Este último fim-de-semana do 5 de Outubro foi rico em aldrabices proferidas pelos políticos da área do Poder: PS, PSD e CDS. São aldrabices cujo grau de absurdo é tão elevado que faz pensar que para esses políticos «a lógica é uma batata».
Será simples falta de raciocínio lógico? Não, as aldrabices têm um fim: aldrabar o povo, é claro. São proferidas premeditadamente com vista a atingir esse fim.
Comecemos pelos políticos da área do PS que arrebataram o prémio da aldrabice este fim-de-semana:
PS
1- António José Seguro
Anunciou no jantar comemorativo do 5/10 que o PS vai apresentar até ao final do ano uma proposta de alteração da lei eleitoral para a Assembleia da República (AR) com o intuito de reduzir o número de deputados. Justificação dada: «maior proximidade entre eleitos e eleitores».
Isto é, para o PS, a proximidade entre eleitos e eleitores depende inversamente do número de deputados. Com um único deputado obter-se-ia o máximo de proximidade. Se todos eleitores fossem deputados, obter-se-ia o mínimo de proximidade entre eleitos e eleitores. Lógico, não é? Tudo em nome da democracia, estão a ver? Tudo em nome da «maior proximidade entre eleitos e eleitores».
O que está por trás desta aldrabice? Simplesmente isto: O PS pretende desde já assegurar papel dominante nas próximas eleições e arredar do hemiciclo a incómoda oposição de esquerda, para poder com todo o à-vontade seguir a mesma política de direita que, com o concurso do PSD-CDS, levou ao estado em que estamos. Para o PS, tal como para o grande capital, o cenário paradisíaco seria uma AR só com PS e PSD. Um casamento PS-PSD então seria de ir às nuvens! Assim, sim, tudo estável, como tem dito o Cavaco e outras vozes do «governo de salvação nacional [de direita]»; tudo ao serviço do grande capital. Aliás, se bem se lembram, estabilidade e posição construtiva têm sido palavras repetidas por Seguro nestes últimos tempos (ver outros artigos neste blog).
2- Jorge Sampaio
«Já temos muito ruído, precisamos de estabilidade para enfrentar as dificuldades que temos para a frente.» Oh povo! Não vos manifesteis! C'os diabos, com o vosso ruído ainda incomodais os nossos governantes! Então não ouvistes dizer mais do que uma vez «deixai-nos governar»? Prestai, então, atenção às doutas palavras de Jorge Sampaio (ainda por cima, de alguém que já foi do Movimento de Esquerda Socialista; isto é, socialista dos quatro costados) e mantende-vos quietinhos. Tende em conta que foi o vosso anterior ruído e consumo com'ó diabo que deu cabo do país. Agora, por vossa culpa, estão os nossos sábios governantes, que vos são tão dedicados, a tentar endireitar as coisas e vocês a fazer ruído.
PSD
1 - Jorge Silva, vice-presidente do PSD: «[António Costa] veio basicamente dizer que a culpa é da Europa e não de um país que viveu 10% acima das suas possibilidades» Este é dos tais que, relativamente a um imaginário país em que metade da população comesse 1 galinha e a outra metade 0 galinhas, diria que todos comem muito bem porque em média comem meia galinha. Lógico, não é? É mais que sabido que as desigualdades sociais são elevadas em Portugal e só têm aumentado. É mais que sabido que os salários de milhões de trabalhadores não tiveram aumentos reais ou, quando tiveram, foram modestíssimos; isto para não falar nos cerca de 400 mil de portugueses que recebiam em 2009 o Rendimento de Inserção Social; isto é, recebiam uma média de 89 euros por mês. Ao invés, os rendimentos dos mais ricos, dos 1% do topo, não têm parado de crescer atingindo níveis absolutamente imorais. E fala este em «de um país que viveu 10% acima das suas possibilidades». Qual país? O dos ricos? Esse viveu uns 1000% acima das suas possibilidades.
Jorge Silva não saberá isto? Provavelmente sabe, só que usando números atirados ao ar limpa a classe política do PSD; limpa precisamente os que têm vivido à custa do povo trabalhador, dos que têm vivido uns 1000% acima das suas possibilidades.
2 – Eduardo Catroga deu uma longa entrevista ao JN neste fim-de-semana. Diz-se independente mas foi conselheiro de Passos Coelho. A entrevista merece uma longa desmontagem pelos mitos da direita que volta a repetir, como o da culpa da crise ser da despesa pública, o que não é verdade (ver nosso artigo «A Crise do Euro, III» neste blog onde este assunto é analisado em detalhe); é um mito caro à direita porque coloca a culpa do lado do povo, do lado do chamado «Estado Social», retirando a culpa do lado dos ricos, donos do grande capital. Essa longa desmontagem esperamos fazê-la noutra altura. Para já, comentamos apenas esta afirmação de Catroga: «Os ricos também são poucos. Mesmo que os ricos pagassem 100% de imposto, tínhamos de ir à chamada classe média».
Acha poucos? Que dizer então do facto de, em número de bilionários por habitante, estarmos em 2011, já em plena crise, no destacado lugar de 33.º em 53 países acima de países como a França, Japão e Brasil? (Estudo da revista Forbes de 2011; bilionários são pessoas com fortunas em dinheiro superior a mil milhões de dólares.) Que dizer ainda do facto de em 2008 as fortunas dos 100 mais ricos portugueses valerem 1/5 da riqueza produzida em Portugal? (Exame, Agosto de 2008.) E de em 2011 essa fortuna ter aumentado 17,8%?! (Exame, Agosto de 2011.)
Mas se calhar, dir-me-á que estou a falar de fortunas (que, sabe-se lá, poderão só ter vindo de pais e avozinhos) e não de rendimentos anuais sujeitos a fisco. Olhemos então para este aspecto: segundo a distribuição de rendimentos em Portugal (dados do Eurostat) em 2010 99% das famílias portuguesas tinham um rendimento anual correspondente a 92,4% do PIB. Isto é, os mais ricos, no 1% do topo de rendimentos, detinham em conjunto 7,6% do PIB. Se pagassem de impostos 50% dos rendimentos (vamos ser mais modestos que o Catroga), ainda assim corresponderia a 3,8% do PIB. Digamos que, mesmo assim, era uma excelente ajuda para diminuir a dívida pública; tanto mais que as medidas do Gaspar só a têm aumentado!
Será que Catroga não conhece estes números? Se sim, parece que a conclusão óbvia é de que Catroga é incompetente. Mas provavelmente Catroga até não é tão incompetente como isso; pela nossa parte acreditamos que a sua aldrabice sobre a debilidade dos ricos é premeditada: martelar a ideia de que a culpa da crise é do povo trabalhador.
CDS
Nuno Magalhães, deputado: «Esperaria [que António Costa] pudesse… explicar melhor a situação a que chegámos» Sabem, é que o Nuno Magalhães ainda não percebeu porque chegámos a esta triste situação. Está aí alguém para lhe explicar? Pois se o CDS está limpo e puro que nem uma flor, já que não participa neste governo nem participou em anteriores governos, não é? Hipócrita aldrabice!