesa. Eis aqui mais uma demonstração das virtudes da «liberdade de informação» proporcionada aos cidadãos pelos que detêm os sacos de dinheiro: Quando uma notícia não agrada ao Império… é omitida.
   
-- O veredicto do tribunal surge dez anos depois da morte de Milosevitch em Haia, morte para a qual contribuiu a sua prisão desde Janeiro de 2002. Dez anos! Foram precisos dez anos para oficialmente inocentar Milosevitch. Isto, apesar de pouco depois da sua morte, em 24 de Março de 2016, já o ICTY ter emitido uma declaração de que não tinha encontrado «suficiente» evidência dos crimes de que era acusado. Uma conclusão inescapável que se tira de tudo isto é de que os dez anos foram precisos não porque andaram durante esse tempo à cata de evidência total e não apenas «suficiente». Não, os dez anos foram necessários para que o caso fosse esquecido pela opinião pública, podendo então o veredicto ser impunemente silenciado pelos media imperiais. Quem se lembra ainda ou se interessa por Milosevitch?
   
-- Afinal, Milosevitch, que o Império encabeçado por Bill Clinton e Tony Blair demonizou como o «carniceiro dos Balcãs», não foi carniceiro nenhum. Pelo contrário, o ICTY reconheceu que ele sempre se tinha oposto às limpezas étnicas, à violência de Karadzic, etc.
   
-- O veredicto do ICTY é como que a última peça do puzzle que torna perfeitamente claro ter sido o desmembramento violento da Jugoslávia – a «aniquilação de uma nação», conforme o título preciso de um excelente livro de Michael Parenti – o resultado de uma orquestração bem sucedida do Império, com excelente desempenho da Alemanha e do Vaticano.
   
-- Orquestração que se tornou um dos modelos da ingerência imperial Ianque & C.ª – demonização de dirigentes, protestos «populares», etc. – reaplicado noutras partes do globo com governos que incomodam(vam) o Império, nomeadamente na Líbia, Síria, Ucrânia, etc., e, actualmente com os devidos ajustes, na Venezuela.
   
-- Quanto à Líbia e Síria temos que fazer um mea culpa relativamente aos nossos anteriores artigos sobre a «Primavera Árabe». Na Líbia e Síria a ingerência imperial surgiu logo no início (documentos revelados recentemente comprovam-no) e não apenas numa fase avançada, como na altura julgávamos e escrevemos. Isso não exclui que várias forças autenticamente populares e progressistas se tenham desde o início oposto a Khadafi e Assad, e sacrificado a vida por uma causa que não era a imperial.
   
-- De tudo isto se confirma mais uma vez a seguinte conclusão (expressa por Che Guevara, embora não nos lembremos as palavras exactas): é preciso desconfiar de toda a informação que provém do Império, cujas afirmações mentirosas são constantes; com particular acuidade quando se refere a países que o incomodam.
*    *    *
Sobre estes temas apresentamos a tradução de um recente artigo de John Pilger que consideramos de muito interesse.
*    *    *
Incitando à Guerra Nuclear através dos media
   
John Pilger, 23 de Agosto de 2016, "Information Clearing House" - "RT"
   
A ilibação de um homem acusado dos piores crimes não apareceu nos títulos dos jornais. Nem a BBC nem a CNN a noticiaram. O Guardian só lhe concedeu um breve comentário. Uma tão rara ilibação oficial foi, como se compreenderá, enterrada ou suprimida, já que diria demasiado sob a forma de como os reis do mundo reinam.
   
O Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia (ICTY) ilibou silenciosamente o último presidente sérvio Slobodan Milosevitch de crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia em 1992-95, incluindo o massacre de Srebrenica.
   
Longe de conspirar com o culpado dirigente bósnio-sérvio Radovan Karadzic, Milosevitch, na realidade, «condenou a limpeza étnica», opôs-se a Karadzic e procurou pôr um fim à guerra que desmembrou a Jugoslávia. Esta verdade encontra-se inserta perto do trecho final de um veredicto de 2.590 páginas sobre Karadzic, do passado mês de Fevereiro. Ela destrói ainda mais a propaganda justificativa do ataque ilegal da Nato à Sérvia em 1999.
   
