I
T.D. Lysenko
(1898-1976) foi um cientista soviético do tempo de Estaline difamado e
vilipendiado por tudo que é anti-comunista, quer no Ocidente quer na Rússia
actual. O «caso Lysenko», construído pelos anti-comunistas, tem servido como
meio de atrair académicos para o campo da reacção, debaixo da falsa tese de
que o marxismo-leninismo é hostil à ciência, defende pseudo-ciência, e viola
a liberdade científica impondo aos cientistas o que devem investigar ou o que
é aceitável dos resultados da investigação. Por arrasto, o «caso Lysenko» tem
também servido para difamar Estaline.
Lysenko era um biólogo
e agrónomo. As suas contribuições para as ciências agrárias são múltiplas e
importantes. Lysenko deu enorme ajuda ao salvar a URSS da fome, contribuindo
para a vitória na 2.ª GM. O sucessor de Estaline, o revisionista Krutchev,
cujas medidas na agricultura foram desastrosas e fizeram a URSS dar um salto
atrás nesta área (como noutras), deu rédea solta aos opositores e difamadores
de Lysenko. A difamação de Lysenko e Estaline também serviu para silenciar os
avanços decisivos da ciência soviética no tempo de Estaline -- de que
falaremos num próximo artigo.
A camada de mentiras
acumuladas ao longo de décadas de construção do «caso Lysenko» é tão espessa
que, durante algum tempo, também nos influenciou. Será que tinham razão, as
ásperas críticas académicas de Lysenko? A leitura comparada de múltiplas
fontes pró e contra Lysenko, antigas e actuais, do Ocidente e da Rússia, esclareceu-nos:
no essencial, Lysenko tinha razão, as suas contribuições científicas são
sólidas, e as acusações contra Lysenko não têm qualquer fundamento. É isso
que iremos procurar demonstrar.
II
Trofim Denisovich Lysenko tornou-se membro da
Academia de Ciências da URSS (ACU) em Julho de 1935. Foi director da Academia
Lenine de Ciências Agrárias de Toda a União. Em 1940 foi nomeado director do
Instituto de Genética da ACU, cargo que ocupou até 1965. Distinguiu-se por
várias descobertas, de novos cultivares e novos métodos agrícolas, nomeadamente
[1]:
-- A introdução do método de plantação de batatas cortando o tubérculo em
pequenos pedaços, cada um com um olho e broto, em vez de plantar tubérculos
inteiros. A multiplicação de plantas assim conseguida, bem como o
aproveitamento do resto da batata depois de retirados os pedaços com broto, contribuiu
para salvar a URSS da fome.
-- Em 1936, Lysenko desenvolveu um método de aparar as pontas dos brotos da
planta do algodão (topping) e essa
técnica, que aumentou o rendimento das plantações em 20%, acelerando a
maturação e a qualidade das fibras do algodão, ainda é hoje universalmente
usada em todo o mundo. [2] Desenvolveu também o cultivar melhorado de algodão
Odessa-1.
-- Em 1939, desenvolveu uma nova tecnologia agrícola do cultivo de milhete,
que tornou possível aumentar o rendimento de 800-900 kg por hectare para 1500
kg.
-- Nos anos pré-guerra, Lysenko propôs usar plantações de verão de
batatas nas regiões do sul da URSS para melhorar as suas qualidades varietais.
Propôs também usar cinturas florestais, que protegiam milhões de hectares na
URSS dos ventos secos, e o uso de inimigos naturais de pragas agrícolas em
vez de substâncias químicas tóxicas.
-- Lysenko desenvolveu vários cultivares de cereais mais produtivas que
muito contribuíram para alimentar o povo soviético: trigo de inverno
resistente ao frio e à seca Odessa-3; trigos de primavera Lyutencess-1173 e
Odessa-13; cevada Odessa-14; cevada de primavera Odessa-9. Através de
cruzamentos de trigo com gramíneas perenes, obteve trigos perenes que não
requerem semeadura anual. E através do cruzamento de trigos, obteve uma nova
espécie, triticum sovieticum, com
cinquenta e seis cromossomas. Em 1920-1921 o rendimento médio do trigo na
URSS era de 300-400 kg por hectare; em 1940 era já de 700-800 kg por hectare.
Muitos dos cultivares desenvolvidos por Lysenko ainda hoje alimentam a
Rússia.
-- Lysenko foi o inventor do método da «vernalização», termo que cunhou [3]:
encharcando e submetendo a baixas temperaturas (pouco acima da congelação)
sementes germinadas de variedades de inverno, de trigo e de outras plantas,
tornava-se possível obter colheitas na primavera e com alto rendimento. [4]
Esta técnica é actualmente usada, reconhecida e estudada em todo o mundo, aparecendo
em artigos das prestigiadas revistas científicas Nature, Science, Cell. A Nature mantém uma página sobre a vernalização nos
Latest Research and Reviews. Em 1932, V.I. Vavilov, o então director
do Instituto de Genética – um opositor de Lysenko --, «apressou-se a ir aos
EUA para relatar no Congresso Internacional em Problemas de Genética um novo
método revolucionário: a vernalização». [5]
Vemos, portanto, que as
contribuições de Lysenko foram de enorme importância. Além de permitirem
eliminar a fome do povo soviético fizeram dar um grande passo em frente à
agrobiologia e agricultura soviéticas. Não foi por nada que Lysenko recebeu
um Prémio Estaline e oito prémios Lenine, numa época em que tais prémios não
eram dados por trivialidades. Acrescentemos que Lysenko não era um “cientista
de gabinete” como os seus oponentes. Estava constantemente em campo, testando
as suas ideias e descobertas e interagindo com os trabalhadores. Isso era
indispensável na sua área de trabalho.
A colheita de cereais de
1946 foi má: 39,6 milhões de toneladas, pouco mais de 40% do valor de 1940. Isto
não é de admirar, dadas as terríveis destruições da guerra e perdas em vidas
humanas. Mas logo nos anos seguintes a colheita de cereais, com métodos Lysenko,
aumentou constantemente, atingindo 92,2 milhões de toneladas em 1952: 2,3
vezes o valor de 1946! Após a morte de Estaline em 1953, Krutchev tornou-se
sensível aos opositores de Lysenko, até porque este se opôs ao projecto de Krutchev
das «terras negras» que veio a revelar-se desastroso conforme Lysenko previra.
Substituído por opositores na liderança da agricultura, a produção de cereais
na URSS caiu para 85 milhões de toneladas em 1960 e 70 milhões de toneladas
em 1963, apesar do constante aumento da área de cultivo [6]. A partir de Janeiro
de 1964 a URSS começou a importar cereais.
Lysenko ainda voltou a
ganhar algum respeito logo antes do afastamento de Krutchev devido à sua
investigação em compostagem e criação de vacas produtoras de leite com alto
teor de gordura para manteiga, temas que interessavam a Krutchev, o qual, ao
contrário de Estaline, tinha um estilo não colegial e voluntarioso de fazer
política. Com o afastamento de Krutchev tudo que era anti-comunista no mundo
académico da URSS (incluindo os físicos Landau, Kapitsa e Sakarov),
conjuntamente com professores anti-comunistas dos EUA, caiu em cima de
Lysenko. Teve de deixar o Instituto de Genética [7]. Com a queda de Lysenko a
agricultura na URSS regrediu e veio essencialmente a estagnar e declinar. Em
1981 a produção de cereais na Rússia foi de 73,8 milhões de toneladas pouco
mais do que em 1937, no tempo de Estaline, com 70,4 milhões de toneladas. (Há
que ter em conta o aumento de população e área cultivada.)
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I
T.D. Lysenko
(1898-1976) was a Soviet scientist from Stalin's time slandered and vilified
by everything that is anti-communist, both in the West and in present-day
Russia. The “Lysenko Affair”, engineered by the anti-Communists, has served as
a means of attracting scholars to the field of reaction, under the false
thesis that Marxism-Leninism is hostile to science, defends pseudo-science,
and violates freedom of scientific research by imposing on scientists what
they should investigate or which research results are acceptable. By extension,
the "Lysenko Affair" has served to also defame Stalin.
Lysenko was a
biologist and agronomist. His contributions to the agrarian sciences are
multiple and important. Lysenko gave a major help saving the USSR from famine,
thus contributing to the victory in WWII. The successor of Stalin, the
revisionist Khrushchev, whose agrarian measures were disastrous and cause of
the USSR leap back in this area (as in others), gave free rein to the opponents
and defamers of Lysenko. The defamation of Lysenko and Stalin also served to
silence decisive breakthroughs of Soviet science in the time of Stalin -- of
which we shall write in a following article.
The layer of lies
accumulated over decades of construction of the “Lysenko affair” is so thick
that for some time it also influenced us. Were they right, the harsh scholarly
critics of Lysenko? The comparative reading of multiple sources for and
against Lysenko, old and current, from the West and Russia, clarified us: in
essence Lysenko was right, his scientific contributions are sound, and the
accusations against Lysenko have no basis whatsoever. That’s what we endeavor
to demonstrate below.
II
Trofim Denisovich
Lysenko became a member of the Academy of Sciences of the USSR (ASU) in July
1935. He was director of the Lenin All-Union Academy of Agricultural Sciences.
He was nominated director of the Institute of Genetics of the ASU in 1940 and
served in that post until 1965. He distinguished himself by several discoveries,
of new cultivars and new agrarian methods, namely [1]:
-- Introducing the method of planting potatoes by cutting
the tuber into small pieces, each with an eye and bud, instead of planting
entire tubers. The multiplication of plants thus obtained, as also the use of
what remained from the potato after removing the pieces with buds,
contributed to saving the USSR from famine.
-- Lysenko developed in 1936 a method of trimming the ends
of the cotton plant (topping) and this technique, which increased the yield
of the plantations by 20%, accelerating the maturation and the quality of the
cotton fibers, is still today universally used all over the world. [2] He
also developed the improved cotton cultivar Odessa-1.
-- In 1939, he developed a new agricultural technology of
millet cultivation, which made it possible to increase yield from 800-900 kg
per hectare to 1500 kg.
-- In the prewar years, Lysenko proposed using summer
potato plantations in the southern regions of the USSR to improve their
varietal qualities. He also proposed using forest belts, which protected
millions of hectares in the USSR from dry winds, and the use of natural
enemies of agricultural pests instead of toxic chemicals.
-- Lysenko developed several grain cultivars of improved
yield that greatly contributed to feed the Soviet people: winter wheat
resistant to cold and drought Odessa-3; spring wheat Lyutencess-1173 and
Odessa-13; barley Odessa-14; spring barley Odessa-9. Through wheat crossing
with perennial grasses, he obtained perennial wheat that does not require
annual sowing. And through crossings of wheat, he obtained a new species, triticum sovieticum, with fifty-six
chromosomes. In 1920-1921 the average yield of wheat in the USSR was 300-400
kg per hectare; in 1940 it was already 700-800 kg per hectare. Many of the
cultivars developed by Lysenko still feed Russia today.
-- Lysenko was the inventor of the
"vernalization" method; the term was coined by him [3]: by soaking
and subjecting to low temperatures (just above freezing) germinated seeds of winter
varieties of wheat and other plants, it became possible to harvest them in
spring and with high yield. [4] This technique is currently being used,
recognized and studied around the world, appearing in articles of the
prestigious scientific journals Nature,
Science, and Cell. Nature maintains a page on vernalization in the
Latest Research and Reviews. In 1932, V.I. Vavilov, the then director
of the Institute of Genetics – and an opponent of Lysenko -- "rushed to
the United States to report at the International Congress on the Problems of Genetics
about a new revolutionary method -- vernalization." [5]
We see, therefore,
that Lysenko's contributions were of enormous importance. Besides affording the
elimination of famine of the Soviet people they stood as a great step forward
of Soviet agrobiology and agriculture. It was not for nothing that Lysenko was
awarded a Stalin Prize and eight Lenin prizes, at a time when such prizes
were not awarded for trifles. Let us add that Lysenko was not an “office
scientist” as his opponents. He was constantly in the field, testing his
ideas and discoveries and interacting with workers. This was indispensible in
his line of work.
The grain harvest of
1946 was bad: 39.6 million tons, little more than 40% of the value of 1940.
This is not surprising, given the terrible destruction caused by the war and the
losses in human lives. But soon thereafter, in the following years, the grain
harvest with Lysenko methods steadily increased, reaching 92.2 million tons
in 1952: 2.3 times the value of 1946! After Stalin's death in 1953, Khrushchev
became sensitive to the opponents of Lysenko, among other reasons because the
latter opposed Khrushchev’s project of the "Black Lands", which
proved to be disastrous as Lysenko had foreseen. Replaced by opponents in the
lead of agriculture, grain production in the USSR fell to 85 million tons in
1960 and 70 million tons in 1963, despite the steady increase in cultivated
area [6]. From January 1964 the USSR began to import grain.
