segunda-feira, 24 de abril de 2017

Trabalho Imigrante e Lenine | Lenin on Immigrant Labor

Já depois de termos publicado o nosso artigo «A Super-Exploração dos Trabalhadores Imigrantes» deparámos com uma apreciação de Lenine sobre o trabalho de imigrantes que nos pareceu de interesse divulgar.
  
Trata-se de uma passagem do texto «Revisão do Programa do Partido» de 6-8 de Outubro de 1917 [1]; logo, de pouco antes do início da Revolução de Outubro (25 de Outubro). Lenine analisa nesse texto propostas de revisão do Programa a adoptar no congresso extraordinário do Partido Operário Social-Democrata Russo (Bolcheviques) convocado pelo Comité Central para 17 de Outubro (uma semana antes da revolução).
  
O referido trecho é o seguinte (itálicos de Lenine):
 
«Tendo assim concluído a nossa análise da proposta do camarada Sokolnikov, temos de apontar uma adição valiosa que ele propõe e que na minha opinião deveria ser adoptada e mesmo desenvolvida. No parágrafo que trata do progresso técnico e da maior utilização do trabalho de mulheres e crianças, ele propõe juntar a frase “bem como o trabalho de trabalhadores estrangeiros não qualificados, importados de países atrasados”. Esta adição é valiosa e necessária. A exploração de trabalho pior pago de países atrasados é particularmente característica do imperialismo. É esta exploração que sustenta, em certa medida, o parasitismo dos países imperialistas ricos, que subornam uma parte dos seus trabalhadores com salários mais elevados, enquanto exploram descaradamente e sem restrições o trabalho dos “baratos” trabalhadores estrangeiros. Devem ser adicionadas as palavras “pior pago” bem como as palavras “e frequentemente privados de direitos”, porque os exploradores dos países “civilizados” se aproveitam sempre do facto de que os trabalhadores estrangeiros importados não têm direitos. Isto é frequentemente observado na Alemanha quanto aos trabalhadores importados da Rússia, na Suíça, quanto aos italianos; na França, quanto aos espanhóis e italianos, etc.»

Portanto, apesar de no princípio do séc. XX a imigração ter muito menos peso que actualmente, Lenine já considerava:

-- Que a questão da imigração – nessa época apenas de trabalhadores não qualificados -- era importante, pelo que a sua menção no programa do partido era «valiosa e necessária».

-- Que se estava aqui perante a exploração de trabalho «pior pago».

-- Que tal exploração era «particularmente característica do imperialismo».

-- Que com tal exploração os «países imperialistas ricos» «subornam uma parte dos seus trabalhadores com salários mais elevados».

-- Que os trabalhadores imigrantes eram “frequentemente privados de direitos”, aproveitando-se disso os exploradores.

Noutra parte do texto, Lenine usa – pelo que sabemos, pela primeira vez – a expressão «capitalismo monopolista de Estado»:

«A guerra e a ruína económica forçaram todos os países a progredir do capitalismo monopolista para o capitalismo monopolista de Estado. É esta a situação objectiva actual.»

Conclui-se, portanto, que Lenine já considerava a existência de certos traços fundamentais do trabalho imigrante (que descrevemos no artigo acima mencionado) desde o início do capitalismo monopolista de Estado.
We had already posted our article “The Super-Exploitation of Immigrant Workers” when we came across a Lenin’s appraisal of immigrant labour, whose interest we found we should impart.

It is a passage of the text “Revision of the Party Programme” of October 6-8, 1917 [1]; it dates, therefore, from a short time before the October Revolution (October 25). In the text, Lenin analyses draft proposals of the revision of the Programme to be adopted at the extraordinary congress of the Russian Social-Democratic Labour Party (Bolsheviks), called by the Central Committee for October 17 (a week before the revolution).

The said passage is this one (italics from Lenin):

“Having thus concluded our analysis of Comrade Sokolnikov's draft, we must note one very valuable addition which he proposes and which in my opinion should be adopted and even developed. To the paragraph which deals with technical progress and the greater employment of female and child labour, he proposes to add the phrase "as well as the labour of unskilled foreign workers imported from backward countries". This addition is valuable and necessary. The exploitation of worse paid labour from backward countries is particularly characteristic of imperialism. On this exploitation rests, to a certain degree, the parasitism of rich imperialist countries which bribe a part of their workers with higher wages while shamelessly and unrestrainedly exploiting the labour of "cheap" foreign workers. The words "worse paid" should be added and also the words "and frequently deprived of rights"; for the exploiters in "civilised" countries always take advantage of the fact that the imported foreign workers have no rights. This is often to be seen in Germany in respect of workers imported from Russia; in Switzerland of Italians; in France, of Spaniards and Italians, etc. “

Thus, in spite of the fact that in the beginning of the 20th century the immigration had a far less importance than today, Lenin already considered:

-- That the immigration topic – at the time restricted to unskilled labour – was an important one, and accordingly its mention in the party programme was “valuable and necessary”.

-- That one was dealing here with the exploitation of “worse paid” labour.

-- That such exploitation was “particularly characteristic of imperialism”.

-- That the “rich imperialist countries” were using that exploitation to “bribe a part of their workers with higher wages”.

-- That the immigrant workers were "frequently deprived of rights" and the exploiters took advantage of that.

In another part of the text Lenin uses – as far as we know, for the first time – the expression “state monopoly capitalism”:

War and economic ruin have forced all countries to advance from monopoly capitalism to state monopoly capitalism. This is the objective state of affairs.”

We may then conclude that Lenin already considered the existence of certain fundamental traits of immigrant labour (which we described in the above mentioned article) since the beginning of state monopoly capitalism.



Nota

[1] V.I. Lenine, Revisão do Programa do Partido, 6-8 (19-21) Out. 1917, Obras Coligidas, vol. 26. | V.I. Lenin, Revision of the Party Programme, October 6-8 (19-21), 1917, Collected Works, vol. 26.

Não encontrámos o texto em português. O texto que publicamos é nossa tradução da versão inglesa disponível no IMA (marxists.org).

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A Super-Exploração dos Trabalhadores Imigrantes | The Super-Exploitation of Immigrant Workers

1. Introdução
2. A evolução do fenómeno
3. Níveis de educação dos imigrantes na UE
4. Super-exploração
    4.1 Baixa salarial
    4.2 Desemprego
    4.3 Condições de vida
    4.4 Outros aspectos
5. Tendências recentes
Apêndice. Diferencial salarial dos imigrantes
Alemanha, Holanda, Áustria, França, Suécia, Bélgica, Finlândia, Itália, EUA, Portugal
1. Introduction
2. The phenomenon along time
3. Education levels of the immigrants in the EU
4. Super-exploitation
    4.1 Lower wages
    4.2 Unemployment
    4.3 Living conditions
    4.4 Other aspects
5. Recent trends
Appendix. Immigrant wage-gap
Germany, Netherlands, Austria, France, Sweden, Belgium, Finland, Italy, USA, Portugal

1. Introdução

Os trabalhadores imigrantes desempenharam e desempenham um papel importante nos países de economia capitalista desenvolvida (ECD). Em particular, nos que se situam no topo da pirâmide imperialista «ocidental»: EUA, Canadá, Austrália, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, etc.

