quarta-feira, 24 de abril de 2019

O «Caso Lysenko» | The “Lysenko Affair”

I

T.D. Lysenko (1898-1976) foi um cientista soviético do tempo de Estaline difamado e vilipendiado por tudo que é anti-comunista, quer no Ocidente quer na Rússia actual. O «caso Lysenko», construído pelos anti-comunistas, tem servido como meio de atrair académicos para o campo da reacção, debaixo da falsa tese de que o marxismo-leninismo é hostil à ciência, defende pseudo-ciência, e viola a liberdade científica impondo aos cientistas o que devem investigar ou o que é aceitável dos resultados da investigação. Por arrasto, o «caso Lysenko» tem também servido para difamar Estaline.

Lysenko era um biólogo e agrónomo. As suas contribuições para as ciências agrárias são múltiplas e importantes. Lysenko deu enorme ajuda ao salvar a URSS da fome, contribuindo para a vitória na 2.ª GM. O sucessor de Estaline, o revisionista Krutchev, cujas medidas na agricultura foram desastrosas e fizeram a URSS dar um salto atrás nesta área (como noutras), deu rédea solta aos opositores e difamadores de Lysenko. A difamação de Lysenko e Estaline também serviu para silenciar os avanços decisivos da ciência soviética no tempo de Estaline -- de que falaremos num próximo artigo.

A camada de mentiras acumuladas ao longo de décadas de construção do «caso Lysenko» é tão espessa que, durante algum tempo, também nos influenciou. Será que tinham razão, as ásperas críticas académicas de Lysenko? A leitura comparada de múltiplas fontes pró e contra Lysenko, antigas e actuais, do Ocidente e da Rússia, esclareceu-nos: no essencial, Lysenko tinha razão, as suas contribuições científicas são sólidas, e as acusações contra Lysenko não têm qualquer fundamento. É isso que iremos procurar demonstrar.

II

Trofim Denisovich Lysenko tornou-se membro da Academia de Ciências da URSS (ACU) em Julho de 1935. Foi director da Academia Lenine de Ciências Agrárias de Toda a União. Em 1940 foi nomeado director do Instituto de Genética da ACU, cargo que ocupou até 1965. Distinguiu-se por várias descobertas, de novos cultivares e novos métodos agrícolas, nomeadamente [1]:

-- A introdução do método de plantação de batatas cortando o tubérculo em pequenos pedaços, cada um com um olho e broto, em vez de plantar tubérculos inteiros. A multiplicação de plantas assim conseguida, bem como o aproveitamento do resto da batata depois de retirados os pedaços com broto, contribuiu para salvar a URSS da fome.

-- Em 1936, Lysenko desenvolveu um método de aparar as pontas dos brotos da planta do algodão (topping) e essa técnica, que aumentou o rendimento das plantações em 20%, acelerando a maturação e a qualidade das fibras do algodão, ainda é hoje universalmente usada em todo o mundo. [2] Desenvolveu também o cultivar melhorado de algodão Odessa-1.

-- Em 1939, desenvolveu uma nova tecnologia agrícola do cultivo de milhete, que tornou possível aumentar o rendimento de 800-900 kg por hectare para 1500 kg.

-- Nos anos pré-guerra, Lysenko propôs usar plantações de verão de batatas nas regiões do sul da URSS para melhorar as suas qualidades varietais. Propôs também usar cinturas florestais, que protegiam milhões de hectares na URSS dos ventos secos, e o uso de inimigos naturais de pragas agrícolas em vez de substâncias químicas tóxicas.

-- Lysenko desenvolveu vários cultivares de cereais mais produtivas que muito contribuíram para alimentar o povo soviético: trigo de inverno resistente ao frio e à seca Odessa-3; trigos de primavera Lyutencess-1173 e Odessa-13; cevada Odessa-14; cevada de primavera Odessa-9. Através de cruzamentos de trigo com gramíneas perenes, obteve trigos perenes que não requerem semeadura anual. E através do cruzamento de trigos, obteve uma nova espécie, triticum sovieticum, com cinquenta e seis cromossomas. Em 1920-1921 o rendimento médio do trigo na URSS era de 300-400 kg por hectare; em 1940 era já de 700-800 kg por hectare. Muitos dos cultivares desenvolvidos por Lysenko ainda hoje alimentam a Rússia.

-- Lysenko foi o inventor do método da «vernalização», termo que cunhou [3]: encharcando e submetendo a baixas temperaturas (pouco acima da congelação) sementes germinadas de variedades de inverno, de trigo e de outras plantas, tornava-se possível obter colheitas na primavera e com alto rendimento. [4] Esta técnica é actualmente usada, reconhecida e estudada em todo o mundo, aparecendo em artigos das prestigiadas revistas científicas Nature, Science, Cell. A Nature mantém uma página sobre a vernalização nos Latest Research and Reviews. Em 1932, V.I. Vavilov, o então director do Instituto de Genética – um opositor de Lysenko --, «apressou-se a ir aos EUA para relatar no Congresso Internacional em Problemas de Genética um novo método revolucionário: a vernalização». [5]       

Vemos, portanto, que as contribuições de Lysenko foram de enorme importância. Além de permitirem eliminar a fome do povo soviético fizeram dar um grande passo em frente à agrobiologia e agricultura soviéticas. Não foi por nada que Lysenko recebeu um Prémio Estaline e oito prémios Lenine, numa época em que tais prémios não eram dados por trivialidades. Acrescentemos que Lysenko não era um “cientista de gabinete” como os seus oponentes. Estava constantemente em campo, testando as suas ideias e descobertas e interagindo com os trabalhadores. Isso era indispensável na sua área de trabalho.

A colheita de cereais de 1946 foi má: 39,6 milhões de toneladas, pouco mais de 40% do valor de 1940. Isto não é de admirar, dadas as terríveis destruições da guerra e perdas em vidas humanas. Mas logo nos anos seguintes a colheita de cereais, com métodos Lysenko, aumentou constantemente, atingindo 92,2 milhões de toneladas em 1952: 2,3 vezes o valor de 1946! Após a morte de Estaline em 1953, Krutchev tornou-se sensível aos opositores de Lysenko, até porque este se opôs ao projecto de Krutchev das «terras negras» que veio a revelar-se desastroso conforme Lysenko previra. Substituído por opositores na liderança da agricultura, a produção de cereais na URSS caiu para 85 milhões de toneladas em 1960 e 70 milhões de toneladas em 1963, apesar do constante aumento da área de cultivo [6]. A partir de Janeiro de 1964 a URSS começou a importar cereais.

Lysenko ainda voltou a ganhar algum respeito logo antes do afastamento de Krutchev devido à sua investigação em compostagem e criação de vacas produtoras de leite com alto teor de gordura para manteiga, temas que interessavam a Krutchev, o qual, ao contrário de Estaline, tinha um estilo não colegial e voluntarioso de fazer política. Com o afastamento de Krutchev tudo que era anti-comunista no mundo académico da URSS (incluindo os físicos Landau, Kapitsa e Sakarov), conjuntamente com professores anti-comunistas dos EUA, caiu em cima de Lysenko. Teve de deixar o Instituto de Genética [7]. Com a queda de Lysenko a agricultura na URSS regrediu e veio essencialmente a estagnar e declinar. Em 1981 a produção de cereais na Rússia foi de 73,8 milhões de toneladas pouco mais do que em 1937, no tempo de Estaline, com 70,4 milhões de toneladas. (Há que ter em conta o aumento de população e área cultivada.)
I

T.D. Lysenko (1898-1976) was a Soviet scientist from Stalin's time slandered and vilified by everything that is anti-communist, both in the West and in present-day Russia. The “Lysenko Affair”, engineered by the anti-Communists, has served as a means of attracting scholars to the field of reaction, under the false thesis that Marxism-Leninism is hostile to science, defends pseudo-science, and violates freedom of scientific research by imposing on scientists what they should investigate or which research results are acceptable. By extension, the "Lysenko Affair" has served to also defame Stalin.

Lysenko was a biologist and agronomist. His contributions to the agrarian sciences are multiple and important. Lysenko gave a major help saving the USSR from famine, thus contributing to the victory in WWII. The successor of Stalin, the revisionist Khrushchev, whose agrarian measures were disastrous and cause of the USSR leap back in this area (as in others), gave free rein to the opponents and defamers of Lysenko. The defamation of Lysenko and Stalin also served to silence decisive breakthroughs of Soviet science in the time of Stalin -- of which we shall write in a following article.

The layer of lies accumulated over decades of construction of the “Lysenko affair” is so thick that for some time it also influenced us. Were they right, the harsh scholarly critics of Lysenko? The comparative reading of multiple sources for and against Lysenko, old and current, from the West and Russia, clarified us: in essence Lysenko was right, his scientific contributions are sound, and the accusations against Lysenko have no basis whatsoever. That’s what we endeavor to demonstrate below.

II

Trofim Denisovich Lysenko became a member of the Academy of Sciences of the USSR (ASU) in July 1935. He was director of the Lenin All-Union Academy of Agricultural Sciences. He was nominated director of the Institute of Genetics of the ASU in 1940 and served in that post until 1965. He distinguished himself by several discoveries, of new cultivars and new agrarian methods, namely [1]:

-- Introducing the method of planting potatoes by cutting the tuber into small pieces, each with an eye and bud, instead of planting entire tubers. The multiplication of plants thus obtained, as also the use of what remained from the potato after removing the pieces with buds, contributed to saving the USSR from famine.

-- Lysenko developed in 1936 a method of trimming the ends of the cotton plant (topping) and this technique, which increased the yield of the plantations by 20%, accelerating the maturation and the quality of the cotton fibers, is still today universally used all over the world. [2] He also developed the improved cotton cultivar Odessa-1.

-- In 1939, he developed a new agricultural technology of millet cultivation, which made it possible to increase yield from 800-900 kg per hectare to 1500 kg.

-- In the prewar years, Lysenko proposed using summer potato plantations in the southern regions of the USSR to improve their varietal qualities. He also proposed using forest belts, which protected millions of hectares in the USSR from dry winds, and the use of natural enemies of agricultural pests instead of toxic chemicals.

-- Lysenko developed several grain cultivars of improved yield that greatly contributed to feed the Soviet people: winter wheat resistant to cold and drought Odessa-3; spring wheat Lyutencess-1173 and Odessa-13; barley Odessa-14; spring barley Odessa-9. Through wheat crossing with perennial grasses, he obtained perennial wheat that does not require annual sowing. And through crossings of wheat, he obtained a new species, triticum sovieticum, with fifty-six chromosomes. In 1920-1921 the average yield of wheat in the USSR was 300-400 kg per hectare; in 1940 it was already 700-800 kg per hectare. Many of the cultivars developed by Lysenko still feed Russia today.

-- Lysenko was the inventor of the "vernalization" method; the term was coined by him [3]: by soaking and subjecting to low temperatures (just above freezing) germinated seeds of winter varieties of wheat and other plants, it became possible to harvest them in spring and with high yield. [4] This technique is currently being used, recognized and studied around the world, appearing in articles of the prestigious scientific journals Nature, Science, and Cell. Nature maintains a page on vernalization in the Latest Research and Reviews. In 1932, V.I. Vavilov, the then director of the Institute of Genetics – and an opponent of Lysenko -- "rushed to the United States to report at the International Congress on the Problems of Genetics about a new revolutionary method -- vernalization." [5]

We see, therefore, that Lysenko's contributions were of enormous importance. Besides affording the elimination of famine of the Soviet people they stood as a great step forward of Soviet agrobiology and agriculture. It was not for nothing that Lysenko was awarded a Stalin Prize and eight Lenin prizes, at a time when such prizes were not awarded for trifles. Let us add that Lysenko was not an “office scientist” as his opponents. He was constantly in the field, testing his ideas and discoveries and interacting with workers. This was indispensible in his line of work.

The grain harvest of 1946 was bad: 39.6 million tons, little more than 40% of the value of 1940. This is not surprising, given the terrible destruction caused by the war and the losses in human lives. But soon thereafter, in the following years, the grain harvest with Lysenko methods steadily increased, reaching 92.2 million tons in 1952: 2.3 times the value of 1946! After Stalin's death in 1953, Khrushchev became sensitive to the opponents of Lysenko, among other reasons because the latter opposed Khrushchev’s project of the "Black Lands", which proved to be disastrous as Lysenko had foreseen. Replaced by opponents in the lead of agriculture, grain production in the USSR fell to 85 million tons in 1960 and 70 million tons in 1963, despite the steady increase in cultivated area [6]. From January 1964 the USSR began to import grain.