Lysenko still regained
some respect just before the ousting of Khrushchev because of his research
into composting and breeding dairy cows with high butter fat, themes of
interest to Khrushchev, who, unlike Stalin, maintained a non-collegial and headstrong
style of doing politics. With the ousting of Khrushchev the hostility of everyone
who was anti-communist in the academic world of the USSR (including the
physicists Landau, Kapitsa and Sakharov), together with anti-communist
professors of the USA, fell upon Lysenko. He had to leave the Institute of
Genetics [7]. With the fall of Lysenko agriculture in the USSR regressed and
came essentially to stagnate and decline. In 1981 grain production in Russia
was 73.8 million tons, little more than it was at the time of Stalin in 1937,
with 70.4 million tons. (One should take into account the increase in
population and cultivated area.)
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III
Nos primeiros anos da
RSFSR e da URSS havia, como noutros países, duas correntes de geneticistas
que se opunham. As duas aceitavam a existência de genes e cromossomas, mas a
forma como operavam era alvo de disputas. Notemos que nessa época a genética
era uma ciência na infância, a estrutura do ADN não tinha sido descoberta e
os biólogos falavam em genes e cromossomas mais ou menos como os físicos e
químicos falavam de átomos antes de ter sido descoberto o electrão e a
radiação alfa e beta do urânio. Quando a teoria dos cromossomas como base da
hereditariedade foi proposta em 1902 (W. Sutton, T. Boveri, E. Wilson) vários
geneticistas famosos dos EUA, Inglaterra e Dinamarca contestaram-na [8].
As duas correntes de
geneticistas eram:
1) A corrente lamarckiana que,
de acordo com Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), defendia na evolução dos
seres vivos a possibilidade de herdar características adquiridas. Note-se que
Lamarck foi pioneiro na proposta materialista de que a evolução biológica ocorreu
e prosseguiu de acordo com leis naturais. Só mais tarde, em 1859, Darwin voltou
a propor essa teoria e então com abundante justificação (no famoso livro A Origem das Espécies"); teoria actualmente demonstrada de
forma exaustiva. Darwin sustentou a selecção natural com base em variações
aleatórias da hereditariedade – as «mutações» -- cuja causa permaneceu
obscura. «Inicialmente, Darwin não concordou com Lamarck … Mas muitos anos
depois da criação da sua teoria… chegou à conclusão de que era impossível
explicar a presença de características adaptativas complexas por variações
aleatórias, adoptou a ideia de Lamarck» [9] e «assumiu a sua
importância na evolução». [10]
2) A corrente mendeliana,
iniciada pelos descobridores dos cromossomas, que se apoiaram na redescoberta
teoria da hereditariedade de G. Mendel (1863). Esta corrente rejeitava a
herança de características adquiridas, sustentando um determinismo rígido na
transmissão genética que só poderia ser violado por mutações aleatórias. Em
1896-1910 o biólogo alemão A. Weismann defendeu que as células germinais, que
transmitem a informação hereditária, são independentes das células somáticas
(do corpo) – barreira de Weismann
--, pelo que o lamarckismo estava errado. [9, 11] O mesmo sustentou o
geneticista americano T. Morgan que estudou os cromossomas da mosca da fruta
(ganhando o Prémio Nobel em 1933). Os mendelianos-weismannistas-morganistas
passaram a considerar o lamarckismo como pseudo-ciência. Quase todo o século
XX foi dominado pelo dogma da barreira de Weismann, que protegia as células
generativas da influência de outras estruturas do corpo, correspondendo ao
princípio da "pureza dos gâmetas" expresso por Mendel. [9]
Na URSS, N.I. Vavilov
-- que tinha estado em 1921 no Canadá e EUA, e passado aqui algum tempo com
T. Morgan -- era o mais influente geneticista e líder da corrente maioritária
mendeliana-weismannista-morganista. Maioritária
em apoiantes (incluindo quadros do PCUS, Partido Comunista da União
Soviética), investigadores e meios. Vavilov tinha muitas relações com o
Ocidente e recebeu repetidas visitas de geneticistas de topo dos EUA
(1933-37). Fez também várias visitas ao estrangeiro (além do Canadá e EUA,
América Latina, China, Japão, etc.) Antecessor de Lysenko como director do Instituto
de Genética, Vavilov opôs-se-lhe com sucesso. Os contactos que fez no
estrangeiro granjearam-lhe inúmeros apoios de geneticistas estrangeiros na
sua oposição a Lysenko.
Lysenko representava na
URSS a corrente lamarckiana, dita «de Michurin», do nome de Ivan Michurin
(1855-1935) um agrobiólogo russo famoso pelas muitas variedades de frutos que
desenvolveu usando técnicas de hibridização combinadas com modificações de
condições ambientais. Para Michurin a obtenção de híbridos era o primeiro
passo a que se seguia o passo decisivo de expor os híbridos a condições
ambientais que alterassem o organismo na direcção desejada. Em 1896, um
representante do Instituto Agrícola de Washington visitou Michurin e trouxe
para os EUA uma colecção de frutos Michurin. Numa entrevista, disse «Se
Michurin estivesse na América fá-lo-iam rico». Nos anos 1911-13 o
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, sabendo do trabalho excepcional
de Michurin propôs-lhe repetidamente que emigrasse para a América, ou que
pelo menos vendesse toda a colecção das suas variedades, formas iniciais, e
híbridos, em termos favoráveis. Michurin, um bolchevique firme, recusou todas
as propostas. (Mais detalhes em [12].)
Note-se que, ao
contrário do que muitas vezes os caluniadores de Lysenko afirmam ou insinuam,
a corrente lamarckiana de Lysenko não era um fenómeno exclusivo da URSS.
Vários biólogos de outros países sustentavam a influência do meio na
transmissão hereditária de caracteres, nomeadamente o botânico britânico
George Henslow (1835-1925), que estudou os efeitos do stress ambiental no
crescimento de plantas, e o entomologista americano Alpheus S. Packard Jr.
que estudou animais cegos que vivem em cavernas e escreveu um livro em 1901
sobre Lamarck e o seu trabalho. [12]
O que foi específico da
URSS, foi que num período extremamente crítico deste país -- atacado por todos
os lados e tendo sofrido a guerra mais destruidora da história – Lysenko e
seus associados deram uma enorme contribuição, como já vimos, para alimentar
o povo e salvar o país. Quanto à
corrente dominante mendeliana-weismannista-morganista encabeçada por Vavilov,
apesar de também ter tido a incumbência de contribuir para alimentar o povo,
teve uma contribuição nula.
|
III
In
the early years of the RSFSR and the USSR there were, as in other countries,
two contending schools of geneticists. The two accepted the existence of
genes and chromosomes, but the way they operated was the subject of disputes.
Note that at that time genetics was a science in its infancy, the DNA
structure had not been discovered and biologists talked about genes and
chromosomes more or less as physicists and chemists talked about atoms before
the discovery of the electron and the alpha and beta radiation of uranium.
When chromosome theory as the basis of heredity was proposed in 1902 (W.
Sutton, T. Boveri, E. Wilson) several famous geneticists from the
The
two schools of geneticists were:
1) The Lamarckian school, following Jean-Baptiste Lamarck
(1744-1829), defended the possibility of inheriting acquired characteristics
in the evolution of living beings. It should here be noted that Lamarck
pioneered the materialist proposition that biological evolution occurred and
proceeded according to natural laws. It was only later, in 1859, that Darwin
again proposed this theory and then with abundant justification (in the
famous book On the Origin of Species);
a theory that has been exhaustively demonstrated. Darwin upheld natural
selection on the basis of random variations of heredity -- the
"mutations" -- whose cause remained obscure. "Darwin initially
did not agree with Lamarck … However, many years after the creation of his
theory… [he] came to the conclusion that it was impossible to explain the presence of complex adaptive characteristics
by random variations, adopted the idea of Lamarck” [9] and “assumed that it was of
importance in evolution” [10].
2) The Mendelian school, initiated by the discoverers of the
chromosomes, who based themselves on the rediscovered theory of the heredity by
G. Mendel (1863). This school rejected the inheritance of acquired
characteristics, sustaining a rigid determinism in genetic transmission that
could only be violated by random mutations. In 1896-1910 the German biologist
A. Weismann argued that germ cells, which transmit hereditary information,
are independent of somatic (body) cells -- Weismann's barrier --, therefore Lamarckism was wrong. [9, 11]
The same was maintained by the American geneticist T. Morgan who studied the
chromosomes of the fruit fly (winning the Nobel Prize in 1933). The
Mendelian-Weismannist-Morganists came to regard Lamarckism as pseudo-science.
Almost the entire twentieth century was dominated by the Weismann barrier
dogma, which protected the generative cells from the influence of other
structures of the body, corresponding to Mendel's principle of "purity
of gametes ". [9]
In
the USSR, N.I. Vavilov -- who had been in Canada and US in 1921, having spent
some time here with T. Morgan -- was the most influential geneticist and
leader of the majority Mendelian-Weismannian-Morganist current. Majority in
supporters (including cadres of the CPSU, Communist Party of the Soviet
Union), researchers and resources. Vavilov entertained many relationships
with the West and received repeated visits from top US geneticists (1933-37).
He also made several visits abroad (besides Canada and US, also Latin
America, China, Japan, etc.). Predecessor of Lysenko as director of the
Institute of Genetics, Vavilov successfully opposed him. The contacts he made
abroad gained him numerous supporters from foreign geneticists in his
opposition to Lysenko.
Lysenko
represented in the USSR the Lamarckian school, called "Michurin’s school,"
after the name of Ivan Michurin (1855-1935), a Russian agrobiologist famous
for the many varieties of fruits he developed using hybridization techniques
combined with modifications of environmental conditions. For Michurin,
obtaining hybrids was only the first step which had to be followed by the
decisive step of exposing the hybrids to environmental conditions that
altered the organism in the desired direction. In 1896, a representative of
the Washington Agricultural Institute visited Michurin and brought to the US
a collection of Michurin fruits. In an interview, he said "If Michurin
were in America they would have made him rich." In the years 1911-13,
the United States Department of Agriculture, knowing of Michurin's outstanding
work, repeatedly proposed that he emigrated to America, or at least sell the
entire collection of his varieties, initial forms, and hybrids on favorable
terms . Michurin, a firm Bolshevik, declined all proposals. (More details in
[12].)
It
should be noted here that, contrary to what the slanderers of Lysenko often
affirm or imply, Lysenko's Lamarckian current was not a phenomenon unique to
the
What
was specific to the USSR was that in an extremely critical period of this
country -- attacked on all sides and having suffered the most destructive war
in history -- Lysenko and his associates made an enormous contribution, as we
have mentioned, to feed the people and save the country. As for the
mainstream Mendelian-Weismannist-Mänganist school, led by Vavilov, in spite
of the fact that it also had the task of contributing to feed the people, it
made no contribution to that end.
|
IV
A informação dominante,
pró-capitalista, tanto no Ocidente como na Rússia, insiste na mensagem de que
a disputa entre Lysenko e Vavilov era política, de estalinistas vs.
anti-estalinistas (ver, p ex., a concordância neste aspecto da wikipedia em
inglês e em russo). É falso. As únicas críticas que Lysenko formulou
contra a corrente mendeliana-weismannista-morganista foram de natureza
científica e não política. Além
disso, Lysenko nunca foi membro do PCUS.
[13]
Está também muito
difundida na informação dominante que Lysenko negava a existência de genes e
cromossomas. É falso. Lysenko critica Weismann e Morgan, não por defenderem o
papel de genes e cromossomas na hereditariedade, mas por defenderem esse
papel de forma idealista e metafísica. Lysenko apresentou as suas razões em
duas importantes conferências científicas. Conferências abertas, em 1939 [14]
e 1948 [15], onde os seus opositores estavam presentes (e em larga maioria,
pelo menos em 1939) e puderam intervir e interrompê-lo. As razões que Lysenko
apresentou são sólidas e esmagadoras.
Na Conferência de 1948,
Lysenko começa por apontar que Weismann dizia que «os cromossomas
representam, por assim dizer, um mundo separado», independente do organismo e
das suas condições de vida e, ao fazer esta separação, asseverava que «o plasma germinativo nunca é gerado de
novo; só cresce e multiplica-se continuamente, transmitido de geração em
geração» (ênfase nossa). O corpo vivo e as suas células eram apenas o
recipiente e meio nutritivo da «substância hereditária».
