domingo, 30 de junho de 2013

O Restauro do Euro: Meio Cheio ou Meio Vazio?

O artigo abaixo é uma tradução comentada do trabalho «The euro recovery: half full or half empty?» da autoria de Michael Roberts, publicado no blog deste autor em 30 de Maio p.p. (http://thenextrecession.wordpress.com/2013/05/30/the-euro-recovery-half-full-or-half-empty/); tradução nossa, apresentada com permissão do autor.
Michael Roberts é um economista marxista, consultor de investimentos na City londrina, com muitos trabalhos publicados em Congressos internacionais e revistas de Economia. É autor de um livro de grande interesse sobre a Grande Recessão (http://www.amazon.co.uk/Great-Recession-Michael-Roberts/dp/144524408X/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1372499629&sr=1-1&keywords=michael+roberts). Foi um dos poucos economistas que previu a crise da bolha imobiliária dos EUA que redundou na Grande Recessão das economias capitalistas avançadas (e não só). Os artigos de Michael Roberts, no seu blog de difusão internacional, primam pelo cuidado de fundamentação e de informação, pela perspicácia de análise, e ainda por serem de leitura agradável e não muito técnica.
Reputamos o presente artigo de importante para a compreensão do que se passa no presente momento quanto à «crise do euro» a nível da Zona Euro. Nele se discute também a questão da «saída do euro», tema em que temos algumas divergências com o autor. Ao longo do texto, sempre que achámos necessário, introduzmos notas nossas entre parênteses rectos.
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A OCDE acabou de publicar a sua previsão semestral do crescimento económico. Estima que o produto interno bruto (PIB) mundial cresça apenas 3,1% este ano e 4% em 2014. Para os países da OCDE [24 da Europa, Austrália, Canadá, Chile, Israel, Japão, Coreia do Sul, México, Nova Zelândia, Turquia, EUA] prevê que o PIB cresça uns míseros 1,2% este ano e 2,3% em 2014, enquanto nos países fora da OCDE crescerá 5,5% este ano e 6,2% em 2014. Nos EUA estima que a actividade económica cresça 1,9% este ano e 2,8% em 2014. Na Zona Euro, todavia, espera-se que a actividade decline 0,6% este ano [isto é, crescimento negativo: -0,6%] e reverta para apenas 1,1% em 2014, enquanto no Japão se espera que o PIB cresça 1,6% em 2013 e 1,4% em 2014.
Estas previsões são mais ou menos ecoadas pelo FMI nas suas estimativas de Primavera. O que sobressai é que as economias capitalistas desenvolvidas estão a rastejar enquanto as economias capitalistas emergentes estão a crescer a um ritmo razoável. Na Zona Euro, porém, as 18 nações não dão mostras de recobro da Grande Recessão, com a Europa do Sul mergulhada em profunda depressão. Os dirigentes do Euro reuniram-se na última segunda-feira [27/5/2013] e concordaram que a França, Espanha, Grécia, etc. [Portugal também], poderiam ter mais tempo para atingir os valores-alvo dos défices orçamentais [do Orçamento do Estado] e das dívidas públicas, dado que a recuperação económica era inexistente. Como argumentou recentemente Mário Draghi, presidente do BCE: "Não há alternativa à consolidação fiscal, embora não possamos negar que isto é contraccionário a curto prazo. No futuro existirá o chamado canal de confiança que reactivará o crescimento; mas não é coisa que acontecerá imediatamente". Certamente que não!
Christian Noyer, governador do Banco de França, também ecoou Draghi ao dizer que a austeridade era necessária para encorajar a 'fada da confiança' a aparecer: "Acima de um certo limiar, que o nosso país provavelmente ultrapassou, qualquer acréscimo na despesa e dívida pública tem efeitos extremamente negativos na confiança". Por outras palavras, a recuperação só será possível se os capitalistas vierem a confiar em que isso acontecerá e tal aparentemente depende de conseguir a baixa dos défices orçamentais e da dívida. Porquê? Bom, porque "o velho modelo já não funciona", nomeadamente os tradicionais esforços keynesianos de aumentar a procura [logo, o volume de vendas das empresas] encorajando os gastos no consumo [através de aumento de emprego no sector público e de políticas fiscais]. Noyer acrescentou que a França tem de se afastar de políticas públicas "demasiado preocupadas em manter os empregos do passado" e permitir a 'liberalização' que ajudaria a criar futuros empregos.
E cá estamos de novo. Conforme arguí muitas vezes neste blog o objectivo da austeridade não se cinge a reduzir dívida pública e défice orçamental, mas sim a restaurar a rendibilidade do sector capitalista. Como diz Draghi "por isso são tão importantes as reformas estruturais, já que a contracção a curto prazo será sucedida por crescimento sustentável a longo prazo só se as reformas forem implementadas". Por esta razão, quando os dirigentes europeus abrandaram o ritmo da austeridade para vários governos, fizeram-no sob condição de estimular a 'reforma do lado da oferta' [oferta de trabalho], nomeadamente com cortes na segurança do emprego, nos níveis salariais, e na 'protecção' a certas indústrias, juntamente com mais privatizações. É este o verdadeiro objectivo da austeridade: mais políticas neoliberais de restauro do sector capitalista.
Mas está a austeridade a progredir para essa finalidade? Recentemente os economistas da JP Morgan [A J.P. Morgan Chase & Co é um dos maiores bancos de investimento e de serviços financeiros] estabeleceram algumas medidas de progresso: volume de desalavancagem [alavancagem: ver 'A Especulação Financeira' em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2012/09/a-crise-do-euro-uma-apreciacao-parte-i.html ] conseguida para a dívida pública e privada; preços mais competitivos do comércio dos países em dificuldades; facilidade de contratar e despedir trabalhadores; abertura aos 'mercados' e, curiosamente, o progresso na redução de obstáculos democráticos e constitucionais na imposição de políticas neoliberais [!].
A JPM concluiu que a Zona Euro estava a meia distância nesses indicadores e neste programa de recuperação neoliberal (The Euro area adjustment: about halfway there, 28 May 2013) [ver figura abaixo]. Por exemplo, quanto aos objectivos de austeridade fiscal [balanço estrutural, ver figura], a Itália tinha caminhado 76%, a Espanha apenas 38%, a Grécia 97%, a Irlanda só 26%, e Portugal 55%. Os objectivos da austeridade a longo prazo (implementando o Compacto Fiscal para 2030) estavam mais ou menos à mesma distância.


