sábado, 12 de julho de 2014

BES-GES: a trama adensa-se

Um dia depois de publicarmos o nosso último artigo sobre o «caso» BES-GES (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/07/bes-ges-mais-um-buraco-para-o-povo-tapar.html ), chamando a atenção para a gravidade da situação, eis que as notícias dificilmente podiam ser mais confirmadoras do que dizíamos:
   
-- Em apenas 4 horas de queda das acções na Bolsa o BES perdeu 600 milhões de euros!
-- A situação foi tão grave que a CMVM suspendeu o BES da Bolsa.
-- O que aconteceu ao BES teve influência nas Bolsas estrangeiras, sendo sido assim comentado pela imprensa internacional:
El País: A bolsa espanhola fechou a perder «arrastada pelas dúvidas» sobre o BES.
Financial Times: «Medo com a banca portuguesa desencadeia uma onda de vendas nas bolsas europeias».
Le Figaro: «um buraco português semeia pânico nos mercados».
The Guardian: «Dow Jones cai 1% na abertura da sessão face ao medo provocado pela situação da banca portuguesa que atingiu Wall Street».
-- Canais de televisão de países da UE noticiaram o assunto nos mesmos termos.
-- O BdP viu-se obrigado a dizer qualquer coisa. Apresentou um plano com as seguintes medidas: 1 - Tirar BES do contágio dos problemas do GES [uma impossibilidade]; 2 – Prever possibilidade de aumento de capital que absorva as perdas [donde virá o capital não disse]; 3 – Afastar a família Espírito Santo da gestão [boas e inócuas intenções, fora, talvez, de uma nacionalização]; 4 – Mudar para nova liderança, credível [pois]; 5 – Assegurar, se necessário, o acesso à linha de recapitalização já usada por BCP, BPI e Banif [pôr o povo a tapar buracos].
-- O próprio BdP não parece muito empenhado em aplicar o seu plano. BdP e fontes do governo, PR, e partidos de direita mantêm-se no «síndrome da negação». No mesmo dia em que anunciava o seu plano o BdP declarava alto e bom som que a situação do BES «é sólida».
-- O António Seguro do PS foi de propósito ao BdP para se inteirar da situação. Saiu de lá todo satisfeito porque lhe disseram que a situação do BES «é sólida». Satisfeito e convencido.
*    *    *
    O povão mantém-se numa onda de passividade, bem comentada no artigo de opinião de Carvalho da Silva intitulado «A passividade nada resolve», publicado no JN de hoje. Nele pronuncia-se também nos mesmos moldes que já dissemos há tempos neste blog: quanto maior a passividade maiores serão os próximos ataques.
    Esta perniciosa onda de passividade traz-nos constantemente à mente o seguinte texto de Mário-Henrique Leiria:
   
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
Mário-Henrique Leiria, «Rifão Quotidiano»

in Novos Contos do Gin, editorial Estampa, 1978.