quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De novo «Charlie Hébdo»

    Já depois de termos publicado em 12 de Janeiro p.p. a nossa apreciação sobre os recentes eventos de Charlie Hébdo (Charlie Hébdo e a hipocrisia «ocidental», http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2015/01/charlie-hebdo-e-hipocrisia-ocidental_12.html ) tivemos conhecimento de um artigo publicado no blog do historiador norte-americano William Blum, a 20 de Janeiro p.p., onde o mesmo tema é abordado (The Anti-Empire Report #136, Murdering journalists… them and us, http://williamblum.org/aer/read/136 ).
   
    A apreciação deste historiador norte-americano converge com a nossa. Menciona, designadamente, a matança de jornalistas não caros ao Império, razão porque não motivou nos media «ocidentais» a comoção do Charlie Hébdo; como a dos muitos mortos e feridos aquando do bombardeamento das instalações da TV Sérvia em Belgrado em 1999 (78 dias de bombardeamento!).
   
    Mas há mais uma peça de informação no artigo de William Blum que importa assinalar e que vem ao encontro do nosso diagnóstico de uma «Europa ideologicamente confusa». Refere o historiador que um seu amigo de Paris, conhecedor da revista e com contacto com o respectivo staff, lhe enviou a seguinte apreciação (tradução nossa):

«Sobre política internacional o Charlie Hebdo era neo-conservador. Apoiou todas as intervenções da NATO na Jugoslávia, até hoje. Eram anti-muçulmanos, anti-Hamas (e anti qualquer organização Palestiniana), anti-Rússia, anti-Cuba (com excepção de um cartunista), anti-Hugo Chávez, anti-Irão, anti-Síria, pró-Pussy Riot, pró-Kiev… É necessário continuar?
   
Muito estranhamente a revista era considerada "esquerdista". É-me difícil criticá-los agora porque eles não eram "más pessoas", apenas um bando de cartunistas engraçados, sim, mas intelectuais em rédea solta sem quaisquer objectivos em particular, e que de facto não ligavam peva a qualquer forma de "correcção" – política, religiosa, ou qualquer outra; só queriam ser engraçados e procurar vender uma revista "subversiva" (com a excepção notável do editor precedente, Phillipe Val, que era, penso, um neo-con [neo-conservador] convicto).»


Hamas, Cuba, Rússia, etc., no mesmo saco. Anti-Hugo Chávez, mas pró-Kiev. Anti-Palestina, mas pró-NATO. Uma revista esquerdista com editor neo-conservador. Uma revista subversiva de um país da NATO mas que apoia a NATO. Mas todos eles muito engraçados. E não são "más pessoas". Não ligavam peva a qualquer forma de "correcção"? Mas essa é precisamente a "correcção" politico-ideológica da actual Europa. Que arrastou milhões em Paris. A "correcção" de um niilismo corrosivo, confusionista, vazio e estéril, sem rumo, pronto a todas as traficâncias e dobragens de espinha. No fundo, amante da mensagem poderosa do Império. Um niilismo cultivado com carinho por todos os neo-cons. Pudera!

domingo, 25 de janeiro de 2015

Acerca da recente queda do preço do petróleo

Em finais de Novembro de 2014 o preço do petróleo iniciou uma queda descendente de 75 $ (dólares) por barril de brent crude para 50 $ no início de Janeiro de 2015, fixando-se depois em 47,5 $ (ver gráfico abaixo). Uma queda espectacular de 1/3 do valor inicial em pouco mais de um mês! Porquê?



Fonte: Nasdaq
A explicação simplista
    A explicação simples da causa do fenómeno, aquela que primeiro ocorre à mente, é a da velha lei da oferta e da procura: aumentou muito a oferta de petróleo e diminuiu a procura. É essa explicação que é avançada quer por economistas convencionais quer mesmo por, pelo menos, um economista marxista. Vejamos os termos da explicação.
    No que se refere à procura global de petróleo, esta tem vindo a afrouxar devido ao baixo crescimento da economia a nível mundial, nomeadamente das chamadas economias emergentes; com particular destaque para a China, cuja taxa de crescimento ainda que importante (cerca de 7% do PIB ao ano) tem vindo a decair. Métodos de uso energético eficiente e fontes alternativas de energia, têm dado algum contributo, ainda que muito modesto, para o afrouxamento da procura de petróleo.
    Quanto à oferta, é de assinalar o seu aumento devido à expansão da produção de petróleo e gás nos EUA (e, em menor grau na China e Canadá) pelo método de fracturamento de xistos: o shale fracking (um método muito contestado devido ao nocivo impacto ambiental). Nos EUA – actualmente, o 3.º maior produtor mundial – a produção de crude subiu de forma espectacular nos últimos três anos, passando de 4,5 mbd (mbd = milhões de barris por dia) em 2011 para 7,45 mbd em 2013.
    Portanto, a explicação simples é a do excesso da oferta face à procura, tendo em conta o preço de início de Novembro. Note-se, porém, que nessa altura tal excesso era reduzido. Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia) a oferta mundial andaria pelos 93 mbd e a procura mundial em 92 mbd. Um excesso apenas da ordem de 1%.
    Os países produtores de petróleo a partir de jazidas convencionais teriam um meio simples de corrigir esse excesso forçando a manutenção do preço de início de Novembro: baixar a produção.
Que decidiu, porém, o cartel da OPEC que agrupa vários países que são grandes produtores de petróleo? Decidiu algo, à primeira vista, de muito estranho. Comecemos por atentar que quase todos os países da OPEC «vivem» do petróleo; i.e., para quase todos eles a exportação de petróleo corresponde a grande parte do PIB. Se pagasse as despesas orçamentais do Estado só à custa do petróleo a Arábia Saudita, o 2.º maior produtor mundial, precisaria de vender o petróleo não a 47,5 $/barril mas sim a 95 $/barril; a Venezuela precisaria de vender a 105 $/barril; e o Irão bateria o recorde, precisando de vender a 127 $/barril. Portanto, os países da OPEC estão vitalmente interessados na subida do preço do petróleo; logo, estariam interessados em baixar a produção (excepto o Iraque e a Líbia em fase de reconstrução). Contudo, surpreendentemente, na última reunião da OPEC em Viena em 27 de Novembro de 2014, a Arábia Saudita e o Kuwait pugnaram por que a produção aumentasse, baixando ainda mais os preços, indo contra os desejos de outros países, nomeadamente a Venezuela e o Irão. (Recentemente faleceu o rei Abdullah, mas o seu sucessor, príncipe Salman – um «falcão» que supervisionou a entrega de “donativos” da Arábia Saudita aos jihadistas –, irá continuar a política do pai.)
    A justificação dada pela Arábia Saudita (e seus aliados Kuwait, Qatar e EAU), de deixar o preço baixar é de que assim tornaria não rentáveis os frackers dos EUA, removendo-os do mercado. A reunião da OPEC terminou num empate, com a manutenção dos actuais níveis de produção (30 mbd), o que originou um ainda maior decréscimo do preço do petróleo: numa semana passou de 77 $/barril para 67 $/barril, atingindo os 60 $/barril a meio de Dezembro.
    Ora, a justificação da Arábia Saudita parece não ter grandes pernas para andar. Segundo fontes americanas, embora algumas companhias abandonem certas explorações de fracking, pelo menos temporariamente, o mais certo é muitas outras continuarem com a exploração, reduzindo os respectivos custos. Uma coisa é certa: a Administração de Energia dos EUA prevê um aumento da produção de petróleo dos EUA em 2015 de 0,7 mbd. Portanto, o dumping dos preços da Arábia Saudita para supostamente arrumar com os frackers de um país amigo e aliado, tem pouca credibilidade. Tanto mais que vários grandes firmas financeiras de transacções em derivativos de petróleo (o chamado «papel de petróleo»), designadamente a Nomura Securities, já vieram afirmar que prevêem a subida do preço do barril para 55 $ no final do segundo trimestre de 2015 e o regresso aos 80 $ no final do ano.
    A explicação simples é, portanto, simplista. Demasiado simplista, como vamos ver.

