Those who
want to overthrow Nicolás Maduro
Já apresentámos vários factos em artigos anteriores que
demonstram por que razão o imperialismo tem vindo a ingerir-se na Venezuela
procurando derrubar um governo cuja
defesa da soberania os incomoda.
(Agora, essa ingerência intervencionista subiu de
tom com os EUA -- e uma UE totalmente lacaia dos interesses imperiais – a
apresentar ultimatos de apear um presidente democraticamente eleito para o
subsituir por uma marionete não eleita, mas do agrado deles! É esta a
democracia deles!)
Um artigo recente de um site estrangeiro (que vive de donativos), com que deparámos, traz
mais informação de interesse. Trata-se de uma entrevista com a presidente do
Partido dos Trabalhadores de Brasil que esteve em Caracas na tomada de posse
de Nicolás Maduro. Entre outras revelações atente-se no estado actual do
sistema de justiça do Brasil. Note-se que o mesmo se poderia dizer de muitos
outros países, nomeadamente da UE (como os casos salientes da Ucrânia,
Polónia e Hungria) sem preocupação de relevo das lideranças políticas e da
UE. Uma clara demonstração de que a apregoada «independência» da Justiça é no
capitalismo uma farsa, dado que as chorudamente pagas elites judiciais estão
essencialmente e impunement alinhadas com a protecção do sistema e dos seus
mais relevantes patronos, encabeçando frequentemente processos de perseguição
política usando (enxovalhando) a lei como lhes interessa.
(A propósito, veja-se o respeito que o governo PS e
o seu pró-imperial ministro Santos Silva, têm pelo art. 7 da Constituição
Portuguesa que diz «»1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos
princípios [...] da não ingerência nos assuntos inernos de outros Estados
[...] 2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colnialismo e de
quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre
os povos [...])
Segue-se abaixo a nossa tradução do artigo.
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In previous articles we have already
presented several facts demonstrating why imperialism has been interfering in
Venezuela seeking to overthrow a government whose defense of sovereignty annoys
them.
(This interventionist interference has now escalated
with the US - and an EU totally subservient of imperial interests - submitting
ultimatums to put down a democratically elected president replacing him with
an un-elected marionette, but to their liking! That’s their democracy!)
A recent article from a foreign site (which
lives on donations), which we came across, brings more information of
interest. It is an interview with the president of the Workers' Party of
Brazil who was in Caracas at the inauguration of Nicolás Maduro. Among other
revelations, we draw attention to the current state of the justice system in
Brazil. Notice that the same could be said of many other countries, notably
the EU (as the salient cases of Ukraine, Poland and Hungary) with no prominent
concern of the political leaderships. A clear demonstration that the
so-called "independence" of justice is in capitalism a farce, since
the overpaid judicial elites are essentially aligned with impunity and the
protection of the system and of their most relevant patrons, often in the
front line of political persecution, using (messing) the law in a way that
suits them.
(Incidentally, notice the respect that the PS
government and its pro-imperial minister Santos Silva do not have for article 7 of
the Portuguese Constitution stating: “1. Portugal is governed in
international relations by the principles [...] of non-interference in the internal
affairs of other States [...] 2. Portugal advocates the abolition of
imperialism, colonialism and any other forms of aggression, domination and
exploitation in the relations between nations [...])
The article, by Brian Mier, The Corporatists Who Want Venezuela's President Ousted, can be read here.
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Os Chefes de
Corporações que Querem Derrubar o Presidente da Venezuela
(The Corporatists Who Want
Venezuela's President Ousted)
Brian Mier, Jan
24, 2019
Publicado por: truthdig, drilling beneath the headlines.
Gleisi Hoffmann cresceu num lar católico em
Curitiba onde, depois de desistir de se tornar freira, ingressou no movimento
estudantil, filiou-se no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foi eleita consecutivamente
presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Curitiba, do Estado do
Paraná e do Brasil. Tornou-se posteriormente advogada, filiou-se no Partido dos
Trabalhadores (PT) e iniciou uma trajectória política que culminou com o cargo de
chefe de gabinete de Dilma Rousseff (2011-2014), de senadora, e na sua actual
posição de presidente nacional do PT.
