sábado, 9 de fevereiro de 2019

Os sociopatas e os seus seguidores (por José Goulão)


The Sociopaths and their Followers (by José Goulão)

A AbrilAbril publicou ontem, 8 de Fevereiro, o artigo Os sociopatas e os seus seguidores da autoria do jornalista José Goulão. Consideramo-lo o melhor artigo que lemos recentemente caracterizando de forma incisiva a -- e usando os qualificativos certos da -- actual carreira criminosa do imperialismo na Venezuela e no mundo.

No momento que escrevemos lemos nos jornais que o criminoso Guaidó (dirigente de organização envolvida em crimes que custaram a vida a mais de uma centena de pessoas, algumas queimadas vivas), títere dos EUA, declarou – nas suas «funções» de autoproclamado presidente! – que «admite autorizar a intervenção militar dos EUA na Venezuela». Os «admite» e «autorizar» são preciosos! Eis como os EUA se preparam para «legalizar» um acto criminoso!

Passamos a palavra a José Goulão.
AbrilAbril posted yesterday, February 8, the article Os sociopatas e os seus seguidores («The sociopaths and their followers») by journalist José Goulão. We consider it the best article we read recently by incisively characterizing the - and using the correct qualifiers of the - current criminal career of imperialism in Venezuela and the world.

At the time of writing this we read in the newspapers that the criminal Guaidó (leader of an organization involved in crimes that cost the lives of more than a hundred people, some burned alive), the US marionette, declared - in his "functions" of self-proclaimed president! – that he "admits to authorizing US military intervention in Venezuela". The “admits” and “authorize” are precious! This is how the US prepares to "legalize" a criminal act!

We give the voice to José Goulão.

Os sociopatas e os seus seguidores

Para os países alinhados com Washington já não se trata apenas de violar grosseiramente a democracia. Os governos que seguem de braço dado com a administração Trump enveredaram pela carreira do crime.

José Goulão, 8 de Fevereiro de 2019
The Sociopaths and their Followers

For the countries aligned with Washington, it is no longer just a matter of gross violation of democracy. The governments that follow arm in arm with Trump’s administration have embarked on a career in crime.

by José Goulão, February 8, 2019


Houve ocasiões – raras – em que os principais governos da União Europeia se distanciaram do comportamento boçal, truculento e neofascista da administração norte-americana gerida por Donald Trump. É certo que as razões nem eram louváveis, uma espécie de escrever direito por linhas tortas porque contrapor à política de fortaleza comercial de Washington o neoliberalíssimo «comércio livre» global, que serve meia dúzia de grandes conglomerados económico-financeiros, não é propriamente um comportamento honroso.

Ainda assim, essa situação foi suficiente para os que fazem política e comunicação navegando à vista nas vagas do oportunismo situacionista tentarem fazer crer que entre Washington e alguns dos principais aliados existiam saudáveis divergências, recomendáveis pelo facto de «parecer mal» estarem associados aos desmandos trumpistas.

Porém, o que tem de ser tem muita força, a realidade impôs os factos, as máscaras caíram, o globalismo ditou as suas leis, embora já periclitantes, e deixou de haver lugar para disfarces.

A harmonia entre Washington e os aliados restabeleceu-se quando foi preciso por mãos à obra e cuidar do que interessa a quem manda: o domínio sobre as matérias-primas e a vantagem militar planetária para, em última instância, assegurá-lo.

Bastou o aparecimento de provas de que a superioridade militar da NATO e respectivas ramificações pode estar em causa; eis que entra na ordem da actualidade uma disputa mais cerrada pelas riquezas naturais do mundo – e logo a boçalidade e o desprezo militante de Trump por qualquer coisa que tenha a ver com democracia e direitos humanos deixaram de ser problema.

A harmonia chegou com os psicopatas

Esbateram-se os limites, desapareceu a vergonha. Se o caminho mais eficaz para garantir a sobrevivência do «nosso civilizado modo de vida» é o recurso à autocracia, então que seja, desde que o discurso oficial assegure as melhores intenções democráticas e humanistas.