Existem duas razões que motivam a análise deste tema:

-- O facto de se tratar de um tema maltratado pelos media capitalistas, que procuram apresentar os trabalhadores imigrantes como objecto de caridade dos ECDs, caridade essa a que responderiam com ingratidão. Além disso, na versão de extrema-direita dos media, os trabalhadores imigrantes são apresentados como os culpados da crise e do mal-estar social, pois «roubam empregos» aos trabalhadores nativos e têm tendências criminosas. São, assim, ateados sentimentos racistas anti-turco, anti-marroquino, anti-mexicano, etc., como vemos acontecer todos os dias. Recentemente, na Holanda e nos EUA.

-- O facto de o trabalho imigrante se ter tornado um fenómeno característico do Capitalismo Monopolista de Estado (CME), com a criação de reservas de mão-de-obra barata nos ECDs, frequentemente confinadas em gettos habitacionais (além de sociais e culturais) e bidonvilles. O CME criou, assim, autênticas «colónias internas» de exploração de trabalho «colonial» dentro dos ECDs.

É bem sabido que estas observações também se aplicam aos afro-americanos e a outras minorias étnicas, «imigrantes forçados» de uma era passada.
   
A análise que aqui apresentamos incide principalmente no fenómeno imigrante nos ECDs europeus, embora, tanto quanto sabemos, outros ECDs partilhem de muitas das suas características.

2. A evolução do fenómeno

O trabalho imigrante deu um salto no pós-2.ª Guerra Mundial (2.ª GM), nomeadamente nos ECDs europeus, que anteriormente à 2.ª GM não tinham imigração importante.

Vários ECDs europeus e o Japão ficaram com economias destruídas pela guerra. A necessidade de rápida reconstrução económica, permitindo consolidar o campo capitalista e enfrentar a atracção exercida sobre os trabalhadores pelos países socialistas, levou à mobilização de capitais próprios [1] e de empréstimos vultuosos no âmbito de acordos com os EUA (Plano Marshall, etc.) que passaram a liderar o campo capitalista e, com esse fim, se empenharam na formação de bastiões imperiais fortes na Europa e no Pacífico.

Os partidos sociais-democratas e as Igrejas dos ECDs europeus apoiaram entusiasticamente o projecto. Faltava um ingrediente: um imenso exército de mão-de-obra barata. Números consideráveis de homens tinham tombado nas batalhas e no trabalho escravo dos nazis, ou ficado incapacitados. Esse exército proveio, assim, em larga medida de imigrantes, super-explorados: salários mais baixos, piores empregos, duras condições de trabalho.

(A imigração no Japão sempre foi pouco importante. No pós 2.ª GM só começou em 1960 para os que eram de ancestralidade japonesa. Até lá, o Japão reabsorveu como mão-de-obra barata os seus soldados espalhados pelo sudeste asiático. [2])

No período 1946-1955 o trabalho imigrante proveio principalmente de colónias e ex-colónias: Indonésia, Suriname, Índia, Paquistão, Argélia. A partir de 1955 assiste-se a grandes fluxos de imigrantes da concha mediterrânica por aliciamento ilegal ou legal; neste caso, incluindo acordos inter-estatais, como os da RFA com a Itália (1955, 1965), Marrocos (1963), Turquia, Portugal, Grécia, Espanha (1964), Tunísia (1965). A Suécia propagandeou e aplicou uma política de «asilo político» para atrair imigrantes.

Os «trabalhadores convidados», como eram chamados nos ECDs europeus, foram «temporariamente» empregues na reconstrução de infra-estruturas (estradas, saneamento, portos, etc.), e em outros empregos de baixa qualificação quer em trabalhos públicos (recolha de lixo, calcetamento, etc.), quer em empresas privadas (auxiliares de construção, serviços de limpeza, estiva, carregamento, etc.). Em 1973 os trabalhadores imigrantes em França e Alemanha constituíam já 10% da força de trabalho.

A reconversão das indústrias de guerra, a restauração dos monopólios, os «milagres económicos» dos países ricos da Europa e do Japão, assentaram em larga medida na super-exploração dos trabalhadores imigrantes.

Entretanto, com o seu papel cumprido, os «temporários» «trabalhadores convidados» tinham-se tornado permanentes, facilitando o influxo de mais imigrantes e suas famílias [3], contribuindo para tornar multi-étnicos os países de acolhimento.

Com o início da reacção neo-liberal cerca de 1980, as multinacionais dos ECDs, para além de exportarem capitais para outros países capitalistas, incluindo o então chamado «terceiro mundo», passaram cada vez mais a globalizar a produção, importando desses países peças dos produtos finais (outsourcing) ou determinados bens de consumo. Com essa finalidade criaram nesses países empresas subsidiárias ou aproveitaram empresas já existentes. Isto é, em vez de importar mão-de-obra barata desses países, as ECDs passaram a super-explorada in loco essa mão-de-obra. Para além de evitar tensões inter-étnicas as economias imperiais evitavam ter de pagar toda a panóplia de apoios sociais aos trabalhadores imigrantes e suas famílias, deixando isso a cargo dos respectivos governos.

Com isto, os ECDs mudaram de atitude política face à imigração. Já não era o trabalhador não qualificado, pronto para pegar nos trabalhos a que os nativos se escusavam, por um baixo salário, que mais interessava. Os ECDs passaram a privilegiar a imigração de trabalhadores de elevadas qualificações. A implosão dos países socialistas europeus veio satisfazer parcialmente essa procura, abrindo as portas a um novo e volumoso fluxo migratório, dado que a transição para o capitalismo nesses países trouxe enormes dificuldades e miséria para trabalhadores de todos os níveis de educação.

Desta forma, o aumento da população imigrante (nascidos no estrangeiro), embora com flutuações, prossegue até hoje nos ECDs europeus, conforme mostram os gráficos abaixo para a Alemanha [3] e para «UE+Shengen» [2], isto é os 27 países da UE (excluindo SLO, EST, LVA, LTU) e países do Espaço Schengen (ISL, LIE, NOR, CHE). Notar que o aumento de população imigrante na «UE+Shengen» acelerou a partir de 2000. No período de 1960-1990 a taxa de crescimento do total de imigrantes era de 400 mil/ano. Em 2000-2013 era de 1500 mil/ano.
1. Introduction

Immigrant workers had and have an important role in the countries of developed capitalist economy (DCE). Particularly, in those at the top of the “western” imperialist pyramid: USA, Canada, Australia, Japan, Germany, France, Great-Britain, Italy, Sweden, Denmark, Netherlands, Belgium, etc.

