No artigo anterior (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/10/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-9-de.html
) vimos como a 5/9, na última Assembleia do MFA realizada em Tancos, sob
manipulação do Grupo dos Nove e pressão dos seus aliados reaccionários, ficou
selado o fim do MFA. A Assembleia afastou Vasco Gonçalves e consagrou o domínio
dos Nove, atrás dos quais estava o PS e toda a direita.
Tinham sido alcançados dois grandes objectivos
da estratégia contra-revolucionária convergente da CIA-Carlucci & PS-Mário
Soares, assente em três vectores:
1) O
vector governamental e de propaganda interna e externa (PS às claras). A
propaganda interna e externa (com apoio das sociais-democracias europeias, em
particular da alemã, aliadas do PS) berrava atoardas sobre o gonçalvismo, pretensa ditadura
militar-comunista. De facto, nunca houve tanta liberdade como nos governos de
Vasco Gonçalves. O PS participou maioritariamente em três dos quatros governos
de Vasco Gonçalves e pôde fazer e dizer tudo que lhe dava na real gana,
inclusive urdir às claras a aliança com a CIA. O gonçalvismo serviu para influenciar militares hesitantes. O primeiro objectivo alcançado em Tancos foi
o afastamento de Vasco Gonçalves e consequente liquidação do último governo
revolucionário.
2) O
vector militar (PS por detrás dos «Nove»). Segundo
objectivo alcançado em Tancos: afastamento e flagelação da esquerda militar,
com ascensão a lugares de chefia de militares reaccionários oportunistamente
colados aos Nove. No afastamento e flagelação da esquerda militar distinguiu-se
Otelo, mais uma vez, pelo seu papel contra-revolucionário: sancionou o assalto
e desmantelamento da 5.ª Divisão; proibiu Vasco Gonçalves de visitar qualquer
unidade militar para fins de esclarecimento. Uma proibição absolutamente
inacreditável. Um autêntico presente para reaccionários, spinolistas e fascistas
confessos!
3) O
vector da actividade terrorista na sociedade civil, também com o apoio do PS. A
actividade neste vector continuou por todo o período agora em análise.
As
nossas afirmações sobre o papel da CIA e sobre a aliança PS-CIA não são meras opiniões.
São factos.
Quem tenha acompanhado os artigos do nosso blog
deve ter certamente notado o cuidado e rigor que procuramos pôr no nosso
trabalho. Na série «A história ignominiosa do PS», como dissemos logo no
primeiro artigo, o núcleo factual da análise são as próprias declarações das
personagens em causa, noticiadas no JN e Diário de Lisboa. Mas há muitas outras
fontes autorizadas e factuais que consultámos. Sobre o papel da CIA e sobre a aliança PS-CIA existem as próprias
declarações de Mário Soares, bem como entrevistas, depoimentos e memórias dos
agentes da CIA, incluindo Frank Carlucci, actuando livremente (!) em Portugal no
período revolucionário. Veja-se, p. ex., Lisbon and Washington: Behind the Portuguese Revolution, Foreign
Policy, 1976, do «jornalista» americano Tad Szulc, na época em Lisboa. Uma
amostra: Carlucci tranquilizou Kissinger a seguir ao 11 de Março, dizendo-lhe
que ele «tinha a vantagem de manter
contactos em segredo com vários membros moderados do Conselho da Revolução,
assim como com os socialistas e outras figuras políticas influentes».
Apesar de todas estas importantes vitórias da
contra-revolução, a esquerda militar não estava ainda liquidada e subsistiam
unidades importantes fiéis à revolução, como o RALIS, a PM e os fuzileiros. Fiéis,
mas já sem o apoio dos quadros revolucionários da 5.ª Divisão (saneados
pós-Tancos) e entregues ao (des)comando de Otelo... Nestas e em algumas outras
unidades, não atingidas pela «reestruturação» reaccionária do sexto governo, continuavam
vivos os sentimentos de apoio à revolução por parte de sargentos e praças, para
além de muitos oficiais. Na sociedade civil era forte a mobilização dos
trabalhadores, nomeadamente nas camadas operárias mais conscientes e
politizadas das cinturas industriais de Lisboa e Setúbal. A «Comuna de Lisboa»
era uma dor de cabeça para a burguesia. Em dado momento chegou-se mesmo a
aventar uma mudança do governo para o Norte. O PS reclamava pelo fim da
influência dos comunistas, porque sem isso a Europa não iria ajudar Portugal, a
economia portuguesa. (O célebre slogan do PS «A Europa Connosco» que era de
facto «A Europa com Eles»: PS & Grande Capital, interno e externo.)
Os Nove e o sexto governo provisório
encabeçado por Pinheiro de Azevedo, totalmente controlado pelo PS,
cristalizaram as «dores de cabeça» da burguesia. Por trás, toda a direita e
extrema-direita. Formou-se uma larga
aliança, do PS aos fascistas do ELP/MDLP, passando pelos grupelhos esquerdistas
provocatórios, como o MRPP e o PCP(ml), com vista a liquidar de uma vez para
sempre a esquerda militar e os comunistas. Quando falamos em liquidação devemos
acrescentar que havia planos, de que há testemunhos, para a liquidação física. Como no Chile e na
Indonésia. Esses planos existiam nos fascistas, nos spinolistas e também em
elementos do PS. O golpe do 25 de Novembro, de há muito premeditado e desencadeado
por uma provocação bem montada, foi a forma encontrada pelos Nove para acabar
com a esquerda militar e o PCP. O PCP (e o MDP, FSP e outros) só não foram
liquidados e só não houve uma hecatombe nas organizações dos trabalhadores, por
duas razões: porque o PCP se demarcou da esquerda militar e manteve contactos
com o PR e PM na busca de uma solução política; porque -- e esta é talvez a
razão mais importante -- alguns membros dos Nove e seus seguidores
começaram a temer que uma liquidação do PCP resultasse mais tarde na sua
própria liquidação. Neste aspecto, os Nove (com o lombo a arder) mostraram-se
mais de «esquerda» que os PSs; estes conviviam alegremente com spinolistas e
fascistas e só desejavam a liquidação, mesmo física, de comunistas e outros
democratas consequentes.
De 6 de Setembro a 25 de Novembro de 1975
A 3.ª fase contra-revolucionária do PS
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Setembro
Notícia
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Comentário
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6/9.
M. Soares à BBC: «o que está em causa é a via para o socialismo».
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Portanto:
socialismo, vamos ter. É só uma pequena questão de «via». Assistiremos em
breve à construção do socialismo pela «via» de Soares, CIA & C.ª.
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10/9.
M. Soares entrevistado pela Gazeta Mercantil do Brasil: «[é um] Erro
perder a confiança das
multinacionais».
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Soares
começa a mostrar qual é a sua via para o socialismo. Amor pelas
multinacionais é com os PSs. Ainda hoje (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/05/dainiel-bessa-o-amante-das.html
).
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11/9.