Mesmo que a harmonia entre a NATO e a gestão do Pentágono, a comunhão de ideais entre quem manda na União Europeia e a administração de Washington se tenham restabelecido no momento em que, depois de muitos tumultos e convulsões, a equipa que traça a doutrina Trump seja agora um sólido núcleo de psicopatas.

John Bolton, o conselheiro de Segurança Nacional do presidente; Michael Pompeo, o secretário de Estado, por inerência o tutelar dos Negócios Estrangeiros; Michael Pence, o vice-presidente, formam um triunvirato de fascistas com provas dadas em carreiras onde o recurso ao terrorismo político, declarado ou clandestino, nunca foi um problema.

Se lhes associarmos as figuras de um comprovado assassino e fora-da-lei como Elliott Abrams, agora escolhido como enviado especial para gerir o golpe na Venezuela; e de um expoente da «supremacia branca» como Steve Bannon, que corre mundo unindo as hordas fascistas, xenófobas, populistas e nacionalistas para manter a pressão, de modo a que o neofascismo seja a solução e nunca um problema, teremos um quinteto de psicopatas à altura de Trump, de tal modo que torna o próprio presidente descartável.

Pois foi precisamente na hora da estabilização do fascismo e da sociopatia como doutrina norte-americana que a NATO e a União Europeia – com o governo de Portugal fazendo questão de destacar-se – decidiram prestar-lhe vassalagem. Certamente não foi para que o governo português encarreirasse na esteira do terrorismo político e da guerra nuclear que os portugueses votaram. Para os devidos efeitos e para memória futura registemos o desprezo assumido pela equipa de António Costa em relação à democracia, aos direitos humanos, à paz e ao direito internacional. Não existe outra interpretação possível do apoio ao golpe contra a Venezuela; não há hipótese de concluir outra coisa do alinhamento pleno com a NATO nos caminhos da guerra nuclear que estão a ser abertos por Washington.

É terrorismo, não é democracia

Aquilo que está a acontecer na Venezuela, e que tem proactivamente a mão do governo de Portugal, é terrorismo, é tentação fascista, é jogar com a vida de milhões de pessoas.

Não se trata apenas da entronização como «presidente interino» de um arruaceiro que os Estados Unidos treinam e pagam há 15 anos para servir como instrumento numa operação de golpe de Estado. Juan Guaidó é um entre vários que se formaram numa escola de terrorismo na Sérvia financiada pelos Estados Unidos, conhecida como Otpor/CANVAS, para organizar «revoluções coloridas» e mudanças de regime em geral, de que são exemplos casos como o da Ucrânia, Geórgia, Egipto, Líbia, Síria, Honduras, Paraguai, Brasil.

E não se trata igualmente do recurso ao pretexto das supostas «irregularidade» e «ilegitimidade» das eleições presidenciais de Maio do ano passado, que decorreram segundo normas democráticas comprovadas por entidades independentes e de reconhecida idoneidade que acompanharam todo o processo. Ao contrário do que fizeram, por exemplo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a alta comissária europeia, Federica Mogherini, que recusaram os convites para serem ou enviarem observadores, partindo do princípio de que as eleições seriam fraudulentas muito antes de se realizarem.

O que está verdadeiramente em causa como consequência do comportamento das personalidades, entidades e organizações que apoiam a estratégia de mudança de regime montada pela equipa de psicopatas de Trump é a tragédia que paira sobre todo o povo venezuelano – comunidade portuguesa obviamente incluída.

Uma tragédia anunciada, uma vez que os promotores da operação tiveram o cuidado de não deixar margem de recuo. A parada é alta e todo o processo foi montado de modo a que não haja outra saída que não seja a destruição da Revolução Bolivariana, sufragada em mais de uma vintena de consultas populares legítimas realizadas durante os últimos 20 anos.

Solução: banho de sangue

Ora a capitulação do governo de Nicolás Maduro – que não tem de se demitir ou de convocar eleições porque a Constituição, a única lei pela qual responde, não o obriga – só pode ser alcançada por estas vias: golpe militar interno, agressão estrangeira directamente pelos Estados Unidos ou por procuração (Brasil, Colômbia e Argentina estão prontos), ou colapso absoluto do Estado devido às sanções, extorsão e roubo de que os bens do povo venezuelano são vítimas – a começar pelas 31 toneladas de ouro de que entidades bancárias estrangeiras se apropriaram abusivamente, também com responsabilidade do Banco Central Europeu, para que conste.