There are two reasons motivating the analysis of this topic:

-- The fact that it is an ill-treated topic in the capitalist media, which impinge the idea of immigrant workers as recipients of charity from the DCEs; a charity to which they allegedly respond with ingratitude. In addition, in the far-right version of the media, the immigrant workers are portrayed as the culprits of the crisis and of the social malaise, because they “steal jobs” from the native workers and have criminal tendencies. All this serves to stir up racist feelings, anti-Turkish, anti-Moroccan, anti-Mexican, etc., as we constantly see happening. Recently, in the Netherlands and the United States.

-- The fact that immigrant labor has become a phenomenon characteristic of State Monopoly Capitalism (SMC), with the creation of reserves of cheap labor in the DCEs, frequently confined in residential (and also social and cultural) ghettos and slums. The SMC has thus created outright “internal colonies” for the exploitation of “colonial” labor inside the DCEs.

It is well know that these observations also apply to the African-Americans and other ethnic minorities, “forced immigrants” of a past era.

The analyses we present here focus mainly the immigrant phenomenon in the European DCEs, though, as far as we know, other DCEs share many of its characteristics.

2. The phenomenon along time

Immigrant labor peaked up in the aftermath of the Second World War (WWII), namely in the European DCEs, which until WWII had no significant immigration.

Several European DCEs and Japan had their economies destroyed by the war. The need of a quick economical reconstruction, allowing the consolidation of the capitalist camp and to counteract the attraction of the socialist countries over the workers, led to the mobilization of existing capitals [1] and of voluminous loans in the frame of agreements with the US (Marshall Plan, etc.), which became the leader of the capitalist camp and, in consonance with it, did all it could to create strong imperial bulwarks in Europe and in the Pacific.

The social-democrat parties and the Church(es) of the European DCEs gave an enthusiastic support to the project. A single ingredient was missing: a huge army of cheap labor. Considerable numbers of men had fallen in the battles, or in the Nazi slave labor; many became crippled. The labor army then came in a large extent from immigrants. Super-exploited: lower salaries, worse jobs, and harsh working conditions.

(Immigration in Japan has always been of little significance. After WWII the immigration to Japan only started after 1960, for those who were of Japanese ancestry. Until then, Japan reabsorbed as cheap labor force its soldiers disseminated across South-East Asia. [2])

In the years 1946-1955 immigrant labor came mainly from actual or former colonies: Indonesia, Surinam, India, Pakistan, and Algeria. After 1955 started the large flows of immigrants from the Mediterranean Basin, through recruitment by illegal or legal means; in the latter case, comprising inter-state agreements, such as the ones of FRG with Italy (1955, 1965), Morocco (1963), Turkey, Portugal, Greece, Spain (1964), Tunisia (1965). Sweden made propaganda and applied a policy of “political asylum” to attract immigrants.

The “guest workers” as they were called in the European DCEs, were “temporarily” employed in the reconstruction of infra-structures (roads, sewage, docks, etc.), and in other low-skilled jobs either in public services and works (waste collection, street paving, etc.), or in private enterprises (basic construction tasks, cleaning services, longshoremen, stowage, etc.). In 1973 the immigrant workers amounted already to 10 % of the labor force in France and Germany.

The conversion from war to civilian manufacturing, the restoring of the monopolies, and the “economic miracles” of the rich European countries and of Japan, were largely based on the super-exploitation of the immigrant workers.

In the meantime, with their role fulfilled, the “temporary” “guest workers” had become permanent workers, facilitating the inflow of further immigrants and their families [3], contributing to the change of the hosting countries into multi-ethnic ones.

With the beginning of the neo-liberal reaction around 1980, the multinationals, in addition to exporting capitals to other capitalist countries, including the then called “third world”, engaged further and further into globalizing the production, importing from those countries parts of the final products (outsourcing) or specific consumption goods. For that purpose they either created subsidiary companies or took advantage of already existing ones. In this way, instead of having to import cheap labor force, that same labor force was super-exploited in loco. Besides avoiding inter-ethnic tensions, the imperial economies avoided having to pay the whole panoply of social support to the immigrant workers and their families, leaving that at the charge of their respective governments.

Following this, the DCEs changed of political attitude with respect to immigration. It was no longer the unskilled worker, ready to take over for a cheap paycheck the jobs refused by the natives, that was of their top interest. The DCEs began to prioritize the immigration of workers with high qualifications. The collapse of the European socialist countries turned out to partially satisfy that demand, opening doors to a new and voluminous migrating inflow, given that the transition to capitalism in those countries brought large difficulties and misery to workers of all levels of education.

As a result, the increase of immigrant (foreign born) population continues until this day, though with some fluctuations, in the European DCEs, as show the graphs below for Germany [4] and for “EU+Shengen” [3], that is, the 27 EU countries (excluding SVN, EST, LVA, LTU) and countries of the Schengen Area (ISL, LIE, NOR, CHE). Note that the increase of the immigrant population in “EU+Shengen” speeded up after 2000. In the years 1960-1990 the growth rate of the total immigrants was of 400 thousand/year. In the years 2000-2013 was of 1500 thousand/year.




Migrantes entre Alemanha e resto do mundo, 1950-2014. Migrants between Germany and the rest of the World, 1950–2014.
Adaptado de | Adapted from [3].
Notar que os aumentos de imigração coincidem com inícios de crescimento económico nos anos 1963, 1968, 1976, 1983, 1987, 2010. Note that immigration increases coincide with onsets of economic growth in the years 1963, 1968, 1976, 1983, 1987, 2010.


Total de imigrantes em “UE+Shengen”. A fracção de imigrantes é o total de imigrantes dividido pelo total da população. Total number of immigrants in “EU+Shengen”. The share of immigrants is their total number divided by the total population.
Adapatado de | Adapted from [2].
Fonte de Dados | Data source: United Nations (2009) for 1960 to 1980, and United Nations (2013) for 1990 to 2013.