A explicação não simplista
    Comecemos por notar que o baixo preço do petróleo é excelente para estimular a economia de países como os EUA, o Canadá, o Japão e a Alemanha, com sectores produtivos importantes e com crescimento económico débil a negativo (respectivamente, 2,7%, 2,6%, -1,2%, 1,2%). (O impacto para Portugal, com grande parte do sector produtivo em mãos estrangeiras, deverá ser reduzido e poderá até ser negativo, por estimular a actual tendência deflacionária desestimuladora de investimento.)
    Por outro lado, é sabido que a Arábia Saudita, o Kuwait e os EAU são grandes aliados do «Ocidente», dos EUA. É pouco credível a ideia desses países em «guerra de preço do petróleo» com o «Ocidente».
Efectivamente, a explicação da baixa do preço de petróleo nada tem a ver com uma suposta oposição Arábia Saudita vs. EUA. Muito pelo contrário. Ambos estão concertados nesse objectivo. Aquilo que pretendem é atacar precisamente os países cuja economia assenta em larga medida na exportação de petróleo e gás natural. Já mencionámos dois: a Venezuela e o Irão. A Venezuela, em particular, enfrenta neste momento graves dificuldades (desemprego e inflação elevadas) dada a enorme baixa de receitas do sector petrolífero.
    Mas há um outro país cuja economia está a ser alvo de ataque: a Rússia. A Rússia é o 1.º exportador mundial de petróleo e gás natural, que contribuem com mais de 75% das receitas das exportações e metade do activo orçamental do Estado. A queda do preço do petróleo e consequente quebra dos proventos do comércio externo, combinada com as sanções do «Ocidente», tem vindo a afectar as reservas em moeda estrangeira da Rússia para pagamento de créditos (600 biliões de dólares), levando o rublo a desvalorizar-se face ao dólar em cerca de 40% neste último ano. O gráfico no final do presente artigo mostra a evolução do rublo em pouco mais de dois meses, desde Outubro passado até meados de Dezembro. Note-se como, estando o rublo a estabilizar a partir do início de Novembro, e até com tendência para subir devido aos esforços da administração russa, foi precisamente a «machadada» da Arábia Saudita a 27 de Novembro que fez o rublo mergulhar.
    Por conseguinte, a queda do preço do petróleo não é apenas a consequência da oferta e da procura. Para além de estimular a economia de pivots «ocidentais», foi deliberadamente usada como arma económica pelos EUA e seus aliados do Médio Oriente. Com três países atacados: a Venezuela, cuja revolução bolivariana, apesar das suas debilidades, é suficientemente incomodativa dos interesses norte-americanos; a Rússia, travão da progressão do Império, sob os estandartes da NATO, nach Osten; o Irão, aliado do governo sírio, rival xiita das milícias sunitas patrocinadas pela Arábia Saudita, que se opõe à progressão do Império no Médio Oriente. Ao mesmo tempo a Arábia Saudita pune a Rússia e o Irão pelo apoio que prestam ao regime de Damasco.
    Quanto à Rússia, foi o próprio Obama que se referiu ao petróleo numa longa entrevista que concedeu à NPR (grande corporação da rádio do EUA) em 29/12/2014: «E se, efectivamente, formos firmes na aplicação da pressão das sanções -- o que temos sido --, isso em devido tempo tornará suficientemente vulnerável a economia da Rússia, de tal forma que quando houver ruptura séria do preço do petróleo – que, inevitavelmente virá a ocorrer, se não for este ano, será no próximo ano ou no seguinte – «eles» terão enorme dificuldade em gerir isso» (tradução e ênfases nossos).
    Em suma, o petróleo está a ser usado pelo Império como arma de sabotagem económica. Uma arte em que a administração norte-americana e a CIA dispõem de larguíssima experiência. Basta recordar a sabotagem económica do Chile de Allende em 1973, feita pelos EUA com o dumping do preço do cobre.
    Como nota final, assinale-se que a sabotagem económica em 2014-2015 não se move nos mesmos trilhos que a sabotagem económica em 1973, quando o mercado global de derivativos estava na sua infância. Actualmente o preço do petróleo é formado no mercado de futuros sobre o petróleo (ver nossos artigos anteriores sobre derivados, também chamados derivativos) a cargo de grandes empresas financeiras, como a já citada Nomura Securities, a Goldman Sachs, o JP Morgan e o Citigroup. Futuros alavancados em crédito, em capital fictício. Ora, o dumping do preço do petróleo acarreta, como consequência, a dificuldade de pagamento de obrigações das empresas do sector da energia, repercutindo-se na alavancagem dos contratos de futuros. A Barclays e a Wells Fargo têm já perdas de 850 milhões de dólares de duas corporações norte-americanas do petróleo: a Sabine e a Forest. O jogo brutal com o preço do petróleo ameaça com novos desequilíbrios o sector financeiro. Algumas fontes neoliberais mostram-se mesmo preocupadas com a possibilidade de uma nova crise como a de 2008 ser despoletada por enormes perdas do sector financeiro neste jogo (vide artigo do Financial Times de 16/12/2014). Mas, claro, os 0,1% do topo confiam em que passarão incólumes as perdas; os seus Estados obrigarão, como sempre, os trabalhadores a pagá-las.


Gráfico adaptado da Bloomberg.
Referências:
Oil price drop is ‘economic warfare against US enemies, RT, 21/1/2015. Entrevista com jornalista especializado em finanças Willem Middelkoop.
OPEC split into two camps, RT, 16/1/ 2015. Entrevista com especialista no comércio de petróleo Rami Eljundi.
Pepe Escobar, What game is the House of Saud playing? RT, 16/1/2015.
Brad Plumer, Why oil prices keep falling — and throwing the world into turmoil, VOX 6/1/2015: http://www.vox.com/2014/12/16/7401705/oil-prices-falling.

Oil, the rouble and the spectre of deflation, Michael Roberts blog, 8/12/2014.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Recortes de Dezembro

5/12
«Hospital de Guimarães: doentes internados ficam a dormir no corredor do hospital»

Mais uma amostra da sistemática degradação do SNS.


5/12
«Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, padre Jardim Moreira: “A pobreza não é um acidente nem uma fatalidade, é o resultado de uma escolha política e económica”. Acrescentou que Estratégia Europeia 2020 para a redução da pobreza “não está a ser levada a sério”, UE não está a conseguir oferecer nenhum sinal de esperança, e que “os efeitos perversos das prioridades macroeconómicas focalizadas na austeridade tiveram um impacto na queda do limiar de pobreza [...] um aumento dos trabalhadores pobres associado ao aumento do desemprego, no crescimento da pobreza infantil, no progressivo desmantelamento do Estado Social e no aumento das desigualdades sociais [...] O declínio dos direitos não resulta de uma simples distorção dos mesmos. Acima de tudo, é uma consequência directa do mercado, que não redistribui riqueza.”»

