Vimos no artigo
anterior (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/11/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-6-de.html
) como a aliança contra-revolucionária dos Nove, PS, direita, extrema-direita e
“extrema-esquerda”, sob batuta da CIA, alcançou a 25/11/1975 uma vitória decisiva sobre as forças (militares e
civis) progressistas que tinham transformado o golpe militar do 25 de Abril de
1974 numa revolução «rumo ao socialismo», traduzindo na prática o articulado do
Programa do MFA: «a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo
Português, em particular das camadas da população até agora mais
desfavorecidas, [...] o que necessariamente implicará uma estratégia
antimonopolista» e «b) Uma nova política social que, em todos os domínios, terá
essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes
trabalhadoras».
Assinale-se, mais uma vez,
que no plano partidário o líder da contra-revolução
foi o PS, em relações estreitas com a CIA. Relações que remontam à sua
génese na Alemanha, na Fundação Friedrich Ebert. Esta alma mater do PS, é uma sucursal da CIA (ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/05/o-financiamento-da-cia-ao-ps-documento.html
). Existe também uma quantidade apreciável de depoimentos e documentos
convergentes na evidência de que o PS foi a correia de transmissão da CIA
durante o período revolucionário.
Todos os
partidos, em palavras, tinham
concordado com o Programa do MFA. Mas uma coisa são as palavras outra coisa são
as acções, que reflectem as motivações profundas dos interesses de classe. Os
artigos anteriores demonstram isso mesmo.
A partir de 26 de
Novembro, e até à entrada em vigor do I Governo Constitucional do PS a
23/7/1976, vamos assistir à actividade demolidora das conquistas revolucionárias
pela mão do PS (com apoio do PPD e CDS), juntamente com a recuperação das
figuras do antigamente e a perseguição e repressão dos militares (e alguns
civis) progressistas. Tudo com o acordo do Conselho da Revolução, de facto
convertido em Conselho da Contra-Revolução a mando do PS-PPD. Com alguns
elementos do CR ligados a forças ainda mais à direita. Os elementos
progressistas do CR foram expurgados: Vasco Gonçalves, passado à reserva; Rosa
Coutinho passado à reserva; Almada Contreiras, preso; Pinto Soares, expulso; Martins
Guerreiro, preso; Ramiro Correia, perseguido, exila-se. Até mesmo Carlos Fabião
e Otelo, apesar de complacentes com a contra-revolução e hostis aos elementos
progressistas, foram expulsos e destituídos de cargos. Por via das dúvidas.
O comportamento do PCP no período agora em análise
(e mesmo para além dele) enfermou de erros clamorosos, em que avultam:
1) A divulgação
da ideia de que o 25/11 tinha sido fruto de um alegado sectarismo da «esquerda
militar». De facto, foi precisamente o contrário. Foi a direita militar,
representada pelos Nove e seus apoiantes, quem tomou a iniciativa de romper definitivamente com toda a ala militar progressista. E a direcção do PCP sabia-o; só
que não queria indispor os futuros vencedores, os Nove, contra si. É debatível
se o PCP, juntamente com os militares progressistas, poderia ter ido mais longe
numa via de revolução socialista. É um facto que o PCP não o tentou; e procurou
(e bem), numa situação já desfavorável da correlação de forças, evitar ser
esmagado pela contra-revolução e, com ele, o movimento sindical e a Reforma
Agrária. Mesmo tendo em atenção esta preocupação e a então desfavorável
correlação de forças a nível militar (para a qual o PCP contribuíu pelo seu
seguidismo face a um abstracto MFA), a demarcação que o PCP insistiu em fazer
da esquerda militar, a sua patente falta de solidariedade com militares presos
e perseguidos, foi injusta, desnecessária, traiçoeira e errada. Uma página
negra do PCP. Contribuiu, nomeadamente, para justificar perante as massas
populares a perseguição e saneamento dos quadros militares progressistas,
vistos como perigosos esquerdistas exógenos ao 25 de Abril, facilitando e dando
credibilidade à fúria saneadora levada a cargo pelo CR e direita militar.
