Um dia depois de publicarmos o nosso último
artigo sobre o «caso» BES-GES (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/07/bes-ges-mais-um-buraco-para-o-povo-tapar.html
), chamando a atenção para a gravidade da situação, eis que as notícias
dificilmente podiam ser mais confirmadoras do que dizíamos:
-- Em apenas 4 horas de queda das acções na
Bolsa o BES perdeu 600 milhões de euros!
-- A situação foi tão grave que a CMVM
suspendeu o BES da Bolsa.
-- O que aconteceu ao BES teve influência nas
Bolsas estrangeiras, sendo sido assim comentado pela imprensa internacional:
El País: A bolsa
espanhola fechou a perder «arrastada pelas dúvidas» sobre o BES.
Financial Times:
«Medo com a banca portuguesa desencadeia uma onda de vendas nas bolsas
europeias».
Le Figaro: «um
buraco português semeia pânico nos mercados».
The Guardian: «Dow
Jones cai 1% na abertura da sessão face ao medo provocado pela situação da
banca portuguesa que atingiu Wall Street».
-- Canais de televisão de países da UE
noticiaram o assunto nos mesmos termos.
-- O BdP viu-se obrigado a dizer qualquer
coisa. Apresentou um plano com as seguintes medidas: 1 - Tirar BES do contágio
dos problemas do GES [uma impossibilidade]; 2 – Prever possibilidade de aumento
de capital que absorva as perdas [donde virá o capital não disse]; 3 – Afastar
a família Espírito Santo da gestão [boas e inócuas intenções, fora, talvez, de
uma nacionalização]; 4 – Mudar para nova liderança, credível [pois]; 5 –
Assegurar, se necessário, o acesso à linha de recapitalização já usada por BCP,
BPI e Banif [pôr o povo a tapar buracos].
-- O próprio BdP não parece muito empenhado em
aplicar o seu plano. BdP e fontes do governo, PR, e partidos de direita
mantêm-se no «síndrome da negação». No mesmo dia em que anunciava o seu plano o
BdP declarava alto e bom som que a situação do BES «é sólida».
-- O António Seguro do PS foi de propósito ao
BdP para se inteirar da situação. Saiu de lá todo satisfeito porque lhe
disseram que a situação do BES «é sólida». Satisfeito e convencido.
* *
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O povão mantém-se numa onda de passividade,
bem comentada no artigo de opinião de Carvalho da Silva intitulado «A
passividade nada resolve», publicado no JN de hoje. Nele
pronuncia-se também nos mesmos moldes que já dissemos há tempos neste blog:
quanto maior a passividade maiores serão os próximos ataques.
Esta perniciosa onda de passividade traz-nos constantemente
à mente o seguinte texto de Mário-Henrique Leiria:
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
Mário-Henrique
Leiria, «Rifão Quotidiano»
in Novos
Contos do Gin, editorial Estampa, 1978.