Concordamos inteiramente com estas afirmações do padre Joaquim Moreira.


6/12
«Comunistas estiveram em 4 cidades minhotas para falar da crise e da situação política, com uma tribuna pública para dar a voz ao povo. As pessoas podiam usar o microfone para dizerem o que pensavam sobre o estado do país».

Excelente iniciativa do PCP, que rompe com o rotineirismo enquistado de outras actividades, contribuindo para fortalecer a ligação às massas populares.


10/12
«Banqueiros em guerra por causa da falência do BES. Guerra de acusações sobre responsabilidades entre Ricardo Salgado, Carlos Costa, J. M. Ricciardi, antigos administradores do BES e actual presidente do BESI»

Arrufos de comadres. Para a plateia ver. Logo que terminem os trabalhos da Comissão de Inquérito – que, como as outras, não vai levar a nada (a não ser a eventual obtenção de mais informação) – e de outros órgãos institucionais, ficará mais ou menos tudo como dantes. Com as comadres amigas como sempre. E com chorudos milhões nos bolsos.


10/12
«Manuel Alegre foi visitar Sócrates e levou-lhe o seu livro “Tudo é e não é”»

“Tudo é e não é”. Dialéctica ao serviço da ciência? Não. Baixa dialéctica ao serviço do dobrar de espinha.


11/12
«Fuga aos impostos vale mais de metade da dívida à troika. Actividade não registada avaliada [economia paralela] em 46 B€, cerca de 26,81% do PIB»

A fuga aos impostos tem duas componentes. Uma, a da falta de pagamento, ou de pagamento abaixo das disposições legais, dos muitos ricos e das grandes corporações, incluindo os bancos. Outra, a fuga dos pobres ao IVA de 23%. Esta última componente da «economia paralela» sempre sobe quando a economia oficial não funciona.


12/12
«Costa [depois de encontro com Passos Coelho] defende um compromisso político para o País que tenha “um projecto estratégico comum”».

Esta do «projecto estratégico» já tem barbas. É uma formulação suficientemente vaga para nela, teoricamente, caber tudo. Na prática anterior do PS só coube, de facto, o favorecimento do grande capital. Todas as declarações e posicionamentos recentes do PS indicam que mais uma vez a prática do «projecto estratégico» irá ser a mesma do antigamente. A posição de classe das cúpulas e de muitos militantes influentes do PS não mudou.


12/12
«Livre agrega à candidatura às eleições o Fórum Manifesto, a Renovação Comunista, e independentes do Manifesto 3D e do Congresso Democrático das Alternativas, bem como Boaventura Sousa Santos».

Salgalhada pequeno-burguesa anti-marxista e anti-comunista. Eclética, positivista (logo, idealista, logo, anti-científica) e confusionista.


17/12
«Escolas abrem cantinas a pais que passam fome.»

Comentário desnecessário.


18/12
«Arquivado o processo de corrupção dos submarinos [...] Investigadores não puderam aceder a documentos apreendidos no dossier BES [...] Houve condenações na Alemanha [...] Ricardo Salgado admitiu ter recebido dinheiro dos submarinos [...] Documentos desapareceram».

O segredo é a alma do negócio e em Portugal é o negócio do grande capital quem mais ordena. Além disso, há muito que Portugal deixou de ser um «Estado de Direito» para ser um «Estado de Direita».

  
23/12
«Comissão Europeia quer mais cortes nas pensões, nomeadamente da Segurança Social, e aumentar a idade da reforma. [...] Quer ver um “consenso político alargado” (PS, PSD, CDS) para os cortes e outras medidas. [...] Criticou duramente o aumento de salário mínimo de 485 € para 505 € porque vai “dificultar ainda mais a transição dos mais vulneráveis para o emprego”».

«É assim mesmo, Comissão Europeia! Quem cala, consente. E toca a impor a solução governativa a esses gajos que ainda têm veleidades de não se submeter inteiramente aos neoliberais da «Europa connosco». Quanto ao salário mínimo, então esses gajos não sabem que há emprego em barda, só que os trabalhadores são uns mandriões que se recusam a trabalhar? Não sabem que não há outra solução senão a nossa? Para bem deles?»


30/12
«Os 400 mais ricos do mundo tornaram-se mais ricos em 2014, com um acréscimo de 92 biliões [mil milhões] de dólares» («World’s 400 richest get richer, adding $92bn in 2014»).


Comentário desnecessário. Notar apenas que 92 biliões de dólares correspondem a 55,5% do PIB português. Isto é, os 400 mais ricos tiveram um acréscimo de fortuna equivalente a mais de metade de todo o valor produzido em Portugal durante 2014.

sábado, 17 de janeiro de 2015

A história ignominiosa do PS: de 26 de Nov. de 1975 a 31 de Jul. de 1976 (I)

    Vimos no artigo anterior (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/11/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-6-de.html ) como a aliança contra-revolucionária dos Nove, PS, direita, extrema-direita e “extrema-esquerda”, sob batuta da CIA, alcançou a 25/11/1975 uma vitória decisiva sobre as forças (militares e civis) progressistas que tinham transformado o golpe militar do 25 de Abril de 1974 numa revolução «rumo ao socialismo», traduzindo na prática o articulado do Programa do MFA: «a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das camadas da população até agora mais desfavorecidas, [...] o que necessariamente implicará uma estratégia antimonopolista» e «b) Uma nova política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes trabalhadoras».
   
Assinale-se, mais uma vez, que no plano partidário o líder da contra-revolução foi o PS, em relações estreitas com a CIA. Relações que remontam à sua génese na Alemanha, na Fundação Friedrich Ebert. Esta alma mater do PS, é uma sucursal da CIA (ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/05/o-financiamento-da-cia-ao-ps-documento.html ). Existe também uma quantidade apreciável de depoimentos e documentos convergentes na evidência de que o PS foi a correia de transmissão da CIA durante o período revolucionário.
   
    Todos os partidos, em palavras, tinham concordado com o Programa do MFA. Mas uma coisa são as palavras outra coisa são as acções, que reflectem as motivações profundas dos interesses de classe. Os artigos anteriores demonstram isso mesmo.
    A partir de 26 de Novembro, e até à entrada em vigor do I Governo Constitucional do PS a 23/7/1976, vamos assistir à actividade demolidora das conquistas revolucionárias pela mão do PS (com apoio do PPD e CDS), juntamente com a recuperação das figuras do antigamente e a perseguição e repressão dos militares (e alguns civis) progressistas. Tudo com o acordo do Conselho da Revolução, de facto convertido em Conselho da Contra-Revolução a mando do PS-PPD. Com alguns elementos do CR ligados a forças ainda mais à direita. Os elementos progressistas do CR foram expurgados: Vasco Gonçalves, passado à reserva; Rosa Coutinho passado à reserva; Almada Contreiras, preso; Pinto Soares, expulso; Martins Guerreiro, preso; Ramiro Correia, perseguido, exila-se. Até mesmo Carlos Fabião e Otelo, apesar de complacentes com a contra-revolução e hostis aos elementos progressistas, foram expulsos e destituídos de cargos. Por via das dúvidas.
    O comportamento do PCP no período agora em análise (e mesmo para além dele) enfermou de erros clamorosos, em que avultam:
   
