quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Recortes de Julho a Novembro

1/Jul
«Observatório Português de Sistemas de Saúde (OPSS) acusa governo de esconder o impacto da crise no sector», «centralismo está a destruir o SNS», «OCDE diz que Portugal é dos países que menos investem na Saúde (orçamento da Saúde tem decrescido 5%/ano)», «cuidados de saúde primários não são prioritários, sistemas de informação são deficientes, falta de recursos humanos», «agravamento da dívida [de 2013 a 2014, mais 28,4 M€]», «corte nos fármacos com dificuldades crescentes de acesso a medicamentos», «aumento de diabetes com complicações», «falta de atenção à saúde mental». Descreve, assim, a OPSS a atitude do governo sobre a Saúde: «Síndrome da Negação».

Pois é. Não é de agora a degradação do SNS, para a qual temos vindo a alertar neste blog. O Síndrome da Negação interessa à direita. Infecta também, infelizmente, parte do proletariado e pequena burguesia («não é tão mau como parece», «ainda há pouco fui ao Hospital e fui bem tratado»). Serve de alimento ao indiferentismo («para que me hei-de ralar, ou protestar, se não adianta nada»?).

3/Jul
«BdP diz que BES está sólido».

Viu-se.

9/Jul
«OCDE pede novo corte nas indemnizações de despedimento. Pede também mais impostos, aumento do IVA, redução da duração do subsídio de desemprego para os velhos, aumento de período experimental nas empresas [sem ganhar] até contrato».

Pode-se dizer que a actual filosofia dos técnicos da OCDE (unha com carne com os do FMI, Banco Mundial, etc.) é esta: «Para estes portugueses carneiros, que aceitam tudo, é esbulhá-los que eles deixam.»
Onde está o protesto de massas em Portugal? Pois é. Quem cala consente.
O «reduzir a duração do subsídio de desemprego para os velhos» é um mimo. Evoca as contas detalhadas que os nazis faziam de quanto gastar nos prisioneiros dos campos de concentração, até estes morrerem de exaustão em trabalhos forçados. A «lógica» da OCDE é a mesma: «quando ficam sem emprego, já velhos, sem prestar para nada, é tratar de ver se eles morrem o mais rápido possível».

14/Jul
«Ana Drago [Fórum Manifesto] diz ser errado excluir PS de uma alternativa e que este deve ser “desafiado” para a constituição de um eixo programático».
16/Jul
«Ana Drago diz que “o problema da esquerda à esquerda do PS [...] foi uma incapacidade de puxar o PS para a esquerda”».

Os pequeno-burgueses do «Fórum» também estão em negação. Mas, todavia, bem lançados na trajectória evolutiva de todos os esquerdalhos: de posições de grande radicalismo para posições do mais submisso direitismo, bajulador dos grandes. Quanto ao PS «ser “desafiado” para a constituição de um eixo programático» e à «incapacidade de puxar o PS para a esquerda”» aqui vai uma sugestão: que tal o «Fórum Manifesto», com o «Livre», a «Renovação Comunista [?]», etc., associarem-se na compra de umas guitas que atariam às pernas dos PS’s? Logo que estes revelassem veleidades (congénitas) de singrar para a direita era só puxarem pelas guitas p’rá esquerda. P'ró eixo programático.

12/Ago
«No Hospital da Guarda a cozinha funciona num contentor. A mesma panela é usada para fazer sopa, café e aquecer o leite. Dezassete pessoas confeccionam diariamente, no contentor, 800 refeições».

Mais uma maravilha do SNS. Um dos primeiros sectores a ser atacado quando há que salvar o grande capital. Neste caso a «mesma panela é usada para fazer sopa, café e aquecer o leite». Continuai sereninhos, portugueses, que ireis assistir nos serviços públicos a muitos mais exemplos de «três em um».

2/Set
«Um terço dos jovens portugueses [entre os 20 e 24 anos] é pobre. Empobrecimento é dramático, dizem os especialistas, e está a crescer».

