domingo, 4 de novembro de 2018

A Democracia em Cuba | Democracy in Cuba

No passado 11 de Março houve eleições em Cuba. Foram eleitos 605 deputados da Assembleia Nacional do Poder Popular -- 322 mulheres e 283 homens. Foram também eleitos 265 deputados às Assembleias Provinciais.

Em Cuba o voto é secreto e podem votar os maiores de 16 anos, com excepções previstas na lei (como noutros países). A participação nas eleições é voluntária. Apesar disso, 85,65 % dos mais de oito milhões de cubanos com direito de voto acudiu às urnas, e 94,42 % dos votos expressos foram válidos (isto é, nem brancos nem nulos). Estes números, anunciados pela Comisión Electoral Nacional são já por si reveladores da participação popular na democracia cubana. [1]

Em Cuba, todos que têm direito a voto podem propor candidatos. E todos os votantes podem votar a favor de qualquer número de candidatos da lista de candidatos ou em nenhum. Note-se ainda que, se a maioria do povo estivesse contra o socialismo podia muito simplesmente propor e votar nos seus candidatos anti-socialistas. Como disse Fidel Castro «Quem os impede de o fazer? Isto significa que o nosso sistema democrático-revolucionário pressupõe inexoravelmente a maioria do povo.» [2]

Nas eleições de 2018 os 605 deputados do Poder Popular -- com 49 anos de idade média e mais de 330 novos deputados -- distribuíram-se assim quanto ao sector de actividade [3]:
Elections were held in Cuba last March 11. 605 deputies were elected to the National Assembly of People's Power -- 322 women and 283 men. 265 deputies were also elected to the Provincial Assemblies.

In Cuba the vote is secret and all those over 16 years old, with exceptions provided by law (as in other countries), have franchise. Participation in the elections is not mandatory. Despite this, 85.65% of the more than eight million Cubans with franchise went to the polls, and 94.42% of the cast votes were valid (that is, neither blank nor invalid). These figures, announced by the National Electoral Commission are already by themselves indicative of the people’s participation in the Cuban democracy. [1]


In Cuba, everyone who has the right to vote can propose candidates. And all voters can vote in favor of any number of candidates on the candidate list or of none at all. It should then be noted that if the majority of the people were against socialism they could very simply propose and vote for their anti-socialist candidates. As Fidel Castro said "Who prevents them from doing so? This means that our democratic-revolutionary system inexorably presupposes the majority of the people." [2]

In the 2018 elections the 605 deputies -- with 49 years of average age and more than 330 new deputies -- were distributed as follows as regards the sector of activity [3]:


Órgãos do Poder Popular
Organs of People’s Power
133
Militares
Military
22
Produção e Serviços
Production and Services
83
Dirigentes administrativos e especialistas
Administrative leaders and experts
18
Educação
Education
47
Desporto
Sports
12
Dirigentes políticos
Political leaders
46
Organizações sociais
Social organizations
11
Órgãos estatais e do governo
State and government bodies
41
Dirigentes estudantis
Student leaders
9
Cultura (escritores, artistas, etc.)
Culture (writers, artists, etc.)
39
Administração de justiça
Administration of justice
7
Dirigentes de organizações de massas
Leaders of mass organizations
39
Controladoria Geral da República [4]
Comptroller General of the Republic [4]
4
Saúde
Health
34
Sector não estatal
Non state sector
4
Sector camponês e cooperativo
Peasant and co-operative sector
28
Representantes de instituições religiosas
Representatives of religious institutions
4
Investigação
Research
24




Desde a revolução que Cuba tem sido um dos países mais caluniados e constantemente alvo de ataques pelo imperialismo. Os ataques envolveram a famosa invasão e derrota dos EUA na Baía dos Porcos. Envolveram também, acções da CIA; entre muitas outras, as largas dezenas de tentativas para derrubar o socialismo cubano e assassinar os seus dirigentes, particularmente Fidel Castro. Os ataques continuam, centrando-se agora no boicote económico. As calúnias também continuam e cobrem um vasto leque de temas.

