We
shall overcome, we shall overcome
We shall overcome someday Oh! Deep in my heart, I do believe We shall overcome someday [1]
We shall overcome someday Oh! Deep in my heart, I do believe We shall overcome someday [1]
Canção
pelos direitos civis e pela paz, muito cantada nos protestos contra a guerra
imperialista no Vietname, seguindo a interpretação do famoso cantor progressista
e activista Pete Seeger (ver em http://www.youtube.com/watch?v=2b24Ewk934g)
A
ilusão Obama e a lógica galopante do imperialismo
Em 20 de
Janeiro de 2009 Barack Obama vencia as eleições presidenciais dos EUA contra o
republicano John McCain. Foi uma apoteose. Era o primeiro presidente negro dos
EUA. E tinha vencido com a palavra de ordem «Voto na Mudança» («Vote for Change»). Os meios de
comunicação portugueses, e não só, espalhavam aos quatro ventos que agora sim,
ia assistir-se a uma mudança radical na política americana, sem ingerências nos
outros países e promovendo uma espécie de «capitalismo humanista» no seu
próprio país. Muita gente de esquerda portuguesa acreditava nisso ([2]). E nos EUA também
([3]).
Obama voltou a ganhar as eleições em 2012, de
novo sob o lema da «mudança» ([4]). Mudou alguma coisa? Internamente, muito
pouco ou nada ([5]). Externamente, nada.
Obama foi o «plano B» dos grandes capitalistas
americanos; suficientemente à vontade na sua aura de presidente negro e de
«mudança» para continuar e aprofundar a lógica da classe que representa, a
lógica avassaladora do imperialismo ianque. A infame prisão de Guantánamo, onde
os presos, muitas vezes sem culpa formada, foram detidos e torturados, continua
de pé. Obama reconheceu recentemente o que já se sabia há muito tempo: a
existência da tortura em Guantánamo. Fê-lo num tom patético, dizendo que não
fazia parte dos «nossos valores» (e em Abu Ghraib no Iraque? Fazia parte?).
Mas, efectivamente, a tortura sempre fez parte dos valores imperialistas
ianques; senão, não tinha acontecido. E, pelas notícias e denúncias que vão
chegando de organizações de defesa dos direitos humanos, a tortura continua a
fazer parte dos «valores» imperialistas. Em Guantánamo e noutros lugares. Obama
tem constantemente adiado a retirada das últimas tropas do Afeganistão (agora
programada para fins de 2014) e mantém conselheiros militares e outros apoios
aos regimes corruptos do Afeganistão, do Iraque, da Colômbia, etc. Voltaram os
bombardeamentos ao Iraque; bombardeiam os mesmos que armaram na Síria. Tudo,
como sempre, de suporte a empresas que sacam as riquezas desses países. Sob
Obama o conglomerado imperialista EUA-UE, cujo braço altamente armado é a NATO
([6]), interveio e intervém na Líbia, Egipto e Síria. Incentivaram o «drang nach Osten» tradicional dos
imperialistas ocidentais, intervindo, apoiando e guindando ao poder regimes de
extrema-direita, agressivos e super-corruptos, na Geórgia, países bálticos,
Moldóvia, Polónia e agora na Ucrânia. O vice de Obama, Joe Biden, já colocou o
filho a fazer negócios na Ucrânia com o apoio dos fascistas. Biden e o
secretário John Kerry, juntamente com o ex-adversário de Obama, McCain,
estiveram juntos em Kiev a montar com os fascistas locais a intervenção armada
que os colocou no poder; uma bela demonstração de que, no essencial, democratas
e republicanos são a mesma coisa. Obama é o sustentáculo dos sionistas, sem
escrúpulos para em plena carnificina de palestinos pelas tropas sionistas, condenada
pela ONU e inúmeros países, não hesitar em fornecer a Israel os mísseis mais
avançados. Obama também apoia e está por detrás da recente decisão do Japão de
se militarizar, rasgando acordos do fim da II Guerra Mundial, para consolidar o
conglomerado imperialista EUA-JPN no Pacífico. Um conglomerado pronto a
enfrentar a China no controlo económico e político da região (Filipinas,
Tailândia, Malásia, Indonésia, etc.). Obama, o «democrata» que, ao contrário dos
rumores eleitorais, manteve o bloqueio a Cuba e apadrinha miseráveis ataques
subversivos a esse país, porta-bandeira do socialismo ([7]).
Obama, o presidente que recentemente revelou e
repisou a natureza «excepcional» dos estado-unidenses. Já tínhamos o «povo
escolhido de Deus» dos sionistas e o «povo dos senhores» dos hitlerianos; agora
temos o «povo excepcional» dos imperialistas estado-unidenses. Aos excepcionais
e escolhidos de Deus tudo é permitido. Inclusive, torturar. Torturam, mas é
para o bem de nós todos. Eles são o Verbo. Eles são os únicos detentores da
Verdade. Eles são os portadores do Bem, que condescendem em ensiná-lo ao mundo
através dos grandes meios de comunicação, e em impô-lo, à custa de enormes
sacrifícios, aos outros povos que se transviam do Bem e que, ainda por cima,
são mal agradecidos.
Depois da implosão da URSS e dos países
socialistas do Leste Europeu (1989) o imperialismo ianque sentiu-se à vontade
para impor o seu domínio económico em todo o mundo, com a colaboração dos seus
pivots: a Alemanha-França (teatro europeu e africano), Israel e Arábia Saudita
(teatro do Médio Oriente), Japão e Austrália (teatro do Pacífico), México e
Colômbia (teatro da América Latina). Domínio económico imperialista = controlo
de parte substancial das riquezas da Terra e exploração do trabalho de biliões
de seres humanos por uma ínfima percentagem (menos de 1%) de exploradores, no
quadro de um sistema económico em fase descendente.