O balanço estrutural é a tendência não cíclica do défice do OE. O objectivo do balanço estrutural é uma tendência do défice do OE não superior a -0,5% do PIB. O objectivo do balanço primário é atingir uma DP abaixo dos 60% do PIB num prazo de 20 anos. Os dados de 2012 dos balanços são da previsão de Primavera de 2013 da Comissão Europeia. Fonte: Comissão Europeia e JP Morgan.

Cortes salariais e reduções de custos de trabalho tinham progredido mais [ver figura abaixo], com a Irlanda e Portugal tendo progredido suficientemente, a Grécia tendo de caminhar mais (depois de um corte de 30% no nível de vida!) e a Espanha com ainda 26% para caminhar.

[Só é mostrada a parte de interesse da figura original]. RUWC é o indicador de competitividade dos custos salariais nas manufacturas. RULC é o indicador de competitividade dos custos do trabalho para toda a economia. Ambos os indicadores são relativos ao resto da Zona Euro. A % da jornada completada refere-se ao que falta para repor os níveis de competitividade existentes no início da vigência do euro. Fonte: Comissão Europeia e JP Morgan.

Mas no que se refere à 'reforma estrutural' [aquela que PSD/CDS querem fazer com a muleta do PS], isto é, redução da dimensão do sector público, venda de activos do Estado, redução de direitos do trabalho e das pensões, diminuição de impostos das empresas, etc., o progresso tem sido muito mais lento. Aparentemente a Itália, Grécia, Espanha e Portugal estão ainda muito menos orientados para conceder rédea solta ao sector capitalista do que por exemplo a Holanda e Irlanda.

Classificação média de vários indicadores (regulamentos do mercado de trabalho, regulamentos de negócios, facilidade em efectuar negócios, facilidades concedidas aos bancos, legislação de protecção de emprego, eficiência do mercado de trabalho, etc. Não inclui quaisquer medidas de eficiência de aplicação de capital). Fonte: Eurostat, OCDE, Fraser Institute, BM, WEF e J.P. Morgan.

A estimativa da JPM, de progresso no programa neoliberal, é mais realista que a conversa dos mercados financeiros de que países como a Grécia e a Irlanda 'já viraram a esquina'. Tomemos a Grécia. Os três partidos da coligação seguiram rigidamente o programa de ajustamento FMI-UE ao longo do último ano. Foram recompensados pelos mercados financeiros com uma melhoria da avaliação da dívida soberana grega. A melhoria para B- da Grécia vem quase um ano depois da despromoção da dívida para CCC, isto é, lixo. Portanto, a 'fada da confiança' surgiu do subcrescimento. Mas não se está sequer perto de dizer que a grise grega terminou. [A DP portuguesa teve uma avaliação BB da S&P, subindo de BBB-, em Março p.p.; contudo, recentemente, os juros de títulos de tesouro a 10 anos aumentaram.]


Fonte: Wall Street Journal com Tradeweb (figura da esquerda) e Eurostat (figura da direita).

