sábado, 28 de setembro de 2013

Desenvolvimento Sustentável: VI - Valor para Todos?

vimos que no sistema capitalista a actividade económica se rege pela busca do lucro e este, por sua vez, provém da extracção de valor excedente do trabalho, a mais-valia. Este tema foi por nós exposto com algum detalhe em: http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2012/09/a-crise-do-euro-uma-apreciacao-parte-i.html , http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/03/nova-evidencia-cientifica-favor-de-marx.html e http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/05/classes-sociais-parte-i.html .

Para extrair mais-valia é preciso que haja mão-de-obra e esta vem escasseando nas economias capitalistas desenvolvidas. Em particular, escasseia a mão-de-obra barata que assegura a manutenção de uma taxa de lucro considerada atraente pelos capitalistas. Para responder a essa escassez de mão-de-obra barata os capitalistas das economias desenvolvidas, armados da doutrina neoliberal, fazem uso de pelo menos três medidas (individualmente ou conjuntamente): a) atacam, através do seu Estado, os direitos dos trabalhadores (salários, subsídios de desemprego, direitos contratuais, etc.; é o que estamos a assistir em Portugal); b) apoiam a imigração de mão-de-obra barata para os respectivos países; c) deslocalizam empresas (ou parte do ciclo produtivo) para países de mão-de-obra barata. (Isto se quiserem permanecer com a sua actividade no sector produtivo de bens e serviços; muitos, cada vez mais, se deslocam para o sector financeiro -- em particular, para as actividades especulativas com capital fictício -- que lhes podem trazer grandes lucros a curto prazo.)

Existem, todavia, dificuldades com estas medidas: 

a) Para além da luta dos trabalhadores, é preciso ter em conta que, nas economias desenvolvidas, o preenchimento do «exército» disponível de trabalhadores que existiu no passado, devido às grandes migrações de mão-de-obra da agricultura para a indústria, há muito acabou. A própria queda da taxa de fertilidade nessas economias vem diminuindo as fileiras do «exército», aumentando o poder reivindicativo dos trabalhadores.
b) Inclusive nos países em desenvolvimento (economias emergentes, como os BRICS e outros) começa a escassear a mão-de-obra necessária para as respectivas empresas, originando um menor fluxo de emigração para as economias desenvolvidas. Por exemplo, cada vez iremos observar menos russos e ucranianos a entrar em Portugal. A própria China, segundo alguns estudos ([1]), está próxima do ponto em que já não terá possibilidades de ir buscar mais mão-de-obra à agricultura para a colocar na indústria.

Por conseguinte, a busca global de valor por parte dos capitalistas começa a deparar com dificuldades crescentes. Na China a população activa vai entrar em declínio, conforme mostra o gráfico abaixo (ver também [2]).

Isto é, as próprias bases do desenvolvimento económico capitalista começam a tornar-se insustentáveis.


Evolução da população activa de alguns países (previsão a partir de 2012).

Mas existe um outro aspecto ainda mais grave da extracção de valor para o qual o sistema capitalista não encontra respostas credíveis: como obter valor para sustentar os não produtores de valor? É sobre este aspecto que vamos focar a seguir a nossa atenção.

*    *    *

«A maioria dos países da União Europeia (UE) enfrenta sérios desafios aos seus sistemas de pensões, devido em larga medida ao envelhecimento demográfico das populações. As populações estão a envelhecer por causa das taxas de natalidade relativamente baixas e à rapidamente crescente esperança de vida, particularmente nas idades seniores.» [tradução nossa].

Assim começa um relatório de 2012 da UE sobre a sustentabilidade dos sistemas de pensões da Europa ([3]).

O problema desta sustentabilidade é analisado ao longo do relatório, em particular a questão central do grau de dependência dos seniores da população activa -- aquilo que se designa por «índice de sustentabilidade potencial» e é geralmente calculado como o quociente entre a população com mais de 65 anos (considerada inactiva) e aquela com idades entre 15 e 65 anos (considerada activa). Este índice tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos e todos os estudos apontam para um aumento ainda mais significativo nas próximas décadas (ver figura abaixo de [3]).


Taxa de dependência de seniores (>=65 anos) da população activa (entre 15 e 65 anos).
Olhando para o gráfico acima vemos, por exemplo, que na Espanha em 2060 se estima que o número de pessoas com mais de 65 anos (seniores) represente cerca de 60% do número de pessoas activas. Por outras palavras, por cada sénior (em Espanha e em 2060) existirão apenas 1/0,6 = 1,67 pessoas em idade activa capazes de a sustentar. Note-se o optimismo desta estimativa: sabemos bem que actualmente em Espanha grande parte da população em idade activa está desempregada!

As estimativas para Portugal não devem ser muito diferentes das respeitantes à Espanha. Em Portugal, o valor para 2011 era de 3,5 ("activos" para um "inactivo"; [4]) perto do valor espanhol no mesmo ano. A mesma proximidade de valores era observável para anos passados.

Existem outras formas de calcular o índice de sustentabilidade das pensões, usando, em vez dos critérios acima (mais de 65 anos versus entre 15 e 65 anos), critérios mais realistas baseados em estatísticas reais de população activa e inactiva. O impacto da utilização desses critérios mais realistas nas conclusões é, porém, diminuto. Seja que critério se considere, iremos sempre obter gráficos muito parecidos com o da figura acima.