M. Soares atacou na Assembleia Constitucional a social-democracia para os
trabalhadores.
|
Por
enquanto interessa a Soares demarcar-se da «social-democracia» do PPD.
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14/9.
Vasco Lourenço em entrevista ao JN: «pretendemos uma revolução que seja da
maioria do povo português».
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V.
Lourenço tornou-se o PS do «MFA» (a versão contra-revolucionária, pós-Tancos,
do MFA). A História regista muitas revoluções; mas uma revolução iniciada
pela maioria de um povo a História não regista. Ela só se torna da maioria do
povo depois de um período transicional. De facto, a «revolução da maioria do
povo» de V. Lourenço era um logro. Consistiu em entregar todo o poder ao PS e
restante direita, acabando com a revolução.
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15/9.
M Soares de regresso de Francfort: «alemães desejam auxiliar a economia
portuguesa»
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Claro.
Pela mão de Soares já cheira aos «alemães» a capitalismo. Do bom e do puro.
Do de antigamente.
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21/9.
M Soares: «Partido socialista é o único que pode salvar Portugal».
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Por
«Portugal» entenda-se aqui os capitalistas e latifundiários portugueses. Sim,
é verdade. Soares irá salvá-los.
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22/9.
M Soares em Pombal: «PS vai agora tentar remediar erros de pseudo-revolucionários».
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Revolucionário
há só um, o PS e mais nenhum. Como iremos ver.
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24/9
José Luis Nunes (PS) na Assembleia Constituinte: «agora é que vai começar a
Reform Agrária».
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E
não corou ao dizer isso.
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O V Governo Provisório foi compelido a
demitir-se a 6/9. Pinheiro de Azevedo, incialmente com aura de esquerda, foi
indigitado para PM. Chegou a dizer (10//9) que «as quatro [?] posições
dominantes do MFA estarão representadas». Puro embuste. Com o apoio oficial
(10/9) dos Nove o VI Governo Provisório tomou posse a 19/9. De 17 ministros, 6
eram do PS (Jorge
Campinos, Walter Rosa, Almeida Santos, Eduardo Pereira, Salgado Zenha, Lopes
Cardoso) e 8 pró-PS (incluindo três dos Nove: Melo Antunes, Vítor Alves, Vítor Crespo);
2 do PPD e 1 do PCP (Veiga de Oliveira nas Obras Públicas). Isto é o PS e seus
aliados pró-PS dominavam por completo o governo (14 de 17 ministros). P. Azevedo rapidamente evoluiu para o PS e acabou a sua trajectória no
PDC de extrema-direita!
Os Nove começam logo a arrumar a casa,
removendo a esquerda de postos chave. Retiram Corvacho do QG do Porto,
substituindo-o pelo pró-fascista Pires Veloso (13/9). Afastam Fabião (que,
aliás, lhes tinha feito todas as vontades) e começam a povoar de elementos de
direita as hierarquias de unidades militares, a Academia Militar, e os Estados-Maiores
do Exército e da Força Aérea. Esta, iniciou de imediato o saneamento de
elementos progressistas e guinou completamente para a direita. Otelo continua o
mesmo contra-revolucionário de sempre: devolve material apreendido ao MRPP (11/9);
a 22/9, em fase crítica da revolução, segue com Rosa Coutinho para a Suécia
para «aprender alguma coisa sobre a via sueca para o socialismo»! À partida diz
estar «confiante que não haverá viragem para a direita»! No regresso, a 25/9,
sai-se com uma das suas tiradas típicas, combinando o extremo disparate com a
extrema condescendência, afirmando que «não aconselha o caminho da Suécia porque
é longo», manifestando a sua crença na democracia directa, acenutando que «esta
não passa pelos partidos políticos, até porque estes são ainda crianças e se
comportam por vezes como tal. É preciso dar-lhes tempo para crescerem»!
Perorações catedráticas deste grande revolucionário que, em todas as situações
decisivas e tendo os meios para derrotar os planos da reacção, decidiu sempre
por esta. Teve o desplante de dizer a 30/9, com a sua modéstia habitual, que
«de há alguns meses para cá conseguiu evitar a guerra civil algumas vezes» e
que «se tivesse mais cultura política no 25 de Abril de 1974 poderia ter sido
Fidel Castro» e ainda (pasme-se!) «que manteve grande silêncio durante a
formação do VI Governo para lhe dar uma oportunidade de sobrevivência», que
«continua a apoiar a extrema-esquerda e tem posto a si próprio a possibilidade
de se demitir ou de assumir o poder». Incrível! Que delírio! Mas é assim Otelo,
o revolucionário da extrema-esquerda. Ou eu ou ninguém.
A imposição de chefias reaccionárias nas
unidades militares despoletou o movimento dos SUV («Soldados Unidos Vencerão»)
que fizeram grandes manifestações em várias cidades (a 11/9 no Porto). Aos SUV,
constituídos por praças e sargentos faltaram chefes. Foram rapidamente postos
na ordem pelas chefias reaccionárias. Serviram para alimentar o boato de que os
Nove tinham acabado com a «indisciplina» das FFAA. Na realidade, foram os
saneamentos e golpaças constantes a mando dos Nove que constituíram a
verdadeira indisciplina.
A direita continua a sua farsa de que está com
o «socalismo». Sá Carneiro, a 25/9 diz que o PPD não vai virar à direita e
ainda que «contra o que se tem afirmado, o socialismo não é só um, como deriva
de resto expressamente da própria plataforma constitucional [...] mas o socialismo
não se deixa espartihar no modelo soviético, ou em qualquer outro. O socialismo
será o que o povo quiser que seja, se o povo o quiser». Para alimentar a farsa
o PS e o PPD debatem o marxismo (!) na Assembleia Constituinte a 12/9, e P.
Azevedo depois da posse do governo pronuncia: «Vamos todos ao trabalho rumo ao
socialismo!». Uma palhaçada total.
O País pulula de agentes secretos estrangeiros
(16/9), nomeadamente da CIA. Os atentados bombistas continuam impunemente, como
em Leiria a 23/9, reivindicados pelo ELP. Destruir a unidade dos trabalhadores
tornou-se objetivo prioritário da direita; os ataques à unicidade sindical
sucedem-se na Assembleia (25/9 e 26/9).
A 30/9 Jorge Campinos (PS) pinta a situação em
cores negras a um jornal francês. A direita militar está mortinha por um
pretexto. Tinha criado a 27/9 um corpo de intervenção: o AMI – Agrupamento Militar de Intervenção «para reforçar a autoridade
do governo». Note-se a mudança de linguagem. Agora já se diz que é a autoridade
do governo que se defende, não a revolução. «Intervenção» para restabelecer a
«ordem» ao serviço do Capital contra o povo. O AMI, com tropas de direita, iria
suceder ao Copcon logo que possível. Copcon que em toda a revolução, e sob o comando
do «revolucionário» Otelo, primou por não fazer nada.
