quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PCF: Um exemplo de oportunismo no comunismo europeu

É sabido que, desde meados dos anos 70, se desenvolveu na Europa a chamada corrente “eurocomunista”. É, de facto, uma corrente social-democrata, logo não-comunista, de que os expoentes máximos foram o PCE, até pelo menos 1987, e foram e ainda são o PCF e o PCI (depois de 1991, os seus rebentos PRC e PdCI). O “eurocomunismo” tem infectado outros partidos comunistas europeus, ou pelo menos parte importante dos seus militantes, tem sido estéril no plano teórico e na preparação de quadros, e tem tido uma influência castradora na tomada de consciência de classe e consciência política das camadas trabalhadoras europeias. Tem, portanto, contribuído para que a alta burguesia europeia continue a governar “à vontade” porque “à esquerda nada de novo”.
   
Muito havia a dizer sobre esta corrente oportunista do comunismo europeu, que abandonou na praxis os ideais do socialismo e comunismo e a sua base científica do marxismo-leninismo, enveredando por uma prática de “respeitabilidade” burguesa e de entendimentos com a direita que configuram uma clara traição aos interesses dos trabalhadores. Cingimo-nos, no presente artigo, a exemplificar com o caso do PCF até onde pode ir esse abandono e traição, com a tradução de um comentário recente do “RIZOSPASTIS”, órgão do Partido Comunista Grego (versão inglesa em http://inter.kke.gr/en/articles/Comment-of-RIZOSPASTIS-the-downward-spiral-of-European-opportunism-has-no-end/).
   
*   *   *
Comentário do"RIZOSPASTIS":  a espiral decrescente do oportunismo europeu não tem fim.

É sabido que o capital europeu e a sua união, a UE, já possuem e por muitos anos vindouros o seu “coro de esquerda”. Há vários partidos a desempenhar esse papel, partidos que se auto-denominam de “progressistas” e de “esquerda”, incluindo mesmo alguns partidos que conservam o título de “comunista”, embora tenham sido há muitas décadas assimilados na corrente oportunista e social-democrata do “eurocomunismo”. Estes últimos, tal como por exemplo o Partido Comunista Francês (PCF), divorciaram-se desde há muitos anos do marxismo-leninismo e do internacionalismo proletário, e abandonaram mesmo os símbolos históricos do movimento comunista, convertendo-se na “cauda” da social-democracia em nome da “esquerda”; branqueiam também o sistema capitalista e as uniões imperialistas da UE e da NATO. Conservam, contudo, o nome “comunista” e, desta forma, para além da actividade enganosa nos seus próprios países, também participam nos Encontros Internacionais dos PCs onde procuram desempenhar aí um papel semelhante. 
   
A ajuizar pelos acontecimentos da recente festa do "L'Humanité", o jornal do PCF, a espiral decrescente não tem fim.
   
Na verdade, como se poderia caracterizar de outro modo o facto de G. Katrugalos, Ministro do Trabalho do governo SYRIZA-ANEL, ter sido convidado a falar nessa festa? Por outras palavras, a pessoa que, através do 3.º memorando acordado entre o governo SYRIZA-ANEL e as organizações imperialistas, massacrou os direitos dos trabalhadores, os seus salários e pensões, e que tem agora planos para restringir o direito de greve, foi convidado para a festa deste partido “comunista” para falar de “políticas neoliberais”. O homem que os trabalhadores e pensionistas numa recente manifestação do PAME [equivalente grego da Intersindical] classificaram como um moderno... “mãos de tesoura”.
   
Foi esta a pessoa que os “comunistas” -- apenas de nome -- da França decidiram convidar.
   
É claro que isto não foi um acidente, se tomarmos em conta que, para o debate que decorreu na porta ao lado, convidaram o chefe das missões militares da ONU e da NATO, General Dominique Trinquard, para falar nos desenvolvimentos internacionais da “nossa casa comum europeia”. Sim, o leitor leu correctamente, a NATO, a organização imperialista que massacra e continua a massacrar os povos. Isto pode parecer irracional aos comunistas da Grécia, bem como aos comunistas de muitos outros países de todo o mundo. Não é, porém, estranho para um partido que apoiou completamente as recentes intervenções imperialistas da NATO na Líbia e da UE na República Centro-Africana.
   
As palavras de Lenine mantêm-se relevantes hoje, quando disse que a luta contra o imperialismo está inextricavelmente ligada à luta contra o oportunismo.
   

Publicado em 24/9/2016