Entretanto, a fase unipolar do imperialismo na
história mundial foi de curta duração; rapidamente evoluiu para uma fase
multipolar.
Os
incipientes imperialismos russo e chinês
Desde já, uma chamada de atenção: a fim de
branquear a sua imagem, o imperialismo ianque&C.ª flagela diariamente a
Rússia a China com o rótulo de «imperialistas» nos meios de comunicação a nível
mundial. Qualquer um que procure na Internet
com «russian imperialism» ou «chinese imperialism» encontra dezenas e
dezenas de artigos de jornais, revistas, blogs, etc., claramente provenientes
de fontes amigas do imperialismo ianque&C.ª batendo forte e feio nos
«imperialismos» russo e chinês. Com relevância para o primeiro, porque é aquele
que de momento mais incomoda o governo dos EUA. Na óptica dessas fontes e de
comentaristas da TV, os EUA defendem abnegadamente a liberdade e a democracia;
a Rússia e a China são os únicos imperialistas que defendem a opressão e a
ditadura.
Note-se que muita gente que se diz de esquerda
tem ideias pouco claras sobre o assunto, e não se dá conta ou negligencia o
facto de que colocar EUA e Rússia no mesmo saco, além de errado, é usado pelo
imperialismo ianque&C.ª para travar qualquer manifestação de solidariedade
com os russos étnicos da Ucrânia que lutam contra o fascismo, conforme é bem
argumentado em [8]. Por exemplo, num artigo do Partido Socialista da
Grã-Bretanha ([9]), um de vários partidos trotskistas, lê-se esta coisa
espantosa: «A rivalidade imperialista entre Rússia, EUA e UE, ameaça com um
festival de reacção através da Ucrânia, que lança ucranianos contra ucranianos,
promovendo forças reaccionárias de ambos os lados». O autor não diz uma única palavra contra os fascistas
promovidos por EUA&UE, confunde agressores com agredidos, esquece ou
faz por esquecer que o «festival» não foi de reaccionários de ambos os lados,
mas só de fascistas assaltando o poder, agredindo e massacrando quem não o era,
e, finalmente, também não reconhece um facto evidente: a grande contenção da
Rússia em todo o processo que começa a ser reconhecida inclusive pelos media ocidentais (TV alemã e jornais
britânicos, [10]) por pressão de vários factos (com destaque para os económicos
visto que muitos políticos europeus de direita começam a recear o efeito das
sanções e das ajudas à Ucrânia). O artigo revela também uma cegueira russófoba,
quando o autor insinua que a luta é entre fascistas pró-EUA e pró-Rússia,
dizendo ainda: «Entretanto, Putin alcunhou o governo de Kiev de um “putsch fascista”». Isto é, insinua-se
que a Junta da Ucrânia não é fascista, desmentindo a evidência de que ela é
apoiada por partidos de extrema-direita e neo-nazis. Para o autor foi só Putin
que a alcunhou assim. (Nem todos os trotskistas, porém, pensam dessa maneira:
[11].)
O mal deste trotskista (e também de outros, trotskistas ou não) é querer impor à realidade um esquema explicativo preexistente,
proveniente dos mestres do marxismo (magister
dixit). Provavelmente leu os textos de Lenine sobre a guerra entre
potências imperialistas de 1914-18. A partir daí, tudo que é conflito passou a
ser explicado pela mera transposição do mestre; todo o conflito passou a ser
explicado por imperialistas contra imperialistas ou por fascistas contra
fascistas. É como se alguém quisesse impor a lei da gravitação de Newton à
atracção de cargas eléctricas, sem ligar qualquer atenção às propriedades eléctricas
das cargas, tal como se manifestam na realidade. O nosso trotskista esqueceu
que para os marxistas «a verdade é sempre concreta»; logo, é a realidade que
terá de validar qualquer teoria explicativa e não o contrário.
Quer isto dizer que não há imperialismo na
Rússia ou na China? Para responder a esta questão teremos de olhar para a
realidade e para a definição de imperialismo.
Quanto á definição, consultemos primeiro a
obra de Vladimir Lénine «O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo» escrita
em 1916 ([12]). Lénine começa por notar que «O capitalismo transformou-se num sistema
universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da imensa
maioria da população do planeta por um punhado de países “avançados”» e que da
subjugação colonial provinha um superlucro: «É evidente que tão gigantesco
superlucro (visto ser obtido para além do lucro que os capitalistas extraem aos
operários do seu “próprio” país) permite subornar os dirigentes operários e a
camada superior da aristocracia operária». Quanto a uma definição, diz assim
(itálico nosso):
«Se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do
imperialismo, dever-se-ia dizer que o
imperialismo é a fase monopolista do capitalismo. Essa definição
compreenderia o principal, pois, por um lado, o capital financeiro é o capital
bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital das
associações monopolistas de industriais, e, por outro lado, a partilha do mundo
é a transição da política colonial que se estende sem obstáculos às regiões
ainda não apropriadas por nenhuma potência capitalista para a política colonial
de posse monopolista dos territórios do globo já inteiramente repartido.»