Não vemos, infelizmente, nenhum reflexo deste «terço» nas (quase todas as) manifestações onde estamos presentes. Será que é preciso gritar-lhes aos ouvidos «De pé famélicos da Terra»? Enfim, o povo jovem é (está) sereno. Os Amorins, Belmiros, Ulrichs, etc., agradecem.

10/Out
«Condenado à morte nos EUA sai livre depois de 9 anos de prisão. O julgamento tinha sido de uma incúria tremenda. Um estudo recente mostra que 1 em cada 25 condenados à morte nos EUA é inocente»

«São os direitos humanos, estúpido!».

15/Out
«Investigador do Centro de Estudos sociais de Coimbra diz que portugueses trabalham mais 300 horas [por ano] que os alemães. Sobre se a diferença entre Portugal e Alemanha pode ser ultrapassada, disse: “[Portugal e Alemanha] continuam distantes [em custos do trabalho e output][...] não se pode deduzir que as responsabilidades [por isto] estejam do lado da massa dos trabalhadores»

Claro que as responsabilidades não estão do lado da «massa dos trabalhadores». Estão do lado da roubalheira do grande capital. Já tínhamos dito (e provado) isso mesmo: http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/03/belmiro-e-o-mito-dos-trabalhadores_30.html . Também devia ser claro que «a diferença entre Portugal e Alemanha» não «pode ser ultrapassada». Não e nunca. «It’s the empire, stupid!» Simples ingenuidade jornalística ou a manutenção consciente da velha história da carochinha da «Europa connosco»?

17/Out
«Cortes no ensino básico e secundário [para 2015]: menos 704,4 M€. Para o ensino superior: menos 1,5% do orçamento de 2014».

Já dizia Salazar que para o povinho, que ele considerava mal dotado de inteligência, bastava saber umas letras e fazer umas contas. Cortes no ensino público e benesses ao ensino privado. Tudo no rumo para o antigamente.

21/Out
«PS pretende “desencadear um processo parlamentar de audição pública [da dívida], incluindo a audição por parte da Assembleia de personalidades relevantes, especialistas na matéria».

Senhora Dívida: apresente-se publicamente para ser ouvida! E para ser auditada por personalidades relevantes: Santana Lopes, Vítor Constâncio, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix José Sócrates, Teixeira dos Santos, Vítor Gaspar, etc. Por «especialistas na matéria». Na matéria de aumentar a dívida, é claro. (Muitos mais nomes de especialistas poderiam ser acrescentados, incluindo o de Cavaco Silva.)

24/Out
«O PM francês, Manuel Valls, quer mudar o nome do PS francês e retirar a palavra “socialismo”, dado que quer “abandonar o saudosismo de esquerda e preso aos preceitos políticos do passado, tornar o partido mais progressista». Diz que não quer «matar a esquerda», mas pelo contrário «recriá-la» para fazer face à extrema-direita».

Ora aqui está uma excelente ideia para o PS, que há muitos anos, pela voz de Mário Soares, pôs o «socialismo na gaveta». Porque não mudar o nome para Partido Modernaço do Eixo? Sem o saudosismo do «socialista», recriando a «esquerda» e poupando trabalho ao «Fórum Manifesto» & C.ª que fazem esforços desesperados para o puxar p'rá esquerda. Além disso, como a «extrema-direita» está cada vez mais modernaça (Marine le Pen, etc.) o «fazer face à extrema-direita» também poderia ir sem qualquer perigo para a «gaveta», em nome do progresso e de não estar «preso aos preceitos políticos do passado». Ficava tudo entre amigos (a tal «tolerância democrática»). Que se cumprimentam com um sorriso amável nos lábios. Como o de Mário Soares ao pide Rosa Casaco na farsa do seu julgamento.