As razões do aumento dos índices de sustentabilidade são claros: o grau de fertilidade (número de filhos por mulher) tem baixado, embora se espere que venha a convergir para um valor próximo de 2,1 a partir de 2030, e a esperança de vida tem vindo sempre a aumentar e prevê-se que assim continuará pelo menos até ao fim deste século (ver figura abaixo de [3]).



 Esperança de vida em diversos países (projecções a partir de 2008).

Várias instituições e seguradoras privadas procuram avaliar a sustentabilidade dos sistemas de pensões de vários países. Um dos estudos muito citado a nível da UE, é o da Allianz Global Investors uma companhia multinacional alemã de seguros e serviços financeiros ([5]), que desenvolveu um índice de sustentabilidade que tem em conta vários aspectos, como por exemplo a evolução demográfica, a situação orçamental do país, as características do sistema de pensões utilizado, etc. O índice varia numa escala de 1 a 10, com 1 correspondendo sistemas de pensões sustentáveis, a menos de reformulações pouco importantes, e 10 a sistemas com necessidade urgente de reformas. Os valores desse índice para 2011 e para vários países, são mostrados na figura abaixo.



Verifica-se que o país com mais necessidade de reforma do sistema de pensões é a Grécia, dado o estado de insolvência da sua economia. A Índia, China e Japão estão no grupo de países com mau índice de sustentabilidade, ao qual pertence também a Espanha e a Itália. Portugal situa-se no grupo logo abaixo do «mau», tecnicamente chamado «zona de perigo».

De facto, a sustentabilidade do sistema de pensões em Portugal tem sofrido alguns rombos devido à recessão (o desemprego diminuiu as contribuições dos trabalhadores e transferências das empresas para o Estado) e às políticas de austeridade (cortes nas pensões) que têm sido seguidas. De 2011 para 2012 as contribuições para as reformas baixou de 672 milhões € e, devido aos cortes nas pensões, o Estado gastou menos 20 milhões € (ver o artigo de Eugénio Rosa: [6]). (Portugal é dos países em que o Estado menos gasta em protecção social: 27% do PIB em 2010, contra 29,4% de média da Zona Euro.)

Mas basta de diagnóstico e passemos à terapêutica. O que têm a propor os representantes do capitalismo para resolver a sustentabilidade das pensões/aposentações? Sobre esta pergunta regista-se uma notável unanimidade. Todos propõem o aumento da idade da reforma (com redução de reformas antecipadas; só se o cidadão for mesmo inválido!). Recomendam também outras medidas, como a diversificação de esquemas de financiamento privado de pensões. Este último aspecto é particularmente grato aos neoliberais porque é uma forma do Estado, enquanto representante do grande capital, se descartar do «peso» de ter de suportar os seniores. Porém, seja público ou privado, o ónus da sustentabilidade dos seniores segundo a óptica capitalista deve recair exclusivamente sobre os trabalhadores. Conforme afirma o supracitado relatório da UE: «[…] todos os benefícios de pensões representam uma transferência de recursos da população trabalhadora para a população aposentada […]». E existe mesmo uma fórmula clássica, usada pelos representantes do capital, relacionando os rendimentos dos trabalhadores com os «benefícios» das pensões (o capitalismo neoliberal regressou à visão de que esta coisa de os trabalhadores terem uma reforma quando já são velhos para trabalhar não é uma necessidade mas sim um «benefício»):

Número de contribuintes x rendimento médio x percentagem de contribuição
=
Número de aposentados x valor médio das aposentações

E aonde é que isto tudo nos leva? Bom, simplesmente a isto: aplicando a fórmula acima e considerando que se mantém o mesmo índice de sustentabilidade que em 2010, a idade de reforma deverá ultrapassar os 70 anos em 2050, chegando mesmo em vários países a ultrapassar os 75 anos (!) conforme a seguinte tabela ([7]):

Idade de reforma em 2050 de forma a manter o mesmo índice de sustentabilidade potencial de 2010:
Espanha
76,0
Holanda
75,5
Irlanda
75,0
Itália
74,7
Polónia
74,3
Alemanha
73,9
França
72,8
Hungria
72,1
Reino Unido
71,7
Suécia
71,3

Se usarmos os dados mais recentes, de 2012 ([8]), a situação ainda se agrava mais para alguns países; por exemplo, para a Espanha, em vez da idade de reforma de 76 anos para 2050, passa a ser de 77,8 anos!

Efectuámos os cálculos para Portugal e mostramos abaixo as respectivas projecções da idade de reforma até 2100, mantendo o índice de sustentabilidade potencial de 2010. Para 2050 obtém-se um valor próximo do da Espanha (76,6 anos) e, continuando a assumir que as principais tendências em que se baseiam as projecções se mantêm válidas, para 2100 a idade de reforma seria de 85 anos!

A evolução da idade de reforma em Portugal (em anos no eixo vertical) que, segundo os cálculos da óptica capitalista, asseguraria o mesmo índice de sustentabilidade potencial de 2010.