Esta teoria foi
reforçada por Morgan e seguidores, desembocando na ideia dos cromossomas como
uma «substância hereditária», um «plasma germinativo» imortal e inexaustível.
Em 1945 Morgan escreveu: «As células germinativas tornam-se mais tarde as
partes essenciais do ovário e dos testículos, respectivamente. Na origem,
portanto, elas são independentes do
resto do corpo e nunca foram parte constituinte dele... A evolução é de
origem germinal e não somática como havia sido ensinado anteriormente» (ênfase
de Lysenko).
Prossigamos com outras
citações de weismannistas-morganistas que Lysenko apresentou nessa
Conferência. Desenvolvendo o idealismo do «plasma germinativo» imortal, um
cientista americano escreveu em 1945: «Na
realidade, o pai não produz o filho, nem mesmo a célula reprodutiva que está
na sua origem. O pai é ele mesmo apenas um subproduto do ovo fertilizado (ou
zigoto) do qual ele surgiu. ... Este princípio da "continuidade da
substância germinal" … é um dos princípios fundamentais da genética.
Mostra porque razão as mudanças corporais produzidas num pai por influências
ambientais não são herdadas É porque a prole não é o produto do corpo do pai,
mas apenas da substância germinativa que esse corpo abriga» (ênfase nossa).
M. Zavadovsky,
professor de biologia na Universidade de Moscovo na época de Lysenko, escreveu:
«As células germinativas e as células do soma devem ser consideradas não como
gerações filhas e paternas, mas como irmãs gémeas, das quais uma (o soma) é a
alimentadora, protectora e guardiã da outra». O geneticista russo, N.
Koltzov, asseverou que «Quimicamente, o genoma com os seus genes permanece
inalterado no decurso de toda a ovogénese e não está sujeito a processos metabólicos - oxidantes e
restauradores.» (ênfase nossa). Um «plasma», portanto, imortal e divino.
O conhecido físico (e
religioso) Erwin Schroedinger, na sua incursão na biologia no livro O que é a vida?, extasiado pela
teoria idealista de Weismann-Morgan de um «plasma germinativo imortal» tira a
conclusão que se impunha: «... o eu pessoal é igual ao ser eterno, abrangente
e omnipresente», considerando esta conclusão como «o mais próximo que um
biólogo pode chegar a provar Deus e a imortalidade de uma só vez».
Para concluir, o já
mencionado Zavadovsky, sustentando-se em Weismann-Morgan, encontrou a
resposta definitiva de um eterno problema metafísico, explicando assim o
«conteúdo principal» da genética de Weismann-Morgan: "O que surgiu
primeiro, o ovo da galinha ou a galinha? À questão colocada assim, com toda a
nitidez, Weismann deu uma resposta explícita e categórica: o ovo».
Na Conferência de 1939
Lysenko critica o facto de nas muitas estações de selecção da URSS não se
comparar o desempenho de sementes de elite com as comuns, porque «… de acordo
com a genética de Mendel-Morgan ... qualquer semente de plantas
auto-polinizadoras dentro dos limites de uma única variedade é semelhante em
relação à sua herança (genótipo), independentemente das condições de cultivo…
De acordo com essa pseudo-ciência, boas técnicas agrárias não podem melhorar
a natureza da planta e as ruins não podem deteriorá-la. … O próprio
posicionamento da questão quanto à necessidade de uma comparação… foi e é
considerado pelos mendelianos não científico e inculto». [16] Aponta também a
posição dúbia de muitos mendelianos: «…um grupo de camaradas que compartilham
os pontos de vista do mendelismo manteve em discussões informais que nenhum
mendeliano nega a necessidade da aplicação de agro-técnicas sólidas, a
aplicação de fertilizantes, etc. ... Já esqueceram que N. I. Vavilov declarou
deste mesmo pódio que a ciência genética "mundial" não reconhece a
possibilidade de mudar, de melhorar a casta de sementes por meio de técnicas
agrícolas…».
Outro aspecto também
criticado por Lysenko na Conferência de 1948 era a esterilidade do trabalho
dos seus opositores. Tinham tido contribuição nula nas práticas agrícolas
quer nas plantas quer nos animais. Menciona contribuições que os opositores
reivindicam ser suas mas não o são e o caso de N. Dubinin, Professor de
biologia e associado de Vavilov, que durante e logo após a guerra passou o
tempo a estudar a hereditariedade das moscas da fruta na cidade de Voronej e
arredores. Lysenko comenta: «…Dubinin, como vemos, escreve de maneira que,
superficialmente, a sua obra até pode parecer científica para alguns… Mas se pusermos
tudo em termos mais simples, removendo o palavreado pseudo-científico e
substituindo o jargão morganista por palavras russas comuns, chegaríamos ao
seguinte: como resultado de muitos anos de esforço, Dubinin
"enriqueceu" a ciência com a "descoberta" de que durante
a guerra ocorreu entre a população de moscas da fruta da cidade de Voronej e
arredores um aumento na percentagem de moscas com certas estruturas
cromossómicas e uma diminuição da percentagem de moscas com outras estruturas
cromossómicas».
São de assinalar as
seguintes palavras do editor americano da Conferência de 1939: «Em vista das
acusações, frequentemente ouvidas nos Estados Unidos, de que o governo
soviético usa a sua autoridade para cercear as disputas científicas, é
interessante notar que a presente conferência foi convocada pelos editores da
revista Pod znamenem marksizma [Sob
a bandeira do marxismo] para que todos tivessem a oportunidade de apresentar a
sua posição». Após queixar-se dos «relatórios totalmente inadequados, muitas
vezes completamente distorcidos, da controvérsia genética na União Soviética,
que apareceram nos nossos jornais e revistas científicas», o editor conclui: «É
de esperar ... que com um conhecimento mais aprofundado da questão e
evidência sobre o caso, eles [jornais e revistas científicas] estarão menos
inclinados a injectar supostos motivos políticos numa controvérsia científica».
|
IV
The
mainstream, pro-capitalist information, both in the West and in Russia,
insists on the message that the dispute between Lysenko and Vavilov was a political
one, Stalinist v. anti-Stalinists (see, e.g., the concordance in this aspect
of wikipedia in English and Russian). This is false. The only criticisms that Lysenko made against the
Mendelian-Weismannist-Morganist school were of a scientific rather than of a
political nature. Moreover, Lysenko
was never a member of the CPSU. [13]
It
is also widespread in the mainstream information that Lysenko denied the
existence of genes and chromosomes. This is false. Lysenko criticizes
Weismann and Morgan, not for defending the role of genes and chromosomes in
heredity, but for defending this role in an idealistic and metaphysical way.
Lysenko presented his reasons in two important scientific conferences. The open
conferences in 1939 [14] and 1948 [15], where his opponents were present (and
in large majority, at least in 1939) and were able to intervene and interrupt
him. The reasons that Lysenko presented are solid and overwhelming.
At
the 1948 Conference, Lysenko begins by pointing out that Weismann said that
"chromosomes represent, as it were, a separate world," independent
of the organism and its living conditions, and in making this separation
asserted that "the germ-plasm is never
generated again; it only grows and multiplies continually, handed down
from generation to generation" (our emphasis). The living body and its
cells were only the container and nutritive medium of the "hereditary
substance".
This
theory was reinforced by Morgan and followers, leading to the idea of chromosomes
as a "hereditary substance", an immortal and inexhaustible
"germ-plasm." In 1945 Morgan wrote: "The germ-cells become
later the essential parts of the ovary and testis respectively. In origin,
therefore, they are independent of the rest of the body and have never
been a constituent part of it.... Evolution is germinal in origin and not
somatic as had been earlier taught" (Lysenko's emphasis).
Let
us proceed with other quotations of Weismannists-Morganists that Lysenko
presented at that Conference. Developing the idealism of the immortal “germ-plasm”,
an American scientist wrote in 1945: "In reality the parent does not produce the child nor even the
reproductive cell which functions in its origin. The parent is himself merely
a by-product of the fertilised egg (or zygote) out of which he arose… This
principle of the 'continuity of the germinal substance' … is one of the
foundation principles of genetics. It shows why body changes produced in a
parent by environmental influences are not inherited by the offspring. It is
because offspring are not the product of the parent's body but only of the
germinal substance which that body harbours" (our emphasis).
M.
Zavadovsky, a professor of biology at
The
well-known (religious) physicist Erwin Schroedinger, in his foray into
biology in the book What is Life ?,
entranced by Weismann-Morgan's idealist theory of an "immortal germ-plasm"
arrives at the conclusion begging to be drawn: "... the personal self
equals omnipresent, all-comprehending eternal self", considering this conclusion
as "the closest a biologist can get to proving God and immortality at one
stroke."
To
conclude, the aforementioned Zavadovsky, based on Weismann-Morgan, found the
definitive answer to an eternal metaphysical problem, by explaining in this way
the "main content" of Weismann-Morgan's genetics: "What came
first, the hen’s egg or the hen? To the question posed thus sharply Weismann
gave an explicit, categorical reply: the egg."
At
the 1939 Conference Lysenko criticizes the fact that in many selection
stations in the USSR the performance of elite seeds is not compared with the
common ones because "... according to Mendel-Morgan genetics ... any
seeds of self- pollinating plants within the limits of a single variety are alike
with respect to their inheritance (genotype) regardless of the conditions of cultivation
... According to this pseudo-science, good agro-techniques cannot improve and
bad ones cannot deteriorate the nature of the plant ... The very posing of
the question as to the necessity of a comparison ... was and is considered
unscientific, illiterate, by the Mendelians». [16] He also points out the
dubious position of many Mendelians: "... a group of comrades who share
the views of Mendelism have maintained in informal discussions that no
Mendelian denies the necessity of the application of sound agro-techniques,
the application of fertilizers, etc. ... They have already forgotten that N.
I. Vavilov declared from this very platform that "world" genetic
science does not recognize the possibility of changing, improving the breed
of seed by means of agro-techniques…".
Another
aspect also criticized by Lysenko at the 1948 Conference was the sterility of
the work of his opponents. They had made no contribution to agricultural
practices either in plants or animals. He mentions contributions the
opponents had claimed to be theirs but were not, and the case of N. Dubinin,
Professor of biology and an associate of Vavilov, who during and shortly
after the war spent time studying the heredity of fruit flies in the city of
Voronezh and surroundings. Lysenko comments: "… Dubinin, as we see,
writes so that on the surface his work may appear to some to be even
scientific... But if we were to put it all in plainer terms, stripping it of
the pseudo-scientific verbiage and replacing the Morganist jargon with
ordinary Russian words, we would arrive at the following: as the result of
many years of effort, Dubinin "enriched" science with the
"discovery" that during war there occurred among the fruit-fly
population of the city of Voronezh and its environs an increase in the
percentage of flies with certain chromosome structures and a decrease in the
percentage of flies with other chromosome structures.”
The
following words from the American publisher of the 1939 Conference are to be marked:
"In view of the charges, frequently heard in the United States, that the
Soviet government uses its authority to curtail scientific disputes, it is
interesting to note that the present conference was called by the editors of
the magazine Under the banner of
Marxism [Pod znamenem marksizma]
in order that everyone would have the opportunity to present his case". Having
complained about the "wholly inadequate, often completely distorted,
reports of the genetic controversy in the Soviet Union that have appeared in
our newspapers and scientific journals," the publisher concludes:
"It is to be hoped ... that with further knowledge of the issue and
evidence in the case, they [newspapers and scientific journals] will be less
inclined than heretofore to inject suppositious political motives into a
scientific controversy."
|
V
A acusação principal contra
Lysenko, lançada primeiro pelos mendelianos-weismannistas-morganistas,
seguidos depois por tudo que era anti-Estaline, isto é, anti-comunista
(principalmente nos meios académicos), era a de ser defensor do lamarckismo,
da hereditariedade de caracteres adquiridos. O que há a dizer sobre esta
acusação?
