quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Declaração e Requerimento

    Têm-se vindo a repetir nos meios de comunicação social, com frequente e suspeita insistência, afirmações que incutem a ideia de que a culpa do tristíssimo estado a que chegou o País deve morrer solteira.
    Abundam, por exemplo, as afirmações pseudo-sapientes de que, quanto à dívida pública, cada contribuinte português deve «tantos» milhares de euros, de que todos nós somos culpados pelo insucesso e degradação escolar, de que, no fundo, é o país inteiro que tem culpa pelo mau desempenho da Justiça, etc. Um exemplo recentíssimo desta moda é uma carta do leitor ao JN de hoje, de um director hospitalar durante 22 anos, na qual diz muitas coisas acertadas sobre o estado de ruptura hospitalar a que se chegou (devido, concretamente, a quem?), não deixando, contudo, de intitular a carta de «A culpa é de todos nós» e de inserir essa mensagem no texto.
    Enfim, uma reedição de que a culpa do fascismo português foi de todos os cidadãos portugueses, de que a culpa do nazismo alemão foi de todos os cidadãos alemães, etc. Reedição do velho «distribuir o mal pelas aldeias» que pode ter várias razões causais, desde as inócuas (distracção), às menos inócuas (má consciência), até às totalmente perversas (branquear os verdadeiros culpados).
    Como pertencemos àquele grupo de portugueses que insiste em andar na vertical e que acredita que «quem não se sente não é filho de boa gente», sentimo-nos compelidos a exarar aqui a seguinte:
     
Declaração e Requerimento
     
Dirigida aos compatriotas escritores, sociólogos, historiadores, filósofos, jornalistas, políticos, opiniosos, e outros mais com acesso aos Meios de Comunicação Social:
     
O signatário vem por este meio declarar que nunca votou nos partidos do arco da governação, protagonistas da contra-revolução anti 25 de Abril, nunca foi «boy» nomeado para qualquer cargo público, nunca foi aprovado em concursos públicos por  amiguismo dos respectivos júris, nunca apoiou o Acordo de Bolonha nem as bizarrias das «ciências da educação», nunca recebeu luvas de ninguém, e nunca foi gestor do sector bancário nem participante de contratos de PPPs.
   
Pelo que declara que não deve absolutamente nada à troika, nem é responsável pela dívida pública, pela degradação do Ensino, da Saúde, da Justiça, nem ainda pelo aumento da desigualdade social e da miséria e, em geral, pelo estado de degradação a que chegou o País. Bem pelo contrário, sempre se opôs e tem oposto, por todos os meios ao seu alcance, ao cometimento e continuação desses males.
    
Requer, por conseguinte, aos supracitados escritores, sociólogos, historiadores, filósofos, jornalistas, políticos, opiniosos, etc., que o retirem imediatamente de qualquer lista de culpados pelos males do País.
     
Mais declara ser sua convicção de que centenas de milhares de portugueses se encontram em situação idêntica à do declarante, sendo candidatos idóneos à apresentação de igual requerimento de remoção de listas de culpados, sendo a sua convicção alicerçada quer em testemunhos pessoais quer em documentação que está em condições de apresentar.
    
Porto, 25 de Fevereiro de 2015
   
O Signatário,
   

J. P. Marques de Sá