Continuação de http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2015/01/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-26-de.html.
1976
Fevereiro
Notícia
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Comentário
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2/2. Plenário do PS pediu revogação da lei sobre
unicidade sindical.
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A 29/1,
sindicalistas do PS tinham recusado a construção de uma central paralela. Não
lhes serviu de nada, face os chefes burgueses do PS.
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5/2. M Soares: «Encontrei [nos EUA] uma grande
receptividade e uma grande satisfação pelo facto de Portugal ter seguido um
caminho democrático, visando o socialismo, mas dentro da liberdade e dos
direitos do homem».
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Pois, pois. A administração americana, com Gerald Ford
à cabeça, era uma apaixonada do socialismo. E dos direitos humanos também.
Haja em vista o apoio então dado a Suharto na repressão interna e na invasão
de Timor-Leste.
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9/2. Almeida Santos: «os que mais se queixam da
manipulação da informação foram os que manipularam o mais possível»
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O projecto
Almeida Santos para os jornais estatizados estava em discussão. Visava acabar
com o controlo democrático por comissões de jornalistas, entregando os
jornais aos partidos (excepto ao PCP, claro!); mais tarde aos capitalistas.
Para Santos, o controle democrático por comisões de jornlistas era
«manipulação»! (Ver abaixo.)
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18/2. M. Soares e membros do CR falaram do papel das FFAA,
aprofundando alinhamento do CR com PS.
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A 26/1, «o CR e PS aproximaram pontos de vista». Agora o
«alinhamento» tornou-se profundo. Já tínhamos dito no artigo anterior que o
PS podia ter dado o cartão de militante a todos do CR.
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19/2. PS na AC: «direita portuguesa começa a ser
anti-socialista».
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Até agora não era. Tinha-se aliado ao PS na
contra-revolução. Agora já não precisava do aliado.
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24/2. PS lança provocação num comício em Benavila, Portalegre,
dirigindo insultos aos comunistas o que despoletou confrontos.
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Não necessita de comentários.
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Intensifica-se o
controle anti-democrático dos meios de comunicação, que irá conduzir ao estado
actual de total controlo por corporações capitalistas, que veiculam,
essencialmente, a mensagem uniforme pró-capitalista e pró-imperialista. Para o
PS, engajado na contra-revolução, esta agenda era essencial (sempre o é, em
todas as contra-revoluções). Dela se encarregou Almeida Santos, da clique
soarista. Boa escolha, de facto. Santos apresenta um projecto de lei de
imprensa que determinava a extinção das comissões de trabalhadores e que
amordaçava os jornalistas que publicassem «notícias de tipo ideológico»,
interpretanto isso num sentido muito lato, que na prática correspondia à
submissão dos trabalhadores aos ditames do governo. A 16/2, o Conselho de Imprensa
rejeita o projecto de Almeida Santos por «atentados da liberdade de expressão».
A 18/2, três sindicatos manifestam-se contra o «Projecto Almeida Santos». No
mesmo dia, o Conselho de Ministros determina que os trabalhadores do República
deverão entregar as chaves à administração (i.e., entregar o República ao
controlo total do PS). A 24/2, Santos contesta as críticas ao seu projecto. A 25/2,
o Conselho de Imprensa renova as críticas.
O CR continua a
apoiar todas as medidas reaccionárias. Pode-se
mesmo dizer que impõe um ritmo vertiginoso de recuperação do passado. A
10/2, cede nas negociações do
pacto MFA-partidos às exigências do PS, PPD e CDS, que se mostram «muito
satisfeitos». O PCP e MDP só foram «chamados à última hora» para saber o
resultado. (O pacto foi aprovado a 27/2 porque a 13/2 Sá Carneiro impôs como
condição para assinar pacto com CR, a realização de eleições simultâneas para
PR e AR.) Também a 10/2 Sousa e Castro, porta-voz do CR, exprime o «apoio ao
governo para corrigir irregularidades da Reforma Agrária». (Largamente
inexistentes conforme o próprio relatório do Ministério da Agricultura revelou;
ver artigo anterior.) Já a 9/2 o CR tinha declarado «apoiar com firmeza as
medidas do governo sobre a Reforma Agrária»; i.e., apoiar com firmeza os ataques
do PS contra a Reforma Agrária. A 22/2, com complacência do CR, 49 pides são
libertados da prisão de Alcoentre.
