segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A vida na URSS do pós-guerra (I) | Life in the post-war USSR (I)

Só recentemente – e infelizmente só recentemente! – deparámos com o site «Para a História do Socialismo. Documentos». Este site português é o melhor que encontrámos até hoje como biblioteca de documentos e artigos de análise sobre o socialismo, em particular da URSS. Os textos estão bem apresentados com boas notas e referências do editor português.

Hoje, vamos contribuir para divulgar desse site um artigo de V.A. Torgachev, que o tradutor e editor português – que assina «CN» -- apresenta assim: «Valéri Antónovicth Torgachev (1938), doutor em Ciências Técnicas, professor, chefe do Laboratório de Estruturas de Computação Distribuída do Instituto de Informática e Automatização de São Petersburgo da Academia de Ciências da Rússia (SPIIRAN). O presente texto foi originalmente publicado no site assinalado em Janeiro de 2013.» Esse site é: http://nstarikov.ru/blog/23233.

O artigo – que apresentamos em 2 partes -- é uma contribuição importante para o desmonte das montanhas de mentiras com que os escrevinhadores burgueses, após a 2.ªGM, pagos para atacar o socialismo, cobriram Estaline e a URSS do seu tempo. Ataque potenciado pelo revisionismo iniciado com Khruchov que desembocou na restauração capitalista de Gorbachov & C.ª. Adicionámos algumas notas identificadas com «JMS».
Only recently – and unfortunately only recently! -- we came across the site “Para a História do Socialismo. Documentos. This Portuguese site is the best to date we have found as a repository of documents and articles on socialism, particularly on the USSR. The texts are well presented with good notes and references from the Portuguese editor.

Today, we contribute to divulging from that site an article by V.A. Torgachev, who the Portuguese translator and editor -- he signs "CN" -- presents as follows: "Valery Antonovich Torgachev (1938), Ph.D. of Technical Sciences, Professor, head of the Laboratory of Distributed Computing Structures of the Saint Petersburg Institute of Informatics and Automation, Russian Academy of Sciences (SPIIRAN). This text was originally published on the noted website in January 2013.” This site is: http://nstarikov.ru/blog/23233.

The article -- which we present in two parts -- is an important contribution to debunking the mountains of lies with which the bourgeois scribblers, after WWII and on the payroll to attack socialism, covered Stalin and the USSR of his time. Attack boosted by the revisionism initiated by Khrushchev which led to the capitalist restoration of Gorbachev & Co. We have added some notes marked “JMS”.


Memórias da URSS. Os anos do pós-guerra (I)

V.A. Torgachev

Tradução do russo para português e edição por CN, 26.01.2014
Memories of the USSR. The postwar years (I)

By V.A. Torgachev

Translation from the Russian to Portuguese and edition by CN, 2014-01-26

[O artigo começa com uma introdução que condensamos -- JMS]
[…]
A singularidade da revolução khruchoviana consistiu no facto de as mudanças se terem prolongado por vários anos, tendo passado praticamente despercebidas à população.
[…]
Até 1960, a URSS tinha uma posição liderante no mundo em domínios como a saúde, educação, ciência e áreas inovadoras da indústria (indústria atómica, construção de foguetões, electrónica, técnica computacional e automatização da produção). No seu conjunto, a economia da URSS só estava atrás da dos EUA, superando significativamente a de quaisquer outros países. No entanto, até 1960, a URSS aproximava-se cada vez mais dos EUA e isolava-se na dianteira face aos restantes países. Depois de 1960 os ritmos de crescimento da economia caíram constantemente e perderam-se as posições liderantes no mundo.

Procurarei de seguida mostrar em detalhe como viviam as pessoas comuns na URSS nos anos 50 do século passado. Apoiando-me em memórias pessoais, relatos de pessoas com quem me encontrei ao longo da vida, bem como em alguns documentos da época que estão acessíveis na Internet, procurarei mostrar o quanto estão longe da realidade as representações actuais sobre um passado tão recente de um grande país. […]

É bom viver no País dos Sovietes!

Imediatamente após o fim da guerra, a vida da população da URSS começou a melhorar acentuadamente. Em 1946 é decretado um aumento de 20 por cento dos salários dos operários, técnicos e engenheiros que trabalhavam nas empresas e obras nos Urais, Sibéria e Extremo Oriente. No mesmo ano são aumentados em 20 por cento os vencimentos dos trabalhadores com formação superior e média especializada (técnicos e engenheiros, investigadores científicos, docentes e pessoal médico). São valorizados os graus e títulos académicos. O salário de um professor doutorado passou de 1600 para até 5000 rublos, um docente pós-graduado [candidato a doutoramento] de 1200 para até 3200 rublos, um reitor de um estabelecimento de ensino superior, de 2500 até 8000 rublos. Nos institutos de investigação científica, o grau académico de pós-graduado correspondia a um acréscimo no vencimento base de 1000 rublos, enquanto um doutorado tinha um acréscimo de 2500 rublos. Nesta altura, o vencimento de um ministro da URSS era de 5000 rublos e um secretário regional do partido auferia 1500 rublos. Estaline, como Presidente do Conselho de Ministros da URSS, tinha um vencimento de 10000 rublos. Naquela época, os rendimentos suplementares dos cientistas na URSS chegavam a superar várias vezes o respectivo salário. Por isso constituíam a parte mais abastada da sociedade soviética e em simultâneo a mais respeitada.

[Os valores indicados são de salários mensais. Em 1946 o rublo valia 0,1887 dólares. 1000 rublos valiam, portanto, 188,7 dólares, ou seja, aproximadamente 2387 dólares de 2017. Note-se, porém, que este equivalente está bastante subvalorizado porque não toma em conta os benefícios sociais e o regime de preços do socialismo da URSS. O autor tomará este aspecto em conta numa tabela abaixo. -- JMS]

Em Dezembro de 1947 deu-se um acontecimento que, pelo impacto emocional nas pessoas, foi comparável com o fim da guerra. Como se afirmava no Decreto do Conselho de Ministros da URSS e do CC do PCU(b), n.º 4004 de 14 de Dezembro, «(….) a partir de dia 16 de Dezembro de 1947 é abolido o sistema de senhas de racionamento no abastecimento de bens alimentícios e artigos industriais, são abolidos os preços elevados no comércio privado e introduz-se um sistema único de preços estatais reduzidos a retalho para os bens alimentícios e artigos industriais (…)» [A URSS foi o primeiro país europeu a abolir o sistema de racionamento após a II Guerra Mundial.]

O sistema de senhas de racionamento, que permitiu durante o período da guerra salvar muitas pessoas de morrerem à fome, suscitava um grande desconforto psicológico depois da vitória. A variedade de produtos vendidos com senhas era extremamente pobre. Por exemplo, nas padarias só havia duas qualidades de pão, de centeio e de trigo, que eram vendidos a peso de acordo com a norma indicada na senha de racionamento. A escolha noutros produtos alimentícios era igualmente pequena. Ao mesmo tempo, no comércio privado havia uma tal abundância de produtos que faria inveja a quaisquer supermercados modernos. Mas os preços nestas lojas eram inacessíveis para a maioria da população, que apenas adquiria ali produtos para ocasiões festivas. Após a abolição do sistema de racionamento toda esta abundância podia encontrar-se em qualquer mercearia a preços bastante acessíveis. Por exemplo, os bolos de pastelaria, que antes só eram vendidos nas lojas privadas, baixaram de 30 para 3 rublos. Em geral, os preços de mercado dos produtos alimentícios baixaram mais de três vezes. Durante o racionamento, os artigos industriais de consumo só se vendiam mediante autorizações especiais, mas a obtenção destas não garantia o acesso às correspondentes mercadorias. Depois da abolição manteve-se durante algum tempo uma certa carência de artigos industriais, mas tanto quanto me lembro, em 1951 já não havia falta destes produtos, pelo menos em Leninegrado.

Entre 1949 e 1951, no dia 1 de Março de cada ano, os preços baixaram em média 20 por cento. Cada baixa de preços era saudada pelo povo como um acontecimento festivo. Quando no dia 1 de Março de 1952 não se verificou uma nova descida dos preços, houve um sentimento de decepção nas pessoas. No entanto, logo em 1 de Abril do mesmo ano os preços voltaram a baixar. A última baixa de preços ocorreu em 1 de Abril de 1953, já depois da morte de Estaline. No período pós-guerra os preços dos alimentos e dos artigos industriais mais comuns baixaram em média mais de duas vezes. Nos oito anos que se seguiram ao fim da guerra [1946-1953], a vida do povo soviético melhorou sensivelmente de ano para ano. Na história da humanidade, não se conhecia semelhante precedente em nenhum país.

É possível avaliar o nível de vida da população da URSS em meados dos anos 50, através dos dados dos inquéritos sobre os orçamentos das famílias de operários, empregados dos serviços e kolkhozianos [1], que foram realizados pela Direcção Central de Estatísticas da URSS (TsSU), entre 1935 e 1958. (Estes materiais, antes classificados como «secretos», estão hoje publicados no site istmat.info [2]). Foram analisados os rendimentos das famílias de nove grupos da população: kolkhozianos, operários dos sovkhozes, operários da indústria, professores do ensino básico e do ensino secundário, médicos e profissionais intermédios da saúde. A parte mais abastada da população, em que se incluíam os operários da indústria militar, o pessoal das organizações de projectos e arquitectura, das instituições científicas, bem como os docentes do ensino superior, os trabalhadores das cooperativas industriais e artesanais e o pessoal militar, infelizmente, não foi objecto de estudo da TsSU.