Uma calúnia largamente difundida, pelos media dominantes, é a de que em Cuba não há democracia. De que é uma ditadura. Segundo os imperialistas, os «irmãos Castro» eram ditadores e o actual, Miguel Diaz-Canel, também é. Estas afirmações são feitas sem qualquer descrição objectiva do sistema político cubano. Sistema esse que praticamente todo o público de países capitalistas ignora. As mentiras podem assim ser implantadas impunemente. A famosa «liberdade de informação» do capitalismo é a «liberdade» de só os grandes meios de comunicação controlados pelo grande capital chegarem às grandes massas e terem o monopólio da «informação». E, naturalmente, a «informação» que interessa ao grande capital é a desinformação e carradas de omissões sobre como funciona o socialismo.

O artigo que se segue é uma contribuição para desmontar a desinformação capitalista sobre a democracia socialista em Cuba. É da autoria de uma jornalista brasileira (Elaine Tavares) [5] que entrevistou uma professora universitária cubana que trabalhava no México na altura da entrevista. Esta teve lugar logo depois das eleições de Outubro 2012. As interpolações no artigo são nossas.
Cuba has been, since the revolution, one of the most maligned countries and constantly under attacks by imperialism. Among the attacks stands out the famous US invasion and defeat at the Pig’s Bay. But the attacks have also involved CIA actions, such as the dozens and dozens of attempts to overthrow the Cuban socialism and assassinate its leaders, prominently Fidel Castro. The attacks continue to this day, focusing now on the economic blockade. The maligning also goes on covering a wide range of aspects.

A widespread slander, by the dominant media, is that there is no democracy in Cuba. That it is a dictatorship. According to the imperialists, the "Castro brothers" were dictators and the present one, Miguel Diaz-Canel, is too. Such statements are pronounced short of any objective description of the Cuban political system. A system that virtually the whole public in capitalist countries is ignorant of. The lies can thus be implanted with impunity. Capitalism's famous "freedom of information" is the "freedom" for only the mass media controlled by big capital reaching to the masses and having the monopoly of "information". And, naturally, the “information” that matters to the big capital is misinformation accompanied by truckloads of omissions on how socialism works.


The article below is a contribution towards demolishing the capitalist misinformation regarding the socialist democracy in Cuba. It was written by a Brazilian journalist (Elaine Tavares) who interviewed a Cuban university professor working in Mexico at the time of the interview. The interview took place just after the October 2012 elections. The interpolations in the article are ours.


A democracia em Cuba | Democracy in Cuba

Elaine Tavares

25-Out-2012 | 25-Oct-2012

A ilha de Cuba viveu no último domingo (21/10) as suas eleições gerais. Por todos os lugares as pessoas escolheram os seus delegados municipais, provinciais e nacionais. O voto não é obrigatório, mas a percentagem de votantes passa dos 80%. É a democracia socialista expressando-se de tal forma que uma pessoa que só conheça a democracia liberal [capitalista] jamais poderá entender. Quem explicou os princípios da vida política cubana foi a professora Mylai  Burgos Matamoros, da Universidade Nacional Autónoma do México, que esteve em Florianópolis para a VII Conferência Latino-Americana de Crítica Jurídica, evento integrante do Programa de Pesquisa Derecho y Sociedad, coordenado pelo professor Antônio Carlos Wolkmer e Oscar Correas  pela Revista Crítica Jurídica.

Segundo ela, Cuba precisa ser entendida como uma democracia que não é capitalista, portanto, ancorada em outra forma de organizar a vida. Olhar para a ilha com olhos liberais [capitalistas] não serve para compreender a realidade daquele país. Mylai conta que Cuba passou por três grandes fases de organização política. A primeira delas foi do triunfo da revolução até 1968 quando todo o sistema começou a ser estruturado. As empresas estrangeiras foram nacionalizadas, realizou-se uma reforma agrária radical e começaram a se formar as Organizações Sociais e de Massa, espaço concreto da democracia cubana. Essa organizações são entidades que congregam sectores específicos da população como as mulheres, os estudantes, os agricultores, os artistas, desportistas, etc... É a partir dessas organizações que as pessoas participam activamente da vida política. A adesão a uma federação ou entidade de massa é facultativa, só entra quem quer, mas é comum que todos se filiem por conta da já tradicional atitude de participar das decisões.

