quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Sete mitos sobre a URSS



Em prol desse esforço apresentamos abaixo a tradução do artigo «Sete mitos sobre a URSS» da autoria de Stephen Gowans, escritor canadiano e activista político de esquerda que reside em Ottawa, cujos artigos podem ser encontrados em vários sites heterodoxos, comunistas e não, da Internet (Counterpunch, Media Monitors, ML-Today, etc.) e no seu próprio site, What's Left?

Sete mitos sobre a URSS
Stephen Gowans
23 de Dezembro de 2013
Original:
https://gowans.wordpress.com/2013/12/23/seven-myths-about-the-ussr/

A União Soviética foi dissolvida há 22 anos, em 26 de Dezembro de 1991.


Acredita-se por todo o lado fora das antigas repúblicas da URSS que os cidadãos soviéticos desejavam isso fervorosamente; que Estaline era odiado como um déspota infame; que a economia socialista da URSS nunca funcionou; e que os cidadãos da antiga União Soviética preferem a vida que têm hoje sob a democracia capitalista, aquela que, no linguajar febril de jornalistas, políticos e historiadores ocidentais, era o governo repressivo e ditatorial de um estado de partido único que presidia a uma economia socialista esclerótica, problemática e impraticável.

Nenhuma dessas crenças é verdadeira.


Mito 1. A União Soviética não tinha qualquer apoio popular.

Em 17 de Março de 1991, nove meses antes do fim da União Soviética, os cidadãos soviéticos foram às urnas para votar num referendo que perguntava se eram a favor da preservação da URSS. Mais de três quartos votaram sim. Longe de favorecer a dissolução da União, a maioria dos cidadãos soviéticos queria preservá-la. [1]


Mito 2. Os russos odeiam Estaline.


Em 2009, Rossiya, um canal de TV russo [pró-capitalista -- JMS], passou três meses a inquirir mais de 50 milhões de russos para descobrir quem, na opinião dos inquiridos, eram os maiores russos de todos os tempos. O príncipe Alexander Nevsky, que repeliu com sucesso uma tentativa de invasão ocidental da Rússia no século XIII, surgiu em primeiro lugar. O segundo lugar foi para Pyotr Stolypin, que serviu como primeiro-ministro do czar Nicolau II, e promulgou reformas agrárias. Em terceiro lugar, atrás de Stolypin em apenas 5.500 votos, estava Joseph Estaline, um homem que os líderes de opinião ocidentais rotineiramente descrevem como um ditador implacável, com o sangue de dezenas de milhões nas suas mãos. [2] Ele pode ser denegrido no Ocidente, o que não é de surpreender já que nunca foi do agrado das grandes corporações que dominam o aparaelho ideológico do Ocidente, mas, segundo parece, os russos têm uma visão diferente -- que não alinha com a noção de que os russos foram vitimados, em vez de elevados, pela liderança de Estaline.


Num artigo de Maio/Junho de 2004 da Foreign Affairs [revista teórica do imperialismo americano -- JMS] (Flight from Freedom: What Russians Think and Want [Fuga da Liberdade: o que os Russos Pensam e Querem]), o historiador anti-comunista de Harvard, Richard Pipes, citou um inquérito no qual os russos foram solicitados a listar os 10 maiores homens e mulheres de todos os tempos. Os inquiridores procuravam personagens relevantes de qualquer país, e não apenas dos russos. Estaline ficou em quarto lugar, atrás de Pedro o Grande, Lenine e Pushkin [grande poeta russo -- JMS]... o que muito irritou Pipes. [3]


Mito 3. O socialismo soviético não funcionou.


Se isso é verdade, então o capitalismo, por qualquer medida igual, é um fracasso indiscutível. Desde a sua criação em 1928, até ao ponto em que foi desmantelado em 1989, o socialismo soviético nunca uma vez, excepto durante os anos extraordinários da Segunda Guerra Mundial, tropeçou em recessão, nem deixou de proporcionar pleno emprego. [4] Qual foi a economia capitalista que sempre cresceu, incessantemente, sem recessão, e gerando empregos para todos, num período de 56 anos (o período durante o qual a economia soviética era socialista e o país não estava em guerra, 1928-1941 e 1946-1989)? Além disso, a economia soviética cresceu mais rapidamente do que as economias capitalistas que estavam num igual nível de desenvolvimento económico quando Estaline lançou o primeiro plano de cinco anos em 1928 -- e mais rapidamente que a economia dos EUA na maior parte da sua existência como sistema socialista. [5] Certo, a economia soviética nunca alcançou ou ultrapassou as economias industriais avançadas do núcleo capitalista, mas iniciou a corrida mais atrás; não foi ajudada, como ocorria nos países ocidentais, por histórias de escravidão, pilhagem colonial e imperialismo económico; e foi incessantemente objecto das tentativas ocidentais, e especialmente dos EUA, de sabotá-la. Foi particularmente prejudicial ao desenvolvimento económico soviético a necessidade de desviar recursos materiais e humanos da economia civil para a militar, para enfrentar o desafio da pressão militar ocidental. Foi a Guerra Fria e a corrida armamentista, que enredaram a União Soviética em batalhas contra um inimigo mais forte, e não a propriedade estatal e o planeamento, que impediram a economia socialista de ultrapassar as economias industriais avançadas do Ocidente capitalista. [6] E, no entanto, apesar dos incansáveis ​​esforços do Ocidente para incapacitá-la, a economia socialista soviética produziu um crescimento positivo em todo e qualquer ano sem guerra da sua existência, proporcionando uma existência materialmente segura para todos. Qual a economia capitalista que pode reivindicar sucesso igual?


Mito 4. Agora que passaram por isso, os cidadãos da antiga União Soviética preferem o capitalismo.


Pelo contrário, preferem o planeamento estatal do sistema soviético, isto é, o socialismo. [O autor usa aqui uma definição «curta» de socialismo -- JMS] Inquiridos numa sondagem recente sobre o sistema socio-económico que preferem, os russos responderam [7]:


• Planeamento e distribuição estatais, 58%
• Propriedade e distribuição privadas, 28%
• Difícil dizer, 14%
• Total, 100%

Pipes cita uma sondagem na qual 72% dos russos «disseram que queriam restringir a iniciativa económica privada». [8]

Mito 5. Vinte e dois anos depois, os cidadãos da antiga União Soviética vêem o fim da URSS como mais benéfico do que prejudicial.

Errado de novo. De acordo com uma recém divulgada sondagem Gallup, por cada cidadão de 11 ex-repúblicas soviéticas, incluindo Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, que acha que o colapso da União Soviética beneficiou o seu país, dois acham que causou danos. E os resultados são mais fortemente inclinados para a visão de que o rompimento foi prejudicial entre aqueles com 45 anos ou mais, ou seja, as pessoas que conheciam melhor o sistema soviético. [9]


De acordo com outra pesquisa citada por Pipes, três quartos dos russos lamentam a morte da União Soviética [10] – coisa que dificilmente se pensaria de pessoas libertadas de um estado retratado como alegadamente repressivo e com supostamente uma economia artrítica e pesada.


Mito 6. Os cidadãos da ex-União Soviética estão melhor hoje.


Alguns seguramente estão. Mas estará a maioria? Dado que preferem mais o antigo sistema socialista ao actual capitalista, e pensam que o rompimento da URSS fez mais mal do que bem, podemos inferir que a maioria não está melhor -- ou pelo menos, que não se vêem como tal. Esta opinião é confirmada, pelo menos no que diz respeito à esperança de vida. Num artigo na prestigiada revista médica britânica The Lancet, o sociólogo David Stuckler e o investigador médico Martin McKee mostram que a transição para o capitalismo na antiga URSS precipitou uma queda acentuada na esperança de vida e que «só pouco mais de metade dos ex-países comunistas recuperaram os seus níveis de esperança de vida pré-transição.» A expectativa de vida masculina na Rússia, por exemplo, era de 67 anos em 1985, sob o comunismo. Em 2007, foi de menos de 60 anos. A esperança de vida caiu cinco anos entre 1991 e 1994. [11]


A transição para o capitalismo causou na altura incontáveis ​​mortes prematuras -- e continua a causar uma taxa de mortalidade maior do que previsivelmente teria prevalecido sob o sistema socialista (mais humano). (Um estudo de 1986 de Shirley Ciresto e Howard Waitzkin, baseado em dados do Banco Mundial, concluiu que as economias socialistas do bloco soviético produziam resultados mais favoráveis ​​em medidas de qualidade de vida física, incluindo esperança de vida, mortalidade infantil e ingestão calórica, do que as economias capitalistas do mesmo nível de desenvolvimento económico, e tão boas quanto as economias capitalistas de um nível mais alto de desenvolvimento. [12]

No que diz respeito à transição de um estado de partido único para uma democracia multipartidária, Pipes aponta para uma pesquisa que mostra que os russos vêem a democracia como uma fraude. Mais de três quartos acreditam que «a democracia é uma fachada para um governo controlado por cliques de ricos e poderosos». [13] Quem disse que os russos não são perspicazes?


Mito 7. Se os cidadãos da antiga União Soviética realmente quisessem um retorno ao socialismo, votariam nisso.


Se isso fosse assim tão simples. Os sistemas capitalistas são estruturados para fornecer políticas públicas que interessam aos capitalistas, e não o que é popular, se o que é popular é contra os interesses capitalistas. Obamacare à parte, os Estados Unidos não têm seguro de saúde público completo [um SNS -- JMS]. Porque razão? Segundo as sondagens, a maioria dos americanos quer isso. Então, porque não votam nele?


A resposta, claro, é que existem poderosos interesses capitalistas, principalmente companhias de seguros privadas, que usam a sua riqueza e conexões para bloquear uma política pública que diminuiria os seus lucros. O que é popular nem sempre, ou nem mesmo frequentemente, prevalece em sociedades onde aqueles que detêm e controlam a economia podem usar a sua riqueza e conexões para dominar o sistema político, para vencer em disputas que colocam os seus interesses de elite [de facto, de classe -- JMS] contra os interesses das massas. Conforme escreve Michael Parenti,

O capitalismo não é apenas um sistema económico, mas toda uma ordem social. Uma vez enraizado não é «votado fora» por meio da eleição de socialistas ou comunistas. Eles podem ocupar cargos públicos, mas a riqueza da nação, as relações básicas de propriedade, a lei orgânica, o sistema financeiro e a estrutura da dívida, juntamente com os media nacionais, o poder policial e as instituições do Estado [já] foram reestruturadas a nível fundamental. [14]


É muito mais provável que um retorno russo ao socialismo aconteça da maneira como aconteceu na primeira vez, através de revolução e não de eleições -- e as revoluções não acontecem simplesmente porque as pessoas preferem um sistema melhor ao que têm actualmente. As revoluções acontecem quando a vida não pode mais ser vivida da maneira antiga -- e os russos não alcançaram o ponto em que a vida como é vivida hoje não é mais tolerável.


Curiosamente, uma sondagem de 2003 perguntou aos russos como reagiriam se os comunistas tomassem o poder. Quase um quarto apoiaria o novo governo, um em cada cinco colaboraria, 27% aceitariam, 16% emigrariam e apenas 10% resistiriam activamente. Por outras palavras, para cada russo que se opusesse activamente a um golpe comunista, quatro apoiá-lo-iam ou colaborariam com ele, e três aceitá-lo-iam [15] – não esperaríamos que fosse assim se pensássemos, como nos disseram ser, que os russos estão contentes por ter escapado ao fardo do governo comunista.


Assim, o falecimento da União Soviética é lamentado pelo povo que conhecia a URSS em primeira mão (não por jornalistas, políticos e historiadores ocidentais que conheciam o socialismo soviético apenas pelo prisma de sua ideologia capitalista). Agora que tiveram mais de duas décadas de democracia multipartidária, iniciativa privada e uma economia de mercado, os russos não acham que essas instituições são as maravilhas que os políticos e os meios de comunicação de massa ocidentais consideram ser. A maioria dos russos preferiria um retorno ao sistema soviético de planeamento estatal, isto é, ao socialismo.