Lysenko still regained some respect just before the ousting of Khrushchev because of his research into composting and breeding dairy cows with high butter fat, themes of interest to Khrushchev, who, unlike Stalin, maintained a non-collegial and headstrong style of doing politics. With the ousting of Khrushchev the hostility of everyone who was anti-communist in the academic world of the USSR (including the physicists Landau, Kapitsa and Sakharov), together with anti-communist professors of the USA, fell upon Lysenko. He had to leave the Institute of Genetics [7]. With the fall of Lysenko agriculture in the USSR regressed and came essentially to stagnate and decline. In 1981 grain production in Russia was 73.8 million tons, little more than it was at the time of Stalin in 1937, with 70.4 million tons. (One should take into account the increase in population and cultivated area.)

III

Nos primeiros anos da RSFSR e da URSS havia, como noutros países, duas correntes de geneticistas que se opunham. As duas aceitavam a existência de genes e cromossomas, mas a forma como operavam era alvo de disputas. Notemos que nessa época a genética era uma ciência na infância, a estrutura do ADN não tinha sido descoberta e os biólogos falavam em genes e cromossomas mais ou menos como os físicos e químicos falavam de átomos antes de ter sido descoberto o electrão e a radiação alfa e beta do urânio. Quando a teoria dos cromossomas como base da hereditariedade foi proposta em 1902 (W. Sutton, T. Boveri, E. Wilson) vários geneticistas famosos dos EUA, Inglaterra e Dinamarca contestaram-na [8].

As duas correntes de geneticistas eram:

1) A corrente lamarckiana que, de acordo com Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), defendia na evolução dos seres vivos a possibilidade de herdar características adquiridas. Note-se que Lamarck foi pioneiro na proposta materialista de que a evolução biológica ocorreu e prosseguiu de acordo com leis naturais. Só mais tarde, em 1859, Darwin voltou a propor essa teoria e então com abundante justificação (no famoso livro A Origem das Espécies"); teoria actualmente demonstrada de forma exaustiva. Darwin sustentou a selecção natural com base em variações aleatórias da hereditariedade – as «mutações» -- cuja causa permaneceu obscura. «Inicialmente, Darwin não concordou com Lamarck … Mas muitos anos depois da criação da sua teoria… chegou à conclusão de que era impossível explicar a presença de características adaptativas complexas por variações aleatórias, adoptou a ideia de Lamarck» [9] e «assumiu a sua importância na evolução». [10]

2) A corrente mendeliana, iniciada pelos descobridores dos cromossomas, que se apoiaram na redescoberta teoria da hereditariedade de G. Mendel (1863). Esta corrente rejeitava a herança de características adquiridas, sustentando um determinismo rígido na transmissão genética que só poderia ser violado por mutações aleatórias. Em 1896-1910 o biólogo alemão A. Weismann defendeu que as células germinais, que transmitem a informação hereditária, são independentes das células somáticas (do corpo) – barreira de Weismann --, pelo que o lamarckismo estava errado. [9, 11] O mesmo sustentou o geneticista americano T. Morgan que estudou os cromossomas da mosca da fruta (ganhando o Prémio Nobel em 1933). Os mendelianos-weismannistas-morganistas passaram a considerar o lamarckismo como pseudo-ciência. Quase todo o século XX foi dominado pelo dogma da barreira de Weismann, que protegia as células generativas da influência de outras estruturas do corpo, correspondendo ao princípio da "pureza dos gâmetas" expresso por Mendel. [9]

Na URSS, N.I. Vavilov -- que tinha estado em 1921 no Canadá e EUA, e passado aqui algum tempo com T. Morgan -- era o mais influente geneticista e líder da corrente maioritária mendeliana-weismannista-morganista.  Maioritária em apoiantes (incluindo quadros do PCUS, Partido Comunista da União Soviética), investigadores e meios. Vavilov tinha muitas relações com o Ocidente e recebeu repetidas visitas de geneticistas de topo dos EUA (1933-37). Fez também várias visitas ao estrangeiro (além do Canadá e EUA, América Latina, China, Japão, etc.) Antecessor de Lysenko como director do Instituto de Genética, Vavilov opôs-se-lhe com sucesso. Os contactos que fez no estrangeiro granjearam-lhe inúmeros apoios de geneticistas estrangeiros na sua oposição a Lysenko.

Lysenko representava na URSS a corrente lamarckiana, dita «de Michurin», do nome de Ivan Michurin (1855-1935) um agrobiólogo russo famoso pelas muitas variedades de frutos que desenvolveu usando técnicas de hibridização combinadas com modificações de condições ambientais. Para Michurin a obtenção de híbridos era o primeiro passo a que se seguia o passo decisivo de expor os híbridos a condições ambientais que alterassem o organismo na direcção desejada. Em 1896, um representante do Instituto Agrícola de Washington visitou Michurin e trouxe para os EUA uma colecção de frutos Michurin. Numa entrevista, disse «Se Michurin estivesse na América fá-lo-iam rico». Nos anos 1911-13 o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, sabendo do trabalho excepcional de Michurin propôs-lhe repetidamente que emigrasse para a América, ou que pelo menos vendesse toda a colecção das suas variedades, formas iniciais, e híbridos, em termos favoráveis. Michurin, um bolchevique firme, recusou todas as propostas. (Mais detalhes em [12].)

Note-se que, ao contrário do que muitas vezes os caluniadores de Lysenko afirmam ou insinuam, a corrente lamarckiana de Lysenko não era um fenómeno exclusivo da URSS. Vários biólogos de outros países sustentavam a influência do meio na transmissão hereditária de caracteres, nomeadamente o botânico britânico George Henslow (1835-1925), que estudou os efeitos do stress ambiental no crescimento de plantas, e o entomologista americano Alpheus S. Packard Jr. que estudou animais cegos que vivem em cavernas e escreveu um livro em 1901 sobre Lamarck e o seu trabalho. [12]

O que foi específico da URSS, foi que num período extremamente crítico deste país -- atacado por todos os lados e tendo sofrido a guerra mais destruidora da história – Lysenko e seus associados deram uma enorme contribuição, como já vimos, para alimentar o povo e salvar o país.  Quanto à corrente dominante mendeliana-weismannista-morganista encabeçada por Vavilov, apesar de também ter tido a incumbência de contribuir para alimentar o povo, teve uma contribuição nula.
III

In the early years of the RSFSR and the USSR there were, as in other countries, two contending schools of geneticists. The two accepted the existence of genes and chromosomes, but the way they operated was the subject of disputes. Note that at that time genetics was a science in its infancy, the DNA structure had not been discovered and biologists talked about genes and chromosomes more or less as physicists and chemists talked about atoms before the discovery of the electron and the alpha and beta radiation of uranium. When chromosome theory as the basis of heredity was proposed in 1902 (W. Sutton, T. Boveri, E. Wilson) several famous geneticists from the USA, England, and Denmark contested it [8].

The two schools of geneticists were:

1) The Lamarckian school, following Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), defended the possibility of inheriting acquired characteristics in the evolution of living beings. It should here be noted that Lamarck pioneered the materialist proposition that biological evolution occurred and proceeded according to natural laws. It was only later, in 1859, that Darwin again proposed this theory and then with abundant justification (in the famous book On the Origin of Species); a theory that has been exhaustively demonstrated. Darwin upheld natural selection on the basis of random variations of heredity -- the "mutations" -- whose cause remained obscure. "Darwin initially did not agree with Lamarck … However, many years after the creation of his theory… [he] came to the conclusion that it was impossible to explain the presence of complex adaptive characteristics by random variations, adopted the idea of Lamarck” [9] and “assumed that it was of importance in evolution” [10].

2) The Mendelian school, initiated by the discoverers of the chromosomes, who based themselves on the rediscovered theory of the heredity by G. Mendel (1863). This school rejected the inheritance of acquired characteristics, sustaining a rigid determinism in genetic transmission that could only be violated by random mutations. In 1896-1910 the German biologist A. Weismann argued that germ cells, which transmit hereditary information, are independent of somatic (body) cells -- Weismann's barrier --, therefore Lamarckism was wrong. [9, 11] The same was maintained by the American geneticist T. Morgan who studied the chromosomes of the fruit fly (winning the Nobel Prize in 1933). The Mendelian-Weismannist-Morganists came to regard Lamarckism as pseudo-science. Almost the entire twentieth century was dominated by the Weismann barrier dogma, which protected the generative cells from the influence of other structures of the body, corresponding to Mendel's principle of "purity of gametes ". [9]

In the USSR, N.I. Vavilov -- who had been in Canada and US in 1921, having spent some time here with T. Morgan -- was the most influential geneticist and leader of the majority Mendelian-Weismannian-Morganist current. Majority in supporters (including cadres of the CPSU, Communist Party of the Soviet Union), researchers and resources. Vavilov entertained many relationships with the West and received repeated visits from top US geneticists (1933-37). He also made several visits abroad (besides Canada and US, also Latin America, China, Japan, etc.). Predecessor of Lysenko as director of the Institute of Genetics, Vavilov successfully opposed him. The contacts he made abroad gained him numerous supporters from foreign geneticists in his opposition to Lysenko.

Lysenko represented in the USSR the Lamarckian school, called "Michurin’s school," after the name of Ivan Michurin (1855-1935), a Russian agrobiologist famous for the many varieties of fruits he developed using hybridization techniques combined with modifications of environmental conditions. For Michurin, obtaining hybrids was only the first step which had to be followed by the decisive step of exposing the hybrids to environmental conditions that altered the organism in the desired direction. In 1896, a representative of the Washington Agricultural Institute visited Michurin and brought to the US a collection of Michurin fruits. In an interview, he said "If Michurin were in America they would have made him rich." In the years 1911-13, the United States Department of Agriculture, knowing of Michurin's outstanding work, repeatedly proposed that he emigrated to America, or at least sell the entire collection of his varieties, initial forms, and hybrids on favorable terms . Michurin, a firm Bolshevik, declined all proposals. (More details in [12].)

It should be noted here that, contrary to what the slanderers of Lysenko often affirm or imply, Lysenko's Lamarckian current was not a phenomenon unique to the USSR. Several biologists from other countries asserted the influence of the environment on the hereditary transmission of traits, namely the British botanist George Henslow (1835-1925), who studied the effects of environmental stress on plant growth, and the American entomologist Alpheus S. Packard Jr., who studied blind animals living in caves and wrote a book in 1901 about Lamarck and his work. [12]

What was specific to the USSR was that in an extremely critical period of this country -- attacked on all sides and having suffered the most destructive war in history -- Lysenko and his associates made an enormous contribution, as we have mentioned, to feed the people and save the country. As for the mainstream Mendelian-Weismannist-Mänganist school, led by Vavilov, in spite of the fact that it also had the task of contributing to feed the people, it made no contribution to that end.

IV

A informação dominante, pró-capitalista, tanto no Ocidente como na Rússia, insiste na mensagem de que a disputa entre Lysenko e Vavilov era política, de estalinistas vs. anti-estalinistas (ver, p ex., a concordância neste aspecto da wikipedia em inglês e em russo).  É falso. As únicas críticas que Lysenko formulou contra a corrente mendeliana-weismannista-morganista foram de natureza científica e não política. Além disso, Lysenko nunca foi membro do PCUS. [13]

Está também muito difundida na informação dominante que Lysenko negava a existência de genes e cromossomas. É falso. Lysenko critica Weismann e Morgan, não por defenderem o papel de genes e cromossomas na hereditariedade, mas por defenderem esse papel de forma idealista e metafísica. Lysenko apresentou as suas razões em duas importantes conferências científicas. Conferências abertas, em 1939 [14] e 1948 [15], onde os seus opositores estavam presentes (e em larga maioria, pelo menos em 1939) e puderam intervir e interrompê-lo. As razões que Lysenko apresentou são sólidas e esmagadoras.

Na Conferência de 1948, Lysenko começa por apontar que Weismann dizia que «os cromossomas representam, por assim dizer, um mundo separado», independente do organismo e das suas condições de vida e, ao fazer esta separação, asseverava que «o plasma germinativo nunca é gerado de novo; só cresce e multiplica-se continuamente, transmitido de geração em geração» (ênfase nossa). O corpo vivo e as suas células eram apenas o recipiente e meio nutritivo da «substância hereditária».