-- Em 1930-40 descobriu-se pela primeira vez que os genes sofrem
modificações sob influência de raios X e compostos químicos que podiam ser
transmitidas à descendência. Os mendelianos passaram a reconhecer mutações
deste tipo, mas a forma como encaravam as mutações conduzia a conclusões
aberrantes, como a do biólogo russo I. Schmalhausen que defendia a ideia da
«selecção estabilizadora»: «a formação de castas e linhagens segue --
presumivelmente inevitavelmente -- uma curva de retrocesso: a formação de
castas e linhagens, tempestuosa no alvorecer da civilização, cada vez mais consome
a sua "reserva de mutações" e gradualmente recua». [15]
-- Com a descoberta da estrutura do ADN em 1953 e a do RNA mensageiro no
final dos anos 50, a hipótese de Weismann foi modificada na forma de «dogma
central» da biologia molecular: fluxo unidireccional de informação DNA ->
RNA -> proteína. O que equivale a dizer que é o DNA do zigoto que determina
o «soma» (corpo), sendo proibido o fluxo inverso de informação. Porém, nos
finais dos anos 50, o geneticista americano G. Temin propôs a explicação DNA <-
RNA para certas observações,
confirmada em 1970 com a descoberta da enzima «transcriptase reversa». O
dogma passou a ser: DNA <-> RNA -> proteína. Entretanto, alguns
investigadores já tinham chegado à conclusão de que em certos casos o RNA podia
ser modificado por factores externos, correspondendo a: DNA <-> RNA
<-> proteína. Isto é, ausência de barreiras à transmissão de
informação. [9, 10]
-- Em 1962 vários grupos de investigação provaram que concentrações
específicas de certos nutrientes minerais ou a temperatura podem fazer com
que as plantas cresçam de forma diferente e que estas alterações são transmitidas
à descendência e permanecem estáveis por várias gerações. Isto é, foi
confirmado aquilo que Lysenko já sabia empiricamente ao inventar a
vernalização. Em 1999 foi demonstrado que existia um mecanismo de
hereditariedade de caracteres adquiridos em certos animais com diferenciação
tardia das células germinais (p. ex. em moluscos) [9]. Em 2005, as
modificações do DNA associadas a mudanças induzidas pelo ambiente foram
extensivamente caracterizadas. [10]
-- Actualmente, a confirmação da hereditariedade de caracteres adquiridos
por influência do meio ambiente, em determinadas circunstâncias, está bem
estabelecida, os mecanismos que permitem essa transmissão estão em grande
parte compreendidos e o tema é objecto de investigação activa. Indicamos em
[17] vários artigos sobre o assunto. A selecção natural actua não só sobre
variações obtidas por mutações como por influência do meio ambiente.
Em suma, Lamarck tinha
razão, como afirma o título de um trabalho de 2017, «Lamarck levanta-se do
túmulo» (Yan Wang et al., op. cit. in
[17]). Com Lamarck levantam-se também Michurin e Lysenko. Muitos dos artigos
sobre este tema avaliam Lysenko de forma positiva, ainda que por vezes tímida
(receio de conotação política?) [18]. O geneticista americano Otto Landman escreveu em 1993
[17]: «o confronto e vituperação gerados pelo caso Lysenko efectivamente
silenciaram a discussão da herança adquirida».
Conclusão: a principal acusação contra Lysenko não
tem qualquer fundamento.
É certo que Lysenko não
explicou teoricamente a hereditariedade de caracteres adquiridos. Nem podia
fazê-lo (tal como os oponentes não podiam refutar!) porque no seu tempo não
havia bases teóricas nem meios técnicos para o fazer. Para dar um exemplo, na
década de 1930 a distinção entre DNA e RNA ainda era mal conhecida; julgava-se
que o RNA ocorria apenas em plantas e o DNA apenas em animais. Mas Lysenko
observara em inúmeros exemplos (nisto, não diferia de Darwin), que a
hereditariedade de caracteres adquiridos ocorria e era a única explicação
possível para as observações. Foi mais longe que os opositores que não
explicavam nada e fechavam os olhos às observações, como no caso das
enxertias em que os seus opositores negavam contra montanhas de evidência a
obtenção de híbridos com alterações transmitidas por hereditariedade [19].
Lysenko também tem o mérito de, ao sustentar a hereditariedade de caracteres
adquiridos, ter seguido os princípios metodológicos que caracterizam toda a
ciência: ser materialista (isto é, basear-se na realidade concreta, material)
e ser dialéctica (isto é, ter em conta que toda a matéria muda, está em
movimento). A alternativa Weismann-Morgan era, pelo contrário, como vimos,
idealista e metafísica.
IV
Outras acusações usuais
contra Lysenko, são:
-- Lysenko negava a existência de cromossomas.
Falso. Na Conferência
de 1939, a uma interrupção de um participante quando falava de híbridos por
enxertia, Lysenko respondeu: «Quando disse eu ou escrevi que não é necessário
estudar a membrana da célula ou os cromossomas? Quem de nós disse que não é
necessário estudar os cromossomas?... Relativamente aos cromossomas, direi
apenas que quaisquer propriedades hereditárias podem ser transmitidas de uma
casta para outra, mesmo sem a transmissão imediata dos cromossomas [como nos
enxertos]. Nenhum de nós disse ou diz que os cromossomas não desempenham um
grande papel biológico na hereditariedade. Mas o morganismo-mendelismo
proibiu o estudo do papel biológico dos cromossomas. Transformaram a
citologia em citogenética, isto é, em vez de estudar a célula como tal, os
morganistas reduziram tudo à contagem e morfologia dos cromossomas. O estudo
do papel biológico e significância dos cromossomas é um assunto muito
necessário; como presidente da Academia V.I. Lenine de Ciências Agrárias devo
ajudá-lo de todas as formas».
-- Lysenko negava a existência de genes.
Esta acusação é
disparatada. Lysenko não negava a existência de genes já que também não
negava a existência de cromossomas. O que Lysenko negava era o conceito
metafísico de genes e cromossomas não modificáveis. Lysenko tinha uma alta
opinião da genética e por isso mesmo foi director do Instituto de Genética.
Lysenko disse assim em 1939 [14]: «A genética é uma parte interessante e de importância
prática da agrobiologia. É a ciência das regularidades da hereditariedade e da
variação de organismos vegetais e animais. Quanto mais, e mais
verdadeiramente, descobrirmos essas leis, ou seja, quanto melhor dominarmos
na prática o desenvolvimento do organismo, mais rápida e radicalmente seremos
capazes de melhorar e adaptar a natureza viva, as variedades de plantas, as castas
de animais».
Uma fonte (Johansen, op. cit. in [1]) cita a seguinte
apreciação de um líder soviético: «Tive que me encontrar com Lysenko muitas
vezes. Não houve um único ataque nas palestras do académico contra a genética
como ciência. Houve uma crítica às posições de alguns cientistas genéticos, de
que ele não compartilhava, talvez ele se tenha enganado sobre algo, mas isso
é discutível»
-- Lysenko negava as leis de Mendel.
Lysenko não negava as
leis de Mendel, mas achava-as sem utilidade prática.
Nos argumentos mais
eruditos de suporte a esta tese, aponta-se o artigo do célebre matemático
russo A.N. Kolmogorov, Sobre uma nova
confirmação das leis de Mendel [20]. Nele, Kolmogorov deduz as fórmulas
matemáticas de percentagens de indivíduos com variante dominante de um gene
em n gerações. Usa para tal a
distribuição probabilística que satisfaz a regra mendeliana (3:1)n. [21] Kolmogorov compara
os valores teóricos das percentagens (totais em dois intervalos da
distriuição) com os observados nos dados empíricos de uma investigadora russa
(observações em 98 e 123 famílias de plantas) e constata a proximidade de
valores.
Kolmogorov considera
que, para além da lei determinística, 3:1, a que chama «factor interno» da
biologia, existem inúmeras «factores externos» (p. ex., «qual dos grãos de
pólen cairá sobre o estigma») que agem aleatoriamente, o que justifica o
modelo probabilístico usado. Também assume que «as probabilidades correspondentes
a qualquer uma destas … combinações possíveis [de genes] são iguais»,
acrescentando: «biologicamente, esta suposição significa igualdade de
viabilidade dos gâmetas, ausência de fertilização selectiva e igual
viabilidade… dos indivíduos [gerados]». Sobre esta assunção, a que chama
«hipótese de independência», diz que «há um número de exemplos firmemente
estabelecidos de desvios desta hipótese, às vezes quantitativamente
insignificantes e outras vezes muito grandes». Nota que quanto a isto, a
escola mendeliana segue a «hipótese de independência», mas não a de Lysenko
para quem «fertilização selectiva e desigual viabilidade desempenham em todo o
lado um papel tão decisivo que as considerações baseadas na hipótese de
independência são infrutíferas…».
Em suma, o que
Kolmogorov prova no referido artigo é que, a regra 3.1 se aplica ao conjunto de dados que analisou, e que se assume
satisfazer às condições da “hipótese da independência”. Deixando de lado
o factor de aleatoriedade, é semelhante a alguém verificar a lei da gravidade
para um conjunto de corpos em queda no vácuo, isto é, sob a «independência»
de ausência de resistência do ar, ventos, etc. Desta forma, Kolmogorov de
modo nenhum invalida a «escola Lysenko», baseada precisamente em dados
obtidos por métodos que violam a «hipótese da independência».
Lysenko responde a
Kolmogorov com um artigo curto [22]. O
argumento principal que apresenta não é o da negação das leis de Mendel, mas
sim a sua inutilidade prática. Ilustra isso com um exemplo. Revela, porém,
pouca compreensão do artigo de Kolmogorov como ele próprio explica [23].
Note-se que já Haldane
(op. cit. in [1[) tinha criticado a
regra 3:1 de Mendel: «Embora a relação de três para um seja esperada de
acordo com as leis da genética formal, é muito raramente obtida com exactidão
total. Se as plantas ou animais fossem sempre produzidos em proporções exactamente
mendelianas, haveria um equilíbrio perpétuo nas populações híbridas». O
próprio Vavilov, opositor de Lysenko, também expressou dúvidas sobre Mendel!
[24]
|
V
The
main accusation against Lysenko, first launched by the
Mendelian-Weismann-Morganists, followed afterwards by everything that was
anti-Stalin, i.e., anti-communist (especially in academic circles), was of
being a defender of Lamarckism, of the inheritance of acquired traits. What
is there to say about this accusation?
-- In 1930-40 it was first
discovered that genes undergo changes under the influence of X-rays and
chemical compounds that could be transmitted to offspring. Mendelians came to
recognize mutations of this kind, but the way they looked at mutations led to
aberrant conclusions, such as the one of the Russian biologist I.
Schmalhausen who advocated the idea of “stabilizing selection”: 'The
formation of breeds and strains proceeds -- presumably inevitably --- in a receding
curve: the formation of breeds and strains, stormy at the dawn of
civilization, increasingly expends its ‘reserve of mutations’ and gradually
recedes.” [15]
-- With the discovery of the DNA
structure in 1953 and that of messenger RNA in the late 1950s, Weismann's
hypothesis was modified in the form of the "central dogma" of
molecular biology: unidirectional flow of information DNA -> RNA ->
protein. This amounted to saying that it is the zygote's DNA that determines
the "soma" (body), and the inverse flow of information is
prohibited. However, in the late 1950s, the American geneticist G. Temin
proposed the DNA <- RNA explanation for certain observations, confirmed in
1970 with the discovery of the enzyme "reverse transcriptase".
enzyme "reverse transcriptase" The dogma became: DNA <-> RNA
-> protein. Meanwhile, some investigators had already reached the
conclusion that in some cases RNA could be modified by external factors,
corresponding to: DNA <-> RNA <-> protein. In other words,
absence of barriers to the transmission of information. [9, 10]
-- In 1962 several research groups
proved that specific concentrations of certain mineral nutrients or
temperature can cause plants to grow differently and that these changes are
transmitted to progeny and remain stable for several generations. That is, they
confirmed what Lysenko already knew empirically when inventing the vernalization.
In 1999 it was shown that there was a mechanism of inheritance of characters
acquired in certain animals with late differentiation of germ cells (e.g. in
molluscs) [9]. In 2005, the DNA modifications associated with changes induced
by the environment were extensively characterized. [10]
-- At present, confirmation of inheritance
of characteristics acquired by influence of the environment in certain
circumstances is well established, the mechanisms allowing such transmission
are largely understood and the subject is a theme of active research. We
indicate in [17] several articles on the subject. Natural selection acts not
only on variations obtained by mutations but also on those obtained by
influence of the environment.
In
short, Lamarck was right, as the title of a 2017 paper states, "Lamarck
rises from his grave" (Yan Wang et
al., op. cit. in [17]). With
Lamarck also rise Michurin and Lysenko. Many of the articles on this subject
assess Lysenko in a positive way, albeit sometimes in a timid way (fear of
political connotation?) [18]. The American geneticist Otto Landman wrote in
1993 [17]: "The confrontation and vituperation generated by the Lysenko
affair effectively silenced the discussion of acquired inheritance."
Conclusion: the main accusation
against Lysenko has no basis whatsoever.
