segunda-feira, 21 de julho de 2014

Jornalismo ao serviço da reacção: o abate do avião MH17

    O recente abate do MH17 da Air Malaysia sobre as imediações de Donetsk desencadeou uma onda de histeria reaccionária nos meios de comunicação alinhados com o imperialismo ianque. Os factos não importam aos novos cruzados anti-russos. O que importa é debitar mentiras e veneno, por todo o lado, mesmo ao nível de autoridades governamentais, para justificar a cruzada anti-russa.
    Vejamos alguns factos:
   
    - No passado Domingo o JN, no seu destaque do dia na contra-capa, verberava de indignação contra a falta de dignidade dos rebeldes pró-russos que bêbados e agressivos tinham impedido o acesso aos monitores  da Organização de Segurança e Cooperação da Europa (OSCE). Contudo, quem lesse com atenção o artigo no interior do jornal via que só um monitor, de nacionalidade holandesa, disse isso: que tinham sido impedidos de chegar ao local por rebeldes pró-russos que «pareciam bêbados» e agressivos. «Pareciam». Quantos monitores compõem a missão da OSCE a Donetsk? O JN, estranhamente, não o diz. E dizemos estranhamente porque essa informação  existia e se o JN no artigo mencionava «um» nada mais natural do que esclarecer «em quantos». Esclarecemos nós, com base em informação oficial. São 30. Portanto, um em 30. E esse trigésimo foi suficiente para desencadear a verborreia pró-ianque do escrevinhador do destaque do JN. Quem será este reles escrevinhador que se esconde no anonimato?
   
    - Mas é assim tão estranho que os rebeldes pró-russos impedissem o acesso aos monitores da OSCE, se é que isso de se deu no Sábado? Nem por isso. Quer fossem rebeldes pró-russos quer outros quaisquer é habitual um impedimento inicial de acesso para proteger a zona do desastre e controlar a detecção e posse das caixas negras. Sempre tal acontece em todos os desastres de aviação. Seja como for, foi divulgada no Domingo a comunicação oficial da missão OSCE dizendo que já tinham tido acesso ao local.
   
    - Os meios ligados ao imperialismo ianque também fizeram correr o rumor de que os rebeldes teriam levado e destruído as caixas negras. Era mentira. As caixas negras já foram entregues pelos rebeldes a quem de direito: aos representantes da Air Malaysia.
   
    - O escrevinhador do destaque também se mostrava indignadíssimo com o roubo dos cartões de crédito das vítimas por parte dos rebeldes. Papagueava Cameron, PM do Reino Unido, que pôs a correr esse rumor. No Domingo o rumor tinha caído. Neste momento ainda não foi apresentada qualquer evidência desse facto.
    
    - Obama e Cameron têm-se desfeito em iracundas acusações contra a Rússia. Obama, naquele seu estilo definitivo e inapelável de ser humano excepcional, integrante do grupo dos donos do mundo, disse estar convicto da culpa dos russos, que supostamente teriam fornecido os mísseis terra-ar aos rebeldes e que o sistema de satélites dos EUA teria imagens de que o míssil foi disparado pelos rebeldes. A Rússia já pediu, logo no início, para que os EUA apresentassem as imagens. Os EUA ainda não apresentaram as imagens que dizem ter.

    - O regime fascista de Kiev também se destaca, obviamente, na campanha anti-russa. Apresentou uma gravação audio que supostamente mostrava os rebeldes a referirem-se ao abate do avião. Técnicos russos analisaram a gravação e denunciaram-na como uma falsificação, construída à custa de colagens.
   
    - Entretanto, grassa por toda a UE uma santa indignação anti-russa. Tudo serve aos media para propagar essa santa indignação. Desde rumores não confirmados ou ridículos a simples distorções da verdade. Uma distorção (por omissão) serviu ao PM holandês (Mark Rutte do Partido Liberal, um partido historicamente de alma e coração com os meios mais reaccionários dos EUA) para exibir a sua tremenda indignação numa declaração pública. Relacionava-se com uma imagem de um rebelde a exibir uma boneca achada nos destroços do avião, numa atitude que os media holandeses consideraram de exibição de troféu. Isso bastou para Rutte classificar o acto como revoltante. Só que a imagem era uma imagem. Uma imagem de um vídeo. E quem visse o vídeo todo veria que em vez da atitude de exibir troféu se tratava sim de uma atitude de homenagem. O rebelde, depois de ter levantado a boneca no ar – a imagem que tanto desgostou Rutte --, tirou o boné da cabeça em sinal de respeito e benzeu-se fazendo o sinal da cruz.
   