As medidas pró-capitalistas prosseguem. A 3/2, O Secretário de Estado do Tesouro,
Santos Silva (com Salgado Zenha como ministro) anuncia a «consolidação das
nacionalizações mediante a transformação dos bancos em socidades anónimas» e a
nomeação de novos gestores (PS e PPD)
para a banca nacionalizada! Isto é, anuncia as primeiras medidas de
desmantelamento das nacionalizações. A10/2, Rui Vilar fala dos empréstimos
estrangeiros (FMI) e diz que «única condição é trabalharmos mais e consumir
menos». A velha história da austeridade para os trabalhadores. A 20/2, António
Barreto recebe dirigentes da CIP, os secretários de Estado falam com empresários
e o governo diz que não fará mais nacionalizações. A 29/2, a CIP propõe
«contrato social» com governo e sindicatos para «rehabilitar imagem da
indústria privada». É a reedição do MEDS-Movimento Dinamizador
Empresa/Sociedade de Agosto de 1974. No mesmo dia é aprovado pelo governo o
novo regulamento de contratações de trabalho, que regride sobre o anterior.
A competição pelo
Poder das diversas camadas da burguesia sobe de tom. A 3/2, Manuel Alegre
rejeita coligação pós-eleitoral com PPD ou PCP. A 8/2, o empresário Pinto
Balsemão vê mais longe: defende aliança PPD-PS. A 14//2, o PPD acusa o PS de
impor uma ditadura. A 19/2, o PS interroga-se sobre «porque ataca o PPD a Reforma
Agrária?» [A resposta é simples: porque vê Lopes Cardoso a criar Herdades do
Estado com PSs mas sem PPDs]. A 20/2, Basílio Horta jogando na carta PS, diz
que «CDS nunca seguiria um governo dependente do poder capitalista»!
Quem está em síndrome
de negação é o PCP, batendo na tecla da «maioria de esquerda». Diz a 15/2:
«aliança PS-PCP é fundamental». Até Emídio Guerreiro, dissidente do PPD, se
mostrou mais clarividente na AC, a 9/2, ao dizer: «[foi] tudo preparado [por PS
e PPD] para evitar a marcha para uma socidade humana mais justa».
A 5/2, é
divulgado pela imprensa que, durante o último ano, foram efectuados 300
assaltos a sedes do PCP. Quem atiçou os energúmenos da direita e lhes deu
constantemente a sua benção? O PS (ver artigos anteriores).
Março
Notícia
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Comentário
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6/3. M. Soares:
«Vamos vencer para governar Portugal».
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Não menciona o
socialismo. Presidente da CEE: «Que Portugal se volte para os amigos da Europa».
Slogan do PS: «A Europa Connosco».
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18/3. Sottomaior
Cardia admite: «Constituição poderá ser revista».
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Estás a ver, PCP?
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21/3. M. Soares em Lille: «aprendemos o socialismo em livros franceses».
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Maus livros ou má aprendizagem? Ou outra coisa?
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25/3. M. Soares no clube americano: «Portugal rumo ao socialismo terá de
integrar-se na CEE».
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Como todos sabem, incluindo os membros do clube
americano, a CEE é um centro inescapável de socialismo.
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O CR já pouco
conta. Quando dá um ar da sua graça é sempre no mau sentido. A 26/3, o CR não
deu provimento ao recurso apresentado pelo PCP por o MRPP usar símbolo quase idêntico
(o MRPP foi sempre uma antecâmara do PS-PPD).