Apresenta,
de seguida, cinco «traços fundamentais» do imperialismo do seu tempo:
«1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado
de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel
decisivo na vida económica;
2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação,
baseada nesse "capital financeiro" da oligarquia financeira;
3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de
mercadorias, adquire uma importância particularmente grande;
4) a formação de associações internacionais monopolistas de
capitalistas, que partilham o mundo entre si;
5) a partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais
importantes está finalizada. [13]»
No tempo de
Lénine as potências capitalistas eram potências colonialistas. Tinha-se completado
a partilha de extensos territórios da África e da Ásia entre essas potências
([14]). O colonialismo entretanto acabou ([15]), dando lugar ao
neocolonialismo. Tirando essa actualização do ponto 5 os outros pontos
continuam aplicáveis. Ora, quer a Rússia quer a China satisfazem aos pontos 1,
2 e 4: têm multinacionais com grande peso na economia, têm uma oligarquia
financeira (ainda que incipiente no caso da China) e formaram associações
internacionais de multinacionais. Também exportam capitais, mas não de «importância particularmente
grande». Seguindo o critério do trabalho [8] constata-se que em 2013 a Rússia recebeu 552,8 biliões (B€=mil milhões de euros) de
dólares de investimento estrangeiro directo (IEDdentro) e exportou 439,2
biliões de dólares para o estrangeiro (IEDfora, [16]). Isto é, o fluxo de
capital para fora foi de 0,7 vezes o fluxo de capital que entrou. Para a China,
este quociente é de 0,4 (IEDdentro=1344 B$, IEDfora=541 B$). Estes quocientes contrastam fortemente
com o dos EUA, que é de 1,72 (IEDdentro=2815
B$, IEDfora=4854 B$). Se tomarmos em conta as populações dos países,
medindo quanto capital sai para fora per
capita, este contraste é também nítido; os valores são: 15.221 $, para os
EUA, 3.023 $, para a Rússia, 399 $, para a China. Isto é, em termos
proporcionais à população, os EUA exportam 5 vezes mais capitais do que a
Rússia e 38 vezes mais do que a China!
A definição de imperialismo, como a de todas
as categorias históricas, está sujeita a actualizações (houve vários impérios
ao longo da História, com características socio-económicas muito diferentes). É
óbvio que o actual imperialismo dos EUA, o imperialismo mais avançado, é muito
diferente do existente no tempo de Lénine. Apontemos algumas diferenças
salientes em correspondência com os pontos anteriores. Os monopólios (ponto 1) transformaram-se em
multinacionais, inclusive no sector comercial de bens de consumo e,
notavelmente pelas suas implicações, no sector financeiro especulativo (ver os
nossos artigos sobre derivados). Actualmente, existe uma oligarquia financeira
totalmente desligada do capital industrial (ponto 2) e das actividades
produtivas. A exportação de capitais (ponto 3), que no tempo de Lénine era
usada pelo império no saque de riquezas das colónias (principalmnte saque de
matérias-primas em bruto ou pré-processadas), é agora usada predominantemente
para amarrar as economias neocolonizadas a dívidas permanentes, criando um
fluxo constante de capital monetário para a sede imperial (note-se que a dívida
externa americana é a dívida do povo americano, não é a dívida dos oligarcas
americanos). Quanto ao ponto 5, deve-se ter em conta o actual neocolonialismo,
num quadro em permanente mudança, com os imperialistas a conquistar
«territórios» -- exploração de recursos e mão-de-obra barata, em aliança com
capitalistas dos países neocolonizados -- (Jugoslávia, Indonésia, etc.), a
disputá-los entre si, ou a perdê-los na sequência de revoluções populares
(Cuba, Vietname, Venezuela, etc.).
Parece,
assim, razoável definir o imperialismo actual como a fase mais avançada do
capitalismo, a fase do actual imperialismo ianque&C.ª, como se segue:
Países imperialistas são países capitalistas onde se verificam as
seguintes condições:
1) Concentração da produção e do capital em multinacionais;
2) Bancos e firmas com actividades financeiras especulativas, actuando a
uma escala global como quaisquer multinacionais;
3) Grande e crescente peso na economia do sector financeiro e do capital
especulativo;
4) Actividade permanente de exploração económica de países
neocolonizados com o conluio das burguesias locais;
5) Exportação de capitais para países neocolonizados, em particular com
o objectivo de a amarrá-los a dívidas garantindo fluxos permanentes de capitais
para os exportadores;
6) Actividade de ingerência em países cuja neocolonização é entendida
como necessária, por motivos económicos ou outros, através de meios militares e
de subversão e com o conluio das burguesias locais; esta actividade pode
incluir a guerra aberta contra as forças do progresso desses países e exige dos
países ingerentes enormes exércitos, enormes gastos em armamento, enormes
serviços secretos e meios de propaganda (media)
operando a uma escala global;
7) Formação de alianças dos países capitalistas, que dividem entre si a
exploração dos países neocolonizadas e as tarefas dos pontos 4 a 6;
Na Rússia, assistiu-se a partir de 1991 à
formação acelerada de um capitalismo controlado por grandes capitalistas, com
mafia e tudo como nos EUA ([17]). Formaram-se multinacionais. Exemplos disso são:
o gigante privado Metalloinvest na área metalúrgica (Ural Steel, Gazmetall JSC,
Oskol Electrometallurgical Plant); a companhia de investimento privado
Millhouse, com sede em Londres e interesses importantes na Gazprom Neft (parte
da Gazprom), Aeroflot, indústria do alumínio e outras; a conhecida Gazprom,
grande conglomerado russo do petróleo controlado pelo Estado, de que a Gazprom
Neft é uma subsidiária com interesses na Sérvia (indústrias da nafta). A
Gazprom tem um sector financeiro próprio (Gazprom Finance B. V.) e interesses
em vários países. O Quirguistão tinha uma produção própria de gás natural, mas
também tinha dívidas à Rússia; pagou-as entregando o seu gás natural à Gazprom
pelo preço simbólico de um dólar. Poder-se-ia pensar, por este exemplo, que a
Rússia controla totalmente o que se passa nas ex-repúblicas soviéticas
asiáticas tratando-as como neocolónias, uma ideia muito divulgada no ocidente.