2) A manutenção
no movimento popular e entre os trabalhadores da tese de que, apesar do 25/11,
a revolução continuava (!). O PCP nunca
expôs claramente o que era óbvio: o 25/11 representava o triunfo da
contra-revolução. Só cerca de 1980 reconheceu, finalmente (!), que já não havia
revolução. Entretanto, o PCP defendia entre os militantes e as massas populares
que era possível a «via para o socialismo» porque a Constituição era
progressista. Cimentou-se, assim, a ilusão de um caminho para o socialismo
feito por via parlamentar! Por um caminho negocial, entre o vencedor, PS, e o
vencido, PCP. À luz da Constituição de 1976! Como se as Constituições se
pudessem sobrepor à luta de classes. Ilusão que contribuiu para desarmar ideologicamente
os militantes (incluindo quadros destacados) e as massas populares, cultivando
o rotineirismo, o atentismo e a «fé» em negociações. Cultivou-se, também, a
ilusão da Reforma Agrária como uma possível ilha de socialismo num país em
plena recuperação capitalista e latifundiária; embora, sem qualquer dúvida, seja
de elogiar todos os esforços heróicos dos trabalhadores e dos militantes do PCP
em defesa dessa ilha.
3) A manutenção
da ideia de que seria possível e desejável um «governo de esquerda» com o PS.
Era óbvio que tal não era possível. Apesar de todas as provas que a direcção do
PCP possuía de que o PS era o líder contra-revolucionário, ligado à CIA e aos
interesses imperialistas europeus, visceralmente engajado na recuperação
capitalista e latifundiária, o PCP insistiu cegamente e disparatadamente na
tese da «maioria da esquerda». Tese repetida até à náusea durante um
larguíssimo período de tempo, que se estendeu pelos anos oitenta. Tal tese,
profundamente errada, atrasou a tomada de consciência dos trabalhadores, semeou
ilusões e acabou mesmo por redundar na queda da influência do PCP (muitos
reflectiam: para quê o PCP se o próprio PS, segundo o PCP, é de esquerda?).
Apesar dos erros
do PCP que aqui expomos, é de salientar que, quer no período em causa quer
posteriormente, o PCP foi a única
força política consequente e ideologicamente coerente que fez face à direita,
traduzindo os interesses de classe que representa: o proletariado.
O período que
agora analisamos constitui a 4.ª fase contra-revolucionária do PS, de criação
de condições básicas para passar depois à recuperação capitalista e
latifundiária em pleno: domesticação dos meios de comunicação social, ataques «legais»
à Reforma Agrária, domesticação do movimento sindical, ligação à NATO e ao
capital estrangeiro, torpedeamento das nacionalizações.
De 26 de Novembro de
1975 a 31 de Julho de 1976
A 4.ª fase contra-revolucionária
do PS
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1975
Novembro
Notícia
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Comentário
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26/11. Manifestação
do PS em Aveiro: «Vasco há só um, o Lourenço e mais nenhum», «Pinheiro amigo
o povo está contigo», «Irresponsáveis militares fora dos quarteis já»
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O slogan que
é novo aqui é o dos «Irresponsáveis
militares». Trata-se do apelo ao saneamento de toda a esquerda militar.
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28/11. Vasco
Lourenço (PS): «golpe de forças extremistas com capa de forças de esquerda.»
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Isto é: «De esquerda há só um, o Lourenço e mais
nenhum». Como se viu e se irá ver até ao fim do CR liderado por «O Lourenço».
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28/11. Vasco Lourenço
(PS): «disposto a evitar a escalada de direita».
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Não evitou. Ele próprio, dentro do CR, nada fez para
tal. Muito pelo contrário.
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28/11. Mário
Soares, Jorge Campinos, Manuel Alegre, Sottomaior Cardia em comício no Porto.
Bandeiras do PPD, CDS e cartazes do PCP-ml. Palavras de ordem: «Os militares
disseram não à insurreição», «SUV não passou, sexto triunfou».
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À sombra do PS a Santa Aliança exulta. Da
extrema-direita aos esquerdóides do PCP-ml.
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28/11. Jorge Campinos: «25 de Novembro
será talvez uma data histórica, uma data fundamental da história do nosso
povo».
Manuel Alegre: «...a
25 de Novembro de 1975 foi a acção decisiva do povo que derrotou a conspiração
social-fascista».
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Data «fundamental» de má memória para o «nosso povo»,
sim. Ao contrário do que Campinos pretende fazer crer. Quanto ao «cidadão»
Alegre, em pose aqui de esquerdóide, só há uma coisa a dizer: mais que
«cidadão» é super-aldrabão. Até hoje.
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28/11. Mário Soares
em conferência de imprensa considerou o PCP como o «responsável de fundo
deste [25/11] aventureirismo».