Continuam as disputas
entre PS (pequena burguesia arrivista) e PPD (grande burguesia) pelo assalto ao
poder: a 8/3, o PPD é considerado reaccionário num comicio PS em Amarante; a
13/3, tendo o Conselho de Ministros efectuado a revisão dos limites da
intervenção da Reforma Agrária, Soares faz em Mafra «severas» críticas ao PPD; a
14/3, num comício do PPD no Porto, Sá Carneiro ataca em vários tons o PS, ao
que Soares riposta que «o drama de Sá Carneiro é não ter quem convidar [para o governo]».
Têm lugar várias
greves durante todo o mês de Março. Os trabalhadores bancários repudiam o possível
regresso de Champalimaud (11/3) e o Congresso dos Operários Têxteis declara que
«só uma reconversão socialista poderá tirar o sector da crise» (22/3).
A 2/3, o
spinolista Sanches Osório regressa ao país (o 11/3 está perdoado e esquecido) e
o fascistóide Galvão de Melo, ávido por um papel a desempenhar no Portugal
pós-novembrista, diz ao regressar da RFA: «Fiz-lhes ver que já não se pode
falar do caso português». Tem toda a razão, o «caso» português é um «caso»
arrumado.
A 14/3, o Conselho
de Ministros, depois de um inquérito, declara que «as escutas telefónicas não
eram sistemáticas nem generalizadas». Pois não. Eram só feitas a elementos de
esquerda, de que nós próprios fomos vítimas.
A 18/3, Vitor
Louro, único sobrevivente do PCP no VI Governo, é suspenso do cargo de Secretário
de Estado de Reestruturação Agrária. Por Lopes Cardoso, da «esquerda» do PS. No
ambiente de cegueira que se vive no PCP, Dias Lourenço vaticina a 21/3 que virá
aí, com as eleições, «um governo de esquerda»!
Abril
Notícia
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Comentário
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8/4. M. Soares apela para o voto dos comunistas.
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E se calhar muitos votaram no PS. A bem do «governo de
esquerda».
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14/4. PS: «governar contra trabalhadores só será
possivel em ditadura!»
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Iremos ver que não. O PS irá fazer isso. Em
«democracia».
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16/4. M. Soares em Vila Real: «PPD e CDS tentam
regresso ao passado».
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Soares irá esquecer-se disso mais tarde, quando
governar com CDS e depois com PPD. É um «esquecido».
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19/4. Salgado Zenha: «votar no PS é votar contra
totalitarismos».
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Agitando o papão.
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21/4 PS: «o povo está adoptando o socialismo Português».
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Pois.
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23/4. PS: uma série de ataques desferidos contra os
comunistas.
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As eleições são a 25/4.
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A 2/4, são
assassinados, por bomba de controlo remoto em estrada perto de Vila Real, o
padre Maximiano de Sousa (UDP) e Maria de Lurdes Costa, que davam aulas de
Português e Francês a adultos na Casa da Cultura da Cumieira. Em 1977, o
processo foi arquivado por falta de provas. Reaberto em 1989, são
responsabilizadas sete pessoas pelo atentado. Segundo o Tribunal, os autores
morais teriam sido o cónego bracarense Eduardo Melo, o empresário Rui Castro
Lopo, e o membro do CR Canto e Castro. Por falta de provas, o processo é
novamente arquivado.Em 1996, a Relação voltou a abri-lo. Não deu em nada, à boa
maneira desta «democracia» portuguesa. A 23/4 é destruída por bomba a Embaixada de
Cuba.
Os partidos
esgrimem argumentos em período de eleições. Já vimos alguns do PS. Eis alguns
do PPD: «devolver ao sector privado empresas nacionalizadas colateralmente [?]»;
Balsemão acusa PS de erros grosseiros, como p. ex. que só o PS defendeu a
liberdade em 25/11 (14/4); Pires Veloso sugerido para PR (19/4). Agora, do CDS:
«CDS pode governar com esta Constituição [embora não a tenha aprovado]» (F.
Amaral, 4/4); F. Amaral garantiu respeito pela propriedade privada e pela
família (12/4); «queremos transformar proletários em proprietários» (20/4;
neste dia, a Comissão Nacional de Desalojados das ex-colónias decidiu aderir ao
CDS).