Parece-nos óbvio que idades como 85 ou 75 anos são totalmente desadequadas para a manutenção de actividade laboral normal. O argumento do aumento de esperança de vida não colhe: uma coisa é o aumento da esperança de vida; outra, é a manutenção de condições físicas e psíquicas adequadas à actividade laboral. Na nossa opinião, mesmo com aumento de esperança de vida, impor a manutenção obrigatória de actividade laboral a partir dos 65 anos (ou próximo disso) é mais que desadequado pelos motivos expostos: é também cruel. Por outro lado, a desadequação e até a inoperância de tal «solução» pode ser vista de outra perspectiva não menos dramática: aumentar o número de idosos amarrados a um emprego, além de baixar a eficiência do trabalho e aumentar o rotineirismo, condena as camadas jovens ao desemprego. Enfim, estamos perante uma dupla crueldade! 

*    *    *

Como já dissemos, os cálculos baseiam-se nas projecções demográficas que têm em conta o aumento da esperança de vida e a diminuição da fertilidade, factores que não se crê virem a alterar as suas tendências fundamentais. Entretanto, a situação real é bem pior do que a descrita por este índice de sustentabilidade potencial, porque ninguém tem dúvidas que a manterem-se as políticas neoliberais o desemprego e a baixa de salários terão um efeito desastroso no índice de sustentabilidade real, que toma em linha de conta a população de facto activa e não simplesmente os que têm idades entre 15 anos e a idade de reforma.

Em suma, e por mais voltas que se dê ao problema e mezinhas que se aconselhem: dentro do sistema capitalista não há sequer solução para a sustentabilidade da vida humana, no que concerne ao proporcionar de uma vida digna aos idosos.

(Note-se que não se trata aqui de uma posição moralista. São os próprios factos materiais, objectivos, indesmentíveis, que obrigam necessariamente o sistema capitalista a prosseguir na via imposta pela fórmula acima. Por muito boa vontade e muito humanismo que possuam este ou aquele capitalista individualmente.)

*    *    *

Só um sistema socialista, com uma repartição mais igualitária de rendimentos baseada no valor socializável do trabalho e não na exploração económica privada dos trabalhadores, onde a parte das mais-valias criadas pelo trabalho (que actualmente a classe capitalista consome e esbanja) seriam totalmente aproveitadas para a satisfação de necessidades sociais, pode resolver este problema. Um sistema de transição para o socialismo, dotado de medidas sociais avançadas, poderá trazer já um contributo considerável à resolução do problema. 

No artigo de Eugénio Rosa já citado são apresentados os valores que corresponderiam a aplicar uma taxa de 0,25% sobre as transacções financeiras. O quantitativo total, em 2011, ascenderia a 3.000 milhões de euros, superior ao total pago em subsídios de desemprego (2.104 milhões) mas bastante inferior ao total de pensões (14.448 milhões). É uma medida do tipo da «taxa Tobin» ([9]), aceitável pelo pensamento social-democrata. Poderia contribuir a curto prazo para algum alívio mas não modificaria substancialmente a situação a longo prazo (ver o que dissemos em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/09/desenvolvimento-sustentavel-iv-causa-da.html ). Mas mesmo esta moderadíssima medida não seria certamente aceite pelo actual governo ou por um provável próximo governo do PS!

[1] Cai Fang (2010) Demographic Transition, Demographic Dividend, and Lewis Turning Point im China. China Economic Journal, vol.3, 2: 107-119.

[2] Michael Roberts (2013) The global search for value: http://thenextrecession.wordpress.com/2013/07/30/the-global-search-for-value/

[3] "Sustainability of pension systems in Europe – the demographic challenge", Groupe Consultatif Actueriel Européen Position Paper, Julho 2012.

[4] Dados obtidos de www.pordata.pt em 2013-08-10

[5] Pension Systems in a Demographic Transition, Outubro de 2011, Allianz Global Investors.

[6] Eugénio Rosa,A Protecção Social em Portugal e na U.E. e como Garantir a Sustentabilidade dos Sistemas de Segurança Social e C.G.A., 28/2/2013 http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2012/9-2013-Sustentabilidade-Seg-Social-C.pdf

[7] A tabela é de [3] e os cálculos usam dados da «UN 2010 Population Projections, 2010 Revision».

[8] UN 2012 Population Projections, 2012 Revision – dados para a folha de cálculo "low fertility": http://esa.un.org/unpd/wpp/Excel-Data/population.htm

[9] Ver http://en.wikipedia.org/wiki/Tobin_tax. Pensamos que Eugénio Rosa tinha em mente as transacções financeiras a nível interno de Portugal. De facto, uma taxa deste tipo para transacções financeiras a nível europeu, de 0,1% para acções e obrigações e de 0,01% nos contratos de derivativos foi aceite, em princípio, por 11 Estados da UE em Janeiro de 2013. Outros Estados opuseram-se com toda a firmeza. Resta ainda decidir os detalhes e se a legislação europeia permite tal pecado contra o capitalismo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Desenvolvimento Sustentável: V - Sobreprodução-Subconsumo