Dos grupos estudados atrás referidos, os médicos auferiam os rendimentos mais elevados. Cada membro da sua família tinha um rendimento médio mensal de 800 rublos. Da população urbana, os menores rendimentos eram auferidos pelos empregados dos serviços da indústria: 525 rublos por mês por cada membro da família. Na população rural, o rendimento per capita era de 350 rublos. Porém, enquanto os operários dos sovkhozes [1] auferiam o seu rendimento sob a forma monetária, já no que respeita aos kolkhozianos o rendimento era calculado levando também em conta o valor dos bens de produção própria consumidos pela família, [segundo um cabaz de compras. Ver nota 3 - JMS] aos preços fixados pelo Estado.

[Foi com as políticas remuneratórias do tempo de Estaline que a desigualdade social da URSS teve a maior descida, tornando-se a menor do mundo. Ver nota 4 - JMS]

Em todos os grupos da população, incluindo a rural, o consumo de alimentos per capita situava-se aproximadamente no mesmo nível, ou seja, cerca de 200-210 rublos mensais por cada membro da família. Apenas nas famílias de médicos, o valor do cabaz alimentar atingia os 250 rublos mensais, devido a um consumo superior de manteiga, produtos de carne, ovos, peixe e fruta, e inferior de pão e batatas. Os residentes rurais consumiam mais pão, batatas, ovos e leite, mas significativamente menos manteiga, peixe, açúcar e produtos de confeitaria. Deve-se notar que o montante de 200 rublos, gasto em média na alimentação, não estava directamente relacionado com o rendimento da família ou com uma escolha limitada de produtos disponíveis, mas era sobretudo determinado pelos hábitos familiares. Na minha família, que era constituída em 1955 por quatro pessoas, incluindo dois filhos em idade escolar, o rendimento mensal por pessoa era de 1200 rublos. A variedade de produtos nas mercearias era sensivelmente maior dos que nos actuais supermercados. No entanto, os gastos da nossa família em comida, incluindo os pequenos-almoços escolares e os almoços dos pais nas cantinas do trabalho, não ultrapassavam os 800 rublos por mês.

A comida era muito barata nas cantinas das instituições. Numa cantina para estudantes, o almoço, incluindo sopa com carne, um prato de carne, compota de fruta ou um bolo com chá, custava cerca de dois rublos. O pão era gratuito e estava sempre nas mesas. Por isso, nos dias anteriores ao recebimento do estipêndio [bolsa de estudo], alguns estudantes que viviam autonomamente pagavam 20 kopeques pelo chá e alimentavam-se com pão e mostarda. A propósito, a mostarda, sal e pimenta estavam também sempre à disposição nas mesas das cantinas. O estipêndio no instituto onde estudei a partir de 1955 era de 290 rublos (com notas excelentes aumentava para 390 rublos). Os estudantes que não viviam na cidade pagavam 40 rublos pela residência estudantil. Os restantes 250 rublos chegavam perfeitamente para levar uma vida normal de estudante numa grande cidade. Tanto assim era que, em regra, os estudantes que vinham de fora não recebiam ajudas da família nem precisavam de trabalhar nos tempos livres.

Naquele tempo, as lojas de produtos alimentícios de Leninegrado tinham uma grande diversidade de produtos, em particular na secção da peixaria. Várias variedades de caviar vermelho e preto eram apresentadas em grandes tigelas. Havia um sortido completo de salmonídeos de carne branca, fumados a quente e a frio, e de carne vermelha, do keta ao salmão do Atlântico, [5] enguias fumadas e lampreias marinadas, arenques de conserva em lata ou em barril. Peixe vivo de rio ou de viveiros era transportado para as lojas imediatamente após a captura, em camiões cisterna especiais com a inscrição «Peixe». Naquela altura ainda não havia peixe congelado, que só surgiu no início dos anos 60. Havia uma multiplicidade de conservas de peixe, das quais recordo o caboz [6] em molho de tomate, os omnipresentes caranguejos, a 4 rublos a lata, e o produto preferido dos estudantes que viviam em residências estudantis: fígados de bacalhau. As carnes de vaca e de borrego dividiam-se em quatro categorias com preços diferentes consoante a parte da carcaça. Na secção dos semi-preparados havia panados de vitela, entrecôte, febras e escalopes de porco. A variedade de enchidos era substancialmente maior do que agora, e ainda hoje recordo o seu sabor. Agora, só na Finlândia se pode degustar enchidos que fazem lembrar os soviéticos daquela época. Deve referir-se que o sabor da salsicharia cozida foi alterado no início dos anos 60, depois de Khruchov ter ordenado a adição de soja à carne. Esta ordem foi ignorada apenas nas repúblicas do Báltico, onde nos anos 70 ainda se podia comprar uma verdadeira mortadela «medicinal». [7] Bananas, ananases, mangas, romãs e laranjas podiam comprar-se nas grandes lojas ou nas mercearias especializadas durante o ano inteiro. Habitualmente, na nossa família, os legumes e frutas eram comprados no mercado, onde a maior frescura e possibilidade de escolha compensavam os preços mais elevados.

Nos inquéritos da TsSU atrás referidos foram apurados dados sobre o consumo de produtos alimentícios das famílias operárias nas diferentes regiões da República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Entre duas dezenas de produtos, apenas em dois se encontra um desvio substancial (mais de 20%) em relação ao nível de consumo médio. Em média no país cada pessoa consumia 5,5 quilogramas de manteiga por ano. Em Leningrado, porém, a média elevava-se para 10,8 quilogramas e em Moscovo para 8,7 kg, enquanto no oblast de Lipetsk era de 2,2 kg e no oblast de Briansk não passava de 1,7 kg por pessoa. Em todas as outras regiões da Rússia o consumo médio de manteiga per capita nas famílias operárias era superior a três quilos por ano. Temos um quadro semelhante quanto ao consumo de salsicharia. O nível médio no país era de 13 quilos por pessoa e por ano. Em Moscovo o consumo elevava-se a 28,7 kg e em Leningrado a 24,4 kg. Já no oblast de Lipetsk baixava para 4,4 kg e no oblast de Briansk para 4,7kg. Nas restantes regiões a média era superior a 7 quilos por pessoa e por ano. Todavia, o rendimento das famílias operárias em Moscovo e Leningrado era igual ao rendimento médio desta camada da população nas restantes regiões, representando sete mil rublos por ano [583 rublos por mês] por cada membro da família. Em 1957 estive nas cidades do Volga de Ribinsk, Kostroma e Iaroslav. O sortido de bens alimentícios era menor que em Leningrado, mas tanto a manteiga como a salsicharia estavam nas prateleiras das lojas, enquanto a variedade de pescado era talvez mesmo maior que em Leningrado. Deste modo, pelo menos entre 1950 e 1959, a população da URSS estava totalmente abastecida de produtos alimentícios. 

A situação alterou-se radicalmente a partir de 1960. É verdade que em Leningrado isso não se notou particularmente. Apenas me recordo do desaparecimento do comércio das frutas importadas, do milho em conserva e da farinha, produto que tinha a maior relevância para a população. Sempre que aparecia farinha à venda numa loja qualquer formava-se enormes filas, e não se vendia mais que dois quilos por pessoa. Estas foram as primeiras filas que vi em Leningrado desde o final dos anos 40. Nas cidades de menor dimensão, segundo relatos de familiares e amigos, para além da farinha desapareceram do comércio a manteiga, a carne, a salsicharia, o peixe (à excepção de um pequeno conjunto de conservas), os ovos, o frango e as massas alimentícias. A variedade dos produtos de padaria diminuiu acentuadamente. Em 1964 eu próprio vi prateleiras vazias nas mercearias de Smolensk.

Sobre a vida da população rural guardo apenas algumas impressões dispersas (sem considerar os inquéritos sobre os rendimentos realizados pela TsSU da URSS). Em 1951, 1956 e 1962 passei férias nas margens do Mar Negro do Cáucaso. Na primeira vez fui com os meus pais, depois já viajei autonomamente. Naquele tempo, o comboio tinha longas paragens nas estações e até em pequenas subestações. Nos anos 50, durante as paragens, entravam no comboio habitantes locais com diferentes alimentos para vender aos passageiros, nomeadamente frango cozido, frito e fumado, ovos cozidos, enchidos caseiros, pastéis quentes com diferentes recheios, por exemplo, de peixe, carne, fígado ou cogumelos. Em 1962, de comida apenas trouxeram batatas quentes com pepinos salgados. No Verão de 1957 entrei para a brigada estudantil de concertos, organizada pelo Comité do Oblast de Leningrado. Descemos o rio Volga numa pequena embarcação de madeira e dávamos concertos nas aldeias ribeirinhas. Naquele tempo eram poucos os divertimentos nas aldeias e por isso praticamente todos os habitantes vinham assistir aos nossos concertos nos clubes locais. Não se distinguiam da população urbana nem pelo vestuário nem pela expressão facial. Os jantares que nos ofereciam no final dos concertos mostravam que mesmo nas pequenas aldeias não havia falta de produtos alimentícios.