Segundo dados da ONU [5] de 1990 para 2015 a população de imigrantes (nascida no estrangeiro) cresceu na Europa, nos EUA (de 23 para 47 milhões, com desaceleração desde 2010), no Canadá (de 4 para 8 milhões) e na Austrália (de 4 para 7 milhões). No Japão aumentou de 1 para 2,1 milhões em 2010, diminuindo para 2 milhões em 2015. Usando dados da ONU e do Eurostat, construímos a tabela abaixo com as percentagens de população nascida no estrangeiro face à população total de vários ECDs em 2015.
According to UN data [5], from 1990 to 2015 the immigrant (foreign born) population grew in Europe, in USA (from 23 to 47 millions, but with a slowing down since 2010), in Canada (from 4 to 8 millions) and in Australia (from 4 to 7 millions). It increased in Japan from 1 to 2.1 millions in 2010, decreasing then to 2 millions in 2015. Using UN and Eurostat data we built the table below with the percentages of foreign born population relative to the total population in several DCEs in 2015.

 Note: we use in all tables a comma replacing the decimal point.

Percentagem de população nascida no estrangeiro em 2015. Percentage of foreign born population in 2015.
CHE
SWE
BEL
NOR
DEU
GBR
NLD
FRA
ITA
USA
CAN
AUS
JPN
27,9
17,0
16,3
14,9
13,3
13,3
12,1
11,8
9,7
14,6
22,3
29,2
1,6


3. Níveis de educação dos imigrantes na UE

A tabela abaixo mostra a percentagem de imigrantes por região de origem existentes em 15 países europeus (14 da UE – AUT, BEL, DEU, DNK, ESP, FIN, FRA, GRE, IRL, ITA, NLD, PRT, SWE, GBR -- e NOR) em 2007-2009. Mostra também as percentagens em dois escalões de educação definidos segundo a ISCED (International Standard Classification of Educations): secundário inferior, correspondente aos níveis 0 a 2 da ISCED; terciário e pós-graduação, correspondente aos níveis 5 e 6 da ISCED [6].

Vemos que os maiores contingentes de imigrantes de fora da UE14+NOR, são os da «Outra Europa» e do «Norte de África e Médio Oriente». Ora, são precisamente estes os que têm maior percentagem em baixos níveis de educação, 49% e 51%. Bastante maior que a dos nativos, que é de 32,7%. Os que têm maior nível de educação, de fora da UE14+NOR, são da «América do Norte e Oceânia» (fundamentalmente, Austrália e Nova Zelândia): 49,6% destes imigrantes têm educação no escalão alto, uma percentagem superior à dos nativos, que é de 25,8%. Mas os imigrantes desta origem constituem apenas 2,8% do total de imigrantes.
3. Education levels of the immigrants in EU

The table below shows the percentage of immigrants per region of origin in 15 European countries (14 of EU – AUT, BEL, DEU, DNK, ESP, FIN, FRA, GRE, IRL, ITA, NLD, PRT, SWE, GBR -- and NOR) in 2007-2009. It also shows percentages in two education ranks defined in accordance to the ISCED (International Standard Classification of Educations): low secondary, corresponding to levels 0 to 2 of ISCED; tertiary and post-graduation, corresponding to levels 5 and 6 of ISCED [6].

We observe that the larger grups of immigrants from outside EU14+NOR, are those of “Other Europe” and of “North of Africa and Middle East”. These are precisely the groups with higher percentages in low levels of education: 49% and 51%. Higher than that of the natives, which is 32.7%. Those with the higher level of education, from outside UE14+NOR, are from “North America and Oceania” (essentially, Australia and New Zealand): 49.6% of these immigrants have a high ranking education, a percentage outperforming the one of the natives, which is 25.8%. But the immigrants of that origin only constitute 2.8% of the total number of immigrants


Imigração e Educação na UE14+NOR. Immigration and education in EU14+NOR.

EU14
+
NOR
NMS12
(*)
Outra Europa
Other Europe
N. África e M. Oriente
N. Africa + M. East
Outra África
Other Africa
S. e E. Ásia
S. and E. Asia
N. América e Oceânia
N. America + Oceania
América Latina
Latin America
% do total de imigrantes
% of total immigrants
20,6
10,6
18,9
15,4
8,3
11,3
2,8
12,0
Escalão de educação | Education Rank
Baixo | Low
35,1
23,4
49,0
51,0
39,0
40,0
14.1
37,2
Alto   | High
29,4
21,0
14,7
20,5
27,8
26,3
49,6
22,8
(*) NMS12 = New Member States 12: Bulgaria, Czech Republic, Estonia, Cyprus, Latvia, Lithuania, Hungary, Malta, Poland, Romania, Slovenia, Slovakia.


4. Super-exploração

Definimos super-exploração de um grupo específico de trabalhadores um constrangimento sistémico a venderem a sua força de trabalho por um preço mais baixo do que a média da maioria dos trabalhadores para um dado tipo de trabalho, numa dado país e período de tempo.

Só nos ocuparemos aqui da super-exploração do trabalhador imigrante legal e “livre”, embora haja outros sujeitos de super-exploração: minorias étnicas, imigrantes ilegais, refugiados. Existe abundante evidência de que a super-exploração de imigrantes ilegais e refugiados na UE e EUA é ainda mais dura do que a dos imigrantes legais. A super-exploração no CME tem chegado com frequência ao extremo da moderna escravatura.

Para além da baixa salarial, a super-exploração do trabalhador imigrante face ao “trabalhador nativo” [7] é revelada por outros factores: menor probabilidade de arranjar emprego e outros aspectos discriminatórios que dão forma ao constrangimento sistémico; piores condições de vida que espelham e reproduzem a super-exploração.

4.1 Baixa salarial

Todos os estudos que encontrámos analisando a diferença salarial entre trabalhadores imigrantes face aos nativos de vários países, reportam uma baixa salarial dos primeiros face aos segundos em igualdade de circunstâncias quanto ao domínio da língua, às habilitações, e à experiência de trabalho.

Mesmo ao fim de muitos anos de trabalho não se verifica uma convergência salarial, incluindo no topo educacional. A situação é pior no caso das mulheres do que nos homens; isto é, a diferença salarial face aos nativos é maior para as mulheres imigrantes do que para os homens. A super-exploração das mulheres é mais dura.

A discriminação salarial (e outras), existe mesmo quando os imigrantes estão naturalizados.

Os vários autores, não tendo encontrado nenhuma variável explicativa da diferença salarial, são peremptórios em afirmar que só resta uma explicação: a «discriminação» (alguns, acrescentam rácica ou étnica).

Mas «discriminação», só por si, explica pouco. Algures, a discriminação é um meio para tingir um fim tangível. O fim, neste caso, não foi fazer troça dos imigrantes, chamar-lhes «atrasados» ou «burros», embora isso tivesse sido feito. Também não foi dar-lhes maiores salários! Não. O «algures» é, neste caso, a liderança da classe capitalista; e o fim tangível foi baixar-lhes os salários e outras malfeitorias. Isto é, o fim é a super-exploração. Quanto às várias atitudes de discriminação que a liderança capitalista cultivou na vox populi foram um meio para «justificar» a super-exploração.