Esta teoria foi reforçada por Morgan e seguidores, desembocando na ideia dos cromossomas como uma «substância hereditária», um «plasma germinativo» imortal e inexaustível. Em 1945 Morgan escreveu: «As células germinativas tornam-se mais tarde as partes essenciais do ovário e dos testículos, respectivamente. Na origem, portanto, elas são independentes do resto do corpo e nunca foram parte constituinte dele... A evolução é de origem germinal e não somática como havia sido ensinado anteriormente» (ênfase de Lysenko).

Prossigamos com outras citações de weismannistas-morganistas que Lysenko apresentou nessa Conferência. Desenvolvendo o idealismo do «plasma germinativo» imortal, um cientista americano escreveu em 1945: «Na realidade, o pai não produz o filho, nem mesmo a célula reprodutiva que está na sua origem. O pai é ele mesmo apenas um subproduto do ovo fertilizado (ou zigoto) do qual ele surgiu. ... Este princípio da "continuidade da substância germinal" … é um dos princípios fundamentais da genética. Mostra porque razão as mudanças corporais produzidas num pai por influências ambientais não são herdadas É porque a prole não é o produto do corpo do pai, mas apenas da substância germinativa que esse corpo abriga» (ênfase nossa).

M. Zavadovsky, professor de biologia na Universidade de Moscovo na época de Lysenko, escreveu: «As células germinativas e as células do soma devem ser consideradas não como gerações filhas e paternas, mas como irmãs gémeas, das quais uma (o soma) é a alimentadora, protectora e guardiã da outra». O geneticista russo, N. Koltzov, asseverou que «Quimicamente, o genoma com os seus genes permanece inalterado no decurso de toda a ovogénese e não está sujeito a processos metabólicos - oxidantes e restauradores.» (ênfase nossa). Um «plasma», portanto, imortal e divino.

O conhecido físico (e religioso) Erwin Schroedinger, na sua incursão na biologia no livro O que é a vida?, extasiado pela teoria idealista de Weismann-Morgan de um «plasma germinativo imortal» tira a conclusão que se impunha: «... o eu pessoal é igual ao ser eterno, abrangente e omnipresente», considerando esta conclusão como «o mais próximo que um biólogo pode chegar a provar Deus e a imortalidade de uma só vez».

Para concluir, o já mencionado Zavadovsky, sustentando-se em Weismann-Morgan, encontrou a resposta definitiva de um eterno problema metafísico, explicando assim o «conteúdo principal» da genética de Weismann-Morgan: "O que surgiu primeiro, o ovo da galinha ou a galinha? À questão colocada assim, com toda a nitidez, Weismann deu uma resposta explícita e categórica: o ovo».

Na Conferência de 1939 Lysenko critica o facto de nas muitas estações de selecção da URSS não se comparar o desempenho de sementes de elite com as comuns, porque «… de acordo com a genética de Mendel-Morgan ... qualquer semente de plantas auto-polinizadoras dentro dos limites de uma única variedade é semelhante em relação à sua herança (genótipo), independentemente das condições de cultivo… De acordo com essa pseudo-ciência, boas técnicas agrárias não podem melhorar a natureza da planta e as ruins não podem deteriorá-la. … O próprio posicionamento da questão quanto à necessidade de uma comparação… foi e é considerado pelos mendelianos não científico e inculto». [16] Aponta também a posição dúbia de muitos mendelianos: «…um grupo de camaradas que compartilham os pontos de vista do mendelismo manteve em discussões informais que nenhum mendeliano nega a necessidade da aplicação de agro-técnicas sólidas, a aplicação de fertilizantes, etc. ... Já esqueceram que N. I. Vavilov declarou deste mesmo pódio que a ciência genética "mundial" não reconhece a possibilidade de mudar, de melhorar a casta de sementes por meio de técnicas agrícolas…».

Outro aspecto também criticado por Lysenko na Conferência de 1948 era a esterilidade do trabalho dos seus opositores. Tinham tido contribuição nula nas práticas agrícolas quer nas plantas quer nos animais. Menciona contribuições que os opositores reivindicam ser suas mas não o são e o caso de N. Dubinin, Professor de biologia e associado de Vavilov, que durante e logo após a guerra passou o tempo a estudar a hereditariedade das moscas da fruta na cidade de Voronej e arredores. Lysenko comenta: «…Dubinin, como vemos, escreve de maneira que, superficialmente, a sua obra até pode parecer científica para alguns… Mas se pusermos tudo em termos mais simples, removendo o palavreado pseudo-científico e substituindo o jargão morganista por palavras russas comuns, chegaríamos ao seguinte: como resultado de muitos anos de esforço, Dubinin "enriqueceu" a ciência com a "descoberta" de que durante a guerra ocorreu entre a população de moscas da fruta da cidade de Voronej e arredores um aumento na percentagem de moscas com certas estruturas cromossómicas e uma diminuição da percentagem de moscas com outras estruturas cromossómicas».

São de assinalar as seguintes palavras do editor americano da Conferência de 1939: «Em vista das acusações, frequentemente ouvidas nos Estados Unidos, de que o governo soviético usa a sua autoridade para cercear as disputas científicas, é interessante notar que a presente conferência foi convocada pelos editores da revista Pod znamenem marksizma [Sob a bandeira do marxismo] para que todos tivessem a oportunidade de apresentar a sua posição». Após queixar-se dos «relatórios totalmente inadequados, muitas vezes completamente distorcidos, da controvérsia genética na União Soviética, que apareceram nos nossos jornais e revistas científicas», o editor conclui: «É de esperar ... que com um conhecimento mais aprofundado da questão e evidência sobre o caso, eles [jornais e revistas científicas] estarão menos inclinados a injectar supostos motivos políticos numa controvérsia científica».
IV

The mainstream, pro-capitalist information, both in the West and in Russia, insists on the message that the dispute between Lysenko and Vavilov was a political one, Stalinist v. anti-Stalinists (see, e.g., the concordance in this aspect of wikipedia in English and Russian). This is false. The only criticisms that Lysenko made against the Mendelian-Weismannist-Morganist school were of a scientific rather than of a political nature. Moreover, Lysenko was never a member of the CPSU. [13]

It is also widespread in the mainstream information that Lysenko denied the existence of genes and chromosomes. This is false. Lysenko criticizes Weismann and Morgan, not for defending the role of genes and chromosomes in heredity, but for defending this role in an idealistic and metaphysical way. Lysenko presented his reasons in two important scientific conferences. The open conferences in 1939 [14] and 1948 [15], where his opponents were present (and in large majority, at least in 1939) and were able to intervene and interrupt him. The reasons that Lysenko presented are solid and overwhelming.

At the 1948 Conference, Lysenko begins by pointing out that Weismann said that "chromosomes represent, as it were, a separate world," independent of the organism and its living conditions, and in making this separation asserted that "the germ-plasm is never generated again; it only grows and multiplies continually, handed down from generation to generation" (our emphasis). The living body and its cells were only the container and nutritive medium of the "hereditary substance".

This theory was reinforced by Morgan and followers, leading to the idea of chromosomes as a "hereditary substance", an immortal and inexhaustible "germ-plasm." In 1945 Morgan wrote: "The germ-cells become later the essential parts of the ovary and testis respectively. In origin, therefore, they are independent of the rest of the body and have never been a constituent part of it.... Evolution is germinal in origin and not somatic as had been earlier taught" (Lysenko's emphasis).

Let us proceed with other quotations of Weismannists-Morganists that Lysenko presented at that Conference. Developing the idealism of the immortal “germ-plasm”, an American scientist wrote in 1945: "In reality the parent does not produce the child nor even the reproductive cell which functions in its origin. The parent is himself merely a by-product of the fertilised egg (or zygote) out of which he arose… This principle of the 'continuity of the germinal substance' … is one of the foundation principles of genetics. It shows why body changes produced in a parent by environmental influences are not inherited by the offspring. It is because offspring are not the product of the parent's body but only of the germinal substance which that body harbours" (our emphasis).

M. Zavadovsky, a professor of biology at Moscow University at the time of Lysenko, wrote: "The germ cells and the cells of the soma should be regarded not as daughter and parent generations, but as twin sisters, of which one (the soma) is the feeder, protector, and guardian of the other”. The Russian geneticist, N. Koltzov, stated that "Chemically, the genome with its genes remains unchanged in the course of the entire ovogenesis and is not subject to metabolism--oxidising and restorative processes." (our emphasis). A "plasm", therefore, immortal and divine.

The well-known (religious) physicist Erwin Schroedinger, in his foray into biology in the book What is Life ?, entranced by Weismann-Morgan's idealist theory of an "immortal germ-plasm" arrives at the conclusion begging to be drawn: "... the personal self equals omnipresent, all-comprehending eternal self", considering this conclusion as "the closest a biologist can get to proving God and immortality at one stroke."

To conclude, the aforementioned Zavadovsky, based on Weismann-Morgan, found the definitive answer to an eternal metaphysical problem, by explaining in this way the "main content" of Weismann-Morgan's genetics: "What came first, the hen’s egg or the hen? To the question posed thus sharply Weismann gave an explicit, categorical reply: the egg."

At the 1939 Conference Lysenko criticizes the fact that in many selection stations in the USSR the performance of elite seeds is not compared with the common ones because "... according to Mendel-Morgan genetics ... any seeds of self- pollinating plants within the limits of a single variety are alike with respect to their inheritance (genotype) regardless of the conditions of cultivation ... According to this pseudo-science, good agro-techniques cannot improve and bad ones cannot deteriorate the nature of the plant ... The very posing of the question as to the necessity of a comparison ... was and is considered unscientific, illiterate, by the Mendelians». [16] He also points out the dubious position of many Mendelians: "... a group of comrades who share the views of Mendelism have maintained in informal discussions that no Mendelian denies the necessity of the application of sound agro-techniques, the application of fertilizers, etc. ... They have already forgotten that N. I. Vavilov declared from this very platform that "world" genetic science does not recognize the possibility of changing, improving the breed of seed by means of agro-techniques…".

Another aspect also criticized by Lysenko at the 1948 Conference was the sterility of the work of his opponents. They had made no contribution to agricultural practices either in plants or animals. He mentions contributions the opponents had claimed to be theirs but were not, and the case of N. Dubinin, Professor of biology and an associate of Vavilov, who during and shortly after the war spent time studying the heredity of fruit flies in the city of Voronezh and surroundings. Lysenko comments: "… Dubinin, as we see, writes so that on the surface his work may appear to some to be even scientific... But if we were to put it all in plainer terms, stripping it of the pseudo-scientific verbiage and replacing the Morganist jargon with ordinary Russian words, we would arrive at the following: as the result of many years of effort, Dubinin "enriched" science with the "discovery" that during war there occurred among the fruit-fly population of the city of Voronezh and its environs an increase in the percentage of flies with certain chromosome structures and a decrease in the percentage of flies with other chromosome structures.”

The following words from the American publisher of the 1939 Conference are to be marked: "In view of the charges, frequently heard in the United States, that the Soviet government uses its authority to curtail scientific disputes, it is interesting to note that the present conference was called by the editors of the magazine Under the banner of Marxism [Pod znamenem marksizma] in order that everyone would have the opportunity to present his case". Having complained about the "wholly inadequate, often completely distorted, reports of the genetic controversy in the Soviet Union that have appeared in our newspapers and scientific journals," the publisher concludes: "It is to be hoped ... that with further knowledge of the issue and evidence in the case, they [newspapers and scientific journals] will be less inclined than heretofore to inject suppositious political motives into a scientific controversy."

V

A acusação principal contra Lysenko, lançada primeiro pelos mendelianos-weismannistas-morganistas, seguidos depois por tudo que era anti-Estaline, isto é, anti-comunista (principalmente nos meios académicos), era a de ser defensor do lamarckismo, da hereditariedade de caracteres adquiridos. O que há a dizer sobre esta acusação?