Em 2015 foi acusada de corrupção como parte da
investigação Lava Jato, do Departamento de Justiça dos EUA / Ministério Público
do Brasil, liderada por Sérgio Moro actual ministro da Justiça de Jair
Bolsonaro. Através de um negócio judicial, para obter um testemunho de um
criminoso e sentenciado, em troca de redução da sentença, Geisi foi acusada de
receber subornos da companhia estatal de petróleo Petrobrás. O caso chegou ao
Supremo Tribunal em 2017, onde foi rejeitado por decisão unânime por falta de
provas materiais.
Geisi viajou para a Venezuela em 10 de Janeiro,
a fim de participar na cerimónia de inauguração do presidente Nicolás Maduro. Foi
muito contactada pelos media naquela
semana. Consegui abordá-la em 19 de Janeiro para lhe dar a oportunidade de
explicar a uma audiência de língua inglesa por que achava tão importante ir à
inauguração.
Brian
Mier: A sua visita à inauguração de Nicolás Maduro na
Venezuela foi muito criticada no Norte, até mesmo pelos jornalistas anglo-saxões
que escrevem para publicações supostamente progressistas, como o Guardian. A senhora publicou uma
declaração sobre a sua visita, dizendo que quem a criticou não entende os
conceitos de soberania e de autodeterminação. A avaliar pela maneira como os media anglo-saxões reagiram à sua
visita, creio que efectivamente muitas pessoas das nações historicamente
imperialistas da Inglaterra e dos EUA não têm uma boa compreensão desses
conceitos. Por que razão os conceitos de soberania e autodeterminação são
importantes e como se relacionam eles com a sua recente visita à Venezuela?
Gleisi
Hoffmann: A soberania está relacionada com o não
reconhecimento de um órgão superior de natureza externa. Por outras palavras, a
nação tem autoridade suprema. Não há hierarquia entre as nações. A
autodeterminação é o direito que um povo tem de se governar, de fazer as suas
escolhas sem intervenção estrangeira. É por isso que referi que o governo dos
EUA e aqueles que me criticaram não entendem o que é soberania e
autodeterminação, pois acreditam que forças de fora da Venezuela deveriam
resolver os seus problemas. Nós acreditamos no oposto. Só o povo venezuelano
tem capacidade de resolver os seus problemas, através de um processo de
diálogo, aprendizagem e relacionamento. A minha viagem à Venezuela esteve,
portanto, relacionada com o que o Partido dos Trabalhadores pensa sobre
soberania e autodeterminação. Nenhuma outra nação ou órgão externo tem o
direito de pregar a violência e a intervenção e de se intrometer nos assuntos
de outra nação. Podemos, por outro lado, apoiar a construção de diálogos,
reunir as partes opostas e encorajar uma solução pacífica para os conflitos.
Foi isso que o Presidente Lula sempre fez.
BM: Gostaria de lhe perguntar sobre o uso da lei, o uso do sistema judicial
de se envolver em assassinatos de carácter e perseguição política. Tal como
Lula é vítima desse processo, a senhora foi perseguida durante anos pela
operação judicial Lava Jato do Departamento de Justiça dos EUA / Procuradores
Públicos de Brasil, liderada por Sérgio Moro, actual ministro da Justiça de
Bolsonaro. Muitas pessoas já tinham pensado que a senhora concorreria ao cargo
de presidente. Pessoalmente, vi o assassinato de carácter, judicial/mediático,
que foi realizado contra si como uma tentativa de impedi-la de concorrer. Como afectou
esse processo judicial a sua vida?
GH: O processo judicial evoluiu para um sistema de perseguição política e
um instrumento de certos sectores da sociedade brasileira para aceder ao poder.