É importante assinalar que a liderança da classe capitalista atingiu os seus fins com o apoio ou o silêncio de lideranças sindicais; por vezes, de todas, como aconteceu em muitos ECDs europeus na época áurea do CME. Grande parte da classe trabalhadora nativa foi condicionada a sentir-se como uma aristocracia face aos trabalhadores imigrantes.

Uma breve revisão dos estudos sobre discriminação salarial é apresentada abaixo em Apêndice. Infelizmente não encontrámos estudos incidindo em dados anteriores a 1984.

4.2 Desemprego

Os imigrantes são os primeiros a ser despedidos, conforme reconhecido em vários estudos (ver os em Apêndice). Em igualdade de circunstâncias, as taxas de desemprego dos imigrantes são sempre superiores às dos nativos, conforme vemos na tabela abaixo para 2012 do estudo [3]. Este e outros estudos determinaram uma probabilidade de arranjar emprego mais elevada para os nativos do que para os imigrantes. Este diferencial é persistente e não dependeu da crise de 2008. Assim, na Holanda, a taxa de desemprego dos marroquinos é agora de 19,6 %, comparada com 5,7% dos nativos; antes da crise, os respectivos números eram de 5,8% e 2,8% [8].
4. Super-exploitation

We define super-exploitation of a specific group of workers the systemic constraint to sell their labor power at a lower price than the average of the majority of workers, for a certain type of work, in a given country and a given period of time.

We only occupy ourselves here with the super-exploitation of the “free” legal immigrant worker, though there are other subjects of super-exploitation: ethnic minorities, illegal immigrants, refugees. There is abundant evidence that the super-exploitation of illegal immigrants and refugees in EU and USA is even harsher than the one of the legal immigrants. The super-exploitation in the SMC has frequently risen to the extreme of the modern slavery.

Besides the lower wages, the super-exploitation of immigrant workers vis-à-vis “native workers” [7] is revealed by other factors: a lower probability of getting an employment and other discriminating aspects which shape up the systemic constraint; the worse living conditions mirroring and reproducing the super-exploitation.

4.1 Lower wages

All studies we have found analyzing the wage gap of immigrant workers relative to native workers, in several countries, report lower wages of the former with respect to the latter in equal circumstances as to language proficiency, endowments, and experience of work.

A wage convergence is not observed, not even after many years of work and in the top of the education ladder. The situation is worse in the case of the women than of the men; that is, the wage gap with respect to the natives is larger for the immigrant women than for the men. The super-exploitation of the women is harsher.

The wage discrimination (and others), is observed even when the immigrants have citizenship.

The various authors, having found no explanatory variable for the wage gap, are adamant in asserting that only an explanation remains: “discrimination” (some add of race or ethnic).

But “discrimination”, by itself, alone, is of little use as explanation. Somewhere, discrimination is a means to a tangible end. The end, in this case, is not belittling the immigrants, call them “backward” or “morons”, although that has been made. It is also not giving them higher wages! No. The “somewhere” is, in this case, the leadership of the capitalist class; and the tangible end was lowering their salaries and the other harmful doings. That is, the end effect is super-exploitation. As regards the various discriminating attitudes that the capitalist leadership cultivated in the vox populi, they were a means to “justify” the super-exploitation.

It is important to notice that the leadership of the capitalist class reached its ends with the support or silence of trade-union leaderships; sometimes, with them all, as it did happen in many European DCEs in the golden age of the SMC. A large part of the native working class was conditioned to feel itself as an aristocracy vis-à-vis the immigrant workers.

A brief survey of studies on wage discrimination is presented in Appendix below. Unfortunately we could not find studies focusing periods of time preceding 1984.

4.2 Unemployment

Immigrants are the first ones to be fired, as is recognized in several studies (see those cited in Appendix). In equal circumstances, the unemployment rates of the immigrants are always larger than those of the natives, as we see in the table below for 2012 of the work [3]. This work and other ones have found a higher probability for the natives to get an employment than the immigrants. This probability gap is persistent and did not depend on the crisis of 2008. For instance, in the Netherlands, the unemployment rate of the Moroccans is now 19.6 %, instead of the 5.7% of the natives; the respective figures before the crisis were 5.8% and 2.8% [8].

Taxa de desemprego  (%) em 2012. Unemployment rate (%) in 2012 [2].

FRA
DEU
ITA
ESP
SWE
GBR
Nativos | Natives
9,1
5,0
10,4
23,0
6,5
7,8
Imigrantes | Immigrants
15,8
8,7
13,9
34.7
16,1
9,3


4.3 Condições de vida

Muitos imigrantes vivem em enclaves habitacionais e em muito piores condições de vida que os nativos. Os filhos dos emigrantes, particularmente dos de fora da UE, representam na UE uma maior e crescente fracção da população não adulta do que os seus pais representam na população adulta. Mas, devido à discriminação (salarial, etc.) os filhos dos emigrantes com mais elevada probabilidade vivem em agregados familiares desfavorecidos na cauda da distribuição de rendimento.

No período de 2007-2009, em cerca de 3% dos agregados familiares da “UE14 + NOR” (ver acima), pelo menos um progenitor tinha um rendimento nos primeiros 10% da distribuição de rendimento. Em tais agregados viviam quase 20% de descendentes com menos de 15 anos e raízes fora da UE; para os descendentes com raízes na UE o valor era 3,6%. O estudo [6] sobre os imigrantes de fora da UE afirma: «Estes números são bastante dramáticos e sugerem que o desfavorecimento e a pobreza afectam um segmento importante dos filhos dos imigrantes». De facto, as piores condições de vida e de escolaridade dos imigrantes não-UE resultam numa reprodução da discriminação; logo, da super-exploração.

4.4 Outros aspectos

O trabalho [3] cita resultados de outros estudos que mostram existir em 15 países europeus segregação dos imigrantes em determinadas ocupações que requerem menores habilitações. Essa segregação é mais substancial em imigrantes de fora da UE e nos primeiros anos. Um estudo revela que embora imigrantes do leste europeu ou da América Latina melhorem a sua situação, nenhuma melhoria é observada nos africanos.

Vários estudos também reportam a existência de outros tipos de discriminação étnica. Um estudo na Suécia reporta que basta ter um nome que não soe a sueco para não ter sucesso na aplicação para emprego; esse sucesso aumenta com a mudança de nome. Outros estudos reportam a existência de discriminação relativamente a nomes que soam a turco ou a marroquino, inclusive para obter uma casa. Percentagens significativas de imigrantes dizem-se discriminados: 21% em França e Espanha, 17% no Reino Unido, 16% na Alemanha e 14% na Suécia.