Mesmo assim, estas realidades são escondidas por detrás de uma tempestade de propaganda, cuja intensidade aumenta a cada ano de aniversário do óbito da URSS. Querem que acreditemos que onde foi tentado, o socialismo foi popularmente desdenhado e nada deu ao povo -- embora nenhuma destas afirmações seja verdadeira.


É claro que não surpreende as visões anti-soviéticas terem status hegemónico no núcleo capitalista. A União Soviética é ultrajada por quase todos no Ocidente: pelos trotskistas, porque a URSS foi construída sob a liderança de Estaline (e não dos seus homens); pelos social-democratas, porque os soviéticos abraçaram a revolução e rejeitaram o capitalismo; pelos capitalistas, por razões óbvias; e pelos meios de comunicação de massa (que são propriedade dos capitalistas) e as escolas (cujos currículos, orientação ideológica e investigação política e económica são fortemente influenciados por eles).


Assim, no aniversário da morte da URSS, não devemos surpreender-nos por descobrir que os inimigos políticos do socialismo teriam de apresentar uma visão da União Soviética que está em desacordo com o que aqueles no terreno realmente vivenciaram, com o que uma economia socialista realmente realizou, e com o que aqueles privados dela realmente querem.


Referências: 


1.”Referendum on the preservation of the USSR,” RIA Novosti, 2001,http://en.ria.ru/infographics/20110313/162959645.html
2. Guy Gavriel Kay, “The greatest Russians of all time?” The Globe and Mail (Toronto), January 10, 2009.
3. Richard Pipes, “Flight from Freedom: What Russians Think and Want,” Foreign Affairs, May/June 2004.
4. Robert C. Allen. Farm to Factory: A Reinterpretation of the Soviet Industrial Revolution, Princeton University Press, 2003. David Kotz and Fred Weir. Revolution From Above: The Demise of the Soviet System, Routledge, 1997.
5. Allen; Kotz and Weir.
6. Stephen Gowans, “Do Publicly Owned, Planned Economies Work?” what’s left, December 21, 2012.
7. “Russia Nw”, in The Washington Post, March 25, 2009.
8. Pipes.
9. Neli Espova and Julie Ray, “Former Soviet countries see more harm from breakup,” Gallup, December 19, 2013, http://www.gallup.com/poll/166538/former-soviet-countries-harm-breakup.aspx
10. Pipes.
11. Judy Dempsey, “Study looks at mortality in post-Soviet era,” The New York Times, January 16, 2009.
12. Shirley Ceresto and Howard Waitzkin, “Economic development, political-economic system, and the physical quality of life”, American Journal of Public Health, June 1986, Vol. 76, No. 6.
13. Pipes.
14. Michael Parenti, Blackshirts & Reds: Rational Fascism and the Overthrow of Communism, City Light Books, 1997, p. 119.
15. Pipes.





sábado, 20 de outubro de 2018

Permanecer no euro significa para Portugal mais empobrecimento dos trabalhadores e mais perda de soberania


Staying in the Euro means for Portugal more impoverishment for the workers and more loss of sovereignty

Um artigo do passado 8 de Outubro publicado no Públco trouxe novos aportes aos que já divulgámos sobre a ditadura da UE” e “PCP sobre a UE”. O Público, como se sabe, não é comunista.

Trata-se do artigo da autoria do economista Ricardo Cabral (RC), «O Vade Mecum da Comissão Europeia e o futuro da “geringonça”».

É um artigo muito bom, com importantes reflexões a propósito das regras orçamentais da zona euro (ZE). O artigo esclarece o seguinte:

-- As regras orçamentais da zona euro são muito mais complexas do que os conhecidos limites do défice governamental (3% do PIB) e da divida pública (60% do PIB).

-- Desde 2010 há diversos regulamentos e tratados que impõem condições anuais mais apertadas: reduzir a dívida pública acima de 60% em 1/20 avos; atingir um défice estrutural de 0,5% do PIB ou convergir para isso; convergir o saldo orçamental a uma taxa suficientemente rápida para um «objectivo de médio prazo»; não exceder um limite à taxa de crescimento nominal da despesa pública; etc.

-- O não cumprimento das regras acarreta, como diz o autor «procedimentos sancionatórios mais apertados e quase automáticos».

-- As regras são tão complexas que todos os anos a Direcção-Geral de Economia e Finanças (DG Ecfin) da Comissão Europeia (CE) publica um manual de instruções – o Vade Mecum!
[Este «Vai Comigo» é de facto, um manual de imposições dos grandes monopólios da UE aos pequenos países. As grandes potências que controlam a UE e EZ através dos seus monopólios podem perfeitamente esquecer o «Vai Comigo» sem sofrer sanções, já que sem eles a UE e EZ não existiriam.]

-- RC exemplifica (itálicos nossos):
«[…] uma das novas regras orçamentais da zona euro (Six-Pack de 2011) especificadas no Vade Mecum determina, no caso português, de forma complexa, mas na rea1idade arbitrária, que a despesa pública, “liquida” da despesa com juros e de alguns itens discricionários de despesa e receita, só pode crescer a taxas nominais muito baixas: 0,1% em termos nominais ao ano, em 2017. Esta taxa varia de ano para ano de acordo com urna fórmula complexa que depende do défice actual, da taxa de crescimento potencial de longo prazo estimada pela Comissão Europeia, de [etc., etc.]».

RC apresenta reflexões objectivamente fundamentadas sobre estas regras e o Vade Mecum (realces nossos):

a) Sobre a convergência do saldo orçamental:
«[…] convergir o saldo orçamental a uma taxa suficientemente rápida para um objectivo de médio prazo […], em teoria, definido por cada país, mas, na prática, condicionado por “objectivos mínimos” definidos pela Comissão Europeia».
Isto é, nem sequer quanto aos objectivos definidos pela CE – definidos supranacionalmente pelos monopólios dominantes -- cada país pode definir como os poderá atingir.

b) «Vade Mecum, onde não somente é feita a síntese das regras e dos procedimentos que orientam a DG Ecfin na monitorização da política orçamental dos países membros, como são complementadas e interpretadas essas regras».

c) «Se [tudo que respeita a regras e fórmulas] parece complexo e confuso é porque deliberadamente o é. O objectivo quase parece ser: causar o desinteresse das pessoas para um tema que tem um enorme impacto nas suas vidas».

d) «O VadeMecum não deveria ter força legal. Mas tem».

e) «O Vade Mecum da Comissão Europeia obriga ao empobrecimento». «A regra que limita o crescimento nominal da despesa pública obriga, na prática, no mínimo, ao congelamento, se não à redução, em termos nominais, da despesa pública com pessoal e com pensões».

f) «[…] o Vade Mecum obriga, no caso português, à redução em termos reais e, eventualmente, em termos nominais, de salários de funcionários públicos e pensões, isto é, obriga à continuação do “empobrecimento”, até que os responsáveis da DG Ecfin decidam que os salários e pensões em Portugal já caíram o suficiente».

g) «De facto, é a restrição ao aumento nominal de salários de funcionários públicos e pensões, e não a evolução do défice público ou da dívida pública, que condicionam a actual proposta do Orçamento do Estado de 2019 do Governo […]. O Governo, que está preparado para gastar 11 milhões de euros por ano com a Web Summit […] e que transfere 150 milhões de euros para abater dívida tarifária do Sistema Eléctrico Nacional […] em beneficio de empresas de produção eléctrica […] somente está disposto a aumentar os salários dos funcionários públicos em cinco euros por mês, após nove anos de congelamento dos salários».

h) «As regras orçamentais da zona euro e a forma como são interpretadas no Vade Mecum da Comissão Europeia consubstanciam um menu à la carte, que permite e até exige a criação de regras e objectivos completamente diferentes para a politica orçamental de diferentes países membros numa perversão do princípio basilar de que todos somos iguais perante a lei».

i) Apesar da grande obediência (submissão) do governo às regras da CE – RC diz: «[…] embora o Governo antecipe uma significativa melhoria do saldo orçamental e uma queda significativa do nível de divida pública em 2019, cumprindo os três principais critérios orçamentais da zona euro, o quarto critério  […] aparenta estar em risco, tanto em 2018 como em 2019, como já esteve em 2017» -- esta «poderá considerar que o não cumprimento da regra do aumento da despesa pública constitui um “desvio significativo” […], exigir alterações à proposta do Orçamento do Estado e até recomendar a abertura de um Procedimento por Desvio Significativo e a aplicação de sanções […]».

Que significa tudo isto? Qual a lógica subjacente a todas estas regras?

RC fica aquém de uma resposta científica a estas questões.

Fica-se por uma adjectivação do Vade Mecum -- «demoníaco ou simplesmente maquiavélico», por uma observação algo vaga -- «Há várias forças em movimento na zona euro, que procuram implementar alterações na política económica e orçamental […] [que] têm vindo a reforçar o colete-de-forças, e de regras, em que se encontram economias periféricas, como a portuguesa» («várias forças»: quais? de que tipo?; «alterações»: a favor de quem?) -- e, embora dizendo que as regras «não são isentas» que são «uma forma de concorrência económica em que a “competição” entre países membros e empresas se ganha nos detalhes da secretaria […]» remata com um velho aforismo para qualificar a DG Ecfin: «dividir para reinar».

Mas o que é necessário esclarecer -- se não quisermos ficar por trivialidades -- é quem «divide» e quem «reina» e porquê.

Se tivermos em conta que o sistema económico da UE é o do capitalismo monopolista de Estado – coisa de que nem os chefes do grande capital duvidam embora dêem outro nome e silenciem – e que num sistema de capitalismo monopolista quem detém o chicote em prol dos lucros – aqui, o Vade Mecum -- são os grandes monopólios, principalmente os financeiros, damos um grande passo na compreensão de quem «divide» e quem «reina», de por que razão são as «economias periféricas», como a portuguesa, que estão sujeitas ao «colete-de-forças», e ainda de que «a “competição” entre países membros e empresas» é, de facto, uma “competição” viciada já que os monopólios dominantes ganham «nos detalhes da secretaria» (e também noutros «detalhes») impostos pelos poderes coercivos estatais a que estão ligados, supranacionais ou não.

Concretamente e em síntese:

São os monopólios dominantes da UE -- os grandes monopólios da Alemanha, França, Benelux, Itália, com destaque para os bancários – que necessariamente, obrigatoriamente – e não porque são «demoníacos» ou «maquiavélicos» (isso seria o mesmo que dizer que um leão mata, não pela causa objectiva de que tem fome, mas porque é «mau») -- oprimem as «economias periféricas» porque estão no topo da actividade predadora: extorsão de grandes lucros e outras extorsões (como, p. ex., juros de empréstimos, benefícios dos fundos da UE, e até mesmo as sanções a erceiros por não cumprimento de regras).

São eles que dividem e reinam. Mesmo sem ir ao Vade Mecum, mesmo ficando pelos «limites mágicos» dos 3% e 60% é sabido que a França, a Itália e até mesmo a Alemanha – o predador alfa -- repetidamente e impunemente os têm ultrapassado. E só não os ultrapassam mais vezes e com maior intensidade devido aos seus ganhos da predação.

O Vade Mecum é simplesmente a capa legal com que os predadores melhor ocultam a sua predação. Vejam: eles não de portam mal; e até desenvolvem os maiores esforços no desenvolvimento de complexas fórmulas para nos constranger a não nos portarmos mal.

Portugal perdeu grande parte da sua soberania por causa da UE e ZE; isto é, por estar submetido aos ditames dos monopólios dominantes da UE. Esta perda de soberania tem duas componentes: a destruição do tecido produtivo, obrigando a maiores importações da UE; a impossibilidade, enquanto estiver na UE e ZE, de determinar livremente as suas políticas económicas e sociais (estas últimas também dependem da economia). As reflexões de (a) a (i) de RC constituem uma óptima demonstração, num aspecto específico desta segunda componente.