A campanha do PCP
enferma dos erros que discutimos no artigo anterior. Vejamos algmas declarações
significativas:
-- «Votar nos socialistas
é votar na incerteza» (14/4). Note-se o tom soft.
Incerteza? O PCP ainda não está certo do que é o PS? Não tem nada a esclarecer
sobre ele?
-- «Votar em
massa no PC para obrigar o PS a uma política de esquerda» (19/9). A mesma tese
de «obrigar o PS a uma política de esquerda» dos actuais Livre, Fórum Manifesto,
Manifesto 3D, RC, etc.! Um desastre ideológico do ponto de vista marxista. Um
partido é (ou não) de esquerda pelos interesses de classe que objectivamente representa numa dada
época histórica, e não em razão dos resultados eleitorais de outro. Nunca a Hoitória
registou (ou poderia registar) tal disparate. Poderíamos aqui apresentar
dezenas de exemplos. Basta um e recente. Não foi pelo facto do Syriza ter
aumentado a sua votação em anteriores eleições gregas e ter ganho as últimas
que «converteu» o Pasok à anti-austeridade.
-- «Maioria de
esquerda é essencial à Revolução» (21/4). O primeiro requisito para uma maioria
de esquerda é que haja esquerda. Como na velha história das omeletes.
A 27/4 são
conhecidos os resultados definitivos das eleições legislativas:
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%
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N.º Deputados
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PS
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35,08
|
106
|
PPD
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23,93
|
71
|
CDS
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15,80
|
41
|
PCP
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14,67
|
40
|
UDP
|
1,70
|
1
|
Face às eleições
constitucionais, o PS desce (37,8% -> 35,1%) bem como o PPD (26,4% -> 23,9%).
O PCP sobe (12,5% -> 14,7%) mas com o MDP (4,1%) a desaparecer. O grande vencedor é o CDS (7,6% -> 15,8%)
que mais que duplica a votação. É o grande beneficiário da contra-revolução plantada
por PS-Nove-CIA.
A 27/4, Álvaro
Cunhal declara: «Não é possível o governo constituído só por socialistas».
Estava errado. A 28/4, uma nota do PCP também afirma ser «imperioso concretizar
a maioria de esquerda». Estava lançado o
mito da «maioria de esquerda», desastroso na tomada de conciência dos
trabalhadores portugueses e responsável pela manutenção do rótulo de «esquerda»
atribuído ao PS, ainda atraente para muitos trabalhadores pouco informados e
politizados. Uma tremenda perda de tempo, uma tremenda manutenção de atraso de
consciência política, pela qual ainda hoje pagamos. Apesar da contestação
da falsa noção de «maioria de esquerda» por parte de muitos marxistas,
incluindo militantes do PCP, a direcção do PCP preferiu enterrar a cabeça na
areia e tornar a «maioria de esquerda» uma questão de «fé», em tudo desmentida
pela realidade.
Os jornais
«ocidentais» estão eufóricos com a vitória de M. Soares (irá receber uma medalha
do Conselho da Europa a 16/4). Para o Finantial Times «o povo português saiu da
fase de jardim-escola». Satisfação também do secretário-geral da OTAN, o
fascista holandês Joseph Luns: «clarificado o futuro de Portugal».
Em 29/4, 1.300
pides saem em liberdade condicional.
Maio
Notícia
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Comentário
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2/5. Marcelo Curto (PS) pretende a extinção da Inter.
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Marcelo Curto irá ser Ministro do Trabalho do I Governo
Constitucional do PS. Dava-lhe jeito extinguir a Inter.
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8/5. Vasco Lourenço (PS): «Como é possível o fascismo
ainda ter voz neste país?».
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Mera pergunta de retórica do chefão do CR. Para se dar
ares.
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20/5. M. Soares à partida para Bona: «É falso que a RFA
pressione o PS».
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Má consciência de quem andou aliado aos serviços
secretos da RFA e «nasceu» numa Fundação da RFA aliada à CIA.
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22/5.