A 28/9 a UDP oferece um pretexto para a
escalada da direita: desencadeia um assalto à embaixada de Espanha. Assalto
completamente inútil e disparatado cujo único resultado foi o governo (sem
conhecimento do seu único representante do PCP, que aliás protestou o não lhe
terem dado conhecimento) ter a justificação para ocupar a 30/9 as estações de
rádio e TV «para evitar a declaração do estado de emergência». Isto é, a UDP
forneceu o pretexto à direita para experimentar os músculos e a novíssima AMI
em exercício preparatório do que estava para vir. Como somos dos que não
acreditam em coincidências destas, temos de concluir que a provocação da UDP
trazia a direita no ventre.
Outubro
Notícia
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Comentário
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1/10.
PS manifestou-se no Porto e em Lisboa a favor do 6.º governo. Na manifestação
de Lisboa, com Pinheiro de Azevedo, esteve lado a lado com PPD, PCP(ml), e retornados,
e com Salgado Zenha e Lopes Cardoso em destaque. M. Soares: «Sexto governo é
de esquerda e de esperança para o País». Foram deitados panfletos: «Estamos com
o PS na manifestação contra o comunismo. Spínola voltará». Apoios a Fabião e
aos Nove, com palavras de ordem: «Vasco é Lourenço», «Fabião», «Melo Antunes»,
«Ocupação contra a falsa informação», «Disciplina». M. Soares: «Sr. Almirante
Pinheiro de Azevedo, tem aqui o povo de Lisboa autêntico, para lhe dizer: o
povo de Lisboa, o povo de Portugal, está com o Sexto Governo».
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Toda
a contra-revolução, do PS aos fascistas. De facto, embora o JN não mencione,
estiveram também presentes o CDS, o MRPP, a FEC-ml e (pelo menos) os
fascistas do PDC (face política do ELP/MDLP). A palavra de ordem «Estamos com
o PS na manifestação contra o comunismo. Spínola voltará» é eloquente.
M.
Soares ao dizer «Sexto governo é de esquerda e de esperança para o País»,
mais uma vez mentiu, como é costume. Na realidade, com o sexto governo
iniciam-se os saneamentos à esquerda, o aparelho de Estado é tomado de
assalto por PSs e toda a direita incluindo fascistas, e a «esperança para o
País» converte-se em «esperança para os capitalistas».
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2/10. País mobilizado pelo PS contra
possível golpe da extrema-esquerda. Denunciados pelo PS preparativos de golpe
de Estado. Comunicado do PS diz: «nós não acusamos o PC mas grupos
minoritários de extrema-esquerda».
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Ensaio
geral do PS, como preparação do 25 de Novembro. Desta vez não acusou o PCP
mas de outras vezes acusa.
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3/10. O PS garante a existência de planos
para o poder ser tomado pela força: «o PC sabia o que estava a ser
preparado». Plano incluiria a tomada da Rádio Renascença (R.R.) e do RALIS.
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Ora
aí está. Afinal, e em oposição ao que disse no dia anterior, o PCP bem sabia.
Logo, é cúmplice.
A
«tomada da Rádio Renascença» é a chamada às armas do
clero caceteiro do Norte e Centro.
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4/10. Jaime Neves falou numa manifestação do
PS: «os Comandos estão com a maioria do povo português».
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O PS
dá palco ao fascista Jaime Neves, o criminoso de guerra de Wiryiamu, um
grande aliado dos Nove, do PS e de toda a direita e extrema-direita. O MRPP
também gostava dele.
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9/10. Ataque frontal ao PCP feito por M.
Soares em Coimbra: «[manifestações dos] deficientes das forças armadas e SUV
são manobras do PCP»
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Quer
os deficientes das forças armadas quer os SUV manifestavam-se
por razões concretas. O PCP pouca influência tinha nos SUV e quase nenhuma
nos deficientes. Mas Soares aproveitava tudo para justificar o que tinha
planeado com o seu bom amigo Carlucci da CIA.
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10/10. Salgado Zenha decide substituir três
administradores do BdP dizendo que não se trata de qualquer saneamento
político. Contudo, e segundo o JN, a medida é considerada como um saneamento
à esquerda.
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Salgado
Zenha não perde tempo. Não saneou a Justiça de fascistas enquanto teve essa
pasta nos governos progressistas. Agora não perde tempo a aplanar o caminho
para o regresso dos Espírito Santo, Melos, etc.
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11/11 Manifestação gigante do PS foi ao QG
do Porto e ao CICAP. Bombas e tiroteio junto à sede da UDP na Av. dos
Aliados. M. Soares acusa o PCP de fazer jogo duplo: «A quem serve a desordem?...
Aos ditadores que sob a capa de progressistas põem acima dos interesses
nacionais a ambição partidária e os interesses dos imperialistas, a fim de impedir
a construção do socialismo, por uma via original, como propõe o partido
socialista».
|
PS
faz a desordem e acusa os outros dela. Fomos testemunha ocular dos
acontecimentos. O cúmulo da mentira e da hipocrisia PS!
Quanto
à «construção do socialismo, por uma via original»
começamos a assistir a ela. Conduziu ao «socialismo» actual. Quanto aos
«interesses dos imperialistas», Soares refere-se aqui aos
«sociais-imperialistas soviéticos», de cuja existência se apercebeu com o MRPP,
o PCP(ml) e quejandos.
|
22/10. Deputado do PS na Assembleia
Constituinte: «a nossa preocupação foi de consagrar [na Constituição] para se
prosseguir na socialização dos meios de produção, salvaguardando-as dos
riscos da burocratização estatal e da anarquização ruinosa».
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Um
deputado preocupado com a «via original para o socialismo». Livre «da burocratização estatal e da anarquização ruinosa». Pois, pois.
|
24/10. M. Soares: «há que haver uma
clarificação nas forças armadas» e «o PS apoia totalmente o sexto governo que
é o governo que pode dar mais possibilidade ao avanço da esquerda em
Portugal».
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M.
Soares impaciente por não haver a «clarificação». Carlucci também está.
Quanto a o sexto governo ser aquele que «pode dar mais
possibilidade ao avanço da esquerda em Portugal», comentários para quê?
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29/10. PS no Algarve: «PCP e FUR conluiados
em actos violentos». António Macedo (PS) na Assembleia Constituinte lamentou
a ausência do PCP na manifestação do Porto, de apoio a Pinheiro de Azevedo.
|
O
mentiroso e o rabuloso.
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30/10. Na Assembleia Constitucional
discutem-se as expropriações da Reforma Agrária. O PCP defende a sua
consagração constitucional. A posição do PS é confusa mas lá vai dizendo que
«a posição do PS é em grande parte a defesa das conquistas já feitas da
política dos governos anteriores que o sexto governo aceitou...».
|
Por
enquanto o PS não quer levantar muito a lebre da Reforma Agrária. Dentro em breve se verá que a posição do PS não é a defesa «em grande
parte», nem em pequena parte, nem em parte nenhuma.
|
31/10 Na Assembleia Constitucional
discutem-se as nacionalizações: Posição de Carlos Lage (PS): «pensamos que [...]
todas as nacionalizações [...] são conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras
e não de qualquer Estado omnipotente ou burocrático [...] Nós entendemos que
as nacionalizações não são o socialismo. É preciso ir muito mais adiante». Entre
as várias propostas de texto sobre as nacionalizações o PPD preferiu o texto
do PS que defendia as nacionalizações «nos sectores básicos da economia e nos
serviços colectivos».
|
O
apoio às nacionalizações «nos sectores básicos da
economia e nos serviços colectivos» não causou o mínimo embaraço ao PPD.