Essa perda de soberania, enquanto Portugal permanecer na irreformável UE e ZE dos monopólios é imparável. E é imparável por causas objectivas. À medida que se perde soberania, a economia, a capacidade produtiva, fica mais fraca; o empobrecimento geral exerce pressão para aceitar menores salários e para só manter actividades subsidiárias baseadas em baixos salários, como o turismo e os call-centers, sem investimentos de aumento e modernização da capacidade produtiva de indústrias domésticas. Tudo isto, por sua vez, leva a um contínuo agravamento da balança de trocas comerciais, como se tem verificado; logo, à manutenção de défices ou até maiores défices. É um círculo vicioso.

Os leões buscam sempre primeiro as presas mais fáceis. Para um país neo-colonizado pelos monopólios da UE, em que se transformou Portugal pela mão do PS, PSD e CDS, a espiral de dependência e empobrecimento é imparável. A saída deste quadro passa necessariamente pela luta dos trabalhadores por uma mudança de rumo.
An article published by Público [Portuguese newspaper] last October 8 brought new contributions to those we already posted on the "EU dictatorship" and "PCP on the EU". Público is not a communist newspaper. Far from that.

The article by the economist Ricardo Cabral (RC) is titled (translated): The European Commission's Vade Mecum and the future of the ‘contraption’" ["contraption" is how the Portuguese right-wing derogatively calls the government of the minority Socialist Party, tied to a conditioning agreement with the PCP and BE].

This is a very good article with important thoughts on the euro-zone (EZ) fiscal rules. The article explains:

-- The euro-zone fiscal rules are far more complex than the known deficit limits of government budget (3% of GDP) and of public debt (60% of GDP).

-- Since 2010, there are several regulations and treaties that impose tighter annual conditions: reduction of public debt above 60% in fractions of 1/20; to achieve a structural deficit of 0.5% of GDP or converge to this; convergence of the budgetary balance at a sufficiently fast rate for a “medium-term objective”; not exceeding a limit of the nominal growth rate of public expenditure; etc.

-- Failure to comply with the rules entails, as the author says, "tighter and quasi-automatic sanction procedures".

-- The rules are so complex that every year the Directorate-General for Economic and Financial Affairs (DG Ecfin) of the European Commission (EC) publishes an instruction manual – a Vade Mecum!
[This “Go with Me” amounts to a manual of impositions of the large EU monopolies on small countries. The Great Powers that control the EU and EZ through their monopolies can perfectly forget the "Go with Me" without sanctions, since without them the EU and EZ would not exist.]

-- RC exemplifies (our italics):
“[...] one of the new euro-zone fiscal rules (2011 Six-Pack) specified in the Vade Mecum determines, for the Portuguese case, in a complex way, but truly in an arbitrary way, that public ‘net’ expenditure, without both interest and some discretionary spending and revenue items, can only grow at very low nominal rates: 0.1% in nominal terms per year in 2017. This rate varies from year to year according to a complex formula depending on the current deficit, the long-term potential growth rate estimated by the European Commission, the [etc., etc.]”.

RC presents objectively reasoned thoughts on these rules and on the Vade Mecum (our highlights):

(a) On the convergence of the budget balance:
“[...] converge the budget balance at a sufficiently fast rate for a medium-term objective [...] in theory, defined by each country, but in practice, defined by the European Commission.”
That is, not even with regard to the objectives defined by the EC -- supranationally defined by the dominant monopolies – is it permitted to each country to define how to achieve them.

(b) “Vade Mecum, where not only a summary of the rules and procedures guiding DG Ecfin in the monitoring of Member States' fiscal policy is presented, but also how these rules are complemented and interpreted.”


c) "If [everything concerning rules and formulas] seems complex and confusing, it is because it is deliberately so. The goal almost seems to be: to cause people's disinterest for a theme that has a huge impact on their lives.”


(d) “The Vade Mecum should not have legal force. But it has.


(e) “The European Commission's Vade Mecum forces impoverishment”. “The rule limiting the nominal growth of public expenditure requires, in practice, at least, the freezing, if not the nominal reduction of public expenditure on staff and pensions.”

(f) “[...] the Vade Mecum obliges, in the Portuguese case, to reduce salaries of civil servants and pensions in real terms and, eventually, in nominal terms, i.e., requires a continuation of the ‘impoverishment' until the responsible heads of DG Ecfin decide that wages and pensions in Portugal have already sufficiently fallen.


(g) "It is, indeed, a restriction on the nominal increase of civil servants salaries and pensions, and not on the evolution of the public deficit or public debt, which conditions the current proposal of the Government Budget for 2019 [...] The Government, which is ready to spend € 11 million a year on the Web Summit [...] and transfers € 150 million to reduce tariff debts of the National Electricity System [...] for the benefit of electricity production companies [...] is ready to increase the civil servants salaries by only five Euros a month after nine years of frozen wages.”


(h) 'The budgetary rules of the euro area and the way they are interpreted in the European Commission's Vade Mecum are tantamount to a menu à la carte, which allows and even requires the creation of completely different rules and objectives for the budgetary policy of different Member States in a perversion of the basic principle that all are equal before the law."


(i) Notwithstanding the government's great compliance with (submission to) EC rules – RC says: “[...] although the Government anticipates a significant improvement in the budgetary balance and a significant fall in the level of public debt in 2019, meeting the three main budgetary criteria of the euro zone, the fourth criterion [...] appears to be at risk in 2018 and 2019, as was in 2017” – the EC “may consider that the failure to comply with the rule of increased public expenditure constitutes a ‘significant deviation’ [...], and require changes of the State Budget proposal and even recommend the opening of a Significant Deviation Procedure with application of sanctions [...].”


What does this all mean? What is the rationale underlying all these rules?

RC falls short of a scientific answer to these questions.


He stops at an adjectivation of the Vade Mecum -- "demonic or simply Machiavellian", at a somewhat vague remark -- "There are various forces in the euro zone that are trying to implement changes in economic and budgetary policy [...], [which] are reinforcing the straight-jacket, and rules, in which peripheral economies such as the Portuguese are subjected to" ("various forces": which ones? of what kind?; "changes": for whose benefit?) --, and, though saying that the rules “are not impartial”, they are “a form of economic competition in which ‘competition’ among member countries and companies is gained in the details of the secretariat [...]", he concludes with an old aphorism to qualify DG Ecfin: "divide and rule."
 
But what is really needed -- if we do not want to rest on trivialities -- is to clarify who "divides" and who "rules" and why.


If we take into account that the EU economic system is that of state monopoly capitalism – something that even the bosses of big capital have no doubts about though they silence it and call it otherwise -- and that in a system of monopoly capitalism who holds the whip in favor of profits -- here, the Vade Mecum -- are the big monopolies, especially the financial monopolies, we go a big step ahead in understanding who "divides" and who "rules", of why “peripheral economies” such as the Portuguese one are subject to the "straightjacket” and also why the “‘competition’ among member countries and companies” is indeed a fixed “competition” since the dominant monopolies gain “in the details of the secretariat” (and other “details” as well) imposed by the state coercive powers to which they are linked, supranational or not.

Concretely and synthetically:

It is the dominant monopolies of the EU -- the big monopolies of Germany, France, Benelux and Italy, especially of banking -- which necessarily, imperatively -- and not because they are "demonic" or "Machiavellian" (this would be analogous to saying that a lion kills, not because of the objective cause that it is hungry, but because it is an “evil” animal) -- oppress “peripheral economies” because the former are at the top of predatory activity: extortion of large profits and other extortions (such as interest on loans, benefits from EU funds, and even sanctions of third countries for non-compliance with rules).


They are the ones who divide and rule. Putting aside the Vade Mecum, and restricting ourselves to the "magic limits" of 3% and 60%, it is well known that France, Italy, and even Germany -- the alpha predator -- have repeatedly and with impunity surpassed them. And they do not surpass them more often and with greater intensity because of the gains of their predation.

The Vade Mecum is merely the legal cover with which predators better hide their predation. Just see: they do not misbehave; and even go to great lengths to develop complex formulas to constrain us not to misbehave.

Portugal has lost much of its sovereignty because of the EU and EZ; that is, because it is subject to the dictates of the dominant monopolies of the EU. This loss of sovereignty has two components: the destruction of the productive fabric, forcing more imports from the EU; the impossibility, while in the EU and EZ, of freely determining economic and social policies (the latter also depend on the economy). RC’s thoughts from (a) to (i) are an excellent demonstration of this second component in a specific area.


This loss of sovereignty, as far as Portugal remains in the irreformable EU and EZ of the monopolies is unstoppable. And it is unstoppable for objective reasons. As sovereignty is lost, the economy, the productive capacity, becomes weaker; the general impoverishment exerts pressure to accept lower wages and to only hold to subsidiary activities based on low wages, such as tourism and call centers, without increasing investments and modernizing the productive capacity of domestic industries. All this, in turn, leads to a continuous worsening of the balance of trade, as is observed; from this, the maintenance of deficits and even greater ones. It's a vicious circle.


Lions always take the easier prey first. For a country neo-colonized by the EU monopolies, as Portugal turned to thanks to PS, PSD and CDS, the spiral of dependence and impoverishment is unstoppable. The way out of this setting rests only on the workers' struggle for a change of route.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A vida na URSS do pós-guerra (II) | Life in the post-war USSR (II)

Concluímos o artigo de V.A. Torgachev do site «Para a História do Socialismo. Documentos» cuja primeira parte se encontra aqui.
We conclude the article of V.A. Torgachev from the site «Para a História do Socialismo. Documentos» whose first part is here.


Memórias da URSS. Os anos do pós-guerra

V.A. Torgachev

Tradução do russo para português e edição por CN, 26.01.2014
Original em russo: http://nstarikov.ru/blog/23233
Memories of the USSR. The postwar years

By V.A. Torgachev

Translation from the Russian to Portuguese and edition by CN, 2014-01-26
Original in Russian: http://nstarikov.ru/blog/23233

De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho

No final dos anos 30, esta consigna, que caracterizava a essência económica do socialismo, adquiriu formas construtivas, isentas de subjectivismo, e começou a ser aplicada amplamente em todas as esferas da economia nacional da URSS, garantindo no período do pós-guerra ritmos de desenvolvimento nunca antes vistos no país.

O impulsionador do desenvolvimento de um Método de Aumento da Eficiência do Trabalho, que designo de MAET, foi sobretudo L.P. Béria.[9] Dirigente do partido na Geórgia na década de 30, em apenas alguns anos, Béria transformou esta república bastante atrasada numa das mais prósperas e desenvolvidas economicamente de toda a URSS. Para concretizar essa consigna não era preciso possuir grandes conhecimentos de economia, bastava seguir o normal bom senso.

A essência do referido método consistia em dividir a actividade de qualquer colectivo laboral em duas partes: a parte planificada e a parte que superava o plano. A actividade planificada consiste em efectuar um determinado volume de trabalho no prazo estipulado. O trabalhador recebe pelo trabalho planificado um salário mensal ou semanal, cujo montante depende da sua qualificação e antiguidade na sua profissão. Parte do salário é pago sob a forma de prémios trimestrais ou anuais, o que assegura o interesse de todos os trabalhadores em que o plano seja cumprido (em caso de não cumprimento do plano todo o colectivo perde o direito a prémios). Em geral, a administração tem a possibilidade de limitar o valor dos prémios, de modo a incentivar os que mais trabalham e penalizar os desleixados, mas isto reflecte-se pouco na eficiência do colectivo. Em todo o mundo, os trabalhadores assalariados efectuam exclusivamente o trabalho planificado. Mas neste caso os trabalhadores não têm possibilidade de revelar as suas capacidades. Apenas por vezes, casualmente, um chefe inteligente consegue identificar tais capacidades e promover o trabalhador na hierarquia. Mas o mais frequente é não só não se incentivar a superação de um determinado plano como até se penalizar os que o tentam fazer.