No início dos anos 80, por razões de saúde, estive internado num sanatório situado no oblast de Pskov. Uma vez desloquei-me até à aldeia mais próxima para degustar o leite local. Uma loquaz velhota que veio ao meu encontro rapidamente desfez as minhas esperanças. Disse-me que depois de Khruchov ter proibido a criação individual de gado e de ter retirado as parcelas de terreno aos residentes, a aldeia empobrecera completamente. Os tempos antigos eram recordados como o século de ouro. Desde então a carne desapareceu por completo na dieta dos habitantes rurais, enquanto o leite só ocasionalmente era fornecido às crianças pelo kolkhoz local. Antes havia carne suficiente para abastecimento próprio e para vender no mercado; era isso que garantia o grosso do rendimento das famílias camponesas, e não o que ganhavam no kolkhoz. Noto que, segundo as estatísticas do TsSU da URSS, em 1956, cada habitante rural da Rússia consumia mais de 300 litros de leite por ano, ao mesmo tempo que aos habitantes das cidades cabia entre 80 a 90 litros por ano. Em 1959, o TsSU suspendeu os seus inquéritos secretos sobre os orçamentos familiares.

Em meados dos anos 50, o acesso da população a artigos industriais era bastante elevado. Por exemplo, nas famílias operárias, cada um dos seus membros adquiria mais de três pares de calçado. A qualidade e a variedade de artigos de consumo de produção exclusivamente nacional (vestuário, calçado, loiça, brinquedos, móveis e outros artigos de consumo geral) era muito mais elevada do que nos anos posteriores. Na verdade, a maior parte destes artigos não era produzida em empresas estatais mas em cooperativas. Não obstante, a produção das cooperativas vendia-se nas lojas normais do Estado. As novas tendências da moda eram seguidas instantaneamente, e em poucos meses os artigos da moda apareciam com abundância nas lojas. Por exemplo, em meados dos anos 50 surgiu a moda entre a juventude dos ténis com uma grossa sola de borracha branca, imitando o cantor de rock'n'roll Elvis Presley, extremamente popular naqueles anos. No Outono de 1955, comprei calmamente um par destes ténis de produção nacional num grande armazém do Estado, juntamente com outros artigos de moda, designadamente uma gravata estampada com cores vivas. A única coisa que nem sempre se encontrava à venda eram as gravações discográficas mais populares. No entanto, em 1955, tinha discos de praticamente todos os mais conhecidos músicos e cantores de jazz norte-americanos, comprados em lojas normais, tais como Duke Ellington, Benny Goodman, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Glenn Miller, etc. Apenas as gravações de Elvis Presley, reproduzidas ilegalmente em película de radiografia usada (como então se dizia gravadas «nos ossos»), tive de comprar fora do circuito comercial. Não me recordo de artigos importados naquele período. Tanto o vestuário como o calçado eram produzidos em pequenas séries e com uma grande variedade de modelos. Além disso, era muito comum a confecção de vestuário e calçado por medida nos numerosos ateliers de costura e malhas ou nas oficinas de sapateiros que estavam integrados em cooperativas de artesãos. Havia muitos alfaiates e sapateiros que trabalhavam individualmente. As fazendas eram o artigo mais corrente na época. E ainda hoje me lembro dos nomes dos tecidos mais populares, como o drap, cheviote [tweed], boston, crepe da china, etc.

Entre 1956 e 1960 [com Khruchov] decorreu o processo de liquidação das cooperativas artesanais. A maior parte destas empresas foi estatizada e as restantes encerraram ou ficaram em situação ilegal. Foi também proibido o licenciamento da produção individual. Diminuiu bruscamente a produção de quase todos as mercadorias de consumo geral, tanto em volume como em variedade. Foi precisamente nessa altura que surgiram artigos de consumo importados, que se esgotavam de imediato apesar do seu alto preço e do limitado sortido.

Posso ilustrar a vida da população da URSS em 1955 a partir do exemplo da minha família. O meu pai, de 50 anos, era chefe de departamento de um Instituto de Projectos. A minha mãe, de 45 anos, era engenheira-geóloga da Lenmetrostroi [empresa de construção do metro de Leningrado]. Eu, com 18 anos, tinha terminado a escola secundária. O meu irmão, de dez anos, estava na escola básica. O rendimento da família era constituído por três parcelas: os vencimentos base (2200 rublos do meu pai e 1400 rublos da minha mãe); o prémio trimestral pelo cumprimento do plano (normalmente 60 por cento do vencimento); e um prémio suplementar por trabalho realizado acima do plano. Não me recordo se a minha mãe recebia este último prémio, mas era normal o pai recebê-lo uma vez por ano. Em 1955 o prémio foi de 6000 rublos. Nos outros anos rondava mais ou menos o mesmo valor. Lembro-me de o meu pai, depois de receber este prémio, espalhar na mesa de jantar várias notas de cem rublos em forma de jogo de paciência de cartas. Depois preparámos um jantar festivo.

O rendimento médio mensal da nossa família era de 4800 rublos ou 1200 por pessoa, como já referi. Deste montante, 550 rublos eram destinados a impostos e quotizações do partido e dos sindicatos. Na alimentação gastava-se 800 rublos; 150 eram para pagar o alojamento e os serviços comunais (água, aquecimento, electricidade, gás, telefone); 500 rublos eram gastos em vestuário, calçado, transportes e lazer. Deste modo, as despesas regulares da nossa família de quatro pessoas representavam 2000 rublos por mês. Restavam 2800 rublos mensais ou seja 33 600 rublos por ano.

Os rendimentos da nossa família estavam mais próximos do nível médio do que do alto. Os rendimentos mais elevados eram auferidos pelos trabalhadores do sector privado (as cooperativas), que constituíam mais de cinco por cento da população urbana. Também os oficiais do exército, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Segurança do Estado recebiam salários elevados. Por exemplo, um tenente comandante de pelotão ganhava entre 2600 e 3600 rublos por mês, consoante a região em que estivesse destacado. Além disso, os vencimentos dos militares estavam isentos de impostos. Para dar uma ideia dos rendimentos dos trabalhadores da indústria militar refiro como exemplo o caso de uma jovem família amiga, que trabalhava no gabinete de construções experimentais do Ministério da Indústria Aeronáutica. O marido, com 25 anos, engenheiro principal, tinha um vencimento de 1400 rublos e um rendimento mensal, contando com os diferentes prémios e comissões de serviço, de 2500 rublos. A mulher, de 24 anos, técnica superior, tinha 900 rublos de vencimento e um rendimento mensal de 1500 rublos. Ao todo esta família de duas pessoas ganhava 4000 rublos por mês. Por ano punham de lado cerca de 15000 rublos. Penso que uma parte significativa das famílias citadinas podia economizar anualmente entre 5000 e 10000 rublos.

Os automóveis destacavam-se entre os artigos mais dispendiosos. A variedade de modelos não era grande, mas não havia qualquer dificuldade em adquiri-los. Em Leningrado, o salão automóvel situava-se no grande centro comercial «Aparksine Dvor». Lembro-me de que em 1955 estavam ali expostos para venda livre os seguintes modelos de automóveis: o «Moskvitch» 400 por 9000 rublos (classe económica), o «Pobiéda» por 16000 rublos (classe executiva) e o «ZIM», predecessor do «Thaika», por 40000 rublos (classe representativa). As poupanças da nossa família eram suficientes para comprar qualquer destes automóveis, incluindo o «ZIM». Mas o Moskvitch era o automóvel mais acessível para a maioria da população. No entanto, naquele tempo, não havia grande procura de automóveis, pois eram vistos como brinquedos caros que acarretavam muitos problemas na sua utilização e manutenção. O meu tio tinha um Moskvitch que utilizava apenas algumas vezes por ano em viagens para fora da cidade. Comprou-o ainda em 1949 apenas porque no pátio da sua casa havia um antigo estábulo que pôde transformar em garagem. Ao meu pai propuseram-lhe a compra de um Willys, o todo-o-terreno militar norte-americano, por apenas 1500 rublos, mas ele recusou pois não tinha sítio para guardar o automóvel.

No pós-guerra era comum as pessoas procurarem pôr de lado o máximo de dinheiro possível. Lembravam-se bem de que nos anos da guerra o dinheiro podia salvar vidas. No período mais difícil do bloqueio de Leninegrado continuou a funcionar um mercado onde se podia comprar todo o tipo de alimentos ou trocá-los por objectos. Nas notas do meu pai sobre o bloqueio, com data de Dezembro de 1941, estão indicados os preços bem como os respectivos equivalentes em objectos de valor nesse mercado: 1 kg de farinha = 500 rublos = um par de botas de feltro; 2 kg de farinha = um casaco de pele de astracã; 3 kg de farinha = um relógio de ouro. Porém, as dificuldades em obter alimentos não existiam só em Leningrado. No Inverno de 1941-1942, as pequenas cidades de província, onde não havia indústria militar, deixaram de ser abastecidas com víveres. A população destas cidades sobrevivia graças à troca de artigos pessoais e domésticos por alimentos fornecidos pelos camponeses das aldeias vizinhas. Nessa época, a minha mãe era professora primária na cidade de Belozersk, sua terra natal e uma das mais antigas cidades da Rússia. Como mais tarde nos contou, em Fevereiro de 1942, mais de metade dos seus alunos morreram de fome. Nós sobrevivemos apenas porque na nossa casa, ainda dos tempos anteriores à revolução, havia muitos objectos que eram apreciados nas aldeias. Mas a avó da minha mãe também morreu de fome em Fevereiro de 1942 porque prescindiu da sua comida para a neta e o seu bisneto de quatro anos. A minha única boa recordação dessa altura foi o presente de ano novo oferecido pela minha mãe: era um bocado de pão escuro com uma fina camada de açúcar, ao qual a minha mãe chamou bolo. Só viria a comer o primeiro verdadeiro bolo em Dezembro de 1947, quando inesperadamente me vi rico. No meu mealheiro de criança havia mais de 20 rublos em trocos, e as moedas tinham sido mantidas na reforma monetária. Só em Fevereiro de 1944, quando regressámos a Leningrado depois do levantamento do bloqueio, deixei de ter a sensação permanente de fome. Em meados dos anos 60, a memória dos horrores da guerra começou a dissipar-se. Surgiu uma nova geração que já não se preocupava com poupanças, e começou a haver falta de automóveis, apesar de nessa altura serem três vezes mais caros, tal como de muitos outros artigos.

