quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De novo «Charlie Hébdo»

    Já depois de termos publicado em 12 de Janeiro p.p. a nossa apreciação sobre os recentes eventos de Charlie Hébdo (Charlie Hébdo e a hipocrisia «ocidental», http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2015/01/charlie-hebdo-e-hipocrisia-ocidental_12.html ) tivemos conhecimento de um artigo publicado no blog do historiador norte-americano William Blum, a 20 de Janeiro p.p., onde o mesmo tema é abordado (The Anti-Empire Report #136, Murdering journalists… them and us, http://williamblum.org/aer/read/136 ).
   
    A apreciação deste historiador norte-americano converge com a nossa. Menciona, designadamente, a matança de jornalistas não caros ao Império, razão porque não motivou nos media «ocidentais» a comoção do Charlie Hébdo; como a dos muitos mortos e feridos aquando do bombardeamento das instalações da TV Sérvia em Belgrado em 1999 (78 dias de bombardeamento!).
   
    Mas há mais uma peça de informação no artigo de William Blum que importa assinalar e que vem ao encontro do nosso diagnóstico de uma «Europa ideologicamente confusa». Refere o historiador que um seu amigo de Paris, conhecedor da revista e com contacto com o respectivo staff, lhe enviou a seguinte apreciação (tradução nossa):

«Sobre política internacional o Charlie Hebdo era neo-conservador. Apoiou todas as intervenções da NATO na Jugoslávia, até hoje. Eram anti-muçulmanos, anti-Hamas (e anti qualquer organização Palestiniana), anti-Rússia, anti-Cuba (com excepção de um cartunista), anti-Hugo Chávez, anti-Irão, anti-Síria, pró-Pussy Riot, pró-Kiev… É necessário continuar?
   
Muito estranhamente a revista era considerada "esquerdista". É-me difícil criticá-los agora porque eles não eram "más pessoas", apenas um bando de cartunistas engraçados, sim, mas intelectuais em rédea solta sem quaisquer objectivos em particular, e que de facto não ligavam peva a qualquer forma de "correcção" – política, religiosa, ou qualquer outra; só queriam ser engraçados e procurar vender uma revista "subversiva" (com a excepção notável do editor precedente, Phillipe Val, que era, penso, um neo-con [neo-conservador] convicto).»


Hamas, Cuba, Rússia, etc., no mesmo saco. Anti-Hugo Chávez, mas pró-Kiev. Anti-Palestina, mas pró-NATO. Uma revista esquerdista com editor neo-conservador. Uma revista subversiva de um país da NATO mas que apoia a NATO. Mas todos eles muito engraçados. E não são "más pessoas". Não ligavam peva a qualquer forma de "correcção"? Mas essa é precisamente a "correcção" politico-ideológica da actual Europa. Que arrastou milhões em Paris. A "correcção" de um niilismo corrosivo, confusionista, vazio e estéril, sem rumo, pronto a todas as traficâncias e dobragens de espinha. No fundo, amante da mensagem poderosa do Império. Um niilismo cultivado com carinho por todos os neo-cons. Pudera!