Afinal a Constituição é um simples papel; há as leis e juristas que
supostamente a aplicam e as múltiplas revisões. O importante era apoiar o
PS-Nove e sua vasta aliança. Note-se a posição de esquerda de Carlos Lage --
«nacionalizações [...] são conquistas irreversíveis das classes
trabalhadoras» -- mas sem faltar o remoque dirigido ao PCP, «Estado
omnipotente ou burocrático». Era isto que o preocupava. Fora isto, todo prá frentex: «É preciso ir muito mais
adiante». O homem não está com meias medidas! Rapidamente se esqueceu destes
arroubos revolucionários. Lage é agora um PS puro, «politicamente correcto»,
presidente da CCDR-N.
|
O PS sente-se como peixe na água no sexto
governo provisório. É a alavanca de que necessitava para legitimar o golpe
contra-revolucionário que prepara activamente com toda a direita; a confessa e
a mascarada de extrema-esquerda (MRPP, PCP(ml), OCMLP-FEC(ml), AOC, etc.). O
PPD, que desde o 28 de Setembro tinha adoptado um low-profile, sente-se agora encantado por ajudar o PS na preparação
da contra-revolução, preparação essa que passa pela flagelação incessante do
PCP com vista a passar a imagem a toda a população de que o PCP (e seus aliados)
era uma força sinistra, culpada de todos os males, passados, presentes e
vindouros. Instaurador da ditadura comunista da altura. Propaganda repetida até
à exaustão nos púlpitos das igrejas do Norte e Centro pelo clero reaccionário
português (e que continua reaccionário). Agora sim, o PPD começa a assumir um high-profile. A 1/10, Sá Carneiro retoma
a liderança do PPD, puxando-o mais para direita, tornando-o na voz da grande
burguesia. A 2/10, o PPD faz no Porto uma grande manifestação a favor do
governo. A 11/10, Sá Carneiro anuncia no Campo Pequeno sinistros perigos dos
comunistas: «a hora que vivemos é a mais grave da nossa história [...] não há
poder popular com partido único [...] estamos na última fase do processo comunista
para a conquista do poder [!]. Obtido o controlo de quase todos os mecanismos
de Estado, prepara-se agora a subversão das forças armadas [!]». Isto tudo
quando o PS&PPD dominava o Governo e outras instituições e os «moderados»
dos Nove dominavam as FFAA. Um autêntico Goebbels este Sá Carneiro! Ao levantar
a balela de «a subversão das FFAA» mostra estar já a par da provocação do 25 de
Novembro. Repete isso em Coimbra no dia seguinte «vivemos neste momento a
subversão militar», acusando de tal o PCP. Na realidade, por esta altura são já
muitos os indícios de que um golpe de direita está em preparação. Mantém a mesma
toada de contra-informação a 17/10 -- «fala-se de golpe das direitas para
preparar um das esquerdas» --, enquanto Cunha Leal do PPD acusa o PCP na
Assembleia Constitucional «de subjugar tudo» e um comunicado do PPD afirma ser «imperioso
que o governo defina quem são os seus amigos e os seus inimigos». A 19/10, Sá
Carneiro em comício em Aveiro toca a mesma tecla: «um golpe de esquerda poderá estar
eminente em Portugal». A 24/10, Sá Carneiro perde a compostura e entra pela via
da ignóbil difamação, ao dizer que 150 pides estão a colaborar com o PCP. A
25/5 mantém a farsa do «socialismo» para se colar ao PS: «a social-democracia
integra-se na via socialista».
A direita militar começa a preparar a
contra-revolução. A 5/10, tendo o major Dinis de Almeida, comandante do RALIS,
afirmado «vamos sofrer novo ataque», P. Azevedo dá ordem para transferir o armamento
do RALIS para os comandos! Um gesto claro de preparação da contra-revolução. Só
a posição firme de Dinis de Almeida impediu a 7/10 uma entrega das armas. No
Porto, o pessoal do CICA, unidade progressista extinta pelo direitista Pires
Veloso, transfere-se para o RASP e recusa obedecer a Veloso. Têm lugar
confrontos junto ao RASP a 9/10 com apoiantes civis alvejados por elementos civis
fascistas e do PPD (63 feridos, 2 graves); os manifestantes aguentaram até
serem corridos por um tanque às ordens de um oficial fascista. O PPD veio para
a rua apoiar Pires Veloso. Carlos Fabião, CEMGFA, desloca-se ao Porto para
apoiar Pires Veloso, anunciando a 16/10 que o RASP «voltou à normalidade». Isto
é, Fabião voltou a alinhar com a direita. A 18/10, o País fica a saber que
«desapareceram» armas, que iriam ser objecto de intensa pesquisa, segundo
declaração do EMGFA. A 28/10, são detidos civis com armas em Azambuja. E não,
não são comunistas. De facto, grande parte das armas foram «encontradas» depois
do 25/11 nas mãos de Edmundo Pedro (PS) e seus apaniguados. A parte restante
continua desaparecida...
A luta entre trabalhadores e patronato
agudiza-se. Os trabalhadores mais conscientes têm uma ideia clara do que se
está a passar. Os patrões sentem-se mais confiantes e impunes. A 5/10,
trabalhadores e empresários envolvem-se em grave desordem na Figueira da Foz. A
7/10, é anunciada uma greve dos metalúrgicos que querem ver aplicada uma
portaria do 5.º Governo Provisório. A 16/10, os trabalhadores da Setenave
anunciam estar a viver uma «situação deseperada» por causa do boicote
capitalista. Os EUA e países da Europa desencadearam uma tremenda campanha de
boicote económico à revolução portuguesa, cuja história correcta e global está
por fazer. A direita faz todos os possíveis por desunir os trabalhadores,
usando para tal o apoio do MRPP, UDP, etc. O objectivo de desunir os
trabalhadores é aprovado na Assembleia Constituinte – que desde a vitória do PS
em Abril de 1975 assume cada vez mais o comportamento de uma Assembleia
Legislativa: a 1/10 é rejeitada por toda a direita a unicidade sindical.
Em Outubro toda a direita e extrema-direita
agitava o espantalho da guerra civil e de uma possível separação de Lisboa com
todo o Sul de Portugal do resto do país. Espantalho que servia apenas de
pretexto para o que estava para vir.
No Alentejo progride a Reforma Agrária.