Milosevitch morreu de ataque do coração em 2006, sozinho na sua cela em Haia, no que constituiu uma farsa de julgamento num «tribunal internacional» inventado pelos americanos. Foi-lhe negada cirurgia do coração que lhe poderia ter salvo a vida. O seu estado piorou, tendo sido monitorizado e mantido em segredo por funcionários dos EUA, conforme já revelou a WikiLeaks.
   
Milosevitch foi vítima da propaganda de guerra que hoje jorra às catadupas nos nossos ecrãs e jornais, ameaçando-nos a todos de grande perigo. Ele era o protótipo do demónio, vilipendiado pelos media ocidentais como o «carniceiro dos Balcãs», responsável por genocídio, especialmente na província separatista do Kosovo. O primeiro-ministro Tony Blair assim o declarara, invocando o holocausto e pedindo acção contra «este novo Hitler».
   
O Embaixador-Geral dos EUA para Crimes de Guerra (sic!), David Scheffer, declarara que no mínimo «225.000 homens da etnia albanesa entre 14 e 59 anos» podiam ter sido assassinados pelas forças de Milosevitch.
   
Foi esta a justificação para o bombardeamento da Nato, liderado por Bill Clinton e Blair, que matou centenas de civis em hospitais, escolas, igrejas, parques e estúdios de televisão, destruindo a infra-estrutura económica da Sérvia. Uma acção gritantemente movida por razões ideológicas. Milosevitch foi confrontado com Madeleine Albright, secretária de estado dos EUA, numa notória «conferência de paz» em Rambouillet, França. Uma Albright que atingiria a infâmia quando declarou que as mortes de meio milhão de crianças iraquianas tinham «valido a pena».
   
Albright apresentou uma «oferta» a Milosevitch que nenhum dirigente nacional poderia aceitar. Só se ele concordasse com a ocupação militar do seu país, com forças de ocupação agindo «fora do procedimento legal», e com a imposição de um «mercado livre» neo-liberal, é que a Sérvia não seria bombardeada. Estes ditames constavam de um «Apêndice B» que os media ou não leram ou suprimiram. O objectivo era esmagar o último estado europeu independente e «socialista».
   
Assim que a Nato começou a bombardear deu-se a debandada de refugiados kosovar «fugindo do holocausto». Quanto o bombardeamento terminou, equipas internacionais de polícias foram despejadas no Kosovo para exumar as vítimas. Os polícias do FBI não conseguiram encontrar uma única vala comum e regressaram a casa. A equipa espanhola de exame forense fez o mesmo; o respectivo chefe denunciou indignadamente «a pirueta semântica das máquinas de propaganda de guerra». A contagem final de mortos no Kosovo foi de 2.788 e incluía combatentes de ambos os lados, bem como sérvios e ciganos assassinados pela pró-Nato Frente de Libertação do Kosovo. Não tinha havido qualquer genocídio. O ataque da Nato tinha sido simultaneamente uma fraude e um crime de guerra.
    
Dos tão aclamados mísseis americanos de «orientação precisa», exceptuando uma parte, quase todos eles atingiram alvos civis -- e não militares --, incluindo os estúdios da Rádio e Televisão Sérvia em Belgrado. Dezasseis pessoas morreram, incluindo operadores de câmara, produtores e maquilhadores. Blair qualificou profanamente os mortos, como fazendo parte do «comando e controlo» da Sérvia.
   
Em 2008 a Procuradora do ICTY, Carla Del Ponte, revelou que tinha sido pressionada no sentido de não investigar os crimes da Nato.
   