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Outro na
super-aldrabice. O Relatório do 25/11,
apesar de controlado pelos contra-revolucionários, não apresentou uma única
evidência de envolvimento do PCP. Pela boa razão de que não havia. As
aldrabices soaristas destinavam-se unicamente a ocultar o seu envolvimento
com a CIA.
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28/11. PS e
CDS: «apelo à vigilância sobre a esquerda».
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Se o PS é de esquerda vai vigiar-se a si mesmo? Iremos
mais tarde ver o PS «unha com carne» com o CDS.
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Enquanto os
oficiais de esquerda são presos (a 28/11 são já 36 os oficiais presos em
Custóias, entre os quais figuras proeminentes do 25 de Abril, como o major
Dinis de Almeida e o capitão Paulino) ou passam à clandestinidade, os oficiais
reaccionários são promovidos, e mesmo os fascistas que tinham sido saneados são
readmitidos, chegando-se ao cúmulo da reintegração do fascista capitão Maltês! A
26, é extinta a CODICE, única sobrevivente da 5.ª Divisão. Multiplicam-se as
afirmações para todos os gostos dos ligados aos Nove: Charais (27/11): «O que
tem faltado é uma firme atitude por parte dos comandos [as chefias
reaccionárias vão resolver isso]»; Costa Gomes (28/11): «solução socialista que
respeite a vontade do povo», «não é com verbalismos ocos que se edifica uma
sociedade sem classes»; Melo Antunes (28/11): «criadas condições para
avançarmos com um projecto viável de esquerda [i.e., do PS; já se está a ver
que esquerda é essa]». Enfim, cacharoletes de baboseiras dos novíssimos intérpretes
do «verdadeiro espírito do 25 de Abril».
A 27/11 é extinto
o Copcon, cuja infelicidade para o povo português foi o de ter sido
(des)comandado pelo pequeno-burguesote Otelo, cujo anti-comunismo o levou a
sempre trair a revolução chegando ao cúmulo de no final a desertar. Um Otelo
cada vez mais megalómano e de direita que faz afirmações como «se soubesse como
o País ia ficar, não fazia a revolução» (Destak, 13/04/2011) e que «precisamos
de um homem honesto como Salazar» (DN, 21/4/2011). Um Otelo que num show televisivo, mostrou os seus talentos histriónicos de cantor
italiano, exibindo-se com brilhantismo perante a burguesia. Foi pena, logo a
seguir ao 25 de Abril, não ter enveredado pela carreira artística.
Vem a propósito salientar aqui uma das
grandes lições da revolução portuguesa, já conhecida dos clássicos marxistas e
demonstrada desde a Revolução Francesa:
A pequena burguesia, pela sua posição como classe, é incapaz de um projecto
consistente de revolução. O «mal» da revolução portuguesa foi precisamente ter
sido dirigida por pequeno-burgueses que sempre acabam por trair o proletariado
cedendo o poder à grande burguesia.
A 30/11, quando Rosa
Coutinho se demite do CR e mais oficiais vão presos para Custóias, Costa Gomes
tem o desplante de afirmar que «o povo não se deixou manipular» e o EMGFA de
afirmar que «não estão ameaçadas as conquistas penosamente conseguidas pelo MFA»,
sabendo perfeitamente que o MFA e o 25 de Abril já não existem e as
«conquistas» tinham começado a ser desmanteladas pelo VI Governo Provisório.
Em suma, começa a desenrolar-se ao nível das
cúpulas a grande operação de embuste público que persiste até hoje. O regime actual é o parido a 25 de Novembro
de 1975. É um regime capitalista (neoliberal) pró-imperialista que nada tem a
ver com o «rumo ao socialismo», com «Uma nova política económica, posta ao
serviço do Povo Português, em particular das camadas da população até agora
mais desfavorecidas» e com «Uma nova política social que, em todos os domínios,
terá essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes
trabalhadoras» do 25 de Abril de 1974.
O imperialismo
mostra-se satisfeito: A 26/11, Sá Carneiro parte para Bona a dar a boa notícia
à social-democracia alemã (Willy Brandt). A 28/11, dizem os jornais britânicos:
«vitória dos moderados, Costa Gomes é um oportunista contemporizador».
A breve trecho
todos os meios de comunicação estarão ao serviço do capital (acabam-se as comissões
independentes dos jornalistas) e figuras ligadas ao fascismo são reintegradas,
como o reccionário Fialho Gouveia (declarou a 28/11 que durante a Revolução «o
telejornal era partidário e quase sempre sectário»), Fernando Peça e outros
(mais tarde, até o salazarento Artur Agostinho!).