Limitamo-nos aqui a um breve apontamento cobrindo o período de 25/7/75 a
25/11/1975, socorrendo-nos do livro «Reforma
Agrária. A Revolução no Alentejo de José Soeiro, do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Beja (ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/08/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-26-de.html
)
A Lei da
Reforma Agrária foi aprovada no IV Governo Provisório (29 e 30 de Julho), sem
nenhuma objecção das forças políticas que aí tinham assento: PS, PPD, PCP,
MDP/CDE e MFA. PS e restante direita também não objectaram à Lei depois da
publicação. Na altura ainda era cedo para mostrarem a sua verdadeira face.
Todas as
intervenções estatais na zona da Reforma Agrária foram feitas de acordo com a
lei e sob controlo dos Conselhos Regionais da Reforma Agrária, com participação
de representantes do governo e dos sindicatos dos trabalhadores agrícolas. As
intervenções eram analisadas caso a caso, com um sistema de pontuação que tinha
em conta a natureza dos terrenos, o tipo de culturas, o estado de
aproveitamento agrícola, etc. Já vimos que a lei também previa uma garantia de 50 ha (ajustável) para
os agrários atingidos pela expropriação. Além disso, os sindicatos estiveram
sempre atentos a manobras provocatórias de grupelhos esquerdistas, impedindo
qualquer tentativa de ocupação que não fosse devidamente legal e de acordo com
os Conselhos Regionais da Reforma Agrária. Mostraram-se,
também, sempre disponíveis a corrigir qualquer situação que pudesse não estar
de acordo com as prescrições da lei.
Aquando da
discussão da Lei da Reforma Agrária foram contemplados três modelos jurídicos
de propriedade, decorrentes das expropriações: herdades do Estado; cooperativas
de produção; herdades colectivas. O Ministério da Agricultura (era ministro
Fernando S. Oliveira Baptista, Professor Catedrático do Instituto Superior de
Agronomia, conceituado investigador em agronomia, no país e no estrangeiro)
definia assim a herdade colectiva (memorando de 12 de Junho de 1975): «é uma
unidade produtiva [...] em que a responsabilidade principal pela unidade de
produção pertence ao agregado trabalhador e não ao Estado e os meios de
produção e os produtos são propriedade deste colectivo de trabalhadores, que
todavia continuam a remunerar-se por salários [...]» Foi uma adaptação deste
modelo que os próprios trabalhadores vieram a implementar. A 17 de Outubto de 1975, por proposta do
sindicato de Beja e por decisão democraticamente expressa pelos trabalhadores é
constituída a primeira Unidade Colectiva de Produção Agrícola (UCPA ou UCP) com
68 mulheres e 116 homens, dos quais 57 com menos de 30 anos.
As UCPs
vieram depois a multiplicar-se pelo Alentejo. Promoveram o pleno emprego (logo
em 1976 criaram muito perto de 50 mil postos de trabalho, um aumento de 229%),
aumentaram a área semeada (em 1976, +154.811 ha, ou seja, um aumento de 181%),
aumentaram a produção, nomeadamente das culturas de regadio, e aumentaram a
produtividade. Criaram ainda obras de rega, barragens e albufeiras, oficinas
mecânicas, instalações para gado, adegas e lagares, celeiros, creches,
cooperativas de consumo, etc.; contribuiram, assim, para uma melhoria
assinalável das condições de vida. Despertaram uma onda de solidariedade no
país e no estrangeiro, nomeadamente na Europa, não só dos países socialistas,
com destaque para a URSS (com muitas ofertas de tractores, camiões, alfaias,
etc.), mas também de países capitalistas (França, Holanda, Alemanha, Suécia,
etc.). Lembramo-nos bem da vinda ao Alentejo de uma delegação holandesa de
técnicos agrícolas (não, não eram comunistas) que muito elogiou num relatório a
iniciativa, os trabalhos e técnicas usadas pelos trabalhadores das UCPs.
Tornou-se, aliás, caso de estudo numa universidade holandesa.
Logo nos
primeiros anos da Reforma Agrária os indicadores económicos das UCPs eram
notáveis, conforme ilustram as figuras abaixo.
As UCPs, com
os traços específicos que lhes deram os trabalhadores do Alentejo,
corresponderam a uma experiência socialista plenamente bem sucedida. Foram uma
grande demonstração da capacidade dos trabalhadores portugueses de construirem
o seu próprio futuro, sem latifundiários e capitalistas. Foram também uma
grande demonstração da superioridade socio-económica do socialismo.
O PS (com
toda a direita) berrou contra a Reforma Agrária e as UCPs. Apesar de toda a
legalidade que presidiu à sua constituição, chamava-lhes «ocupações selvagens»,
para meter medo aos pequenos e médios camponeses do Norte e Centro. Mário
Soares (o tal do «socialismo autogestionário»; mas o que eram as UCPs senão
socialismo autogestionário?) e, mais tarde, António Barreto, foram dos mais
encarniçados inimigos das UCPs. Em antes da sua destruição pelos governos PS, este
fez tudo para sabotar a Reforma Agrária: aliciamento de trabalhadores para
saírem das UCPs e para desanexações oportunistas; aliciamento para transformar
as UCPs em herdades do Estado, na mira de que um Estado do PS as viesse a
«gerir»; cortes no crédito; não pagamento de produtos entregues ao Estado;
roubo da cortiça; roubos armados (GNR) das melhores terras, bem como dos frutos
do trabalho e investimentos dos trabalhadores (gados, máquinas, culturas); etc.,
etc.
Este ódio de
classe tinha várias motivações: o facto de as UCPs constituírem um exemplo dos
benefícios do socialismo real (na óptica da direita, um mau exemplo para o
povo) e um obstáculo à re-introdução do capitalismo e das práticas semi-feudais
dos latifundiários no Alentejo e restante zona de intervenção; o facto de as
UCPs, através das suas ligações profundas às comunidades (já vimos que as UCPs
criaram barragens, albufeiras, oficinas mecânicas, creches, cooperativas de
consumo, etc.), serem um pólo de atracção das populações em geral para uma via
socialista; o facto de o Alentejo representar um terço do território nacional e
de o único grande partido que estava ao lado dos trabalhadores na Reforma
Agrária ser o PCP.
As UCPs eram
a consagração do «Grândola, vila morena» da Revolução Portuguesa: «O povo é quem mais ordena/Terra da
fraternidade/Grândola, vila morena//Em cada esquina, um amigo/Em cada rosto,
igualdade». Diz com toda a razão José Soeiro no seu livro: «Nem
Cooperativa, nem herdade do Estado, nem divisão de terras, nem exigência de
propriedade das mesmas. Eram assalariados dos grandes agrários e como
assalariados ficaram, mas de si próprios. Antes, ao serviço de uns poucos.