Foi este o modelo [de intervenção militar] adoptado por Washington nas invasões subsequentes do Afeganistão, Iraque, Líbia e, por aviões furtivos, da Síria. Todas correspondem a «crimes proeminentes» segundo o padrão de Nuremberga. Todas dependeram da propaganda dos media. Ainda que o jornalismo tablóide tivesse desempenhado o seu papel tradicional, foi, porém, o jornalismo sério e credível, por vezes liberal [no sentido americano de «liberal», com um cheiro a «esquerda»], que desempenhou o papel mais eficiente: a promoção evangélica de Blair e das suas guerras feita pelo Guardian, as mentiras incessantes sobre as não existentes armas de destruição maciça de Saddam Hussein no Observer e no New York Times, e o assestado rufar de tambores da propaganda do governo na BBC.
   
No pico do bombardeamento, [a jornalista] Kirsty Wark da BBC entrevistou o general Wesley Clark, comandante da Nato. A cidade sérvia de Nis tinha acabado de ser polvilhada por bombas de fragmentação, matando mulheres, velhos e crianças num mercado aberto e num hospital. Wark não fez nenhuma pergunta sobre isto ou sobre quaisquer outras mortes de civis.
   
Outros [jornalistas] foram mais descarados. Em Fevereiro de 2003, no dia a seguir a Blair e Bush terem incendiado o Iraque, o editor político da BBC Andrew Marr esteve na Downing Street e pronunciou uma espécie de discurso da vitória. Disse euforicamente aos seus espectadores que Blair tinha «dito que seriam capazes de tomar Bagdade sem um banho de sangue e que no final os iraquianos estariam a celebrar isso. E Blair acertou totalmente em ambas as previsões». Hoje, com um milhão de mortos e uma sociedade em ruínas, as entrevistas de Marr na BBC são as recomendadas pela embaixada dos EUA em Londres.
   
Os colegas de Marr juntaram-se «em defesa» de Blair. O correspondente em Washington da BBC, Matt Frei, disse que «não há dúvida de que o desejo de levar o bem, de levar os valores americanos ao resto do mundo e especialmente ao Médio Oriente… está hoje cada vez mais ligado à capacidade militar».
   
A obediência aos EUA e aos seus colaboradores como sendo uma força benigna que «leva o bem» está profundamente enraizada no jornalismo institucional do ocidente. Tal obediência assegura que a culpa pela catástrofe actual na Síria seja atribuída exclusivamente a Bashar al-Assad, que o Ocidente e Israel desde há muito conspiraram derrubar; não por razões humanitárias, mas sim para consolidar o poder agressivo de Israel na região. As forças jihadistas lançadas e armadas pelos EUA, Grã-Bretanha, França, Turquia e seguidores da sua «coligação», servem para esse fim. São elas que fornecem a propaganda e vídeos que se transformam em notícias nos EUA e Europa, que permitem o acesso a jornalistas e que garantem uma «cobertura» unilateral da Síria.
   
A cidade de Alepo está nas notícias. A maior parte dos leitores e espectadores não tem ideia de que a maioria da população de Alepo vive na parte ocidental da cidade controlada pelo governo, e que sofre bombardeamentos diários de artilharia pela al-Qaida patrocinada pelo ocidente. Isso não vem nas notícias. Bombardeiros franceses e americanos atacaram uma vila na província de Alepo em 21 de Julho. Mataram pelo menos 125 civis. Isto foi relatado na página 22 do Guardian, mas sem fotografias.
    
Tendo criado e apoiado o jihadismo no Afeganistão nos anos 1980 como Operação Ciclone – uma arma para destruir a União Soviética – os EUA fizeram algo de semelhante na Síria. Tal como os mujahidin afegãos os «rebeldes» sírios são os soldados infantes da América e Grã-Bretanha. Muitos lutam em nome da al-Qaida e suas variantes; alguns, como a Frente Nusra, reformataram-se de forma a satisfazer as sensibilidades americanas sobre o 9/11. A CIA controla-os, com dificuldade, tal como controla os jihadistas em todo o mundo.
   
O objectivo imediato é destruir o governo de Damasco, o qual, segundo o inquérito mais credível (YouGov Siraj), a maioria dos sírios apoia ou pelo menos procura nele protecção, apesar do barbarismo nas suas sombras. O objectivo a longo prazo é negar à Rússia um aliado chave no Médio Oriente, como parte da guerra de desgaste da Nato contra a Federação Russa com vista a eventualmente a destruir.
   