Também nos anos 60 nasceram os famosos CDRs, Comités de Defesa da Revolução, porque Cuba era -- e ainda é depois de meio século de bloqueio -- um país em guerra com a maior potência do mundo. Assim, era necessário que em cada rua das cidades houvesse um Comité para observar e vigiar, impedindo agressões e ataques terroristas por parte do império. É desses Comités que vem a raiz da participação popular em Cuba. Toda a gente queria fazer parte, cuidar da revolução; e dos CDRs para as demais organizações passou a ser um salto natural. Em Cuba somos os mais críticos. Criticamos tudo, mas é porque temos formação cultural de qualidade e queremos aprofundar o socialismo.»  

Mylai lembra que a ilha tem apenas um partido, mas ao contrário da estrutura numa democracia liberal [capitalista], não é o partido que governa. Ele tem apenas a função de aplicar o que é definido pelas organizações sociais e de massa nas suas estruturas democráticas. «No mundo liberal há muitos partidos e quem governa é um pequeno grupo. Em Cuba há um único partido que encaminha as políticas, mas quem governa é a população a partir das organizações. É radicalmente diferente.»

A segunda fase da organização política de Cuba vai do ano 68 até 1986. Começa com a morte de Che Guevara na Bolívia e o acirramento do bloqueio económico dos Estados Unidos. A derrota da missão de Che, que era a de fazer a revolução socialista em toda a América Latina, frustra toda uma linha de actuação que Cuba tinha traçado para o continente.  Sem o apoio dos países latino-americanos e totalmente asfixiada pelo bloqueio ianque, não houve outra alternativa a não ser virar-se para a então União Soviética. «Foi um tempo de reconfiguração do sistema. Tivemos de nacionalizar tudo mesmo, até o sapateiro, o electricista, tudo; era um tempo de muita dificuldade. Novas instituições foram criadas, novas leis, novas formas de resistência.»

O terceiro período de organização política começa em 1986 com a queda do regime soviético. Sem parceiros na América Latina, bloqueada pelos EUA e sem a União Soviética a pequena ilha do Caribe viu-se numa situação complicada. Estava sozinha e tinha de resolver por si própria os seus problemas. Assim, no meio de uma crise gigantesca, Cuba decidiu abrir-se para o turismo, com todas as implicações boas e más que isso poderia trazer. Hoje, esse ainda é um tema bastante discutido na ilha. «Eu mesma faço parte de um grupo que tem criticado bastante os novos rumos de Cuba. Nós queremos mudanças para aprofundar o socialismo.»

Questionada sobre se existe mesmo democracia em Cuba, Mylai reafirmou que a democracia socialista não é a mesma a que estamos acostumados no mundo liberal [capitalista]. «Para nós, a democracia não é unicamente representativa, ela é directa. É uma articulação dialéctica entre partido, organizações e representantes. Os nossos representantes municipais, provinciais e nacionais são eleitos por votação directa e secreta. Tudo começa no bairro [freguesia], é ali que aparecem os nomes que vão disputar a eleição. As organizações reúnem-se, discutem e indicam os seus nomes. Esses nomes apresentam-se para a eleição. Não há propaganda aos moldes liberais [capitalistas]. As pessoas conhecem-se e cada um sabe se aquele candidato é sério, se é honesto, se tem trabalho comunitário.»

[O Partido Comunista de Cuba não é um partido eleitoral. Não participa no processo eleitoral, designando ou propondo candidatos ou realizando campanha a favor de determinados candidatos.]