Agora, ao serviço de si próprios e da comunidade em que se integravam. Já não
era a terra a quem a trabalhava mas, assumidamente, a terra ao serviço do
progresso e do bem-estar de toda a comunidade. Nada do que até então se
conhecia pelo mundo fora! Uma nova realidade emanada da utopia de criar uma
sociedade livre, mais justa, fraterna, solidária, humanista, de paz e harmonia
entre todos! Uma sociedade sem qualquer tipo de opressão ou exploração do homem
pelo homem! Uma sociedade orientada pelo supremo objectivo de assegurar e
elevar o bem-estar e a qualidade de vida de toda a comunidade! Uma sociedade
livre da mesquinhez e da desumanidade capitalistas onde os trabalhadores são
usados como mera mercadoria, cujo valor de uso é avaliado apenas pelo lucro que deles se pode obter! Uma sociedade
valorizadora do ser humano e respeitadora dos seus direitos fundamentais, há
muito reconhecidos, mas não praticados! Uma sociedade onde o Ser se sobreporia
ao Ter! Foi essa a utopia que nos animou e que ousámos tentar materializar! Foi
dessa utopia que nasceram as Unidades Colectivas de Produção Agrícola,
emergentes e base essencial da “Reforma Agrária” - A Revolução no
Alentejo!». É isso exactamente que recordamos. Foi isso que o PS destruiu.
Novembro
Notícia
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Comentário
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2/11. M. Soares em Sacavém: «PS sente-se
capaz de formar governo apenas com o MFA».
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Com
este «MFA» que encarna o «puro espírito do 25 de Abril», agora sim.
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7/11. Graves incidentes junto ao Ministério
da Comunicação Social: boicote dos trabalhadores à entrada do Secretário de
Estado, tenente-coronel Ferreira da Cunha. Diz este: «destruir o 6.º gov é o objectivo
da minoria».
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Ferreira da Cunha estava conotado com o
Grupo dos Nove. Recaíam sobre ele, além disso, suspeitas, apoiadas em
documentos, de colaboração com a PIDE/DGS. Não era segredo para os
trabalhadores que iria ter como papel a entrega da Comunicação Social ao
Capital.
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9/11. Manifestação de apoio ao Sexto Governo
Provisório e a Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço em Lisboa.
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Esta manifestação é célebre. É a manifestação que
consagra e afirma perante o País e o estrangeiro a grande Santa Aliança cujo pivot é o PS-CIA.
Interrompemos
aqui o rol de notícias para detalhar o que foi esta manifestação.
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Manifestação do 9 de Novembro de 1975
Participantes: PS,
Nove&C.ª, PPD, CDS, PPM, PDC, MDLP/ELP, MRPP, PCP(ml), OCMLP/FEC-ml, AOC,
grupos reaccionários de retornados das ex-colónias. Por trás, a CIA.
Objectivo: avalizar e autorizar
os Nove&C.ª, perante o País e o estrangeiro, a levar adiante o plano do 25
de Novembro de 1975 de terminar a revolução e iniciar a contra-revolução. Para
acabar com a «ditadura comunista».
Palavras de ordem: «Pinheiro,
em frente, aqui tens a tua gente!», «Vasco há só um, o Lourenço e mais
nenhum!», «Pinheiro de Azevedo, em frente, sem medo!», «Socialismo sim,
ditadura não!», «Disciplina!», «Retornados estão com o
sexto governo!», «Morte ao Cunhal!», «Morte aos SUV e a quem os apoiar!».
A manifestação/comício decorre no
Terreiro do Paço com Pinheiro de Azevedo numa varanda, ladeado por Mário Soares
e Sá Carneiro. Presente, também, o já idoso capitão Sarmento Pimentel,
resistente anti-fascista. Presente, por manipulação do PS (como mais tarde Sarmento
Pimentel reconheceu), para «abrilhantar» a sessão. Numa janela, Vasco Lourenço,
Melo Antunes, Vítor Crespo, Jorge Campinos (PS), Salgado Zenha (PS). Mais
tarde, Mário Soares de punho erguido ao lado de Vasco Lourenço. Bandeiras bem
vísiveis do PS, PPD, CDS, PPM e PCP(ml). Grandes faixas do PPD e dos
retornados.
O discurso de Pinheiro de Azevedo,
arrastado e cheio de banalidades capciosas, constantemente repetidas
(«trabalhadores são todos os que trabalham» insinuando que os capitalistas
também são «trabalhadores»; «contra-revolucionários são os que não trabalham», só
faltando dizer o que diziam e dizem os reaccionários aos trabalhadores sindicalistas,
«Vai trabalhar, malandro!», etc.).
Por cima do ombro, Mário Soares ajuda
Pinheiro de Azevedo a ler o discurso. Ouve-se claramente na gravação
televisionada a voz de Soares dando-lhe as dicas. Pode-se com toda a
legitimidade inferir que o discurso foi escrito por Soares. A certa altura, o
cúmulo! Ouve-se Soares a dizer a Pinheiro de Azevedo: «Diga-lhes
isso que eles [os manifestantes] gostam!». Sá Carneiro, mais afastado, hirto e
com sorriso irónico.
Pinheiro de
Azevedo também diz: «não queremos substituir uma minoria por outra», «custe o
que custar as armas têm de regressar aos quartéis», «também eu defendo o Poder
Popular». M Soares também perora: «a ambiguidade já nao é possivel», «são
precisas medidas concretas para restabelecer a autoridade, punir os culpados e
acabar com os bandos armados». Mas não se estava a referir aos caceteiros e aos
bandos do MDLP/ELP que incendiavam, agrediam e assassinavam. Não. Referia-se
aos comunistas. Que tinham instalado uma tremenda ditadura no País.
No final,
Soares ainda afirmava que a manifestação era uma «grande vitória da democracia»
e verberava os «reaccionários mesmo que se chamem comunistas».
Durante a
manifestação são dirigidas provocações aos militares da PM, uma unidade
progressista que tinha sido incumbida da protecção à manifestação/comício. As
provocações incluiram tiros e ameaças com armas brancas, bem como tentativas de
desarmar os soldados. Estes disparam para o ar e não houve feridos entre os
provocadores. Vasco Lourenço acabou por intervir, acabando com as provocações.
Serviram para num comunicado do PS se afirmar que «O povo português não
esquecerá os tiros descontrolados disparados por descontrolados elementos da
Polícia Militar que indevidamente vestem as fardas do Exército Português».
Também não
faltou a provocação useira e vezeira da direita nestas andanças. A dado momento
rebentam petardos no meio dos manifestantes. Era preciso demonstrar a
existência de sinistros comunistas, dispostos a tudo para calar os socialistas.
Oportunidade para P. Azevedo gritar teatralmente «O povo é sereno, não há
perigo. É só fumaça!». (Como é que ele sabia que não havia perigo?) Oportunidade,
também, para M. Soares e Sá Carneiro se cobrirem dramaticamente com um lenço,
embora P. Azevedo e outros ao lado não se tivessem coberto. Menor sensibilidade
ao fumo ou Soares e Carneiro acharam que um toque dramático ficava bem na TV?
Ainda para mais num show para
estrangeiro ver? Uma coisa é certa: apesar dos petardos terem rebentado no meio
dos manifestantes, não foram encontrados os culpados! Não foram encontrados os
sinistros comunistas que os rebentaram. Até hoje! Estranho, muito estranho.