5. Tendências recentes

O grande capital dos ECDs europeus há muito que deixou de estar interessado na imigração de baixa qualificação como nas primeiras décadas do pós 2.ª GM. Na última década, os ECDs europeus ao mesmo tempo que colocam entraves legislativos à imigração em geral – p. ex., com o objectivo de reunir famílias -- implementam políticas de recrutamento de imigrantes de altas qualificações, com habilitações específicas de interesse ao grande capital, e de recrutamento de empresários. Encorajam também a permanência de estudantes estrangeiros depois da graduação. Em Dezembro de 2011 a UE adoptou o esquema «Blue Card» que pretende competir com EUA, Canadá e Austrália na captação de talentos.

Os grandes contingentes de turcos, marroquinos e argelinos são cada vez mais vistos pelo grande capital europeu – logo, pelos partidos de direita e extrema-direita que os representam – como um «trambolho» que só serve para «chupar» benefícios sociais para as suas numerosas famílias, e ter de manter estruturas estatais mais complexas e mais onerosas (educação para imigrantes, serviços sociais ligados a congéneres dos países de origem e a par de variações jurídicas, apoios específicos de saúde, etc.). Tudo isso sem qualquer vantagem para o capital. Dentro desta lógica, a discriminação «justificativa» da super-exploração irá aumentar. Com isso, as tensões sociais. E como se trata de muçulmanos e quase sempre segregados em gettos, as tensões sociais irão revestir dos dois lados a indumentária de «confronto de religiões/culturas» e não de luta de classes.

Seria preciso a unidade das centrais sindicais europeias com a luta destes trabalhadores. Pelo que conhecemos, parece haver ainda um longo caminho a trilhar neste sentido.

O grande crescimento da extrema-direita dita «populista» na UE tem precisamente a ver com a solução do «trambolho». A solução que advogam é descartá-lo: expulsar os imigrantes que o grande capital entende ser de expulsar. O governo checo já deu a trabalhadores despedidos 500 euros e um bilhete de volta para casa [9]. No sistema capitalista um trabalhador é uma máquina de produzir lucro. Se a classe capitalista não o(a) puder utilizar para produzir lucro, o trabalhador(a) torna-se descartável. E se puder prescindir de lhe prestar e pagar toda a panóplia de apoios sociais, a ele(a) e aos familiares, tanto melhor.

Apêndice. Diferencial salarial dos imigrantes

Alemanha
Um trabalho cuidado de 2016 é o de um investigador do FMI [4] que se baseia numa larga base de dados de 224.000 observações no período de 1984 a 2013. As habilitações dos trabalhadores estão estandardizadas usando escalões do International Standard Classification of Education. A análise a que procedeu o autor revelou que os imigrantes ganhavam à chegada menos 20 % do que os nativos de características semelhantes (-15,3% em 2013, com -17,9% mulheres e -13,3% homens). Inicialmente a diferença diminui 1% ao ano mas depois a diminuição torna-se menor e os salários nunca convergem. Se os imigrantes não dominam a língua e não têm habilitações, a diferença salarial pode ultrapassar 30%. Mesmo os imigrantes com boas habilitações podem ter diferenças salariais grandes e persistentes.

O autor também analisou o progresso dos salários dos imigrantes para os dos nativos. Verificou, conforme a figura abaixo, a não existência de convergência. Ao fim de 30 anos de trabalho o salário médio dos imigrantes ainda está cerca de 4% abaixo do dos nativos em igualdade de circunstâncias.

Um outro estudo [10], de 2014, evidencia que os imigrantes são «substancialmente segregados» para empresas que pagam pior, ocupam os níveis hierárquicos mais baixos, e são discriminados nas suas carreiras.
4.3 Living conditions

Many immigrants live in residential enclaves and in far worse living conditions than the natives. The children of the immigrants, particularly from those of outside EU, represent in the EU a larger and growing share of the non-adult population, than their fathers represent in the adult population. Meanwhile, due to discrimination (wages, etc.) the children of the immigrants have a higher probability of living in disadvantaged households, in the bottom of income distribution.

In the years from 2007 through 2009, about 3% of the households of “EU14 + NOR” (see above), had at least one parent with an income falling in the bottom 10% of the income distribution. Almost 20% of the children below the age of 15 with non-EU background lived in such households, whereas for children with EU-immigrant background the figure was 3.6%. On the non-EU immigrants the work [6] states: “These numbers are quite dramatic, and suggest that disadvantage and poverty affects a substantial fraction of immigrant children.”
In fact, the worse living conditions and schooling of the non-EU immigrant children lead to a reproduction of discrimination; therefore, of the super-exploitation.

4.4 Other aspects

The work [3] cites results from other studies showing the existence in 15 European countries of immigrant labor segregation in certain occupations requiring lesser endowments. This segregation is heavier in non-EU immigrants and in the first years. One study shows that although immigrants of East Europe or Latin America improve their situation, no improvement is observed in the immigrants from Africa.

Several studies also report the existence of other types of ethnic discrimination. A study about Sweden found out that if a name does not sound Swedish that is enough for having no success on an application for a job; but that success increases with a change of name. Other studies report the existence of discrimination with respect to names that sound Turkish or Moroccan, even for getting a house. Significant percentages of immigrants say they feel discriminated: 21% in France and Spain, 17% in the UK, 16% in Germany and 14% in Sweden.

5. Recent trends

The big capital of the European DCEs has since long lost interest in the low-skilled immigration, as in the first decades after WWII. In the last decade, the European DCEs enforce legislative barriers to the immigration in general – as the one whose objective is to reunite families --, and implement at the same time recruitment policies of high qualified immigrants, with specific skills that are of interest to the big capital, and also recruitment of entrepreneurs. They also encourage the stay of foreign students after their graduation. The EU adopted in December 2011 the “Blue Card” scheme, which intends to compete with USA, Canada, and Australia in attracting talent.

The large groups of Turks, Moroccans and Algerians, are more and more seen by the big European capital – consequently, by the right and far-right parties representing them – as a “nuisance”, whose only purpose is to “suck out” social benefits for their large families, and of having to support more complex and expensive state structures (education for immigrants, social services linked to counterparts in the countries of origin and on the grasp of juridical changes, specific supports for health care, etc.). All this without any advantage to capital. Within this logic, the discrimination “justifying” the super-exploitation will increase. And the social tensions too. And since they are Muslims, and almost always segregated in ghettos, the social tensions will be attired in both sides with the garments of “religious/cultural confrontation”; not of class struggle.

The unity of the European trade-unions with the struggle of these workers would be needed. As far as we know, there is still a long path to be covered in that direction.