Uma vez escolhidos os deputados nacionais  que constituirão a Assembleia Nacional do Poder Popular, são eles que definem [por votação secreta] [6] um conjunto de 31 membros que formarão o Conselho de Estado, órgão que terá o papel que tem, no nosso modelo [capitalista], o de poder executivo. [Isto não é inteiramente correcto. O Conselho de Estado tem alguns poderes legislativos – preparar decretos-lei – e alguns poderes executivos críticos -- declarar a guerra e a paz, designar os embaixadores, etc. O poder executivo usual reside no Conselho de Ministros.] Ou seja, as políticas discutidas e aprovadas desde a base, são executadas por esse Conselho. Por fim, esse grupo de 31 pessoas elege o presidente do Conselho [de Estado] que é o representante legal do país [O Presidente do Conselho de Estado é o Chefe de Estado e presidente do Conselho de Ministros. A constituição deste é proposta pelo presidente e submetido à aprovação da Assembleia Nacional do Poder Popular]. «Isso significa que  em todos estes anos que Fidel foi Presidente do Conselho [de Estado], ele teve de passar por todo o processo de eleição que todos passam. O nome dele é indicado pela organização de bairro [freguesia] do qual faz parte, vai para o boletim de voto e as pessoas votam nele. Todos estes anos que foi eleito, foi-o democraticamente. Não faz, por isso, o menor sentido falar em ditadura.»

Outra diferença do regime cubano para o que existe no mundo liberal [capitalista] é o nível de compromisso que os representantes eleitos têm com as bases que os elegeram. A cada seis meses esses deputados, municipais, provinciais e nacionais, têm de prestar contas dos seus actos às suas organizações de base. O controlo é feito de forma directa, nas assembleias populares. E se, por algum motivo, as promessas e os compromissos assumidos não foram cumpridos, esses deputados têm os seus mandatos revogados pelos eleitores. Em Cuba, nenhum dos deputados recebe dinheiro por servir ao povo. Cada deputado segue com a sua vida e o seu trabalho, servir como tal é só mais uma atribuição. São poucos os deputados que têm como função específica apenas tarefas de estado.

Cabe lembrar que em Cuba não há divisão de poderes como no mundo liberal [capitalista] que se divide em Legislativo, Executivo e Judiciário, cada um separado e gerindo-se a si mesmo. Na democracia socialista o princípio básico é o da unidade de poder. Que significa isso? Que o poder maior é o popular. Tudo está concentrado na Assembleia Nacional do Poder Popular. Tanto os parlamentares, como os executivos e os juízes são obrigados a prestar contas. No sistema jurídico também há um elemento bastante diferente do sistema capitalista burguês. Todo o tribunal, em qualquer instância, é formado por um juiz de carreira e dois leigos, porque os cubanos entendem que a lei não é apenas uma letra morta que deve ser cumprida a ferro e fogo. Há que ter em conta outras variáveis que só um leigo pode perceber. «Isso dá mais segurança à população sobre o sentido de justiça.»

No que diz respeito ao sistema económico e social, a democracia socialista também é bastante diferente. Nesta a economia é planificada, mas isto não significa que não exista propriedade privada. O que não há é o mercado livre. "Como quase toda a produção cubana vai para o estrangeiro, o governo precisa de planear a distribuição dos recursos para que todos tenham acesso à comida e aos bens básicos. Temos saúde e educação totalmente gratuitas, os medicamentos são muito baratos e Cuba é expoente nessa área. Assim, os recursos são centralizados para poderem ser distribuídos com justiça», diz Mylai.

Desde 1992 Cuba abriu espaço para actividades privadas. O que o estado controla são os meios fundamentais de produção. Mas, há muitas cooperativas e também existem ainda muitas terras privadas. Também é comum em Cuba o direito ao usufruto gratuito de bens como terra e moradia. Mais de 90% vivem em casas próprias. "A prioridade é sobre a posse da propriedade. Se uma família vive numa casa que é de outra pessoa, e essa outra pessoa tem mais de uma casa, a família adquire o direito de viver ali para sempre. Não há incentivo para o acúmulo de bens".