Há, contudo, notícias que desmentem esta visão. Por exemplo, o Kazaquistão já
declarou que não vai seguir o embargo de produtos alimentares do ocidente
recentemente decidido pela Rússia.
A China derivou para o capitalismo a partir
dos anos oitenta e veio a evoluir a partir de 2000 para uma grande potência
capitalista, com mais de 70 % do PIB no sector privado, incluindo as áreas
estratégicas da energia, metalurgia e transportes. O sector privado na China
tem vindo a crescer e a política oficial chinesa é de manter esse crescimento.
Há várias multinacionais chinesas. Um exemplo, no comércio electrónico, é o
gigante privado Alibaba de que dois sites movimentaram em 2012 cerca de 170 biliões
de dólares em vendas, mais do que a eBay e Amazon.com, juntos. Outros exemplos
são: a Jiangsu Shagang Group, um gigante do ferro e do aço com agências no
Sudeste Asiático, na Austrália e n Coreia; a multinacional de bens de consumo Suning
Appliance; o conglomerado Legend Holdings Ltd, com negócios no imobiliário, nos
bens de consumo, no sector de novos materiais, na agricultura e nos serviços
financeiros. Multinacionais e PMEs chinesas têm muitas áreas de negócio em
África, na agricultura, nas pescas, no petróleo, na mineração, no sector
imobiliário, etc.; negócios muitas vezes conduzidos num estilo neocolonial, de
suborno de líderes corruptos e de exploração de mão-de-obra. Dois exemplos ([18]):
os negócios do petróleo na Nigéria ([19]) e o escândalo da cidade de Kilamba em
Angola ([20]). (Sobre o capitalismo chinês tencionamos falar mais em detalhe no
futuro.)
A China e a Rússia formaram uma «entente cordiale» de contrapeso à
agressividade ianque&C.ª ([21]). Fundaram em 2001 a Organização de
Cooperação de Xangai (SCO), juntamente com o Kazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão
e Uzbequistão. Uma cooperação económica, política e militar; com a China e a
Rússia, para já, mais interessadas na consolidação de um poder económico
alternativo aos EUA. O recente tratado do gás entre os dois países, os
entendimentos de abandonar o dólar em pagamentos bilaterais, a proposta no
âmbito dos BRICS de criar um banco alternativo ao Banco Mundial (proposta que
pôs os cabelos em pé aos EUA), são claros reflexos disso.
A tabela abaixo sintetiza a posição ocupada
pelos capitalismos russo e chinês, bem como o dos EUA, em cada um dos sete
pontos anteriores, com os quantificadores que conseguimos encontrar. Tendo em
conta esta síntese descrevemos os capitalismos russo e chinês como
imperialismos incipientes, ainda longe do nível imperial dos EUA, da Grã-Bretanha,
etc. Contudo, qualquer potência capitalista move-se necessariamente na busca
rapace do lucro, move-se necessariamente num sentido cada vez mais
imperialista. A Rússia pós-1990 e a China pós-2000 iniciaram esse caminho.
Países
|
1)
Multinac.
em sectores produtivos
|
2)
Multinac. no sector
financeiro
especulativo
|
3)
Peso do sector
financeiro em 2011
(% PIB)
[22]
|
4)
Exploração económica
neocolonial
|
5)
Exportação de
capitais em 2013 (IEDfora ¸ IEDdentro)
[16]
|
6)
Ingerência militar e
subversiva
|
6)
Gastos militares em
2012
%PIB
($ p.c.)
[16]
|
7)
Aliança para a
exploração neocolonial
|
EUA
|
Sim
|
Sim
|
8,4
|
Sim
|
1,72
|
Sim
|
4,35 (2247)
|
Sim
|
Rússia
|
Sim
|
Poucas
|
4,5
|
Não
|
0,79
|
Reduzida
|
4,47 (791)
|
Não
|
China
|
Sim
|
Não
|
<2,4 ?
|
Reduzida
|
0,40
|
Reduzida
|
1,99 (182)
|
Não
|
($ p.c significa
dólares per capita.)
O imperialismo ianque&C.ª representa
essencialmente (não exclusivamente) o pólo agressivo do capitalismo decadente,
assente nos sectores improdutivos da economia, na especulação financeira, no
«capitalismo de casino». Capitalismo decadente de baixa taxa de lucro e baixo
crescimento do PIB, com reduzidos exércitos autóctones de mão-de-obra barata.
Por ser o pólo mais poderoso e agressivo, o pólo fautor de guerras e que mais
ameaça a paz mundial – os EUA têm provocado e vivido num estado de guerra permanente
desde a 2.ª Guerra Mundial ([23]) --, é aquele que exige neste momento a maior
vigilância, desmascaramento e oposição activa de todas as forças progressistas
a nível mundial.
A «entente
cordiale» China-Rússia representa essencialmente (não exclusivamente) o
pólo produtivo do capitalismo, com elevadas taxas de lucro e alto crescimento
do PIB, com volumosos exércitos autóctones de mão-de-obra barata. Se a «entente» ainda se mantém numa postura
não agressiva é porque lhe faltam a motivação económica e os meios. Esta
situação não irá, pela lógica interna do capitalismo, perdurar sempre.
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
[...]
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Trecho da «Cantata da Paz» de Sophia de
Mello Breyner. Ver interpretação de Francisco Fanhais em https://www.youtube.com/watch?v=1o96Ocn7C-c
O estranho
torpor das massas
Nunca a ameaça de um grande conflito à escala
mundial, por culpa dos EUA, foi tão grande como agora. O posicionamento
reaccionário, provocatório e pró-fascista do imperialismo ianque nunca se
mostrou tão cínica e abertamente como agora. Com o cinismo de «donos do mundo»
que tudo podem fazer, impunemente.
