Continuando a analisar aspectos centrais da sustentabilidade do desenvolvimento económico (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/08/desenvolvimento-sustentavel-i.html ) vamos no presente artigo procurar ver, ainda que de forma sucinta, o que se passa com recursos naturais não reprodutíveis que consideramos vitais no actual estádio civilizacional. É este o caso de fontes energéticas como o petróleo, o carvão e o gás natural, bem como o de certos metais.
Comecemos pelo petróleo, que em 2008 representava 33,5% do consumo total de energia ([1]). Segundo um relatório da OPEC ([2]) o tempo de vida das reservas dos maiores 17 produtores mundiais era em 2010 de 64 anos. Mesmo contando com a contribuição de outros países e com a possibilidade de explorar novas jazidas (de mais difícil exploração que as actuais), o cenário é preocupante. O panorama do gás natural (59 anos ao ritmo de 2010, [3]) é semelhante. Para o carvão (118 anos ao ritmo de 2010, [4]) é um pouco melhor.
A tendência de decréscimo da produção de jazidas de petróleo e gás natural abarca, já não apenas esta ou aquela jazida, mas sim regiões inteiras do planeta conforme mostram as figuras abaixo para o caso do petróleo ([5]).
Produção de petróleo nos EUA. Notar o declínio a partir de 1987.
Produção de petróleo no Mar do Norte. Notar o declínio a partir de 1999.
A agravar ainda mais o cenário temos que, enquanto o aumento populacional é, como vimos, praticamente linear, o mesmo não acontece com o consumo de energia, que sugere uma tendência exponencial, conforme mostra a figura ([6]):
Consumo mundial de energia de 1860 a 2010. «Mtoe» significa Million Tonnes of Oil Equivalent (equivalente a milhão de toneladas de petróleo).
Para além de não renováveis, petróleo, carvão e gás são fontes de energia poluentes e que seriam melhor empregues noutras aplicações de grande importância (fabrico de compostos químicos específicos) em vez da mera queima para produzir energia. Por estas razões tem-se vindo a procurar fontes de energia não poluentes que possam substituir com eficácia o petróleo, carvão e gás.
O peso relativo de energias renováveis tais como a energia hidroeléctrica, solar, eólica, geotermal e o biofuel, é ainda reduzido: presentemente contribuem a nível mundial com um modesto total de 13 % e não deverá aumentar muito mais. A esperança depositada na fusão termonuclear, que dotaria a humanidade de uma fonte limpa e quase inesgotável de energia, parece estar ainda longe de se concretizar. Apesar de previsões de que um reactor termonuclear estaria pronto em finais de 2012 ([7]) tal não se verificou. Novas datas vão sendo sempre avançadas quando as antigas não se verificam. Fala-se agora em 2018-2025 ([8]). Provavelmente ainda decorrerão muitos anos até que se disponha de tecnologia de fusão adequada e em larga escala capaz de substituir as chamadas fontes fósseis (petróleo, gás natural e carvão).
Se o problema da energia é espinhoso, o das reservas de metais não o é menos. Acontece apenas que o primeiro tem sido abundantemente tratado na imprensa enquanto o segundo é quase esquecido. Todavia, o problema das reservas de metais é, de certo modo, ainda mais difícil do que o da energia. A tabela abaixo mostra os valores das reservas de metais comuns, em toneladas, segundo estimativas de 2006 ([9]). A coluna «Reservas Prospectivas» engloba as anteriores e toma em consideração outras fontes já identificadas e que poderão ser exploradas no futuro. As duas últimas colunas da tabela mostram o tempo de vida das reservas em anos, a manter-se a taxa de consumo de 2006.
Reservas e reservas prospectivas de alguns metais, em toneladas, e respectivo tempo de vida em anos.
Estimativas de (e referentes a) níveis de consumo de 2006.
