O governo português acaba
de reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela. Isto é, reconhece como
presidente um fulano não eleito,
contra um presidente democraticamente eleito (cerca de 70% dos votos) em
eleições livres, com a presença de observadores internacionais que elogiaram o
processo de eleição venezuelano.
O acto do governo
português é inaudito! É frontalmente anti-democrático, ingerencista nos
assuntos internos da Venezuela e contra a constituição portuguesa.
Ao tomar tal atitude, não
seguida por alguns países da UE, o governo português afirma-se como alinhado
com os interesses mais reaccionários dos monopólios que sustentam a
administração americana. Muitos estariam longe de imaginar, logo após ao 25 de
Abril de 1974, que um governo PS – o grande defensor do «socialismo
democrático» -- descesse tão baixo! O PS começou por descartar-se do
«socialismo» em 1975. Ao chamar o FMI nos anos 80 e depois ao aliar-se com a
direita em governos de restauração monopolista, mostrou o que entendia por
«democracia». Era a democracia ao serviço dos monopólios. Agora já nem o mais
elementar da democracia burguesa – as eleições – lhe convém. E não lhe convém
porque não convém aos amigos americanos: foi eleito alguém contra os interesses
deles. Alguém que os incomoda porque, no essencial, conduz uma política de
afirmação soberana ao colocar os recursos do país ao serviço do povo.
Como se sabe (já foi
anunciado pelo governo dos EUA, em particular pelo seu fascista Bolton), a
administração americana tenciona (desde há muito!) ter um pretexto para
intervir militarmente na Venezuela. Com o apoio dos seus aliados. E o governo
português, pela voz do ministro da defesa, irresponsavelmente, também diz estar
pronto a enviar tropas! Incrível mas verdade. Já não seriam só tropas
americanas com as da Colômbia -- por alguma razão entrou recentemente na NATO!
-- e quase certamente do Brasil de Bolsonaro que também já disse estar mortinho
por entrar para a NATO. Uma NATO que tem vindo a crescer como um enorme polvo
para sufocar tudo que não obedeça aos desígnios do grande capital.
É claro que PSD e CDS
estão com o PS contra Nicolás Maduro. Só o PCP, partido dos trabalhadores, tem
vindo a defender firmemente o não à ingerência e intervenção na Venezuela. E ao
defender essa posição o PCP explica
detalhadamente por que razão essa é a posição justa. Incluindo para os
portugueses que residem na Venezuela que seriam seguramente muito afectados por
uma guerra civil-intervencionista na Venezuela
E quanto ao BE? Pois,
ouvimos de Catarina Martins que não estão nem com Guaidó nem com Maduro; que
defendem eleições democráticas para resolver a questão. Que eleições
democráticas querem eles? Já as houve e venceu Maduro. Aliás, desde que Hugo
Chávez foi eleito em 1999 já houve 25 eleições. É mais do que uma eleição por
ano!!! Este ano, de acordo com a Constituição também vão haver eleições
legislativas. Portanto, pergunta-se de novo: que raio de eleições querem eles,
os do BE? A resposta é simples: só podem ser as mesmas eleições que também defende a administração americana e
os reaccionários da UE; eleições com
intervenção deles no terreno, «sabiamente» conduzidas para derrubar a
revolução bolivariana. Tais «eleições» foram propostas pelos americanos (com
apoio da CE) como pretexto intervencionista; mas como o governo de Maduro
rejeitou tal proposta os americanos passaram a privilegiar a opção golpista e militar.
O BE, ao vir falar de
«eleições», não só alinha implicitamente com o imperialismo, como está a
defender de forma atrasada uma proposta imperialista.
Analisemos por fim o «nem
Guaidó nem Maduro» do BE. Trata-se de uma posição que no fundo alinha com o
imperialismo no seu desejo de remover Maduro. Isto, porque a afirmação «nem Guaidó
nem Maduro» é simplesmente inconsequente: se Maduro for removido não é o BE que
irá impedir os imperialistas de entronizar Guaidó (ou outro Guaidó qualquer).
Efectivamente, a posição
«nem Guaidó nem Maduro» é bem caracterizadora do papel reservado ao BE --
partido da pequena burguesia radicalizada que não é «nem» a favor da burguesia
«nem» a favor dos trabalhadores (é supraclasse!) – de estabelecer a confusão
nas fileiras da esquerda. É uma posição inteiramente semelhante à tomada por
Trotski aquando das negociações de paz de Brest-Litovsk: «nem paz, nem guerra».
Posição que Lenine teve firmemente de combater. Assim como o «nem paz, nem
guerra» de Trotski serviu para o avanço dos exércitos imperiais alemães que
puseram em perigo a revolução soviética, também a tirada «nem Guaidó nem
Maduro» do BE só serviria, se aplicada, para pôr em perigo a revolução
bolivariana. Mas, desde já, ao enfraquecer o campo dos que defendem a revolução
bolivariana, está a dar força aos desígnios imperiais.
Portanto, o BE, com o seu
«nem Guaidó nem Maduro» com a máscara democrática do pedido de «eleições», só
serve para confundir alguma esquerda, desempenhando objectivamente o papel de
quinta coluna do imperialismo.
Se, por hipótese, o
imperialismo vencesse na Venezuela, os rios de sangue do povo trabalhador
vítima dos fascistas teriam de ser anotados na conta corrente do PS-PSD-CDS-BE.