O imperialismo ianque apoia os neo-nazis na
Ucrânia, proclama para consumo interno e externo o povo americano como
«excepcional», tocando a corda nacionalista tal como os hitlerianos a tocavam
quando diziam que os alemães eram o «povo dos senhores» ([24]), ateia guerras,
faz provocações constantes, tortura sistematicamente nas prisões dos EUA e fora
dos EUA, comete crimes de guerra recusando a jurisdição do Tribunal
Internacional de Haia sobre os seus criminosos, vende e usa armas proibidas
como químicas e biológicas, assassina civis inocentes com «drones», faz e desfaz
governos, paga a assassinos para matar dirigentes opositores ([25]), monta
campanhas globais de caricaturação e aviltamento de quem não lhe agrada, como
agora com Putin, apoia todos os Estados e movimentos reaccionários, saqueia as
riquezas naturais de meio mundo, impõe tratados de comércio desiguais, constrói
uma rede gigantesca de espionagem e de invasão de privacidade a nível mundial,
o sistema PRISM do NSA.
Para quê? Para que os oligarcas que constituem
menos de 1% da população estado-unidense continuem crescentemente mais ricos e
a controlar uma parcela desproporcionalmente enorme da riqueza produzida
mundialmente (20% do PIB mundial em 2013). Chama-se a isto a «segurança dos
EUA». É, de facto, a «segurança» da riqueza, a «segurança» da continuidade de
exploração dos grandes capitalistas estado-unidenses.
Apesar de tudo isto serem factos puros e
duros, divulgados diariamente nos media,
pese embora o mascaramento, branqueamento e distorção, é surpreendente o actual
torpor das massas.
Num interessante artigo do jornalista John
Pilger ([26]) intitulado «Quebrem o silêncio: uma guerra mundial está a acenar»
(«Break the silence: a world war is
beckoning», [27]) é dito o seguinte:
«Porque razão toleramos a ameaça de uma outra
guerra mundial em nosso nome? Porque razão permitimos mentiras que justifiquem
este risco? O nível da nossa doutrinação por propaganda, escreveu Harold Pinter
[actor e escritor britânico, defensor de causas sociais], é um “altamente bem
sucedido acto de hipnotismo brilhante e mesmo engenhoso”, como se a verdade
“não tivesse acontecido mesmo quando estava a acontecer”».
John Pilger lembra as campanhas de mentiras
claras e despudoradas, como as mais recentes sobre a Ucrânia: «Quando Putin
anunciou a retirada de tropas russas da fronteira o secretário da defesa da junta
de Kiev – um membro fundador do partido fascista Svoboda – vangloriou-se de que
os ataques aos “insurgentes” iriam continuar. Num estilo orwelliano a
propaganda ocidental inverteu isto para Moscovo “tentando orquestrar conflito e
provocação”, de acordo com William Hague. O cinismo deste só é comparável às
grotescas congratulações de Obama enviadas à Junta golpista pelo seu “notável
comedimento” logo a seguir ao massacre de Odessa. A Junta, ilegal e dominada
por fascistas, é descrita por Obama como “devidamente eleita”. A verdade não
interessa para nada. Como uma vez disse Henry Kissinger “[o que interessa] é
aquilo que é percebido como sendo verdade” [Frase comparável à do ministro da
propaganda nazi, Goebbels: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”].
A atrocidade de Odessa é apresentada nos media
EUA [...] como “nacionalistas” (os neo-nazis) a atacar “separatistas”. O Wall Street Journal de Rupert Murdoch [o
magnate do escândalo dos subornos e escutas ilegais] condenou as vítimas: “Fogo
Ucraniano Letal Possivelmente Ateado pelos Rebeldes, Diz o Governo”. A
propaganda na Alemanha tem sido de pura guerra-fria com o Frankfurter Allgemeine Zeitung a avisar os leitores de “guerra não
declarada” da Rússia.»
John Pilger menciona também as repetidas
provocações da NATO (no momento em que escrevemos foi noticiado que um
submarino nuclear americano, com mísseis tomahawk,
foi detectado em águas do árctico russo, tendo sido repelido pelas forças
navais russas e um avião), concluindo assim: «Segundo o grande denunciante
Daniel Ellsberg [28] um golpe silencioso tomou conta de Washington e o poder
está nas mãos do militarismo galopante. O Pentágono conduz actualmente
“operações secretas” -- guerras secretas – em 124 países. Internamente, a
crescente pobreza e a debilitação da liberdade são o corolário histórico dum
estado perpétuo de guerra. Some-se a isso o risco de guerra nuclear e impõe-se
a questão: porque toleramos isto?»
E a questão é mesmo essa. Perante este
militarismo galopante do imperialismo ianque, perante o clima constante de
provocações da NATO, perante as atrocidades de Odessa ou de Gaza, perante a
ameaça de uma guerra mundial, como explicar a actual apatia das massas, pelo
menos em muitos países ocidentais, incluindo Portugal, sem paralelo na história
contemporânea?
É claro que sempre houve e continuará a haver
muitos apáticos («Para que me hei-de estar a incomodar com isto?» e suas
variantes mais ou menos ridículas como «os políticos são todos o mesmo»
repetida até à náusea por quem sempre vota nos mesmos políticos do «arco da
governação»), e a «cultura» hedonística da sociedade actual incentivada pelo
capitalismo só agravou a tendência para muitos se enconcharem em «mundos
virtuais». Mas há mais do que isso, conforme se vê na intelectualidade
portuguesa: a implosão do mundo socialista e as distorções e aberrações feitas
em nome do socialismo levaram a uma desconfiança a tudo que cheire a socialismo
e dissidência, a tudo que critique o imperialismo dos EUA, considerado uma
espécie de mal menor.