1) A divulgação da ideia de que o 25/11 tinha sido fruto de um alegado sectarismo da «esquerda militar». De facto, foi precisamente o contrário. Foi a direita militar, representada pelos Nove e seus apoiantes, quem tomou a iniciativa de romper definitivamente com toda a ala militar progressista. E a direcção do PCP sabia-o; só que não queria indispor os futuros vencedores, os Nove, contra si. É debatível se o PCP, juntamente com os militares progressistas, poderia ter ido mais longe numa via de revolução socialista. É um facto que o PCP não o tentou; e procurou (e bem), numa situação já desfavorável da correlação de forças, evitar ser esmagado pela contra-revolução e, com ele, o movimento sindical e a Reforma Agrária. Mesmo tendo em atenção esta preocupação e a então desfavorável correlação de forças a nível militar (para a qual o PCP contribuíu pelo seu seguidismo face a um abstracto MFA), a demarcação que o PCP insistiu em fazer da esquerda militar, a sua patente falta de solidariedade com militares presos e perseguidos, foi injusta, desnecessária, traiçoeira e errada. Uma página negra do PCP. Contribuiu, nomeadamente, para justificar perante as massas populares a perseguição e saneamento dos quadros militares progressistas, vistos como perigosos esquerdistas exógenos ao 25 de Abril, facilitando e dando credibilidade à fúria saneadora levada a cargo pelo CR e direita militar.
   
2) A manutenção no movimento popular e entre os trabalhadores da tese de que, apesar do 25/11, a revolução continuava (!). O PCP nunca expôs claramente o que era óbvio: o 25/11 representava o triunfo da contra-revolução. Só cerca de 1980 reconheceu, finalmente (!), que já não havia revolução. Entretanto, o PCP defendia entre os militantes e as massas populares que era possível a «via para o socialismo» porque a Constituição era progressista. Cimentou-se, assim, a ilusão de um caminho para o socialismo feito por via parlamentar! Por um caminho negocial, entre o vencedor, PS, e o vencido, PCP. À luz da Constituição de 1976! Como se as Constituições se pudessem sobrepor à luta de classes. Ilusão que contribuiu para desarmar ideologicamente os militantes (incluindo quadros destacados) e as massas populares, cultivando o rotineirismo, o atentismo e a «fé» em negociações. Cultivou-se, também, a ilusão da Reforma Agrária como uma possível ilha de socialismo num país em plena recuperação capitalista e latifundiária; embora, sem qualquer dúvida, seja de elogiar todos os esforços heróicos dos trabalhadores e dos militantes do PCP em defesa dessa ilha.
   
3) A manutenção da ideia de que seria possível e desejável um «governo de esquerda» com o PS. Era óbvio que tal não era possível. Apesar de todas as provas que a direcção do PCP possuía de que o PS era o líder contra-revolucionário, ligado à CIA e aos interesses imperialistas europeus, visceralmente engajado na recuperação capitalista e latifundiária, o PCP insistiu cegamente e disparatadamente na tese da «maioria da esquerda». Tese repetida até à náusea durante um larguíssimo período de tempo, que se estendeu pelos anos oitenta. Tal tese, profundamente errada, atrasou a tomada de consciência dos trabalhadores, semeou ilusões e acabou mesmo por redundar na queda da influência do PCP (muitos reflectiam: para quê o PCP se o próprio PS, segundo o PCP, é de esquerda?).
   
    Apesar dos erros do PCP que aqui expomos, é de salientar que, quer no período em causa quer posteriormente, o PCP foi a única força política consequente e ideologicamente coerente que fez face à direita, traduzindo os interesses de classe que representa: o proletariado.
    O período que agora analisamos constitui a 4.ª fase contra-revolucionária do PS, de criação de condições básicas para passar depois à recuperação capitalista e latifundiária em pleno: domesticação dos meios de comunicação social, ataques «legais» à Reforma Agrária, domesticação do movimento sindical, ligação à NATO e ao capital estrangeiro, torpedeamento das nacionalizações.
    
De 26 de Novembro de 1975 a 31 de Julho de 1976
A 4.ª fase contra-revolucionária do PS
    
1975
Novembro
Notícia
Comentário
26/11. Manifestação do PS em Aveiro: «Vasco há só um, o Lourenço e mais nenhum», «Pinheiro amigo o povo está contigo», «Irresponsáveis militares fora dos quarteis já»
O slogan que é novo aqui é o dos «Irresponsáveis militares». Trata-se do apelo ao saneamento de toda a esquerda militar.
28/11. Vasco Lourenço (PS): «golpe de forças extremistas com capa de forças de esquerda.»
Isto é: «De esquerda há só um, o Lourenço e mais nenhum». Como se viu e se irá ver até ao fim do CR liderado por «O Lourenço».
28/11. Vasco Lourenço (PS): «disposto a evitar a escalada de direita».
Não evitou. Ele próprio, dentro do CR, nada fez para tal. Muito pelo contrário.
28/11. Mário Soares, Jorge Campinos, Manuel Alegre, Sottomaior Cardia em comício no Porto. Bandeiras do PPD, CDS e cartazes do PCP-ml. Palavras de ordem: «Os militares disseram não à insurreição», «SUV não passou, sexto triunfou».
À sombra do PS a Santa Aliança exulta. Da extrema-direita aos esquerdóides do PCP-ml.
28/11. Jorge Campinos: «25 de Novembro será talvez uma data histórica, uma data fundamental da história do nosso povo».
Manuel Alegre: «...a 25 de Novembro de 1975 foi a acção decisiva do povo que derrotou a conspiração social-fascista».
Data «fundamental» de má memória para o «nosso povo», sim. Ao contrário do que Campinos pretende fazer crer. Quanto ao «cidadão» Alegre, em pose aqui de esquerdóide, só há uma coisa a dizer: mais que «cidadão» é super-aldrabão. Até hoje.
28/11. Mário Soares em conferência de imprensa considerou o PCP como o «responsável de fundo deste [25/11] aventureirismo».
Outro na super-aldrabice. O Relatório do 25/11, apesar de controlado pelos contra-revolucionários, não apresentou uma única evidência de envolvimento do PCP. Pela boa razão de que não havia. As aldrabices soaristas destinavam-se unicamente a ocultar o seu envolvimento com a CIA.
28/11. PS e CDS: «apelo à vigilância sobre a esquerda».
Se o PS é de esquerda vai vigiar-se a si mesmo? Iremos mais tarde ver o PS «unha com carne» com o CDS.
    
     Enquanto os oficiais de esquerda são presos (a 28/11 são já 36 os oficiais presos em Custóias, entre os quais figuras proeminentes do 25 de Abril, como o major Dinis de Almeida e o capitão Paulino) ou passam à clandestinidade, os oficiais reaccionários são promovidos, e mesmo os fascistas que tinham sido saneados são readmitidos, chegando-se ao cúmulo da reintegração do fascista capitão Maltês! A 26, é extinta a CODICE, única sobrevivente da 5.ª Divisão. Multiplicam-se as afirmações para todos os gostos dos ligados aos Nove: Charais (27/11): «O que tem faltado é uma firme atitude por parte dos comandos [as chefias reaccionárias vão resolver isso]»; Costa Gomes (28/11): «solução socialista que respeite a vontade do povo», «não é com verbalismos ocos que se edifica uma sociedade sem classes»; Melo Antunes (28/11): «criadas condições para avançarmos com um projecto viável de esquerda [i.e., do PS; já se está a ver que esquerda é essa]». Enfim, cacharoletes de baboseiras dos novíssimos intérpretes do «verdadeiro espírito do 25 de Abril».
    A 27/11 é extinto o Copcon, cuja infelicidade para o povo português foi o de ter sido (des)comandado pelo pequeno-burguesote Otelo, cujo anti-comunismo o levou a sempre trair a revolução chegando ao cúmulo de no final a desertar. Um Otelo cada vez mais megalómano e de direita que faz afirmações como «se soubesse como o País ia ficar, não fazia a revolução» (Destak, 13/04/2011) e que «precisamos de um homem honesto como Salazar» (DN, 21/4/2011). Um Otelo que num show televisivo, mostrou os seus talentos histriónicos de cantor italiano, exibindo-se com brilhantismo perante a burguesia. Foi pena, logo a seguir ao 25 de Abril, não ter enveredado pela carreira artística.
   