A genialidade dos inventores do MAET consistiu em que conseguiram regulamentar a noção de trabalho «acima do plano», para a maioria dos tipos de actividade colectiva, e desenvolver um sistema de incentivos materiais e morais isento de subjectividade. O MAET permitiu a cada trabalhador desenvolver o seu potencial criativo («de cada um segundo as suas capacidades») e receber a correspondente gratificação, o que excluía a inveja e os conflitos laborais.

Iniciei a minha actividade laboral no Outono de 1958, quando, ainda estudante do quarto ano do Instituto de Electrotécnica de Leninegrado, comecei em simultâneo a trabalhar como técnico no Gabinete de Construções Experimentais OKB-590 do Ministério da Indústria Aeronáutica. Nesta altura o MAET já tinha sido liquidado, mas o magnífico ambiente moral que existia no colectivo, criado graças ao MAET, manteve-se até ao início dos anos 60. O MAET era um assunto que surgia com bastante frequência nas conversas informais com colegas de trabalho, que estavam no OKB desde os anos 40. Tais conversas terminavam com o tradicional remate: «Que canalha é este careca!» (aludia-se a N.S. Khruchov). Soube do MAET pelo meu pai, que, no pós-guerra, trabalhou na área de projecto e construção de estradas e durante a guerra foi comandante de batalhão de sapadores, tendo aberto a célebre «estrada da vida» de Leninegrado, no Inverno de 1942. Mais tarde, em 1962, um companheiro de viagem ocasional, no comboio Leninegrado-Moscovo, explicou-me sobre como funcionava o MAET nos estabelecimentos de ensino superior e nos institutos científicos de investigação.

Todos os trabalhos das organizações de projectos eram efectuados sob encomenda dos correspondentes ministérios. No caderno de encargos, que acompanhava a encomenda, eram indicados os parâmetros planificados tanto relativos ao projecto, como ao seu objecto. Estes parâmetros eram: o prazo de execução do projecto, o custo do projecto (sem incluir custos salariais), o custo do objecto projectado, bem como as características principais do objecto. A par disso, o caderno de encargos incluía uma escala de prémios pela superação dos parâmetros planificados. A redução dos prazos do projecto ou da construção do objecto e a melhoria das suas principais características eram recompensados com prémios quantificados em rublos. Cada encomenda incluía um fundo para prémios, correspondente a dois por cento do custo do projecto. Após a conclusão do projecto, as verbas não gastas deste fundo eram devolvidas ao dono da obra. Nalgumas encomendas particularmente importantes, a escala de prémios podia incluir automóveis, apartamentos e condecorações governamentais, para os quais nem sempre havia destinatários.

Para cada projecto, a entidade nomeava um dirigente que, em regra, não desempenhava funções administrativas. O dirigente do projecto formava um colectivo temporário para a realização do projecto de entre os colaboradores de um ou vários departamentos da entidade, com o acordo dos respectivos dirigentes. Por vezes eram incluídos nestas equipas colaboradores de outras entidades participantes no projecto. O chefe do projecto nomeava o seu adjunto entre os membros do colectivo. Durante o desenvolvimento do projecto, o chefe podia excluir qualquer um dos membros do colectivo. Cada membro da equipa, independentemente das suas funções, recebia à partida um ponto, que simbolizava a sua participação no projecto. O dirigente recebia cinco pontos e o seu adjunto três pontos. No decorrer do processo, o chefe podia atribuir a qualquer dos participantes de um a três pontos, de acordo com a sua avaliação do contributo de cada um. Isto era feito abertamente, as razões eram explicadas a todo o colectivo. Já as propostas de racionalização que garantissem parâmetros acima do plano eram valorizadas com três pontos, enquanto os requerimentos de invenções valiam cinco pontos. Estes pontos eram divididos entre os autores por comum acordo. No momento da conclusão do projecto cada participante sabia o montante do prémio que lhe cabia, em função do número de pontos acumulados, da verba global prevista para recompensar a execução do projecto acima dos parâmetros do plano e em correspondência com a escala de prémios de todos conhecida. O montante dos prémios era confirmado definitivamente pela comissão governamental que recepcionava o projecto e, literalmente, no dia seguinte todos os membros da equipa recebiam o dinheiro que lhes tinha sido atribuído.

No caso de projectos com grandes orçamentos, que demoravam anos a realizar, o valor de cada ponto podia ascender a dezenas de milhares de rublos (dezenas de milhares de dólares de hoje). Por isso, todos os membros do colectivo mantinham relações de grande respeito com as pessoas que garantiam a obtenção de prémios tão elevados, o que criava uma excelente ambiente moral. Os intriguistas e preguiçosos ou não eram escolhidos para formar as equipas, ou eram excluídos dela durante os trabalhos. As pessoas que recolhiam o maior número de pontos em diferentes projectos eram rapidamente promovidas na hierarquia, ou seja, o MAET constituía um excelente mecanismo de selecção de quadros.

Para que o MAET pudesse funcionar na indústria foi adoptada uma abordagem original. Todos os anos era incluído nos parâmetros do plano de cada empresa um ponto sobre a redução dos custos de produção, numa determinada percentagem, à custa de aperfeiçoamentos tecnológicos. Para incentivar este processo era criado um fundo especial de prémios análogo ao fundo de dois por cento das organizações de projectos. O esquema utilizado era o mesmo. Eram criadas equipas temporárias com os mesmos pontos à partida, com a tarefa de diminuir os custos de uma determinada produção. Ao mesmo tempo, os membros destes colectivos continuavam a exercer as suas funções laborais. Os resultados apuravam-se no final do ano, altura em que os prémios eram pagos. As empresas tinham o direito de vender a sua produção (agora com menor custo) ao preço antigo e formar com a diferença um fundo de prémios extra-plano. O resultado foi que a produtividade do trabalho nestes anos cresceu mais depressa do que em quaisquer outros países. A eficácia da aplicação do MAET nas empresas industriais é ilustrada pelo quadro seguinte, que mostra a redução dos custos de produção do armamento durante a guerra, momento em que, dada a pressão para produzir, se pensaria que não haveria possibilidade de ainda tentar aperfeiçoar os processos tecnológicos.
From each according to his ability, to each according to his work

In the late 1930s, this slogan, which characterized the economic essence of socialism, acquired constructive forms, free from subjectivism, and began to be widely applied in all spheres of the USSR's national economy, guaranteeing, in the post-war period, development rates never before seen in the country.


The driving force behind the development of a Method of Enhancing Work Efficiency, which I have called MAET, was mainly L.P. Beria.[9] Party leader in Georgia in the 1930s, in just a few years, Beria transformed this rather backward republic into one of the most prosperous and economically developed in the entire USSR. To implement that objective was not necessary to have great knowledge of economics, but just follow the normal common sense.


The essence of this method was to divide the activity of any labour collective into two parts: the planned part and the part that surpassed the plan. The planned activity consists of carrying out a certain amount of work within the stipulated period. The worker receives for the planned work a monthly or weekly salary, the amount of which depends on his qualification and seniority in his profession. Part of the salary is paid in the form of quarterly or annual bonuses, which assures the interest of all workers in that the plan is fulfilled (in case of non-compliance with the plan the whole collective loses the right to bonuses). The administration has, in general, the possibility of limiting the value of the bonuses, in order to encourage those who work harder and penalize the sloppy ones, but this is little reflected in the efficiency of the collective. Throughout the world, salaried workers carry out their planned work exclusively. But in this case the workers are not able to reveal their capabilities. Only sometimes, incidentally, can an intelligent boss identify such capabilities and promote the worker in the hierarchy. But the most frequent event is not only not to encourage the surpassing of a certain plan but even to penalize those who try to do it.


The geniality of the MAET inventors was that they succeeded in regulating the notion of "above-the-plan" work for most types of collective activity, and of developing a system of material and moral incentives free from subjectivity. The MAET allowed each worker to develop his/her creative potential (“of each according to his ability”) and receive the corresponding bonus, which excluded envy and labor conflicts.

I began my work activity in the autumn of 1958, when, still as a student of the fourth year of the Leningrad Institute of Electrotechnics, I started simultaneously to work as a technician in the Office of Experimental Constructions OKB-590 of the Ministry of Aeronautical Industry. At this point the MAET had already been liquidated, but the magnificent moral environment that existed in the collective, created through the MAET, was maintained until the early 1960s. The MAET was a subject that frequently arose in informal conversations with colleagues from work, who had been at the OKB since the 1940s. These conversations ended with the traditional final words: "What a bastard this bald man is!" (alluding to N.S. Khrushchev). I learned of MAET from my father who worked in the area of ​​road design and construction during the war and was a commander of a sapper battalion during the war, having opened the famous "road of life" of Leningrad in the winter of 1942. Later, in 1962, an occasional traveling companion on the Leningrad-Moscow train explained how MAET worked in higher education establishments and scientific research institutes.


All the works of the project organizations were carried out by commission of the corresponding ministries. In the tender dossier accompanying the commission, the planned parameters were indicated both for the project and for its object. These parameters were: the project implementation period, the cost of the project (not including salary costs), the cost of the designed object, as well as the main characteristics of the object. In addition, the tender dossier included a scale of bonuses for the surpassing of planned parameters. The reduction of deadlines, both of the project or construction of the object, and the improvement of its key features were rewarded with bonuses quantified in rubles. Each commission included a bonus fund, corresponding to two percent of the cost of the project. Upon completion of the project, the unused amounts from this fund were returned to the owner of the work. In some particularly important orders, the scale of bonuses could include cars, apartments and governmental decorations, for which there were not always recipients.


For each project, the institution appointed a manager who, as a rule, did not perform administrative functions. The leader of the project formed a temporary collective for the carrying out the project from among the collaborators of one or several departments of the institution, with the agreement of the respective directors. Sometimes, collaborators from other institutions participating in the project were included in these teams. The head of the project appointed his assistant from among the members of the collective. During the development of the project, the leader could exclude any of the members of the collective. Each member of the team, regardless of his or her duties, was given a starting point which symbolized his or her participation in the project. The manager received five points and his assistant three points. In the course of the process, the leader could assign to any of the participants one to three points, according to his assessment of each one's contribution. This was done transparently; the reasons were explained to all collective. The proposals of rationalization which guaranteed parameters above the plan were valued with three points, while the requirements of inventions were worth five points. These points were divided between the authors by common agreement. At the time of completion of the project each participant knew the amount of the bonus, depending on the number of points accumulated, the overall amount expected to reward the implementation of the project above the parameters of the plan and in accordance with the scale of bonuses known to all. The amount of the bonuses was confirmed definitively by the governmental commission receiving the project and the next day, literally, all team members received the money allotted to them.


In the case of projects with large budgets, taking years to complete, the value of each point could amount to tens of thousands of rubles (tens of thousands of today’s dollars). Therefore, all the members of the collective maintained relations of great respect with the people who ensured the achievement of such high bonuses, and this created an excellent moral environment. The intriguers and sluggards were either not chosen to form the teams, or were excluded from it during the works. People who collected the most points in different projects were quickly promoted in the hierarchy, i.e., the MAET was an excellent mechanism of cadre selection.

For MAET to work in the industry an original approach was adopted. Each year, the parameters of each enterprise’s plan included a point on reduction of production costs by a certain percentage thanks to technological improvements. To stimulate this process, a special fund of bonuses was created, similar to the fund of two percent of project organizations. The scheme used was the same. Temporary teams were created with the same starting points, with the task of reducing the costs of a given production. At the same time, the members of these groups continued to exercise their job functions. The results were determined at the end of the year, when the bonuses were paid. The enterprises had the right to sell their production (now at a lower cost) at the old price and to set an extra-plan bonus fund out of the difference. The result was that labor productivity in these years has grown faster than in any other country. The effectiveness of the application of the MAET in industrial enterprises is illustrated by the table below, which shows the reduction in production costs of armaments during the war, when, given the pressure to produce, it would be thought that there would be no possibility in trying to perfect the technological processes.