Os partidos consequentes da Esquerda também
não estão isentos de erros. Como é óbvio, tudo que é humano está sujeito a
erros. Mas há muitos tipos de erros, e os mais perniciosos, a nosso ver, têm
sido as leituras dogmáticas e romântico-escolásticas da única teoria científica
da evolução das sociedades e das condições a ter em conta para as transformar –
o materialismo histórico. Quanto ao dogmatismo, abundam os textos quer
defendendo tudo que disse Trotsky, quer defendendo tudo que foi feito na URSS
no tempo de Estáline como sendo maravilha, puro materialismo dialéctico, pura
ciência, e que quem coloca objecções a isso só pode ser «burguês» ([29]).
Quanto à leitura romântico-escolástica, um exemplo disso é este trecho de um
artigo intitulado «É preciso uma
organização de revolucionários» («An
Organization of Revolutionaries is Needed», [29]): «O materialismo
histórico ensina-nos que as massas do povo, cedo ou tarde, começam a
organizar-se para lutar contra as condições da sua existência [...] Embora as
pessoas possam não ter uma ideia clara porque existem estas condições, ou como
mudá-las, os que estão esfomeados, explorados, etc., procurarão mudar essa
situação.». Para além de já há muito se saber que «é preciso uma organização de revolucionários» para mudar as
sociedades, não foi preciso esperar que o materialismo histórico ensinasse «que
as massas do povo, cedo ou tarde, começam a organizar-se para lutar contra as
condições da sua existência.» (Aliás, o materialismo histórico não é bem isso
que diz.) Já na Revolução Francesa se sabia isso. Quanto aos esfomeados
procurarem mudar a situação, nunca vimos em Portugal uma única manifestação de
esfomeados (ou de pedintes ou de sem-abrigo). Será que existem manifestações de
esfomeados nos EUA? E a procurar seriamente mudar a situação? Parece-nos que se
trata aqui de um romantismo proveniente de «A Internacional» -- o célebre «De
pé, ó vítimas da fome» -- mais do que um dado factual. Concretamente, nas
sociedades ocidentais, os esfomeados, pedintes e sem-abrigo resignaram-se a
aceitar os esquemas de caridade social, largamente inexistentes quando foi
composta a «A Internacional» em 1871. (Durante a Revolução Francesa e
posteriores até 1871 os esfomeados puseram-se efectivamente «De pé».) Se, no
momento actual, nos pomos à espera que os esfomeados e os explorados se comecem
a organizar, podemos ter de esperar muitas décadas; ou até para sempre se
eclodir uma guerra mundial.
Parece-nos que é necessário fazer um grande
esforço de estudo e de esclarecimento. De combate à propaganda imperialista.
Para dar um exemplo, um canal de televisão internacional patrocinado pelos
partidos comunistas e operários a nível mundial seria de uma enorme utilidade. A
luta contra o imperialismo necessita cada vez mais de ser articulada à escala
mundial. Necessárias também acções de esclarecimento entre os militares e
paramilitares e, onde não existirem, constituição entre eles de associações
sindicais e progressistas (em Portugal já existem). E, claro, continuar com as
acções práticas (manifestações, lutas sindicais, etc.) planeando-as com
inovação e vigor, rompendo com rotineirismos.
Terminamos com uma excelente acção prática que
deveria suscitar o apoio internacional: as brigadas internacionais do Donbass
que combatem as bestas fascistas de Kiev, as bestas dos massacres, do ódio, da
violência contra os fracos, da desumanidade. Oiçam como gritam «No pasaran!» os
voluntários espanhóis em https://www.youtube.com/watch?v=IbogUWoWYpE
Notas
[1] Venceremos, venceremos
Venceremos, algum dia
Oh! Do fundo do meu coração acredito
Que venceremos, algum dia
[2] A crença era tão avassaladora
que em conversas com vários amigos, quando procurávamos deitar água na fervura
fazendo ver que o Partido Democrático dos EUA era um partido ao serviço do
grande capital, e que não era a cor da pele do Presidente que iria alterar essa
realidade, éramos vivamente desmentidos e vistos como fora da realidade.
[3] Sobre as ilusões da esquerda
americana, traduzimos aqui parte do artigo de Zoltan Zigedy, «Socialism or “Castles in the Air”?», 8/5/2013, http://zzs-blg.blogspot.pt/2013/05/socialism-or-castles-in-air.html: «A candidatura de Barack Obama tornou-se um
desastre para a esquerda dos EUA. [...] Foram
suscitadas expectativas grandiosas sem fundamento; um candidato associado no
passado com os Democratas conservadores e admirador confesso de Ronald Reagan
era retratado como um novo Franklin Delano Roosevelt [...] Depois da eleição a
maior parte da esquerda dos EUA manteve a sua fé em Obama, uma fé que produziu
muito pouco da mudança esperada mas teve êxito no desarmar da esquerda. O maior
perdedor foi o elemento historicamento mais progressista da política dos EUA: a
comunidade afro-americana. [...] a administração [Obama] não representou os
afro-americanos nem levantou um dedo para melhorar as condições de vida em
degradação dessa comunidade. De facto, muitas vezes foi feito mais pelos
afro-americanos sob presidentes Republicanos sob a pressão de uma esquerda
activa e vocal com os Democratas na oposição! Por exemplo, nenhum presidente
Republcano se safaria com tão poucos afro-americanos cooptados e nomeados numa
administração como a do actual Presidente! A classe no poder nos EUA avaliou
bem e oportunisticamente o nível de tolerância racial, duramente conquistada,
dos votantes americanos. [...] Um subproduto desta táctica foi o desarme da
esquerda e o silenciamento dos líderes afro-americanos.»