-- Em 1930-40 descobriu-se pela primeira vez que os genes sofrem modificações sob influência de raios X e compostos químicos que podiam ser transmitidas à descendência. Os mendelianos passaram a reconhecer mutações deste tipo, mas a forma como encaravam as mutações conduzia a conclusões aberrantes, como a do biólogo russo I. Schmalhausen que defendia a ideia da «selecção estabilizadora»: «a formação de castas e linhagens segue -- presumivelmente inevitavelmente -- uma curva de retrocesso: a formação de castas e linhagens, tempestuosa no alvorecer da civilização, cada vez mais consome a sua "reserva de mutações" e gradualmente recua». [15]

-- Com a descoberta da estrutura do ADN em 1953 e a do RNA mensageiro no final dos anos 50, a hipótese de Weismann foi modificada na forma de «dogma central» da biologia molecular: fluxo unidireccional de informação DNA -> RNA -> proteína. O que equivale a dizer que é o DNA do zigoto que determina o «soma» (corpo), sendo proibido o fluxo inverso de informação. Porém, nos finais dos anos 50, o geneticista americano G. Temin propôs a explicação DNA <- RNA para certas observações, confirmada em 1970 com a descoberta da enzima «transcriptase reversa». O dogma passou a ser: DNA <-> RNA -> proteína. Entretanto, alguns investigadores já tinham chegado à conclusão de que em certos casos o RNA podia ser modificado por factores externos, correspondendo a: DNA <-> RNA <-> proteína. Isto é, ausência de barreiras à transmissão de informação. [9, 10]

-- Em 1962 vários grupos de investigação provaram que concentrações específicas de certos nutrientes minerais ou a temperatura podem fazer com que as plantas cresçam de forma diferente e que estas alterações são transmitidas à descendência e permanecem estáveis por várias gerações. Isto é, foi confirmado aquilo que Lysenko já sabia empiricamente ao inventar a vernalização. Em 1999 foi demonstrado que existia um mecanismo de hereditariedade de caracteres adquiridos em certos animais com diferenciação tardia das células germinais (p. ex. em moluscos) [9]. Em 2005, as modificações do DNA associadas a mudanças induzidas pelo ambiente foram extensivamente caracterizadas. [10]

-- Actualmente, a confirmação da hereditariedade de caracteres adquiridos por influência do meio ambiente, em determinadas circunstâncias, está bem estabelecida, os mecanismos que permitem essa transmissão estão em grande parte compreendidos e o tema é objecto de investigação activa. Indicamos em [17] vários artigos sobre o assunto. A selecção natural actua não só sobre variações obtidas por mutações como por influência do meio ambiente.

Em suma, Lamarck tinha razão, como afirma o título de um trabalho de 2017, «Lamarck levanta-se do túmulo» (Yan Wang et al., op. cit. in [17]). Com Lamarck levantam-se também Michurin e Lysenko. Muitos dos artigos sobre este tema avaliam Lysenko de forma positiva, ainda que por vezes tímida (receio de conotação política?) [18]. O geneticista americano Otto Landman escreveu em 1993 [17]: «o confronto e vituperação gerados pelo caso Lysenko efectivamente silenciaram a discussão da herança adquirida».

Conclusão: a principal acusação contra Lysenko não tem qualquer fundamento.

É certo que Lysenko não explicou teoricamente a hereditariedade de caracteres adquiridos. Nem podia fazê-lo (tal como os oponentes não podiam refutar!) porque no seu tempo não havia bases teóricas nem meios técnicos para o fazer. Para dar um exemplo, na década de 1930 a distinção entre DNA e RNA ainda era mal conhecida; julgava-se que o RNA ocorria apenas em plantas e o DNA apenas em animais. Mas Lysenko observara em inúmeros exemplos (nisto, não diferia de Darwin), que a hereditariedade de caracteres adquiridos ocorria e era a única explicação possível para as observações. Foi mais longe que os opositores que não explicavam nada e fechavam os olhos às observações, como no caso das enxertias em que os seus opositores negavam contra montanhas de evidência a obtenção de híbridos com alterações transmitidas por hereditariedade [19]. Lysenko também tem o mérito de, ao sustentar a hereditariedade de caracteres adquiridos, ter seguido os princípios metodológicos que caracterizam toda a ciência: ser materialista (isto é, basear-se na realidade concreta, material) e ser dialéctica (isto é, ter em conta que toda a matéria muda, está em movimento). A alternativa Weismann-Morgan era, pelo contrário, como vimos, idealista e metafísica.

IV

Outras acusações usuais contra Lysenko, são:

-- Lysenko negava a existência de cromossomas.

Falso. Na Conferência de 1939, a uma interrupção de um participante quando falava de híbridos por enxertia, Lysenko respondeu: «Quando disse eu ou escrevi que não é necessário estudar a membrana da célula ou os cromossomas? Quem de nós disse que não é necessário estudar os cromossomas?... Relativamente aos cromossomas, direi apenas que quaisquer propriedades hereditárias podem ser transmitidas de uma casta para outra, mesmo sem a transmissão imediata dos cromossomas [como nos enxertos]. Nenhum de nós disse ou diz que os cromossomas não desempenham um grande papel biológico na hereditariedade. Mas o morganismo-mendelismo proibiu o estudo do papel biológico dos cromossomas. Transformaram a citologia em citogenética, isto é, em vez de estudar a célula como tal, os morganistas reduziram tudo à contagem e morfologia dos cromossomas. O estudo do papel biológico e significância dos cromossomas é um assunto muito necessário; como presidente da Academia V.I. Lenine de Ciências Agrárias devo ajudá-lo de todas as formas».

-- Lysenko negava a existência de genes.

Esta acusação é disparatada. Lysenko não negava a existência de genes já que também não negava a existência de cromossomas. O que Lysenko negava era o conceito metafísico de genes e cromossomas não modificáveis. Lysenko tinha uma alta opinião da genética e por isso mesmo foi director do Instituto de Genética. Lysenko disse assim em 1939 [14]: «A genética é uma parte interessante e de importância prática da agrobiologia. É a ciência das regularidades da hereditariedade e da variação de organismos vegetais e animais. Quanto mais, e mais verdadeiramente, descobrirmos essas leis, ou seja, quanto melhor dominarmos na prática o desenvolvimento do organismo, mais rápida e radicalmente seremos capazes de melhorar e adaptar a natureza viva, as variedades de plantas, as castas de animais».

Uma fonte (Johansen, op. cit. in [1]) cita a seguinte apreciação de um líder soviético: «Tive que me encontrar com Lysenko muitas vezes. Não houve um único ataque nas palestras do académico contra a genética como ciência. Houve uma crítica às posições de alguns cientistas genéticos, de que ele não compartilhava, talvez ele se tenha enganado sobre algo, mas isso é discutível»

-- Lysenko negava as leis de Mendel.

Lysenko não negava as leis de Mendel, mas achava-as sem utilidade prática.

Nos argumentos mais eruditos de suporte a esta tese, aponta-se o artigo do célebre matemático russo A.N. Kolmogorov, Sobre uma nova confirmação das leis de Mendel [20]. Nele, Kolmogorov deduz as fórmulas matemáticas de percentagens de indivíduos com variante dominante de um gene em n gerações. Usa para tal a distribuição probabilística que satisfaz a regra mendeliana (3:1)n. [21] Kolmogorov compara os valores teóricos das percentagens (totais em dois intervalos da distriuição) com os observados nos dados empíricos de uma investigadora russa (observações em 98 e 123 famílias de plantas) e constata a proximidade de valores.

Kolmogorov considera que, para além da lei determinística, 3:1, a que chama «factor interno» da biologia, existem inúmeras «factores externos» (p. ex., «qual dos grãos de pólen cairá sobre o estigma») que agem aleatoriamente, o que justifica o modelo probabilístico usado. Também assume que «as probabilidades correspondentes a qualquer uma destas … combinações possíveis [de genes] são iguais», acrescentando: «biologicamente, esta suposição significa igualdade de viabilidade dos gâmetas, ausência de fertilização selectiva e igual viabilidade… dos indivíduos [gerados]». Sobre esta assunção, a que chama «hipótese de independência», diz que «há um número de exemplos firmemente estabelecidos de desvios desta hipótese, às vezes quantitativamente insignificantes e outras vezes muito grandes». Nota que quanto a isto, a escola mendeliana segue a «hipótese de independência», mas não a de Lysenko para quem «fertilização selectiva e desigual viabilidade desempenham em todo o lado um papel tão decisivo que as considerações baseadas na hipótese de independência são infrutíferas…».

Em suma, o que Kolmogorov prova no referido artigo é que, a regra 3.1 se aplica ao conjunto de dados que analisou, e que se assume satisfazer às condições da “hipótese da independência”. Deixando de lado o factor de aleatoriedade, é semelhante a alguém verificar a lei da gravidade para um conjunto de corpos em queda no vácuo, isto é, sob a «independência» de ausência de resistência do ar, ventos, etc. Desta forma, Kolmogorov de modo nenhum invalida a «escola Lysenko», baseada precisamente em dados obtidos por métodos que violam a «hipótese da independência».

Lysenko responde a Kolmogorov com um artigo curto [22]. O argumento principal que apresenta não é o da negação das leis de Mendel, mas sim a sua inutilidade prática. Ilustra isso com um exemplo. Revela, porém, pouca compreensão do artigo de Kolmogorov como ele próprio explica [23].

Note-se que já Haldane (op. cit. in [1[) tinha criticado a regra 3:1 de Mendel: «Embora a relação de três para um seja esperada de acordo com as leis da genética formal, é muito raramente obtida com exactidão total. Se as plantas ou animais fossem sempre produzidos em proporções exactamente mendelianas, haveria um equilíbrio perpétuo nas populações híbridas». O próprio Vavilov, opositor de Lysenko, também expressou dúvidas sobre Mendel! [24]
V

The main accusation against Lysenko, first launched by the Mendelian-Weismann-Morganists, followed afterwards by everything that was anti-Stalin, i.e., anti-communist (especially in academic circles), was of being a defender of Lamarckism, of the inheritance of acquired traits. What is there to say about this accusation?

-- In 1930-40 it was first discovered that genes undergo changes under the influence of X-rays and chemical compounds that could be transmitted to offspring. Mendelians came to recognize mutations of this kind, but the way they looked at mutations led to aberrant conclusions, such as the one of the Russian biologist I. Schmalhausen who advocated the idea of ​​“stabilizing selection”: 'The formation of breeds and strains proceeds -- presumably inevitably --- in a receding curve: the formation of breeds and strains, stormy at the dawn of civilization, increasingly expends its ‘reserve of mutations’ and gradually recedes.” [15]

-- With the discovery of the DNA structure in 1953 and that of messenger RNA in the late 1950s, Weismann's hypothesis was modified in the form of the "central dogma" of molecular biology: unidirectional flow of information DNA -> RNA -> protein. This amounted to saying that it is the zygote's DNA that determines the "soma" (body), and the inverse flow of information is prohibited. However, in the late 1950s, the American geneticist G. Temin proposed the DNA <- RNA explanation for certain observations, confirmed in 1970 with the discovery of the enzyme "reverse transcriptase". enzyme "reverse transcriptase" The dogma became: DNA <-> RNA -> protein. Meanwhile, some investigators had already reached the conclusion that in some cases RNA could be modified by external factors, corresponding to: DNA <-> RNA <-> protein. In other words, absence of barriers to the transmission of information. [9, 10]

-- In 1962 several research groups proved that specific concentrations of certain mineral nutrients or temperature can cause plants to grow differently and that these changes are transmitted to progeny and remain stable for several generations. That is, they confirmed what Lysenko already knew empirically when inventing the vernalization. In 1999 it was shown that there was a mechanism of inheritance of characters acquired in certain animals with late differentiation of germ cells (e.g. in molluscs) [9]. In 2005, the DNA modifications associated with changes induced by the environment were extensively characterized. [10]

-- At present, confirmation of inheritance of characteristics acquired by influence of the environment in certain circumstances is well established, the mechanisms allowing such transmission are largely understood and the subject is a theme of active research. We indicate in [17] several articles on the subject. Natural selection acts not only on variations obtained by mutations but also on those obtained by influence of the environment.

In short, Lamarck was right, as the title of a 2017 paper states, "Lamarck rises from his grave" (Yan Wang et al., op. cit. in [17]). With Lamarck also rise Michurin and Lysenko. Many of the articles on this subject assess Lysenko in a positive way, albeit sometimes in a timid way (fear of political connotation?) [18]. The American geneticist Otto Landman wrote in 1993 [17]: "The confrontation and vituperation generated by the Lysenko affair effectively silenced the discussion of acquired inheritance."