Deixo aqui alguns preços de 1955: pão de centeio, 1 rublo/kg; carcaça, 1,5 rublos/0,5 kg; carne, 12,5-18 rublos/kg; peixe vivo (carpa), 5 rublos/kg; caviar de esturjão, 180 rublos/kg; almoço numa cantina, 2-3 rublos; sapatos de couro, 150-250 rublos; bicicleta «Turist» de três velocidades, 900 rublos; motociclo IJ-49 com motor de 350 c.c., 2500 rublos; bilhete de cinema, 0,5-1 rublo; bilhete de teatro ou concerto, 3-10 rublos.

Tentarei avaliar o nível de vida da população da URSS em 1955 através da comparação dos orçamentos familiares de agregados soviéticos e norte-americanos, compostos por quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). A título de exemplo tomamos três famílias médias norte-americanas: a primeira em 1955, segundo dados do Gabinete de Recenseamento da População dos EUA; a segunda em 2010, na base de dados do Ministério do Trabalho dos EUA; e uma terceira família verdadeira do Estado de Virgínia, que concordou em nos fornecer informações sobre o seu orçamento em 2011.

Do lado soviético analisaremos os orçamentos de duas famílias médias, uma rural e outra urbana, em 1955, constituídas por quatro pessoas, de acordo com os dados da Direcção Central de Estatísticas da URSS (TsSU), e da minha própria família em 1966, altura em que registava diariamente os rendimentos e despesas familiares.

Dado que temos diferentes unidades monetárias nestes dois países e três períodos, utilizaremos na análise dos orçamentos o rublo/Estaline de 1947. O poder de compra deste rublo era equivalente ao poder de compra do dólar actual ou a 30 rublos actuais. Em 1955, o dólar norte-americano correspondia a seis rublos/ Estaline (na cotação em ouro – quatro rublos) [confirmámos a cotação em ouro - JMS]. Em 1961, em resultado da reforma monetária de Khruchov, cada rublo passou a equivaler a dez dos anteriores. No entanto, devido ao aumento dos preços de mercado e dos fixados pelo Estado, o poder de compra do rublo baixou cerca de 1,6 vezes. Deste modo o rublo na época de Khruchov equivalia não a dez, mas a seis rublos da época de Estaline (na cotação em ouro de 1961, um dólar = 90 kopeques) [confirmámos a cotação em ouro - JMS].
[The article begins with an introduction which we condense - JMS]
[...]
The uniqueness of the Khrushchevian revolution was that the changes went on for several years, having passed almost unnoticed by the population.
[...]
Until 1960, the USSR had a leading position in the world in fields such as health, education, science and innovative areas of industry (atomic industry, rocket construction, electronics, computer technology and automation of production). On the whole, the economy of the USSR was only behind the US, and significantly surpassed that of any other countries. However, until 1960, the USSR became increasingly close to the United States and isolated in front of other countries. After 1960 the growth rates of the economy fell steadily and the leading positions in the world were lost.

In what follows I will try to show in detail how ordinary people lived in the USSR in the years 50 of last century. By relying on personal memories, accounts of people I have met throughout my life, as well as on some documents of the time that are accessible on the Internet, I will try to show how far from reality are the present representations of a recent past from a great country.
[...]

It is good to live in the Land of Soviets!

Immediately after the end of the war, the life of the population of the USSR began to improve markedly. In 1946 a 20 percent increase in the salaries of the workers, technicians and engineers who worked in enterprises and constructions in the Urals, Siberia and Far East, was decreed. In the same year the salaries of the upper and middle-skilled workers (technicians and engineers, scientific researchers, teachers and medical personnel) were increased by 20 per cent. Academic degrees and titles were valued. The salary of a doctorate professor increased from 1600 up to 5000 rubles, a postgraduate professor [doctoral candidate] from 1200 to up to 3200 rubles, a dean of a higher education institution, from 2500 up to 8000 rubles. In the institutes of scientific research, the postgraduate degree corresponded to an increase in the basic salary of 1000 rubles, while a doctorate had an increase of 2500 rubles. At this point, the salary of a minister of the USSR was 5000 rubles and a regional secretary of the party earned 1500 rubles. Stalin, as President of the Council of Ministers of the USSR, had a salary of 10000 rubles. At that time, the supplementary income of scientists in the USSR was several times higher than their salary. That is why they constituted the most affluent part of Soviet society and at the same time the most respected.

[The amounts indicated are monthly salaries. In 1946 the ruble was worth $ 0.1877. 1000 rubles were therefore worth $ 188.7, that is about $ 2387 as of 2017. It should, however, be noted that this equivalent is greatly undervalued because it doesn’t take into account the social benefits and price system of Soviet socialism. The author will take this aspect into consideration in a table below. - JMS]

In December 1947 there was an event which, because of the emotional impact on the people, was comparable to the end of the war. As stated in the Decree of the Council of Ministers of the USSR and the CC of the CPU(b), no. 4004 of December 14, "(...) from 16 December 1947 is abolished the system of rationing tickets for the supplying of food and industrial goods, high prices in private trade are abolished, and a single system of reduced retail prices for food and industrial goods is introduced (...)" [The USSR was the first European country to abolish the rationing system after World War II.]

The system of rationing tickets, which allowed saving many people from dying of starvation during the war, aroused great psychological discomfort after the victory. The variety of products sold with tickets was extremely poor. For example, in bakeries there were only two qualities of bread, rye and wheat, which were sold by weight according to the norm indicated in the rationing ticket. The choice of other food products was also small. At the same time, in the private trade there was such an abundance of products that would cause the envy of any modern supermarket. But the prices in these stores were inaccessible to the majority of the population, who only purchased products there for festive occasions. After the abolition of the rationing system all this abundance could be found in any grocery store at very affordable prices. For example, pastry cakes, which previously were only sold in private stores, fell from 30 to 3 rubles. In general, market prices for food products have fallen more than threefold. During rationing, industrial consumer goods were sold only with special authorizations, but obtaining them did not guarantee access to the corresponding goods. After the abolition a certain shortage of industrial goods remained for some time, but as far as I remember, in 1951 there was no shortage of these products, at least in Leningrad.

On March 1 of each year, between 1949 and 1951, prices fell by an average of 20 percent. Each price drop was hailed by the people as a festive event. When on March 1, 1952, there was no further decline in prices, there was a sense of disappointment in the people. However, as of April 1 of the same year, prices fell again. The last price drop occurred on April 1, 1953, after Stalin's death. In the post-war period, the prices of food and of the most common industrial commodities fell more than twice on average. In the eight years following the end of the war [1946-1953], the life of the Soviet people improved markedly from year to year. In the history of mankind, no such precedent was known in any country.

It is possible to assess the standard of living of the population of the USSR in the mid-1950s, based on surveys of the budgets of the families of workers, service employees and kolkhozians, [1] which were carried out by the Central Bureau of Statistics of the USSR (TsSU) between 1935 and 1958. (These materials, previously classified as "secrets", are now published on the website istmat.info [2]). The income of the families of nine population groups -- kolkhozians, sovkhoz workers, industry workers, primary and secondary school teachers, doctors and intermediate health professionals -- were analyzed. The wealthiest part of the population -- including military industry workers, staff of project and architecture organizations, scientific institutions, as well as higher education teachers, workers in industrial and craft cooperatives, and military personnel -- was not, unfortunately, studied by TsSU.

As regards the groups mentioned above, physicians received the highest incomes. Each member of a physician’s family had an average monthly income of 800 rubles. Regarding the urban population, the lowest incomes were earned by the employees of the industry services: 525 rubles per month for each family member. In the rural population, the income per capita was 350 rubles. But while the workers of the sovkhozes [1] received their income in the form of money, as far as the kolkhozians were concerned, income was also calculated by taking into account the value of the self-produced goods consumed by the family [according to a consumer’s basket. See note 3 -- JMS] at the prices fixed by the State.

[It was with the remuneration policies of Stalin’s time that the social inequality of the USSR had the largest decline, becoming the smallest in the world. See note 4 - JMS]

In all groups of the population, including the rural population, the per capita food consumption was approximately at the same level, i.e., around 200-210 rubles per month for each family member. Only in medical families did the value of the food basket reach 250 rubles a month, due to a higher consumption of butter, meat products, eggs, fish and fruit, and lower in bread and potatoes. Rural residents consumed more bread, potatoes, eggs and milk, but significantly less butter, fish, sugar and confectionery products. It should be noted that the amount of 200 rubles, spent on average on food, was not directly related to family income or to a limited choice of available products, but was mainly determined by family habits. In my family, which was constituted in 1955 by four people, including two children of school age, the monthly income per person was 1200 rubles. The variety of products in the grocery stores was appreciably greater than in today’s supermarkets. In spite of that, our family's food expenses, including school breakfasts and parents' lunches in the work canteens, did not exceed 800 rubles a month.