Vimos no artigo anterior (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/09/desenvolvimento-sustentavel-iv-causa-da.html ) que a causa essencial (a causa das causas) da insustentabilidade do desenvolvimento económico é o sistema capitalista, gerador de desigualdade social dentro de cada país e entre países. Vale a pena referir aqui uma notícia muito recente (17Set2013; [1]): segundo a revista Forbes, os 400 americanos mais ricos têm agora uma fortuna total de 2 triliões de dólares (2.000.000.000.000 $). É o maior valor de sempre, que supera o PIB do Canadá e do México; é também mais de 16 vezes o PIB de Portugal! Imagine-se, portanto, o consumo em recursos do planeta que corresponde a esses 2 triliões de dólares. No período de 2009 a 2012, de recuperação da Grande Recessão da bolha imobiliária, os 1% mais ricos dos EUA viram o seu rendimento aumentar 31,4%, enquanto para os restantes 99% o rendimento só aumentou 0,4%. De facto, a «recuperação» da crise nos EUA, e noutros países incluindo Portugal, tem sido a recuperação dos ricos, a dos esbanjadores de recursos.
*    *    *
O esbanjamento de recursos no capitalismo tem muito a ver com o fenómeno da sobreprodução. O sector produtivo de bens no sistema capitalista produz, quase sempre, mais do que é consumido. Não por falta de consumidores, mas sim por falta de rendimento de largas camadas de consumidores. (Ver o que dissemos em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/01/a-economia-convencional-uma.html  sobre a lei de Say e Walras ¾ «a oferta cria o seu próprio consumo» ¾, desmentida por Marx e, bastante mais tarde, por Keynes repetindo a mesma argumentação de Marx.) Produzem-se montanhas de alimentos que apodrecem enquanto, mesmo ao lado ou noutros países, há subnutrição e fome. Produzem-se montanhas de mercadorias que ficam por escoar. A sobreprodução convive com o subconsumo. Ao dispêndio imoderado de recursos naturais acresce a sua irracional destruição. Produz-se para uma parte importante ser destruída; um de muitos aspectos da irracionalidade do sistema capitalista. É este o tema que iremos agora analisar, procurando cimentar ideias com a análise de dois casos concretos: o da indústria da pasta de tomate (bem não duradouro) e o da indústria automóvel (bem duradouro).

 

 

Indústria da pasta de tomate

«A próxima época do tomate vai parecer-se com uma corrida de obstáculos para os fabricantes de pasta de tomate em todo o mundo. Tendo experimentado um ano de ligeira sobreprodução em 2010, a seguir a um de marcada sobreprodução em 2009, os fabricantes enfrentam uma quantidade de pressões […]» [tradução nossa].
"Crop conundrum", Manasi Tomato Industry Ltd,
Manasi County, Xinjiang, 2011 ([2])

A indústria da pasta de tomate constitui um exemplo de produção de bens não duradouros derivados da agricultura. A tabela abaixo mostra a diferença entre os stocks iniciais (SI) e finais (SF) de pasta de tomate, no período de 1983 a 2005, para um conjunto de sete países de produção destacada: França, Grécia, Itália, México, Portugal, Espanha e Turquia ([3]). 

Diferença entre stocks iniciais e finais de pasta de tomate para sete países. Em toneladas.
Ano
SF – SI
Ano
SF – SI
Ano
SF – SI
Ano
SF – SI
1983
-28118
1989
127575
1995
91254
2001
-55131
1984
190754
1990
173278
1996
49837
2002
-75614
1985
117347
1991
12681
1997
-61644
2003
69798
1986
-160162
1992
-50926
1998
26953
2004
120617
1987
-168515
1993
-234949
1999
142712
2005
-113900
1988
29078
1994
24689
2000
-43260



Vemos que em certos anos os stocks finais superam os iniciais (diferença positiva); nos restantes verifica-se obviamente o oposto. A soma das diferenças SF – SI é, todavia, claramente positiva: 184.354 toneladas: em média, no citado período e conjunto de países, observa-se um claro sintoma de sobreprodução. O mesmo se verifica noutros países como a China e os EUA ([3]) desde há muitos anos.
Observemos agora a evolução do preço da pasta de tomate nos EUA (figura abaixo). Verifica-se uma tendência geral para o decréscimo do preço da pasta, acompanhando o decréscimo do preço do tomate. Contudo, o preço da pasta exibe altos e baixos que não aparecem no preço do tomate e que estão associados aos excedentes de produção ([4]): o nível de excedentes (stocks por vender) influi obviamente na fixação do preço.


Evolução do preço da pasta de tomate e do tomate, nos EUA, em cêntimos de dólar por libra.

É evidente que com preços em declínio (alguns produtores queixam-se que mal cobrem os custos de produção) as margens de lucro (a diferença entre V = «receitas das vendas» e C = «custos de produção») e as respectivas taxas de lucro ([5]), (V – C)/V, exibem o mesmo declínio, conforme testemunha a seguinte notícia ([6]):

«A COFCO Tunhe Co., Ltd., o maior produtor de tomate da China, também sofreu um desempenho insatisfatório no negócio do processamento de tomate, com uma taxa de lucro operacional decrescendo de 20,31% em 2010 para 14,55% em 2011.» [tradução nossa]
"Domestic Tomato Processing Industry Sees Overcapacity",
CCM Data & Primary Intelligence

Não é só a indústria da pasta de tomate que experimenta uma tendência para o declínio da taxa de lucro. O mesmo se passa com outras indústrias alimentares ([7]).
Observemos agora o gráfico abaixo com as percentagens de tomate fresco e tomate processado (pasta, molho, etc.) consumidos pela população americana em 2000 ([8]). Estas percentagens referem-se a três escalões da população: os que auferem menos de 130% do rendimento anual correspondente ao nível oficial de pobreza, os que auferem entre 131 e 349% deste nível e os que auferem 350% ou mais que o nível de pobreza. Por exemplo, o escalão mais baixo de rendimento é representado por 19,2% da população (barra sólida a negro) que consumiu 15,9% (do total consumido) de tomate fresco e 18,1% (do total consumido) de tomate processado; no extremo oposto, 39% da população consumiu 44% de tomate fresco e 41,7% de tomate processado.