It
is true that Lysenko did not theoretically explain the inheritance of
acquired characters. Nor could he do it (likewise, his opponents could not
refute it!) because in his time there were no theoretical bases or technical
means to do so. To give an example, in the 1930s the distinction between DNA
and RNA was still poorly understood, and RNA was thought to occur only in
plants and DNA only in animals. But Lysenko had observed in innumerable
examples (in this he is no different of Darwin) that the inheritance of
acquired characteristics occurred and was the only possible explanation for
the observations. He went further than his opponents who explained nothing
and closed their eyes to the observations, as in the case of grafting in
which his opponents denied against mountains of evidence the obtaining of
hybrids with changes transmitted by inheritance [19]. Lysenko also has the
merit that in supporting the inheritance of acquired characteristics he
followed the methodological principles that characterizes every science: to
be materialistic (that is, to be based on concrete, material reality) and to
be dialectical (that is, to take into account that all matter changes, matter
is always in motion). The Weismann-Morgan alternative, on the contrary, was,
as we have seen, idealistic and metaphysical.
IV
Other
usual charges against Lysenko are:
--
Lysenko denied the existence of
chromosomes.
False.
At the 1939 Conference, when a participant interrupted his speech on hybrids
by grafting, Lysenko replied: "When have I said or written that it is
not necessary to study the membrane of the cell or the chromosomes? Who of us
has said that it is not necessary to study the chromosomes? ... Concerning
the chromosomes, I will say merely that any hereditary properties can be
transmitted from one breed to another, even without the immediate
transmission of the chromosomes [as in the grafts]. Not one of us has said or
says that chromosomes do not play a great biological role in heredity. But Morganism-Mendelism
forbade studying the biological role of chromosomes. They transformed
cytology into cyto-genetics, i.e., instead of studying the cell as such, the
Morganists reduced everything to the count and the morphology of the chromosomes
alone. The study of the biological role and significance of the chromosomes
is a most necessary matter, and as president of the V.I. Lenin Academy of Agricultural
Science, I am bound to aid it in every way."
--
Lysenko denied the existence of genes.
This
charge is nonsensical. Lysenko did not deny the existence of genes as he also
did not deny the existence of chromosomes. What Lysenko denied was the
metaphysical concept of non-modifiable genes and chromosomes. Lysenko had a
high opinion of genetics and for that reason he became director of the
Institute of Genetics. Lysenko said so in 1939 [14]: "Genetics is an
interesting and practically important part of agrobiology. It is the science
of the regularities of inheritance and variation of plant and animal
organisms. The more, and the more truly we discover these laws, i.e., the
better we master in practice the development of the organism, the more quickly
and radically we will be able to improve and adapt living nature, the
varieties of plants, the breeds of animals. "
A
source (Johansen, op. cit. in [1]) cites the following appreciation of a
Soviet leader: “I had to meet with Lysenko many times. There was not a
single attack in the lectures of the academician against genetics as a
science. There was a criticism of the positions of some genetic
scientists, that he did not share, perhaps he was mistaken about something,
but this is discussible.”
--
Lysenko denied Mendel's laws.
Lysenko
did not deny Mendel's laws, but found them without practical usefulness.
In
the most erudite arguments upholding this thesis stands the article by the
famous Russian mathematician A.N. Kolmogorov, On a New Confirmation of Mendel's Laws [20]. In it, Kolmogorov
deduces the mathematical formulas of percentages of individuals with dominant
variant of a gene in n generations.
He uses the probabilistic distribution that satisfies the Mendelian rule (3:1)n. [21] Kolmogorov compares
the theoretical values of the percentages (totals in two intervals of the
distribution) with those observed in the empirical data of a Russian
researcher (observations in 98 and 123 families of plants) and recognizes the
proximity of values.
Kolmogorov
considers that, in addition to the deterministic law, 3:1, which he calls the
"internal factor" of biology, there are innumerable "external factors"
(e.g., "which of the pollen grains will fall on the stigma”) that act at
random, justifying the probabilistic model he used. He also assumes that
"the probabilities corresponding to any of these ... possible choices
[of genes] are the same", adding: "biologically this assumption
means equal viability of the gametes, lack of selective fertilization and
equal viability ... of [generated] individuals". Regarding this
assumption, which he calls the “independence hypothesis”, he says that “there
are a number of firmly established examples of deviations from this
hypothesis, sometimes quantitatively insignificant and sometimes very large”.
He notes that in this respect the Mendelian school follows the “independence
hypothesis”, but not that of Lysenko, for whom “selective fertilized and
unequal viability play everywhere such a decisive role that considerations
based on the hypothesis of independence are fruitless ...”.
In
short, what Kolmogorov proves in the mentioned article is that, the rule 3.1 applies to the set of data
which he analyzed, and is assumed to satisfy the conditions of the “independence
hypothesis”. Putting aside the randomness factor, this is similar to
someone checking the gravity law for a set of falling bodies in vacuum, i.e.,
under the “independence” of no air resistance, winds, etc. Hence, Kolmogorov
in no way invalidates the “Lysenko school”, which is based precisely on data
obtained by methods violating the “independence hypothesis”.
Lysenko
responds to Kolmogorov with a short article [22]. The main argument he presents is not the denial of Mendel's laws, but
its practical fruitlessness. He illustrates this with an example. Lysenko,
however, reveals little understanding of Kolmogorov's article as he himself
explains [23].
It
should be noted that Haldane (op. cit. in
[1]) had already criticized Mendel's 3:1 rule: "Where a three-to-one
ratio is expected according to the laws of formal genetics, it is very rarely
obtained with complete accuracy. If plants or animals were always produced in
exactly Mendelian ratios there would be a perpetual equilibrium in hybrid
populations." And even Lysenko’s opponent, Vavilov himself, also
expressed doubts about Mendel! [24]
|
-- Lysenko misturou ciência com política
Esta acusação é falsa.
São vários os testemunhos de que Lysenko nunca transformou a disputa
científica em disputa política (ver, p. ex., alínea 5 da última acusação
abaixo). Nos trabalhos que conhecemos [14, 15, 25] nunca justifica as suas
posições científicas com base na política.
Infelizmente,
encontram-se intelectuais tidos como marxistas que emprestam argumentos a
esta acusação cara aos académicos anti-comunistas. R.M. Young na apreciação
de um livro dos conceituados biólogos americanos R. Lewontin e R. Levins (op. cit. in [1]), menciona que o
filósofo francês Louis Althusser, tido como marxista (não a nosso ver), usara
o «caso Lysenko» para «atacar os abusos de Estaline na União Soviética e no
Partido Comunista Francês»; este último por apoiar Lysenko como «ciência
proletária». Ao usar Lysenko para atacar Estaline, Althusser deu força à tese
anti-comunista. Mas o Partido Comunista Francês também não esteve melhor
neste assunto. Apoiar Lysenko como «ciência proletária» é puro disparate. Não
há «ciência proletária» nem «ciência burguesa», tal como não há «força da
gravidade proletária» e «força da gravidade burguesa», «electrões proletários»
e «electrões burgueses», etc. Querer aplicar conceitos e leis sociais às
ciências da natureza não tem nada a ver com marxismo.
Young também insere a
seguinte citação de Lewontin e Levins, que se reclamam marxistas: «O erro da
alegação lysenkoista [aplicar o materialismo dialéctico à genética] surge da
tentativa de aplicar uma análise dialéctica de problemas físicos pelo lado
errado. O materialismo dialéctico não é, e nunca foi, um método programático
para a solução de problemas físicos particulares». Sobre isto, e sem entrar
na discussão de como se deve aplicar a dialéctica aos «problemas físicos»
pelo “lado certo”, basta ter em conta que não há nada nos trabalhos de
Lysenko que permita afirmar que usou o materialismo dialéctico como «método
programático» -- isto é, como uma espécie de algoritmo – para resolver
problemas de agrobiologia. Do que se conhece de Lysenko, ele nunca sustentou que lhe bastava ser
materialista dialéctico para chegar a uma solução correcta, na agrobiologia.
-- Estaline é o responsável por ter guindado Lysenko.
Estaline não se
imiscuía nas instituições científicas. Por isso mesmo Vavilov pôde continuar
à frente do Instituto de Genética até 1940, apesar das severas críticas de
colegas que já pesavam sobre ele desde 1930.
Estaline avaliava as actividades
dos chefes de organizações e departamentos com base no cumprimento das
tarefas que haviam assumido ou lhes tinham sido atribuídas. «Estaline
geralmente não era guiado por agrados e aversões pessoais, mas procedia segundo
os interesses da questão» I.A. Benediktov (Comissário do Povo da Agricultura
no tempo de Estaline e Krutchev) [26].
«As investigações
científicas realizadas por Lysenko e seus colaboradores estavam orientadas
com precisão para resultados concretos e, numa série de casos, já tinham
produzido efeitos práticos palpáveis. Refiro-me designadamente ao aumento do
rendimento das colheitas e à introdução de novas culturas agrícolas, mais
promissoras. Os trabalhos de Vavilov e dos seus discípulos nem sequer num
futuro previsível prometiam quaisquer resultados práticos, quanto mais no
horizonte de então» I.A. Benediktov [27].
-- Lysenko usou a sua influência para marginalizar os opositores.
Pelo contrário, mais de
uma vez apelou à colaboração.
No início do seu
discurso na Conferência de 1939, Lysenko diz: «Em 6 de Janeiro de 1939, o
Comissariado da Agricultura da União Soviética e a Academia Lenine de
Ciências Agrícolas dda União foram encarregadas de produzir dentro de 2 a 3
anos uma variedade de centeio de inverno resistente ao frio para a zona sem
neve das estepes abertas, e fornecer dentro de 3 a 5 anos uma variedade de
alto rendimento de trigo de inverno, biologicamente adaptada à sub-taiga e às
regiões de estepes arborizadas do norte da Sibéria. Se essas variedades não
forem obtidas dentro dos períodos indicados, o nosso progresso económico será
interrompido. Quem vai assumir a responsabilidade por isso? Creio que não
será o mendelismo ou o darwinismo em geral, mas principalmente Lysenko como
chefe da Academia de Ciências Agrárias... se os mendelianos, mobilizando a
sua ciência, nos derem uma ideia de como desenvolver variedades de centeio em
2 a 3 anos e de trigo em 3 a 5 anos, adaptadas às rigorosas condições
siberianas, poderia eu recusar? Claro que não. Em vez disso, saudaria a
desejável proposta».
E conclui assim o seu
discurso: «Tenho repetidamente dito aos geneticistas mendelianos que mesmo
sem disputas não me tornaria mendeliano. A questão importante não está em
disputas; vamos antes trabalhar de forma amigável num plano elaborado cientificamente.
Vamos considerar problemas concretos, receber atribuições do Comissariado do
Povo da Agricultura e cumpri-las cientificamente. Podemos discutir sobre a
forma de cumprir este ou aquele trabalho científico de importância prática, ou
sobre os métodos correctos, mas não sem um objectivo».
-- Foi Lysenko quem fez com que Vavilov fosse preso e executado.
A análise detalhada
desta falsa acusação levar-nos-ia
longe e fora do âmbito deste artigo. Sumarizemos os factos principais de
interesse:
1) Vavilov foi preso,
com outros geneticistas seus associados, em 6 de Agosto de 1940, não por
causa de Lysenko ou por ser opositor de Lysenko mas sob a acusação de
sabotagem.
2) A acusação de
sabotagem baseava-se no uso indevido de fundos públicos, incluindo numerário
estrangeiro, gastos por Vavilov não para o fim a que se destinavam –- concretamente,
incumprimento dos planos anunciados pelo grupo Vavilov-Serebrovsky para a
criação de novos cultivares durante o plano quinquenal de 1932-1937 --, mas
para outros fins – enviar expedições para coleccionar sementes sem aplicação
na URSS, observações da mosca da fruta, contactos com o estrangeiro, etc. [1
(Sergeev), 26].
3) Vavilov já tinha
sido avisado, mais do que uma vez desde 1931, por funcionários e colegas, que
o seu comportamento era incorrecto, mas da sua torre de marfim não ligou aos
avisos [1 (Sergeev), 26]. Em Dezembro de 1935, numa reunião de Molotov (na
sua posição de PM) com os cientistas, quando Vavilov informava sobre projectos
de investigação do Instituto, e anunciou um projecto exótico de «Investigação
sobre a domesticação da raposa», Molotov interrompeu-o gritando: «Que
fantasia é essa da domesticação da raposa? E quando vai você, académico
Vavilov, parar de praticar ninharias?» [26]. No Outono de 1936, o
consentimento do governo da URSS para realizar o próximo congresso
internacional de genética em Moscovo, que ocupou Vavilov por longo tempo, foi
retirado. Em 1937-39 apareceram repetidamente na imprensa artigos críticos
sobre as actividades de Vavilov e do Instituto que dirigia. Em 20 de Novembro
de 1939, nove meses antes da prisão, houve um último aviso suave de Estaline
[28].