Todos os fundos de resgate para a Grécia foram usados para pagar os credores da Grécia, nomeadamente bancos europeus, fundos de pensões e fundos de cobertura especulativos, com os últimos a serem limpos à medida que os juros da dívida grega desceram. Mas a economia real continua em maus lençóis. A economia sofreu 19 [!] trimestres consecutivos em contracção. [A economia portuguesa sofreu 9 trimestres consecutivos de contracção; ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/pib-portugal-e-os-outros-ii.html e http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/pib-portugal-e-os-outros-adenda.html. ]

       [Ver também http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/01/a-esquerda-parlamentar-que-temos.html ].

Cerca de 1,3 milhões de gregos estão desempregados, aproximadamente 400 mil famílias sem receber um rendimento, cerca de 300 mil trabalhadores com patrões que não lhes pagam há meses e milhares que deixaram o país à procura de emprego, enquanto as forças neo-nazis se tornam mais fortes. Perto de 800 mil desempregados de longa duração perderam o acesso a quaisquer benefícios e cuidados grátis de saúde.
Os serviços públicos, tais como cuidados de saúde, foram devastados, enquanto o crescimento incessante de taxas tem pressionado terrivelmente os mais sadios negócios. As pessoas na Grécia trabalharam 2.032 horas por ano em 2011, consideravelmente mais que a média da OCDE de 1.413 horas. Em contraste, os alemães trabalharam uma média de 1.776 horas. Todavia, o rendimento familiar médio na Grécia é de 15.800 €/ano, muito menor que a média da OCDE de 17.820 €/ano. [O Eurostat indica como rendimento familiar anual médio, em 2011, 21.549 € para a Alemanha, 12.626 € para a Grécia e 10.407 € para Portugal, com a média da UE em 17.037 €.] Nos indicadores usados pela OCDE para avaliar o nível de bem-estar, a Grécia situa-se em 30.ª posição em 36 países. Na UE só a Eslovénia em plena crise se situa abaixo. Portugal está na 28.ª posição.
[Em artigos anteriores do nosso blog temos apresentado muitos indicadores para Portugal. Ver nomeadamente, além dos já referidos, http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2012/09/a-crise-do-euro-uma-apreciacao-parte-iii.html e http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/02/austeridade-em-portugal-ponto-da.html. ]
As pequenas empresas da Grécia pagam um juro de 7% pelo crédito, isto se conseguirem obter um empréstimo do sistema bancário semi-comatoso do país. [Semelhante em Portugal.] Em contraste, firmas análogas da Alemanha obtêm empréstimos a metade daquele valor. O défice corrente das contas públicas ter-se-á contraído em cerca de 7% do PIB mas isto foi conseguido em larga medida por causa de uma queda substancial nas importações mais do que por uma subida importante das exportações. [Semelhante em Portugal mas com uma muito ligeira descida do défice orçamental.] Mesmo a temível Troika admitiu ao analisar o impacto do programa de austeridade que "os ricos e os trabalhadores independentes simplesmente não estão a pagar o seu justo quinhão, o que forçou uma dependência excessiva em cortes exagerados na despesa e impostos mais elevados para os que ganham um salário ou pensão". [A Troika sempre chora depois lágrimas de crocodilo.]
A recuperação na Grécia depende de um retorno ao investimento na indústria e em serviços essenciais. Não se vislumbra, porém, sinal disso. Em 2012 o investimento caiu de 20% relativamente aos níveis já ridículos de 2011. E o governo prevê nova queda do investimento em 2013.
Portanto, se a austeridade só está a funcionar por metade, no restauro do capitalismo na Zona Euro, qual é a alternativa? Bom, há uma que está a ganhar proeminência, especialmente entre os países europeus maltratados como Portugal, Grécia e Itália. É a alternativa keynesiana de deixar o euro e restaurar a moeda local desvalorizada. [Não concordamos aqui com Michael Roberts. A saída do euro não tem de ser necessariamente feita numa óptica keynesiana. Não é a saída em si que é keynesiana ou outra coisa qualquer, mas sim o conjunto de políticas que forem seguidas acompanhando a saída. Na verdade, defendemos que tal saída só poderá ser feita com êxito numa óptica marxista, podendo embora conter medidas também defendidas por keynesianos.] Em Portugal, por exemplo, o economista João Ferreira do Amaral publicou um livro instando Portugal a sair do euro. O livro tornou-se um best-seller apoiado não só pelo Partido Comunista mas também abonado pelo presidente do supremo tribunal! [Ver http://www.pcp.pt/%C2%ABeu-n%C3%A3o-creio-que-haja-solu%C3%A7%C3%A3o-dentro-do-euro%C2%BB.] O livro defende que a austeridade não irá funcionar e que, a manter-se a política do actual governo, a divergência entre uma Alemanha rica e um Portugal pobre só irá aumentar. A única solução é Portugal sair da Zona Euro e restaurar o escudo como nos anos noventa.
O argumento destes defensores da 'saída' é o de que o custo para a economia de sair do euro será muito menor do que o custo continuado da austeridade, imposto pelos líderes do euro a países como Portugal e Grécia. Estes argumentos são apresentados de uma forma mais teórica num recente artigo de Heiner Flassbeck e Costas Lapavitsas (http://thenextrecession.files.wordpress.com/2013/05/systemic_crisis.pdf). Flassbeck foi um vice-ministro das finanças sob a alçada do social-democrata de esquerda Oskar Lafontaine e parece ter formado uma aliança com o ostensivo economista marxista Lapavitsas para defender a tese da saída do euro como única solução. Ao agirem assim, parecem ter argumentos muito semelhantes aos de muitos neoliberais como o Dr Werner Sinn, agora um líder do novo 'partido da saída' na Alemanha que clama por um regresso ao marco. Lafontaine também se deslocou para este ponto de vista. Existe, portanto, uma aliança entre alguns nacionalistas neoliberais e keynesianos quanto a uma política de saída. [Tanto quanto sabemos a palavra 'aliança' é aqui uma força de expressão. Como se sabe, forças políticas opostas podem ter, em dado momento, pontos de vista semelhantes sobre uma dada questão pontual, por motivos e finalidades opostas e até antagónicas.]