[4] Todos os slogans das campanhas
eleitorais de Obama eram, como é típico nos partidos sociais-democratas,
«encorajadores» mas sabiamente ambíguos: «Voto na Mudança» («Vote for Change»), «Um líder capaz de
trazer mudança» («A leader who can
deliver change»), «Já é tempo. É sobre mudança» («It's about Time. It's about Change»), ancorando a «mudança» em meia
dúzia de medidas avulsas. E o «Sim, podemos» («Yes We Can») diz só que «pode», não se sabe muito bem nem o quê,
nem como, nem para quem. Enfim, slogans no estilo do nosso PS, que nas
campanhas também fala muito em quiméricas «mudanças».
[5] As promessas emblemáticas do
Sistema de Saúde e do controlo de armas, por exemplo, ficaram muitíssimo aquém
do prometido.
[6] Aquando da implosão dos regimes
socialistas europeus, alguns ingénuos também acreditaram que a NATO iria
desaparecer. A razão, veiculada pelos meios de comunicação que iludiram os
ingénuos, era de que a NATO tinha nascido depois do Pacto de Varsóvia e só
existia como contramedida a ele. Mentira. Que continua a ser propalada! De
facto, foi o Pacto de Varsóvia que nasceu (Maio de 1955) seis anos depois da
NATO (Abril de 1949); nasceu depois de goradas todas as tentativas dos países
socialistas para chegar a um entendimento com os países capitalistas.
Curiosamente, isto vem bastante bem descrito na wikipedia (versão inglesa; a portuguesa é para esquecer) de que
traduzimos aqui excertos iniciais: «Em Março de 1954, a URSS pediu a admissão
na NATO, temendo “a restauração do militarismo alemão” na Alemanha Ocidental.
Por essa altura tinham já sido aprovadas leis na Alemanha Ocidental a terminar
a desnazificação, e a Organização Gehlen, antecessora dos Serviços Secretos da
Alemanha Ocidental, estava totalmente operativa e empregava centenas de
ex-nazis [...] O ministro soviético dos negócios estrangeiros Molotov
apresentou diferentes propostas de reunificar a Alemanha e de eleições para um
governo de toda a Alemanha, sob condição de retirada dos exércitos das quatro
potências e da neutralidade alemã, mas todas elas foram recusadas pelos outros
ministros dos negócios estrangeiros, Dulles (EUA), Eden (UK) e Bidault
(França).» Vale a pena ler todo este texto («Warsaw Pact. History. Beginnings”) que descreve os esforços
continuados da URSS para manter uma situação de paz. A propósito: entre os
papéis miseráveis desempenhados por EUA, Grã-Bretanha e França, cabe destacar o
papel super-miserável da França, cujos dirigentes «esqueceram» que os EUA e
Grã-Bretanha, já com a França libertada, ainda mantinham planos de a dividir
entre eles; aliás, os EUA tiveram mesmo intenções de ocupar toda a França,
acabando com a sua independência.
[7] Recentemente foi desmascarada uma
iniciativa subversiva da CIA, que consistiu em enviar um grupo de jovens da de
Venezuela, Peru e Costa Rica, alegadamente para participar num evento contra a
SIDA, mas de facto para promover a oposição de jovens cubanos contra o governo.
[8] Roger Annis, «The Russia as "Imperialist" Thesis
Is Wrong and a Barrier to Solidarity With the Ukrainian and Russian People»,
Truthout, 18/6/2014, http://truth-out.org/opinion/item/24428-the-russia-as-imperialist-thesis-is-wrong-and-a-barrier-to-solidarity-with-the-ukrainian-and-russian-people
[9] Rob Ferguson, «Ukraine:
a carnival of reaction looms?», Maio de 2014,
Socialist Review,
socialistreview.org.uk/tags/russian-imperialism
[10] Brian McDonald «UK media approaching ‘mea culpa’ moment on Russia », 11/8/2014, http://rt.com/op-edge/179452-uk-media-confession-russia/
[11] Nas «Theses on Ukraine» aprovado pelo IMT World Congress em
12/8/2014, http://www.marxist.com/these-on-ukraine-2014-draft.htm , lê-se: «A ideia de
que a principal razão do conflito é a agressão do imperialismo russo contra uma
Ucrânia semi-colonial inverte a realidade e leva directamente a apoiar Kiev, a
sua «operação anti-terrorista» assassina e os gangues fascistas lutando nela, o
seu assalto aos direitos democráticos e o seu nacionalismo reaccionário».
[12] Publicado em «Obras
Escolhidas em seis tomos», de V. I. Lénine, Editorial «Avante!»-Edições
Progresso, Lisboa-Moscovo, 1984. Lénine usa profusamente na sua obra dados
económicos recolhidos em várias bibliotecas, bem como contribuições de outros
autores que cita com clareza, nomeadamente do livro «Imperialismo» do
economista inglês J. A. Hobson, publicado em 1902, que defendia o ponto de vista do reformismo
e do pacifismo burgueses.
[13] Na edição da “Avante!” estava «o termo da partilha
territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes».
Modificámos a frase por forma a torná-la mais compreensível. Condiz com a
tradução inglesa da obra.
[14] Portugal
também tinha colónias e não era de forma nenhuma uma potência. De facto, era
uma espécie de semi-colónia da Inglaterra e só muito tarde a burguesia nacional
se interessou pela exploração colonial em termos modernos.
[15] Com excepção de Israel cujos colonatos na Palestina correspondem em
muitos aspectos a uma ocupação colonial.