4) Uma acusação de
sabotagem, na véspera de uma guerra e invasão esperadas, é assunto grave em
qualquer país.
5) Vavilov, quando
interrogado, refutou algumas acusações, mas reconheceu outras que eram
impossíveis de negar [29].
5) Lysenko nada teve a
ver com a prisão de Vavilov: «Leiam os trabalhos de TD Lysenko. Há muitas
publicações polémicas, mas Lysenko nunca transformou uma disputa em
especulação política. Não há sequer uma sugestão da acusação de sabotagem de
Vavilov. Os tópicos das disputas são puramente científicos»,
V.I. Pyzhenkov, geneticista e Professor da Universidade Estadual de S.
Petersburgo de Ciências Agrárias; o mesmo é testemunhado pelo geneticista AI
Revenkov, que esteve sob investigação simultaneamente com Vavilov e veio a a
ser mais tarde o seu biógrafo [30].
Na realidade, Lysenko
foi dos poucos que testemunhou favoravelmente a Vavilov, conforme atestam
várias fontes e documentos [31].
6) A sentença de pena
de morte de 6 de Julho de 1941 – já em plena guerra – foi comutada para 20
anos de prisão. Vavilov morreu na prisão em 1943 devido a pneumonia
([1]-Sergeev, wikipedia.ru) e não de fome imposta, como dizem algumas fontes
(p. ex., wikipedia.en).
V
O «caso Vavilov» foi
mais tarde usado pelos revisionistas do PCUS para atacar Estaline. Krutchev
reabilitou Vavilov em 1955, antes do tristemente famoso «Relatório Secreto»
de Fevereiro de 1956. Os anti-comunistas de todas as cores só tiveram de
pegar na deixa dos revisionistas para, através de Lysenko, atacar Estaline,
isto é, atacar o socialismo.
Em 1962, três dos mais
proeminentes físicos soviéticos, os dissidentes Y. Zel'dovich, V. Ginzburg e
P. Kapitsa, apresentaram um processo contra Lysenko, proclamando o seu
trabalho como pseudo-ciência. Também denunciaram a aplicação do poder
político por Lysenko para silenciar a oposição e eliminar os seus oponentes
dentro da comunidade científica. Em 1964, o físico e bem conhecido
anti-comunista A. Sakharov discursou contra Lysenko na Assembleia-Geral da Academia
Russa de Ciências: «Ele é
responsável pelo vergonhoso atraso da biologia soviética e da genética em
particular, pela disseminação de visões pseudo-científicas, pelo
aventureirismo, pela degradação do ensino e difamação, denúncia, prisão e até
morte de muitos cientistas genuínos». Um forte cocktail de acusações em
que não há um único ingrediente verdadeiro; mas tinha que ter muitos e fortes
ingredientes – quantos mais, melhor -- para parecer crível; para mais, vindo
de uma eminência como Sakharov, laureado com o Nobel, amante do capitalismo e
figura querida do imperialismo.
Já depois de ser óbvio
que Lysenko tinha razão e as acusações contra ele não tinham fundamento, as
autoridades soviéticas não se atreveram a reabilitá-lo. A coligação de geneticistas
fortalecidos durante o “degelo” krutchevista passou a dominar a Academia de
Ciências Agrárias. Posteriormente, isso muitas vezes levou a escândalos. Em
1983, p. ex., Donat Dolgushin, um cientista de topo, foi nomeado para a condecoração
de Herói do Trabalho Socialista devido ao trigo de alto rendimento
“Odessa-56”. Mas para poder obter o prémio a Academia de Ciências Agrárias
exigiu que ele condenasse as actividades de Lysenko! Dolgushin recusou. (Johansen, op. cit. in [1])
|
-- Lysenko mixed science with
politics
This
accusation is false. There are several testimonies that Lysenko never turned a
scientific dispute into a political dispute (see, e. g., point 5 of the last
charge below). In the works known to us [14, 15, 25] he never justifies his
scientific positions based on politics.
Unfortunately,
there are intellectuals deemed Marxists who lend arguments to this accusation,
a praised one by anti-communist scholars. R.M. Young, in his appreciation of
a book by the reputed American biologists R. Lewontin and R. Levins (op. cit. in [1]), mentions that the
French philosopher Louis Althusser, deemed to be a Marxist (not in our eyes),
would have used the "Lysenko affair" to "beat the abuses of
Stalin in the Soviet Union and in the French Communist Party"; the
latter for supporting Lysenko as "proletarian science”. In using Lysenko
to attack Stalin, Althusser gave strength to the anti-communist thesis. But
the French Communist Party was no better on this subject, too. Supporting
Lysenko as "proletarian science" is sheer nonsense. There is no “proletarian
science” and “bourgeois science” as there is no “proletarian gravity force”
and “bourgeois gravity force”, “proletarian electrons” and “bourgeois electrons”,
etc. The application of social concepts and laws to sciences of the nature
has nothing to do with Marxism.
Young
also inserts the following quotation from Lewontin and Levins, who claim to
be Marxists: "The error of the Lysenkoist claim [applying dialectical
materialism to genetics] arises from attempting to apply a dialectical
analysis of physical problems from the wrong end. Dialectical materialism is
not, and never has been, a programmatic method for the solution of particular
physical problems." On this, and without entering into the discussion on
how one should apply dialectics to “physical problems” from the “right end”,
one only needs to take into account that there is nothing in the works of Lysenko
that could be construed as applying dialectical materialism as a "programmatic
method” – i.e., as a sort of algorithm -- to solve problems of agrobiology. From
what is known of Lysenko, he never claimed that being a dialectic materialist
had sufficed him to arrive at a correct solution in agrobiology.
--
Stalin is responsible for having
promoted Lysenko.
Stalin
did not intrude in scientific institutions. For that reason Vavilov was able
to continue leading the Institute of Genetics until 1940, despite severe
criticism from colleagues, weighing on him since the 1930s.
Stalin
assessed the activities of the heads of organizations and departments on the
basis of the fulfilment of the tasks they had taken or had been assigned to
them. "Stalin was usually not guided by personal likes and dislikes, but
proceeded from the interests of the matter" I.A. Benediktov (People's
Commissar of Agriculture in the time of Stalin and Khrushchev) [26].
'The
scientific investigations carried out by Lysenko and his collaborators were
precisely oriented towards concrete results and, in a number of cases, had
already produced palpable practical effects. I am referring in particular to
the increase in crop yields and to the introduction of new, more promising
agricultural crops. The works of Vavilov and his disciples not even for the
foreseeable future promised any practical results, let alone in the then
horizon." Benediktov [27].
--
Lysenko used his influence to
marginalize opponents.
On
the contrary, he more than once has appealed to collaboration.
At
the beginning of his speech at the 1939 Conference, Lysenko says: "On January 6, 1939, the Commissariat of
Agriculture of the USSR and the All-Union Lenin Academy of Agricultural
Sciences were commissioned to produce within 2 to 3 years a cold-resistant
variety of winter rye for the snowless zone of the open steppes, and, within
3 to 5 years, to furnish a high yield variety of winter wheat, biologically
adapted to the sub-taiga and the northern wooded steppe regions of Siberia.
If these varieties are not obtained within the given periods, our economic
progress will be interrupted. Who will bear the responsibility for this? I
believe, it will not be Mendelism or Darwinism in general, but principally
Lysenko as head of the Academy of Agricultural Sciences... if the Mendelians,
mobilizing their science, would give even a hint as to how to develop
varieties of rye in 2 to 3 years and of wheat in 3 to 5 years, adapted to the
rigorous Siberian conditions, is it possible that I would refuse? Of course
not. Instead, I should welcome the valued proposal."
And
he concludes his speech with: "I have continually told the Mendelian geneticists that even if we were
not at odds, I should not be a Mendelian. The important thing is not to
dispute; let us work in a friendly manner in a plan elaborated
scientifically. Let us take up definite problems, receive assignments from
the People's Commissariat of Agriculture of the USSR and fulfill them
scientifically. We may argue about the way of fulfilling this or that
practically important scientific work, or dispute as to the correct methods,
but not aimlessly."
-- It was Lysenko who got Vavilov arrested
and executed.
The detailed analysis
of this false accusation would take
us far and outside the scope of the present article. Let us summarize the
main facts of interest:
1) Vavilov was
arrested, along with his associate geneticists, on August 6, 1940, not
because of Lysenko or because he was opposed to Lysenko but under the charge
of sabotage.
2) The charge of
sabotage was based on the misuse of public funds, including foreign currency,
which had been spent by Vavilov not for the purposes for which they were
intended -- namely failure to comply with the plans announced by the
Vavilov-Serebrovsky group for the creation of new breeds during the five-year
plan of 1932-1937 -- but for other purposes -- sending expeditions to collect
seeds without application in the USSR, observations of the fruit fly,
contacts with abroad, etc. [1 (Sergeev), 26].
3) Vavilov had already
been warned by staff members and colleagues more than once since 1931 that
his behavior was incorrect, but from his ivory tower did not heed to warnings
[1 (Sergeev), 26]. In December 1935, at a meeting of Molotov (in his PM
position) with scientists, when Vavilov reported on the plans for research
work of the Institute, and announced an exotic project on “Research on the
fox domestication,” the prime minister interrupted him with a cry: “What a
fantasy is that of fox domestication? And when will you, Academician Vavilov,
stop practicing trifles?” [26]. In the
autumn of 1936, the consent of the USSR government to hold the next
international congress of genetics in Moscow, about which Vavilov had been
busy for a long time, was actually withdrawn. In 1937-39 critical articles on
the activities of Vavilov and the Institute he directed appeared repeatedly
in the press. On November 20, 1939, nine months before the arrest, there was
one last soft warning from Stalin [26].
4) A charge of
sabotage, on the eve of an impending war and invasion, is a serious one in
any country.
5) Vavilov, when questioned,
refuted some accusations, but recognized others that were impossible for him to
deny [29].
5) Lysenko had nothing
to do with the arrest of Vavilov: «Read through the works of TD Lysenko.
There are many polemical publications, but Lysenko never turned a dispute
into political speculation. There is not even a hint of Vavilov’s accusation
of sabotage. The topics of the disputes are purely scientific", V.I.
Pyzhenkov, geneticist and Professor at the St. Petersburg State University of
Agricultural Sciences; the same is testified by the geneticist A.I. Revenkov,
who had been under investigation simultaneously with Vavilov and became later
his biographer [30].
Actually, Lysenko was
one of the few who testified favorably to Vavilov, as various sources and documents
attest [31].
6) The sentence of
death penalty of July 6, 1941 -- already in full war -- was commuted to 20
years in prison. Vavilov died in prison in 1943 due to pneumonia ([1]-Sergeev,
wikipedia.ru) and not from imposed starvation as some sources say (e.g.,
wikipedia.en).
V
The "Vavilov
affair" was later used by the CPSU revisionists to attack Stalin. Khrushchev
rehabilitated Vavilov in 1955, before the sadly famous "Secret
Report" of February 1956. The anti-communists of all colors just had to
pick up the thesis of the revisionists for the purpose of, through Lysenko,
attacking Stalin, that is, attacking socialism.
In 1962, three of the
most prominent Soviet physicists, the dissidents Y. Zel'dovich, V. Ginzburg
and P. Kapitsa, filed a lawsuit against Lysenko, proclaiming his work as
pseudo-science. They also denounced the application of political power by
Lysenko to silence the opposition and eliminate his opponents within the
scientific community. In 1964, the physicist and well-known anti-communist A.
Sakharov spoke against Lysenko at the General Assembly of the Russian Academy
of Sciences: “He is responsible for the shameful delay of Soviet biology and
genetics in particular, for the dissemination of pseudo-scientific visions,
for adventurism, for the degradation of learning and for defamation, denouncing,
arrest and even death of many genuine scientists.” A strong cocktail of
charges with not a single true ingredient; but it had to have many and strong
ingredients – the more the better -- to look credible; moreover, coming from
such an eminence as the Nobel laureate Sakharov, a lover of capitalism and a darling
figure of imperialism.