A dificuldade que tenho com esta política de saída é que é um pouco como a posição do Exército Republicano Irlandês (IRA) sobre a questão da unidade irlandesa. O IRA defendeu que primeiro devemos terminar com 'a fronteira' que divide o norte do sul da Irlanda e só depois podemos adoptar políticas socialistas. Contudo, a Irlanda está ainda dividida e ainda capitalista e os antigos líderes do IRA trabalham agora com os dois regimes existentes em prol da mudança social ¾ uma inversão da antiga posição. A saída do euro é também uma teoria de 'duas fases': primeiro, devemos sair do euro como prioridade máxima e depois falaremos sobre políticas socialistas para terminar a crise. [Se em Setembro de 2012 ainda tínhamos dúvidas sobre a saída do euro ¾ http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2012/09/por-uma-solucao-de-esquerda-da-crise.html  ¾ a partir de Fevereiro de 2013 passámos a defender a saída do euro ¾ http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/02/alternativa-sim-existe.html. Contudo, mesmo no citado artigo de Setembro de 2012, já encarávamos claramente uma alternativa marxista. Sempre que em artigos posteriores nos referimos à saída do euro defendemos que tal só teria êxito acompanhada de políticas socialistas e dissemos porquê. Em suma, somos defensores de 'uma fase' e não de 'duas fases'.] Estou certo que Lapavitsas e Amaral querem adoptar políticas de propriedade pública dos bancos e dos maiores sectores industriais, investimento público e um plano para a Europa, mas penso que eles obscurecem a batalha contra a austeridade enfatizando a saída do euro e a desvalorização da moeda como cura principal. Isto é seguramente um desvio.
Porquê? Bom, porque como disse num artigo anterior (http://thenextrecession.wordpress.com/2013/03/16/workers-punks-and-the-euro-crisis/) a crise do euro é uma crise do capitalismo e não uma crise do euro [subscrevemos inteiramente esta tese, cuja compreensão reputamos de essencial, e à qual a nossa esquerda parlamentar não tem dado o devido relevo; pelo menos, a nível de divulgação entre as massas trabalhadoras.] Por outras palavras, mesmo que o euro sucumbisse e os países da Zona Euro regressassem às suas próprias divisas e políticas monetárias, a crise não iria desaparecer e podia até tornar-se pior. Tudo isto porque a crise do euro é o produto da falência global do modo de produção capitalista. Teve maior impacto nas economias capitalistas mais fracas como as da Grécia, Portugal e Eslovénia, mas afectou todas as economias. A crise é só parcialmente um resultado das políticas de austeridade que têm sido seguidas, não só pelas instituições da UE como por Estados fora da Zona Euro como a Grã-Bretanha. [Não concordamos. Em Portugal, por exemplo, a austeridade tem aprofundado a crise de forma espantosa; não se trata de um efeito menor, 'só parcial'.] Se isto é verdadeiro, então políticas keynesianas alternativas de estímulo fiscal e/ou desvalorização enquanto possível, farão pouco para acabar com a queda da economia e farão ainda com que as famílias sofram perdas de rendimento. A austeridade significa perda de empregos e de serviços, logo de rendimento. Políticas keynesianas também significam perda de rendimento por via de preços mais altos, de uma moeda em desvalorização e eventualmente por taxas crescentes de juro.
Considere-se a Islândia, um país fora da UE. Desvalorização e políticas keynesianas de 'empobrecer-o-vizinho' [isto é, pensar que se resolvem os problemas próprios à custa de empurrar os problemas para os outros, como acontece quando se descem propositadamente preços de bens exportados] significaram para a Islândia, desde 2007, um declínio de 40% de rendimento real médio em dólares e de quase 20% em krona (ver o meu artigo http://thenextrecession.wordpress.com/2013/03/27/profitability-the-euro-crisis-and-icelandic-myths/)
Para além da Islândia a Argentina de 2001 é também vista como exemplo de estratégia bem sucedida de 'saída'. A Argentina terminou em 2001 com a ligação do peso ao dólar e desvalorizou o peso, aparentemente escapando à depressão. Mas para a Grécia a questão não é simplesmente a de quebrar uma ligação com o euro. Teria de introduzir um novo dracma. Será que esta nova moeda, emitida por um país em bancarrota, teria qualquer valor de câmbio? Aceitarão os russos libras cipriotas em troca de petróleo, e os americanos dracmas em troca de remédios? A Grécia, ao contrário da Argentina, não é um exportador destacado de matérias-primas com preços crescentes, logo tem pouco em que apoiar a nova moeda. Os gregos podem imprimi-la nas quantidades que quiserem, mas conseguirão eles comprar produtos eléctricos, carros, ou mesmo alimentos produzidos no estrangeiro, com isso?
De qualquer forma a Argentina não escapou à crise por terminar a ligação ao dólar. Guglielmo Carchedi e eu próprio estamos a concluir um artigo (The long roots of the present crisis: Keynesians, Austerians and Marx’s law) que mostrará que não foi a desvalorização com fins de competitividade que restaurou o crescimento da Argentina depois da crise de 2001, mas o incumprimento na dívida pública causada pela anterior destruição do capital produtivo. O recobro da Argentina não foi accionado nem pela desvalorização nem por políticas redistributivas, mas sim pela recriação de capital com baixa composição orgânica no sector privado, previamente destruído; por uma crescente taxa de exploração; por melhoria de eficiência [na utilização de capital]. Esta foi a causa do ressurgir económico da Argentina, e não políticas keynesianas. O projecto euro foi único num aspecto. Foi desenhado para alcançar a integração e convergência dos vários Estados capitalistas europeus mas sem estabelecer uma completa união federal da Europa, com um governo próprio, um orçamento, um conjunto de leis fiscais e um sistema bancário [central único]. Durante algum tempo pareceu funcionar até que a crise veio, embora mesmo durante os anos de crescimento tenha existido mais divergência que convergência [ver http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/pib-portugal-e-os-outros-ii.html ].
Poderá a meia casa do euro sobreviver? Não se está a ir claramente em direcção a uma união federal de Estados europeus, digam o que disserem os cépticos nacionalistas do UKIP e da Front National. Uns estados unidos da Europa sob o capitalismo não estão na agenda. Mas a meia casa poderia arrastar-se se o crescimento económico voltasse. O crescimento, porém, depende do investimento. E o investimento colapsou e não apenas nas economias capitalistas mais fracas da Zona Euro.