The large growth of the EU far-right, known as “populist”, is precisely connected to the solution of the “nuisance”. The solution they advocate is to discard it: expel the immigrants that the big capital considers should be expelled. The Czech government has given workers who have been laid off €500 and a ticket home. [9]. In the capitalist system a worker is a profit-producing machine. If the capitalist class cannot make use of him/her to produce profit, the worker becomes disposable. And if it can do without making available and pay the whole panoply of social  support, to him/her and relatives, that is even better.

Appendix. Imiggrant wage-gap

Germany
A careful study of 2016 comes from an IMF researcher [4], based on a large dataset of 224.000 observations in the years from 1984 through 2013. The endowments of workers are standardized using the levels of the International Standard Classification of Education. The analysis carried through by the author revealed that the immigrants earned on their arrival less 20 % than the natives of similar endowments (-15.3% in 2013, with -17.9% for the women and -13.3% for the men). Initially, the gap decreases 1% per year, but afterwards the decrease slows down and the wages never converge. If the immigrants are not proficient in the language and have no endowments, the wage gap may become larger than 30%. Even the immigrants with good endowments may suffer from big and persistent wage gaps.

The author also analyzed the progress of the immigrant wages relative to those of the natives. He verified, as shown in the graph below, that no convergence existed. After 30 years of work the average wage of the immigrants was still about 4% below that of the natives in equal circumstances.

Another study [10], of 2014, brings evidence that immigrants are “substantially segregated” to worse paying enterprises, and occupy lower hierarchical levels, being discriminated in their careers.


Diferença salarial média dos imigrantes na Alemanha (%) ao longo do tempo. Wage-gap (%) of immigrants in Germany along time.

Holanda
O estudo [11] de 2015 revela que a diferença salarial de nativos vs. imigrantes em condições semelhantes varia desde um pequeno valor negativo para imigrantes «ocidentais» até 17% para imigrantes homens «não-ocidentais». Outro estudo [12], de 2016, encontra um salário médio dos imigrantes «não-ocidentais» 12,5% menor que o dos nativos em condições semelhantes.

Os autores do estudo [13] analisaram especificamente os salários de trabalhadores com estudos superiores no período 2001-2010. Entre outras conclusões, destacamos:
«… a diferença salarial entre imigrantes de 1.ª geração e nativos é de -3 por cento»;
«… nos imigrantes de 2.ª geração… quando os pais não são de países da OCDE, os salários são inferiores em aprox. 2 por cento. Isto mostra que nem a aquisição pelos pais de conhecimentos específicos do mercado laboral holandês devido à longa duração de residência, nem a aquisição pelos graduados de capital humano específico em holandês, podem ultrapassar diferenças do mercado laboral»;
«Este estudo mostra que o factor mais importante da diferença laboral entre imigrantes e nativos não está de facto fortemente ligado às habilitações de capital humano, mas provavelmente mais ao efeito de ser “outro”».

Note-se que é habitual depararmos em estudos sobre mercado laboral com a menção de «capital humano» para designar habilitações dos trabalhadores. No mundo do capital é tudo, sufocantemente, «capital». As criancinhas começam a aprender desde pequeninas não para se tornarem seres humanos livres de traçar o seu destino, mas apenas para poderem servir a máquina do capital como mais uma roda de «capital humano».

Áustria
Um estudo [14] menciona a discriminação «tradicional» dos imigrantes na Áustria, referindo em 2010 um salário médio dos imigrantes face ao dos nativos de menos 37,5% no sector primário e de menos 18,2% no sector terciário.

França
Em 2011 o salário mediano dos imigrantes era 10 % mais baixo do que o dos nativos [3].

Suécia
Em 2011 o salário mediano dos imigrantes era 7 % mais baixo do que o dos nativos [3].

Bélgica, Alemanha, Finlândia, França, Itália
Um estudo [5] considerou os dados para estes 5 países em 2009, analisando as distribuições salariais de nativos, imigrantes da UE e imigrantes de fora da UE. Essas distribuições mostram que os imigrantes de fora da UE ocupavam predominantemente os menores escalões salariais. Além disso, a informação disponível na base de dados usada pelos autores, permitiu concluir que a diferença salarial entre imigrantes de fora da UE e nativos não é explicável por diferenças de educação. Os autores analisam em detalhe as distribuições salariais e afirmam em conclusão: «Em todos os países os imigrantes parecem estar economicamente desfavorecidos, mesmo quando os comparamos com os nativos com as mesmas características. O desfavorecimento é mais pronunciado nos imigrantes de fora da UE».

EUA
Vários estudos que encontrámos sobre salários de imigrantes nos EUA, mesmo de autores consagrados, devotam atenção não ao diferencial face aos trabalhadores nativos e suas causas, mas sim sobre se os imigrantes «deprimem» o salário dos trabalhadores nativos (um exemplo é [15]), uma tese cara aos populistas anti-imigrantes. Ora, não é necessário nenhum estudo para responder que obviamente deprimem. Qualquer aumento da oferta de trabalho tenderá a diminuir os salários. Seja a oferta de imigrantes ou não. Se num dado momento todo o exército dos EUA fosse desmobilizado também os salários desceriam, ceteris paribus.

Um estudo [16] refere que “os ganhos durante uma vida dos imigrantes são 57% dos ganhos de nativos em situação comprável”. Um outro estudo, da Segurança Social [17], sobre os trabalhadores que imigraram para os EUA de 1985 a 1990 revelou que os asiáticos e hispânicos recebiam cerca de metade dos nativos. Além disso, os seus salários crescem lentamente de forma não comparável aos nativos.

Portugal
Portugal não é um país ECD. Além disso, é mais um país de emigração do que de imigração, tendo esta só assumido um papel significativo a partir de 1990, com os imigrantes do leste europeu. Um estudo sobre a diferença salarial dos imigrantes face aos nativos no período 2002-2008 [18] revelou que esse diferencial atinge -13,9%. Os piores remunerados são os chineses (-398 € mensais) e os do leste europeu (-244 € mensais). O estudo também revelou que a diferença salarial não está associada à diferença de habilitações e que o retorno devido à educação é menor para os imigrantes do que para os nativos, tornando-se menor à medida que sobe o nível educacional.
Vemos, portanto, que a diferença salarial dos imigrantes e suas características não são exclusivas dos ECDs. São um fenómeno intrínseco do CME.
Netherlands
The study [11] of 2015 reveals that the wage gap from the natives vs. immigrants in similar conditions varies from a small negative value for “western” immigrants up to 17% for “non-western” male immigrants. Another study [12], of 2016, finds an average wage of “non-western” immigrants 12.5% smaller than that of natives in similar conditions.