Não é só a sociedade brasileira; é um fenómeno a que se assiste em toda a
América Latina. Infelizmente, espalhou-se pelo continente. Fui profundamente
afectada pelo caso contra mim. Fui absolvida de todas as acusações que eles
levantaram contra mim por decisão unânime do Tribunal Supremo; mas antes disso
acontecer, passei por uma série de constrangimentos públicos. A minha casa foi
invadida pela polícia. O meu marido foi preso e libertado. Houve protestos
contra mim -- as críticas na imprensa foram sempre ácidas --, fui perseguida
nas redes sociais e os meus filhos foram assediados em público. Foi um processo
muito doloroso. Mas fiquei muito aliviada por esta situação ter sido
esclarecida quando o meu recurso final foi analisado e fui absolvida de todas
as acusações. No entanto, ainda me causa problemas nas minhas relações sociais
e na minha trajectória política.
BM: Quais são os riscos de ter um ultraconservador altamente politizado
como o ex-investigador da Lava Jato, promotor e juiz Sérgio Moro, a dirigir o
Ministério da Justiça?
GH: O ministro da Justiça, Sérgio Moro, é agora responsável pela
perseguição política. Por outras palavras, é ele que irá eliminar os rivais e
inimigos do sistema e fará isso usando a lei. Fará isso montando e dirigindo
processos de investigação contra pessoas que se opõem ao seu governo ou que
podem criar obstáculos para o que eles estão a procurar levar a cabo em termos
de negociações e projectos.
BM: Os EUA estiveram envolvidos nesses processos judiciais?
GH: Não tenho dúvidas sobre os interesses e envolvimento dos Estados
Unidos no processo de investigação Lava Jato no Brasil. Não sei se o objectivo
deles era perseguir o PT, mas não há dúvida de que se empenharam na operação
para fazer avançar a meta comercial de abrir a Petrobrás às companhias
petrolíferas norte-americanas, e conseguiram. Esses interesses de negócios são
muito fortes. E, certamente, se conseguirem enfraquecer ou destruir quem quer
que se envolva em oposição política e não estiver alinhado com o conceito deles
de relações internacionais, não hesitarão em fazê-lo.
BM: Qual o papel que a indústria internacional do petróleo desempenhou no
golpe de 2016, no assassinato de carácter e na perseguição de Lula e na
tentativa de golpe que parece estar em andamento na Venezuela?
GH: O governo dos EUA envolveu-se no processo Lava Jato no Brasil devido
ao seu interesse em aceder ao nosso petróleo. Temos enormes reservas de
petróleo offshore na camada pré-sal.
Recentemente, desenvolvemos uma maneira de extraí-lo de forma muito barata
devido à tecnologia que foi desenvolvida pela nossa companhia estatal de
petróleo, a Petrobrás. Desenvolvemos um processo de extracção e políticas para
uso deste petróleo que eram muito diferentes do que é feito com poços de
petróleo normais. Desenvolvemos leis específicas e um regime de participação nas
concessões limitadas de perfuração. Criámos um fundo para economizar parte do
dinheiro obtido por essas perfurações e alocámos parte dos lucros ao sistema
público de ensino. Por outras palavras, agimos com soberania quanto ao nosso
petróleo. Isso não interessava às empresas petrolíferas norte-americanas, que
queriam vir aqui e extrair o petróleo do pré-sal da mesma forma que trabalham noutros
lugares do mundo, fazendo uma oferta e ficando com todo o petróleo sem ter que
prestar contas ao governo brasileiro ou ao povo brasileiro. Não tenho dúvidas,
portanto, de que esse processo de golpe está totalmente ligado ao acesso
facilitado ao petróleo brasileiro; tanto mais que, logo após o golpe de 2016
que depôs a presidente Dilma (e há entrevistas com Edward Snowden que mostram
que o Brasil, a presidente Dilma e a Petrobrás estavam a ser alvo de escutas de
ligações e monitoramento de comunicações pelo governo dos EUA), foi ratificada uma
lei no Congresso, alterando as regras para a exploração das reservas de
petróleo do pré-sal. Agora estão a trabalhar noutra, que altera os regulamentos
para leiloar os poços ao estrangeiro. Portanto, isto está claro. Acima de tudo,
o governo do golpe minimizou e enfraqueceu enormemente a Petrobrás,
obrigando-a, após a investigação da Lava Jato, a vender os seus activos.