Percentagens de população dos EUA em três escalões de rendimento e respectivos consumos de tomate fresco e processado em 2000.

Em 2000 o consumo e os excedentes de pasta de tomate nos EUA foram ([9]), respectivamente, de 1,215 e 0,538 toneladas (t). Tendo em conta os valores do gráfico acima (e dado que a pasta de tomate é que tem maior peso no tomate processado), se todos os escalões da população consumissem pasta de tomate ao nível dos dois escalões mais ricos, cada escalão consumiria 1,215´(0,402+0,417)/2 = 0,4975 t. Ora, o escalão mais pobre só consumiu 1,215´0,181 = 0,2199 t. Isto é, em igualdade de consumo com os escalões mais ricos o escalão mais pobre teria de consumir mais 0,4975 – 0,2199 = 0,2776 t. Tal aumento de consumo corresponderia a diminuir os excedentes para menos de metade: 0,2604 t! ([10])
Por outras palavras: a sobreprodução está associada ao subconsumo. Efectivamente, se à escala de muitos países a pobreza corresponde a um enorme subconsumo, à escala global e relativamente aos alimentos sabe-se que este problema é particularmente dramático: anualmente morrem cerca de 15 milhões de crianças devido à fome, enquanto são destruídas enormes quantidades de toneladas de alimentos excedentários nos países mais ricos.

Indústria Automóvel
«Stocks crescentes de carros por vender em todo o mundo:
Fabricantes de automóveis em todo o mundo estão a cortar na produção enquanto inventários de existências [excedentes] sobem a níveis sem precedentes. Áreas de armazenagem e parques estão presentemente a abarrotar de vastas quantidades de carros por vender já que a procura está em queda.
A Nissan anunciou planos para cortar a mão-de-obra da fábrica em Sunderland de 1.200 postos de trabalho. Milhares de carros por vender estão parqueados em torno da área de teste da fábrica.» [tradução nossa].
The Guardian, 16 de Janeiro de 2009.
«EU inundada de carros por vender:
Bruxelas – Confrontado com escassez de espaço de armazenagem o fabricante Japonês de carros Toyota está actualmente a alugar um barco no porto de Malmo na Suécia para armazém de milhares de carros por vender que o mercado deprimido da UE não parece desejar [...]
A decisão de armazenar 2.500 carros num barco … foi tomada no mês passado quando o porto de Malmo atingiu o seu limite de 12.000 carros [...]
As vendas de carros sofreram uma enorme queda nos meses recentes já que os consumidores preocupados adiam quaisquer novas despesas de vulto. Para piorar a situação as medidas para cortar na produção, como a redução de horas de trabalho, podem levar várias semanas até produzir efeito [...]
A Chrysler está presentemente a usar a base militar de Downsview em Ontario para armazenar carros [...]
Alguns estados membros da UE, nomeadamente Áustria, França, Alemanha e Espanha, introduziram esquemas de sucatagem de carros com vista a incrementar as vendas periclitantes de novos modelos.
O esquema alemão oferece 2.500 € aos consumidores que enviam para a sucata um carro velho, de pelo menos nove anos, e adquirem um novo modelo [...]» [tradução nossa].
EU Observer (http://euobserver.com/19/27672), 24de Fevereiro de 2009.

A indústria automóvel constitui um importante exemplo de produção de bens duradouros. A figura abaixo mostra a razão anual entre os excedentes (isto é, os stocks totais também chamados «existências») de veículos a motor e suas peças, relativamente às vendas totais nos EUA no período de 1992 a 2011 ([11]). De 1992 a 2001 esta razão pouco varia. Porém, a partir de 2001 e até 2008, no período eufórico dos negócios e do crédito fácil, o gráfico revela uma clara tendência de subida: em 2008, já em pleno rebentamento da bolha imobiliária, atinge-se o máximo valor: as existências são quase duas vezes e meia superiores às vendas (de facto, em Novembro de 2008 eram mais do triplo!). A partir daí a queda é flagrante.


Razão de excedentes sobre vendas do comércio de veículos a motor e suas peças nos EUA.

Poder-se-ia perguntar: a subida do quociente existências/vendas não se deverá a uma produção (e/ou importação) excessiva? A resposta é negativa. A figura a seguir mostra os gráficos da produção de veículos de passageiros e comerciais, com e sem importações menos exportações, nos EUA e no período de 1988 a 2010 (em milhares de unidades, [12]). Vemos que a partir de 1999 a tendência é claramente decrescente.