Vem a propósito salientar aqui uma das grandes lições da revolução portuguesa, já conhecida dos clássicos marxistas e demonstrada desde a Revolução Francesa:
A pequena burguesia, pela sua posição como classe, é incapaz de um projecto consistente de revolução. O «mal» da revolução portuguesa foi precisamente ter sido dirigida por pequeno-burgueses que sempre acabam por trair o proletariado cedendo o poder à grande burguesia.
    
    A 30/11, quando Rosa Coutinho se demite do CR e mais oficiais vão presos para Custóias, Costa Gomes tem o desplante de afirmar que «o povo não se deixou manipular» e o EMGFA de afirmar que «não estão ameaçadas as conquistas penosamente conseguidas pelo MFA», sabendo perfeitamente que o MFA e o 25 de Abril já não existem e as «conquistas» tinham começado a ser desmanteladas pelo VI Governo Provisório.
    Em suma, começa a desenrolar-se ao nível das cúpulas a grande operação de embuste público que persiste até hoje. O regime actual é o parido a 25 de Novembro de 1975. É um regime capitalista (neoliberal) pró-imperialista que nada tem a ver com o «rumo ao socialismo», com «Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das camadas da população até agora mais desfavorecidas» e com «Uma nova política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes trabalhadoras» do 25 de Abril de 1974.
    O imperialismo mostra-se satisfeito: A 26/11, Sá Carneiro parte para Bona a dar a boa notícia à social-democracia alemã (Willy Brandt). A 28/11, dizem os jornais britânicos: «vitória dos moderados, Costa Gomes é um oportunista contemporizador».
    A breve trecho todos os meios de comunicação estarão ao serviço do capital (acabam-se as comissões independentes dos jornalistas) e figuras ligadas ao fascismo são reintegradas, como o reccionário Fialho Gouveia (declarou a 28/11 que durante a Revolução «o telejornal era partidário e quase sempre sectário»), Fernando Peça e outros (mais tarde, até o salazarento Artur Agostinho!).
    A 26/11, os caceteiros de Rio Maior, vanguarda civil da reacção representando os interesses do grande e médio campesinato da CAP, com papel destacado no 25 de Novembro, exigem a «Revisão urgente da reforma agrária»!
    
Dezembro
Notícia
Comentário
4/12. Mário Soares: «o nosso objectivo é que este processo siga uma marcha rumo ao socialismo em que se garanta ao nosso povo maior justiça social e se assegurem as conquistas da revolução. Há conquistas para o povo trabalhador que são muito importantes, como é o caso das nacionalizações e da Reforma Agrária».
Não há dúvida. Ninguém consegue bater Soares em aldrabice. Devia ir para o Guiness Book.
14/12. Medeiros Ferreira: «Portugal não constitui hoje uma preocupação para a OTAN»
M. Ferreira (um dos mais lamentáveis PSs, um pavão de disparates) feliz por ter tirado «preocupações» à OTAN.
18/12. M. Soares em Estocolmo: «Portugal terá em breve um plano de austeridade […] São favoráveis ao socialismo as condições em Portugal. Desapareceu o medo do comunismo em Portugal […] Os comunistas portugueses são responsáveis pelo sucedido.»
As aldrabices do costume, mas com uma verdade: «Portugal terá em breve um plano de austeridade». Estão a ver quem foi a alma pioneira da «austeridade» para quem trabalha? «Austeridade» que praticamente se tem mantido até hoje?
24/12. Salgado Zenha deu posse ao administrador do BdP: «com uma economia torta não pode haver finanças direitas.»
O PCP comentou bem as declarações de Zenha: «alija a sua quota de responsabilidade (esteve nos vários governos provisórios, excepto o V), não toma em conta a crise internacional e faz politica partidária».
     
    Sucedem-se os ataques ao PCP (acusado de golpe, na AC, por parte do PS, PPD e CDS, 3/12; Mota Pinto (PPD) a 3/12: «a nação está profundamente ferida com o PCP»; para a OCMLP (conferência de imprensa) o inimigo do povo português é o social-fascismo e o social-imperialismo, 6/12; ataques ao PCP no congresso da UDP a 7/12, não faltando a tese PS do «golpe», com Américo Duarte a afirmar na AC a 10/12 que «os trabahadores nortenhos foram enganados pelo golpismo do PCP).
    Sucedem-se, também, os ataques aos militares progressistas (Varela Gomes e Costa Martins com mandados de captura, 3/12; são expulsos das FFAA 11 militares (Costa Martins, etc.), 11/12; são detidos 89 militares da Força Aérea a 12/12) e defendido o apartidarismo nas FFAA como pretexto para a irrelevância do MFA, a recuperação da direita e a reintegração dos ex-salazarentos («Forças armadas apartidárias», tese do CR a 12/12; PPD defende que os miltares não devem ser o motor a revolução, a 18/12; CDS diz que «forças armadas não devem intervir na direcção do processo», a 28/12).
    Fartote de liberdades para pides e fascistas: a 14/12 é anunciado «Julgamento de pides talvez ainda esta mês», mas não foi; agora o que foi é que o Henrique Tenreiro fugiu (surpresa!); Silva Cunha é libertado de Peniche porque não tinha «culpa formada», 17/12; etc.
    Os trabalhadores começam a sentir na pele as delícias do «socialismo» PS: provável revogação da lei da greve e violenta carga da PSP sobre os trabalhadores no 82.º dia de greve nas livrarias, a 18/12; aumentos de impostos entre as medidas de austeridade anunciadas a 21/12; «suspensas até final de Fevereiro todas as negociações de trabalho», 27/12. Ataques à Reforma Agrária, com 70.000 agricultores arrebanhados pela CAP em Rio Maior a 15/12 vociferando contra ela; o reaccionário Jaime Neves (guindado ao poder por Otelo), também presente, diz «Estou aqui entre amigos».
    Os meios de informação começam a ser amordoçados para os colocar ao serviço do capital: a 4/12 são suspensos da RTP 34 jornalistas suspeitos de «implicação» no 25/11: António Borga, João Moniz Pereira, Artur Ramos, Mário Vieira de Carvalho, etc.; a 30/12, os trabalhadores do República aceitam novas negociações com a Administração, mas esta recusa no dia seguinte; muitos jornalistas suspensos do DN e do Século dão uma conferência de imprensa a 31/12.
    Emídio Guerreiro (PPD) reconhece na AC a 6/12: «O MFA já não existe» (E. Guerreiro vem a sair do PPD). A 24/12 fica-se a saber que o FMI irá emprestar 85 milhões de dólares e que a Bolsa de Lisboa irá reabrir a 12/1. Tudo nos conformes. Com FMI, Bolsa e sem MFA.
   A 12/12, uma grande descoberta revolucionária do «grande educador do povo» Arnaldo Matos, líder do MRPP, é anunciada: «foi o povo que ganhou com o 25 de Novembro».
   