Considerando a Inter uma correia de transmissão do PCP, M. Soares apoia a
realização de um congresso sindical.
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Eufemismo. Não é «apoia» mas «convoca»: congresso de
trabalhadores ganhos para a ideia de dividir trabalhadores.
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O condottiere do 25 de Novembro, Ramalho
Eanes, recebe apoio para a candidatura a Presidente da República de toda a
Santa Aliança contra-revolucionária: do CDS e PPD a 2/5; dos Nove e CR a 3/5,
dia em que a candidatura é oficializada; do PS a 13/5; do MRPP a 25/5; do
PCP(m-l) a 26/5. A 21/5, o jurista Vera Jardim do PS declara: «Não vejo
impedimento à candidatura de Otelo» a PR. A candidatura de Otelo não tinha,
obviamente, qualquer hipótese; a sua única utilidade era combater o PCP.
Avançam, pela mão
do PS, os preliminares da recuperação capitalista: a 1/5 a CIP propõe um plano
económico e os industriais manifestam-se dispostos a colaborar com o PS. A bem
do socialismo PS, obviamente. Não se esquecem de dizer que a economia de
mercado é inseparável da democracia política, apelando à colaboração de classes:
«contrato de progresso entre governo e sindicatos». A 16/5, industriais da
construção civil recusam pagar salários «decretados unilateralmente», isto é,
rejeitam uma decisão do Conselho de Ministros, numa clara de demonstração de
quem, por esta altura, «mais ordena». A 25/5, Almeida Santos afirma-se disposto
a levar por diante a «reestruturação da imprensa», segundo o seu projecto,
acrescentando: «já foi longe de mais o mecenato do Estado». Isto é, vai
entregar os media ao capital.
A 14/5, o PCP
manifesta-se contra os serviços de extinção da PIDE-DGS (entregues a Sousa e
Castro do CR); recorda, p. ex., os pides que foram libertados sem julgamento.
Apesar das carradas de razão do PCP, o CR
declara a 24/5 que mantém a confiança em Sousa e Castro, um
contra-revolucionário puro. O resultado foi o que se esperava: liberdade
para pides e fascistas, processos e documentos aos montes que «desapareceram».
Isto, enquanto o fascismo, que tanto parece preocupar V. Lourenço (ver acima), mantém
activo o terrorismo; p. ex., a 21/5, um atentado à bomba mata um casal do MDP
em S. Martinho do Campo.
Várias greves. No
Porto, carga de enorme violência da PSP contra trabalhadores em greve. De tal
forma que a 25/5 o governador civil Cal Brandão (PS) admite excessos da PSP.
A 30/5, o
patético Salgado Zenha, numa espécie de premonição de Constâncio, diz: «Não
conheço a situação das divisas no BdP». (Não conhecem nada do que lhes compete,
estes PSs. Uns distraídos.) Agora, o que não se esquece de fazer é emitir uma «lei
que restringe as condições de intervenção estatal nas empresas privadas». Diz também,
para quem quiser acreditar nele, que «desvalorização do escudo são boatos». A
realidade desmente-o. O escudo veio a desvalorizar-se. Aceleradamente, com
o PS no governo.
Junho
A 1/6, Octávio
Pato, candidato do PCP à PR, declara «fazer tudo por um governo de esquerda».
(Guardamos uma excelente recordação de Octávio Pato, que fez uma excelente
campanha – difícil campanha – com ânimo combativo e muita dignidade. Só que o
«governo de esquerda» com o PS, como já comentámos anteriormente, era uma
ilusão e um erro.) A 21/6, diz Octávio Pato: «bases do PS não consentirão numa
aliança com a direita». Mais uma ilusão. Consentirão e de que maneira! A 3/6 o
Estado concede à CUF importante empréstimo. A 14/6, uma livraria é destruida à
bomba na Póvoa de Varzim e o fascista à solta Kaúlza de Arriaga defende o movimento
nacional antimarxista. A 15/6, o candidato Otelo diz que «É necessário unir o
povo que os partidos dividiram». Mais tarde, Otelo funda um partido. Ou, no
caso dele, não se chama «partido»? Enfim, a velha tese anarquista e oportunista
dos esquerdóides que já comentámos em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/a-manif-da-apre.html
.
