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    Estamos com os que condenam a matança dos
  cartunistas de Charlie Hébdo, perpetrada pelos jihadistas islâmicos em Paris.
  É fácil estar. Basta ser-se anti-fascista. De facto, as milícias jihadistas
  dos fundamentalistas islâmicos nos diversos países muçulmanos – al-Qaeda,
  al-Shabab, al-Salaf, Ansar al-Sharia, al-Watan, al-Nour, etc. -- são tropas
  de choque fascistas desses países.  
   Recordemos a definição de fascismo: «ditadura
  terrorista dos monopólios e latifúndios». Como se sabe, sempre que a chamada
  «democracia liberal» (democracia ao serviço do grande capital) é incapaz de
  conter o movimento revolucionário, anti-capitalista, dos trabalhadores,
  muitos «liberais» convertem-se à solução fascista. A História regista
  inúmeras demonstrações dessa conversão. Mesmo em tempos não-revolucionários
  existe sempre uma camada reaccionária da grande burguesia que subsidia grupos
  fascistas, como tropa de choque contra os movimentos reivindicativos dos
  trabalhadores e seus partidos. Ora, todos esses jihadistas têm como
  financiadores elementos da grande burguesia. Por exemplo, a família Bin-Laden
  é das mais ricas da Arábia Saudita, com interesses em grandes empresas e
  detentora de grandes latifúndios. Entre os financiadores da al-Qaeda e de
  outros grupos jihadistas contam-se magnates do petróleo da Arábia Saudita,
  Kuwait, Bahrain, Qatar, Indonésia, etc. (ver p. ex., [1]), bem como os que
  controlam o comércio da heroína no Afeganistão. É claro que uma coisa são os
  financiadores (muitas vezes ocultos), outra coisa são os condottieri
  fascistas. Assim, o Estado Nazi alemão teve condottieri saídos da pequena
  burguesia (Hitler) e da média-alta burguesia (Goebbels, Goering), enquanto os
  financiadores foram os menos-falados donos da Krup, Thyssen, Siemens, etc.,
  bem como os grandes latifundiários da Prússia. Note-se que pagar, armar,
  treinar  e construir toda a logística
  de grupos armados custa caro, necessitando de fluxos de financiamento
  constantes e elevados; necessita de uma «unidade de acção» da grande
  burguesia. Nos grupos jihadistas, para além dos financiadores poderosos, há
  também os condottieri da pequena à média-alta burguesia (al-Zawahiri,
  n.º 2 da al-Qaeda, é um médico saído de uma família rica, Abdel Moneim El
  Shahat, líder do al-Nour, é um engenheiro e participante de talk shows
  da TV, Abu Bakr al-Baghdadi, líder do ISIL, é um pequeno-burguês religioso,
  etc.). Assim, como é de norma entre os condottieri fascistas,
  encontramos, como líderes dos jihadistas, pequenos e médios burgueses
  fanatizados por ideologias nacionalistas, raciais e religiosas, assentes em
  mitologias do passado; não encontramos trabalhadores animados por ideias de
  progresso e igualdade social. A motivação fundamentalista religiosa do
  jihadismo não autoriza a classificá-lo numa categoria distinta do fascismo. Os
  fascismos do Sul da Europa, designadamente os fascismos croata, português e
  espanhol tiveram uma fortíssima componente religiosa. O fascismo croata dos
  ustachi foi um fascismo fundamentalista religioso. Na Croácia muitos líderes
  fascistas eram padres e frades. Campos de concentração onde se cometeram
  diariamente barbaridades que até chocavam os nazis foram comandados por
  religiosos. Em nome da fé católica foram perseguidos e mortos por religiosos
  católicos largos milhares de sérvios pelo simples pecado de serem cristãos
  ortodoxos. Com isso os ustachi apoderaram-se de riquezas e terras dos sévios.
  Todos os fascismos se servem de mitologias com raízes nos respectivos povos
  para fanatizar os seus sequazes. No jihadismo como noutros fascismos a
  mitologia é a religião. 
    Dissemos acima que mesmo em tempos
  não-revolucionários existe sempre uma camada reaccionária da grande burguesia
  que subsidia grupos fascistas. Mais do que isso. Todos os dias o imperialismo
  ianque & C.ª financia grupos fascistas. Oculta ou abertamente. De facto,
  é sabido como os EUA e aliados financiaram Bin Laden contra o regime
  progressista do Afeganistão, apoiado pela URSS. De que resultou a queda desse
  regime e sua substituição pelos taliban. É também sabido como os EUA e
  aliados ajudaram os jihadistas sunitas que na Síria lutaram contra os
  movimentos populares e progressistas anti-Assad. Idem, na Líbia. Esta é já
  uma velhíssima história: em toda a parte do mundo em que um povo se levanta
  na defesa dos seus interesses, depararemos a breve trecho com EUA e aliados a
  financiarem grupos fascistas contra o povo. Temos aqui a hipocrisia «ocidental»:
  atiçam primeiro os cães contra os povos; lamentam depois que os cães lhes
  mordam nas canelas. Infelizmente os cães não mordem nas canelas dos
  financiadores do fascismo. Mordem nas canelas dos mais ou menos inocentes –
  «danos colaterais» --, como os cartunistas do Charlie Hebdo. Alguns dos
  cartunistas, aliás, não tão inocentes como isso, pois deixavam passar
  mensagens coloridas de racismo. 
