sábado, 23 de fevereiro de 2013

«O Inverno do Nosso Descontentamento»

Cerca de 1/3 (29%) das crianças vive na pobreza.

Desde que a Troika manda em Portugal já temos, pelo menos, mais de 300 mil desempregados.

Cerca de 3 milhões de portugueses (1/3 da população) vive abaixo do limiar oficial de pobreza.

150 mil portugueses (1,4% da população) têm salários abaixo de 310€/mês, ou seja, 10€/dia.

339 mil portugueses (3,2% da população) recebem o RSI de 89€/mês, ou seja 2,9€/dia, perto do limiar de pobreza absoluta do Banco Mundial (2,5 dólares/dia).

O corte nos subsídios sociais (desemprego, RSI, etc.) afecta 750 mil portugueses (7,1% da população).

Mas Jardim Gonçalves (BCP) vai manter a reforma mensal de 167.000 €, isto é, 5.567 € por dia!

E Fernando Ulrich do BPI acha que os portugueses devem aguentar com a austeridade porque os sem-abrigo também aguentam.

Os desempregados já são mais de um milhão! (1 milhão e 300.000 segundo a CGTP).

50% dos desempregados têm ensino superior. 40% são jovens.

Os despedimentos colectivos nunca foram tão elevados.

A produção da Renault em Cacia pode ir para França (viva a solidariedade europeia!).

E os Estaleiros de Viana vão para o charco; já não têm dinheiro para o aço dos navios (viva a liquidação do sector produtivo!).

O PIB caiu 3,8% no 4.º trimestre de 2012 (não parou de cair durante 2012).

Mas as fraudes dos bancos são recompensadas (pagam-se biliões ao BNP, BANIF, BCP, CGD, etc.) e até os envolvidos (Franquelim Alves) merecem ir para o governo.

Devido ao remédio da Troika, o dinheiro roubado ao povo português tem servido para aguentar as economias da Alemanha, França, etc. E a dívida não pára de aumentar! Estranho remédio que agrava a doença!

Os juízes deixam os processos acumular-se, mas continuam impávidos e serenos.

E um homicida, pai de juíza, goza de regalias especiais na prisão.

A justiça não funciona! A corrupção campeia!

Das 13 recomendações do Grupo de Estados contra a Corrupção, Portugal só cumpriu uma. A Troika serve de desculpa ao governo para não combater a corrupção.

Vão ser criados cursos de ensino superior com menos de 3 anos. Superiores em quê?

Somos um país cada vez mais velho. Os jovens emigram cada vez mais.

O Estado condena ao fecho o serviço de ortopedia do Centro Hospitalar Póvoa/Vila do Conde, que tinha anteriormente premiado!

O currículo de Passos Coelho omite que foi durante dois anos administrador da empresa de Miguel Relvas.

E o Conselho das Finanças Públicas acha que Portugal vai precisar de mais austeridade

A «grande» manif da CGTP de Sábado passado no Porto foi pequena. Por ditos e dísticos, percebia-se que grande parte dos manifestantes era do PCP. Um terço, de  pensionistas. Jovens, quase nenhuns. A CGTP não está a traduzir as inúmeras lutas dos trabalhadores que irrompem espontaneamente por todo o lado.

Bernardino continua a gostar da Coreia do Norte. E agora com bomba atómica. E o PCP passou a admirar a China. China essa que afirmou que a austeridade fazia bem a Portugal; para já abriu uma agência do Banco da China em Lisboa. Enfim, contradições do «socialismo real».

O 31 de Janeiro aproximou BE do PS e João Semedo acha que as últimas palavras de Seguro na sua visita à Alemanha apontam no bom sentido. Dizíamos no último artigo: «Está-nos cá a parecer que o BE vai brevemente passar uma certidão de bom comportamento ao PS […]». Pois é, o certificado de bom comportamento do PS deve estar quase pronto.

A esquerda, parlamentar e não só, confecciona receituários salvadores do capitalismo e arranjinhos políticos com o PS.

Estão convencidíssimos (e procuram convencer os outros) que os males do país se resolvem com mezinhas: BCE passar a emprestar aos Estados, sobretaxas sobre dividendos, combate à evasão fiscal, etc. Mas, espera: não são estas também receitas da direita?

Uma esquerda desacreditada, dócil, conformada, submissa, acocorada. À Esquerda Nada de Novo. Um reformismo fossilizado. Será, assim, de admirar que a população não os ouça?

Em vários países europeus os estudantes manifestam-se nas ruas. Em Portugal entretêm-se em praxes, festinhas e tunas, com cavaquinhos e batuques, alheados do mundo real.

E nos cafés ouvem-se animadas e preocupadas conversas sobre se o Moreirense terá plantel para subir à 1.ª divisão.

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Escrever sobre Portugal é um exercício cada vez mais deprimente.

Um povo que não se levanta em luta pela sua dignidade, é um povo sem futuro.

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Há quem diga que é preciso um novo 25 de Abril.
Sim. Novo. Inteiramente novo.