The food was very cheap in the canteens of the institutions. In a student canteen, lunch, including soup with meat, a meat dish, fruit compote or a cake with tea, cost about two rubles. The bread was free and always on the tables. Therefore, in the days before receiving the stipend [study grant], some students who lived independently paid 20 kopecks for tea and ate bread with mustard. By the way, the mustard, salt and pepper were also always available on the tables in the canteens. The stipend in the institute where I studied since 1955 was 290 rubles (if one had excellent grades it increased to 390 rubles). Students who did not live in the city paid 40 rubles for the student residence. The remaining 250 rubles were perfectly enough to carry on a normal student life in a large city. So much so, that as a rule the students who came from outside did not receive help from the family nor did they need to work in their free time.

At that time, Leningrad food stores had a great diversity of products, particularly in the fish market section. Several varieties of red and black caviar were presented in large bowls. There was a complete assortment of white meat salmonids, smoked hot and cold, and of red meat salmonids, from keta to Atlantic salmon [5], smoked eels and marinated lampreys, canned or in barrel. Live fish from the river or nurseries were transported to the shops immediately after the capture, in special tankers with the inscription “Fish”. At that time there was still no frozen fish, which only appeared in the early 60's. There were a multitude of fish preserves, from which I recall the goby [6] in tomato sauce, the omnipresent crabs, at 4 rubles a can, and the favorite product of students living in student residences: cod livers. Cow and lamb meat were divided into four categories with different prices depending on the part of the carcass. In the section of the semi-prepared there were veal scallops, spare ribs, pork steaks and pork scallops. The variety of sausages was substantially larger than nowadays, and I still recall their flavors today. Presently, it is only in Finland that one can taste sausages that remind the soviet ones of that time. It should be noted that the taste of cooked sausages was changed in the early 1960s, after Khrushchev ordered the addition of soya to the meat. This order was ignored only in the Baltic republics, where in the 1970s a true "medicinal" mortadella [7] could still be bought. Bananas, pineapples, mangoes, pomegranates and oranges could be bought in large stores or in specialized grocery stores all year round. Usually, in our family, the vegetables and fruits were bought in the market, where the greater freshness and possibility of choice compensated the higher prices.

Data on the consumption of food products by working families in the different regions of the Russia Soviet Federative Socialist Republic were established in the TsSU surveys referred to above. From among two dozen products, in only two are found a substantial deviation (more than 20%) from the average consumption level. On average each person in the country consumed 5.5 kilograms of butter per year. In Leningrad, however, the average came as high as 10.8 kilograms and in Moscow was 8.7 kilograms, whereas in the Lipetsk oblast it was 2.2 kilograms and in the Briansk oblast it was only 1.7 kilograms per person. In all other regions of Russia the average consumption per capita of butter in the working-class families was more than three kilos per year. We have a similar picture for the consumption of sausages. The average level in the country was 13 kilos per person per year. In Moscow the consumption was 28.7 kg and in Leningrad 24.4 kg. However, it lowered to 4.4 kg in the oblast of Lipetsk and to 4.7 kg in the oblast of Briansk. In the other regions the average was over 7 kilos per person per year. Nevertheless, the income of the working families in Moscow and Leningrad was equal to the average income of this section of the population in the other regions, representing 7 thousand rubles per year [583 rubles per month] for each member of the family. I went in 1957 to the cities of the Volga of Ribinsk, Kostroma and Yaroslav. The food assortment was smaller than in Leningrad, but both butter and sausage products were on the store shelves, and the variety of fish was perhaps even larger than in Leningrad. Thus, at least from 1950 to 1959, the population of the USSR was fully supplied with food.

The situation changed radically since 1960. It is true that in Leningrad this was not particularly noticed. I only remember the disappearance of the commerce in imported fruits, canned corn and flour, a product that had the greatest relevance for the population. Whenever flour appeared on the market for sale in any store, huge queues were formed, and no more than two kilos per person were sold. These were the first queues I had seen in Leningrad since the late 1940s. According to reports from family members and friends, in addition to flour, butter, meat, sausages and fish also disappeared from the commerce butter, meat, sausages, fish (except a small set of preserves), eggs, chicken and pasta. The variety of bakery products declined sharply. In 1964 I saw empty shelves in the Smolensk grocery stores.

As regards the life of the rural population I only have a few scattered impressions (not counting the surveys on the income realized by the TsSU of the USSR). In 1951, 1956 and 1962 I went on vacations to the shores of the Black Sea in the Caucasus. The first time, I went there with my parents; afterwards I traveled autonomously. At that time, the train had long stops at stations and even at small substations. In the 50's, during the stopovers, local people came in with different foods to sell to the passengers, including cooked, fried and smoked chicken, boiled eggs, homemade sausages, warm pastries with different fillings, for example fish, meat, liver or mushrooms. In 1962, they only came with hot potatoes and salted cucumbers. In the summer of 1957 I joined the student concert brigade organized by the Leningrad Oblast Committee. We went down the Volga River on a small wooden boat and gave concerts in the riverside villages. At that time there were few amusements in the villages and therefore virtually all the inhabitants came to attend our concerts in the local clubs. They did not distinguish themselves from the urban population neither by clothing nor by facial expression. The dinners they offered us at the end of the concerts showed that even in small villages there was no lack of food products.

In the early 1980s, for health reasons, I was admitted to a sanatorium on the oblast of Pskov. Once, I went to the nearest village to taste the local milk. An old talkative woman who came to meet me quickly undid my hopes. She told me that after Khrushchev had forbidden the individual breeding of livestock and had withdrawn land plots from the residents, the village was completely impoverished. The old times were remembered as the golden century. Since then the meat had completely disappeared from the diet of the rural inhabitants, while the milk was only occasionally supplied to the children by the local kolkhoz. Previously there was enough meat for own consumption and for sale in the market; this was what guaranteed the bulk of peasant families' income, not what they earned in the kolkhoz. I note that, according to the TsSU statistics of the USSR, in 1956, every rural inhabitant of Russia consumed more than 300 liters of milk per year, while at the same time the townspeople had between 80 and 90 liters per year. In 1959, TsSU suspended its secret inquiries on family budgets.

By the mid-1950s, population access to industrial goods was quite high. For example, in the workers’ families, each of their members acquired more than three pairs of footwear. The quality and variety of domestically produced consumer goods (clothing, footwear, dishware, toys, furniture and other articles of general consumption) was much higher than in subsequent years. In fact, most of these articles were not produced in state-owned enterprises but in co-operatives. Nevertheless, the production of the co-operatives was sold in the normal stores of the State. The new fashion trends were followed instantly, and in a few months the fashionable articles appeared abundantly in the stores. For example, in the mid-1950s there was a fashion among the youth of sneakers with a thick white rubber outsole, imitating the rock' n' roll singer Elvis Presley, extremely popular in those years. In the autumn of 1955, I calmly bought a pair of these nationally produced sneakers in a large department store along with other fashion items, namely a tie printed in bright colors. The only thing that was not always on sale were the most popular sound recordings. However, in 1955, I had albums of practically all of the best-known American jazz musicians and singers, bought in regular stores, such as Duke Ellington, Benny Goodman, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Glenn Miller, etc. Only the Elvis Presley's recordings, illegally reproduced on used X-ray film (as they said then, written “on the bones”), I had to buy outside the commercial circuit. I do not remember imported articles in that period. Both clothing and footwear were produced in small series and with a wide variety of models. In addition, it was very common to make tailor-made clothing and footwear at numerous sewing and knitting workshops or at shoemakers' workshops that were integrated into artisan co-operatives. There were many tailors and cobblers who worked individually. Cloths were the most common item at the time. And even today I remember the names of the most popular fabrics, such as drap, cheviote [tweed], boston, china crepe, etc.

Between 1956 and 1960 [with Khrushchev] the process of liquidation of the artisanal co-operatives took place. Most of these companies were nationalized and the rest closed or became illegal. Licensing of individual production was also prohibited. The production of almost all commodities of general consumption was sharply reduced, both in volume and variety. It was precisely at that time that imported consumer goods emerged, which were immediately sold out despite their high price and limited stock.

I can illustrate the life of the population of the USSR in 1955 from the example of my family. My father, 50-years old, was the head of a department of an Institute of Projects. My mother, 45-years old, was an engineer-geologist at Lenmetrostroi [Leningrad metro construction company]. I, at 18, had finished high school. My 10-years old brother was in the elementary school. The family income consisted of three components: the basic salaries (2200 rubles of my father and 1400 rubles of my mother); the quarterly bonus for compliance with the plan (usually 60 percent of the dues); and an additional bonus for work performed above the plan. I do not remember whether my mother received the latter bonus, but it was normal for father to receive it once a year. In 1955 the bonus was 6000 rubles. In other years it was more or less the same value. I remember my father, after receiving this bonus, spreading on the dinner table several hundred-ruble notes in the form of card-game solitaire. We then prepared a festive dinner.

The average monthly income of our family was 4800 rubles or 1200 per person, as I have already mentioned. Out of this amount, 550 rubles were intended for taxes and contributions for the party and trade unions. 800 rubles were spent in food; 150 were to pay for housing and communal services (water, heating, electricity, gas, telephone); 500 rubles were spent on clothing, footwear, transport and leisure. Thus the regular expenses of our family of four amounted to 2000 rubles per month. There remained 2800 rubles per month, or 33,600 rubles per year.

Our family's incomes were closer to the middle than to the high level. The highest incomes were earned by private sector workers (the co-operatives), who made up more than five per cent of the urban population. Army Officers, the Ministry of Foreign Affairs and the Ministry of State Security also received high salaries. For example, a lieutenant commanding a platoon earned between 2600 and 3600 rubles per month, depending on the region in which he was posted. In addition, the salaries of the military were exempt from taxes. To give an idea of the income of the military industry workers, I refer to the case of a young friendly family who worked at the office of experimental constructions of the Ministry of Aeronautics. The husband, 25 years old, chief engineer, had a salary of 1400 rubles and a monthly income, adding the different bonuses and service commissions of 2500 rubles. The 24-year-old wife, a high technician, had 900 rubles salary and a monthly income of 1,500 rubles. In all, this family of two people earned 4000 rubles a month. They put aside per year around 15000 rubles. I think that a significant part of the city's households could save annually between 5000 and 10000 rubles.