A 22/6, no próprio
dia da posse da Comissão de Extinção da Pide-DGS é comunicado que, da fuga de
documentos da pide, só parte deles foram recuperados. A 23/6, o CR anuncia que a «sugestão para
análise na reunião de hoje» é o «avanço do fascismo». Mais uma reunião
irrelevante do CR. Uma autêntica palhaçada este CR!
Eanes vence as
eleições a 25/6 (61%, 3 milhões de votantes). Octávio Pato (7,9%) diz que é «Perfeitamente
viável um governo de esquerda». Um alto quadro do PCP em síndrome de negação.
Julho
1/7. Salgado
Zenha anuncia medidas de austeridade: subida do imposto profissional;
gasolina racionada. Portugal contrai empréstimo de 7,7 milhões.
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18/12. Mário Soares já tinha dito a 18/12: «Portugal terá em breve um plano de
austeridade». Ora aí está ele. Do PS, pioneiríssimo da austeridade. Para os
trabalhadores, claro.
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1/7. M. Soares
avista-se com W. Brandt e Schmidt, a quem confirma que os resultados das duas
eleições constituíram uma «derrota histórica do PCP e da sua maioria de esquerda».
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Estás a ouvir, PCP?
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23/7. Melo Antunes
(PS) à despedida: «nunca se pretendeu a integração de Portugal no Terceiro-Mundo».
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Que bom é ter milionários e bilionários à
Primeiro-Mundo! Quanto aos trabalhado-res desempregados e pobres, à
Terceiro-Mundo, são muitos mas passam despercebidos.
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25/7. Sousa Gomes
(PS, Ministro do Plano e Coordenação Económica): «conquistas dos trabalhadores
serão mantidas.»
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Iremos ver que não será assim.
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A 5/7, D. António,
Bispo do Porto condenou os excessos das greves e da Reforma Agrária. Não temos
prestado atenção a este personagem, aureolado como opositor de Salazar. Apesar
da auréola, foi uma verdadeira desilusão durante todo o processo
revolucionário. Sempre defendeu abertamente atitudes e medidas de direita e
extrema-direita, como aqui.
PPD («a votação
rouba credibiliade à tese do governo minoritário [do PS]», 5/7) e CDS («não
será feita obstrução a um governo socialista», 7/7; «PPD anda a fazer namoro
descarado ao PS», 20/7), desdobram-se em afirmações de colagem ao PS. A 19/7,
Eanes convida M. Soares a formar governo. O I Governo Constitucional
toma posse a 23/7/1976, constituído só por PSs.
O VI governo
despede-se com um pojecto de «controlo de gestão», que tem o apoio do PPD mas a
oposição da Inter. Há greves, com patrões a recusar negociar (como na
panificação a 24/7) e com os empresários industriais do Norte a exigir ao
governo «coragem de decisão» (9/7). Essa «coragem», em prol dos capitalistas, chegará
com o I Governo Constitucional do PS.
A 29/7 o país
fica a conhecer que apenas 22 pides se encontram detidos. A 30/7, já são apenas
19. Cada vez menos. A 31/7, a AR censura a libertação de pides e pede um
inquérito! Não dá em nada, como é óbvio.
A 26/7, Carlucci
afirma ao Jornal da Madeira que «Portugal está a viver uma hora de
tranquilidade». Isto é, a CIA está, finalmente, perfeitamente tranquila.
Mas a anedota do
mês pertence mesmo a Otelo, que diz ao Libération
a 2/7 a propósito dos resultados das eleições presidenciais: «O PS é o grande
vencido».
* * *
No próximo artigo
iremos ver o I Governo Constitucional do PS em acção. Será que é desta que
vamos assistir ao PS a construir denodadamente o «socialismo democrático», o
«socialismo da abundância» e, inclusive, o «socialismo auto-gestionário» que
Mário Soares tanto tinha defendido?