Produção (P) de veículos de passageiros e comerciais, acrescida de importações menos exportações (P + I - E) nos EUA e no período de 1988 a 2010 (em milhares de unidades).

Acompanhando a sobreprodução verifica-se uma tendência de declínio da margem de lucro (V – C), conforme mostra a figura seguinte para o período de 1930 a 2010, com e sem dedução de impostos ([13]). Repare-se nas descidas dos lucros precedendo as recessões de 1981, 1991, 2001 e 2008.


Lucros totais da indústria automóvel dos EUA. Os tracejados verticais indicam inícios de recessões.

Dois factores influem na descida dos lucros e respectivas taxas: excesso de produção face ao consumo; descida de preços (este, um factor menor). Logo que se verificam sintomas de sobreprodução e tendência de descida da taxa de lucro os investidores industriais tomam um certo número de medidas correctivas. A diminuição da capacidade produtiva (que os economistas denominam de utilização da capacidade instalada) é uma das primeiras, consistindo em parar a maquinaria e linhas de montagem, despedindo trabalhadores. Na figura abaixo isso é especialmente claro antes de rebentar a bolha imobiliária: de 2002 a 2007 verificava-se uma diminuição da capacidade produtiva de cerca de 80% para cerca de 70%. Com o rebentar da bolha o declínio da capacidade acentua-se rapidamente, atingindo valores abaixo de 40%!


Utilização da capacidade instalada da indústria automóvel nos EUA (dados mensais de 1990 a 2012).

Acompanhando a diminuição da capacidade produtiva assiste-se ao aumento do desemprego e a uma diminuição real do salário dos trabalhadores ([14]). Aumento do desemprego e diminuição de salários que, por sua vez, agravam a sobreprodução e diminuem as margens de lucro. Resta aos investidores industriais tomar medidas como a deslocalização de empresas e/ou de actividades produtivas intermediárias (outsourcing) para países de mão-de-obra barata, com incentivos fiscais e com reduzida protecção dos direitos dos trabalhadores, a fim de permitir a maior exploração económica possível das mais-valias criadas pelo trabalho.
Analisemos, agora, a sobreprodução de veículos motorizados (automóveis, SUVs, carrinhas e veículos comerciais) sob o ponto de vista do subconsumo à escala do planeta. A tabela no final do artigo mostra os dados disponíveis do número de veículos motorizados por 1000 habitantes, bem como a respectiva população, para cada um de 188 países (e regiões autónomas) e no período de 2007 a 2010 ([15]).
O total mundial de veículos motorizados é de mais de um bilião (mil milhões) de veículos: 1.077.976.814. A disparidade de valores do número de veículos por 1000 habitantes é enorme; nos EUA esse valor é de 808, enquanto no Bangladesh ou na Etiópia é de 3.
Vamos agora estimar o valor de veículos motorizados não vendidos durante um ano em todo o mundo. Os EUA produziram 7,76 milhões de veículos em 2010 e importaram nesse ano 2,74 milhões. O excedente de veículos, proveniente do ano anterior, era de 2,81 milhões. Desse total de 13,3 milhões (7,76+2,74+2,18) de veículos ficaram por vender 3,27 milhões ([16]), ou seja, 24,6%. Por outro lado, em 2010 foram produzidos a nível mundial 77,629 milhões de veículos ([17]). Supondo que a proporcionalidade aduzida para os EUA é generalizável a nível mundial (hipótese que parece razoável, dado serem os EUA um dos maiores produtores e consumidores de veículos) e, além disso, uma igual repartição dos veículos não vendidos pelas três categorias -- produção, importação, stocks existentes -- chegamos a uma estimativa de 19,1 milhões de veículos produzidos em todo o mundo e não vendidos.
É muito ou pouco este total de veículos não vendidos em termos de «necessidades» mundiais? A dificuldade está aqui em estimar o que são «necessidades» mundiais razoáveis de veículos motorizados. Colocámos «necessidades» entre aspas porque se trata de um conceito difícil de quantificar em termos económicos.
Notemos, primeiro, que os padrões de necessidades sociais dependem do estádio de desenvolvimento económico, cultural e civilizacional de um país. A necessidade sentida em Portugal de um carro para ir ao emprego, às compras, passar férias com a família ou para ir ao teatro, pura e simplesmente não existe em largas camadas da população de outros países do mundo. Por exemplo, entre muitas tribos africanas ou nas populações asiáticas subdesenvolvidas a necessidade de um carro para ir ao emprego, às compras, passar férias ou ir ao teatro, não existe. A «necessidade», a prioridade económica desses povos no momento actual não é possuir um carro, mas sim a satisfação de requisitos básicos como casa, água potável, saneamento e alimentação; ir de férias ou ir ao teatro são «necessidades» não colocadas de momento. À falta de melhor indicador de desenvolvimento social utilizamos o Escalão de Desenvolvimento Humano (IDH) da tabela acima e calculamos para cada escalão de IDH o número médio de veículos por 1000 habitantes:

IDH
1
2
3
4
Baixo desenvolvimento
Médio desenvolvimento
Alto desenvolvimento
Muito alto desenvolvimento
Média de veículos por 1000 hab.
16
79
199
522