Conclusion: the main accusation against Lysenko has no basis whatsoever.

It is true that Lysenko did not theoretically explain the inheritance of acquired characters. Nor could he do it (likewise, his opponents could not refute it!) because in his time there were no theoretical bases or technical means to do so. To give an example, in the 1930s the distinction between DNA and RNA was still poorly understood, and RNA was thought to occur only in plants and DNA only in animals. But Lysenko had observed in innumerable examples (in this he is no different of Darwin) that the inheritance of acquired characteristics occurred and was the only possible explanation for the observations. He went further than his opponents who explained nothing and closed their eyes to the observations, as in the case of grafting in which his opponents denied against mountains of evidence the obtaining of hybrids with changes transmitted by inheritance [19]. Lysenko also has the merit that in supporting the inheritance of acquired characteristics he followed the methodological principles that characterizes every science: to be materialistic (that is, to be based on concrete, material reality) and to be dialectical (that is, to take into account that all matter changes, matter is always in motion). The Weismann-Morgan alternative, on the contrary, was, as we have seen, idealistic and metaphysical.

IV

Other usual charges against Lysenko are:

-- Lysenko denied the existence of chromosomes.

False. At the 1939 Conference, when a participant interrupted his speech on hybrids by grafting, Lysenko replied: "When have I said or written that it is not necessary to study the membrane of the cell or the chromosomes? Who of us has said that it is not necessary to study the chromosomes? ... Concerning the chromosomes, I will say merely that any hereditary properties can be transmitted from one breed to another, even without the immediate transmission of the chromosomes [as in the grafts]. Not one of us has said or says that chromosomes do not play a great biological role in heredity. But Morganism-Mendelism forbade studying the biological role of chromosomes. They transformed cytology into cyto-genetics, i.e., instead of studying the cell as such, the Morganists reduced everything to the count and the morphology of the chromosomes alone. The study of the biological role and significance of the chromosomes is a most necessary matter, and as president of the V.I. Lenin Academy of Agricultural Science, I am bound to aid it in every way."
-- Lysenko denied the existence of genes.

This charge is nonsensical. Lysenko did not deny the existence of genes as he also did not deny the existence of chromosomes. What Lysenko denied was the metaphysical concept of non-modifiable genes and chromosomes. Lysenko had a high opinion of genetics and for that reason he became director of the Institute of Genetics. Lysenko said so in 1939 [14]: "Genetics is an interesting and practically important part of agrobiology. It is the science of the regularities of inheritance and variation of plant and animal organisms. The more, and the more truly we discover these laws, i.e., the better we master in practice the development of the organism, the more quickly and radically we will be able to improve and adapt living nature, the varieties of plants, the breeds of animals. "

A source (Johansen, op. cit. in [1]) cites the following appreciation of a Soviet leader: “I had to meet with Lysenko many times. There was not a single attack in the lectures of the academician against genetics as a science. There was a criticism of the positions of some genetic scientists, that he did not share, perhaps he was mistaken about something, but this is discussible.”

-- Lysenko denied Mendel's laws.

Lysenko did not deny Mendel's laws, but found them without practical usefulness.

In the most erudite arguments upholding this thesis stands the article by the famous Russian mathematician A.N. Kolmogorov, On a New Confirmation of Mendel's Laws [20]. In it, Kolmogorov deduces the mathematical formulas of percentages of individuals with dominant variant of a gene in n generations. He uses the probabilistic distribution that satisfies the Mendelian rule (3:1)n. [21] Kolmogorov compares the theoretical values of the percentages (totals in two intervals of the distribution) with those observed in the empirical data of a Russian researcher (observations in 98 and 123 families of plants) and recognizes the proximity of values.

Kolmogorov considers that, in addition to the deterministic law, 3:1, which he calls the "internal factor" of biology, there are innumerable "external factors" (e.g., "which of the pollen grains will fall on the stigma”) that act at random, justifying the probabilistic model he used. He also assumes that "the probabilities corresponding to any of these ... possible choices [of genes] are the same", adding: "biologically this assumption means equal viability of the gametes, lack of selective fertilization and equal viability ... of [generated] individuals". Regarding this assumption, which he calls the “independence hypothesis”, he says that “there are a number of firmly established examples of deviations from this hypothesis, sometimes quantitatively insignificant and sometimes very large”. He notes that in this respect the Mendelian school follows the “independence hypothesis”, but not that of Lysenko, for whom “selective fertilized and unequal viability play everywhere such a decisive role that considerations based on the hypothesis of independence are fruitless ...”.

In short, what Kolmogorov proves in the mentioned article is that, the rule 3.1 applies to the set of data which he analyzed, and is assumed to satisfy the conditions of the “independence hypothesis”. Putting aside the randomness factor, this is similar to someone checking the gravity law for a set of falling bodies in vacuum, i.e., under the “independence” of no air resistance, winds, etc. Hence, Kolmogorov in no way invalidates the “Lysenko school”, which is based precisely on data obtained by methods violating the “independence hypothesis”.

Lysenko responds to Kolmogorov with a short article [22]. The main argument he presents is not the denial of Mendel's laws, but its practical fruitlessness. He illustrates this with an example. Lysenko, however, reveals little understanding of Kolmogorov's article as he himself explains [23].

It should be noted that Haldane (op. cit. in [1]) had already criticized Mendel's 3:1 rule: "Where a three-to-one ratio is expected according to the laws of formal genetics, it is very rarely obtained with complete accuracy. If plants or animals were always produced in exactly Mendelian ratios there would be a perpetual equilibrium in hybrid populations." And even Lysenko’s opponent, Vavilov himself, also expressed doubts about Mendel! [24]

-- Lysenko misturou ciência com política

Esta acusação é falsa. São vários os testemunhos de que Lysenko nunca transformou a disputa científica em disputa política (ver, p. ex., alínea 5 da última acusação abaixo). Nos trabalhos que conhecemos [14, 15, 25] nunca justifica as suas posições científicas com base na política.

Infelizmente, encontram-se intelectuais tidos como marxistas que emprestam argumentos a esta acusação cara aos académicos anti-comunistas. R.M. Young na apreciação de um livro dos conceituados biólogos americanos R. Lewontin e R. Levins (op. cit. in [1]), menciona que o filósofo francês Louis Althusser, tido como marxista (não a nosso ver), usara o «caso Lysenko» para «atacar os abusos de Estaline na União Soviética e no Partido Comunista Francês»; este último por apoiar Lysenko como «ciência proletária». Ao usar Lysenko para atacar Estaline, Althusser deu força à tese anti-comunista. Mas o Partido Comunista Francês também não esteve melhor neste assunto. Apoiar Lysenko como «ciência proletária» é puro disparate. Não há «ciência proletária» nem «ciência burguesa», tal como não há «força da gravidade proletária» e «força da gravidade burguesa», «electrões proletários» e «electrões burgueses», etc. Querer aplicar conceitos e leis sociais às ciências da natureza não tem nada a ver com marxismo.

Young também insere a seguinte citação de Lewontin e Levins, que se reclamam marxistas: «O erro da alegação lysenkoista [aplicar o materialismo dialéctico à genética] surge da tentativa de aplicar uma análise dialéctica de problemas físicos pelo lado errado. O materialismo dialéctico não é, e nunca foi, um método programático para a solução de problemas físicos particulares». Sobre isto, e sem entrar na discussão de como se deve aplicar a dialéctica aos «problemas físicos» pelo “lado certo”, basta ter em conta que não há nada nos trabalhos de Lysenko que permita afirmar que usou o materialismo dialéctico como «método programático» -- isto é, como uma espécie de algoritmo – para resolver problemas de agrobiologia. Do que se conhece de Lysenko, ele  nunca sustentou que lhe bastava ser materialista dialéctico para chegar a uma solução correcta, na agrobiologia.

-- Estaline é o responsável por ter guindado Lysenko.

Estaline não se imiscuía nas instituições científicas. Por isso mesmo Vavilov pôde continuar à frente do Instituto de Genética até 1940, apesar das severas críticas de colegas que já pesavam sobre ele desde 1930.

Estaline avaliava as actividades dos chefes de organizações e departamentos com base no cumprimento das tarefas que haviam assumido ou lhes tinham sido atribuídas. «Estaline geralmente não era guiado por agrados e aversões pessoais, mas procedia segundo os interesses da questão» I.A. Benediktov (Comissário do Povo da Agricultura no tempo de Estaline e Krutchev) [26].

«As investigações científicas realizadas por Lysenko e seus colaboradores estavam orientadas com precisão para resultados concretos e, numa série de casos, já tinham produzido efeitos práticos palpáveis. Refiro-me designadamente ao aumento do rendimento das colheitas e à introdução de novas culturas agrícolas, mais promissoras. Os trabalhos de Vavilov e dos seus discípulos nem sequer num futuro previsível prometiam quaisquer resultados práticos, quanto mais no horizonte de então» I.A. Benediktov [27].

-- Lysenko usou a sua influência para marginalizar os opositores.

Pelo contrário, mais de uma vez apelou à colaboração.

No início do seu discurso na Conferência de 1939, Lysenko diz: «Em 6 de Janeiro de 1939, o Comissariado da Agricultura da União Soviética e a Academia Lenine de Ciências Agrícolas dda União foram encarregadas de produzir dentro de 2 a 3 anos uma variedade de centeio de inverno resistente ao frio para a zona sem neve das estepes abertas, e fornecer dentro de 3 a 5 anos uma variedade de alto rendimento de trigo de inverno, biologicamente adaptada à sub-taiga e às regiões de estepes arborizadas do norte da Sibéria. Se essas variedades não forem obtidas dentro dos períodos indicados, o nosso progresso económico será interrompido. Quem vai assumir a responsabilidade por isso? Creio que não será o mendelismo ou o darwinismo em geral, mas principalmente Lysenko como chefe da Academia de Ciências Agrárias... se os mendelianos, mobilizando a sua ciência, nos derem uma ideia de como desenvolver variedades de centeio em 2 a 3 anos e de trigo em 3 a 5 anos, adaptadas às rigorosas condições siberianas, poderia eu recusar? Claro que não. Em vez disso, saudaria a desejável proposta».

E conclui assim o seu discurso: «Tenho repetidamente dito aos geneticistas mendelianos que mesmo sem disputas não me tornaria mendeliano. A questão importante não está em disputas; vamos antes trabalhar de forma amigável num plano elaborado cientificamente. Vamos considerar problemas concretos, receber atribuições do Comissariado do Povo da Agricultura e cumpri-las cientificamente. Podemos discutir sobre a forma de cumprir este ou aquele trabalho científico de importância prática, ou sobre os métodos correctos, mas não sem um objectivo».

-- Foi Lysenko quem fez com que Vavilov fosse preso e executado.

A análise detalhada desta falsa acusação levar-nos-ia longe e fora do âmbito deste artigo. Sumarizemos os factos principais de interesse:

1) Vavilov foi preso, com outros geneticistas seus associados, em 6 de Agosto de 1940, não por causa de Lysenko ou por ser opositor de Lysenko mas sob a acusação de sabotagem.

2) A acusação de sabotagem baseava-se no uso indevido de fundos públicos, incluindo numerário estrangeiro, gastos por Vavilov não para o fim a que se destinavam –- concretamente, incumprimento dos planos anunciados pelo grupo Vavilov-Serebrovsky para a criação de novos cultivares durante o plano quinquenal de 1932-1937 --, mas para outros fins – enviar expedições para coleccionar sementes sem aplicação na URSS, observações da mosca da fruta, contactos com o estrangeiro, etc. [1 (Sergeev), 26].

3) Vavilov já tinha sido avisado, mais do que uma vez desde 1931, por funcionários e colegas, que o seu comportamento era incorrecto, mas da sua torre de marfim não ligou aos avisos [1 (Sergeev), 26]. Em Dezembro de 1935, numa reunião de Molotov (na sua posição de PM) com os cientistas, quando Vavilov informava sobre projectos de investigação do Instituto, e anunciou um projecto exótico de «Investigação sobre a domesticação da raposa», Molotov interrompeu-o gritando: «Que fantasia é essa da domesticação da raposa? E quando vai você, académico Vavilov, parar de praticar ninharias?» [26]. No Outono de 1936, o consentimento do governo da URSS para realizar o próximo congresso internacional de genética em Moscovo, que ocupou Vavilov por longo tempo, foi retirado. Em 1937-39 apareceram repetidamente na imprensa artigos críticos sobre as actividades de Vavilov e do Instituto que dirigia. Em 20 de Novembro de 1939, nove meses antes da prisão, houve um último aviso suave de Estaline [28].