Custo de produção em rublos
Production cost in rubles


1941
1945
Bombardeiro PE-2
PE-2 bomber

420 000
265 000
Bombardeiro IL-4
IL-4 bomber

800 000
380 000
Tanque T34
T34 tank

270 000
142 000
Obus M-30
M-30 shell

94 000
35 000
Pistola-metralhadora PPCh
Submachine-gun PPCh

500
148
Espingarda Móssine
Mossin rifle

163
100
(Dados retirados do livro de A.B. Martirossian, 200 Mitos sobre Estaline)
(Data taken from the book by A.B. Martirossian, 200 Myths about Stalin)

No conjunto, o custo de produção dos diferentes tipos de armamento, nos quatro anos da guerra, diminuíram mais de duas vezes. E, no entanto, a maioria dos modelos tinham sido adoptados vários anos antes do início da guerra, sendo que a espingarda Móssine-Nagant [10] era produzida desde 1891.

Na actividade científica não existem critérios quantitativos para avaliar a eficácia das investigações. Por isso, nos institutos de investigação científica considerava-se como «acima do plano» os trabalhos de investigação suplementares, realizados por encomenda de diferentes empresas ou do próprio instituto. Nestes trabalhos suplementares, diferentemente da investigação fundamental, havia sempre um fundo salarial que era gerido pelo chefe da equipa, nomeado pela administração do Instituto. Como nos casos anteriores, eram formadas equipas temporárias para a realização do trabalho e atribuíam-se pontos iniciais, os quais podiam aumentar consoante a avaliação do desempenho de cada membro da equipa. Em função dos pontos recebidos, os membros da equipa recebiam uma remuneração mensal correspondente. Estas remunerações constituíam um suplemento ao vencimento de base. Porém, acontecia com frequência alguns membros da equipa receberem uma remuneração suplementar substancialmente superior ao vencimento de base, apesar de à partida, independentemente das funções que desempenhavam, dos graus e títulos académicos, todos terem o mesmo número de pontos, com excepção do chefe e do seu adjunto. Este sistema produzia um curioso efeito psicológico. Aqueles colaboradores que durante muito tempo se viam excluídos destes colectivos, não suportavam ver os seus colegas receber todos os meses muito mais que eles. Então, normalmente, abandonavam o Instituto, o que melhorava o nível médio do quadro de pessoal científico.

Nos estabelecimentos de ensino superior a actividade pedagógica era considerada a fundamental, enquanto a científica era vista como «acima do plano». Todos os trabalhos de investigação científica nos estabelecimentos de ensino superior eram efectuados precisamente segundo as regras do MAET, tal como trabalhos suplementares nos institutos de investigação científica ou institutos da Academia de Ciências.

Aos professores e pessoal médico o MAET nunca se aplicou, em primeiro lugar, porque a sua actividade não é colectiva. No entanto, a noção de trabalho «acima do plano» revelou-se aplicável também a estas categorias. Os vencimentos dos professores eram definidos com base numa carga horária de 18 horas por semana. Mas no caso de haver muitos alunos, a carga horária podia chegar às 24 horas e mesmo às 30 horas semanais, com uma correspondente compensação salarial. Além disso estavam previstos acréscimos salariais por trabalhos adicionais como a direcção de classe. Os médicos e o pessoal médico podiam receber em horas extraordinárias o equivalente a um ou mesmo dois vencimentos. Por isso, como se constata nos inquéritos da TsSU da URSS, o rendimento das famílias de médicos era uma vez e meia mais elevado que o das famílias de operários, enquanto os professores do secundário tinham um rendimento análogo ao dos quadros técnicos e engenheiros da indústria.

A liquidação do MAET, ocorrida em 1956, não exigiu esforços particulares. Simplesmente, nos orçamentos dos trabalhos de construção experimental e de investigação científica, eliminaram-se todos os fundos de remuneração do trabalho, quer para prémios, quer para vencimentos normais. E de imediato as escalas de prémios, os colectivos temporários e os pontos deixaram de fazer sentido. Nos planos das empresas industriais foram retirados os parâmetros de redução dos custos de produção e, desta forma, desapareceu a possibilidade de criação de um fundo de prémios para o aperfeiçoamento da tecnologia e qualquer tipo de estímulo para promover esse aperfeiçoamento. Foram ainda restringidos os montantes das gratificações pela apresentação de propostas de racionalização e invenções.

A característica mais importante do MAET era o facto de não só permitir a acção criativa de um grande número de pessoas e a revelação de talentos, mas também de alterar a psicologia de todos os membros do colectivo, bem como as relações mútuas no seu interior. Qualquer membro do colectivo tinha consciência da importância do seu papel no conjunto do processo e prontificava-se para realizar qualquer parte do trabalho, mesmo no caso de esse trabalho não corresponder ao seu estatuto. A benevolência mútua e o desejo de ajudar o outro eram traços absolutamente típicos dessas relações. No fundo, cada membro do colectivo via-se a si próprio como uma personalidade e não uma mera peça num mecanismo complexo. Alteraram-se também as relações entre chefias e subordinados. Em vez dar ordens e indicações, o chefe procurava explicar a cada subordinado o importância que a tarefa que lhe era incumbida tinha no processo geral. À medida que os colectivos se consolidavam e se formava uma nova psicologia, os próprios estímulos materiais passavam para segundo plano, deixando de ser a principal força motriz. Suponho que quem concebeu o MAET contava precisamente com este efeito.

Apesar de eu ter entrado para o OKB-590 em 1958, quase três anos após a eliminação do MAET, o bom ambiente moral no colectivo manteve-se durante muito tempo, mesmo sem haver estímulos externos. O laboratório onde trabalhei caracterizava-se pela total ausência de submissão e pelas relações de amizade entre todos os colaboradores. Todos se tratavam pelo nome próprio, incluindo o chefe do laboratório. Isto era facilitado pela pequena diferença de idades que havia entre os colaboradores, o mais velho dos quais tinha menos de 35 anos. As pessoas trabalhavam com grande entusiasmo simplesmente porque o trabalho era interessante. O dia de trabalho prolongava-se desde as 9 da manhã até às 10 ou 11 da noite. Tudo numa base voluntária e sem qualquer pagamento suplementar. Em contrapartida ninguém controlava a hora de chegada ou de saída dos colaboradores. Quando alguém adoecia com uma maleita ligeira, não se lhe exigia que apresentasse atestado médico. Bastava que telefonasse ao chefe do laboratório e lhe explicasse a razão da sua ausência.

A atmosfera criativa que caracterizava todas as subsecções da nossa organização era determinada em grande parte pela personalidade do seu dirigente, V.I. Lanerdine. O OKB-590 foi criado em 1945 por instrução directa de Stáline, com o objectivo de desenvolver futuros meios de técnica computacional para a aviação. Para chefiar o novo gabinete de construções experimentais, Stáline nomeou o engenheiro Lanerdine, que tinha então 35 anos e não era membro do partido. Lanerdine estava nessa altura nos EUA, onde assegurava os fornecimentos de técnica aeronáutica à URSS, no âmbito do programa de lend lease. Dominava com fluência o inglês e o alemão, e era um grande entendido em técnica electrónica. Uma das primeiras secções do OKB foi o gabinete de informação técnica, que dispunha de um quadro de tradutores e recebia todas as revistas estrangeiras que tivessem algo a ver, por pouco que fosse, com a aviação e a electrónica, e mais tarde com os foguetões e a técnica computacional. Ao que tudo indica, Lanerdine via diariamente as novas publicações que davam entrada no gabinete de registo, uma vez que nas secretárias dos colaboradores, incluindo os de baixo escalão, surgiam com frequência recomendações suas para que lessem determinados materiais publicados. Na primeira secção existia uma grande biblioteca secreta, onde eram conservados documentação e modelos dos mais recentes inventos estrangeiros, obtidos pelos nossos serviços secretos por encomenda directa do OKB. Era Lanerdine quem se ocupava pessoalmente da selecção de quadros para a sua organização. Em Setembro de 1958, à saída do auditório do Instituto, onde decorrera a última aula do dia, era eu um estudante do quarto ano, veio ter comigo um homem de aspecto impressivo e pediu-me que dispusesse de um pouco de tempo para uma conversa particular. Sem me fazer qualquer pergunta, propôs-me um emprego interessante numa empresa do ramo militar, com horário livre e meio vencimento da categoria de técnico (350 rublos por mês), que poderia conjugar com o curso. E garantiu-me que assim que terminasse o Instituto entraria para o quadro daquela empresa. De passagem acrescentou que a empresa ficava perto da minha casa. Só quando me apresentei no novo emprego, soube que aquele homem de aspecto impressivo era V.I. Lanerdine, o chefe da empresa.

No período pós-Stáline, os dirigentes de empresas que não eram membros do partido tornaram-se indesejáveis. Durante de vários anos, o ministério tentou encontrar um pretexto para destituir Lanerdine do seu cargo, mas todas as missões, incluindo aquelas que pareciam irrealizáveis, eram cumpridas antes do prazo, tal como acontecia no tempo do MAET. Por isso, no final de 1962, o OKB-590 foi simplesmente extinto. O pessoal, assim como aquela área de trabalho, foi transferido para o OKB680, cujo chefe era totalmente o oposto de Lanerdine, até em russo se expressava com dificuldade. Na nova organização havia um horário rígido. Por um atraso de cinco minutos perdia-se o prémio trimestral. Durante o horário de trabalho só se podia sair das instalações com autorização do chefe adjunto dos recursos humanos. Terminado o horário de trabalho era proibido permanecer nas instalações. Ninguém se interessava pelos resultados do trabalho. E a adesão ao partido tornou-se uma condição obrigatória para se progredir na carreira. Enquanto no OKB-590 nunca ouvi uma só vez a palavra «partido», e nem sequer havia uma sala do comité do partido.

Nestes anos, os casos de extinção de empresas eficientes do sector militar não eram uma raridade. No Outono de 1960 foi extinto o OKB-23, dirigido por V.M. Miássichev, um dos mais eminentes construtores aeronáuticos, que, entre outros, desenvolveu com êxito o bombardeiro estratégico com motor atómico. [11] Miássichev foi então nomeado dirigente do TsAGI [Instituto Central de Aero-hidrodinâmica] e o pessoal do OKB-23 ficou sob a chefia de V.N. Tchelomei, que trabalhava na criação da técnica dos foguetões espaciais. O adjunto de Tchelomei era o recém-licenciado Serguei Khruchov [filho de N.S. Khruchov].

Costuma-se dizer que tudo o que é genial deve ser simples. O MAET é um exemplo brilhante dessa simplicidade genial. Colectivos temporários, pontos que avaliavam com objectividade a contribuição de cada membro para o trabalho do colectivo e um fundo de prémios relativamente pequeno – eis toda a essência do MAET. E que resultados proporcionou! Talvez o principal resultado se deva considerar a transformação de um grande número de pessoas normais em personalidades criativas brilhantes, capazes de tomar decisões autonomamente. Foi precisamente graças a estas pessoas que o país continuou a desenvolver-se, mesmo após a extinção do MAET, até ao início dos anos 60. Depois, no ambiente sufocante que se criou naquele tempo, em que a principal divisa era «não te evidencies», as capacidades de cada um deixaram de ser requisitadas.