   A hipocrisia também está presente na comoção
  «ocidental» com o atentado à liberdade de expressão de Charlie Hébdo.
  Democratas e comunistas foram recentemente perseguidos e liquidados na
  Ucrânia, pela sua liberdade de expressão. O «ocidente» comoveu-se? Não. O
  governo ucraniano ilegalizou o partido comunista. O «ocidente» comoveu-se com
  esta falta de liberdade de expressão? Não. No passado 8 de Janeiro o
  primeiro-ministro fascista ucraniano Yatsenyuk, em visita a Merkel, declarou
  que foi a URSS que atacou a Alemanha nazi na 2.ª Guerra Mundial. Será que
  Merkel e o «Ocidente» ficaram chocados com esta liberdade de expressão? Não.
  Foi ontem noticiado que um blogger saudita conhecido comentou de forma
  liberal e suave o que se passa no seu país. Foi condenado a 1.000 chicotadas
  em público, 50 por dia durante 20 dias, por insultos ao Islão. Uma
  barbaridade. Os EUA e a França, grandes aliados da ditadura fascista da
  Arábia Saudita, comoveram-se? Não. E poderíamos continuar com a enumeração de
  casos. O «Ocidente», a França, só se comovem quando a sua liberdade de
  expressão é posta em causa. Só condenam o terrorismo dos outros; o terrorismo
  que eles próprios cometem é «defesa da liberdade» (do grande capital).  
    Nos dois a quatro milhões de pessoas que dizem
  ter tido a manifestação de ontem em Paris, constam, sem dúvida, muitos
  democratas interessados no progresso social, numa sociedade mais justa, livre
  dos diktats do grande capital. Mas constam também, muitos e muitos
  milhares dos fascistas de Le Pen, do Bloco Flamengo e do Partido da Liberdade
  do holandês Geert Wilders, para quem o pretexto da «liberdade de expressão»
  (fascistas incomodados com a «liberdade de expressão»!) serve objectivos
  xenófobos e racistas, as leis anti-emigrante e uma UE cada vez mais dividida
  entre países de 1.ª e de 2.ª, neocolonizados. Para os fascistas europeus a
  barbaridade terrorista dos fascistas islâmicos foi um achado!  
    A manifestação de ontem é também a imagem
  epitomizada de uma Europa ideologicamente confusa, acreditando na existência
  de «bons» e «maus» fascistas, albergando carinhosamente em todos os escalões
  administrativos e educativos os seus «bons» e muito votados fascistas – que
  ontem passearam promiscuamente lado a lado com democratas -, que ajudam a
  lutar contra os «maus» fascistas. Mas só quando estes últimos, de «lutadores
  pela liberdade» em longínquas paragens, se tornam um verdadeiro incómodo em
  casa. | 
    We stand
  with those that condemn the killing of the cartoonists of Charlie Hébdo,
  perpetrated by the Islamic jihadists in  
   Let us
  recall the definition of fascism: “terrorist dictatorship of the monopolies
  and large landowners”. As is well known whenever the so-called “liberal
  democracy” (democracy servicing the big capital) is unable to subdue the
  revolutionary anti-capitalist movement of the workers, many “liberals”
  convert themselves to the fascist solution. History records numerous
  demonstrations of this conversion. Even in non-revolutionary times there are
  always strata of the big bourgeoisie sponsoring fascist groups, as shock-troops
  against workers’ parties and workers claiming their rights. Now, all those
  Jihadists have elements of the big bourgeoisie as their financers. For
  instance, the Bin-Laden family is one of the richest ones of  
   We mentioned
  above that in non-revolutionary times there are always strata of the big
  bourgeoisie sponsoring fascist groups. There is
  more to it.. No day goes
  by without the imperialism Yankee & Co financing fascist groups. In a
  covert or open way. It is now of common knowledge how the  
    Hypocrisy is
  also present in the “westerners” being outraged by the attack to freedom of
  expression of Charlie Hébdo. Democrats and communists were recently
  persecuted and liquidated in  
    In the two
  to four million people announced to have participated in the demonstration
  yesterday in  
    Yesterday’s
  demonstration also is the epitomized image of an ideologically confused
  Europe, believing in the existence of “good” and “bad” fascists, tenderly
  hosting in all administrative and educative ranks its “good” and very voted
  fascists – yesterday promiscuously walking side by side with democrats --,
  who help fighting against the “bad” fascists. But only when the latter, from
  “freedom fighters” in remote regions, become a true nuisance at home. | 
 