Cars stood out among the most expensive items. The variety of models was not great, but there was no difficulty in acquiring them. In Leningrad, the car stand was located in the large shopping center “Aparksine Dvor”. I remember that in 1955 the following car models were there exhibited for sale: the “Moskvitch” 400 for 9000 rubles (economy class), the “Pobieda” for 16000 rubles (business class) and the “ZIM”, predecessor of the "Thaika", for 40000 rubles (representative class). Our family's savings were enough to buy any of these cars, including the “ZIM”. But the Moskvitch was the most accessible car for most of the population. However, at that time, there was no great demand for cars, as they were seen as expensive toys that entailed many problems in their use and maintenance. My uncle had a Moskvitch that he used only a few times a year on trips out of town. He bought it in 1949 only because in the courtyard of his house there was an old stable that he could transform into a garage. My father was offered the purchase of a Willys, the American military all-terrain, for only 1500 rubles, but he refused because he had no place to store the car.

In the post-war era it was common for people to try to set aside as much money as possible. They remembered that in the war years money could save lives. In the most difficult period of the Leningrad blockade, a market continued to operate where all types of food could be bought or exchanged for objects. In my father's notes on the blockade, dated December 1941, the prices and their equivalents in valuables in this market are indicated: 1 kg of flour = 500 rubles = a pair of felt boots; 2 kg of flour = an astrakhan fur coat; 3 kg of flour = a gold watch. But the difficulties in obtaining food did not exist only in Leningrad. In the winter of 1941-42, the small provincial towns where there was no military industry, were no longer supplied with provisions. The population of these cities survived thanks to the exchange of personal and household items for food provided by peasants in the surrounding villages. At that time, my mother was a primary school teacher in the city of Belozersk, her native land and one of the oldest cities in Russia. As she later told us, in February 1942 more than half of her students died of starvation. We survived only because in our home, even before the revolution, there were many objects that were appreciated in the villages. But my mother's grandmother also starved to death in February 1942 because she dispensed with her food for her granddaughter and her four-year-old grandson. My only good memory of that time was the New Year's gift offered by my mother: it was a bit of dark bread with a thin layer of sugar, which my mother called cake. I would only eat the first real cake in December 1947, when I suddenly found myself rich. In my child's piggy bank there were more than 20 rubles in exchange, and the coins had been kept in the monetary reform. It was not until February 1944, when we returned to Leningrad after the lifting of the blockade, that I ceased to have the permanent sensation of hunger. In the mid-1960s, the memory of the horrors of war began to dissipate. A new generation emerged that no longer cared about savings, and there was a shortage of cars, though at that time they were three times as expensive, as with many other articles.

I present here some prices for 1955: rye bread, 1 ruble / kg; wheat loaf, 1.5 rubles / 0.5 kg; meat, 12.5-18 rubles / kg; live fish (carp), 5 rubles / kg; caviar of sturgeon, 180 rubles / kg; lunch in a canteen, 2-3 rubles; leather shoes, 150-250 rubles; three-speed "Turist" bicycle, 900 rubles; motorcycle IJ-49 with 350 c.c. motor, 2500 rubles; movie ticket, 0.5-1 ruble; theater or concert ticket, 3-10 rubles.

I will try to evaluate the standard of living of the population of the USSR in 1955 by comparing the family budgets of Soviet and American households with four people (two adults and two children). As an example we take three average North American families: the first one from 1955, according to data of the US Population Census Bureau; the second one, in 2010, from the US Department of Labor database; and a third one, a true Virginia family, who agreed to provide us with information about their budget in 2011.

On the Soviet side, we will analyze the budgets of two average families, one rural and one urban, in 1955, made up of four people, according to data from the Central Bureau of Statistics of the USSR (TsSU), and my own family in 1966, for which I have recorded daily income and family expenses.


Given that we have different currency units in these two countries, and three periods, we will use the Stalin ruble of 1947 in the analysis of budgets. The purchasing power of this ruble was equivalent to the purchasing power of today’s dollar, or 30 today’s rubles. In 1955, the US dollar corresponded to six Stalin rubles (exchange rate in gold -- four rubles) [we have confirmed this exchange rate in gold - JMS]. In 1961, as a result of Khrushchev's monetary reform, each ruble was equal to ten of the previous ones. However, due to the increase in market prices and those established by the State, the purchasing power of the ruble fell about 1.6 times. Thus the ruble in Khrushchev's time amounted not to ten, but to six rubles from the time of Stalin (at the gold exchange rate of 1961, one dollar = 90 kopecks) [we have confirmed the exchange rate in gold - JMS].

[Comparação de agregados familiares soviéticos e norte-americanos, compostos por quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). Valores em dólares por conversão do rublo/Estaline -- JMS]
[Comparison of Soviet and American households, consisting of four people (two adults and two children). Values ​​in dollars with conversion of the Stalin ruble -- JMS]


EUA
USA

URSS
USSR

1955
2010
2011

1955
rural rural
1955
urbana urban
1966
Rendimento anual
Annual income
30 000
62 000
94 000

17 000
30 000
13 000
Imposto de rendimento
Tax on income
3 000
13 000
21 000

400
2 000
-
Descontos para reforma
Discounts for pension
-
5 400
4 000

-
-
-
Despesas em saúde
Health expenses
1 800
3 100
2 000

-
-
-
Habitação
House
12 000
21 000
22 000

-
2 000
1 800
Transportes
Transports
3 600
7 600
9 500

-
-
300
Alimentação
Food
8 100
6 300
10 000

10 000
10 000
6 000
Gastos correntes e lazer
Daily and leisure expenses
1 500
5 600
15 500

3 000
6 000
1 500
Educação
Education
-
-
10 000

500
500
-
Ama
Nanny
-
-
-

-
-
1 500
Férias
Holidays
-
-
3 000

-
-
1 900
Restante
Remaining
-
-
-3 000

3 100
9 500
-


O quadro anterior necessita de algumas explicações. A frequência do ensino básico, no qual estão as crianças da terceira família norte-americana (com seis e dez anos de idade), é gratuita. Mas os almoços escolares ($2,5), o transporte escolar e as actividades de ocupação dos tempos livres são pagos, custando $5000 por ano e por criança. Assim, não se compreende que as despesas escolares sejam omitidas nas estatísticas norte-americanas.

Em 1955, na URSS, um pequeno-almoço quente na escola primária custava um rublo, a escola estava perto de casa e os grupos de ocupação de tempos livres eram gratuitos. Os gastos mais elevados em alimentação da terceira família norte-americana, a mais abastada, devem-se ao facto de uma parte dos produtos serem comprados numa mercearia exclusiva de «produtos biológicos» a preços mais altos. Além disso, os almoços diários durante o tempo de trabalho custam 2500 dólares por ano. Nesta família pode-se incluir nos gastos em lazer o tradicional jantar semanal no restaurante (50 dólares pelo jantar e 30 dólares pela ama contratada para ficar em casa com as crianças), bem como pelas aulas de natação das crianças na piscina com treinador (uma vez por semana – $90). Nos gastos correntes, a limpeza da casa duas vezes por mês e a lavandaria representam 2800 dólares por ano, enquanto o calçado, vestuário e brinquedos para as crianças orçam em 4200 dólares.

Ainda no quadro anterior, a terceira família soviética está mais próxima do grupo das famílias pobres do que da média estatística. Estava então a fazer a pós-graduação. O meu rendimento era constituído pelo estipêndio de 1000 rublos nominais da época de Estaline e meio vencimento de colaborador científico assistente no valor de 525 rublos/Estaline. A esposa era estudante e recebia um estipêndio de 290 rublos. Os estipêndios estavam isentos de impostos assim como os salários inferiores a 700 rublos. A minha filha com apenas dois anos, não tinha idade para entrar no jardim-de-infância. Por isso, vivia connosco uma ama que recebia 250 rublos. Comprávamos uma grande variedade de bens alimentícios. A fruta representava mais de um terço do valor do nosso cabaz de alimentos. Nas minhas anotações não ressalta qualquer intenção de limitar as despesas. Por exemplo, todos os meses, aparecem registadas despesas com táxis.

A família de quatro pessoas, incluindo a ama, vivia num apartamento de dois quartos, adquirido num edifício cooperativo, em 1963, pouco depois de termos casado. Nessa altura, trabalhava como engenheiro principal numa empresa do sector militar. As minhas poupanças de dois anos de trabalho, depois de ter terminado o Instituto, foram suficientes para pagar a primeira prestação do apartamento no valor de 19 mil rublos/Estaline, ou seja 40 por cento do valor total. No Verão, passávamos seis semanas na Crimeia, nas margens do Mar Negro, para onde íamos acampar com uma tenda que montávamos em plena praia.

Noto que a família abastada norte-americana atrás referida apenas se pôde permitir uma semana de férias junto ao mar na Carolina do Norte, sendo que os três mil dólares gastos neste período de descanso ultrapassaram o orçamento familiar anual. Por seu lado, uma família «pobre» soviética de três pessoas, com um orçamento anual de 13 mil dólares actuais (muito abaixo do limiar da pobreza segundo os padrões actuais), consumia alimentos frescos e sãos, pagava as prestações da casa, tinha uma ama contratada para cuidar da filha em permanência e fazia férias de Verão prolongadas junto às aguas quentes do Mar Negro.