O risco nuclear é óbvio, embora seja suprimido pelos media do «mundo livre». Os escritores editoriais do Washington Post, que promoveram a ficção das armas de destruição maciça no Iraque, pedem a Obama que ataque a Síria. Hillary Clinton, que publicamente se gabou do seu papel de carrasco durante a destruição da Líbia, tem repetidamente indicado que, como presidente, «irá ainda mais longe» que Obama.
   
Gareth Porter, um jornalista de Washington, revelou recentemente os nomes dos possíveis membros do governo Clinton que planeiam atacar a Síria. Todos têm historiais da beligerância da guerra fria; o ex-director da CIA Leon Panetta diz que «o próximo presidente terá de considerar a colocação de forças especiais adicionais no terreno».
   
O mais notável da propaganda de guerra, fluindo agora livremente, é a sua clara absurdidade e familiaridade. Estive a olhar para um filme de arquivo de Washington dos anos de 1950, quando diplomatas, funcionários públicos e jornalistas eram alvo de caça às bruxas e arruinados pelo senador Joe McCarthy, por terem desafiado as mentiras e paranóia acerca da União Soviética e da China. O culto anti-Rússia voltou, tal como um furúnculo recorrente.
   
Na Grã-Bretanha, Luke Harding do Guardian lidera os-que-odeiam-a-Rússia numa torrente de paródias que atribuem a Vladimir Putin todas as iniquidades terrestres. Quando os Panama Papers [«documentos do Panamá», revelados pela Wikileaks, contendo as provas de evasão fiscal de várias celebridades mundiais do grande capital] foram revelados a página da frente dizia que se tratava de Putin e trazia uma foto dele. Isto, apesar de Putin não ser mencionado nos Paper.
   
Tal como Milosevitch, Putin é o Demónio Número Um. Foi Putin que fez cair o avião malaio na Ucrânia. Título: «Quanto a mim, Putin matou o meu filho». Não interessam as evidências. Foi Putin o responsável pelo derrube do governo em Kiev em 2014, embora o derrube fosse agendado e pago por Washington. A campanha de terror das milícias fascistas que se seguiu, contra as populações de língua russa, foi também o resultado da «agressão» de Putin. Mais exemplos da «agressão» de Putin foram o ter impedido a Crimeia de se tornar uma base de mísseis da Nato, e a protecção da sua população, na maioria russa, que tinha votado num referendo para se reunir à Rússia – da qual tinha sido em tempos separada e anexada à Ucrânia.
   
Nos EUA a campanh anti-Rússia elevou-se a realidade virtual. O colunista Paul Krugman do New York Times (um economista com o Prémio Nobel) chamou Donald Trump de «candidato siberiano» porque, diz ele, Trump é o homem de Putin. Trump ousou sugerir, num momento de rara lucidez, que a guerra com a Rússia poderia ser uma má ideia. De facto, foi ainda mais longe, e retirou as entregas de armamentos à Ucrânia da proposta republicana. «Não é que seria bom se nos déssemos bem com a Rússia?» disse ele.
   
É por isso que a instituição liberal-belicista americana o odeia. E não por causa do racismo e baixa demagogia de Trump. O registo de racismo e extremismo de Bill e Hillary Clinton sobre-trombeteiam  [trocadilho: trump=trombeta] de longe o de Trump. (Esta semana é o 20-ésimo aniversário da «reforma» social de Clinton que lançou a guerra contra os afro-americanos.) Quanto a Obama: enquanto a polícia americana atira a matar os seus congéneres afro-americanos, a grande esperança destes na Casa Branca não fez nada para os proteger, nada para aliviá-los do empobrecimento, enquanto quatro guerras predadoras e uma campanha sem precedentes de assassinatos se desenrolava.
   