    (A propósito, a maior parte das vítimas do MH17 eram holandeses e a Holanda tem-se claramente destacado entre os países da UE pelo seu alinhamento fortemente reaccionário e pró-imperialista. Conforme vimos acima, o monitor da OSCE que  achou os rebeldes bêbados e agressivos, era holandês. Não admira.)

    Portanto, do lado dos que acusam os rebeldes, temos mentiras, prováveis falsificações, rumores e factos por confirmar. Quer isto dizer que os rebeldes estão ilibados? Não afirmámos isso. Parece-nos que a evidência até agora encontrada é ainda bastante insuficiente para chegar a uma conclusão definitiva. A análise das caixas negras certamente irá contribuir para isso.
    Note-se que não seria de admirar se os rebeldes tivessem abatido o avião, tanto mais que já foram bombardeados por aviões de Kiev voando a elevada altitude que lançaram bombas incendiárias. Só em Lugansk, os mortos já somam mais de 500. Se estivéssemos no lugar dos rebeldes (que não possuem aviões) estaríamos sempre prontinhos a abater aviões que nos sobrevoassem, em antecipação a qualquer ameixa caída do céu.
    Mas há um conjunto de factos que apontam para a culpabilidade directa ou indirecta de Kiev e seus apoiantes, os imperialistas ianques e europeus- Ei-los:
   
    -  Na altura do voo do MH17 existiam dois lançadores de mísseis terra-ar Buk, das tropas de Kiev, perto de Donetsk.
   
     - Foram retirados depois do abate do avião.
   
    - A rota do voo foi alterada pela torre de controlo de Kiev, quando o MH17 se aproximava da Ucrânia (proveniente de Amsterdão). Foi alterada de forma a passar por cima da zona de guerra perto de Donetsk. É uma rota bastante diferente da que os voos precedentes da Air Malaysia tomavam de Amsterdão para Kuala-Lumpur.
   
    - A torre de controlo de Kiev, também inexplicavelmente, deu instruções ao MH17 para baixar a sua altitude de 600 metros.
   
    - Na altura do abate do MH17 foi detectado por radares russos um jacto militar ucraniano Su-25 voando próximo. O jacto, logo a seguir afastou-se e desapareceu.

   Todos estes factos foram documentados com imagens numa conferência de imprensa do Ministério da Defesa russo. As autoridades russas já disseram que iam entregar as imagens e documentação a uma comissão de inquérito internacional.

    Todos estes factos são premeditadamente omitidos pelos  media «ocidentais».

    De facto, logo no início, surgia a pergunta: o que fazia um avião comercial voando por cima de uma zona que toda a gente sabe ser uma zona de guerra?
    Agora, com os novos factos revelados pelos russos, a interrogação sobe de tom. Porque razão a torre de controlo de Kiev deu instruções ao MH17 de seguir outra rota e de baixar a altitude voo? (Instruções a que o MH17 obedeceu.)

    Desde o início que Kiev, com apoio dos EUA e UE, tem tentado montar uma provocação, envolvendo a intervenção da Rússia, ainda que débil. Provocação que justificasse uma agressão militar da NATO e a completa subjugação de toda a Ucrânia. Agora, o incidente com o MH17, parece mais uma provocação. A questão das vítimas, para os fascistas e imperialistas é de somenos. Já no passado tiveram lugar provocações neste estilo. Para os fascistas e imperialistas as vítimas inocentes de provocações ou de agressões são apenas «collateral damage». Na defesa dos interesses egoístas dos 1% do topo a moral deles não é a nossa. E o jornalismo reaccionário esquece quaisquer considerações deontológicas e éticas.