4) Uma acusação de sabotagem, na véspera de uma guerra e invasão esperadas, é assunto grave em qualquer país.

5) Vavilov, quando interrogado, refutou algumas acusações, mas reconheceu outras que eram impossíveis de negar [29].

5) Lysenko nada teve a ver com a prisão de Vavilov: «Leiam os trabalhos de TD Lysenko. Há muitas publicações polémicas, mas Lysenko nunca transformou uma disputa em especulação política. Não há sequer uma sugestão da acusação de sabotagem de Vavilov. Os tópicos das disputas são puramente científicos», V.I. Pyzhenkov, geneticista e Professor da Universidade Estadual de S. Petersburgo de Ciências Agrárias; o mesmo é testemunhado pelo geneticista AI Revenkov, que esteve sob investigação simultaneamente com Vavilov e veio a a ser mais tarde o seu biógrafo [30].

Na realidade, Lysenko foi dos poucos que testemunhou favoravelmente a Vavilov, conforme atestam várias fontes e documentos [31].

6) A sentença de pena de morte de 6 de Julho de 1941 – já em plena guerra – foi comutada para 20 anos de prisão. Vavilov morreu na prisão em 1943 devido a pneumonia ([1]-Sergeev, wikipedia.ru) e não de fome imposta, como dizem algumas fontes (p. ex., wikipedia.en).

V

O «caso Vavilov» foi mais tarde usado pelos revisionistas do PCUS para atacar Estaline. Krutchev reabilitou Vavilov em 1955, antes do tristemente famoso «Relatório Secreto» de Fevereiro de 1956. Os anti-comunistas de todas as cores só tiveram de pegar na deixa dos revisionistas para, através de Lysenko, atacar Estaline, isto é, atacar o socialismo.

Em 1962, três dos mais proeminentes físicos soviéticos, os dissidentes Y. Zel'dovich, V. Ginzburg e P. Kapitsa, apresentaram um processo contra Lysenko, proclamando o seu trabalho como pseudo-ciência. Também denunciaram a aplicação do poder político por Lysenko para silenciar a oposição e eliminar os seus oponentes dentro da comunidade científica. Em 1964, o físico e bem conhecido anti-comunista A. Sakharov discursou contra Lysenko na Assembleia-Geral da Academia Russa de Ciências: «Ele é responsável pelo vergonhoso atraso da biologia soviética e da genética em particular, pela disseminação de visões pseudo-científicas, pelo aventureirismo, pela degradação do ensino e difamação, denúncia, prisão e até morte de muitos cientistas genuínos». Um forte cocktail de acusações em que não há um único ingrediente verdadeiro; mas tinha que ter muitos e fortes ingredientes – quantos mais, melhor -- para parecer crível; para mais, vindo de uma eminência como Sakharov, laureado com o Nobel, amante do capitalismo e figura querida do imperialismo.

Já depois de ser óbvio que Lysenko tinha razão e as acusações contra ele não tinham fundamento, as autoridades soviéticas não se atreveram a reabilitá-lo. A coligação de geneticistas fortalecidos durante o “degelo” krutchevista passou a dominar a Academia de Ciências Agrárias. Posteriormente, isso muitas vezes levou a escândalos. Em 1983, p. ex., Donat Dolgushin, um cientista de topo, foi nomeado para a condecoração de Herói do Trabalho Socialista devido ao trigo de alto rendimento “Odessa-56”. Mas para poder obter o prémio a Academia de Ciências Agrárias exigiu que ele condenasse as actividades de Lysenko! Dolgushin recusou. (Johansen, op. cit. in [1])
-- Lysenko mixed science with politics

This accusation is false. There are several testimonies that Lysenko never turned a scientific dispute into a political dispute (see, e. g., point 5 of the last charge below). In the works known to us [14, 15, 25] he never justifies his scientific positions based on politics.

Unfortunately, there are intellectuals deemed Marxists who lend arguments to this accusation, a praised one by anti-communist scholars. R.M. Young, in his appreciation of a book by the reputed American biologists R. Lewontin and R. Levins (op. cit. in [1]), mentions that the French philosopher Louis Althusser, deemed to be a Marxist (not in our eyes), would have used the "Lysenko affair" to "beat the abuses of Stalin in the Soviet Union and in the French Communist Party"; the latter for supporting Lysenko as "proletarian science”. In using Lysenko to attack Stalin, Althusser gave strength to the anti-communist thesis. But the French Communist Party was no better on this subject, too. Supporting Lysenko as "proletarian science" is sheer nonsense. There is no “proletarian science” and “bourgeois science” as there is no “proletarian gravity force” and “bourgeois gravity force”, “proletarian electrons” and “bourgeois electrons”, etc. The application of social concepts and laws to sciences of the nature has nothing to do with Marxism.

Young also inserts the following quotation from Lewontin and Levins, who claim to be Marxists: "The error of the Lysenkoist claim [applying dialectical materialism to genetics] arises from attempting to apply a dialectical analysis of physical problems from the wrong end. Dialectical materialism is not, and never has been, a programmatic method for the solution of particular physical problems." On this, and without entering into the discussion on how one should apply dialectics to “physical problems” from the “right end”, one only needs to take into account that there is nothing in the works of Lysenko that could be construed as applying dialectical materialism as a "programmatic method” – i.e., as a sort of algorithm -- to solve problems of agrobiology. From what is known of Lysenko, he never claimed that being a dialectic materialist had sufficed him to arrive at a correct solution in agrobiology.

-- Stalin is responsible for having promoted Lysenko.

Stalin did not intrude in scientific institutions. For that reason Vavilov was able to continue leading the Institute of Genetics until 1940, despite severe criticism from colleagues, weighing on him since the 1930s.

Stalin assessed the activities of the heads of organizations and departments on the basis of the fulfilment of the tasks they had taken or had been assigned to them. "Stalin was usually not guided by personal likes and dislikes, but proceeded from the interests of the matter" I.A. Benediktov (People's Commissar of Agriculture in the time of Stalin and Khrushchev) [26].

'The scientific investigations carried out by Lysenko and his collaborators were precisely oriented towards concrete results and, in a number of cases, had already produced palpable practical effects. I am referring in particular to the increase in crop yields and to the introduction of new, more promising agricultural crops. The works of Vavilov and his disciples not even for the foreseeable future promised any practical results, let alone in the then horizon." Benediktov [27].

-- Lysenko used his influence to marginalize opponents.

On the contrary, he more than once has appealed to collaboration.

At the beginning of his speech at the 1939 Conference, Lysenko says: "On January 6, 1939, the Commissariat of Agriculture of the USSR and the All-Union Lenin Academy of Agricultural Sciences were commissioned to produce within 2 to 3 years a cold-resistant variety of winter rye for the snowless zone of the open steppes, and, within 3 to 5 years, to furnish a high yield variety of winter wheat, biologically adapted to the sub-taiga and the northern wooded steppe regions of Siberia. If these varieties are not obtained within the given periods, our economic progress will be interrupted. Who will bear the responsibility for this? I believe, it will not be Mendelism or Darwinism in general, but principally Lysenko as head of the Academy of Agricultural Sciences... if the Mendelians, mobilizing their science, would give even a hint as to how to develop varieties of rye in 2 to 3 years and of wheat in 3 to 5 years, adapted to the rigorous Siberian conditions, is it possible that I would refuse? Of course not. Instead, I should welcome the valued proposal."

And he concludes his speech with: "I have continually told the Mendelian geneticists that even if we were not at odds, I should not be a Mendelian. The important thing is not to dispute; let us work in a friendly manner in a plan elaborated scientifically. Let us take up definite problems, receive assignments from the People's Commissariat of Agriculture of the USSR and fulfill them scientifically. We may argue about the way of fulfilling this or that practically important scientific work, or dispute as to the correct methods, but not aimlessly."

-- It was Lysenko who got Vavilov arrested and executed.

The detailed analysis of this false accusation would take us far and outside the scope of the present article. Let us summarize the main facts of interest:

1) Vavilov was arrested, along with his associate geneticists, on August 6, 1940, not because of Lysenko or because he was opposed to Lysenko but under the charge of sabotage.

2) The charge of sabotage was based on the misuse of public funds, including foreign currency, which had been spent by Vavilov not for the purposes for which they were intended -- namely failure to comply with the plans announced by the Vavilov-Serebrovsky group for the creation of new breeds during the five-year plan of 1932-1937 -- but for other purposes -- sending expeditions to collect seeds without application in the USSR, observations of the fruit fly, contacts with abroad, etc. [1 (Sergeev), 26].

3) Vavilov had already been warned by staff members and colleagues more than once since 1931 that his behavior was incorrect, but from his ivory tower did not heed to warnings [1 (Sergeev), 26]. In December 1935, at a meeting of Molotov (in his PM position) with scientists, when Vavilov reported on the plans for research work of the Institute, and announced an exotic project on “Research on the fox domestication,” the prime minister interrupted him with a cry: “What a fantasy is that of fox domestication? And when will you, Academician Vavilov, stop practicing trifles?”  [26]. In the autumn of 1936, the consent of the USSR government to hold the next international congress of genetics in Moscow, about which Vavilov had been busy for a long time, was actually withdrawn. In 1937-39 critical articles on the activities of Vavilov and the Institute he directed appeared repeatedly in the press. On November 20, 1939, nine months before the arrest, there was one last soft warning from Stalin [26].

4) A charge of sabotage, on the eve of an impending war and invasion, is a serious one in any country.

5) Vavilov, when questioned, refuted some accusations, but recognized others that were impossible for him to deny [29].

5) Lysenko had nothing to do with the arrest of Vavilov: «Read through the works of TD Lysenko. There are many polemical publications, but Lysenko never turned a dispute into political speculation. There is not even a hint of Vavilov’s accusation of sabotage. The topics of the disputes are purely scientific", V.I. Pyzhenkov, geneticist and Professor at the St. Petersburg State University of Agricultural Sciences; the same is testified by the geneticist A.I. Revenkov, who had been under investigation simultaneously with Vavilov and became later his biographer [30].

Actually, Lysenko was one of the few who testified favorably to Vavilov, as various sources and documents attest [31].

6) The sentence of death penalty of July 6, 1941 -- already in full war -- was commuted to 20 years in prison. Vavilov died in prison in 1943 due to pneumonia ([1]-Sergeev, wikipedia.ru) and not from imposed starvation as some sources say (e.g., wikipedia.en).

V

The "Vavilov affair" was later used by the CPSU revisionists to attack Stalin. Khrushchev rehabilitated Vavilov in 1955, before the sadly famous "Secret Report" of February 1956. The anti-communists of all colors just had to pick up the thesis of the revisionists for the purpose of, through Lysenko, attacking Stalin, that is, attacking socialism.

In 1962, three of the most prominent Soviet physicists, the dissidents Y. Zel'dovich, V. Ginzburg and P. Kapitsa, filed a lawsuit against Lysenko, proclaiming his work as pseudo-science. They also denounced the application of political power by Lysenko to silence the opposition and eliminate his opponents within the scientific community. In 1964, the physicist and well-known anti-communist A. Sakharov spoke against Lysenko at the General Assembly of the Russian Academy of Sciences: “He is responsible for the shameful delay of Soviet biology and genetics in particular, for the dissemination of pseudo-scientific visions, for adventurism, for the degradation of learning and for defamation, denouncing, arrest and even death of many genuine scientists.” A strong cocktail of charges with not a single true ingredient; but it had to have many and strong ingredients – the more the better -- to look credible; moreover, coming from such an eminence as the Nobel laureate Sakharov, a lover of capitalism and a darling figure of imperialism.