A 26/11, os
caceteiros de Rio Maior, vanguarda civil da reacção representando os interesses
do grande e médio campesinato da CAP, com papel destacado no 25 de Novembro,
exigem a «Revisão urgente da reforma agrária»!
Dezembro
Notícia
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Comentário
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4/12. Mário Soares: «o nosso objectivo é que este processo siga uma marcha rumo
ao socialismo em que se garanta ao nosso povo maior justiça social e se
assegurem as conquistas da revolução. Há conquistas para o povo trabalhador que
são muito importantes, como é o caso das nacionalizações e da Reforma Agrária».
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Não há dúvida. Ninguém consegue bater Soares em
aldrabice. Devia ir para o Guiness Book.
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14/12. Medeiros Ferreira: «Portugal não constitui hoje uma preocupação para a OTAN»
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M. Ferreira (um dos mais lamentáveis PSs, um pavão de
disparates) feliz por ter tirado «preocupações» à OTAN.
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18/12. M. Soares em Estocolmo: «Portugal terá em breve um plano de austeridade
[…] São favoráveis ao socialismo as condições em Portugal. Desapareceu o medo
do comunismo em Portugal […] Os comunistas portugueses são responsáveis pelo
sucedido.»
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As aldrabices do costume, mas com uma verdade: «Portugal terá em breve um plano de
austeridade». Estão a ver quem foi a alma
pioneira da «austeridade» para quem trabalha? «Austeridade» que praticamente
se tem mantido até hoje?
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24/12. Salgado Zenha deu posse ao administrador do BdP: «com uma economia torta
não pode haver finanças direitas.»
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O PCP comentou
bem as declarações de Zenha: «alija a sua quota de responsabilidade (esteve
nos vários governos provisórios, excepto o V), não toma em conta a crise
internacional e faz politica partidária».
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Sucedem-se os
ataques ao PCP (acusado de golpe, na AC, por parte do PS, PPD e CDS, 3/12; Mota
Pinto (PPD) a 3/12: «a nação está profundamente ferida com o PCP»; para a OCMLP
(conferência de imprensa) o inimigo do povo português é o social-fascismo e o
social-imperialismo, 6/12; ataques ao PCP no congresso da UDP a 7/12, não
faltando a tese PS do «golpe», com Américo Duarte a afirmar na AC a 10/12 que
«os trabahadores nortenhos foram enganados pelo golpismo do PCP).
Sucedem-se,
também, os ataques aos militares progressistas (Varela Gomes e Costa Martins
com mandados de captura, 3/12; são expulsos das FFAA 11 militares (Costa Martins,
etc.), 11/12; são detidos 89 militares da Força Aérea a 12/12) e defendido o
apartidarismo nas FFAA como pretexto para a irrelevância do MFA, a recuperação
da direita e a reintegração dos ex-salazarentos («Forças armadas apartidárias»,
tese do CR a 12/12; PPD defende que os miltares não devem ser o motor a
revolução, a 18/12; CDS diz que «forças armadas não devem intervir na direcção
do processo», a 28/12).
Fartote de
liberdades para pides e fascistas: a 14/12 é anunciado «Julgamento de pides
talvez ainda esta mês», mas não foi; agora o que foi é que o Henrique Tenreiro
fugiu (surpresa!); Silva Cunha é libertado de Peniche porque não tinha «culpa
formada», 17/12; etc.
Os trabalhadores
começam a sentir na pele as delícias do «socialismo» PS: provável revogação da
lei da greve e violenta carga da PSP sobre os trabalhadores no 82.º dia de
greve nas livrarias, a 18/12; aumentos de impostos entre as medidas de
austeridade anunciadas a 21/12; «suspensas até final de Fevereiro todas as
negociações de trabalho», 27/12. Ataques à Reforma Agrária, com 70.000
agricultores arrebanhados pela CAP em Rio Maior a 15/12 vociferando contra ela;
o reaccionário Jaime Neves (guindado ao poder por Otelo), também presente, diz «Estou
aqui entre amigos».
Os meios de informação
começam a ser amordoçados para os colocar ao serviço do capital: a 4/12 são suspensos
da RTP 34 jornalistas suspeitos de «implicação» no 25/11: António Borga, João Moniz
Pereira, Artur Ramos, Mário Vieira de Carvalho, etc.; a 30/12, os trabalhadores
do República aceitam novas negociações com a Administração, mas esta recusa no
dia seguinte; muitos jornalistas suspensos do DN e do Século dão uma
conferência de imprensa a 31/12.