Antes vimos uma jovem família soviética típica de duas pessoas dos meados dos anos 50 (ambos haviam obtido a respectiva formação académica há dois anos: o marido concluíra o curso técnico superior e a esposa, o curso técnico profissional). O seu rendimento líquido mensal, depois de impostos, era de 3400 rublos ou 100 mil rublos actuais. Hoje, o rendimento líquido de uma família análoga, nos casos raros em que marido e mulher trabalham de acordo com as sua habilitações, não ultrapassa os 40 mil rublos, quer em Moscovo, quer em São Petersburgo, enquanto na província é 1,5 a duas vezes menor. Vejam a diferença!

Assim, o nível material de vida da população da URSS nos meados dos anos 50 era mais elevado do que nos EUA, o país mais rico naquela época, e mais elevado do que actualmente nos EUA, já sem falar da Rússia de hoje. Além disso, a população da URSS tinha benefícios sociais inimagináveis na maioria dos restantes países do mundo:
– Uma rede de centros de alimentação infantis (molotchnie kukhni) que forneciam gratuitamente a alimentação aos bebés até aos dois anos;
– Uma ampla rede de instituições pré-escolares (creches e jardins infantis), que cobravam preços mínimos pela guarda das crianças (30 a 40 rublos por mês) e eram gratuitas para os kolkhozianos;
– Férias de Verão para as crianças em campos de pioneiros, gratuitas ou a preços reduzidos;
– Escolas de música infantis, permitindo que as crianças obtivessem educação musical e revelassem na mais tenra idade os seus talentos musicais;
– Escolas de desporto infantis, incluindo em regime de internato;
– Grupos de ocupação de tempos livres gratuitos nas escolas;
– Lazer gratuito para crianças nas casas e palácios dos pioneiros;
– Lazer para adultos nas casas e palácios da cultura;
– Associações desportivas que proporcionavam a prática de educação física à população;
– Uma ampla rede de sanatórios, casas de repouso e complexos turísticos, que proporcionavam tratamentos médicos e repouso, gratuitamente ou a preços reduzidos, acessíveis a todas as camadas da população;
– As mais amplas possibilidades de acesso a ensino gratuito e ao aumento das qualificações para todas as camadas da população em regime diurno, nocturno ou por correspondência;
– A garantia de habitação e emprego de acordo com as habilitações, a máxima protecção social, confiança total no dia de amanhã.

Cabe dizer algumas palavras sobre o ensino pago na época de Estaline. Em 1940 foi introduzido o pagamento pela frequência dos últimos anos do ensino secundário, do ensino superior e do ensino técnico-profissional. Em Moscovo e em Leninegrado e nas capitais das repúblicas da União, o custo da frequência dos últimos anos do secundário era de 200 rublos por ano. No ensino superior e técnico-profissional era de 400 rublos por ano. Nas restantes cidades era de 150 e 300 rublos respectivamente. Da análise dos orçamentos familiares é visível que os montantes indicados tinham um carácter simbólico. Em 1956 estes pagamentos foram abolidos.

Segundo as estatísticas oficiais, o nível de vida da população da URSS cresceu ininterruptamente até ao momento da sua dissolução. Todavia, a vida real não correspondia a esta estatística.

Por exemplo, o preço de um almoço normal (lagman, pilaf, [8] panqueca e chá verde) no «Uzbekistan», o meu restaurante preferido em Moscovo, onde ia sempre que me deslocava à capital, teve a seguinte evolução em rublos/Khruchov: 1955 – 1 rublo; 1963 – 2 rublos; 1971 – 5 rublos; 1976 – 7 rublos; 1988 – 10 rublos.

A evolução do preço de um automóvel «Moskvitch» foi a seguinte em rublos/Khruchov: 1955 – 900 rublos; 1963 – 2500 rublos; 1971 – 4900; 1976 – 6300 rublos; 1988 – 9000 rublos.

Em 25 anos os preços reais subiram dez vezes, enquanto os rendimentos, em particular dos técnicos e engenheiros e dos cientistas, diminuíram. Logo a partir de meados dos anos 60 as pessoas mais abastadas na URSS passaram a ser os empregados do comércio e a nomenclatura, e não os cientistas como até ali.
The table above needs some explanations. The attendance of elementary school, by the children of the third American family (six and ten years old), is free. But school lunches ($ 2.5), school transportation and leisure activities are paid, costing $ 5,000 per year and per child. Therefore, one does not understand why the school expenses are omitted from the US statistics.

In 1955, in the USSR, a hot breakfast in the primary school cost a ruble, the school was close to home and the activities occupying free times were free of charge. The highest food costs of the third US family are due to the fact that some of the products were bought at a grocery store of exclusively “biological products” at higher prices. In addition, daily lunches during working hours cost 2,500 dollars per year. In this family can be included in the leisure expenses the traditional weekly dinner in the restaurant (50 dollars for dinner and 30 dollars for the babysitter contracted to stay in the house with the children), as well as for children's swimming lessons with the trainer (once a week -- $ 90). As regards the current expenditures, laundry and house cleaning twice a month costs 2800 dollars per year, while shoes, clothing, and toys for children amount to 4,200 dollars.

Continuing again with the above table, the third Soviet family is closer to the group of poor families than to the statistical average. I was then doing post-graduate studies. My income was made up of the stipend of 1000 nominal rubles from the time of Stalin and half remuneration of assistant scientific collaborator amounting to 525 Stalin rubles. My wife was a student and received a stipend of 290 rubles. The stipends were exempt from taxes as were the wages below 700 rubles. My daughter, who was only two years old, was not old enough to enter kindergarten. For that reason was living with us a nurse who received 250 rubles. We bought a wide variety of food products. The fruit accounted for more than a third of the value of our food basket. In my notes doesn’t stand any intention at all of limiting expenses. For example, expenses with taxis are recorded for every month.

My family of four, including the nanny, lived in a two-bedroom apartment, purchased in a cooperative building in 1963, shortly after we had married. I worked at that time as a senior engineer in an enterprise of the military sector. My savings of two years' work, after I had finished the Institute, were enough to pay the first instalment of the apartment worth 19 thousand Stalin rubles, that is 40 percent of the total value. In summer we spent six weeks in the Crimea, on the shores of the Black Sea, where we were going to camp with a tent which we set up on the beach.

I note that the above-mentioned well doing family from North America could only afford a week's seaside holiday in North Carolina, and the three thousand dollars they have spent in this resting period was in excess of their annual family budget. On the other side, a three-person "poor" Soviet family, with an annual budget of 13,000 current dollars (well below the current poverty threshold), consumed fresh and healthy food, paid the instalments of the house, had a nanny on contract to take care of their daughter permanently, and made an extended summer vacation by the warm waters of the Black Sea.

We have seen above a typical young Soviet family of two people from the mid-1950's (both had obtained their academic training two years ago: the husband had completed the upper technical course and the wife, the professional technical course). Their monthly net income, after taxes, was 3400 rubles or 100 thousand rubles as of today. Nowadays, the net income of a similar family, in the rare cases where husband and wife work according to their qualifications, does not exceed 40 thousand rubles, either in Moscow or St Petersburg, while in the province it is from 1.5 to twice as small. See the difference!

Thus, the material standard of living of the population of the USSR in the mid-1950s was higher than in the US, the richest country at that time, and higher than at present in the US, not to mention Russia today. Moreover, the population of the USSR had social benefits unimaginable in most other countries in the world:
-- A network of infant food centers (molotchnie kukhni) which provided food free of charge to babies up to two years of age;
-- A wide network of pre-school institutions (nurseries and kindergartens), which charged minimum prices for childcare (30 to 40 rubles per month) and were free of charge for kolkhozians;
-- Summer holidays for children in pioneer camps, free of charge or at reduced prices;
-- Music schools for children, allowing the children to obtain musical education and reveal at a young age their musical talents;
-- Sport schools for children, including in internship regime;
-- Groups for activities during free time in schools for free;
- Free leisure for children in the houses and palaces of the pioneers;
-- Leisure for adults in the houses and palaces of culture;
-- Sport associations which provided for the practice of physical education to the population;
-- A wide network of sanatoriums, rest homes and tourist complexes, which provided medical treatment and rest, free or at reduced prices, accessible to all sections of the population;
-- the broadest possible access to free education and the upgrading of qualifications for all sections of the population on a day, night or correspondence basis;
-- The guarantee of housing and employment according to the qualifications, the maximum social protection, and total confidence in the day of tomorrow.

A word should be said about paid education in Stalin's time. In 1940 payment was introduced for attending the last years of secondary education, higher education and technical-professional education. In Moscow and Leningrad and in the capitals of the Union republics, the cost of attending the last years of secondary school was 200 rubles per year. In higher education and technical-professional education was 400 rubles per year. In the remaining cities was 150 and 300 rubles, respectively. The analysis of family budgets shows clearly that the amounts indicated were symbolic in nature. In 1956 these payments were abolished.

According to official statistics, the standard of living of the population of the USSR has grown steadily until its dissolution. However, real life did not match this statistic.

For example, the price of a regular lunch (lagman, pilaf, [8] pancake and green tea) in Uzbekistan, my favourite restaurant in Moscow, where I went every time when going to the capital, had the following evolution in Khrushchev rubles: 1955 - 1 ruble; 1963 - 2 rubles; 1971 - 5 rubles; 1976 - 7 rubles; 1988 - 10 rubles.