 

A figura acima é do 'Greek Default Watch' (http://www.greekdefaultwatch.com/2013/05/the-eurozone-since-2007-in-one-image.html). A primeira coluna mostra o PIB indexado a 100 em 2007. Em 2012 a Zona Euro permaneceu globalmente abaixo do nível de 2007. E a maioria das economias da Zona Euro está ainda abaixo dos níveis de 2007; a Grécia está 21% abaixo. As colunas seguintes mostram a mudança no PIB desde 2007 por sectores de despesa. A queda do PIB é realmente uma consequência da Alemanha crescer (+85 biliões de €) mas sem uma base de suporte que permita compensar os declínios da Itália (-102 biliões de €), Espanha (-40 biliões de €) e Grécia (-42 biliões de €). Grosso modo o declínio da Itália justifica o declínio global da Zona Euro, enquanto os ganhos da Alemanha compensam os declínios da Grécia e Espanha, com o resto da união compensando-se.
A Zona Euro tem um claro problema de investimento: este apenas cresceu num dos 17 países (Luxemburgo). A questão da competitividade externa que os economistas keynesianos da 'saída' enfatizam, tal como os neoclássicos neoliberais, é menos importante. Para os sete países cujo PIB de 2012 foi superior ao de 2007 as exportações fizeram uma grande diferença em apenas três casos; dos dez países cujo PIB decresceu o saldo comercial teve uma contribuição material em sete, mas isso não foi suficiente para compensar o declínio no investimento. Por outras palavras, o problema dos Estados capitalistas mais fracos do Euro não é a competitividade externa, mas o investimento -- é uma crise capitalista bem convencional.
E, tal como mostrei em artigos anteriores, o investimento no capitalismo depende de restaurar a rendibilidade. Porém, com excepção da Irlanda, todas as economias periféricas do Euro ainda têm taxas de lucro muito menores que os respectivos picos antes da crise global do capitalismo ter batido à porta. Com excepção da Itália, a rendibilidade recobrou de facto em 2012, enquanto no caso da Irlanda a rendibilidade inverteu o seu curso já em 2010 [ver figura a abixo].