Short after being
obvious that Lysenko was right and that the charges against him were
unfounded, the Soviet authorities did not dare to rehabilitate him. The
coalition of geneticists empowered during the Khrushchevist "thaw" became
the dominating force in the Academy of Agricultural Sciences. Subsequently,
this often led to scandals. For instance, in 1983, Donat Dolgushin, a top
scientist, was nominated for the award of Hero of Socialist Labor for his high-yielding
wheat "Odessa-56". But in order to be granted the award the Academy
of Agricultural Sciences demanded that he condemned the activities of
Lysenko! Dolgushin refused. (Johansen, op.
cit. in [1])
|
Notas e Referências | Notes
and References
[1] Os seguintes artigos
descrevem sumariamente as descobertas de Lysenko | The
following articles briefly describe Lysenko's achievements:
-- Niels
Johansen, Trofim Lysenko: geniy ili sharlatan? [Trofim Lysenko: genius or charlatan?]
Gazeta «Kul'tura, 2015-02-07;
-- Zhengrong Wang, Yong-sheng
Liu, Lysenko and Russian Genetics: an
alternative view, European Journal of Human Genetic: EJHG 2017,
DOI:10.1038/ejhg.2017.117.
-- Helena Sheehan, Who was Lysenko? What was Lysenkoism?
(1978). an extract from Sheehan's book Marxism and the Philosophy of Science: A
Critical History (Humanities Press International 1985 and 1993) (online on MIA-Marxists
Internet Archive).
-- Robert M. Young, Getting Started on
Lysenkoism, The Human Nature Review, 1978. (online on MIA).
--
J.B.S. Haldane, Soviet Biology, Labour Monthly, November 1942, p. 346-349
(online on MIA). The author is a reputed scientist.
[2] Jianlong Dai, Zhen Luo, Weijiang Li, Wei Tang, A
simplified pruning method for profitable cotton production in the Yellow River
valley of China, Field Crops Research 164(1):22–29, 2014.
Este artigo descreve as
várias vantagens do topping das
plantas de algodão. Os autores citam trabalhos posteriores a 1977, totalmente
ignorando que o método foi descoberto por Lysenko!
This
article describes the various advantages of topping
cotton plants. The authors cite works subsequent to 1977, totally ignoring that
the method was discovered by Lysenko!
[3] «Trofim Lysenko
publicou os seus trabalhos sobre o efeito do frio em sementes de cereais, e
cunhou o termo yarovizatsya para
descrever um processo de resfriamento que usou para que as sementes dos cereais
de Inverno se comportassem como cereais primaveris (Yarovoe em russo provém de yar:
fogo ou o deus da Primavera). Lysenko traduziu o termo para
"vernalização" (do latim vernum
que significa Primavera)». Wikipedia.en.
Trofim Lysenko published
his works on the effects of cold on cereal seeds, and coined the term yarovizatsya to describe a chilling process he used to make the seeds of
winter cereals behave like spring cereals (Yarovoe in Russian,
originally from yar meaning fire or the god of spring). Lysenko himself
translated the term into "vernalization" (from the Latin vernum
meaning Spring).” Wikipedia.en.
[4] O biólogo Haldane, op. cit., escreveu: «… mas as
descobertas mais marcantes são as de Lysenko, que já descrevi no Daily Worker. Ele mostrou, entre outras
coisas, como as sementes que normalmente são semeadas no Outono, e não começam
a ter um crescimento sério até à Primavera, podem ser feitas para produzir
plantas normais quando semeadas em Abril. Isto tornou possível cultivar
variedades de trigo que geralmente são semeadas no Outono, em regiões onde o Inverno
é demasiado frio para que tal seja praticável. Ele aplicou princípios
semelhantes a muitas outras plantas, incluindo a batata, e isso tornou possível
estender a área de algumas culturas importantes por milhares de milhas
quadradas».
The
biologist Haldane, op. cit., wrote: “…but
the most striking discoveries are those of Lysenko, which I have already
described in the Daily Worker. He has shown, among other things, how
seeds which are normally sown in autumn, and do not begin serious growth till
spring, can be made to produce normal plants when sown as late as April. This
has made it possible to grow wheat varieties which are generally sown in
autumn, in regions where the winter is too cold for this to be practicable. He
has applied similar principles to many other plants, including the potato, and
this has made it possible to extend the area under some important crops by
thousands of square miles.”
[5] Ivan Segeyev, op. cit.
[6] Os números são de Niels
Johansen, op. cit., que não cita a
fonte. O valor de 1946 é confirmado pela wikipedia.
Uma outra fonte,
cita os seguintes valores oficiais para a
Rússia (da Rosstat, agência
estatística da Rússia) em milhões de toneladas: 21,2 em 1946 (tinha sido 55,6
em 1940) e 51,9 em 1952. O gráfico dos valores para a Rússia mostra que depois
de uma subida rápida entre 1946 e 1952 a subida é moderada entre 1952 e 1965. O
valor mais alto no tempo de Estaline – 70,4 em 1937 – só foi ultrapassado em
1958, 1960, 1962 e 1964. Em
1965, p. ex., foi de 66,3.
The
figures are from Niels Johansen, op. cit.,
who does not cite the source. The value for 1946 is confirmed by the wikipedia. Another source cites the
following official figures for Russia
(from Rosstat, statistical agency of
Russia) in millions of tons: 21.2 in 1946 (it was 55.6 in 1940) and 51.9 in
1952. The values for Russia shows that after a rapid rise between 1946 and 1952
the rise is moderate between 1952 and 1965. The highest value in Stalin's time
-- 70.4 in 1937 -- was only surpassed in 1958, 1960, 1962 and 1964. In 1965, e.g.,
it was 66.3.
[7] Ver, p.
ex. | See e.g., Robert M. Young, op. cit.
[8] «Ernst Mayr observa
que a teoria foi fortemente contestada por alguns geneticistas famosos: William
Bateson, Wilhelm Johannsen, Richard Goldschmidt e T.H. Morgan, todos com uma
atitude mental dogmática». | “Ernst Mayr remarks that
the theory was hotly contested by some famous geneticists: William Bateson,
Wilhelm Johannsen, Richard Goldschmidt and T.H. Morgan, all of a rather
dogmatic turn of mind.” https://en.wikipedia.org/wiki/Chromosome#cite_ref-16
Morgan mais tarde mudou de opinião | Morgan changed later of opinion.
[9] L.A. Zhivotovsky (Professor, Dept of Biological
Systems and Bioinformatics, Institute of General Genetics N.I. Vavilov, Russian
Academy of Sciences), Nasledovaniye
priobretennykh priznakov: Lamark byl prav [Inheritance of acquired traits:
Lamarck was right], «Khimiya i Zhizn'», ["Chemistry and Life"], 2003,
no. 24, pp. 22-26.
[10] Yongsheng Liu, Like father like son. A fresh review of the inheritance of acquired
characteristics, EMBO Rep. 2007 Sep; 8(9): 798–803. Ver também https://en.wikipedia.org/wiki/Lamarckism
[11] Weismann baseou-se
em experiências simplista de cortar caudas a ratos e observar que a
descendência tinha caudas (1889). O biólogo Peter Gauthier em 1990 e o biólogo e
historiador da ciência Michael Ghiselin em 1994 criticaram as experiências de
Weismann como não tendo nada a ver com a teoria de Lamarck.
Weismann
relied on his simplistic experiments of cutting mice tails and observing that
the offspring had tails (1889). Biologist Peter Gauthier in 1990 and biologist
and historian of science Michael Ghiselin criticized Weismann's experiments in
1994 as having nothing to do with Lamarck's theory.
[12] P. N. Yakovlev, Preface to I. V.
Michurin: Selected Works, Foreign Languages Pub. House, Moscow, 1949.
[13] Helena Sheehan, op. cit.
[14] Genetics in the
Soviet Union: Three Speeches
[Vavilov, Lysenko, Polyakov] from the 1939 Conference on Genetics and Selection,
Science and Society Volume IV, No. 3, Summer 1940, MIA. (Original in full: Pod
Znamenem Marksizma [Under the Banner of Marxism], 1939, Nº. 11.)
[15] Lysenko, T.D., The Situation in the Science of Biology. Address delivered
by Academician T. D. Lysenko at a session of the All-Union Lenin Academy of
Agricultural Sciences, 31 July-7 August, 1948 (Pub. Birch Book Unlimited, 1950), MIA.
[16] Os mendelianos
defendiam que, uma vez estabelecida uma «linha pura», a selecção era inútil. JBS Haldane, Lysenko
and Genetics, Science and Society, Volume IV,
No. 4, 1940, concorda com Lysenko que tal «…teoria é simplesmente falsa, pela
seguinte razão. Uma linha pura originalmente consiste em indivíduos todos
homozigóticos e geneticamente semelhantes. Mas, com o passar do tempo, isso
deixa de ser o caso, como resultado de mutação, e também no caso de um
alopoliplóide, como o trigo, com cruzamento de cromossomas que normalmente não se
cruzam. Assim, Lysenko tem razão ao enfatizar a importância de seleccionar
"linhagens de sementes de elite" das chamadas linhas puras».
The
Mendelians argued that once a “pure line” was established, selection was useless.
JBS Haldane, Lysenko and Genetics,
Science and Society, Volume IV, No. 4, 1940, agrees with Lysenko that such “…theory
is simply false, for the following reason. A pure line originally consists of
individuals all of which are homozygous and genetically alike. But in course of
time this ceases to be the case as a result of mutation, and also in the case
of an allopolyploid such as wheat, of crossing over between chromosomes which
do not normally cross over. .. Hence Lysenko is quite right in stressing the
importance of selecting "elite strains of seed" from so-called pure
lines”.
[17] Para
além | Besides Yongsheng Liu, op cit., e L.A.
Zhivotovsky, op. cit., ver | see:
-- Otto E. Landman, Inheritance of Acquired Characteristics
Revisited, BioScience (University of California Press), Vol. 43, No. 10
(Nov., 1993), pp. 696-705.
-- Inheritance
of Acquired Characteristics, Science Direct, Elsevier. (Several papers.)
--
Acquired
Traits Can Be Inherited via Small RNAs, Columbia University
Medical Center , December 5,
2011.
-- Oded Rechavi, Gregory
Minevich, and Oliver Hobert, Transgenerational
inheritance of an acquired small RNA-based antiviral response in C.elegans, Cell. 2011 Dec 9; 147(6): 1248–1256
--
Qi Chen, Wei Yan, and Enkui Duan, Epigenetic
inheritance of acquired traits through sperm RNAs and sperm RNA modifications,
Nat Rev Genet. 2016 Dec; 17(12): 733–743.
-- Daniel Schott, Itai
Yanai, Craig P. Hunter, Natural RNA interference
directs a heritable response to the environment, Nature, 09 December 2014.
--
Yan Wang, Huijie Liu, Zhongsheng
Sun, Lamarck rises from his grave:
parental environment‐induced epigenetic
inheritance in model organisms and humans, Biological Reviews, Volume 92, Issue 4,
2017.
[18] É o caso de
Such is the case of
Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu, 2017, op.
cit., who wrote: “In recent years, there has been a substantial body of
reliable experimental evidence for the inheritance of acquired characteristics.
Lysenko’s work on the conversion of spring wheat into winter wheat can be
explained by transgenerational epigenetic inheritance. Now it seems that Lysenko was not
wrong in believing the
inheritance of acquired characteristics.” (our emphasis)
[19] Lysenko escreveu
[14]: «Tornou-se então particularmente difícil para os morganistas e
mendelianos, quando não era mais possível negar híbridos vegetativos… porque...
os híbridos vegetativos surgiam como de cornucópia».
A propósito das
enxertias, Haldane (op. cit., 1942),
depois de exprimir concordância com Lysenko em vários casos, diz: «A sua afirmação
[de Lysenko] de que "qualquer propriedade hereditária pode ser transmitida
de uma casta para outra, mesmo sem a transmissão imediata dos cromossomas"
é, na minha opinião, absolutamente falsa, e acho que qualquer pessoa com
experiência prática de enxertar rosas ou maçãs concordaria comigo. Mas é
igualmente falso dizer que nenhuma propriedade hereditária pode ser
transmitida. A afirmação correcta é como acima, mas substituindo "qualquer"
por "algumas"».
A afirmação de Haldane é
revista por Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu (op.
cit, 2017): «Lysenko não apenas reconheceu a existência de híbridos por enxertia,
mas também aplicou o método de hibridização por enxertia à prática de
melhoramento de plantas. Nas últimas décadas, experiências extensivas sobre
hibridização por enxertia foram realizadas e inúmeras novas culturas e
variedades foram desenvolvidas por enxertia, mostrando que as características
variantes induzidas por enxerto eram estáveis e hereditárias. Actualmente, tem sido proposto que a
hibridização por enxertia pode servir como um mecanismo de transferência
horizontal (ou lateral) de genes».