The authors of the study [13] have specifically analyzed the wages of workers with graduations of higher education in the period 2001-2010. Among other conclusions, we retain:
“… the wage gap between first-generation migrants and natives is -3 per cent.”
“… for the second-generation immigrants… when both parents are from outside the OECD, their wages are lower by approx. 2 per cent. This indicates that neither the parents’ acquisition of Dutch- specific labor market knowledge due to long duration of residence, nor the graduates’ acquisition of Dutch-specific human capital are able to overcome labor market wage differences.”
This study demonstrates also that the most important factor in the wage gap between immigrants and natives is in fact not strongly related to their human capital endowment, but probably more to the effect of being ‘otherness’”.

Let us remark that the expression “human capital” is usually found in studies on labor market to designate the endowments of workers. In the world of capital everything is, suffocantingly, “capital”. The little children start learning since tender age not to become human beings that are free to trace their destinies, but merely to serve the machine of capital-production as one more wheel of “human capital”.

Austria
One study [14] mentions the “traditional” discrimination of immigrants in Austria, stating that in 2010 the average wage of immigrants with respect to natives was of less 37.5% in the primary sector and of less 18.2% in the tertiary sector.

France
In 2011 the median wage of immigrants was 10 % lower than the median wage of natives [3].

Switzerland
In 2011 the median wage of immigrants was 7 % lower than the median wage of natives [3].

Belgium, Germany, Finland, France, Italy
The study [6] considered the data of these 5 countries in 2009, analyzing the wage distributions of the natives, of the immigrants from the EU, and of the immigrants from non-EU origin. These distributions show that the immigrants of non-EU origin occupied predominantly the bottom wage levels. Moreover, the information available in the database used by the authors, allowed them to conclude that the wage gap between immigrants from non-EU origin and natives is not explainable by differences in education. The authors analyze in detail the wage distributions and conclude this way: “Across all countries, it seems that immigrants are economically disadvantaged, even if we compare them to natives with the same characteristics. This disadvantage is more pronounced for immigrants from non-EU countries.”

USA
Several studies we found on immigrant wages in USA, even from celebrated authors, devote their attention not to the wage gap with respect to native workers and its causes, but instead to whether or not immigrants “depress” the wages of native workers (an example of such is [15]), a topic dear to the anti-immigrant populists. Now, in truth, there is no need of any study to answer affirmatively that they obviously depress. Any increase of labor offer will tend to depress wages. Be it if immigrants or not. If at a given moment the whole army of USA would be demobilized the wages would also be depressed, ceteris paribus.

One study [16] mentions that the “lifetime earnings of immigrants are 57% less than those of comparable natives”. Another study, from the Social Security [17] on the workers that immigrated to US from 1985 to 1990 revealed that Asians and Hispanics received about half of the natives. Moreover, their salaries grow slowly in no way comparable to the natives.

Portugal
Portugal is not a DCE. Moreover, is more a country of emigration than of immigration. The latter only assumed a significant role after 1990, with the immigrants of the European East. A study of the wage gap of immigrants vis-à-vis the natives in the years 2002-2008 [18] revealed that the gap reaches down to -13.9%. The worst paid are the Chinese (-398 € per month) and of the European East (-244 € per month). The study also showed that the wage gap is not associated to a difference of endowments, and that the return due to education is smaller for the immigrants than for the natives, becoming smaller as the educational level rises.
We thus see that the wage gap of immigrants and its features are not confined to the DCEs. They are a phenomenon intrinsic to the SMC.


Notas e Referências | Notes and References

[1] Os capitais monetários e outros activos, como ouro e jóias, não foram destruídos com a guerra. Mesmo os capitais dos grandes capitalistas dos países vencidos aumentaram devido às extensas rapinas. É assim que vemos os Siemens, Thissen, Krupp, etc., regressarem em força na reconstrução capitalista da RFA.
Capitals in cash and other assets, such as gold and jewels, were not destroyed during the war. Even the capitals of the big capitalists of the defeated countries have increased due to extensive plunder. We thus see the Siemens, Thissen, Krupp, etc., returning in a strong position to the capitalist reconstruction of FRG.
[2] Malissa B. Eaddy, An Analysis of Japan’s Immigration Policy on Migrant Workers and Their Families, Seton Hall University, Spring 2016.
[3] Sara de la Rica, Albrecht Glitz, Francesc Ortega, Immigration in Europe: Trends, Policies and Empirical Evidence, Forschungsinstitut zur Zukunft der Arbeit IZA DP No. 7778, November 2013.
[4] Robert C. M. Beyer, The Labor Market Performance of Immigrants in Germany, International Monetary Fund, European Division, WP/16/6, 2016.
[7] A designação «trabalhador nativo» é perfeitamente entendível no caso da Europa e do Japão. No caso da América, Austrália e Nova Zelândia trata-se não da população nativa mas sim da população branca, maioritária, descendente dos colonizadores.
The term “native worker” is perfectly understood in the cases of Europe and Japan. In the cases of America, Australia and New Zealand we mean not the native population, but instead the white majority population descendent from the colonists.
[9] Jane Hardy, Migration, migrant workers and capitalism, International Socialist Journal, Issue 122, 31st March 2009, http://isj.org.uk/migration-migrant-workers-and-capitalism/
[10] Mario Bossler, Sorting Within and Across Establishments: The Immigrant-Native Wage Differential in Germany, research institute of the German Federal Employment Agency, Oct 2014.
[11] Tom Varkevisser, An Oaxaca-Blinder decomposition of the native-immigrant wage gap in the Netherlands, Master Thesis MSc Economics, VU University Amsterdam 2014-2015.
[12] Rosalie de Ruiter, Disadvantages of non-Western immigrants within the Dutch labour market. How much of the employment- and wage differential between natives and immigrants is due to differences in observable characteristics and how much remains unexplained? Erasmus University Rotterdam, 2016.
[13] Masood Gheasi, Peter Nijkamp, Piet Rietveld, Wage Gaps between Native and Migrant Graduates of Higher Education Institutions in the Netherlands, Forschungsinstitut zur Zukunft der Arbeit  IZA DP No. 9353, September 2015.
[14] Gudrun Biffl, Lea Rennert, Petra Aigner, Migrant Workers in Austria and Europe. Challenges for Industrial Relations, in particular Trade Unions, Monograph Series Migration and Globalization, October 2011, Danube University Krems.
[15] G Peri, Do immigrant workers depress the wages of native workers? https://wol.iza.org/.../do-immigrant-workers-depress-the-wages-of...
[16] Carnegie Mellon University, Research Showcase of The Immigrant-Native Wage Gap in the United States.

[18] Sónia Cabral, Cláudia Duarte, The Wage Gap Of Immigrants In The Portuguese Labour Market, Economics and Research Department, Banco de Portugal, 2012.