30/Out
«O último número da revista de referência em ciências sociais [“Análise Social”] foi retirada de circulação por ordem do presidente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa [que disse que] tinha «conjunto de imagens» ofensivas e que poriam em causa o bom nome e a reputação institucional do Instituto [...] Direcção cessante considera «um gesto de censura». As imagens, de grafitti, causticavam as figuras do regime, como esta: «Américo Amorim | Ricardo Salgado | Belmiro Azevedo | Soares dos Santos | Pingo Doce | Sacrifícios o C... »

Pois é, portugueses. A censura está aí. Muita dela não se vê. É simplesmente um ou outro jornalista que não dobra a espinha, participando nos hossanas ao neoliberalismo e ao imperialismo, e que deixamos de ver no ecrã ou em artigo de jornal. Ou um incomodativo qualquer que não arranja quem lhe queira publicar a prosa. Agora, quanto ao caso da «Análise Social», quem é que os mandou cometer esse magno sacrilégio de sugerir que há luta de classes?

3/Nov
«Crianças lusas punidas por falarem português no Luxemburgo. [idem para] funcionários, creches e ATL públicos]

Mais uma maravilha do «Europa connosco».

4/Nov
«Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra não cedeu sala para debate sobre ideologias [com a alegação:] “conteúdo político-ideológico” do evento desrespeitaria a “tradição” da Faculdade» Quem acabou por ceder a sala foi o Departamento de Matemática.

Pois cá temos mais um caso de censura. Este, purinho da costa. Nada de «conteúdo político-ideológico». Isso é para os comunistas. Safa! Felizmente que a «tradição» ainda é o que era. Esta deve remontar a 1928, pelo menos.

4/Nov
«Número dois do Podemos: «linha que separa a esquerda da direita esgotou-se».

Pois claro. Agora é «tudo ao monte e fé em Deus». O novo partido Podemos -- a lembrar o Yes, we can, de Obama -- esteve presente na Convenção do BE sendo agora a sua grande inspiração. Grande inspiração, não haja dúvida!
(Quanto a nós, o Podemos é uma fraude total. Uma sua tese central é a do assistencialismo. A grande descoberta dos cidadãos de mão estendida a receberem RSI, em vez de lutar contra o desemprego e suas causas. Tese política castradora da luta dos trabalhadores. Anestesiadora das consciências. Facilmente aceite pelo grande capital. Tudo se resume depois a uma discussão sobre o tamanho das côdeas. Sobre este tema ver http://www.rebelion.org/noticia.php?id=191315 do espanhol José T. Granados, economista e Professor Associado da Drexel University.)

10/Nov
Ana Drago, Daniel de Oliveira, ex-BE, no clube dos pensadores, querem uma solução de convergência à esquerda no governo».
12/Nov
«Daniel de Oliveira, do Fórum Manifesto, afasta hipótese de coligação pré-eleitoral com o PS mas admitiu contudo ter o objectivo de “condicionar o Governo” que sair das próximas eleições».

Ana Drago e Daniel de Oliveira. A «esquerda» de quem os media gostam. No clube dos pensadores! Como a burguesia se enternece por eles! E pensa assim: «Ah! Se ao menos toda a esquerda fosse como estes jovens. Dizem umas rabulices tão engraçadas…».
«Daniel ... afasta a hipótese de». Mas «tem o objectivo de “condicionar o Governo”». Lá ambições, tem o rapaz. Diagnóstico: Megalómano. Consciente ou inconscientemente servindo a direita. Uma espécie de nova versão da megalomania do MRPP. E do serviço também.

18/Nov
«Escravatura tem aumentado a nível mundial. Há agora 38 milhões de vítimas de escravatura»

Desde que o imperialismo Ianque & C.ª domina o mundo sem o socialismo (de estado) da URSS e Europa de Leste em contraponto, tem sido um fartote de boas notícias a nível de «direitos humanos». Um tema em que os EUA se arrogam o direito de descobridores, especialistas, avaliadores, e... impositores.

