É sabido que,
desde meados dos anos 70, se desenvolveu na Europa a chamada corrente
“eurocomunista”. É, de facto, uma corrente social-democrata, logo
não-comunista, de que os expoentes máximos foram o PCE, até pelo menos 1987, e
foram e ainda são o PCF e o PCI (depois de 1991, os seus rebentos PRC e PdCI). O
“eurocomunismo” tem infectado outros partidos comunistas europeus, ou pelo
menos parte importante dos seus militantes, tem sido estéril no plano teórico e
na preparação de quadros, e tem tido uma influência castradora na tomada de
consciência de classe e consciência política das camadas trabalhadoras
europeias. Tem, portanto, contribuído para que a alta burguesia europeia continue
a governar “à vontade” porque “à esquerda nada de novo”.
Muito havia a dizer
sobre esta corrente oportunista do comunismo europeu, que abandonou na praxis os ideais do socialismo e
comunismo e a sua base científica do marxismo-leninismo, enveredando por uma
prática de “respeitabilidade” burguesa e de entendimentos com a direita que
configuram uma clara traição aos interesses dos trabalhadores. Cingimo-nos, no
presente artigo, a exemplificar com o caso do PCF até onde pode ir esse
abandono e traição, com a tradução de um comentário recente do “RIZOSPASTIS”,
órgão do Partido Comunista Grego (versão inglesa em http://inter.kke.gr/en/articles/Comment-of-RIZOSPASTIS-the-downward-spiral-of-European-opportunism-has-no-end/).
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“Comentário do"RIZOSPASTIS":
a espiral decrescente do oportunismo
europeu não tem fim.
É sabido que o
capital europeu e a sua união, a UE, já possuem e por muitos anos vindouros o
seu “coro de esquerda”. Há vários partidos a desempenhar esse papel, partidos
que se auto-denominam de “progressistas” e de “esquerda”, incluindo mesmo
alguns partidos que conservam o título de “comunista”, embora tenham sido há
muitas décadas assimilados na corrente oportunista e social-democrata do
“eurocomunismo”. Estes últimos, tal como por exemplo o Partido Comunista
Francês (PCF), divorciaram-se desde há muitos anos do marxismo-leninismo e do
internacionalismo proletário, e abandonaram mesmo os símbolos históricos do
movimento comunista, convertendo-se na “cauda” da social-democracia em nome da
“esquerda”; branqueiam também o sistema capitalista e as uniões imperialistas
da UE e da NATO. Conservam, contudo, o nome “comunista” e, desta forma, para além
da actividade enganosa nos seus próprios países, também participam nos
Encontros Internacionais dos PCs onde procuram desempenhar aí um papel
semelhante.
A ajuizar pelos acontecimentos da recente festa do
"L'Humanité", o jornal do PCF, a espiral decrescente não tem fim.
Na verdade, como
se poderia caracterizar de outro modo o facto de G. Katrugalos, Ministro do
Trabalho do governo SYRIZA-ANEL,
ter sido convidado a falar nessa festa? Por outras palavras, a pessoa que, através do 3.º memorando acordado entre
o governo SYRIZA-ANEL e as organizações imperialistas, massacrou os direitos
dos trabalhadores, os seus salários e pensões, e que tem agora planos para
restringir o direito de greve, foi convidado para a festa deste partido
“comunista” para falar de “políticas neoliberais”. O homem que os trabalhadores
e pensionistas numa recente manifestação do PAME [equivalente grego da
Intersindical] classificaram como um moderno... “mãos de tesoura”.
Foi esta a pessoa
que os “comunistas” -- apenas de nome -- da França decidiram convidar.
É claro que isto
não foi um acidente, se tomarmos em conta que, para o debate que decorreu na
porta ao lado, convidaram o chefe das missões militares da ONU e da NATO, General
Dominique Trinquard, para falar nos desenvolvimentos internacionais da “nossa
casa comum europeia”. Sim, o leitor leu correctamente, a NATO, a organização
imperialista que massacra e continua a massacrar os povos. Isto pode parecer
irracional aos comunistas da Grécia, bem como aos comunistas de muitos outros
países de todo o mundo. Não é, porém, estranho para um partido que apoiou
completamente as recentes intervenções imperialistas da NATO na Líbia e da UE
na República Centro-Africana.
As palavras de
Lenine mantêm-se relevantes hoje, quando disse que a luta contra o imperialismo
está inextricavelmente ligada à luta contra o oportunismo.
Publicado em 24/9/2016 ”