quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Desenvolvimento Sustentável: II - Recursos Naturais


Continuando a analisar aspectos centrais da sustentabilidade do desenvolvimento económico (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/08/desenvolvimento-sustentavel-i.html ) vamos no presente artigo procurar ver, ainda que de forma sucinta, o que se passa com recursos naturais não reprodutíveis que consideramos vitais no actual estádio civilizacional. É este o caso de fontes energéticas como o petróleo, o carvão e o gás natural, bem como o de certos metais.
Comecemos pelo petróleo, que em 2008 representava 33,5% do consumo total de energia ([1]). Segundo um relatório da OPEC ([2]) o tempo de vida das reservas dos maiores 17 produtores mundiais era em 2010 de 64 anos. Mesmo contando com a contribuição de outros países e com a possibilidade de explorar novas jazidas (de mais difícil exploração que as actuais), o cenário é preocupante. O panorama do gás natural (59 anos ao ritmo de 2010, [3]) é semelhante. Para o carvão (118 anos ao ritmo de 2010, [4]) é um pouco melhor.
A tendência de decréscimo da produção de jazidas de petróleo e gás natural abarca, já não apenas esta ou aquela jazida, mas sim regiões inteiras do planeta conforme mostram as figuras abaixo para o caso do petróleo ([5]).
 Produção de petróleo nos EUA. Notar o declínio a partir de 1987.

Produção de petróleo no Mar do Norte. Notar o declínio a partir de 1999.

A agravar ainda mais o cenário temos que, enquanto o aumento populacional é, como vimos, praticamente linear, o mesmo não acontece com o consumo de energia, que sugere uma tendência exponencial, conforme mostra a figura ([6]): 

Consumo mundial de energia de 1860 a 2010. «Mtoe» significa Million Tonnes of Oil Equivalent (equivalente a milhão de toneladas de petróleo).

Para além de não renováveis, petróleo, carvão e gás são fontes de energia poluentes e que seriam melhor empregues noutras aplicações de grande importância (fabrico de compostos químicos específicos) em vez da mera queima para produzir energia. Por estas razões tem-se vindo a procurar fontes de energia não poluentes que possam substituir com eficácia o petróleo, carvão e gás.
O peso relativo de energias renováveis tais como a energia hidroeléctrica, solar, eólica, geotermal e o biofuel, é ainda reduzido: presentemente contribuem a nível mundial com um modesto total de 13 % e não deverá aumentar muito mais. A esperança depositada na fusão termonuclear, que dotaria a humanidade de uma fonte limpa e quase inesgotável de energia, parece estar ainda longe de se concretizar. Apesar de previsões de que um reactor termonuclear estaria pronto em finais de 2012 ([7]) tal não se verificou. Novas datas vão sendo sempre avançadas quando as antigas não se verificam. Fala-se agora em 2018-2025 ([8]). Provavelmente ainda decorrerão muitos anos até que se disponha de tecnologia de fusão adequada e em larga escala capaz de substituir as chamadas fontes fósseis (petróleo, gás natural e carvão).
Se o problema da energia é espinhoso, o das reservas de metais não o é menos. Acontece apenas que o primeiro tem sido abundantemente tratado na imprensa enquanto o segundo é quase esquecido. Todavia, o problema das reservas de metais é, de certo modo, ainda mais difícil do que o da energia. A tabela abaixo mostra os valores das reservas de metais comuns, em toneladas, segundo estimativas de 2006 ([9]). A coluna «Reservas Prospectivas» engloba as anteriores e toma em consideração outras fontes já identificadas e que poderão ser exploradas no futuro. As duas últimas colunas da tabela mostram o tempo de vida das reservas em anos, a manter-se a taxa de consumo de 2006.