The evolution of the price of a “Moskvitch” car was as follows in Khrushchev rubles: 1955 - 900 rubles; 1963 - 2500 rubles; 1971-1949; 1976 - 6300 rubles; 1988 - 9000 rubles.

In 25 years real prices have risen tenfold, while incomes, in particular of technicians and engineers, and of scientists, have declined. As early as the mid-1960s, the wealthiest people in the USSR became the employees of commerce and nomenclature, not scientists as before.

Notas | Notes

[1] (N. JMS) O kolkhoz era uma herdade colectiva que funcionava em moldes semelhantes aos de uma cooperativa de produção. Os camponeses recebiam um salário conforme o trabalho com que contribuíam. As casas individuais eram propriedade dos camponeses que tinham também as suas próprias parcelas de terreno.
Foi Estaline com o apoio de Kalinine e Molotov que lançou em 1926 a colectivização da agricultura, dos kolkhoz e sovkhoz (herdades estatais), imprescindível à construção do socialismo. Bukharin opôs-se. Note-se que 82% da população soviética era camponesa e as comunas camponesas eram dominadas pelos kulaks, camponeses ricos, sobre quem E. J. Dillon, dos EUA, profundo conhecedor da Rússia antiga, escreveu: «De todos os monstros humanos que conheci nas minhas viagens, não me lembro de tão maligno e odioso quanto o kulak russo».
No XV Congresso do PCR(b) em Dezembro de 1927 que adoptou os kolkhozes, Estaline sobre a necessidade de colectivizar a agricultura disse assim: «Onde está a saída? A saída está em transformar pequenas e desintegradas herdades camponesas em fazendas amalgamadas de grande escala, com base no cultivo do solo em comum; em passar ao plantio colectivo do solo na base de novas e mais altas técnicas. A saída está em unir as pequenas e minúsculas fazendas camponesas de maneira gradual mas constante, não por meio de pressões, mas pelo exemplo e persuasão, em grandes herdades baseadas no cultivo do solo em comum, colectivo e co-operativo, aplicando tractores e máquinas agrícolas, e métodos científicos de agricultura intensiva».
O movimento kolkhosiano teve sucesso. De Junho a Outubro de 1927 a percentagem de pequenos e médios camponeses que aderiu aos kolkhozes passou de 4% a 7,5%, atingindo 286.000 famílias. Em 1 de Junho de 1919 eram já 1.008.000.
(N. JMS) The kolkhoz was a collective farm which operated in a similar way to a production co-operative. The peasants received a salary according to the work with which they contributed. The individual houses were owned by the peasants who also had their own land plots.
It was Stalin with the support of Kalinine and Molotov who launched in 1926 the collectivization of agriculture, the kolkhoz and sovkhoz (state farms), essential to the construction of socialism. Bukharin objected. It should be noted that 82 per cent of the Soviet population was peasantry and the peasant communes were dominated by the kulaks, rich peasants, about whom E.J. Dillon, from the U.S., who had a profound knowledge of old Russia, wrote: “And of all the human monsters I have ever met in my travels, I cannot recall so malignant and odious as the Russian kulak.”
At the XV Congress of the CPR(B) in December 1927, which adopted the kolkhozes, Stalin on the need to collectivize agriculture spoke: “Its work led to the adoption of a resolution by the Fifteenth Congress of the Party, in December 1927: "What is the way out? The way out is to turn the small and scattered peasant farms into large united farms based on cultivation of the land in common, to go over to collective cultivation of the land on the basis of a new and higher technique. The way out is to unite the small and dwarf peasant farms gradually but surely, not by pressure, but by example and persuasion, into large farms based on common, co-operative, collective cultivation of the land with the use of agricultural machines and tractors and scientific methods of intensive agriculture.”
The kolkhozian movement was successful. From June to October 1927 the percentage of small and medium peasants who joined the collective farms increased from 4% to 7.5%, reaching 286,000 families. They numbered 1,008,000 on June 1, 1929.

[2] (N. Ed.) As estatísticas aqui referidas podem ser acedidas em russo no seguinte endereço | The statistics referred to here can be accessed in Russian at the following address:
http://istmat.info/node/36441

«Deve-se ter em conta que o cabaz de alimentos, desenvolvido em 1950 por cientistas soviéticos, era significativamente “mais pesado” do que o que foi proposto em 1994 pelos cientistas da “democracia”».
“It must be borne in mind that the food basket, developed in 1950 by Soviet scientists, was significantly "heavier" than the one that was proposed in 1994 by "democracy" scientists.”

[4] (N. JMS) Os valores remuneratórios apresentados por Torgachev concordam com os de outras fontes que consultámos. São valores que revelam um leque de rendimentos bastante mais estreito do que nos países capitalistas, em qualquer período. A URSS do tempo de Estaline constitui um exemplo de como o socialismo implica a queda da desigualdade social e a eliminação da pobreza. Esta última não abordada por Torgachev, certamente por a considerar óbvia. Sobre a desigualdade social, já apresentámos noutro trabalho a sua medida estimada pelo índice de Gini. Este índice varia entre 0 e 1 e é tanto menor quanto menor for a desigualdade de rendimento (tal como é medida por esse índice que não esgota outras medidas da desigualdade de rendimento). A tabela abaixo mostra alguns valores (fontes indicadas no trabalho apontado).
(N. JMS) The remuneration values presented by Torgachev agree with those of other sources that we have consulted. These are values that reveal a much narrower range of income than in capitalist countries at any time. The USSR of Stalin's time is an example of how socialism implies the fall of social inequality and the elimination of poverty. This last one is not considered by Torgachev, certainly for being considered obvious. On social inequality, we have already presented in another work its measure estimated by the Gini index. This index varies between 0 and 1 and is smaller the lower the income inequality (as measured by that index which does not exhaust other measures of income inequality). The table below shows some values (sources are given in the work pointed to).

País Country
I. Gini, 1955
I. Gini, 1960
URSS USSR
0.33
0.28
EUA USA
0.40
0.39
França France
0.55
0.53
Suécia Sweden
0.41
0.40

[5] (N. Ed.) A família dos salmonídeos inclui diferentes variedades de trutas e salmões.
A diferença da defumação a quente e a frio está na temperatura que é mantida durante o processo: a quente (45-90°C), a frio (27-45ºC). Quanto mais elevada for a temperatura menor é o tempo de cura, o qual pode variar entre algumas horas e vários dias.
O salmão-keta é também designado salmão-cão ou salmão do Pacífico (Oncorhynchus keta). Existe ao longo da costa Norte do Pacífico, desde a Coreia, Japão, Sibéria e Alasca, e no Sul dos EUA.
O Salmão do Atlântico (Salmo salar) é também conhecido como salmão comum. Existe nas costas atlânticas do Norte da Europa e da América e é uma espécie muito utilizada na aquicultura.
(N. Ed.) The salmonid family includes different varieties of trout and salmon.
The difference between hot and cold smoking is the temperature that is maintained during the process: hot (45-90 °C), cold (27-45 °C). The higher the temperature the lower the curing time, which can range from a few hours to several days.
Salmon-keta is also called salmon-dog or Pacific salmon (Oncorhynchus keta). It exists along the North Pacific coast, from Korea, Japan, Siberia and Alaska, and the southern US.
Atlantic Salmon (Salmo salar) is also known as common salmon. It exists on the Atlantic coasts of Northern Europe and America and is a species widely used in aquaculture.


[6] (N. Ed.) O caboz é um peixe da família Gobiidae, que inclui cerca de duas mil espécies. Na costa portuguesa é igualmente designado por alcaboz ou alcabroz.
The goby is a fish of the Gobiidae family, which includes about two thousand species.

[7] (N. Ed.) O que aqui traduzimos livremente como mortadela «medicinal» (em russo «dótorskaia» kolbassa) refere-se a uma variedade de salsicha cozida de dimensões semelhantes à mortadela (podendo no entanto ser inferiores), que foi introduzida na URSS em 1936, sob orientação do Ministério da Saúde. Foi concebido como um produto de carne dietético, especialmente destinado aos doentes e pessoas com problemas de saúde, que ganhou grande popularidade pela sua elevada qualidade e sabor refinado. A sua composição definida por lei determinava que por cada 100 quilos de enchimento, 25 quilos eram de carne de vaca de qualidade superior, 70 quilos de carne de porco magra, três quilos de ovos e dois quilos de leite de vaca.
(N. Ed.) What we freely translate here as “medicinal” mortadella (in Russian 'dótorskaia' kolbassa) refers to a variety of cooked sausage of similar size to mortadella (which may however be smaller), which was introduced in the USSR in 1936 under the guidance of the Ministry of Health. It was conceived as a dietary meat product, especially intended for patients and people with health problems, which gained great popularity for its high quality and refined taste. Its legal composition determined that for every 100 kilograms of filling, 25 kilograms were of superior quality beef, 70 kilograms of lean pork, three kilograms of eggs and two kilograms of cow's milk.

[8] (N. Ed.) Lagman é um prato tradicional da culinária do Quirguistão, semelhante a uma sopa chinesa, com massa num caldo de carne e vegetais.
Pilaf (plov em russo) é um prato tradicional no Médio Oriente, feito com arroz refogado em cebola e óleo, ao qual é adicionada a carne (frango ou borrego).
(N. Ed.) Lagman is a traditional Kyrgyz cuisine dish, similar to a Chinese soup, with a mass of meat and vegetables.
Pilaf (plov in Russian) is a traditional Middle Eastern dish made with rice fried in onion and oil, to which meat (chicken or lamb) is added.