1976
Janeiro
Notícia
Comentário
7/1. Lopes Cardoso (PS): «vai terminar a ocupação de terras mal expropriadas».
As expropriações eram controladas por organismos dependentes do Ministério da Agricultura. Isto é, por Lopes Cardoso. Sobre este assunto, ver abaixo.
18/1. PS em Matosinhos: «seremos intransigentes na defesa do socialismo».
Já começámos a ver, concretamente, o que o PS entende por «socialismo».
26/1. CR e PS aproximaram pontos de vista.
Ora aqui está o famoso «apartidarismo das FFAA». Aproximaram? Mais ainda? O PS podia ter dado cartão de militante a quase todos do CR.
27/1. Carlos Lage (PS) em comício em Gaia: em defesa dos Nove contra avanço da direita; chamou reaccionários ao PPD e CDS.
Onde tens a cabeça, ó Lage, que não vês quem acompanha o PS nas manifs a favor dos Nove, e no VI Governo, fruto dos Nove?
28/1. «Não está previsto a nível do governo o regresso de capitalistas», diz Ministro das Finanças Salgado Zenha.
Sempre um «ponto», este Zenha.
     
    Continuam as benesses para fascistas. O CR altera a 3/1 a lei 8/75, concedendo «julgamento em liberdade para os pides». No mesmo dia em que uma carga de Comandos ocasiona feridos em familiares de militares progressistas presos em Caxias. Idem, em Custóias, onde um metalúrgico é morto a tiro pela GNR. A 21/1, Moreira Baptista (Ministro do Interior de Marcelo Caetano) sai em liberdade provisória. No mesmo dia, o chefão contra-revolucionário Vasco Lourenço descobre que «algumas forças reaccionárias começam a levantar a cabeça». Só algumas?
    A 20/1, Costa Gomes reafirma à TV Sueca o «rumo ao socialismo pluralista». Melo Antunes, no mesmo dia, é mais modesto: «queremos a democracia política [quer ele dizer, democracia ao serviço do capital] e impedir o regresso ao fascismo».
    A 8/1, fica-se a saber que os Bancários do Centro (PPD) reprovaram reivindicações do pessoal menor e que o BdP teve lucros de vários milhões de contos à custa da banca nacionalizada. A 23/1, os administradores cessantes da banca (corridos pelo VI Governo) alertam em documento dirigido ao PR e CGTP que o «funcionamento [então imposto] da banca pode ser forma de recuperação capitalista». Irá ser.
    Nova vaga terrorista contra o PCP: a 19/1, rebenta uma bomba na sede do PCP em Viana do Castelo. A 30/1, série de atentados bombistas em Braga e Póvoa de Varzim. Entretanto, o Relatório Preliminar do 25/11 declara o «PCP não envolvido directamente no processo». Idem, no Relatório Final: nada de envolvimento do PCP, nada de KGB, nada de «mão de Moscovo», etc. Na altura, toda a reacção também fez um grande barulho sobre o Relatório de Sevícias cometidas pela esquerda militar. Nada foi encontrado, apesar das muitas queixas dos pides.
    A 29/1, sindicalistas do PS recusam construção de central paralela. Já então pairava nas cabeças soaristas a ideia de dividir os trabalhadores e construir, de cima para baixo, o que veio a ser a UGT: central amarela, colaboradora dos patrões.
    

A Reforma Agrária (RA) de Lopes Cardoso
(Apoiamo-nos, tal como nos artigos anteriores, no livro de José Soeiro «Reforma Agrária. A Revolução no Alentejo», Ed. Página a Página, 2013)

    Apesar da sua aura de «esquerda socialista», e de ter cumprido o seu dever de decretar a expropriação da maior parte das herdades abrangidas pela lei da RA, Lopes Cardoso também combateu a RA a pretexto de «erros que se cometeram no passado recente». Numa clara cedência à CAP criou a famosa CAEPSARA-Comissão de Análise e Estudo dos Problemas Surgidos com a Aplicação da Reforma Agrária. Cardoso saneou os directores dos Centros Regionais da RA, partidarizando-os com gente de confiança do PS. Não cumpriu a promessa de expropriar 600.000 ha ilegalmente na posse de grandes agrários. Tentou dividir os trabalhadores das UCPs aliciando-os para desanexações das melhores terras e das mais bem equipadas, para entrarem em cooperativas instrumentalizadas pelo PS. Com o apoio de novos Governadores Civis da confiança do PS e dos novos directores dos Centros Regionais da RA, Cardoso garantia aos trabalhadores que saíssem das UCPs para formar cooperativas, apoio técnico e crédito (do recém-constituído MUC – Movimento Unitário Cooperativo, controlado por ex-feitores amigos do PS), dizendo que as UCPs iriam ficar sem crédito. As cooperativas eram associações de pequenos agricultores. Ao entrar em cooperativas os trabalhadores convertiam-se em pequenos agricultores. As cooperativas de Cardoso mantinham a lógica capitalista dos pequenos produtores.
    Cardoso ficará para a História pela célebre intervenção na Herdade dos Machados (6.100 ha) em Moura. Os trabalhadores tinham-se pronunciado democraticamente pela transformação da Herdade em UCP, mas Cardoso quis à viva força ir contra os trabalhadores transformando-a numa Herdade do Estado (controlada por amigos do PS). Em Maio e Junho de 1976 a Herdade foi cercada pela GNR com grande aparato bélico e foi levada a cabo uma votação. Contudo, mais de uma centena de trabalhadores que trabalhavam regularmente na Herdade, com o estatuto de trabalhadores eventuais, foram impedidos de entrar e de votar! As mulheres trabalhadoras também foram impedidas de votar! Ao invés, uma vintena de trabalhadores recentemente recrutados puderam votar. E, de Lisboa foram trazidos muitos empregados de lojas para votar! Uns democratas de truz, estes «socialistas»! A Herdade do Estado singrou mal, gerida por uma Comissão Administrativa incompetente, mas do PS. Serviu para demonstrar a superioridade das UCPs.
    Em Outubro de 1976 surge o relatório da CAEPSARA. O relatório demonstra a falsidade das declarações de Mário Soares e sua clique, de PSs e restante direita (o tiro saiu pela culatra). Revela que de 671 reclamações só 176 diziam respeito a propriedades com menor pontuação do que a da lei, mas mesmo estas satisfaziam aos critérios sempre afirmados pelos trabalhadores: integravam grandes explorações agrícolas e os seus proprietários não trabalhavam nem exploravam directamente a terra, arrendando-a a grandes agrários. Dos 1.150.562 ha expropriados só 1,3% correspondia a essas propriedades. Isto é, mesmo que tivese havido um erro dos trabalhadores, o que não estava de todo provado, o erro era da ordem de 1%. Estávamos muitíssimo longe dos grandes berros, calúnias e falsidades de Soares & C.ª sobre o Alentejo mergulhado em «ocupações selvagens»!
    Cardoso sente-se pressionado pelas constantes denúncias dos trabalhadores sobre as prepotências de governadores civis e centros da RA do PS, e pelas reivindicações reaccionárias da CAP. O relatório da CAEPSARA não agradou a Soares & C.ª. As manobras divisionistas de desocupações oportunistas não surtiram efeito, dada a determinação e grau de consciencialização dos trabalhadores alentejanos. Confrontado por Soares & C.ª de que havia que apressar o ataque à RA, Cardoso demitiu-se em 5/11/76. Veio a sair do PS e fundar com outros amuados a UEDS (um deles, da «esquerda socialista» era, pasme-se!, António Vitorino). O amuo não durou muito. Em 1980 já estavam de regresso ao PS, sob a forma de aliança; cinco anos depois, Cardoso reingressa no PS. O mesmo PS com a mesma clique. Enfim, o regresso á casa-mãe, dos que são muito a favor dos trabalhadores e socialistas em palavras mas essencialmente de direita e pró-capitalistas nas acções.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Charlie Hébdo e a hipocrisia «ocidental» | Charlie Hébdo and the «Western» hypocrisy


