O recente abate do MH17 da Air Malaysia sobre as imediações
de Donetsk desencadeou uma onda de histeria reaccionária nos meios de
comunicação alinhados com o imperialismo ianque. Os factos não importam aos
novos cruzados anti-russos. O que importa é debitar mentiras e veneno, por todo
o lado, mesmo ao nível de autoridades governamentais, para justificar a cruzada
anti-russa.
Vejamos alguns factos:
- No passado Domingo o JN, no seu destaque do dia na
contra-capa, verberava de indignação contra a falta de dignidade dos rebeldes
pró-russos que bêbados e agressivos tinham impedido o acesso aos monitores da Organização de Segurança e Cooperação da
Europa (OSCE). Contudo, quem lesse com atenção o artigo no interior do jornal
via que só um monitor, de
nacionalidade holandesa, disse isso: que tinham sido impedidos de chegar ao
local por rebeldes pró-russos que «pareciam bêbados» e agressivos. «Pareciam». Quantos
monitores compõem a missão da OSCE a Donetsk? O JN, estranhamente, não o diz. E
dizemos estranhamente porque essa informação existia e se o JN no artigo mencionava «um»
nada mais natural do que esclarecer «em quantos». Esclarecemos nós, com base em
informação oficial. São 30. Portanto, um
em 30. E esse trigésimo foi suficiente para desencadear
a verborreia pró-ianque do escrevinhador do destaque do JN. Quem será
este reles escrevinhador que se esconde no anonimato?
- Mas é assim tão estranho que os rebeldes pró-russos
impedissem o acesso aos monitores da OSCE, se é que isso de se deu no Sábado?
Nem por isso. Quer fossem rebeldes pró-russos quer outros quaisquer é habitual
um impedimento inicial de acesso para proteger a zona do desastre e controlar a
detecção e posse das caixas negras. Sempre tal acontece em todos os desastres
de aviação. Seja como for, foi divulgada no Domingo a comunicação oficial da missão OSCE dizendo que já tinham tido acesso ao local.
- Os meios ligados ao imperialismo ianque também fizeram
correr o rumor de que os rebeldes teriam levado e destruído as caixas negras.
Era mentira. As caixas negras já foram entregues pelos rebeldes a quem de direito:
aos representantes da Air Malaysia.
- O escrevinhador do destaque também se mostrava
indignadíssimo com o roubo dos cartões de crédito das vítimas por parte dos
rebeldes. Papagueava Cameron, PM do Reino Unido, que pôs a correr esse rumor. No
Domingo o rumor tinha caído. Neste momento ainda não foi apresentada
qualquer evidência desse facto.
- Obama e Cameron têm-se desfeito em iracundas acusações
contra a Rússia. Obama, naquele seu estilo definitivo e inapelável de ser humano excepcional, integrante do grupo dos donos do mundo, disse estar convicto da culpa dos russos, que
supostamente teriam fornecido os mísseis terra-ar aos rebeldes e que o sistema
de satélites dos EUA teria imagens de que o míssil foi disparado pelos
rebeldes. A Rússia já pediu, logo no início, para que os EUA apresentassem as
imagens. Os EUA ainda não apresentaram as imagens que dizem ter.
- O regime fascista de Kiev também se destaca, obviamente, na campanha anti-russa. Apresentou uma gravação audio que supostamente mostrava
os rebeldes a referirem-se ao abate do avião. Técnicos russos analisaram a gravação
e denunciaram-na como uma falsificação, construída à custa de colagens.
- Entretanto, grassa por toda a UE uma santa indignação
anti-russa. Tudo serve aos media para
propagar essa santa indignação. Desde rumores não confirmados ou ridículos a simples
distorções da verdade. Uma distorção (por omissão) serviu ao PM holandês (Mark Rutte
do Partido Liberal, um partido historicamente de alma e coração com os meios mais reaccionários dos EUA) para exibir a sua tremenda indignação numa
declaração pública. Relacionava-se com uma imagem de um rebelde a exibir uma
boneca achada nos destroços do avião, numa atitude que os media holandeses consideraram de
exibição de troféu. Isso bastou para Rutte classificar o acto como revoltante.