É possível atrelar ao mesmo carro um cavalo e um gamo tremulante [12]

Considera-se que a economia planificada e a economia de mercado são incompatíveis. Todavia, nos tempos de Estaline, ambas se conjugavam com grande sucesso. Cito apenas um pequeno extracto do interessante texto de A.K. Trubitsine, «Sobre Estaline e os empresários», [13] que encontrei na Internet: «Qual foi a herança que o camarada Estaline deixou ao país no que se refere ao sector empresarial privado da economia? [O sector «empresarial privado» aqui referido é o sector co-operativo com características distintas das empresas capitalistas; além disso, na URSS de Estaline estava sujeito a regras do estado socialista, nomeadamente quanto à política de preços – JMS.] Havia 114 mil oficinas e empresas dos mais variados ramos de actividade: da indústria alimentar à metalúrgica e da ourivesaria à indústria química. Nestas empresas trabalhavam cerca de dois milhões de pessoas, que produziam quase seis por cento do Produto Interno Bruto da indústria da URSS, sendo que as cooperativas de artesãos e cooperativas industriais produziam 40 por cento do mobiliário, 70 por cento da loiça metálica, mais de um terço dos tecidos de malha, quase todos os brinquedos infantis. No sector privado havia cerca de uma centena de gabinetes de design, 22 laboratórios experimentais e mesmo dois institutos de investigação científica. Além disso, este sector dispunha do seu próprio sistema, não estatal, de pensões de reforma! Já sem falar do facto de que as cooperativas concediam empréstimos aos seus membros para a compra de gado, instrumentos de trabalho e equipamentos e construção de habitação. As cooperativas não produziam apenas artigos elementares, mas também coisas que eram indispensáveis à vida. Nos anos do pós-guerra, os artigos fabricados em cooperativas constituíam cerca de 40 por cento do recheio das habitações rurais (loiça, calçado, mobiliário, etc.). Os primeiros receptores de rádio a válvulas soviéticos (1930), os rádios gramofones (1935), os primeiros televisores com tubo de raios catódicos (1939) foram produzidos pela cooperativa de Leninegrado «Progress-Radio». A cooperativa «Stoliar-Stroitel», que começou a sua actividade em 1923 fabricando trenós, rodas, abraçadeiras, caixões, adoptou o nome de «Radist» em 1955, dispondo já de uma grande produção de mobiliário e aparelhos de rádio. A cooperativa «Metallist» de Irkutsk, criada em 1941, possuía em meados dos anos 50 uma poderosa base de produção fabril. A cooperativa «Krasni Partisan» de Vologda, que começou a produzir resina em 1934, era já um grande produtor em meados dos anos 50, com uma produção de 3500 toneladas. A cooperativa «Iupiter» da cidade de Gátchina [região de Leninegrado], que fabricava desde 1924 artigos de bijuteria, em 1944, logo após a libertação, começou a fabricar coisas tão indispensáveis à reconstrução da cidade como pregos, fechaduras, lanternas, pás, e no início dos anos 50 produzia loiça de alumínio, máquinas de lavar, máquinas de perfuração e prensas.»

Ao ler este artigo recordei-me de que, perto da minha casa, mesmo no centro do bairro de Petrogrado, em Leninegrado, se situava o Palácio da Cultura das Cooperativas Industriais (mais tarde tornou-se o Palácio da Cultura do Soviete de Leninegrado), que tinha sido construído ainda antes da II Guerra. Dispunha de uma grande sala de cinema, uma sala de concertos e de espectáculos de teatro, bem como múltiplos estúdios e outras instalações para actividades de secções e círculos. E também me lembrei de que, em 1962, durante uma estadia na praia na aldeia de Pitsunda, na Abecásia, fui o único ouvinte, e não muito atento, dos monólogos de um indivíduo que conheci ocasionalmente, o qual tinha trabalhado mais de dez anos nas cooperativas de produção artesanal, e que após a liquidação deste sector sentia vontade de desabafar a sua dor. Nessa altura, as questões da economia não me interessavam muito, e passei longos anos sem nunca me recordar deste episódio. Contudo, pelos vistos, uma parte da informação ficou registada na memória.

Já referi que em 1960 começou uma crise de produtos alimentares na URSS, provocada exclusivamente por factores subjectivos. [Por «factores subjectivos» Torgachev parece referir-se ao facto da crise se dever à acção de «sujeitos», nomeadamente Khruchov; Torgachev enumera abaixo factores objectivos e não subjectivos – JMS.] Leninegrado, Moscovo bem como as capitais das repúblicas da União sentiram esta crise em menor grau que as restantes cidades do país. No entanto posso enumerar um conjunto de produtos que eram consumidos com grande frequência na nossa família e que desapareceram neste período. Para além da farinha desapareceram do comércio o grão de trigo-sarraceno, de trigo e de sêmola de trigo, a massa vermicel, as tranças de pão designadas «khala», bem como os estaladiços croissants «franceses», a manteiga de Vologda e o creme de chocolate, o leite cozido [14] e achocolatado, todos os tipos de pré-cozinhados de carne, porco fumado e assado no forno, carpa dourada e outras. Com o tempo, a farinha, os frangos e os pré-cozinhados de carne voltaram a aparecer no comércio. Mas a maior parte dos produtos atrás referidos ainda hoje não se encontram. Nuns casos perderam-se as receitas, noutros comercializam-se com nomes antigos produtos completamente diferentes (isto aplica-se em particular aos produtos de salsicharia, incluindo a célebre «Dótorskaia Kolbassa»).

Eis como, mais tarde, o célebre escritor infantil, E. Nossov, autor dos livros sobre o pequeno «Não sei» [«Neznaika» da frase russa «ne znaio», não sei], descreveu esta crise: «Apesar de os diagramas optimistas sobre a produção de leite e a engorda do gado ainda não terem sido descoloridos nem apagados pela chuva, das prateleiras das lojas começaram a desaparecer a carne e todos os produtos de carne. Depois todos os lacticínios. Em poucos dias evaporou-se até o queijo fundido. A sêmola de milhete e o trigo-sarraceno tinham desaparecido, como depois se verificou, por décadas inteiras. A coisa chegou ao talharim e ao macarrão».

No Outono de 1963, as fábricas panificadoras suspenderam a produção planificada de cacetes e carcaças, e encerraram as linhas de pastelaria. O pão branco era dispensado apenas a alguns doentes e crianças pré-escolares, mediante a apresentação de um atestado devidamente carimbado. As padarias limitaram o número de pães por pessoa e só se encontrava cacetes de pão escuro, em cuja farinha eram misturadas ervilhas.

O meu companheiro de férias explicou-me lucidamente as razões da diminuição da variedade dos produtos alimentícios, assim como do significativo aumento dos preços dos produtos fabricados a partir de cereais, numa altura em que os números oficiais indicavam haver muito mais quantidade de cereais que em meados dos anos 50, para além de que uma parte importante era comprada no estrangeiro. Na realidade, a maior parte da indústria alimentar da URSS, incluindo a moagem de farinha e a panificação, pertencia às cooperativas industriais. As fábricas panificadoras do Estado existiam apenas nas grandes cidades e produziam um sortido muito limitado de produtos de padaria. A restante produção vinha das padarias privadas, organizadas em cooperativas, que abasteciam o comércio normal do Estado. A mesma situação verificava-se com a produção de produtos de carne, lacticínios e pescado. A propósito, a captura de pescado também era realizada principalmente por cooperativas. A maior parte da carne de gado e aves, do leite, ovos, bem como do trigo-sarraceno e da sêmola de milhete provinha, não dos kolkhozes, mas das parcelas individuais dos kolkhozianos, e constituía a principal fonte de rendimentos da população rural. Uma parte significativa das empresas de restauração, sobretudo nos países do Báltico, Ásia Central e Cáucaso, estava integrada no sistema de cooperativas de produção artesanal.

Em 1959 as parcelas individuais [de terra -- JMS] foram drasticamente reduzidas. Os kolkhozianos foram obrigados a vender as suas cabeças de gado aos kolkhozes, onde morreram em massa, devido à falta tanto de forragens como de pessoal capaz de cuidar devidamente dos animais. O resultado foi a diminuição do volume de produção de carne e sobretudo de leite. Em 1960 iniciou-se a nacionalização em grande escala das empresas industriais cooperativas, incluindo também na indústria alimentar. Toda a propriedade das cooperativas, designadamente instalações, equipamentos, reservas de mercadorias e monetárias, foi transferida para o Estado sem pagamento de indemnizações. Os colectivos de direcção eleitos pelas cooperativas foram substituídos por dirigentes nomeados pelo partido. O rendimento dos trabalhadores, tal como nas restantes empresas estatais, passou a consistir no seu vencimento ou nos valores fixados à peça, complementado com os prémios trimestrais ou anuais. Nas cooperativas, para além do salário normal, existia um fundo de prémios, constituído por 20 por cento dos lucros. Este fundo era distribuído entre os seus membros, tal como no caso do MAET, em função dos pontos acumulados pela participação de cada um no trabalho. O valor de cada ponto era definido sob proposta do presidente da cooperativa nas assembleias gerais de cooperativistas. Em regra, estes pontos proporcionavam um rendimento mensal de 1,5 a duas vezes superior ao vencimento base, mesmo com o mínimo de participação no trabalho. Em contrapartida, todos os cooperativistas, incluindo o chefe eleito, que também trabalhava num sector concreto, laboravam com a máxima intensidade, sem limites de horário. O rendimento de cada cooperativista dependia não só da quantidade, mas também da qualidade e variedade da sua produção. Recordo-me, a propósito, de que em Leninegrado algumas padarias além de abastecerem as lojas do Estado, também faziam distribuição ao domicílio de pão quente, diferentes tipos de carcaças e pastelaria, por um pequeno acréscimo de preço.

Depois da nacionalização, o dia de trabalho dos antigos cooperativistas foi reduzido para 8 horas diárias, conforme a legislação. Ao mesmo tempo, nestas unidades surgiram os chefes nomeados, que eram pessoas totalmente inúteis para a produção, mas ganhavam salários relativamente elevados. Desapareceu o interesse material na qualidade da produção e de imediato aumentou a percentagem de desperdício e de produtos defeituosos. Em consequência diminuiu acentuadamente o volume de produção para um mesmo número de empresas e de trabalhadores. De qualquer modo, as empresas de moagem já não podiam produzir o volume anterior dada a escassez de cereais. A única saída para a situação criada foi aumentar o número de trabalhadores nas empresas da indústria alimentar. Os recursos financeiros suplementares que tal exigia foram obtidos à custa do aumento dos preços dos produtos alimentícios, em média 1,5 vezes, o que provocou automaticamente a diminuição do nível de vida da população. Os preços dos artigos industriais subiram ainda em maior grau. Inversamente, os rendimentos dos antigos cooperativistas caíram mais de duas vezes. A liquidação das cooperativas industriais teria de conduzir à redução do sortido e diminuição da qualidade dos produtos. É muito mais fácil produzir um só tipo de produto do que dez, tanto mais que os parâmetros do plano apenas indicavam em abstracto as quantidades em unidades ou quilogramas.

As empresas cooperativas industriais funcionavam em condições muito mais favoráveis do que as pequenas empresas de hoje. O seu financiamento efectuava-se não através da banca, mas de uniões regionais, inter-regionais ou sectoriais de cooperativas industriais (UCI), que dispunham de fundos especiais de crédito, com uma taxa de juro não superior a três por cento. Nalguns casos, o crédito era concedido a taxa zero. Uma cooperativa recém-formada podia obter um empréstimo sem precisar de dar qualquer garantia: todo o risco de falência era assumido pela UCI. As UCI forneciam às cooperativas os equipamentos e materiais necessários à produção a preços estatais. As encomendas das UCI davam entrada no Gosplan da URSS, que destinava as verbas necessárias para os fornecimentos, incluindo de materiais importados e pagos em divisas. A realização da produção das cooperativas podia também ser efectuada através das UCI. Em contrapartida, os preços das cooperativas industriais não podiam ser superiores aos preços estatais em mais de dez por cento. Para as pequenas cooperativas, as UCI podiam realizar o trabalho de contabilidade, controlo da tesouraria e assegurar os transportes. Os dirigentes das UCI de qualquer nível eram eleitos, em regra, entre os cooperativistas ou entre os colaboradores das UCI dos níveis inferiores. A remuneração do trabalho destes colaboradores efectuava-se nos mesmos moldes que nas cooperativas. Além do vencimento base havia um fundo de prémios que era distribuído de acordo com os pontos pela participação no trabalho. Quanto maior fosse o lucro da cooperativa, maior era a sua contribuição para a UCI e maior seria o fundo de prémios para os seus colaboradores. Isto era um forte incentivo para que as UCI dessem todo o apoio à actividade das cooperativas e ao aumento do seu número.