    Estamos com os que condenam a matança dos cartunistas de Charlie Hébdo, perpetrada pelos jihadistas islâmicos em Paris. É fácil estar. Basta ser-se anti-fascista. De facto, as milícias jihadistas dos fundamentalistas islâmicos nos diversos países muçulmanos – al-Qaeda, al-Shabab, al-Salaf, Ansar al-Sharia, al-Watan, al-Nour, etc. -- são tropas de choque fascistas desses países.
   Recordemos a definição de fascismo: «ditadura terrorista dos monopólios e latifúndios». Como se sabe, sempre que a chamada «democracia liberal» (democracia ao serviço do grande capital) é incapaz de conter o movimento revolucionário, anti-capitalista, dos trabalhadores, muitos «liberais» convertem-se à solução fascista. A História regista inúmeras demonstrações dessa conversão. Mesmo em tempos não-revolucionários existe sempre uma camada reaccionária da grande burguesia que subsidia grupos fascistas, como tropa de choque contra os movimentos reivindicativos dos trabalhadores e seus partidos. Ora, todos esses jihadistas têm como financiadores elementos da grande burguesia. Por exemplo, a família Bin-Laden é das mais ricas da Arábia Saudita, com interesses em grandes empresas e detentora de grandes latifúndios. Entre os financiadores da al-Qaeda e de outros grupos jihadistas contam-se magnates do petróleo da Arábia Saudita, Kuwait, Bahrain, Qatar, Indonésia, etc. (ver p. ex., [1]), bem como os que controlam o comércio da heroína no Afeganistão. É claro que uma coisa são os financiadores (muitas vezes ocultos), outra coisa são os condottieri fascistas. Assim, o Estado Nazi alemão teve condottieri saídos da pequena burguesia (Hitler) e da média-alta burguesia (Goebbels, Goering), enquanto os financiadores foram os menos-falados donos da Krup, Thyssen, Siemens, etc., bem como os grandes latifundiários da Prússia. Note-se que pagar, armar, treinar  e construir toda a logística de grupos armados custa caro, necessitando de fluxos de financiamento constantes e elevados; necessita de uma «unidade de acção» da grande burguesia. Nos grupos jihadistas, para além dos financiadores poderosos, há também os condottieri da pequena à média-alta burguesia (al-Zawahiri, n.º 2 da al-Qaeda, é um médico saído de uma família rica, Abdel Moneim El Shahat, líder do al-Nour, é um engenheiro e participante de talk shows da TV, Abu Bakr al-Baghdadi, líder do ISIL, é um pequeno-burguês religioso, etc.). Assim, como é de norma entre os condottieri fascistas, encontramos, como líderes dos jihadistas, pequenos e médios burgueses fanatizados por ideologias nacionalistas, raciais e religiosas, assentes em mitologias do passado; não encontramos trabalhadores animados por ideias de progresso e igualdade social. A motivação fundamentalista religiosa do jihadismo não autoriza a classificá-lo numa categoria distinta do fascismo. Os fascismos do Sul da Europa, designadamente os fascismos croata, português e espanhol tiveram uma fortíssima componente religiosa. O fascismo croata dos ustachi foi um fascismo fundamentalista religioso. Na Croácia muitos líderes fascistas eram padres e frades. Campos de concentração onde se cometeram diariamente barbaridades que até chocavam os nazis foram comandados por religiosos. Em nome da fé católica foram perseguidos e mortos por religiosos católicos largos milhares de sérvios pelo simples pecado de serem cristãos ortodoxos. Com isso os ustachi apoderaram-se de riquezas e terras dos sévios. Todos os fascismos se servem de mitologias com raízes nos respectivos povos para fanatizar os seus sequazes. No jihadismo como noutros fascismos a mitologia é a religião.
    Dissemos acima que mesmo em tempos não-revolucionários existe sempre uma camada reaccionária da grande burguesia que subsidia grupos fascistas. Mais do que isso. Todos os dias o imperialismo ianque & C.ª financia grupos fascistas. Oculta ou abertamente. De facto, é sabido como os EUA e aliados financiaram Bin Laden contra o regime progressista do Afeganistão, apoiado pela URSS. De que resultou a queda desse regime e sua substituição pelos taliban. É também sabido como os EUA e aliados ajudaram os jihadistas sunitas que na Síria lutaram contra os movimentos populares e progressistas anti-Assad. Idem, na Líbia. Esta é já uma velhíssima história: em toda a parte do mundo em que um povo se levanta na defesa dos seus interesses, depararemos a breve trecho com EUA e aliados a financiarem grupos fascistas contra o povo. Temos aqui a hipocrisia «ocidental»: atiçam primeiro os cães contra os povos; lamentam depois que os cães lhes mordam nas canelas. Infelizmente os cães não mordem nas canelas dos financiadores do fascismo. Mordem nas canelas dos mais ou menos inocentes – «danos colaterais» --, como os cartunistas do Charlie Hebdo. Alguns dos cartunistas, aliás, não tão inocentes como isso, pois deixavam passar mensagens coloridas de racismo.
   A hipocrisia também está presente na comoção «ocidental» com o atentado à liberdade de expressão de Charlie Hébdo. Democratas e comunistas foram recentemente perseguidos e liquidados na Ucrânia, pela sua liberdade de expressão. O «ocidente» comoveu-se? Não. O governo ucraniano ilegalizou o partido comunista. O «ocidente» comoveu-se com esta falta de liberdade de expressão? Não. No passado 8 de Janeiro o primeiro-ministro fascista ucraniano Yatsenyuk, em visita a Merkel, declarou que foi a URSS que atacou a Alemanha nazi na 2.ª Guerra Mundial. Será que Merkel e o «Ocidente» ficaram chocados com esta liberdade de expressão? Não. Foi ontem noticiado que um blogger saudita conhecido comentou de forma liberal e suave o que se passa no seu país. Foi condenado a 1.000 chicotadas em público, 50 por dia durante 20 dias, por insultos ao Islão. Uma barbaridade. Os EUA e a França, grandes aliados da ditadura fascista da Arábia Saudita, comoveram-se? Não. E poderíamos continuar com a enumeração de casos. O «Ocidente», a França, só se comovem quando a sua liberdade de expressão é posta em causa. Só condenam o terrorismo dos outros; o terrorismo que eles próprios cometem é «defesa da liberdade» (do grande capital).
    Nos dois a quatro milhões de pessoas que dizem ter tido a manifestação de ontem em Paris, constam, sem dúvida, muitos democratas interessados no progresso social, numa sociedade mais justa, livre dos diktats do grande capital. Mas constam também, muitos e muitos milhares dos fascistas de Le Pen, do Bloco Flamengo e do Partido da Liberdade do holandês Geert Wilders, para quem o pretexto da «liberdade de expressão» (fascistas incomodados com a «liberdade de expressão»!) serve objectivos xenófobos e racistas, as leis anti-emigrante e uma UE cada vez mais dividida entre países de 1.ª e de 2.ª, neocolonizados. Para os fascistas europeus a barbaridade terrorista dos fascistas islâmicos foi um achado!
    A manifestação de ontem é também a imagem epitomizada de uma Europa ideologicamente confusa, acreditando na existência de «bons» e «maus» fascistas, albergando carinhosamente em todos os escalões administrativos e educativos os seus «bons» e muito votados fascistas – que ontem passearam promiscuamente lado a lado com democratas -, que ajudam a lutar contra os «maus» fascistas. Mas só quando estes últimos, de «lutadores pela liberdade» em longínquas paragens, se tornam um verdadeiro incómodo em casa.