Segundo Mylai, a constituição cubana, discutida e aprovada pela população, mantém limites sobre três direitos: o de liberdade de expressão, de associação e de manifestação. O limite de liberdade de expressão vale apenas para os media oficiais. Estes não podem divulgar conteúdo que esteja contra o socialismo. Mas, os meios alternativos podem, existem e são muitos. Alguns deles até financiados por organizações estado-unidenses. «Os cubanos criaram esses limites porque são um povo que vive sob o ataque sistemático dos Estados Unidos. É uma protecção. Todo o sistema se protege e Cuba não é diferente. Se formos avaliar os sistemas de protecção do capitalismo também vamos encontrar coisas que alguns não vão gostar.»

Para a professora cubana a caminhada de Cuba é uma experiência única, cheia de avanços, retrocessos e contradições. Mas, é um processo que vem sendo construído pelo povo cubano e só a ele cabe o direito de mudar ou seguir aprofundando o socialismo. «É certo que temos hoje uma geração que não viveu a revolução, que está bastante conectada com as promessas do capitalismo; afinal, a ilha nunca esteve isolada. Sempre fomos um país aberto a toda a gente. Então, é natural que aconteçam mudanças, novas ideias, novas formas de organizar. Há um desejo muito grande de conhecer o mundo, viajar, vivenciar as experiências que a qualidade cultural criada em Cuba exige. E, ao mesmo tempo, há uma impossibilidade por conta das dificuldades financeiras. Então é sempre uma tensão permanente». Mylai está inserida num grupo que discute e reivindica o aprofundamento do socialismo. Vê com reservas certas aberturas e propostas hoje trabalhadas pelo governo. «Faço parte da terceira geração, que tem avós e até pais que fizeram a revolução. Morando no México, vivencio o capitalismo na pele e tenho convicção de que o sistema socialista é melhor. Há que aperfeiçoá-lo.»
The island of Cuba lived last Sunday (October 21) its general elections. People from everywhere chose their municipal, provincial and national delegates. Voting is not mandatory, but the percentage of voters exceeds 80%. It is the socialist democracy expressing itself in such a way that a person who only knows the liberal [capitalist] democracy can never understand. [The woman] Professor Mylai Burgos Matamoros of the National Autonomous University of Mexico, explained the principles of Cuban political life. She was in Florianopolis for the VII Conferência Latino-Americana de Crítica Jurídica [7th Latin American Conference of Juridical Critique], an integral event of the Research Program Derecho y Sociedad, coordinated by Professor Antônio Carlos Wolkmer and Oscar Correas from Revista Crítica Jurídica.

According to her, Cuba must be understood as a democracy that is not capitalist, and therefore is instead anchored in another way of organizing life. Assessing the island through liberal [capitalist] glasses is not adequate to understand the reality of that country. Mylai says that Cuba has gone through three great phases of political organization. The first one, was from the triumph of the revolution until 1968, when the whole system began to be structured. The foreign enterprises were nationalized, a radical agrarian reform was carried out and the Social and Mass Organizations began shaping up, as a concrete space of Cuban democracy. These organizations are entities that bring together specific sectors of the population such as women, students, farmers, artists, sportsmen, etc... It’s out of these organizations that people actively participate in political life. Adherence to a federation or a mass organization is optional; only sign in those who want it, but it is common for all to join because of a traditional attitude of participating in decisions.

The famous CDRs, Committees for the Defense of the Revolution were also born in the 1960s, because Cuba was -- and still is after a half century of blockade -- a country at war with the greatest power in the world. Thus, it was necessary that in every street in the cities there should be a Committee to watch and be vigilant, preventing aggression and terrorist attacks by the empire. "It is these Committees that are the root of popular participation in Cuba. Everyone in Cuba wanted to be part of it, taking care of the revolution, and from the CDRs to go to other organizations was a natural step. In Cuba we are most critical. We criticize everything, because we have a quality cultural background and we want to strengthen socialism."

Mylai recalls that the island has only one party, but unlike the structure in a liberal [capitalist] democracy, it is not the party that governs. It has only the function of applying what is defined by social and mass organizations in their democratic structures. "In the liberal world there are many parties but only a small group governs. In Cuba there is only one party that directs the policies, but it is the population who governs on basis of the organizations. This is radically different.”