          

É uma meia casa. A austeridade trabalha mas muito lentamente [a nível da Zona Euro. Em Portugal trabalha aceleradamente na destruição do país.]. Na passada segunda-feira Jörg Asmussen, membro da direcção do BCE, negou que exista uma 'Crise do Euro', embora admitindo que a Europa tem 'uma década de ajustamentos' a fazer. Poderá o projecto Euro sobreviver outros cinco ou mais anos de austeridade? É um projecto meio cheio ou meio vazio de sucesso?
Há uma terceira via de saída da crise da Zona Euro: a opção socialista. Isso implicaria os governos da Zona Euro renegociarem e cancelarem as dívidas públicas devidas aos bancos e a outras instituições financeiras. Para pagar as perdas incorridas pelos bancos seriam usadas as acções e obrigações detidas pelos bancos mais ricos e os 30 maiores bancos da Europa tornar-se-iam propriedade pública. Passariam a fazer parte de um 'New Deal' à escala europeia para iniciar projectos de investimento público que gerassem empregos, habitação e novas tecnologias. Os governos partilhariam rendimentos à escala europeia, de cada um segundo as suas capacidades e a cada um segundo as necessidades, tal como numa verdadeira união política e fiscal baseada na propriedade comum e sob orientação de um plano rectificado democraticamente para o crescimento e o bem-estar.
Claro que uma tal 'Europa Soviética' não está na agenda e é portanto utópica. Mas também a saída da Zona Euro pelos 'Estados oprimidos' não está na agenda de qualquer governo da Zona Euro e nem mesmo dos principais partidos da oposição. Logo, é também 'utópica' com o problema adicional de que não resolveria nada.
[O cerne das nossas divergências com o autor está aqui. Michael Roberts defende uma posição maximalista de que só se vai para o socialismo se forem todos (ou quase). Consideramos isso totalmente utópico porque ahistórico e inexequível. Basta ter em conta a diferença radical de condições económicas e das relações económicas entre Estados -- por exemplo, Portugal neocolonizado pela Alemanha -- e sua influência sobre a premência das tarefas a enfrentar e correlativo amadurecimento de condições objectivas nas massas populares. A concepção maximalista é fruto de uma ideia errada sobre o 'socialismo num só país'. Ora, é perfeitamente exequível e desejável -- logo, não utópico -- para um país como Portugal libertar-se da crise com uma saída socialista do euro. Entendemos, aliás, que tal saída pode perfeitamente vir a perfilar-se a mais curto prazo do que se julga, dada a 'sem saída' da solução capitalista-austeridade. Vale a pena ler, a este propósito, o excelente artigo do economista Eugénio Rosa: http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2012/25-2013-situacao-pos-troika.pdf .]
Os líderes de partidos de esquerda como o Syriza da Grécia, IU da Espanha, Front de Gauche da França, etc., têm-se encontrado para discutir um programa conjunto para as eleições europeias de 2014 (http://www.publico.es/456053/la-izquierda-europea-se-pone-en-marcha-para-conquistar-bruselas). Será que tal programa virá a adoptar a visão que exprimi acima ou não? Se não, então iremos enfrentar anos (décadas?) de mais austeridade.
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sábado, 29 de junho de 2013

PIB: Portugal e os Outros (adenda)

Em «PIB: Portugal e os Outros (II)» (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/pib-portugal-e-os-outros-ii.html) vimos como o PIB de Portugal tem decrescido desde que foram implementadas as políticas de austeridade. Vimos também como a respectiva taxa trimestral de crescimento do PIB tem sido negativa desde o 1.º trimestre de 2011.
Nesta adenda vamos procurar complementar as anteriores constatações olhando para a evolução anual do PIB per capita português conforme se mostra na tabela abaixo.

Evolução anual do PIB per capita de Portugal.

1995
1996
1997
1998
1999
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
PIB per capita (€). Eurostat.
9.000
9.500
10.100
10.800
11.700
15.200
16.000
16.200
15.800
16.200
16.180
15.675
TI=Taxa de inflação (%). INE. (*)
-
3
2,4
2,8
2,3
3,1
2,5
2,6
-0,8
1,4
3,66
2,73
PIB per capita corrigido por TI (€)
9.000
9.215
9.562
9.938
10.519
10.926
11.214
11.059
10.872
10.991
10.576
9.966

(*) Taxa de Variação - Índice de Preços no Consumidor.