Sejam quais forem os caminhos seguidos pelos responsáveis do golpe, o resultado será um banho de sangue com extensão imprevisível. Esse é o preço que Estados Unidos e aliados estão dispostos a pagar para deitarem as mãos aos 300 mil milhões de barris de petróleo venezuelano – as maiores reservas mundiais conhecidas – às poderosas reservas de ouro, nióbio, tântalo e outros elementos e metais preciosos.

Não há pretextos e máscaras que sirvam para a ocasião. O que, através do golpe, os Estados Unidos, a União Europeia e aliados puseram em andamento foi a compra que um valiosíssimo lote de riquezas naturais e estratégicas pago com sangue humano, na quantidade que for precisa. Afinal, tal como no Iraque, na Líbia, na Síria ou Afeganistão.

O caminho para a guerra nuclear

A fuga para a frente com o objectivo de garantir a sobrevivência do neoliberalismo, conduzida pelo gang de tiranos sociopatas de Washington, não hesita, como se vê, perante a repugnante e desumana traficância em curso na Venezuela.

Fuga essa que começa a adquirir velocidade própria numa outra direcção até aqui vedada pelos mais compreensíveis instintos de sobrevivência colectiva: a da guerra nuclear.

Não há outra leitura para a decisão norte-americana de abandonar o Tratado de Armas de Médio Alcance (INF), assinado há 30 anos pelos Estados Unidos e a União Soviética.

Não há outra leitura do apoio a essa posição manifestado pela NATO e pelo sempre «bom aluno», o governo de Portugal.
Os pretextos invocados para o abandono do Tratado são falsos ou, no mínimo, desconhecidos. Nem os Estados Unidos nem a NATO apresentaram, até ao momento, qualquer prova de que a Rússia estaria a violar esse acordo. Em paralelo, também não se regista qualquer interesse, tanto dos dirigentes norte-americanos como da NATO – e da comunicação social com eles sintonizada – em aceitarem os convites de Moscovo para visitarem os locais onde supostamente estariam a ser construídas as armas que violam o Tratado.

Ao invés, a parte russa já divulgou provas de que os Estados Unidos estão a produzir armas proibidas pelo Tratado há pelo menos dois anos.

É objectivo dos Estados Unidos instalar os novos mísseis em países europeus como a Itália, a Alemanha e a Holanda, onde também está prevista a disponibilização de bombas nucleares de nova geração.

Trata-se de engenhos ditos de potência reduzida, isto é, com uma capacidade de destruição calculada em metade ou mesmo menos dos largados sobre Hiroxima e Nagasaki. Este facto tem ajudado a consolidar a tese perigosíssima segundo a qual as novas bombas poderão ser utilizadas em conflitos limitados e sem provocarem respostas equivalentes, o que as torna uma vantagem decisiva.

Torna-se evidente que o recurso a essas bombas implica a existência de mísseis vocacionados para transportá-las – e daí a quebra do Tratado INF.

Deduz-se, pois, que pelas cabeças doentes e sanguinárias de figuras como Bolton – que pretende enviar Maduro para Guantánamo – Pence e Pompeo passa, de facto, a ideia de vir a utilizar essa nova combinação de mísseis de médio alcance com armas nucleares de «potência reduzida» e tendo a Europa como um dos cenários de operações. Pelo que os países europeus sintonizados com os tiranos sociopatas de Washington não desprezam apenas a vida dos venezuelanos, mas também a dos seus próprios povos.

Já não se trata apenas de violar grosseiramente a democracia. Os governos que seguem de braço dado com a administração Trump enveredaram pela carreira do crime.
There have been occasions - rare occasion - when key EU governments distanced themselves from the truculent, neo-fascist behavior of the US administration run by Donald Trump. It is true that the reasons were not praiseworthy, a sort of writing straight on tortuous lines, because countering Washington's policy of commercial fortress with the neoliberal-issimo global "free trade," which serves half a dozen large economic and financial conglomerates, isn’t a befittingly honorable behavior.