The second phase of Cuba's political organization runs from 1968 to 1986. It begins with the death of Che Guevara in Bolivia and the intensification of the US economic blockade. The defeat of Che's mission, which was to make the socialist revolution throughout Latin America, frustrates a whole line of action that Cuba had in view for the continent. Without the support of the Latin American countries and totally suffocated by the Yankee blockade, there was no alternative but to turn to the then Soviet Union. "It was a time of reconfiguration of the system. We had to nationalize everything, even the shoemaker, the electrician, everything; it was a time of great difficulty. New institutions were created, new laws, new forms of resistance.”

The third period of the political organization began in 1986 with the fall of the Soviet regime. Without partners in Latin America, blockaded by the US and without the Soviet Union, the tiny Caribbean island found itself in a very difficult situation. She was alone and had to solve her problems by herself. Thus, amidst a gigantic crisis, Cuba decided to open herself up to tourism, with all the good and bad implications that this could bring. Today, this is still a much discussed topic on the island. "I myself am part of a group that has been very critical of Cuba's new directions. We want changes to strengthen socialism."

Asked whether there is really democracy in Cuba, Mylai reaffirmed that socialist democracy is not the same as we are accustomed to in the liberal [capitalist] world. "For us, democracy is not only representative, it is also direct democracy. It is a dialectical articulation between party, organizations and representatives. Our municipal, provincial and national representatives are elected by direct and secret ballot. Everything starts in the neighborhood [borough]. It is there that appear the names that will dispute the election. Organizations get together, discuss and indicate their names. These names present themselves for election. There is no propaganda in the liberal [capitalist] way. People know each other and each one knows whether such and such candidate is a serious one, if he/she is honest, if he/she has done community work."

[The Communist Party of Cuba is not an electoral party. It does not participate in the electoral process, nominating or proposing candidates or campaigning for certain candidates.]

Once the national deputies who will constitute the National Assembly of People's Power have been elected, they define [by secret voting] a group of 31 members who shall form the State Council, an organ that will have the role that, in our [capitalist] model, is that of executive power. [This is not entirely correct. The State Council has some legislative powers -- to prepare decree-laws -- and some critical executive powers -- to declare war and peace, to appoint ambassadors, and so on. The usual executive power resides in the Council of Ministers.] That is, policies discussed and approved from the bottom up are implemented by this Council. Finally, this group of 31 people elects the president of the [State] Council which is the legal representative of the country [The President of the State Council is the Head of State and President of the Council of Ministers, whose constitution is proposed by the president and submitted to approval of the National Assembly of People's Power]. "This means that through all these years that Fidel was President of the [State] Council, he had to go through the whole election process that everyone goes through. His name was indicated by the neighborhood [borough] organization to which he belonged, went to the ballot paper and people voted for him. All these years that he was elected, he was democratically elected. It makes no sense at all to speak of dictatorship."

Another difference of the Cuban regime vis-à-vis to the existing ones in the liberal [capitalist] world is the level of commitment that elected representatives have with the people who elected them. Every six months these municipal, provincial and national representatives, have to report their actions to their grassroots organizations. The control is done directly, in people’s assemblies. And if, for some reason, the made promises and commitments have not been fulfilled, these deputies have their mandates revoked by the voters. In Cuba, none of the deputies receives money for serving the people. Each deputy goes on with his life and his work; serving as such is just another assignment. Deputies who have only state tasks are just a few.

It should be remembered that in Cuba there is no division of powers as in the liberal [capitalist] world, which are divided into Legislative, Executive and Judiciary, each separated and managing itself. In socialist democracy the basic principle is that of the unity of power. What does this means? That the dominant power is the one of the people. Everything is concentrated in the National Assembly of People's Power. The members of parliament as well as executives and judges are held accountable to the National Assembly of People's Power. In the judicial system there is also an element very different from the bourgeois capitalist system. The whole court, in any instance, is formed by a career judge and two lay persons, because Cubans understand that the law is not just a dead letter that must be fulfilled under iron and fire. It is necessary to take into account other variables that only a layman can perceive. "This gives more security to the population about the sense of justice."