Emídio Guerreiro (PPD)
reconhece na AC a 6/12: «O MFA já não existe» (E. Guerreiro vem a sair do PPD).
A 24/12 fica-se a saber que o FMI irá emprestar 85 milhões de dólares e que a
Bolsa de Lisboa irá reabrir a 12/1. Tudo nos conformes. Com FMI, Bolsa e sem
MFA.
A 12/12, uma
grande descoberta revolucionária do «grande educador do povo» Arnaldo Matos,
líder do MRPP, é anunciada: «foi o povo que ganhou com o 25 de Novembro».
1976
Janeiro
Notícia
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Comentário
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7/1. Lopes Cardoso
(PS): «vai terminar a ocupação de terras mal expropriadas».
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As expropriações eram controladas por organismos
dependentes do Ministério da Agricultura. Isto é, por Lopes Cardoso. Sobre
este assunto, ver abaixo.
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18/1. PS em Matosinhos: «seremos intransigentes na defesa do socialismo».
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Já começámos a ver, concretamente, o que o PS entende
por «socialismo».
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26/1. CR e PS aproximaram pontos de vista.
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Ora aqui está o famoso «apartidarismo das FFAA».
Aproximaram? Mais ainda? O PS podia ter dado cartão de militante a quase todos
do CR.
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27/1. Carlos
Lage (PS) em comício em Gaia: em defesa dos Nove contra avanço da direita;
chamou reaccionários ao PPD e CDS.
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Onde tens a cabeça, ó Lage, que não vês quem acompanha
o PS nas manifs a favor dos Nove, e no VI Governo, fruto dos Nove?
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28/1. «Não está
previsto a nível do governo o regresso de capitalistas», diz Ministro das
Finanças Salgado Zenha.
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Sempre um «ponto», este Zenha.
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Continuam as
benesses para fascistas. O CR altera a 3/1 a lei 8/75, concedendo «julgamento
em liberdade para os pides». No mesmo dia em que uma carga de Comandos ocasiona
feridos em familiares de militares progressistas presos em Caxias. Idem, em
Custóias, onde um metalúrgico é morto a tiro pela GNR. A 21/1, Moreira Baptista
(Ministro do Interior de Marcelo Caetano) sai em liberdade provisória. No mesmo
dia, o chefão contra-revolucionário Vasco Lourenço descobre que «algumas forças
reaccionárias começam a levantar a cabeça». Só algumas?
A 20/1, Costa
Gomes reafirma à TV Sueca o «rumo ao socialismo pluralista». Melo Antunes, no
mesmo dia, é mais modesto: «queremos a democracia política [quer ele dizer, democracia
ao serviço do capital] e impedir o regresso ao fascismo».
A 8/1, fica-se a
saber que os Bancários do Centro (PPD) reprovaram reivindicações do pessoal
menor e que o BdP teve lucros de vários milhões de contos à custa da banca
nacionalizada. A 23/1, os administradores cessantes da banca (corridos pelo VI
Governo) alertam em documento dirigido ao PR e CGTP que o «funcionamento [então
imposto] da banca pode ser forma de recuperação capitalista». Irá ser.
Nova vaga
terrorista contra o PCP: a 19/1, rebenta uma bomba na sede do PCP em Viana do
Castelo. A 30/1, série de atentados bombistas em Braga e Póvoa de Varzim. Entretanto,
o Relatório Preliminar do 25/11 declara o «PCP não envolvido directamente no
processo». Idem, no Relatório Final: nada de envolvimento do PCP, nada de KGB, nada
de «mão de Moscovo», etc. Na altura, toda a reacção também fez um grande
barulho sobre o Relatório de Sevícias cometidas pela esquerda militar. Nada foi
encontrado, apesar das muitas queixas dos pides.
A 29/1,
sindicalistas do PS recusam construção de central paralela. Já então pairava
nas cabeças soaristas a ideia de dividir os trabalhadores e construir, de cima
para baixo, o que veio a ser a UGT: central amarela, colaboradora dos patrões.