As UCI desenvolviam uma grande actividade na construção de habitação. Os cooperativistas podiam comprar casas individuais através de um empréstimo a 15 anos, concedido pela UCI a uma taxa de juro de três por cento sem entrada inicial. As UCI eram proprietárias de muito edifícios de apartamentos. Aí, os cooperativistas podiam comprar os seus apartamentos da mesma forma que nas cooperativas de construção de habitação, mas sem entrada inicial.

As cooperativas industriais tinham a sua rede de sanatórios e casas de repouso com estadias gratuitas para os cooperativistas. Tinham a seu próprio sistema de reformas, que não substituía, mas complementava o sistema estatal. É claro que passados 50 anos posso ter esquecido alguns pormenores. Também é possível que a pessoa que me relatou muitos destes factos sobre as cooperativas industriais, que «perdemos», tenha embelezado a realidade. Todavia, penso que o quadro aqui traçado não está longe da verdade.

Uma última palavra

Os cidadãos da Rússia actual, na sua maioria esmagadora, dos liberais aos comunistas, estão convencidos de que a população da URSS sempre viveu muito pior do que nos países ocidentais. Ninguém faz a menor ideia de que, na época de Estaline, os soviéticos viviam em média muito melhor, no plano material e moral, do que em qualquer outro país daquele tempo e até melhor do que nos EUA da actualidade, já sem falar da Rússia de hoje. Depois veio o funesto Khruchov e estragou tudo. Em 1960 a população da URSS, sem se aperceber, já vivia num país completamente diferente, e passado algum tempo esqueceu-se de como antes se vivia. Foi precisamente neste novo país que surgiram os traços negativos que se consideram inerentes ao sistema socialista. Foi precisamente este país pseudo-socialista, totalmente diferente da União Soviética anterior, que ruiu em 1991 sob o peso dos problemas acumulados. Gorbatchov apenas acelerou este processo, agindo ao estilo de Khruchov.

É por isso que decidi falar sobre o país excelente, do qual me recordo, que era a União Soviética no período de Estaline do pós-guerra.

Valéri Antónovitch Torgachev,
Doutor em Ciências Técnicas, Professor
Overall, the production cost of the different types of armaments, in the four years of the war, declined more than twice. And yet most of the models had been adopted several years before the start of the war, with the Mossine-Nagant rifle [10] being produced since 1891.

In the scientific activity there are no quantitative criteria to evaluate the effectiveness of the research. For that reason, the institutes of scientific research considered as “above the plan” the supplementary research works carried out on comission of different enterprises or of the institute itself. In these supplementary works, unlike basic research, there was always a salary fund that was managed by the head of the team, appointed by the administration of the Institute. As in previous cases, temporary teams were formed to carry out the work and initial points were assigned, which could be increased depending on the performance evaluation of each team member. Depending on the points received, the team members received a corresponding monthly remuneration. These remunerations constituted a supplement to the basic salary. However, it was often the case that some members of the team received an additional remuneration that was substantially higher than the basic salary, even though initially, irrespective of their functions, academic degrees and titles, all had the same number of points, with the exception of the head and his assistant. This system produced a curious psychological effect. Those collaborators, who for a long time were excluded from these collectives, could not bear to see their colleagues receive much more each month than they. So they usually left the Institute, and this improved the average level of the scientific staff.


In higher education establishments the pedagogical activity was considered the fundamental one, whereas the scientific one was seen as "above the plane". All scientific research in higher education institutions was carried out precisely in accordance with the MAET rules, such as supplementary work at scientific research institutes or institutes of the Academy of Sciences.


The MAET was never applied to teachers and medical personnel, in the first place because their activity is not collective. Nevertheless, the notion of “above-plan” work has also been found to apply to these categories. Teacher salaries were defined based on a workload of 18 hours per week. But if there were many students, the workload could reach 24 hours and even 30 hours a week, with corresponding salary compensation. In addition, salary increases were foreseen for additional work such as class management. The doctors and medical staff could receive the equivalent of one or even two salaries for overtime. Thus, as was shown in the TsSU surveys in the USSR, the income of medical families was one and a half times higher than that of working families, while secondary school teachers had an income similar to that of technical staff and engineers in industry.


The liquidation of the MAET, which took place in 1956, did not require particular efforts. Simply put, in the budgets of experimental construction and scientific research, all labor compensation funds were eliminated, both for bonuses and normal remunerations. And immediately the scales of bonuses, the temporary collectives and the points no longer made sense. In the plans of the industrial enterprises the parameters of reduction of production costs were removed and, in this way, the possibility of creating a fund of bonuses for the improvement of the technology and any type of incentive to promote this improvement disappeared. The amounts of bonuses for the presentation of rationalization proposals and for inventions were also restricted.


The most important feature of the MAET was that it not only allowed the creative action of a large number of people and the revelation of talents but also altered the psychology of all members of the collective as well as the mutual relations among them. Any member of the collective was aware of the importance of his role in the process as a whole and was prepared to perform any part of the work, even if this work did not correspond to his status. Mutual benevolence and the desire to help each other were absolutely typical traits of these relationships. At bottom, each member of the collective saw himself as a personality and not a mere piece in a complex mechanism. Relations between managers and subordinates were also altered. Instead of giving orders and directions, the manager sought to explain to each subordinate the importance that the task entrusted to him had in the general process. As the collectives consolidated and a new psychology was formed, the material stimuli themselves passed into the background, ceasing to be the main driving force. I suppose that the person who conceived the MAET counted precisely with this effect.

Although I entered OKB-590 in 1958, almost three years after the elimination of the MAET, the good moral environment in the collective remained for a long time, even without external stimuli. The laboratory where I worked was characterized by the total absence of submission and the friendly relations between all the collaborators. Everyone was addressed by name, including the head of the laboratory. This was facilitated by the small difference in ages between employees, the oldest of them was under the age of 35. People worked with great enthusiasm simply because the work was interesting. The work day lasted from 9 in the morning until 10 or 11 at night. Everything on a voluntary basis and without any additional payment. On the other hand, no one controlled the time of arrival or departure of employees. When someone had a mild malady, they were not required to submit a medical certificate. All he had to do was to phone the chief of the laboratory and explain him or her the reason for his absence.

The creative atmosphere that characterized all the subsections of our organization was largely determined by the personality of its leader, V.I. Lanerdine. The OKB-590 was created in 1945 by direct instruction from Stalin, with the aim of developing future means of computational techniques for aviation. To head the new cabinet of experimental constructions, Stalin appointed the engineer Lanerdine, who was then 35 years old and not a member of the party. Lanerdine was at that time in the USA, where he provided the aeronautical technique supplies to the USSR, under the lend lease program. He was fluent in English and German, and was a great expert in electronic technology. One of the first sections of OKB was the technical information office, which had a cadre of translators and received all the foreign magazines that had something to do, even in small amount, with aviation and electronics, and later with the rockets and the computational techniques. It seems that Lanerdine saw daily the new publications that were entering the registration office, since in the desks of the collaborators, even those of the low-ranking ones, often appeared recommendations to them to read certain published materials. There existed in the first section a large secret library, where documentation and models of the most recent foreign inventions were kept, obtained by our secret services by direct order from the OKB. It was Lanerdine who personally handled the cadre selection for his organization. In September 1958, outside the auditorium of the Institute, where the last class of the day had taken place -- I was a student of the fourth year --, a man of impressive aspect came to me and asked me to have a little time for a particular conversation. Without asking me any question, he offered me an interesting job at a military company, with free time and half-remuneration of the technician category (350 rubles a month), which could be combined with the course of my studies. Moreover, he assured me that as soon as I finished the Institute I would enter into that company's staff. Incidentally, he added that the company was close to my house. Only when I showed up at the new job did I know that the impressive man was V.I. Lanerdine, the head of the enterprise.


In the post-Stalin period, leaders of enterprises who were not party members became undesirable. For several years, the ministry tried to find a pretext to remove Lanerdine from his post, but all commissions, including those that seemed unrealizable, were finished before the deadline, as was the case in the time of the MAET. As a result, at the end of 1962, the OKB-590 was simply extinguished. The staff, as well as the work area, were transferred to the OKB680, whose leader was totally the opposite of Lanerdine; he even expressed himself with difficulty in Russian. In the new organization there was a rigid schedule. For a delay of five minutes the quarterly premium was lost. During working hours, one could only leave the premises with authorization from the Deputy Head of Human Resources. After working hours, it was forbidden to stay in the premises. No one was interested in the results of the work. And joining the party became then a mandatory condition for career advancement. When I was in the OKB-590 I never heard the word "party" once, and there was not even a party committee room.

In these years, the cases of extinction of efficient enterprises of the military sector were not a rarity. In the autumn of 1960 the OKB-23, headed by V.M. Miassichev -- one of the most eminent aeronautical constructors, who, among other projects, successfully developed the strategic atomic-powered bomber – was extinguished. [11] Miassichev was then appointed as head of  TsAGI [Central Institute of Aero-hydrodynamics] and the OKB-23 staff was put under the leadership of V.N. Tchelomei, who worked on the creation of the space rocket technique. The assistant of Tchelomei was the newly-graduated Serguei Khrushchev [son of N.S. Khrushchev].


It is often said that everything that is genius should be simple. The MAET is a shining example of this brilliant simplicity. Temporary collectives, points that objectively assessed the contribution of each member to the work of the collective and a relatively small premium fund -- this is the whole essence of the MAET. And what results it did provide! Perhaps as main result one should consider the transformation of a large number of normal people into brilliant creative personalities capable of making decisions autonomously. It was precisely because of these people that the country continued to develop even after the extinction of the MAET and until the early 1960s. Then, in the suffocating environment that was created at that time, where the main motto was "do not go under the spotlight", the capabilities of each one were no longer required.


It is possible to attach a horse and a trembling deer to the same cart [12]

It is considered that the planned economy and the market economy are incompatible. However, in Stalin's time, both were combined with great success. I quote only a small excerpt from the interesting text of A.K. Trubitsine, "On Stalin and the entrepreneurs", [13] which I found on the Internet: "What was the legacy that comrade Stalin left to the country with regard to the private entrepreneurial sector of the economy? [The “private entrepreneurial” sector mentioned here is the co-operative sector with features that are distinct from the capitalist enterprises; moreover, in Stalin’s USSR, it was subject to regulations of the socialist state, namely as regards the price policy – JMS.] There were 114 thousand workshops and enterprises in a wide range of industries: from food industry to metallurgy and from jewelry to chemical industry. Around two million people worked in these enterprises, producing almost six percent of the Gross Domestic Product of the USSR industry, with co-operatives of artisans and industrial co-operatives producing 40 percent of the furniture, 70 percent of the metal tableware, more than a third of knitted fabrics, and almost all children's toys. In the private sector there were around a hundred design offices, 22 experimental laboratories and even two scientific research institutes. In addition, this sector had its own non-state pension system! Not to mention the fact that the co-operatives granted loans to their members for the purchase of livestock, labor tools and housing construction equipment. Co-operatives produced not only basic items, but also things that were indispensable to life. In the post-war years, articles made in co-operatives constituted about 40 percent of the housing stock (crockery, shoes, furniture, etc.). The earliest Soviet radio tube receivers (1930), gramophone radios (1935), the first cathode-ray tube television sets (1939) were produced by the  Leningrad co-operative ‘Progress-Radio’. The ‘Stoliar-Stroitel’ co-operative, which began operating in 1923 producing sleighs, wheels, cable ties and coffins, was renamed ‘Radist’ in 1955 and had already a large production of furniture and radio sets. The ‘Metallist’ co-operative of Irkutsk, established in 1941, had a powerful factory production plant in the mid-1950s. Vologda's ‘Krasni Partisan’ co-operative, which began producing resins in 1934, was already a major producer in the mid-1950s, with a production of 3,500 tons. The co-operative ‘Iupiter’ of the town of Ghatchina, which had been manufacturing jewelry articles since 1924, soon after its liberation, began manufacturing things as indispensable to the reconstruction of the city as nails, locks, lanterns, shovels, and in the early 1950s it produced aluminum ware, washing machines, drilling machines and presses.”