With regard to the economic and social system, socialist democracy is also quite different. The socialist democracy has planned economy, but this does not mean that there is no private property. What there is not is the free market. "As almost all Cuban production goes abroad, the government needs to plan the distribution of resources in such a way that everyone has access to food and basic goods. We have totally free health and education, the medicines are very cheap and Cuba is an exponent in this area. Therefore, the resources are centralized so that they can be distributed fairly", says Mylai.

Since 1992 Cuba has opened space for private activities. What the state does control are the fundamental means of production. But there are many cooperatives and there are still many private lands. It is also common in Cuba the right to free usufruct of goods such as land and housing. More than 90% people live in their own homes. If a family lives in a house that belongs to another person, and that other person has more than one house, the family acquires the right to live there forever. There is no incentive for the accumulation of assets."

According to Mylai, the Cuban Constitution, discussed and approved by the population, maintains limits on three rights: freedom of expression, association and manifestation. The limit of freedom of expression applies only to the official media. They cannot disclose content that is against socialism. But, alternative media can exist, they do exist and are many. Some of them even funded by US organizations. "The Cubans implemented these limits because they are a people who live under the systematic attack of the United States. It's a protection. Any system protects itself and Cuba is no different. If we are to evaluate the systems of protection of capitalism we will also find things that some people will not like."

For the Cuban Professor, the historic course in Cuba is a unique experience, full of advances, setbacks and contradictions. But it is a process that has been built by the Cuban people, and it is only up to them to change or continue to strengthen socialism. "It is true that we have today a generation that did not live the revolution, which is very connected with the promises of capitalism; after all, the island has never been isolated. We have always been a country open to all. So it is natural for changes to happen, new ideas, new ways of organizing. There is a great desire to know the world, to travel, to live the experiences that the quality of culture created in Cuba demand for. And at the same time, there is an impossibility due to financial difficulties. So it's always a permanent tension." Mylai is part of a group that discusses and claims the strengthening of socialism. She sees with reservations some openings and proposals being worked nowadays by the government. "I am part of the third generation, which has grandparents and even parents who made the revolution. By living in Mexico, I fully experience capitalism on my skin and I am convinced that the socialist system is better. We must improve it."

Notas | Notes

[1] O apuramento dos votos contou com o apoio de organizações e instituições da administração central do estado, da Universidade de Ciências da Computação, empresas do Ministério das Comunicações e outras instituições.
The vote counting was supported by organizations and institutions of the state central administration, the University of Computer Sciences, companies of the Ministry of Communications and other institutions.

[2] Discurso de Fidel Castro em 15 de Março de 1993 | Speech of Fidel Castro, March 15 1993. http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1993/esp/f150393e.html

[3] Dados de Elecciones en Cuba: Elegidos 605 diputados a la Asamblea Nacional, onde se encontram outros detalhes.
Data from Elecciones en Cuba: Elegidos 605 diputados a la Asamblea Nacional, where further details are given.

[4] Funções da Controladoria Geral da República: «Auxiliar a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado na execução do mais alto controlo sobre os órgãos do Estado e do Governo, propor a política integral em matéria de preservação das finanças públicas e controlo económico-administrativo, dirigir, executar e verificar o seu cumprimento; orientar metodologicamente e supervisionar o sistema nacional de auditoria, executar as acções necessárias para assegurar a correcta e transparente administração dos bens públicos, prevenir e combater a corrupção».
Functions of the Comptroller General of the Republic: "Assisting the National Assembly and the State Council in the execution of the highest level of control over State and Government bodies, proposing a comprehensive policy on preservation of public finances and economic and administrative control, execute and verify its compliance; methodologically guide and supervise the national audit system, carry out the necessary actions to ensure the correct and transparent administration of public assets, prevent and combat corruption."

[5] Transpusemos para português de Portugal.

[6] No original estava aqui «, no grupo,» que retirámos por nos parecer inteiramente redundante.