O número médio de veículos varia consideravelmente com o escalão de IDH, desde 16 veículos por 1000 habitante no escalão 1, até 522 veículos no escalão 4. (Portugal tinha no período em análise 537 veículos por 1000 habitantes, mais do que a Suécia! [15].)
Supondo que, para cada país, nos propúnhamos anular o défice do número de veículos face ao valor médio no respectivo escalão de IDH, seriam então precisos 218,78 milhões de veículos (usando os valores da tabela abaixo): onze vezes mais do que o total acima mencionado de veículos não vendidos. Só a Índia precisaria de 79,9 milhões de veículos; a China, de 43,1 milhões.
A dificuldade, aqui, é a do tremendo desnível do escalão 4 face aos outros escalões. Muitos países do escalão 4 têm um número insustentável de veículos por 1000 habitantes. Os EUA, em particular, com 808 veículos por 1000 habitantes, têm quase uma média de um veículo por indivíduo, adulto ou bebé. Na realidade, bastaria restringir no escalão 4 o número de veículos por 1000 habitantes a um máximo de 450 para faltarem apenas 19,5 milhões de veículos. Neste caso, o excedente de produção de 19,1 milhões quase que cobriria as «necessidades»; quase cobriria o subconsumo de veículos motorizados.

[1] Mark Karlin «400 Richest Americans Worth More Than GDP of Canada or Mexico», September 17, 2013, Buzzflash at Truthout,  http://www.truth-out.org/buzzflash/commentary/item/18198-400-richest-americans-worth-more-than-gdp-of-canada-or-mexico
[2] A China é actualmente o maior produtor mundial de pasta de tomate.
[3] Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (disponíveis também em http://www.indexmundi.com/en/commodities/agricultural/tomato-paste28-30-tss-basis/). O produto é da mesma qualidade para todos os países: 28-30% NTSS (NTSS = Natural Tomato Soluble Solids).
[4] Ver: 2011 Exhibits Brochure, Morning Star Co. Neste documento os dados do consumo, das exportações e importações estão em libras (0,453592 kg). A quantidade de tomate processado é medida em toneladas dos EUA que vale 2000 libras. A quantidade produzida de pasta de tomate pode calcular-se a partir da quantidade processada de tomate usando o factor 5,86 (1 tonelada de pasta para 5,86 toneladas de tomates; ver http://ag.arizona.edu/arec/wemc/papers/tomato_industry/Tomato_Industry.html).
[5] Também designado por rendibilidade ou rentabilidade da exploração da actividade económica.
[6] http://www.cnchemicals.com/PressRoom/PressRoomDetail_w_1055.html (consultado em Junho de 2012).
[7] Ver, p. ex., a evolução da taxa de lucro da maior empresa de produtos alimentares dos EUA, a Kraft Foods Inc., de 2002 até ao presente, em: http://ycharts.com/companies/KFT/historical_data/profit_margin (consultado em Junho de 2012).
[8] Gráfico construído com a informação proveniente de um estudo do Departamento de Agricultura dos EUA relativamente ao consumo de tomates e seus derivados: Lucier G., e tal. (2000) Factors Affecting Tomato Consumption in the United States. VGS-282, USDA (United States Dept. Agriculture).
[9] Fonte: 2011 Exhibits Brochure, Morning Star Co. Neste documento os dados do consumo, das exportações e importações estão em libras (0,453592 kg). A quantidade de tomate processado é medida em toneladas dos EUA que vale 2000 libras. A quantidade produzida de pasta de tomate pode calcular-se a partir da quantidade processada de tomate usando o factor 5,86 (1 tonelada de pasta para 5,86 toneladas de tomates; ver http://ag.arizona.edu/arec/wemc/papers/tomato_industry/Tomato_Industry.html). Os excedentes são calculados como Produção + Importações – Consumo – Exportações.
[10] Note-se que não estamos aqui a contabilizar desperdícios devido a insuficiente gestão de stocks. Segundo Kantor L.S. et al. (1997) Estimating and Adressing America's Food Losses. U.S. Dept. Agriculture, Economic Research Service, estes atingiam 8,57 milhões de toneladas no comércio a retalho de frutos e legumes frescos dos EUA em 1995. Entretanto, quanto à pasta de tomate não vendida, ela é simplesmente destruída. Não é, p. ex., oferecida à população pobre do México.
[11] Fonte: Economagic.com: US Retail Inventories/Sales Ratio: Motor vehicle and parts dealers: NAICS 441. A série temporal da Figura 5 foi obtida por médias anuais de valores mensais. Esta operação de média torna indiferente o uso de dados originais sazonalmente ajustados ou não.
[12] Fonte dos dados: U.S. Dept of Commerce, Bureau of Economic Analysis (Table 7.2.5S. Auto and Truck Unit Sales, Production, Inventories, Expenditures, and Price).
[13] Fonte dos dados: Bureau of Economic Analysis (NIPA Tables 6.16: Corporate Profits, motor vehicles and equipment).
[14] Os dados do U.S. Bureau of Labor Statistics confirmam as nossas afirmações.
[15] Dados referentes a anos de 2007 a 2010, disponíveis em NationMaster http://www.nationmaster.com (consultado em Junho de 2012) que cita as fontes.
[16] Fonte: OICA, International Organization of Motor Vehicle Manufacturers, http://oica.net/wp-content/uploads/all-vehicles-2010.pdf