Lysenko
wrote [14]: “It became then particularly difficult for the Morganists and
Mendelians, when it was not longer possible to deny vegetative hybrids… because
… vegetative hybrids came pouring out as from a cornucopia”.
On
the subject of grafting, Haldane (op. cit., 1942), after expressing agreement
with Lysenko in several cases, wrote: “His statement that "any hereditary
properties can be transmitted from one breed to another even without the
immediate transmission of chromosomes" is, in my opinion, absolutely
false, and I think that anyone with practical experience of grafting roses or
apples would agree with me. But it is equally false to say that no hereditary
properties can be so transmitted. The correct statement is as above, but
substituting "some" for "any."”
Haldane's
statement is revised by Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu (op. cit., 2017): “Lysenko not only recognized the existence of
graft hybrids, but also applied the method of graft hybridization to the
practice of plant breeding. Over the past several decades, extensive
experiments on graft hybridization have been carried out and numbers of new
crops and varieties were developed by grafting, indicating that graft-induced
variant characteristics were stable and inheritable. Now it has been proposed that graft hybridization may serve as a
mechanism of horizontal (or lateral) gene transfer.”
[20] A.N. Kolmogorov, Ob odnom novom
podtverzhdenii zakonov mendelya, Doklady Akademii Nauk SSSR, vol. 27:1,
pp. 38-42, 1940.
[21] A lei de Mendel tem
a ver com as combinações possíveis de um mesmo gene, presente num dado
cromossoma da célula germinal masculina e feminina, na reprodução sexuada (não
se aplica, p. ex., à reprodução vegetativa das plantas, que é assexuada).
Suponhamos que esse gene tem duas variantes. Representemos por: a e A. Mendel inferiu a lei de observações de plantas de ervilhas com
duas variedades da cor das flores, branca e violeta. Seja, para o gene «cor das
flores», a=branca, A=violeta. Na reprodução sexuada um
cromossoma da célula germinal masculina junta-se ao homólogo da feminina,
produzindo um cromossoma duplo. As combinações possíveis, são: aa, aA, Aa, AA. («a» do pai com «a» da
mãe, etc.) Temos, então, na descendência, plantas aa de flor branca e AA
de flor violeta, e plantas com mistura genética, aA e Aa. Se, inicialmente, houver tantas ervilhas
brancas puras (aa) como violetas
puras (AA), as proporções na
população de descendentes são: 1 (branca pura, aa):2 (“mistura”, aA e Aa):1 (violeta pura, AA). Acontece, porém, que nas plantas
de mistura genética (híbrido) o gene A
«domina» a, determinando a cor da
flor: violeta. A proporção final é, portanto, 3:1 (três vezes mais violetas -- aA, Aa, AA -- que brancas --
aa).
Mendel's
law has to do with the possible combinations of the same gene, present on a
given chromosome of the male and female germ cell, in sexual reproduction (it
doesn’t apply, for instance, to vegetative reproduction of plants, which is
asexual). Suppose that the gene has two variants. Let us denote them a and A. Mendel inferred the law from observations of pea plants with two
varieties of the color of the flowers, white and violet. Let, for the gene
"color of flowers", a =
white, A = violet. In sexual
reproduction a chromosome of the male germ cell joins the homologous of the
female, producing a double chromosome. The possible combinations are: aa, aA, Aa, AA. ('a' from the father with 'a'
from the mother, etc.). We then get in the offspring aa plants of white flower, AA
of violet flower, and plants with genetic mixture, aA and Aa. If, initially there are as many pure
white peas (aa) as pure violet ones
(AA), the proportions in the
offspring population are: 1 (pure white, aa):
2 (“mix”, aA and Aa): 1 (pure violet, AA). It turns out, however, that in
plants with genetic mixture (hybrid), the A
gene "dominates" a,
determining the color of the flower: violet. The final ratio is therefore 3: 1
(three times more violet flowers - aA,
Aa, AA - than white flowers - aa).
[22] TD Lysenko, Po povodu stat'i akademika A.N.Kolmogorova [Regarding the article
of Academician A.N. Kolmogorov], Doklady Akademii Nauk SSSR, 1940, Tom XXVIII, N.º
9.
[23] Lysenko responde a
Kolmogorov, vincando que, na prática, a matemática de Kolmogorov não tinha
aplicação. Dá o exemplo do trigo híbrido com diferenças tão grandes de
composição entre famílias na segunda e terceira gerações que «não se deve
misturar sementes de plantas diferentes da primeira geração híbrida. É
necessário semeá-las separadamente por famílias». Ora, Kolmogorov, seguira «O
conceito mendeliano [que] leva… à conclusão de que em progénies suficientemente
extensas (constituindo indiferentemente uma família ou unindo muitas famílias distintas
derivadas de diferentes pares de pais heterozigóticos [isto é, híbridos]). Lysenko
comenta: «… Kolmogorov tem o direito de não se interessar por este assunto
[prático]. Para ele é apenas importante que a média [observada] coincida com a
calculada matematicamente». Embora não seja a «média» que Kolmogorov calcula e
observa, a ideia geral é clara. Lysenko confessa logo no início «Não me sinto
competente o suficiente para entender este sistema de argumentos e evidências
matemáticas».
Lysenko
responds to Kolmogorov, stressing that, in practice, Kolmogorov's mathematics
have no application. He gives the example of hybrid wheat with such great
differences in composition between families in the second and third generations
that "one should not mix plant seeds different from the first hybrid generation.
It is necessary to sow them separately by families." Yet, Kolmogorov had
followed "The Mendelian concept [which] leads ... to the conclusion that
in sufficiently extensive progenies (indifferently constituting a family or
uniting many distinct families derived from different pairs of heterozygous [ie,
hybrids] parents). Lysenko comments: "... Kolmogorov has the right not to
be interested in this [practical] matter. For him it is only important that the
[observed] average coincides with the one calculated mathematically." Although
it is not the 'average' that Kolmogorov computes and observes, the general idea
is clear. Lysenko confesses at the outset "I do not feel competent enough
to understand this system of arguments and mathematical evidence".
[24] Diz Vavilov [14]: «No
entanto, cheguei a duvidar das conclusões mendelianas de Biffen. No decorrer do
estudo experimental, convenci-me que, em
muitos casos, as propriedades fisiológicas dependem de muitos genes, que não
podem ser escrutinadas em termos de relações simples» (ênfase nosso). Mas
logo a seguir desdiz-se quando afirma incorrectamente: «…todas as variedades
introduzidas por meio de hibridação, foram obtidas nas últimas décadas pela
aplicação das leis de Mendel».
Vavilov
said [14]: “However, I came to doubt the Mendelian conclusions of Biffen. In
the course of experimental study I became convinced that in many cases physiological properties depend upon many genes, that they cannot be disposed of in terms of
simple relationships.” (our emphasis) But he immediately denies himself by
incorrectly saying: “all the varieties introduced by way of hybridization, were
obtained in the last decades by the application of the laws of Mendel.”
[25] Lysenko, New Developments in the Science of
Biological Species, Agrobiologia, 1950, No. 6 (Foreign Languages Pub. House, M., 1951), MIA.
[26] N.V.
Ovchinnikov, Akademik Trofim Denisovich
Lysenko - Delo Vavilova (consulted 2019-04-10).
This work is very well documented.
[27] I.A. Benediktov, Stáline e Khruchov, Entrevista
publicada na revista Molodaya Gvardia,
1989, N.º 4, págs. 12-65. (Original
em russo | Original in Russian: O Staline i Khrushcheve, www.stalinism.narod.ru )
[28] Num encontro, Estaline
perguntou a Vavilov: «Bem, cidadão Vavilov, você ainda vai estar envolvido em
flores, pétalas, centáureas e outras bugigangas botânicas? E quem estará
empenhado em aumentar o rendimento das colheitas?» (DV Lebedev, E.I.
Kolchinsky, A última reunião de N.I.
Vavilov com I.V. Stalin (Entrevista com E.S. Yakushevsky)).
During
a meeting, Stalin asked Lysenko: "Well, citizen Vavilov, are you still
going to be involved in flowers, petals, knapweeds and other botanical
trinkets? And who will be committed to increasing crop yields? "(DV
Lebedev, E. Kolchinsky, The Last Meeting
of N.I. Vavilov with I.V. Stalin (Interview with E. S. Yakushevsky)).
[29] Palavras de Vavilov:
«Uma das principais actividades
de sabotagem foi a criação de um número excessivamente grande de instituições
de investigação estritamente especializadas, completamente não vitais ... divorciadas
do trabalho agronómico directo, o que levou à ruptura do trabalho de pesquisa
... à dispersão de pessoal já insuficiente e causou grandes despesas do estado
completamente desnecessárias ...» (Protocolo do Interrogatório de N.I. Vavilov
em 6 de Setembro de 1940).
Vavilov’s
words:
"One of the main
sabotage activities was the creation of an excessively large number of narrowly
specialized, completely non-vital, research institutions... divorced from
direct agronomic work, this led to the disruption of research work... to the
dispersion of already insufficient staff and caused completely unnecessary
large state expenditures.." (Interrogation Protocol of N. I. Vavilov on September 6, 1940)
[30] Citado em [26]. Pyzhenkov
é um cientista conceituado, com várias obras publicadas. Em algumas, critica
Vavilov mas, pelo que pudemos ver, de forma moderada.
Quoted
in [26]. Pyzhenkov is a renowned scientist, with several published works. In
some of his works Vavilov is criticized but, as far as we were able to see, in
a moderate way.
[31]
-- Testemunho de Lysenko
durante a instrução do processo: «À pergunta que me foi feita, o que eu sei de
N.I. Vavilov sobre a destruição da colecção de sementes no VIR [Instituto de
Botânica Aplicada], a resposta é: sei que o académico N.I. Vavilov coleccionou
essa colecção. Não sei nada sobre o facto de ele ter destruído essa colecção. (Assinado:
Académico TD Lysenko)». [26]
-- «O próprio Lysenko
repetidamente sustentou que não era pessoalmente responsável pela prisão e
morte de Vavilov. Lembrou que quando o investigador de Vavilov o veio procurar
e lhe perguntou “O que pode dizer em geral sobre as actividades danosas
(espionagem, contra-revolucionárias) de Vavilov?”, Lysenko respondeu: “Havia e
há algumas diferenças de opinião sobre assuntos científicos entre mim e
Vavilov, mas não tenho conhecimento de nenhuma actividade danosa de Vavilov”», Zhengrong
Wang, op. cit.
-- Da entrevista com I.A.
Benediktov: «Quando Vavilov foi preso, os seus partidários mais próximos e “amigos”,
agrupando-se, um após o outro, começaram a confirmar a versão de “sabotagem” do
investigador. Lysenko, que naquela época divergia de Vavilov em posições
científicas, recusou-se a fazê-lo e confirmou a sua recusa por escrito.» [27]
-- «”Todas as conquistas
científicas e organizacionais de Trofim Lysenko, que são indiscutíveis, negam o
seu papel no destino do sentenciado Nikolai Vavilov", afirma o doutor em
economia Alexey Golubev, vice-reitor para a investigação da Universidade
Agrária Estatal Russa», Niels Johansen, op.
cit.
-- Lysenko's testimony
during the investigation: “To the question I was asked, what do I know about
N.I. Vavilov on the destruction of the seed collection in the VIR [Institute of
Applied Botany], the answer is: I know that Academician N.I. Vavilov collected
that collection. I know nothing about the fact that he destroyed that
collection. (Signed: Academician TD Lysenko).”
--
“Lysenko himself repeatedly maintained that he was not personally responsible
for Vavilov’s arrest and death. He recalled that the investigator of Vavilov
had come to see him and asked: ‘What can you say in general about the wrecking
(spying, counterrevolutionary) activities of Vavilov?’ Lysenko replied: ‘There
were and are some differences of opinion on scientific matters between myself
and Vavilov, but I have no knowledge of any wrecking activities of Vavilov’”,
Zhengrong Wang, op. cit.
-- From the interview
with I.A. Benediktov: “When Vavilov was arrested, his closest supporters and
“friends”, associating themselves, one after another, began confirming the
“sabotage” version of the investigator. Lysenko, who by that time had diverged
from Vavilov in scientific positions, flatly refused to do so and confirmed his
refusal in writing." [27]
-- “’All the scientific and
organizational achievements of Trofim Lysenko, which are indisputable, negate
his role in the fate of the repressed Nikolai Vavilov,’ claims the doctor of
economics Alexey Golubev, Vice-Rector for research of the Russian State
Agrarian University”, Niels Johansen, op.
cit.