Short after being obvious that Lysenko was right and that the charges against him were unfounded, the Soviet authorities did not dare to rehabilitate him. The coalition of geneticists empowered during the Khrushchevist "thaw" became the dominating force in the Academy of Agricultural Sciences. Subsequently, this often led to scandals. For instance, in 1983, Donat Dolgushin, a top scientist, was nominated for the award of Hero of Socialist Labor for his high-yielding wheat "Odessa-56". But in order to be granted the award the Academy of Agricultural Sciences demanded that he condemned the activities of Lysenko! Dolgushin refused. (Johansen, op. cit. in [1])

Notas e Referências | Notes and References

[1] Os seguintes artigos descrevem sumariamente as descobertas de Lysenko | The following articles briefly describe Lysenko's achievements:
-- Niels Johansen, Trofim Lysenko: geniy ili sharlatan? [Trofim Lysenko: genius or charlatan?] Gazeta «Kul'tura, 2015-02-07;
-- Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu, Lysenko and Russian Genetics: an alternative view, European Journal of Human Genetic: EJHG 2017, DOI:10.1038/ejhg.2017.117.
-- Helena Sheehan, Who was Lysenko? What was Lysenkoism? (1978). an extract from Sheehan's book Marxism and the Philosophy of Science: A Critical History (Humanities Press International 1985 and 1993) (online on MIA-Marxists Internet Archive).
-- Robert M. Young, Getting Started on Lysenkoism, The Human Nature Review, 1978. (online on MIA).
-- J.B.S. Haldane, Soviet Biology, Labour Monthly, November 1942, p. 346-349 (online on MIA). The author is a reputed scientist.

[2] Jianlong Dai, Zhen Luo, Weijiang Li, Wei Tang, A simplified pruning method for profitable cotton production in the Yellow River valley of China, Field Crops Research 164(1):22–29, 2014.
Este artigo descreve as várias vantagens do topping das plantas de algodão. Os autores citam trabalhos posteriores a 1977, totalmente ignorando que o método foi descoberto por Lysenko!
This article describes the various advantages of topping cotton plants. The authors cite works subsequent to 1977, totally ignoring that the method was discovered by Lysenko!

[3] «Trofim Lysenko publicou os seus trabalhos sobre o efeito do frio em sementes de cereais, e cunhou o termo yarovizatsya para descrever um processo de resfriamento que usou para que as sementes dos cereais de Inverno se comportassem como cereais primaveris (Yarovoe em russo provém de yar: fogo ou o deus da Primavera). Lysenko traduziu o termo para "vernalização" (do latim vernum que significa Primavera)». Wikipedia.en.
Trofim Lysenko published his works on the effects of cold on cereal seeds, and coined the term yarovizatsya to describe a chilling process he used to make the seeds of winter cereals behave like spring cereals (Yarovoe in Russian, originally from yar meaning fire or the god of spring). Lysenko himself translated the term into "vernalization" (from the Latin vernum meaning Spring).” Wikipedia.en.

[4] O biólogo Haldane, op. cit., escreveu: «… mas as descobertas mais marcantes são as de Lysenko, que já descrevi no Daily Worker. Ele mostrou, entre outras coisas, como as sementes que normalmente são semeadas no Outono, e não começam a ter um crescimento sério até à Primavera, podem ser feitas para produzir plantas normais quando semeadas em Abril. Isto tornou possível cultivar variedades de trigo que geralmente são semeadas no Outono, em regiões onde o Inverno é demasiado frio para que tal seja praticável. Ele aplicou princípios semelhantes a muitas outras plantas, incluindo a batata, e isso tornou possível estender a área de algumas culturas importantes por milhares de milhas quadradas».
The biologist Haldane, op. cit., wrote: “…but the most striking discoveries are those of Lysenko, which I have already described in the Daily Worker. He has shown, among other things, how seeds which are normally sown in autumn, and do not begin serious growth till spring, can be made to produce normal plants when sown as late as April. This has made it possible to grow wheat varieties which are generally sown in autumn, in regions where the winter is too cold for this to be practicable. He has applied similar principles to many other plants, including the potato, and this has made it possible to extend the area under some important crops by thousands of square miles.”

[5] Ivan Segeyev, op. cit.

[6] Os números são de Niels Johansen, op. cit., que não cita a fonte. O valor de 1946 é confirmado pela wikipedia. Uma outra fonte, cita os seguintes valores oficiais para a Rússia (da Rosstat, agência estatística da Rússia) em milhões de toneladas: 21,2 em 1946 (tinha sido 55,6 em 1940) e 51,9 em 1952. O gráfico dos valores para a Rússia mostra que depois de uma subida rápida entre 1946 e 1952 a subida é moderada entre 1952 e 1965. O valor mais alto no tempo de Estaline – 70,4 em 1937 – só foi ultrapassado em 1958, 1960, 1962 e 1964. Em 1965, p. ex., foi de 66,3.
The figures are from Niels Johansen, op. cit., who does not cite the source. The value for 1946 is confirmed by the wikipedia. Another source cites the following official figures for Russia (from Rosstat, statistical agency of Russia) in millions of tons: 21.2 in 1946 (it was 55.6 in 1940) and 51.9 in 1952. The values for Russia shows that after a rapid rise between 1946 and 1952 the rise is moderate between 1952 and 1965. The highest value in Stalin's time -- 70.4 in 1937 -- was only surpassed in 1958, 1960, 1962 and 1964. In 1965, e.g., it was 66.3.

[7] Ver, p. ex. | See e.g., Robert M. Young, op. cit.

[8] «Ernst Mayr observa que a teoria foi fortemente contestada por alguns geneticistas famosos: William Bateson, Wilhelm Johannsen, Richard Goldschmidt e T.H. Morgan, todos com uma atitude mental dogmática». | “Ernst Mayr remarks that the theory was hotly contested by some famous geneticists: William Bateson, Wilhelm Johannsen, Richard Goldschmidt and T.H. Morgan, all of a rather dogmatic turn of mind.” https://en.wikipedia.org/wiki/Chromosome#cite_ref-16
Morgan mais tarde mudou de opinião | Morgan changed later of opinion.

[9] L.A. Zhivotovsky (Professor, Dept of Biological Systems and Bioinformatics, Institute of General Genetics N.I. Vavilov, Russian Academy of Sciences), Nasledovaniye priobretennykh priznakov: Lamark byl prav [Inheritance of acquired traits: Lamarck was right], «Khimiya i Zhizn'», ["Chemistry and Life"], 2003, no. 24, pp. 22-26.

[10] Yongsheng Liu, Like father like son. A fresh review of the inheritance of acquired characteristics, EMBO Rep. 2007 Sep; 8(9): 798–803. Ver também https://en.wikipedia.org/wiki/Lamarckism

[11] Weismann baseou-se em experiências simplista de cortar caudas a ratos e observar que a descendência tinha caudas (1889). O biólogo Peter Gauthier em 1990 e o biólogo e historiador da ciência Michael Ghiselin em 1994 criticaram as experiências de Weismann como não tendo nada a ver com a teoria de Lamarck.
Weismann relied on his simplistic experiments of cutting mice tails and observing that the offspring had tails (1889). Biologist Peter Gauthier in 1990 and biologist and historian of science Michael Ghiselin criticized Weismann's experiments in 1994 as having nothing to do with Lamarck's theory.

[12] P. N. Yakovlev, Preface to I. V. Michurin: Selected Works, Foreign Languages Pub. House, Moscow, 1949.

[13] Helena Sheehan, op. cit.

[14] Genetics in the Soviet Union: Three Speeches [Vavilov, Lysenko, Polyakov] from the 1939 Conference on Genetics and Selection, Science and Society Volume IV, No. 3, Summer 1940, MIA. (Original in full: Pod Znamenem Marksizma [Under the Banner of Marxism], 1939, Nº. 11.)

[15] Lysenko, T.D., The Situation in the Science of Biology. Address delivered by Academician T. D. Lysenko at a session of the All-Union Lenin Academy of Agricultural Sciences, 31 July-7 August, 1948 (Pub. Birch Book Unlimited, 1950), MIA.

[16] Os mendelianos defendiam que, uma vez estabelecida uma «linha pura», a selecção era inútil. JBS Haldane, Lysenko and Genetics, Science and Society, Volume IV, No. 4, 1940, concorda com Lysenko que tal «…teoria é simplesmente falsa, pela seguinte razão. Uma linha pura originalmente consiste em indivíduos todos homozigóticos e geneticamente semelhantes. Mas, com o passar do tempo, isso deixa de ser o caso, como resultado de mutação, e também no caso de um alopoliplóide, como o trigo, com cruzamento de cromossomas que normalmente não se cruzam. Assim, Lysenko tem razão ao enfatizar a importância de seleccionar "linhagens de sementes de elite" das chamadas linhas puras».
The Mendelians argued that once a “pure line” was established, selection was useless. JBS Haldane, Lysenko and Genetics, Science and Society, Volume IV, No. 4, 1940, agrees with Lysenko that such “…theory is simply false, for the following reason. A pure line originally consists of individuals all of which are homozygous and genetically alike. But in course of time this ceases to be the case as a result of mutation, and also in the case of an allopolyploid such as wheat, of crossing over between chromosomes which do not normally cross over. .. Hence Lysenko is quite right in stressing the importance of selecting "elite strains of seed" from so-called pure lines”.

[17] Para além | Besides Yongsheng Liu, op cit., e L.A. Zhivotovsky, op. cit., ver | see:
-- Otto E. Landman, Inheritance of Acquired Characteristics Revisited, BioScience (University of California Press), Vol. 43, No. 10 (Nov., 1993), pp. 696-705.
-- Inheritance of Acquired Characteristics, Science Direct, Elsevier. (Several papers.)
-- Acquired Traits Can Be Inherited via Small RNAs, Columbia University Medical Center, December 5, 2011.
-- Oded Rechavi, Gregory Minevich, and Oliver Hobert, Transgenerational inheritance of an acquired small RNA-based antiviral response in C.elegans, Cell. 2011 Dec 9; 147(6): 1248–1256
-- Qi Chen, Wei Yan, and Enkui Duan, Epigenetic inheritance of acquired traits through sperm RNAs and sperm RNA modifications, Nat Rev Genet. 2016 Dec; 17(12): 733–743.
-- Daniel Schott, Itai Yanai, Craig P. Hunter, Natural RNA interference directs a heritable response to the environment, Nature, 09 December 2014.
-- Yan Wang, Huijie Liu, Zhongsheng Sun, Lamarck rises from his grave: parental environmentinduced epigenetic inheritance in model organisms and humans, Biological Reviews, Volume 92, Issue 4, 2017.

[18] É o caso de Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu, 2017, op. cit., que escrevem: «Nos últimos anos, tem havido um corpo substancial de evidências experimentais confiáveis sobre a herança de caracteres adquiridos. O trabalho de Lysenko sobre a conversão do trigo de primavera em trigo de inverno pode ser explicado pela herança epigenética transgeracional. Agora parece que Lysenko não estava errado em acreditar na herança das características adquiridas» (ênfase nosso).
Such is the case of Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu, 2017, op. cit., who wrote: “In recent years, there has been a substantial body of reliable experimental evidence for the inheritance of acquired characteristics. Lysenko’s work on the conversion of spring wheat into winter wheat can be explained by transgenerational epigenetic inheritance. Now it seems that Lysenko was not wrong in believing the inheritance of acquired characteristics.” (our emphasis)

[19] Lysenko escreveu [14]: «Tornou-se então particularmente difícil para os morganistas e mendelianos, quando não era mais possível negar híbridos vegetativos… porque... os híbridos vegetativos surgiam como de cornucópia».
A propósito das enxertias, Haldane (op. cit., 1942), depois de exprimir concordância com Lysenko em vários casos, diz: «A sua afirmação [de Lysenko] de que "qualquer propriedade hereditária pode ser transmitida de uma casta para outra, mesmo sem a transmissão imediata dos cromossomas" é, na minha opinião, absolutamente falsa, e acho que qualquer pessoa com experiência prática de enxertar rosas ou maçãs concordaria comigo. Mas é igualmente falso dizer que nenhuma propriedade hereditária pode ser transmitida. A afirmação correcta é como acima, mas substituindo "qualquer" por "algumas"».
A afirmação de Haldane é revista por Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu (op. cit, 2017): «Lysenko não apenas reconheceu a existência de híbridos por enxertia, mas também aplicou o método de hibridização por enxertia à prática de melhoramento de plantas. Nas últimas décadas, experiências extensivas sobre hibridização por enxertia foram realizadas e inúmeras novas culturas e variedades foram desenvolvidas por enxertia, mostrando que as características variantes induzidas por enxerto eram estáveis e hereditárias. Actualmente, tem sido proposto que a hibridização por enxertia pode servir como um mecanismo de transferência horizontal (ou lateral) de genes».
Lysenko wrote [14]: “It became then particularly difficult for the Morganists and Mendelians, when it was not longer possible to deny vegetative hybrids… because … vegetative hybrids came pouring out as from a cornucopia”.
On the subject of grafting, Haldane (op. cit., 1942), after expressing agreement with Lysenko in several cases, wrote: “His statement that "any hereditary properties can be transmitted from one breed to another even without the immediate transmission of chromosomes" is, in my opinion, absolutely false, and I think that anyone with practical experience of grafting roses or apples would agree with me. But it is equally false to say that no hereditary properties can be so transmitted. The correct statement is as above, but substituting "some" for "any."”
Haldane's statement is revised by Zhengrong Wang, Yong-sheng Liu (op. cit., 2017): “Lysenko not only recognized the existence of graft hybrids, but also applied the method of graft hybridization to the practice of plant breeding. Over the past several decades, extensive experiments on graft hybridization have been carried out and numbers of new crops and varieties were developed by grafting, indicating that graft-induced variant characteristics were stable and inheritable. Now it has been proposed that graft hybridization may serve as a mechanism of horizontal (or lateral) gene transfer.”