Still, that situation was enough for those who do politics and media - sailing by sight on the waves of situationist opportunism - to attempt making us believe that only healthy disagreements stood between Washington and some of its main allies, commendable disagreements for it "would look bad" to be associated to the outrages of Trump-ism .

But «what has to be has a lot of force», reality has imposed the facts, masks have fallen, globalism has dictated its laws, shaky as they are already, and there is no room for disguises.

The harmony between Washington and the allies was restored when they had to get down to business and take care of what matters to those in charge: mastery over raw materials and military advantage at planetary scale in order to ultimately secure the mastery.

It was enough the surfacing evidence that military superiority of NATO and its shoots could be at stake; already a tighter dispute over the natural riches of the world entered the order of the day -- and immediately Trump's grossness and militant hatred and contempt for anything that has to do with democracy and human rights became no longer a problem.

Harmony has arrived with the psychopaths

The limits were blurred, the shame disappeared. If the most effective way to ensure the survival of “our civilized way of life” is to resort to autocracy, then let it be - so long as official discourse asserts the best democratic and humanistic intentions.

All this despite fact that the harmony between NATO and the Pentagon's management and the communion of ideals between those ruling the European Union and the administration of Washington have been restored at a time when, subsequently to many turmoil and convulsions, the team delineating Trump’s doctrine stands now as a solid kernel of psychopaths.

John Bolton, the President's National Security Adviser; Michael Pompeo, the Secretary of State, with inherent tutelage of Foreign Affairs; and Michael Pence, the vice president, form a triumvirate of fascists with field proven careers where recourse to political terrorism, whether declared or clandestine, has never been a problem.

If we associate to them the figures of a proven assassin and outlaw like Elliott Abrams, now chosen as special envoy to manage the coup in Venezuela; and an exponent of "white supremacy" like Steve Bannon, who runs the world assembling the fascist, xenophobic, populist and nationalist hordes to keep the pressure on, so that neofascism is the solution and never a problem, we have a quintet of psychopaths at the scale of Trump, in such a way that makes the president himself disposable.

And it was precisely at the time of stabilization of fascism and sociopathy as American doctrine that NATO and the European Union -- with the government of Portugal insisting on standing under the spotlight -- decided to pledge allegiance. The Portuguese people have certainly not voted for the Portuguese government to step in the wake of political terrorism and nuclear war. For the due purposes and for future memory let us take note of the contempt assumed by the team of António Costa [Portuguese PM] in relation to democracy, human rights, peace and international law. There is no other possible interpretation of the support for the coup against Venezuela; no other conclusion can be drawn from the full alignment with NATO on the paths of nuclear war being opened by Washington.

It's terrorism, it's not democracy

What is happening in Venezuela, proactively endorsed by the government of Portugal, is terrorism, is fascist temptation, and gambling with the lives of millions of people.

It is not just the enthronement as "interim president" of a brawler who the United States has trained and paid for 15 years to serve as an instrument in a coup operation. Juan Guaidó is one of several who graduated from a terrorist school in Serbia, funded by the United States and known as Otpor/ CANVAS, to organize "colour revolutions" and regime changes in general, examples of which are cases such as Ukraine, Georgia, Egypt, Libya, Syria, Honduras, Paraguay, and Brazil.

Nor is it a question of resorting to the pretext of alleged “irregularity” and “illegitimacy” of the presidential elections of May last year, which were conducted according to democratic norms proven by independent and reputable entities that accompanied the whole process. A counter-procedure was adopted, for example, by the UN Secretary-General António Guterres and EU High Commissioner Federica Mogherini, who refused invitations to be or to send observers, assuming from the start that the elections would be fraudulent long before they were held.

What is truly at stake as a consequence of the behavior of personalities, entities and organizations that support the regime change strategy mounted by Trump’s psychopathic team is the impending tragedy over the entire Venezuelan people – with the resident Portuguese community obviously included.

An announced tragedy, since the promoters of the operation were careful not to leave room for retreat. The wager is high and the whole process has been set up so that there is no other way out than the destruction of the Bolivarian Revolution, which was upheld by more than twenty legitimate popular consultations over the past 20 years.