When reading this article I recalled that, near my house, even in the center of the Petrograd neighborhood in Leningrad, was the Palace of Culture of Industrial Co-operatives (it became later the Palace of Culture of the Leningrad Soviet) , which had been built before the Second World War. It had a large movie theater, a concert hall and theater shows, as well as multiple studios and other facilities for the activities of groups and circles. I also remembered that in 1962, during a stay on the beach in the village of Pitsunda in Abkhazia, I was the only and not very attentive listener of the monologues of an individual I met occasionally, who had worked for over ten years in the co-operatives of artisanal production, and that after the liquidation of this sector he felt the desire to vent his pain. At that time, economics was not of much interest to me, and I spent many years without ever remembering this episode. However, it appears that some of the information has been recorded in memory.


I have already mentioned that in 1960 began a crisis of food products in the USSR, caused exclusively by subjective factors. [By “subjective factors” Torgachev is apparently referring to the crisis being due to the action of “subjects”, namely Khrushchev; Torgachev enumerates below objective factors, not subjective ones – JMS.] Leningrad, Moscow as well as the capitals of the Union republics felt this crisis to a lesser extent than the other cities of the country. However, I can enumerate a set of products that were consumed with great frequency in our family and that disappeared in this period. In addition to flour, disappeared from the commerce the grain of buckwheat, wheat and wheat semolina, vermicelli, loaves of bread known as 'khala', as well as crunchy 'French' croissants, Vologda butter and chocolate cream, cooked milk [14] and chocolate, all kinds of pre-cooked meat, smoked pork and pork baked in the oven, golden carp and others. Over time, flour, chickens and pre-cooked meat have reappeared in commerce. But most of the aforementioned products are still missing today. In some cases the recipes have been lost, in other cases old products are sold under different names (this applies in particular to sausage products, including the famous 'Dótorskaia Kolbassa'.)

Here is how later on the celebrated children's writer, E. Nossov, author of the books on the lad "I don’t know" [Neznayka, from the Russian phrase "ne znayo", I don’t know] described this crisis: "In spite of the optimistic diagrams about milk production and fattening of livestock have not yet been discolored or wiped out by rain, the meat and all meat products had begun to disappear from the store shelves. Then followed all the dairy products. In a few days, even the melted cheese had evaporated. Millet semolina and buckwheat had disappeared, and as it turned out, for entire decades. Then came the turn to noodles and macaroni."


In the autumn of 1963, the bakery factories suspended the planned production of French bread and loaves, and the pastry lines were closed. White bread was dispensed only to a few sick people and preschool children, upon presentation of a duly stamped attestation. The bakeries limited the number of loaves per person, and only dark loaves of bread were found, in which pea flour was mixed in.


My holiday companion has lucidly explained to me the reasons for the decline in the variety of foodstuffs, as well as the significant increase in the prices of cereal products, at a time when official figures indicated that there was a much larger quantity of cereals than in the mid-1950s, let alone the major share being bought abroad. In fact, most of the USSR food industry, including flour milling and baking, belonged to industrial co-operatives. State bakeries existed only in large cities and produced a very limited assortment of bakery products. The remaining production came from the private bakeries, organized in co-operatives, which supplied the normal commerce of the State. The same situation occurred with the production of meat products, dairy products and fish. By the way, fish capture was also carried out mainly by co-operatives. Most of the cattle and poultry meat, milk, eggs, buckwheat and millet didn’t come from the kolkhozes, but from the individual land plots of the kolkhozians, and was the main source of income for the rural population. A significant part of the catering industry, particularly in the Baltic, Central Asia and Caucasus countries, was integrated in the co-operative system of artisanal production.


In 1959 the individual land plots were drastically reduced. The kolkhozians were forced to sell their cattle to the kolkhozes, where they died in mass, due to the lack of both fodder and personnel able to properly care for the animals. The result was a reduction in the volume of meat production and especially of milk. In 1960 large-scale nationalization of co-operative industrial enterprises began, including also in the food industry. All the property of the co-operatives, namely facilities, equipment, merchandise and monetary reserves, was transferred to the State without payment of indemnities. The management collectives elected by the co-operatives were replaced by party-appointed leaders. The income of the workers, as in other state-owned enterprises, was now either their remuneration or the amounts fixed by piece, supplemented by quarterly or annual bonuses. In the co-operatives, in addition to the normal salary, there was a bonus fund, consisting of 20 percent of the profits. This fund was distributed among its members, as in the case of the MAET, according to the points accrued by the participation of each one in the work. The value of each point was defined by proposal of the president of the co-operative in the general assemblies of co-operative members. As a rule, these points provided a monthly income of 1.5 to two times higher than the basic salary, even with the minimum participation in the work. On the other hand, all the co-operative members, including the elected head, who also worked in a specific sector, worked with maximum intensity, without limits of schedule. The income of each co-operative member depended not only on quantity, but also on the quality and the variety of its production. I recall, incidentally, that in Leningrad some bakeries, in addition to supplying the state shops, were also distributing at residences hot bread, different types of loaves and pastry, at a small price supplement.

After the nationalization, the working day of the former co-operative workers was reduced to 8 hours daily, according to the legislation. At the same time, in these units appeared the appointed heads, who were totally useless for production, but earned relatively high salaries. Material interest in the quality of production has disappeared and the percentage of waste and defective products has immediately increased. As a result, the volume of production for the same number of enterprises and workers has fallen sharply. In any case, the milling enterprises could no longer produce the previous volume given the shortage of cereals. The only way out of the situation was to increase the number of workers in the enterprises of food industry. The additional financial resources demanded for that purpose were obtained at the cost of an increase in food prices by an average of 1,5 times, which automatically reduced the standard of living of the population. The prices of the industrial goods have even risen to a greater extent. Conversely, the incomes of former co-operatives workers fell more than twice. The liquidation of the industrial co-operatives would have to lead to the reduction of assortments and the decrease of product quality. It is much easier to produce only one type of product than ten, especially since the parameters of the plan only indicated in abstract the quantities in units or kilograms.


The industrial co-operative enterprises functioned on far more favorable terms than today's small businesses. They were financed not from banks, but from regional, interregional or sector unions of industrial co-operatives (UCI), which had special credit funds with an interest rate of no more than three percent. In some cases, the credit was granted at zero rate. A newly formed co-operative could get a loan without having to give any guarantee: all risk of bankruptcy was assumed by the UCI. The UCIs provided the co-operatives with the equipment and materials needed for production at state prices. UCI orders were placed in the Gosplan of the USSR, which allocated the necessary funds for supplies, including imported materials paid in foreign currency. The production of the co-operatives could also be carried out through the UCIs. On the other hand, prices of industrial co-operatives could not exceed state prices by more than ten per cent. For small co-operatives, the UCIs could carry out accounting, treasury control and take care of transport. The UCI leaders at any level were elected, as a rule from among the co-operators or the lower-level UCI employees. The remuneration of the work of these collaborators was carried out in the same way as in the co-operatives. In addition to the base salary there was a bonus fund that was distributed according to the points for participation in the work. The greater the co-operative's profit, the greater its contribution to the UCI and the greater the bonus fund for its employees. This was a strong incentive for UCIs to give full support to co-operative activity and to the increase in their number.

The UCIs were very active in housing construction. Co-operative members could buy individual houses through a 15-year loan granted by the UCI at an interest rate of three percent without initial installment. The UCIs owned a lot of apartment buildings. There, co-operative workers could buy their apartments in the same way as in housing construction co-operatives, but without initial installment.


Industrial co-operatives had their network of sanatoriums and rest homes with free stays for co-operative workers. They had their own system of reforms, which did not replace, but complemented the state system. Of course, after 50 years I may have forgotten some of the details. It is also possible that the person who reported to me many of these facts about industrial co-operatives, which we “have lost", has embellished reality. However, I think the picture provided here is not far from the truth.


One last word



The citizens of today's Russia, overwhelmingly, from liberals to communists, are convinced that the people of the USSR have always lived much worse than in the Western countries. No one has the slightest idea that in the Stalin era the Soviets lived on average much better, materially and morally, than in any other country of that time and even better than in the USA today, let alone Russia of today. Then came the calamitous Khrushchev and ruined everything. In 1960 the population of the USSR, without realizing it, was already living in a completely different country, and after some time forgot how they lived before. It is precisely in this new country that the negative traits that are considered inherent in the socialist system have emerged. It was precisely this pseudo-socialist country, totally different from the previous Soviet Union, which collapsed in 1991 under the weight of accumulated problems. Gorbachev merely accelerated this process, acting in the style of Khrushchev.


That is why I decided to talk about the excellent country, which I remember, which was the Soviet Union in the post-war period of Stalin.


Valéri Antónovitch Torgachev,

Doctor in Technical Sciences, Professor

Notas | Notes

[9] (N. JMS) Lavrenti Beria foi, com Estaline, outro dirigente soviético fortemente denegrido pelos historiadores burgueses interessados em apoiar o revisionismo de Khruchov. Este, quando deu o seu golpe, mandou assassinar Beria que podia desmascará-lo.
A historiadora e escritora Elena Prudnikova publicou trabalhos que fornecem uma imagem de Beria completamente diferente da dos historiadores burgueses e revisionistas. Alguns destes trabalhos estão no site «Para a História do Socialismo. Documentos»
(N. JMS) Lavrenti Beria was, with Stalin, another Soviet leader strongly denigrated by bourgeois historians interested in supporting Khrushchev's revisionism. The latter, when he made his coup, ordered the assassination of Beria, who could unmask him.
Historian and writer Elena Prudnikova has published works that provide an image of Beria completely different from that of bourgeois and revisionist historians. Some of these works are on the site Para a História do Socialismo. Documentos

[10] (N. Ed.) A espingarda russa Móssine (do nome do seu construtor Serguei Ivanovitch Móssine) é conhecida no Ocidente como Mosin-Nagant. Trata-se de uma arma que foi produzida entre 1891 e 1965 e era particularmente adequada à função de atirador especial. Desenvolvida para fazer frente às então modernas e inovadoras Winchester, o seu inventor acabou por usar um mecanismo de alimentação concebido pelo belga Léon Nagant, cujo nome ficou associado à espingarda.
(N. Ed.) The Russian Móssine rifle (named after its constructor Serguei Ivanovich Móssine) is known in the West as Mosin-Nagant. It is a weapon that was produced between 1891 and 1965 and was particularly suited to the role of special marksman. Developed to deal with the then modern and innovative Winchester, its inventor ended up using a feeding mechanism designed by the Belgian Léon Nagant, whose name was associated with the rifle.

[11] (N. Ed.) O projecto do bombardeiro estratégico atómico (M-60) acabou por ser abandonado, dando-se preferência aos mísseis intercontinentais.
(N. Ed.) The atomic strategic bomber project (M-60) was eventually abandoned, giving preference to intercontinental missiles.

[12] (N. Ed.) Paráfrase de um verso de Púchkine, do poema «Poltava», que diz exactamente o contrário:«Não se pode atrelar ao mesmo carro um cavalo e um gamo tremulante».
(N. Ed.) From a verse of Pushkin, of the poem "Poltava", which says exactly the opposite: "It is not possible to attach to the same cart a horse and a trembling deer".

[13] (N. Ed.) Este artigo pode ser acedido em russo no seguinte endereço | This article can be accessed in Russian at the following address: http://kprf.ru/rus_soc/99271.html

[14] (N. Ed.) O leite cozido obtém-se após oito horas de cozedura em lume brando. Trata-se de um método pouco conhecido fora dos países eslavos.
(N. Ed.) Cooked milk is obtained after eight hours of simmering. It is a little-known method outside the Slavic countries.