[20] A.N. Kolmogorov, Ob odnom novom podtverzhdenii zakonov mendelya, Doklady Akademii Nauk SSSR, vol. 27:1, pp. 38-42, 1940.

[21] A lei de Mendel tem a ver com as combinações possíveis de um mesmo gene, presente num dado cromossoma da célula germinal masculina e feminina, na reprodução sexuada (não se aplica, p. ex., à reprodução vegetativa das plantas, que é assexuada). Suponhamos que esse gene tem duas variantes. Representemos por: a e A. Mendel inferiu a lei de observações de plantas de ervilhas com duas variedades da cor das flores, branca e violeta. Seja, para o gene «cor das flores», a=branca, A=violeta. Na reprodução sexuada um cromossoma da célula germinal masculina junta-se ao homólogo da feminina, produzindo um cromossoma duplo. As combinações possíveis, são: aa, aA, Aa, AA. («a» do pai com «a» da mãe, etc.) Temos, então, na descendência, plantas aa de flor branca e AA de flor violeta, e plantas com mistura genética, aA e Aa. Se, inicialmente, houver tantas ervilhas brancas puras (aa) como violetas puras (AA), as proporções na população de descendentes são: 1 (branca pura, aa):2 (“mistura”, aA e Aa):1 (violeta pura, AA). Acontece, porém, que nas plantas de mistura genética (híbrido) o gene A «domina» a, determinando a cor da flor: violeta. A proporção final é, portanto, 3:1 (três vezes mais violetas -- aA, Aa, AA -- que brancas -- aa).
Mendel's law has to do with the possible combinations of the same gene, present on a given chromosome of the male and female germ cell, in sexual reproduction (it doesn’t apply, for instance, to vegetative reproduction of plants, which is asexual). Suppose that the gene has two variants. Let us denote them a and A. Mendel inferred the law from observations of pea plants with two varieties of the color of the flowers, white and violet. Let, for the gene "color of flowers", a = white, A = violet. In sexual reproduction a chromosome of the male germ cell joins the homologous of the female, producing a double chromosome. The possible combinations are: aa, aA, Aa, AA. ('a' from the father with 'a' from the mother, etc.). We then get in the offspring aa plants of white flower, AA of violet flower, and plants with genetic mixture, aA and Aa. If, initially there are as many pure white peas (aa) as pure violet ones (AA), the proportions in the offspring population are: 1 (pure white, aa): 2 (“mix”, aA and Aa): 1 (pure violet, AA). It turns out, however, that in plants with genetic mixture (hybrid), the A gene "dominates" a, determining the color of the flower: violet. The final ratio is therefore 3: 1 (three times more violet flowers - aA, Aa, AA - than white flowers - aa).

[22] TD Lysenko, Po povodu stat'i akademika A.N.Kolmogorova [Regarding the article of Academician A.N. Kolmogorov], Doklady Akademii Nauk SSSR, 1940, Tom XXVIII, N.º 9.

[23] Lysenko responde a Kolmogorov, vincando que, na prática, a matemática de Kolmogorov não tinha aplicação. Dá o exemplo do trigo híbrido com diferenças tão grandes de composição entre famílias na segunda e terceira gerações que «não se deve misturar sementes de plantas diferentes da primeira geração híbrida. É necessário semeá-las separadamente por famílias». Ora, Kolmogorov, seguira «O conceito mendeliano [que] leva… à conclusão de que em progénies suficientemente extensas (constituindo indiferentemente uma família ou unindo muitas famílias distintas derivadas de diferentes pares de pais heterozigóticos [isto é, híbridos]). Lysenko comenta: «… Kolmogorov tem o direito de não se interessar por este assunto [prático]. Para ele é apenas importante que a média [observada] coincida com a calculada matematicamente». Embora não seja a «média» que Kolmogorov calcula e observa, a ideia geral é clara. Lysenko confessa logo no início «Não me sinto competente o suficiente para entender este sistema de argumentos e evidências matemáticas».
Lysenko responds to Kolmogorov, stressing that, in practice, Kolmogorov's mathematics have no application. He gives the example of hybrid wheat with such great differences in composition between families in the second and third generations that "one should not mix plant seeds different from the first hybrid generation. It is necessary to sow them separately by families." Yet, Kolmogorov had followed "The Mendelian concept [which] leads ... to the conclusion that in sufficiently extensive progenies (indifferently constituting a family or uniting many distinct families derived from different pairs of heterozygous [ie, hybrids] parents). Lysenko comments: "... Kolmogorov has the right not to be interested in this [practical] matter. For him it is only important that the [observed] average coincides with the one calculated mathematically." Although it is not the 'average' that Kolmogorov computes and observes, the general idea is clear. Lysenko confesses at the outset "I do not feel competent enough to understand this system of arguments and mathematical evidence".

[24] Diz Vavilov [14]: «No entanto, cheguei a duvidar das conclusões mendelianas de Biffen. No decorrer do estudo experimental, convenci-me que, em muitos casos, as propriedades fisiológicas dependem de muitos genes, que não podem ser escrutinadas em termos de relações simples» (ênfase nosso). Mas logo a seguir desdiz-se quando afirma incorrectamente: «…todas as variedades introduzidas por meio de hibridação, foram obtidas nas últimas décadas pela aplicação das leis de Mendel».
Vavilov said [14]: “However, I came to doubt the Mendelian conclusions of Biffen. In the course of experimental study I became convinced that in many cases physiological properties depend upon many genes, that they cannot be disposed of in terms of simple relationships.” (our emphasis) But he immediately denies himself by incorrectly saying: “all the varieties introduced by way of hybridization, were obtained in the last decades by the application of the laws of Mendel.”

[25] Lysenko, New Developments in the Science of Biological Species, Agrobiologia, 1950, No. 6 (Foreign Languages Pub. House, M., 1951), MIA.

[26] N.V. Ovchinnikov, Akademik Trofim Denisovich Lysenko - Delo Vavilova (consulted 2019-04-10). This work is very well documented.

[27]  I.A. Benediktov, Stáline e Khruchov, Entrevista publicada na revista Molodaya Gvardia, 1989, N.º 4, págs. 12-65. (Original em russo | Original in Russian: O Staline i Khrushcheve, www.stalinism.narod.ru )

[28] Num encontro, Estaline perguntou a Vavilov: «Bem, cidadão Vavilov, você ainda vai estar envolvido em flores, pétalas, centáureas e outras bugigangas botânicas? E quem estará empenhado em aumentar o rendimento das colheitas?» (DV Lebedev, E.I. Kolchinsky, A última reunião de N.I. Vavilov com I.V. Stalin (Entrevista com E.S. Yakushevsky)).
During a meeting, Stalin asked Lysenko: "Well, citizen Vavilov, are you still going to be involved in flowers, petals, knapweeds and other botanical trinkets? And who will be committed to increasing crop yields? "(DV Lebedev, E. Kolchinsky, The Last Meeting of N.I. Vavilov with I.V. Stalin (Interview with E. S. Yakushevsky)).

[29] Palavras de Vavilov:
«Uma das principais actividades de sabotagem foi a criação de um número excessivamente grande de instituições de investigação estritamente especializadas, completamente não vitais ... divorciadas do trabalho agronómico directo, o que levou à ruptura do trabalho de pesquisa ... à dispersão de pessoal já insuficiente e causou grandes despesas do estado completamente desnecessárias ...» (Protocolo do Interrogatório de N.I. Vavilov em 6 de Setembro de 1940).
Vavilov’s words:
"One of the main sabotage activities was the creation of an excessively large number of narrowly specialized, completely non-vital, research institutions... divorced from direct agronomic work, this led to the disruption of research work... to the dispersion of already insufficient staff and caused completely unnecessary large state expenditures.." (Interrogation Protocol of N. I. Vavilov on September 6, 1940)

[30] Citado em [26]. Pyzhenkov é um cientista conceituado, com várias obras publicadas. Em algumas, critica Vavilov mas, pelo que pudemos ver, de forma moderada.
Quoted in [26]. Pyzhenkov is a renowned scientist, with several published works. In some of his works Vavilov is criticized but, as far as we were able to see, in a moderate way.

[31]
-- Testemunho de Lysenko durante a instrução do processo: «À pergunta que me foi feita, o que eu sei de N.I. Vavilov sobre a destruição da colecção de sementes no VIR [Instituto de Botânica Aplicada], a resposta é: sei que o académico N.I. Vavilov coleccionou essa colecção. Não sei nada sobre o facto de ele ter destruído essa colecção. (Assinado: Académico TD Lysenko)». [26]
-- «O próprio Lysenko repetidamente sustentou que não era pessoalmente responsável pela prisão e morte de Vavilov. Lembrou que quando o investigador de Vavilov o veio procurar e lhe perguntou “O que pode dizer em geral sobre as actividades danosas (espionagem, contra-revolucionárias) de Vavilov?”, Lysenko respondeu: “Havia e há algumas diferenças de opinião sobre assuntos científicos entre mim e Vavilov, mas não tenho conhecimento de nenhuma actividade danosa de Vavilov”», Zhengrong Wang, op. cit.
-- Da entrevista com I.A. Benediktov: «Quando Vavilov foi preso, os seus partidários mais próximos e “amigos”, agrupando-se, um após o outro, começaram a confirmar a versão de “sabotagem” do investigador. Lysenko, que naquela época divergia de Vavilov em posições científicas, recusou-se a fazê-lo e confirmou a sua recusa por escrito.» [27]
-- «”Todas as conquistas científicas e organizacionais de Trofim Lysenko, que são indiscutíveis, negam o seu papel no destino do sentenciado Nikolai Vavilov", afirma o doutor em economia Alexey Golubev, vice-reitor para a investigação da Universidade Agrária Estatal Russa», Niels Johansen, op. cit.
-- Lysenko's testimony during the investigation: “To the question I was asked, what do I know about N.I. Vavilov on the destruction of the seed collection in the VIR [Institute of Applied Botany], the answer is: I know that Academician N.I. Vavilov collected that collection. I know nothing about the fact that he destroyed that collection. (Signed: Academician TD Lysenko).”
-- “Lysenko himself repeatedly maintained that he was not personally responsible for Vavilov’s arrest and death. He recalled that the investigator of Vavilov had come to see him and asked: ‘What can you say in general about the wrecking (spying, counterrevolutionary) activities of Vavilov?’ Lysenko replied: ‘There were and are some differences of opinion on scientific matters between myself and Vavilov, but I have no knowledge of any wrecking activities of Vavilov’”, Zhengrong Wang, op. cit.
-- From the interview with I.A. Benediktov: “When Vavilov was arrested, his closest supporters and “friends”, associating themselves, one after another, began confirming the “sabotage” version of the investigator. Lysenko, who by that time had diverged from Vavilov in scientific positions, flatly refused to do so and confirmed his refusal in writing." [27]
-- “’All the scientific and organizational achievements of Trofim Lysenko, which are indisputable, negate his role in the fate of the repressed Nikolai Vavilov,’ claims the doctor of economics Alexey Golubev, Vice-Rector for research of the Russian State Agrarian University”, Niels Johansen, op. cit.