terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Reaccionarismo dos “Charlie”

No artigo de Janeiro de 2015, Charlie Hébdo e a hipocrisia «ocidental», dizíamos:
   
«Nos dois a quatro milhões de pessoas que dizem ter tido a manifestação de ontem em Paris, constam, sem dúvida, muitos democratas interessados no progresso social, numa sociedade mais justa, livre dos diktats do grande capital. Mas constam também, muitos e muitos milhares dos fascistas de Le Pen, do Bloco Flamengo e do Partido da Liberdade do holandês Geert Wilders, para quem o pretexto da “liberdade de expressão” (fascistas incomodados com a “liberdade de expressão”!) serve objectivos xenófobos e racistas, as leis anti-emigrante e uma UE cada vez mais dividida entre países de 1.ª e de 2.ª, neocolonizados.»
   
E ainda
   
«A manifestação de ontem é também a imagem epitomizada de uma Europa ideologicamente confusa, acreditando na existência de “bons” e “maus” fascistas, albergando carinhosamente em todos os escalões administrativos e educativos os seus “bons” e muito votados fascistas – que ontem passearam promiscuamente lado a lado com democratas -, que ajudam a lutar contra os “maus” fascistas. »
A confusão ideológica que grassa na Europa – e muito particularmente na França, roída até à medula pelos caldos fedorentos fornecidos em doses industriais por uma intelectualidade decadente, patética e mercenária, pós-modernista e sempre prenhe de discursos sobre uma mística «modernidade», isto é, uma atitude moderna (?) em prol da colaboração de classes e da sustentação do Império – é agora posta a nu por recentes cartoons do Charlie Hébdo :
    

O Charlie Hébdo gozando aqui com a criança síria que morreu ao chegar à Europa.

E aqui, troçando das crianças refugiadas muçulmanas que morrem em naufrágios, por incapacidade de marchar sobre as águas cristãs.
*    *     *
   
Enfim, cartoons que são o exemplo da democracia hipócrita desta Europa neoliberal de Merkel-Hollande e Cameron, onde a liberdade de expressão é, de facto, a liberdade da expressão filo-fascista. Uma Europa dominada pelos mais “modernos” frutos da mentalidade fascista, debitados cinicamente 24 horas por dia em todos os canais de TV e pelos jornais das grandes corporações servindo a «liberdade de expressão» do grande capital. Isto durante décadas e décadas; e mais intensamente  e impunemente desde que o socialismo da Europa de Leste foi derrotado.
   
Frutos que têm alimentado milhões de «Charlies», incluindo da classe operária, todos cinicamente modernaços, todos beatificamente copiando as mais recentes modas do Império, todos convictos individualistas, todos votantes nos partidos dos «arcos da governação». E todos sumamente imbecis, ignorantes (com orgulho na ignorância e dela defensores) e desprovidos de qualquer sentido crítico. Pelo menos até ficarem sem meios de subsistência. E mesmo assim...
   

Non, nous ne sommes pas Charlie.