    We stand with those that condemn the killing of the cartoonists of Charlie Hébdo, perpetrated by the Islamic jihadists in Paris. It’s an easy standing. You just have to be anti-fascist. In fact, the Jihadist militias of the Islamic fundamentalists in the several Muslim countries – al-Qaeda, al-Shabab, al-Salaf, Ansar al-Sharia, al-Watan, al-Nour, etc. – are fascist shock-troops of those countries.
   Let us recall the definition of fascism: “terrorist dictatorship of the monopolies and large landowners”. As is well known whenever the so-called “liberal democracy” (democracy servicing the big capital) is unable to subdue the revolutionary anti-capitalist movement of the workers, many “liberals” convert themselves to the fascist solution. History records numerous demonstrations of this conversion. Even in non-revolutionary times there are always strata of the big bourgeoisie sponsoring fascist groups, as shock-troops against workers’ parties and workers claiming their rights. Now, all those Jihadists have elements of the big bourgeoisie as their financers. For instance, the Bin-Laden family is one of the richest ones of Saudi Arabia, with interests in large corporations and owner of large land estates. Among the financers of al-Qaeda and other Jihadist groups one finds the oil magnates of Saudi Arabia, Kuwait, Bahrain, Qatar, Indonesia, etc. (see e.g., [1]), as well as those controlling the heroin trade in Afghanistan. Of course, one thing are the financers   (often inconspicuous), another thing are the fascist condottieri. As is well-known the German Nazi State had its condottieri coming from the petty-bourgeoisie (Hitler) and the upper-middle bourgeoisie (Goebbels, Goering), whereas the financers were the less conspicuous owners of Krup, Thyssen, Siemens, etc., as well as the big landowners of Prussia. Note that paying, arming, training and building the whole logistics of armed groups requires steady and large financing flows; requires a “unity of action” of the big bourgeoisie. In the Jihadist groups, besides the powerful financers, one also encounters the condottieri from the petty to the upper-middle bourgeoisie (al-Zawahiri, al-Qaeda’s no. 2, is a physician from a rich family, Abdel Moneim El Shahat, leader of al-Nour, is an engineer and participant of TV talk shows, Abu Bakr al-Baghdadi, leader of ISIL, is a religious petty-bourgeois, etc.). Thus, as the rule goes among fascist condottieri, we find as Jihadist leaders petty and middle bourgeois fanaticized by nationalist, racial and religious ideologies, based in mythologies of the past; we do not find workers animated by ideas of progress and social equality. The fundamentalist religious motivation of Jihadism does not give support to classifying it into a category distinct of fascism. The Southern Europe fascisms, namely the Croatian, Portuguese and Spanish fascisms had a very strong religious component. The Croatian fascism of the Ustachi was a fundamentalist religious fascism. Many of the fascist leaders of Croatia were priests and monks. Concentration camps in the fascist Croatia were commanded by religious cadres. In those camps daily barbarities were committed to the point of even shocking the Nazis. Many thousands of Serbs were persecuted and assassinated by catholic religious cadres for the sole sin of being orthodox Christians. With that the Ustachi took possession of the riches and lands of the Serbs. All fascisms make use of mythologies enrooted in the respective folks, in order to feed the fanaticism of their followers. In Jihadism as in other fascisms, the mythology is the religion.
   We mentioned above that in non-revolutionary times there are always strata of the big bourgeoisie sponsoring fascist groups. There is more to it.. No day goes by without the imperialism Yankee & Co financing fascist groups. In a covert or open way. It is now of common knowledge how the USA and its allies financed Bin Laden against the progressive regime of Afghanistan that had the support of USSR. The result was the fall of that regime and its substitution by the Taliban regime. It is also known how the USA and allies helped the Sunni Jihadists who fought in Syria against the anti-Assad popular and progressive movements. Likewise, in Libya. This is already a very old story: in every part of the world where people raises in defense of its interests, one soon will find USA and allies financing fascist groups against the people. And the “Western” hypocrisy emerges from this fact: they first incite the dogs against the people; they next complain when the dogs bite on their legs. Unfortunately, the dogs do not bite the legs of the financers of fascism. They bite on the legs of the more or less innocent – the “collateral damage” --, such as the cartoonists of Charlie Hébdo. Some of the cartoonists, as a matter of fact, not as innocent as was divulged, inasmuch as they conveyed racist-tainted messages.
    Hypocrisy is also present in the “westerners” being outraged by the attack to freedom of expression of Charlie Hébdo. Democrats and communists were recently persecuted and liquidated in Ukraine, for their freedom of expression. Was the “West” outraged? No. The Ukrainian government illegalized the communist party. Was the “West” outraged with this breech of freedom of expression? No. Last January 8, the Ukrainian fascist prime-minister Yatsenyuk declared, during a visit to Merkel, that it was the USSR that attacked Nazi Germany in the Second World War. Were Merkel and the “West” outraged by this fascist misuse of the freedom of expression? No. Yesterday was published in the news that a known Saudi blogger commented in a soft and liberal way what was going on in his country. He was condemned to 1,000 whiplashes in public, 50 per day, during 20 days, for having insulted the Islam. A barbarity. Did the USA and France, grand allies of the fascist dictatorship of Saud Arabia manifest their outrage? No. And we could go on with this case enumeration. The “Western” world, France, only feel outraged when their freedom of expression is at the stake. They only condemn the terrorism of the others; the terrorism that they themselves carry on is “defense of freedom” (of big capital).
    In the two to four million people announced to have participated in the demonstration yesterday in Paris, there were, no doubt, many democrats interested in social progress, in a more fair society, free of diktats of big capital. But were also many and many thousands of the fascists of Le Pen, of the Flemish Block, and of the Freedom Party of the Dutch Geert Wilders. For them the pretext of “freedom of expression” (fascists bothered with “freedom of expression”!) serve xenophobic and racist objectives, anti-immigrant laws and a EU more and more divided between 1st rate and 2nd rate neo-colonized countries. For the European fascists the terrorist barbarity of the Islamic fascists was a true finding!
    Yesterday’s demonstration also is the epitomized image of an ideologically confused Europe, believing in the existence of “good” and “bad” fascists, tenderly hosting in all administrative and educative ranks its “good” and very voted fascists – yesterday promiscuously walking side by side with democrats --, who help fighting against the “bad” fascists. But only when the latter, from “freedom fighters” in remote regions, become a true nuisance at home.