Têm-se vindo a repetir nos meios de
comunicação social, com frequente e suspeita insistência, afirmações que incutem
a ideia de que a culpa do tristíssimo estado a que chegou o País deve morrer
solteira.
Abundam, por exemplo, as afirmações
pseudo-sapientes de que, quanto à dívida pública, cada contribuinte português
deve «tantos» milhares de euros, de que todos nós somos culpados pelo insucesso
e degradação escolar, de que, no fundo, é o país inteiro que tem culpa pelo mau
desempenho da Justiça, etc. Um exemplo recentíssimo desta moda é uma carta do
leitor ao JN de hoje, de um director hospitalar durante 22 anos, na qual diz
muitas coisas acertadas sobre o estado de ruptura hospitalar a que se chegou
(devido, concretamente, a quem?), não deixando, contudo, de intitular a carta de
«A culpa é de todos nós» e de inserir essa mensagem no texto.
Enfim, uma reedição de que a culpa do fascismo
português foi de todos os cidadãos
portugueses, de que a culpa do nazismo alemão foi de todos os cidadãos alemães, etc. Reedição do velho «distribuir o mal
pelas aldeias» que pode ter várias razões causais, desde as inócuas (distracção),
às menos inócuas (má consciência), até às totalmente perversas (branquear os
verdadeiros culpados).
Como pertencemos àquele grupo de portugueses
que insiste em andar na vertical e que acredita que «quem não se sente não é
filho de boa gente», sentimo-nos compelidos a exarar aqui a seguinte:
Declaração e Requerimento
Dirigida aos compatriotas escritores,
sociólogos, historiadores, filósofos, jornalistas, políticos, opiniosos, e
outros mais com acesso aos Meios de Comunicação Social:
O signatário vem por este meio declarar que
nunca votou nos partidos do arco da governação, protagonistas da
contra-revolução anti 25 de Abril, nunca foi «boy» nomeado para qualquer cargo
público, nunca foi aprovado em concursos públicos por amiguismo dos respectivos júris, nunca apoiou
o Acordo de Bolonha nem as bizarrias das «ciências da educação», nunca recebeu
luvas de ninguém, e nunca foi gestor do sector bancário nem participante de
contratos de PPPs.
Pelo que declara que não deve absolutamente
nada à troika, nem é responsável pela dívida pública, pela degradação do
Ensino, da Saúde, da Justiça, nem ainda pelo aumento da desigualdade social e
da miséria e, em geral, pelo estado de degradação a que chegou o País. Bem pelo
contrário, sempre se opôs e tem oposto, por todos os meios ao seu alcance, ao
cometimento e continuação desses males.
Requer, por conseguinte, aos supracitados
escritores, sociólogos, historiadores, filósofos, jornalistas, políticos,
opiniosos, etc., que o retirem imediatamente de qualquer lista de culpados pelos
males do País.
Mais declara ser sua convicção de que centenas
de milhares de portugueses se encontram em situação idêntica à do declarante,
sendo candidatos idóneos à apresentação de igual requerimento de remoção de
listas de culpados, sendo a sua convicção alicerçada quer em testemunhos
pessoais quer em documentação que está em condições de apresentar.
Porto, 25 de Fevereiro de 2015
O Signatário,
J. P. Marques de Sá