Lula é um grande líder do povo brasileiro e
sempre trabalhou pela nossa soberania e autodeterminação sem jamais
desrespeitar qualquer outro país. Eles sabiam, por isso, que Lula teria sido
uma enorme resistência a esses interesses que eles tinham aqui. Lula teria
mobilizado o apoio popular contra esses interesses estrangeiros e teria, de facto,
sido eleito presidente. Prenderam-no para o impedir de ser eleito.
Isto tudo é também evidente na Venezuela. A
Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Está muito mais perto
dos EUA do que o Médio Oriente. Tem uma posição geográfica estratégica na
América Latina. Desde que Chávez assumiu o governo há mais de 20 anos, a
Venezuela adoptou uma postura diferente em relação à comercialização do seu
petróleo e também em relação às suas políticas internas. E isso desagradou
muito aos americanos porque a Venezuela não se alinhou com eles. Portanto, toda
essa conversa sobre democracia na Venezuela, sobre Maduro ser um ditador, mascara,
na verdade, interesses comerciais muito fortes no acesso ao petróleo. É a mesma
coisa que aconteceu no Iraque. Ninguém discute se o Iraque tem democracia ou se
o povo iraquiano está bem nos dias de hoje, eles simplesmente esqueceram-se
disso. Os americanos conseguiram posicionar-se no Iraque para aceder ao
petróleo e a situação foi resolvida. Portanto, é agora essencial prestar muita
atenção e tomar posição a favor da soberania e da autodeterminação da
Venezuela. Os problemas com a oposição devem ser resolvidos através de um
processo de mediação e debate e de uma solução pacífica.
BM: A senhora visita Lula com frequência. Como está ele?
GH: Lula está bem. Lula é uma fortaleza política, emocional e física,
apesar de ter sobrevivido ao cancro e tantos outros problemas em sua vida. É
claro que tem 73 anos, logo esse encarceramento tem consequências na sua
disposição. Mas está politicamente bem e tem uma visão clara do seu papel na
história e do que temos a fazer aqui para defender o Brasil; o que temos que
fazer para nos posicionarmos do lado do povo brasileiro. Não temos ideias de
quando será libertado. Todas as medidas legais foram bloqueadas. Nós fizemos
tudo o que pudemos fazer legalmente e estamos a lutar politicamente. A prisão
de Lula é política. Não é baseada em factos legais porque nenhuma prova foi apresentada
para sustentar a sua condenação. A sua condenação não foi feita com base em
evidências materiais. Não há iclusive um crime claramente definido. Então isto
é muito sério. Mas, infelizmente, como somos vítimas das leis aqui no Brasil,
não vejo nenhuma perspectiva de uma rápida libertação de Lula. Vamos lutar muito
e sempre defenderemos o nosso ex-presidente para a sociedade brasileira.
BM: O que pode a comunidade internacional fazer para ajudar?
GH: A comunidade internacional pode e está a ajudar-nos. É fundamental
que os defensores da democracia, intelectuais e pessoas que entendem a história
de Lula e do Brasil mostrem o seu apoio, e muitos já o fizeram. Também acho que
o Prémio Nobel da Paz para Lula, até mesmo só a sua candidatura, serviria como
reconhecimento da sua inocência. Não tenho dúvidas de que, se ele ganhasse o Prémio
Nobel da Paz, seria por causa do reconhecimento do que ele significa para a
América Latina e o mundo, em termos de pacificação de relações conflituantes.
Lula foi muito importante, não apenas do ponto de vista externo da construção
da paz, mas do ponto de vista interno, quando deu ao povo brasileiro acesso a
condições dignas de vida.