A Reforma Agrária (RA) de Lopes Cardoso
(Apoiamo-nos,
tal como nos artigos anteriores, no livro de José Soeiro «Reforma
Agrária. A Revolução no Alentejo», Ed. Página a Página, 2013)
Apesar da sua aura de
«esquerda socialista», e de
ter cumprido o seu dever de decretar a expropriação da maior parte das herdades
abrangidas pela lei da RA, Lopes
Cardoso também combateu a RA a pretexto de «erros que se cometeram no passado
recente». Numa clara cedência à CAP criou a famosa CAEPSARA-Comissão de
Análise e Estudo dos Problemas Surgidos com a Aplicação da Reforma Agrária.
Cardoso saneou os directores dos Centros Regionais da RA, partidarizando-os com
gente de confiança do PS. Não cumpriu a promessa de expropriar 600.000 ha
ilegalmente na posse de grandes agrários. Tentou dividir os trabalhadores das
UCPs aliciando-os para desanexações das melhores terras e das mais bem equipadas,
para entrarem em cooperativas instrumentalizadas pelo PS. Com o apoio de novos Governadores
Civis da confiança do PS e dos novos directores dos Centros Regionais da RA, Cardoso
garantia aos trabalhadores que saíssem das UCPs para formar cooperativas, apoio
técnico e crédito (do recém-constituído MUC – Movimento Unitário Cooperativo,
controlado por ex-feitores amigos do PS), dizendo que as UCPs iriam ficar sem
crédito. As cooperativas eram associações de pequenos agricultores. Ao entrar
em cooperativas os trabalhadores convertiam-se em pequenos agricultores. As
cooperativas de Cardoso mantinham a lógica capitalista dos pequenos produtores.
Cardoso ficará para a História pela célebre
intervenção na Herdade dos Machados (6.100 ha) em Moura. Os trabalhadores
tinham-se pronunciado democraticamente pela transformação da Herdade em UCP,
mas Cardoso quis à viva força ir contra os trabalhadores transformando-a numa Herdade
do Estado (controlada por amigos do PS). Em Maio e Junho de 1976 a Herdade foi
cercada pela GNR com grande aparato bélico e foi levada a cabo uma votação. Contudo, mais de uma centena de
trabalhadores que trabalhavam regularmente na Herdade, com o estatuto de trabalhadores
eventuais, foram impedidos de entrar e de votar! As mulheres trabalhadoras também
foram impedidas de votar! Ao invés, uma vintena de trabalhadores recentemente
recrutados puderam votar. E, de Lisboa foram trazidos muitos empregados de
lojas para votar! Uns democratas de truz, estes «socialistas»! A Herdade do
Estado singrou mal, gerida por uma Comissão Administrativa incompetente, mas do
PS. Serviu para demonstrar a superioridade das UCPs.
Em Outubro de 1976 surge o relatório da CAEPSARA. O relatório demonstra a falsidade
das declarações de Mário Soares e sua clique, de PSs e restante direita (o tiro
saiu pela culatra). Revela que de 671 reclamações só 176 diziam respeito a
propriedades com menor pontuação do que a da lei, mas mesmo estas satisfaziam
aos critérios sempre afirmados pelos trabalhadores: integravam grandes explorações
agrícolas e os seus proprietários não trabalhavam nem exploravam directamente a
terra, arrendando-a a grandes agrários. Dos 1.150.562 ha expropriados só 1,3%
correspondia a essas propriedades. Isto é, mesmo que tivese havido um erro
dos trabalhadores, o que não estava de todo provado, o erro era da ordem de 1%.
Estávamos muitíssimo longe dos grandes berros, calúnias e falsidades de Soares
& C.ª sobre o Alentejo mergulhado em «ocupações selvagens»!
Cardoso sente-se
pressionado pelas constantes denúncias dos trabalhadores sobre as prepotências
de governadores civis e centros da RA do PS, e pelas reivindicações reaccionárias
da CAP. O relatório da CAEPSARA não agradou a Soares & C.ª. As
manobras divisionistas de desocupações oportunistas não surtiram efeito, dada a
determinação e grau de consciencialização dos trabalhadores alentejanos.
Confrontado por Soares & C.ª de que havia que apressar o ataque à RA,
Cardoso demitiu-se em 5/11/76. Veio a sair do PS e fundar com outros amuados a
UEDS (um deles, da «esquerda socialista» era, pasme-se!, António Vitorino). O
amuo não durou muito. Em 1980 já estavam de regresso ao PS, sob a forma de
aliança; cinco anos depois, Cardoso reingressa no PS. O mesmo PS com a mesma
clique. Enfim, o regresso á casa-mãe, dos que são muito a favor dos
trabalhadores e socialistas em palavras mas essencialmente de direita e pró-capitalistas
nas acções.