A partir da tabela vemos que o valor nominal do PIB per capita em 2012 é aproximadamente igual ao de há 6 anos atrás.
Entretanto, tomando em linha de conta a taxa de inflação, e considerando (por exemplo) 1995 como o ano de referência, constata-se então que o PIB per capita em termos de poder de compra em 2012 é aproximadamente igual ao de há 14 anos atrás (1998).
Isto é:
Dada a baixa evolução do PIB per capita desde 2001 com estagnação a partir de 2006 e decréscimo nos últimos anos com a política de austeridade (ver figura abaixo), em termos de rendimento médio não avançámos nada desde há 14 anos atrás.
Esta constatação constitui um irredutível e inequívoco chumbo das políticas de direita dos sucessivos governos com PS, PSD e CDS, que só têm estado ao serviço do grande capital.

domingo, 16 de junho de 2013

PIB: Portugal e os Outros (II)

Para além dos dados do PIBpc num dado ano (ver Parte I), utilizados na comparação entre países, interessa também, frequentemente, analisar a evolução temporal do PIB de um dado país com vista a detectar certos eventos que afectaram o crescimento económico. A figura abaixo mostra a evolução do PIBpc dos EUA num período dilatado de tempo ([1]). São claramente visíveis três grandes eventos recessivos da economia dos EUA: A Grande Depressão de 1929 a 1933 (e que continuou até 1939), a recessão pós segunda guerra mundial, e a Grande Recessão de 2008-2009 dita da «bolha imobiliária» (que afectou as economias europeias, incluindo a de Portugal). Os eventos recessivos sobrepõem-se a um crescimento sistemático do PIBpc, de tipo exponencial, conforme mostra a curva a azul da figura ([2]).
PIBpc dos EUA de 1820 a 2011 com curva exponencial a azul. Três eventos recessivos assinalados por barras cinzentas.

Por vezes os períodos recessivos patenteados pela curva do PIB ou PIBpc são bem mais dramáticos, como mostra a figura abaixo para o caso da URSS-Rússia. Para além dos eventos recessivos correspondentes às duas guerras mundiais e ao período da guerra civil que se seguiu à Revolução de Outubro, o PIBpc da URSS começou inicialmente a crescer, principalmente depois do fim da segunda guerra mundial. Sofreu a seguir uma desaceleração a partir dos anos oitenta. Em 1989 deparamos com um evento recessivo de amplitude e duração inéditas! Trata-se da enorme recessão dos anos de 1989 a 1998, associada ao desmantelamento da economia planificada e à transição para o capitalismo brutal, de assalto mafioso aos bens do Estado, por parte de antigos homens do Poder, que decorreu durante esses anos e foi divulgado por toda a imprensa diária da época. Em boa verdade a imprensa e outros meios de comunicação subservientes do capitalismo trataram de esconder a proporção do assalto criminoso aos bens do Estado, por parte de amigalhaços dos grandes capitalistas ocidentais, como o «democrata» Yeltsin e a sua camarilha.

PIBpc da Rússia (milhares de GK$1990). As duas barras cinzentas mais à esquerda assinalam recessões associadas às duas guerras mundiais (e à guerra civil no caso da primeira). A barra à direita a espantosa recessão devido à liquidação da economia planificada e transição para o capitalismo com o assalto aos bens do Estado.

Existem também exemplos de países cujo PIBpc em vez de aumentar (de forma exponencial ou de qualquer outra forma), não só não aumenta mas, pelo contrário, diminui quando se consideram longos períodos de tempo. Um desses raros exemplos é o Haiti, cuja evolução do PIBpc de 1945 a 2009 se mostra na figura abaixo.

PIBpc do Haiti em GK$1990.

Vejamos agora a evolução do PIB de Portugal comparada com a dos países da Zona Euro. É sabido que o PIB (e também o PIBpc) tem decrescido desde que foram implementadas as políticas de austeridade. Isso é visível no gráfico abaixo, que mostra também a tendência de estagnação do crescimento económico desde 2001.

PIB de Portugal em dólares de 2000 (Banco Mundial). Zona de estagnação e decrescimento a cinzento.

Analisemos, para os 17 países da zona euro, o valor da razão do PIB no ano final e inicial dos seguintes períodos:
1                    1996 a 2001: 6 anos anteriores à entrada em vigor do euro.
2                    2002 a 2008: 7 anos de vigência do euro, até ao início da Grande Recessão (bolha do «crédito fácil»).
3                    2008 a 2011: 4 anos de vigência do euro  durante a Grande Recessão.
4                    2002 a 2011: 10 anos de vigência do euro.
A tabela abaixo mostra os valores das razões do PIB ¾ respectivamente PIB2001/PIB1996 (período 1), PIB2008/PIB2002 (período 2), PIB2008/PIB2011 (período 3), PIB2011/PIB2002 (período 4) ¾ por ordem decrescente. Os dados do PIB são do Banco Mundial (em dólares de 2000).