A CIA pediu que Trump não fosse eleito. Os generais do Pentágono pediram que ele não fosse eleito. Os pró-guerra do New York Times – quando em pausa da incessante campanha de aviltamento de Putin – pedem que não seja eleito. Algo cheira aqui mal. Estes tribunos da «guerra perpétua» estão aterrorizados pela perspectiva do negócio da guerra, de muitos milhões de milhões de dólares, pelo qual os EUA mantêm a sua hegemonia, ser minada se Trump fizer um acordo com Putin e depois com a China de Xi Jinping. O pânico deles pela possibilidade da maior potência mundial falar em paz – embora inverosímil – constituiria apenas uma farsa negra se as questões em jogo não fossem tão terríveis.
   
O vice-presidente Joe Biden gritou num comício de Hillary Clinton: «Trump teria gostado de Estáline!». Com a aprovação de Clinton, gritou: «nós nunca nos curvaremos. Nunca nos dobraremos. Nunca nos ajoelharemos. Nunca nos entregaremos. A meta final é nossa. É assim que nós somos. Nós somos América!»
   
Jeremy Corbyn na Grã-Bretanha também excitou a histeria dos belicistas do partido trabalhista e dos media, que o querem pôr no caixote do lixo. Lord West um ex-almirante e ministro trabalhista colocou claramente a questão: Corbyn estava a tomar uma «infame» posição anti-guerra «porque tal posição lhe valia os votos das massas que não pensam».
   
Num debate com Owen Smith, o rival à liderança, o moderador perguntou a Corbyn: «Como agiria se Vladimir Putin violasse um estado membro da Nato?», Corbyn respondeu: «Primeiro que tudo procurar-se-ia evitar que tal acontecesse. Construir-se-ia um bom diálogo com a Rússia… Procurar-se-ia introduzir a desmilitarização das fronteiras da Rússia com a Ucrânia e de outros países que estão na fronteira entre a Rússia e a Europa de Leste. O que não se pode permitir é uma série de concentrações calamitosas de tropas de ambos os lados, que só podem conduzir a um grande perigo».
Pressionado a dizer se autorizaria uma guerra contra a Rússia «se tivesse de ser», Corbyn respondeu: «Não quero ir para a guerra; o que quero é construir um mundo onde não se tenha de ir para guerra». A forma como as perguntas foram colocadas tem muito a ver com a ascensão dos belicistas liberais ingleses. O partido trabalhista e os media já há muito tempo que lhes vêm oferecendo oportunidades de carreira. Durante um certo tempo o tsunami moral do grande crime no Iraque deixou-os a patinhar, e as suas inversões da verdade constituíram um embaraço temporário. Apesar de Chilcot [refere-se ao inquérito oficial britânico que reconheceu a falsidade das razões apresentadas para a invasão do Iraque] e da montanha de factos incriminatórios, Blair continua a ser a inspiração desses belicistas porque foi um «vencedor».
   
O jornalismo e as posições académicas discordantes têm sido sistematicamente banidas ou aprisionadas, as ideia democráticas esvaziadas de conteúdo e preenchidas por uma «política de identidade» que confunde género com feminismo, ansiedade geral pelo estado do mundo com libertação, e que ignora intencionalmente a violência estatal e os aproveitadores de armamentos que destroem inumeráveis vidas em lugares distantes, como o Iémen e a Síria, ao mesmo tempo acenando com uma guerra nuclear na Europa e em todo o globo.
   
A movimentação popular de todas as idades em torno da subida espectacular de Corbyn contrapõe-se, em certa medida, a isso. Corbyn tem esclarecido o horroroso da guerra ao longo da sua vida. O problema para Corbyn e seus apoiantes é o partido trabalhista. O problema na América para os milhares de seguidores de Bernie Sanders foi o partido democrático, bem como a traição final de Sanders.
   

Nos EUA as raízes de uma versão moderna dos grandes movimentos pelos direitos civis e anti-guerra estão a ser lançadas pelo movimento Black Lives Matter e por movimentos afins do Codepink [Mulheres pela Paz]. Só um movimento que encha as ruas, atravesse as fronteiras e não desista pode parar os belicistas.