18/Nov
«Livre, Fórum, RC, Manifesto 3D vão organizar uma convenção de cidadãos em 31 de Janeiro de 2015 e admitem primárias.»

Pois claro. Se queres ir com (ou para?) o PS faz como ele.

18/Nov
Neste dia, vimos nos escaparates: Miguel Gomes Ferreira, Carta a um Bom Português. Manual para fazer uma revolução da cidadania que falta para resgatar o País.

O título diz tudo. Ainda bem porque evita ter de o ler! As seguintes teses decorrem logicamente do título: 1) Há «bons» e «maus» portugueses. Não interessa que haja trabalhadores e capitalistas; interessa, sim, que há os «bons» e os «maus». 2) O livro dirige-se aos «bons» (os «maus», o Diabo que os carregue!). 3) Dado que há «bons», é porque há capitalistas «bons» e trabalhadores «bons» (estes últimos, o mais certo é estarem na UGT), todos numa grande união, dispostinhos a beber os ensinamentos do «Manual» do novo Messias, Miguel Gomes Ferreira. 4) O «Manual» propõe-se ensinar como fazer uma «revolução», coisa que nem os grandes revolucionários até hoje tinham tido a ousadia de fazer; assim, com todos os «pontos nos is», num manual pronto a usar com todas as instruções. 5) Uma «revolução» nas almas, quase de certeza. Porque se dirige aos «bons» e porque uma «revolução» das antigas, uma revolução não nas almas (benditas) mas nas condições materiais em que assentam as relações sociais, é coisa já vista, demasiado terra-a-terra, muito plebeia e que já não faz «falta». 6) E também porque se trata aqui de uma revolução de «cidadania», certamente de preceitos de civismo (do tipo, não cuspir para o chão, não fazer ruídos em público, respeitar os limites de velocidade, etc.), porque quanto a cidadania já desde a Revolução Francesa que somos todos citoyens (incluindo Amorins e Belmiros, vejam lá!); com a liberté de votar de quatro em quatro anos (fica tudo na mesma, mas não interessa). (Não era o Manuel Alegre que também andava muito preocupado com a cidadania?) 7) A revolução «que falta para resgatar o país». Toca a ler e a seguir bem as instruções e o país rumará às alturas, com todos os «bons» -- capitalistas e trabalhadores uni-vos! --, de braço dado, resolvendo todos os problemas em amena cavaqueira. A Bem do País (ou da Nação?).
Onde é que eu já li esta coisa?

19/Nov
«Uma em cada 30 crianças nos EUA não tem casa. Um máximo histórico.».

Novo milagre dos pregadores de «direitos humanos».

20/Nov
«Doentes com cancro sem tratamento há meio ano. Medicamentos para tumores na bexiga em falta desde Junho. Vacina contra a tuberculose em ruptura.»

Mais degradação no SNS. É diária. Degradações num processo imparável, de retorno ao antigamente. Embora com uns computadores pelo meio.

21/Nov
«Francisco Assis e João Proença [apoiantes de António Seguro] admitem aliança com o PSD»

Ora ainda bem. Estes ao menos não disfarçam. Assim, fica clarinho como água. Para quem quiser ver, claro. Se o PS vier a aliar-se com o PSD o que é que vão fazer o Livre + Fórum + RC + Manifesto 3D? Vão também «puxar» o PSD p'rá esquerda?

22/Nov
«Sócrates detido à chegada ao aeroporto de Lisboa. Suspeito de crimes de corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais e falsificação de documentos»

Sócrates, um marco incontornável na «história ignominiosa do PS» que temos vindo a apresentar. Mais um «caso» no rol das bandalheiras da democracia burguesa e novembrista portuguesa. Parida, sob os auspícios da CIA, em 25 de Novembro de 1975. Pelo PS de Sócrates e pelos Nove (encabeçados por Vasco Lourenço). Manu militari por Ramalho Eanes. (Muitos artigos nossos já se debruçaram sobre este parto.)
Sócrates. Quem sai aos seus não degenera.