Certos meios
de comunicação não se esqueceram de considerar o discurso de P. Azevedo como
«um aviso aoa comunistas e seus ssociados».
Enfim, uma
nojeira. Uma autêntica nojeira no pré-parto do 25 de Novembro e do regime
PS-PPD/PSD-CDS que nos governa até hoje. Uma autêntica nojeira que diz bem da
ética fundacional dessa gentalha. Mãe de má vida de todas as nojeiras que se
sucederam até hoje. Que de parto em parto do «arco da governação» levou à
monumental trampa actual.
11/11. PS reuniu com PC espanhol.
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Tratava-se
da fraude comunista espanhola conhecida por Santiago Carrillo.
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16/11. M. Soares fala em unidade dos
partidos para a reconstrução nacional, acrescentando: «estamos a assistir a
uma tentativa deseperada do PC e seus asseclas para derrubar o sexto governo
provisório e implantar um ditadura».
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Uma «importante» cimeira do PS, PPD e CDS
teve lugar no Porto.
Quanto à «tentativa deseperada do PC» foi
pena Soares não mostrar documentos e factos sobre o assunto.
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17/11. Viseu: PS e PPD juntos em manifestação
de apoio ao sexto governo.
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Nesse mesmo dia Spínola pediu apoio aos
paises ocidentais ao sexto governo. Curioso, não é? Coincidências!
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18/11. Entidades militares desmentem plano
de «golpe de direita»: «mais uma provocação» afirmou Vasco Lourenço. «É notícia
falsa» diz Costa Gomes.
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Iremos ver que não era assim. Iremos ver que
Vasco Lourenço mentiu e era participante activo na conjura de direita. Sá
carneiro também diz que notícia de golpe é anti-revolucionária. (Grande
revolucionário este Sá Carneiro!) Otelo, nesta altura, pensa em mais
autocríticas.
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20/11. Governo suspende funções por
alegadamente não ter condições para governar. Jaime Neves diz que já esperava
isto, e Vasco Lourenço afirma: «falta de condições para governar advém das FFAA».
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Pois. A golpaça do 25 de Novembro irá
proporcionar todas as condições ao
sexto governo.
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23/11. PS ao ataque em defesa do 6.º governo
numa manifestação no Porto. Recusa-se a ter encontro com Costa Gomes e
reafirma o apoio a P. Azevedo. Diz num comício: «nunca se implantará em Portugal
uma ditadura comunista».
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Para
o PS, Costa Gomes não está a ser suficientemente colaborante. P. Azevedo,
sim. Soares tem razão quando diz «nunca se implantará em
Portugal uma ditadura comunista». Nunca se implantará nem nunca se implantou.
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24/11. No comício do PS em Vila Real António
Barreto pede a demissão do PR.
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Estreia
do papagaio Barreto.
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24/11. O PS em Portalegre repudia num
comício o «documento-guia do MFA» sob a palavra de ordem «aqui não há canalha
há gente que trabalha».
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Pois
claro. A «gente de bem» deve temer-se da «canalha». Deve dizer-lhes: «Vai
trabalhar, malandro!».
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Durante Novembro surgem várias denúncias, em
órgãos nacionais e estrangeiros, de que um golpe de direita estaria em
preparação. Logo no dia 2, um oficial denuncia isso, sendo desmentido pelo
CEMGFA.
Otelo continua nos seus dislates. A 2/11 diz
que «o poder popular vai sobrepor-se à democracia reprsentativa». A 4/11, que
«não é usando linguagem alarmista de esquerda [denúncias do golpe de direita]
que se presta serviço à revolução». A 11/11 diz que não participará em mais
reuniões do CR com a desculpa que «O CR de revolução tem muito pouco». De
facto, é verdade; mas por esse andar também ninguém durante o fascismo o teria
combatido. Otelo deserta da luta. A 22/11, diz que irá dirigir a aliança
POVO-MFA. A 24/11 é peremptório. «Os partidos politicos têm esfrangalhado a
Nação».
A CIA movimenta-se à vontade. A 4/11, Carlucci
diz «tenho confiança no povo português» e nesse dia parte «em visita» para o
Norte durante 5 dias.
Os Nove e toda a direita militar urdem as
condições para o 25 de Novembro. A 5/11, é noticiado que os fascistas do MDLP
(Kaúlza de Arriaga, Alpoim Calvão) manobram nos bastidores militares. A 7/11, o
CR afirma estarem «muitas forças já a trabalhar para que se entre na
violência», cortina de fumo que esconde a não repressão dos fascistas e a
preparação das próprias golpaças do CR, como por exemplo a dinamitação por sua
ordem, a 8/11, dos emissores da R.R., efectuada por tropas pára-quedistas do
AMI. Também a explosão com carga plástica à porta do RCP. Muitos outros
exemplos do comportamento já contra-revolucionário do CR se podem apresentar,
como entregas de armas ao PS (Edmundo Pedro) como se veio a saber mais tarde, e
recusa de fornecimento de armas a unidades fiéis à revolução, mesmo quando se
tratava de repôr a dotação regulamentar. A 8/11 é desmentida a prática de
escutas telefónicas pelo Serviço Director e Coordenador da Informação (SDCI) na
dependência do CR, mas sabe-se que de facto existiram e continuariam a existir.
A 9/11, são nomeadas pelo CR unidades de prevenção por «tempo indefinido» para «coordenar»
a R.R. e reprimir reuniões de trabalhadores; estes perguntam ao CR se a «via
original para o socialismo passa pela represão dos trabalhadores?». A 16/11,
Costa Gomes diz na TV ir «reestruturar os comandos [das unidades] sem acabar
com o Copcon». A 20/11, Pires Veloso, que já recebeu Carlucci, diz que «firme
como rocha é a minha posição». A 22/11, a «rocha» que faltava: Vasco Lourenço,
planeador do golpe contra-revolucionário do 25 de Novembro, é nomeado
comandante da Região Militar de Lisboa.
Resumindo: ligações aos fascistas; armas para
os reaças; escutas activas; comandos de unidades «reestruturados»; Norte (e
Centro) firmes como rochas, Vasco Lourenço comandante da RML. A
contra-revolução militar está em condições de avançar.
Os trabalhadores começam a sentir na pele as
amabilidades da contra-revolução. A 5/11 o Ministro do Trabalho exonera dois
funcionários incomodativos da Comissão de Saneamento. A 7/11, graves incidentes
em Santarém provocados pela CAP contra a Reforma Agrária resultam em dois
mortos e trinta feridos. A 9/11, o governo anuncia que os problemas salariais
de alguns sectores passam à sua exclusiva competência. A 12/11 os trabalhadores
da construção civil cercam o Palácio de S. Bento em luta por um aumento
salarial prometido e não cumprido. A 14/11, P. Azevedo acede às reivindicações
dos trabalhadores. Nesse mesmo dia dão-se recontros no Porto entre assaltantes
e defensores na Inter, e o governo
anuncia «medidas de austeridade» (vêem como não é novidade?) que incluiem o
congelamento da negociação colectiva de contratos trabalho. A 16/11 os
profissionais dos Seguros dizem não à Inter.