[17] Fala-se muito, em documentos quer da direita
quer da esquerda, dos «oligarcas» da Rússia, da sua «oligarquia parasítica e rapace
buscando o controlo de recursos naturais e esferas de influência», dos
«objectivos cínicos da oligarquia sem um átomo de conteúdo progressista» ([11]).
É evidente que os oligarcas estão presentes em todos os países capitalistas e
com exactamente as mesmas características.
[18] Descritos em «China in Africa: The Real Story», http://www.chinaafricarealstory.com/, portal com quase 1 milhão de acessos, onde os
assuntos são tratados com seriedade. Tem denunciado exageros e mentiras do The Economist, e de outras fontes do
imperialismo ianque, basendo-se na evidência factual.
[19] Irene Sun, «Chinese Businesses and Corruption in Nigeria»,
2/1/2014, http://www.chinaafricarealstory.com/2014/01/irene-sun-chinese-businesses-and.html
[20] Deborah Brautigam, «Chinese-Built Angolan “Ghost Town” Wakes Up?»
8/4/2014 http://www.internationalpolicydigest.org/2014/04/08/chinese-built-angolan-ghost-town-wakes/
[21] A «entente
cordiale» britânico-francesa que precedeu a Primeira Guerra Mundial, era
uma aliança de dois imperialismos agressivos. Não é o caso dos actuais
imperialismos russo e chinês. Mas há algo de semelhante. Por debaixo da
«cordialidade» de conveniência contra o imperialismo alemão, os ingleses e
franceses não deixavam de arreganhar os dentes uns aos outros; tal como sempre
o fizeram e ainda fazem os nacionalistas russos e chineses, embora procurem
unir-se contra o imperialismo ianque&C.ª.
[22] O valor para os EUA provém de http://blogs.wsj.com/economics/2011/12/10/number-of-the-week-finances-share-of-economy-continues-to-grow/.
O valor para a Rússia provém de http://www.s-ge.com/de/filefield-private/files/720/field_blog_public_files/1432.
Não encontrámos o valor para a China. Contudo, o trabalho http://afd.pku.edu.cn/files/01.pdf
leva-nos a estimar a contribuição para o PIB do sector bancário em 2,4% em
2011. O sector bancário na China é estatal. A contribuição do sector financeiro
privado não parece exceder esse valor.
[23] Guerras e envolvimentos
militares em teatro de guerra: Kuwait e Golfo Pérsico (1990-91), Somália (1992-94),
Bósnia (1994-95), Haiti (1994), Kosovo (1998), Sérvia (1999), Afeganistão
(2001-14), Iraque (2004-11), Líbia (2011), Síria (2012), Ucrânia (2014), Iraque
(2014).
[24] O «Herrenvolk»
dos hitlerianos tem sido traduzido por «raça superior». Esta expressão
corresponde literalmente ao «Herrenrasse», também usada pelos hitlerianos. O «Herrenvolk» remete para uma designação mais tradicional do
nacionalismo extremo alemão, em
particular prussiano, usada para justificar o direito de conquista dos
territórios eslavos a oriente e a opressão dos respectivos povos; o povo alemão
seria o povo dos senhores, escolhido (por Deus? Pelo Destino?) para dominar os
servos eslavos. Com sentido semelhante e também para justificar a opressão de
outros povos os alemães designavam-se a si próprios como o «Kulturvolk».
Assim, como portadores da cultura aos outros povos, os alemães tinham o direito
natural e até moral de os oprimir, nomeadamente através da imposição forçada da
língua e cultura alemãs. Esta ideia do «Herrenvolk» e do «Kulturvolk»
estava largamente disseminada entre as massas, quase como uma verdade banal, podendo-se
dizer que envenenou o pensamento de praticamente todos os alemães, incluindo o de
Friedrich Engels! No «excepcionalismo» apregoado majestaticamnte por Obama há
recorrências do «Herrenvolk» e
do «Kulturvolk» que contamina o
cérebro de muitos norte-americanos.
[25] Os serviços secretos americsnos estão
envolvidos directa ou indirectamente no assassinato ou tentativa de
assassinato de dezenas de chefes de
Estado e de figuras progressistas. Exemplos de assassinatos envolvendo
directamente a CIA: Patrice Lumumba (Congo, 1965), Che Guevara (Bolívia, 1967),
Omar Torrijos (Panamá, 1970). Quanto a tentativas de assassinato, Fidel Castro
bate o recorde: 638!
[26] Jornalista já por nós referido em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/05/a-historia-que-ficou-por-contar-os.html
[27] Encontrámos o artigo em http://mltoday.com/, portal de interesse, onde se encontram
artigos de vários partidos comunistas e operários, incluindo o PCP.
[28] Daniel Ellsberg foi um analista militar
dos EUA, empregado pela RAND Corporation
e depois pelo Pentágono, que em 1971 denunciou aos jornais documentos secretos
do Pentágono sobre a guerra do Vietname, onde se dizia que esta não poderia ser
ganha pelos EUA, bem como outros documentos que provavam que a administração
Johnson tinha mentido não só ao público mas também ao Congresso em assuntos de
transcendente interesse. Daniel Ellsberg sofreu perseguições mas continua
activo na defesa da paz e direitos democráticos, nomeadamente no jornalismo.
[29] Uma boa dose deste dogmatismo, por vezes
insuportável, recheia as páginas do livro de Bahman Azad, «Heroic Struggle, Bitter Defeat» (Int. Publishers, 2000). O autor
não distingue a ciência social da prática política. É como se a medicina, pelo
facto de se basear na biologia como ciência, implicasse que os médicos versados
em biologia estivessem sempre certos.