População e número de veículos a motor (por 1000 habitantes) de 188 países. O escalão do IDH representado por sombreado (ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/07/desigualdade-social-portugal-e-os.html ).
País
Veículos
¸1000 p
População
(milhões)
País
Veículos
¸1000 p
População
(milhões)
País
Veículos
¸1000 p
População
(milhões)
País
Veículos
¸1000 p
População
(milhões)
AFG
29
24,486
DMA
163
0,071
LBR
3
3,477
KNA
223
0,052
ALB
120
2,832
DOM
123
9,379
LBY
290
6,423
LCA
166
0,167
DZA
154
37,100
ECU
63
14,483
LIE
796
0,036
VCT
204
0,101
AGO
40
20,609
EGY
43
82,029
LTU
555
3,190
WSM
77
0,186
ATG
230
0,086
SLV
84
6,183
LUX
749
0,512
STP
2
0,169
ARG
314
40,117
GNQ
13
0,720
MDG
26
20,696
SAU
336
27,137
ARM
105
3,269
ERI
11
5,415
MWI
8
13,077
SEN
22
12,855
AUS
730
22,900
EST
474
1,3185
MYA
350
28,334
SCG
252
7,741
AUT
561
8,453
ETH
3
84,321
MDV
24
0,317
SLE
6
5,997
AZE
89
9,111
FJI
175
0,868
MLI
14
14,529
SGP
156
5,184
BHS
82
0,354
FIN
591
5,408
MLT
743
0,418
SVK
348
5,445
BHR
509
1,235
FRA
575
65,350
MRT
5
3,378
SVN
566
2,059
BGD
3
142,319
GAB
14
1,534
MUA
166
1,286
SOM
3
9,797
BRB
188
274,200
GMB
7
1,776
MEX
276
112,337
ZAF
162
50,587
BLR
282
9,461
GEO
116
4,469
FSM
37
0,103
KOR
379
48,580
BEL
558
10,951
DEU
534
81,858
MDA
146
3,560
ESP
608
46,186
BLZ
178
0,313
GHA
33
24,223
MCO
908
0,036
LKA
47
20,653
BEN
21
9,100
GRC
451
10,788
MNG
72
2,737
SDN
27
30,894
BTN
47
0,721
GRD
122
0,111
MAR
70
32,546
SUR
282
0,529
BOL
68
10,426
GTM
117
14,714
MOZ
12
23,701
SWZ
89
1,203
BIH
135
3,840
GIN
5
10,218
MMR
7
48,337
SWE
522
9,491
BWA
113
2,038
GNB
33
1,521
NAM
103
2,324
CHE
562
7,953
BRA
259
192,376
GUY
95
0,785
NRU
159
0,010
SYR
63
21,562
BRN
696
0,423
HTI
12
10,085
NPL
9
26,621
TWN
297
23,239
BGR
375
7,365
HND
97
8,385
NLD
523
16,734
TJK
38
7,800
BFA
11
15,731
HKG
83
7,104
NZL
718
4,435
TZA
7
43,188
BDI
6
8,039
HUN
301
9,962
NIC
58
5,816
THA
165
65,479
KHM
21
13,396
ISL
724
0,320
NER
8
16,275
TGO
2
6,191
CMR
14
19,406
IND
18
1.310,193
NGA
31
162,471
TON
174
0,103
CAN
620
34,792
IDN
79
237,641
PRK
11
24,052
TTO
353
1,318
CPV
94
0,492
IRN
175
76,340
NOR
578
5,009
TUN
114
10,674
CAF
4
4,487
IRQ
50
33,330
OMN
215
2,773
TUR
142
74,724
TCD
6
11,274
IRL
542
4,588
PAK
13
179,500
TKM
106
5,105
CHL
174
17,403
ISR
316
7,859
PSE
39
4,293
UGA
8
32,940
CHN
47
1.347,350
ITA
690
59,465
PAN
141
3,406
UKR
167
45,644
COL
71
46,506
JAM
120
2,706
PNG
13
7,014
ARE
313
8,264
COM
33
0,669
JPN
589
127,650
PRY
91
6,337
GBR
525
62,262
COD
5
67,758
JOR
154
6,298
PER
68
30,136
USA
808
313,508
COG
26
4,140
KAZ
199
16,718
PHL
33
92,338
URY
200
3,252
CRI
166
4,302
KEN
23
38,610
POL
508
38,501
UZB
37
29,123
CIV
20
21,395
KIR
146
0,101
PRT
537
10,562
VUT
54
0,234
HRV
384
4,291
KWT
495
3,582
PRI
596
3,726
VEN
147
27,150
CUB
38
11,241
KGZ
59
5,478
QAT
532
1,699
VNM
13
87,840
CYP
659
0,838
LAO
20
6,466
MKD
155
2,057
YEM
35
24,527
CZE
485
10,504
LVA
459
2,070
ROU
230
19,043
ZMB
20
13,047
DNK
549
5,580
LBN
434
4,259
RUS
271
143,056
ZWE
114
12,754
DJI
28
0,818
LSO
4
2,194
RWA
5
10,718
SYC
173
0,091