País
PIB2001
/
PIB1996
País
PIB2008
/
PIB2002
País
PIB2011
/
PIB2008
País
PIB2011
/
PIB2002
Irlanda
1,505
Eslováquia
1,486
Eslováquia
1.024
Eslováquia
1,521
Estónia
1,388
Estónia
1,415
Alemanha
1.018
Estónia
1,360
Luxemburgo
1,360
Eslovénia
1,292
Bélgica
1.014
Luxemburgo
1,244
Finlândia
1,249
Luxemburgo
1,240
Malta
1.012
Eslovénia
1,185
Espanha
1,238
Grécia
1,233
Áustria
1.008
Finlândia
1,171
Eslovénia
1,226
Irlanda
1,232
Luxemburgo
1.004
Áustria
1,165
Portugal
1,211
Finlândia
1,206
França
1.001
Espanha
1,154
Grécia
1,206
Espanha
1,198
Holanda
0.989
Irlanda
1,149
Holanda
1,202
Áustria
1,156
Chipre
0.984
Bélgica
1,145
Chipre
1,161
Holanda
1,145
Finlândia
0.971
Holanda
1,132
Malta
1,155
Bélgica
1,130
Portugal
0.968
Alemanha
1,118
França
1,152
Chipre
1,122
Itália
0.966
França
1,105
Áustria
1,149
França
1,103
Espanha
0.963
Chipre
1,104
Bélgica
1,144
Alemanha
1,098
Estónia
0.961
Grécia
1,054
Eslováquia
1,144
Itália
1,054
Irlanda
0.933
Portugal
1,019
Itália
1,107
Portugal
1,053
Eslovénia
0.917
Itália
1,019
Valor médio
anual
0,033

0,025

-0,006

0,015
Desvio padrão
0,108

0,119

0.043

0,123

A inspecção da tabela revela, entre outras coisas, o seguinte:
a)      O crescimento médio anual do PIB ¾ média para os 17 países ¾ decresceu com a entrada em vigor do euro. Primeiro de 3,3%/ano para 2,5%/ano, agravando-se a descida a partir de 2008. Nos 10 anos de vigência do euro até 2011 a média de crescimento anual foi de uns míseros 1,5%, sendo que nos últimos 4 anos o crescimento médio anual foi negativo: -0,6%.
b)      A dispersão (desvio padrão) das taxas de crescimento, logo da evolução das economias dos diferentes países, aumentou drasticamente com a entrada em vigor do euro (de 0,108 para 0,123). Em vez de convergência das economias, assistimos à divergência das economias.
c)      Na tabela estão assinalados a amarelo ou laranja os países com crescimento abaixo da média. Se antes do euro a economia portuguesa crescia acima da média (7.º lugar), a situação inverteu-se radicalmente com a entrada de Portugal no euro. Portugal mergulhou (autenticamente!) para último lugar (17.º) no período dos primeiros 6 anos e praticamente estacionou lá: penúltimo lugar, considerando os 10 anos de 2002 a 2011. Isto desmente cabalmente certas fontes da UE que procuram fazer crer que a entrada de Portugal no euro foi benéfica.
d)     Nos 4 anos a seguir ao início da Grande Recessão Portugal teve um crescimento médio negativo de -0,008/ano. Neste mesmo período todos os países assinalados na tabela por uma caixa tiveram crescimentos negativos. Estão todos em recessão ou à beira da recessão.
e)      A recessão (declínio do PIB durante dois ou mais trimestres consecutivos) começou em Portugal no 1.º trimestre de 2011. Conforme mostra a figura abaixo a recessão já se mantém há mais de 9 trimestres consecutivos  sem mostras de abrandar.

Taxa trimestral de crescimento do PIB de Portugal (dados do INE).

Estas constatações só permitem uma leitura:
A entrada de Portugal no euro foi um «mau negócio». Só agravou a evolução da nossa economia e, inclusive, veio a motivar a aplicação de um programa de resgates que tem destruído a economia (nomeadamente o sector produtivo) provocando a maior recessão de que há memória, sem perspectivas de sair dela nos anos mais próximos.
*    *   *
É urgente sair do euro. (Esta é uma ideia que temos vindo há muito a defender e ultimamente tem encontrado mais defensores, inclusive entre os economistas convencionais nacionais e estrangeiros, incluindo um prémio Nobel: Paul Krugman). Essa saída, para não descambar em tragédia, terá obrigatoriamente de ser feita por um governo verdadeiramente de esquerda, com a nacionalização da banca e arresto de bens dos responsáveis pela liquidação do país.
Não sair do euro e arrastar a situação presente corresponde a hipotecar os interesses do país (do povo trabalhador, claro) previsivelmente por mais de uma geração. Neste momento só o grande capital nacional e estrangeiro (em particular o alemão e o holandês) não está nada interessado na saída de Portugal do euro. Além do incumprimento da dívida, com repercussões nos grandes bancos e empresas de investimento financeiro, receiam o efeito de contágio.

 [1] Dados das Estatísticas Históricas de Angus Maddison expressos em dólares Geary-Khamis de 1990 (GK$1990). O dólar Geary-Khamis é uma moeda fictícia permitindo comparar PIBs em PPC. Entre 1820 e 1870 os dados existentes são de 10 em 10 anos, pelo que os valores do gráfico foram interpolados.
[2] A curva ajustada ao PIBpc tem a expressão (1250+10*exp(0,587*sqrt(ano-1820)))/1000.