Em 25 de Novembro tem lugar o golpe militar
contra-revolucionário que acaba com a revolução do 25 de Abril. Segue-se uma
brevíssima descrição do golpe.
O Golpe Contra-Revolucionário
do 25 de Novembro de 1975
Desde 30 de
Setembro de 1975 que a conspiração estava a ser gizada. Sabe-se isso por um
esquema de transmissões com essa data, usado pelos conspiradores no 25/11.
A técnica do golpe é simples e tem sido usada múltiplas
vezes ao longo da História: agentes provocadores atiçam ou obrigam alguém ou
alguma entidade – «o touro picado» -- a revoltar-se isoladamente para dar o
pretexto que «legitima» o desencadeamento da repressão geral.
As tropas
pára-quedistas de Tancos desempenharam o papel de touro picado. Foram
instigadas a revoltar-se em resposta a várias manobras do CR e do comandante, general
Morais da Silva (colocação de bomba nos emissores da R.R. por oficiais dos
páras às ordens do CR, aliciamento para alinharem com Nove, integração no AMI
por determinação de Morais da Silva sem conhecimento das tropas e contra a
vontade de praças, sargentos e muitos oficiais, etc.). CR, Morais da Silva e oficiais
ligados aos Nove funcionaram como agentes provocadores. A 9/11, a situação já
se degradou tanto que 123 oficiais saiem de Tancos para se colocar às ordens do
EMGFA, enquanto muitos sargentos e praças se colocam às ordens do Copcon.
A 19/11, é
dada a picada final no touro: Morais da Silva determina a passagem a licença
registada de 1.200 pára-quedistas de Tancos. Estes 1.200 apresentam-se a Otelo
que nada faz. Recorde-se que os pára-quedistas tinham tido um papel proeminente
no golpe spinolista do 11 de Março, tendo cercado o RALIS. Muitos, aliás, sem
entenderem o que se passava, vindo, no seguimento de esclarecimentos, a ser
desmobilizados pelos civis. Ardiam agora de desejos de provar que não eram
reaccionários, que estavam ao lado do povo.
Otelo estava
a par de tudo. No seu livro de 1977, diz: «Eu tinha a noção, através das
informações de que dispunha, de que o general Ramalho Eanes [...] era o
elemento fundamental [...] O plano de operações estaria preparado para ser
desencadeado quando a esquerda desse um pretexto [...]»
Eanes
encontrava-se em serviço em Angola aquando da revolução de 25 de Abril. Foi um
dos que aderiu ao MFA depois deste ter vencido. Regressado a Portugal, veio a
ser nomeado presidente do conselho de administração da RTP. Numa reunião no
Regimento de Comandos, já perto do 25 de Novembro (provavelmente a 20 de
Novembro), Jaime Neves dá conta de um encontro conspirativo com o então major
Ramalho Eanes, Vítor Crespo e Melo Antunes, além de comandantes de algumas
unidades da RML; «mas dos honestos», diz Jaime Neves. O plano do golpe fica
decidido.
Na manhã de
25 de Novembro tropas pára-quedistas ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e detêm o comandante, exigindo
a demissão de Morais da Silva.
É o pretexto esperado para a saída aparatosa
das chaimites dos Comandos que «tomam» Monsanto aos pára-quedistas. Nenhuma das unidades conotadas com a
esquerda (RALIS, PM, fuzileiros) desencadeou qualquer acção. Não só porque
não tinham qualquer plano ou ordem para fazer face à situação, como ainda pela
simples razão de que estavam às ordens do Copcon, isto é, de Otelo. E Otelo,
que foi preciso ir expressamente chamar a casa na manhã do 25/11, só chega à
sede do Copcon às 14H00, abandonando-a logo a seguir para se entregar a Costa
Gomes. Otelo abandonava assim vergonhosamente o seu posto de comando. Desertava
do 25 de Abril.
Os vitoriosos e heróicos guerreiros do 25 de
Novembro, encabeçados por Eanes de pé numa chaimite, de peitaça p’rá frente em
ar de grande conquistador, limitaram-se a prender, sem oposição, no 25/11 e
dias seguintes, todos os militares de esquerda. Encerraram-os na prisão de
Custóias onde permaneceram sem serem levados a julgamento. Para dar um toque
dramático, Costa Gomes decreta o estado de sítio na RML!
Sobre o 25 de Novembro correram e correm ainda
as mais diversas versões dos vencedores (muitas da autoria de elementos do PS,
incluindo o sobrinho de Soares). Inventando os mais tenebrosos planos de golpes
e contra-golpes da esquerda. Sobre esta pilha monumental de mentiras, sempre a
aparecer nas prateleiras das livrarias, inventadas para legitimar a
contra-revolução e a recuperação capitalista e latifundiária que se lhe seguiu,
basta-nos dizer o seguinte: onde estão os documentos sobre esses tenebrosos
planos de golpes e contra-golpes da esquerda, nunca encontrados? Qual era o
chefe desses planos da esquerda, que também nunca foi encontrado? A dada altura
acusaram o resistente anti-fascista coronel Varela Gomes, de ser esse chefe,
mas apesar de ele ter desejado ser levado a julgamento nunca o fizeram. Porquê?
Porque razão nunca foram julgados Dinis de Almeida, Duran Clemente, Campos de
Andrada, e muitos outros oficiais destacados da esquerda, pelo seu suposto
golpe ou contra-golpe do 25/11? A resposta é simples: tais julgamentos teriam
liminarmente desmascarado e até posto a ridículo os valorosos vencedores do
25/11. Os relatórios (preliminar e definitivo) sobre o 25/11 também não
respondem às nossas interrogações.
Uma outra monumental balela é a de que os bravos
guerreiros vencedores do 25/11 teriam impedido uma guerra civil, de iniciativa
da esquerda. Já vimos que, desde Outubro, essa balela vinha a ser propalada. No
fundo, é a reedição da «matança da Páscoa» que serviu de pretexto ao putsch spinolista do 11 de Março. Nunca houve,
por parte da esquerda, quaisquer planos de uma guerra civil. Quanto á direita,
já não estamos tão seguros. Há documentos da CIA que indicam que chegou a ser
encarada a invasão de Portugal por parte da NATO e de tropas de Espanha.
Para finalizar, esta reflexão: do lado dos
vencedores existe superabundância documental sobre o papel da CIA; mas não
querem lá ver que, depois de todas as investigações e estudos de «imparciais»
jornalistas e catedráticos historiadores colados aos vencedores do 25 de
Novembro, não foi ainda possível apresentar um único – digo bem, um único –
documento demonstrando a esquerda a ser «teleguiada pelo Kremlin» e a
existência de militares «a soldo de Moscovo»!