Só que a imagem era uma imagem. Uma
imagem de um vídeo. E quem visse o vídeo todo veria que em vez da atitude de exibir
troféu se tratava sim de uma atitude de homenagem. O rebelde, depois de ter
levantado a boneca no ar – a imagem que tanto desgostou Rutte --, tirou o boné da cabeça em sinal de respeito e benzeu-se fazendo o sinal da cruz.
(A propósito, a maior parte das vítimas do MH17 eram holandeses
e a Holanda tem-se claramente destacado entre os países da UE pelo seu
alinhamento fortemente reaccionário e pró-imperialista. Conforme vimos acima, o
monitor da OSCE que achou os rebeldes
bêbados e agressivos, era holandês. Não admira.)
Portanto, do lado dos que acusam os rebeldes, temos
mentiras, prováveis falsificações, rumores e factos por confirmar. Quer isto
dizer que os rebeldes estão ilibados? Não afirmámos isso. Parece-nos que a
evidência até agora encontrada é ainda bastante insuficiente para chegar a uma
conclusão definitiva. A análise das caixas negras certamente irá contribuir
para isso.
Note-se que não seria de admirar se os rebeldes tivessem
abatido o avião, tanto mais que já foram bombardeados por aviões de Kiev voando
a elevada altitude que lançaram bombas incendiárias. Só em Lugansk, os mortos
já somam mais de 500. Se estivéssemos no lugar dos rebeldes (que não possuem
aviões) estaríamos sempre prontinhos a abater aviões que nos sobrevoassem, em
antecipação a qualquer ameixa caída do céu.
Mas há um conjunto de factos que apontam para a culpabilidade
directa ou indirecta de Kiev e seus apoiantes, os imperialistas ianques e
europeus- Ei-los:
- Na
altura do voo do MH17 existiam dois lançadores de mísseis terra-ar Buk, das tropas
de Kiev, perto de Donetsk.
- Foram retirados depois do abate do avião.
- A rota do voo foi alterada pela torre de
controlo de Kiev, quando o MH17 se aproximava da Ucrânia (proveniente
de Amsterdão). Foi alterada de forma a passar por cima da zona de guerra perto de
Donetsk. É uma rota bastante diferente da que os voos precedentes da
Air Malaysia tomavam de Amsterdão para Kuala-Lumpur.
- A torre de controlo de Kiev, também
inexplicavelmente, deu instruções ao MH17 para baixar a sua altitude de 600
metros.
- Na altura do abate do MH17 foi detectado por
radares russos um jacto militar ucraniano Su-25 voando próximo. O jacto, logo
a seguir afastou-se e desapareceu.
Todos estes factos foram documentados com imagens numa
conferência de imprensa do Ministério da Defesa russo. As autoridades russas já
disseram que iam entregar as imagens e documentação a uma comissão de inquérito
internacional.
Todos estes factos são premeditadamente omitidos pelos media «ocidentais».
De facto, logo no início, surgia a pergunta: o que fazia um
avião comercial voando por cima de uma zona que toda a gente sabe ser uma zona
de guerra?
Agora, com os novos factos revelados pelos russos, a
interrogação sobe de tom. Porque razão a torre de controlo de Kiev deu
instruções ao MH17 de seguir outra rota e de baixar a altitude voo? (Instruções
a que o MH17 obedeceu.)
Desde o início que Kiev, com apoio dos EUA e UE, tem tentado
montar uma provocação, envolvendo a intervenção da Rússia, ainda que débil.
Provocação que justificasse uma agressão militar da NATO e a completa
subjugação de toda a Ucrânia. Agora, o incidente com o MH17, parece mais uma
provocação. A questão das vítimas, para os fascistas e imperialistas é de
somenos. Já no passado tiveram lugar provocações neste estilo. Para os
fascistas e imperialistas as vítimas inocentes de provocações ou de agressões
são apenas «collateral damage». Na defesa dos interesses egoístas dos 1% do
topo a moral deles não é a nossa. E o jornalismo reaccionário esquece quaisquer
considerações deontológicas e éticas.