Reservas e reservas prospectivas de alguns metais, em toneladas, e respectivo tempo de vida em anos. 
Estimativas de (e referentes a) níveis de consumo de 2006.
Metal
Reservas
Reservas Prospectivas
Tempo de vida das reservas
Tempo de vida das reservas prospectivas
Ferro
72 000 000 000
164 000 000 000
52,2
> 100
Cobre
430 000 000
850 000 000
28,7
56,7
Zinco
200 000 000
420 000 000
20,0
42,0
Chumbo
61 000 000
130 000 000
18,5
39,4
Estanho
5 500 000
10 000 000
18,3
33,3
Ouro
38 000
52 000
15,1
32,6
Prata
245 000
520 000
12,3
26,1

Os valores são tanto ou mais preocupantes que os da energia. As estimativas de reservas de vários metais importantes como o zinco, chumbo, estanho, ouro e prata correspondem a um tempo de vida igual ou inferior a 20 anos e, mesmo entrando em linha de conta com as reservas prospectivas, o tempo de vida está abaixo de 50 anos. No caso da prata situa-se nuns míseros 26 anos! (Ver também o trabalho [10], de 2010, que estima as reservas de prata a acabar em 2029.)
É claro que estes números não são exactos e, no passado, tem havido revisões de estimativas de jazidas e reservas de metais. O caso do cobre é exemplar. O consumo de cobre tem vindo sempre a aumentar, tal como a produção (ver figura abaixo, [11]; ver também [12] que contém um gráfico de procura de cobre extrapolado até 2030); mas a tendência actual é a da subida de preço. O consumo é de tal modo elevado que se estima que, anualmente, corresponde à produção de três minas de cobre de classe mundial ([11]). Certos especialistas pensam, contudo, que as reservas de cobre são mais abundantes do que as conhecidas e assegurarão a procura por ainda muito tempo.

Produção global de cobre entre 1900 e 2010.

Não obstante, subsistem motivos de preocupação. A escassez ou dificuldade de obtenção de metais, com um mínimo de impacto ambiental, são aspectos também referidos por outras fontes. É o caso dos metais das terras raras (apesar do nome, a maior parte destes metais são mais abundantes do que, por exemplo, o chumbo, embora de forma disseminada); actualmente a China produz 96% destes metais precisamente porque na China a atitude face ao impacto ambiental é permissiva ([13]).
Para alguns metais o consumo disparou em anos recentes devido a desenvolvimentos tecnológicos. O índio é um desses metais. A manterem-se os níveis actuais de produção as reservas conhecidas de índio só satisfarão a procura, segundo estimativas de 2010 ([10]), até 2028!
Já no caso do tântalo e do nióbio, cuja procura subiu imenso desde que se iniciou a explosão dos telemóveis (ver figura abaixo, [14]), o panorama é muito diferente: estima-se que as jazidas e reservas conhecidas satisfarão a procura para os próximos 500 anos.

Produção global de nióbio entre 1997 e 2009.

A finalizar, convém ter em conta que a reciclagem de metais pouco remédio traz ao cenário de escassez de muitos deles, visto que ela já hoje é empregue em larga escala e não deverá ser significativamente aumentada. Estima-se, por exemplo, que 80% do cobre já hoje é repetidamente reciclado ([11]). Além disso, nem toda a reciclagem é tão simples e eficiente como, digamos, a reciclagem do chumbo das baterias dos automóveis: a recuperação do índio por reciclagem de painéis de LCD é de apenas 1%.

[1] 2010 Survey of Energy Resources, World Energy Council. Os contributos percentuais de outras fontes de energia em 2008 eram: carvão, 26,8 %; gás, 20,9 %; nuclear, 5,8 %; hidro, 2,2 %; outras energias renováveis (solar, vento, geotermal, biofuel), 10,6%.
[2] "OPEC Share of World Oil Reserves 2010". OPEC. 2011. Os dados que referimos encontram-se na wikipedia.
[3] Dados do artigo How long will oil and gas reserves last? Itar-Tass News Agency, 29/07/2011.
[4] Dados divulgados pela World Coal Association.
[5] Gráficos adaptados da US Energy Information Agency, publicados por Gail Tverberg (2007) Our world is finite: Is this a problem?. Energy Bulletin. Neste trabalho são referidos dois cenários possíveis de declínio do PIB dos EUA ocasionados por limitações de petróleo e gás natural; um, com início em 2010 e, o outro, com início em 2020.
[6] A figura é de http://www.manicore.com/anglais/documentation_a/articles_a/palace_may2001.html (consultada em 2012). Essencialmente os mesmos dados aparecem em BP Energy Outlook 2030, BP Statistical Review, London 2011.
[7] Declaração de Mike Dunne, director do National Ignition Facility dos EUA.
[9] Mineral Commodity Summaries, 2006. US Geological Survey.