Metal
|
Reservas
|
Reservas Prospectivas
|
Tempo de vida das reservas
|
Tempo de vida das reservas prospectivas
|
Ferro
|
72 000 000 000
|
164 000 000 000
|
52,2
|
> 100
|
Cobre
|
430 000 000
|
850 000 000
|
28,7
|
56,7
|
Zinco
|
200 000 000
|
420 000 000
|
20,0
|
42,0
|
Chumbo
|
61 000 000
|
130 000 000
|
18,5
|
39,4
|
Estanho
|
5 500 000
|
10 000 000
|
18,3
|
33,3
|
Ouro
|
38 000
|
52 000
|
15,1
|
32,6
|
Prata
|
245 000
|
520 000
|
12,3
|
26,1
|
Os valores são tanto ou mais preocupantes que os da energia. As estimativas de reservas de vários metais importantes como o zinco, chumbo, estanho, ouro e prata correspondem a um tempo de vida igual ou inferior a 20 anos e, mesmo entrando em linha de conta com as reservas prospectivas, o tempo de vida está abaixo de 50 anos. No caso da prata situa-se nuns míseros 26 anos! (Ver também o trabalho [10], de 2010, que estima as reservas de prata a acabar em 2029.)
É claro que estes números não são exactos e, no passado, tem havido revisões de estimativas de jazidas e reservas de metais. O caso do cobre é exemplar. O consumo de cobre tem vindo sempre a aumentar, tal como a produção (ver figura abaixo, [11]; ver também [12] que contém um gráfico de procura de cobre extrapolado até 2030); mas a tendência actual é a da subida de preço. O consumo é de tal modo elevado que se estima que, anualmente, corresponde à produção de três minas de cobre de classe mundial ([11]). Certos especialistas pensam, contudo, que as reservas de cobre são mais abundantes do que as conhecidas e assegurarão a procura por ainda muito tempo.
Produção global de cobre entre 1900 e 2010.
Não obstante, subsistem motivos de preocupação. A escassez ou dificuldade de obtenção de metais, com um mínimo de impacto ambiental, são aspectos também referidos por outras fontes. É o caso dos metais das terras raras (apesar do nome, a maior parte destes metais são mais abundantes do que, por exemplo, o chumbo, embora de forma disseminada); actualmente a China produz 96% destes metais precisamente porque na China a atitude face ao impacto ambiental é permissiva ([13]).
Para alguns metais o consumo disparou em anos recentes devido a desenvolvimentos tecnológicos. O índio é um desses metais. A manterem-se os níveis actuais de produção as reservas conhecidas de índio só satisfarão a procura, segundo estimativas de 2010 ([10]), até 2028!
Já no caso do tântalo e do nióbio, cuja procura subiu imenso desde que se iniciou a explosão dos telemóveis (ver figura abaixo, [14]), o panorama é muito diferente: estima-se que as jazidas e reservas conhecidas satisfarão a procura para os próximos 500 anos.
Produção global de nióbio entre 1997 e 2009.
A finalizar, convém ter em conta que a reciclagem de metais pouco remédio traz ao cenário de escassez de muitos deles, visto que ela já hoje é empregue em larga escala e não deverá ser significativamente aumentada. Estima-se, por exemplo, que 80% do cobre já hoje é repetidamente reciclado ([11]). Além disso, nem toda a reciclagem é tão simples e eficiente como, digamos, a reciclagem do chumbo das baterias dos automóveis: a recuperação do índio por reciclagem de painéis de LCD é de apenas 1%.
[1] 2010 Survey of Energy Resources, World Energy Council. Os contributos percentuais de outras fontes de energia em 2008 eram: carvão, 26,8 %; gás, 20,9 %; nuclear, 5,8 %; hidro, 2,2 %; outras energias renováveis (solar, vento, geotermal, biofuel), 10,6%.
[2] "OPEC Share of World Oil Reserves 2010". OPEC. 2011. Os dados que referimos encontram-se na wikipedia.
[3] Dados do artigo How long will oil and gas reserves last? Itar-Tass News Agency, 29/07/2011.
[4] Dados divulgados pela World Coal Association.
[5] Gráficos adaptados da US Energy Information Agency, publicados por Gail Tverberg (2007) Our world is finite: Is this a problem?. Energy Bulletin. Neste trabalho são referidos dois cenários possíveis de declínio do PIB dos EUA ocasionados por limitações de petróleo e gás natural; um, com início em 2010 e, o outro, com início em 2020.
[6] A figura é de http://www.manicore.com/anglais/documentation_a/articles_a/palace_may2001.html (consultada em 2012). Essencialmente os mesmos dados aparecem em BP Energy Outlook 2030, BP Statistical Review, London 2011.
[7] Declaração de Mike Dunne, director do National Ignition Facility dos EUA.
[9] Mineral Commodity Summaries, 2006. US Geological Survey.
[10] How Much Is Left? The Limits of Earth's Resource. A graphical accounting of the limits to what one planet can provide",September 2010 Issue (http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=how-much-is-left).