Solution: bloodbath

The capitulation of Nicolás Maduro's government -- who does not have to resign or to call elections because the Constitution, the only law for which he responds, does not oblige it -- can only be achieved by these means: internal military coup, foreign aggression directly by the United States or by proxy (Brazil, Colombia and Argentina are ready), or absolute state collapse due to the sanctions, extortion and robbery of the Venezuelan people's assets – not least the 31 tons of gold which foreign banks have abusively taken possession of, - for the record - also with responsibility of the European Central Bank.

Whatever the paths followed by those responsible for the coup, the result will be a bloodbath of unpredictable magnitude. That's the price the United States and allies are willing to pay to get their hands on 300 billion barrels of Venezuelan oil -- the world's largest known reserves – and on the large reserves of gold, niobium, tantalum and other precious metals and elements.

There are no pretexts and masks suiting the occasion. What, through the coup, United States, European Union and allies have set in motion is the purchase of a precious lot of natural and strategic riches paid with human blood, in the amount that will be necessary. It is, after all, the same as in Iraq, Libya, Syria or Afghanistan.

The road to nuclear war

The rush ahead led by the gang of sociopathic tyrants in Washington with the aim of ensuring the survival of neoliberalism, stops at nothing, as can be seen, in carrying the disgusting and inhuman trafficking in progress in Venezuela.

A rush ahead that begins building up its own momentum into another direction hitherto prohibited by the most understandable instincts of collective survival: that of nuclear war.

The US decision to abandon the Intermediate-Range Nuclear Force Treaty (INF), signed 30 years ago by the United States and the Soviet Union, allows no other reading.

There is also no other reading of the support for this position expressed by NATO and by its always "good student", the government of Portugal.

The pretexts invoked for abandoning the Treaty are false or, at least, unknown. Neither the United States nor NATO have so far presented any evidence that Russia is violating that agreement. Concomitantly, no interest is observed of either the US or NATO leadership -- and their attuned media -- to accept calls from Moscow to visit the places where the alleged weapons were being built in violation of the Treaty.

Contrasting with this, the Russian side has already released evidence that the United States has been producing weapons prohibited by the Treaty for at least two years.

It is the goal of the United States to install the new missiles in European countries such as Italy, Germany and the Netherlands, where the deployment of a new generation of nuclear bombs is also planned.

These are devices of so-called reduced power, that is to say, with a capacity of destruction calculated of half or even less of those dropped over Hiroshima and Nagasaki. This fact has helped to consolidate the very dangerous thesis that the new bombs can be used in limited conflicts without provoking equivalent responses, making them a decisive advantage.

It is clear that the use of these bombs implies the existence of missiles designed to carry them -- and hence the breach of the INF Treaty.

It can therefore be concluded that the sick and bloodthirsty minds of figures like Bolton -- who intends to send Maduro to Guantanamo --, Pence and Pompeo, do indeed nourish the idea of using this new combination of medium-range missiles with nuclear weapons of “reduced power” and having Europe as one of the operating scenarios. Thus, the European countries attuned to the sociopathic tyrants of Washington not only despise the lives of the Venezuelans, but also the lives of their own peoples.

It is no longer just a matter of grossly violating democracy. The governments that follow arm in arm with the Trump administration have embarked on a career in crime.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A ingerência do governo português na Venezuela e os BE-nem-nem


O governo português acaba de reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela. Isto é, reconhece como presidente um fulano não eleito, contra um presidente democraticamente eleito (cerca de 70% dos votos) em eleições livres, com a presença de observadores internacionais que elogiaram o processo de eleição venezuelano.

O acto do governo português é inaudito! É frontalmente anti-democrático, ingerencista nos assuntos internos da Venezuela e contra a constituição portuguesa.

Ao tomar tal atitude, não seguida por alguns países da UE, o governo português afirma-se como alinhado com os interesses mais reaccionários dos monopólios que sustentam a administração americana. Muitos estariam longe de imaginar, logo após ao 25 de Abril de 1974, que um governo PS – o grande defensor do «socialismo democrático» -- descesse tão baixo! O PS começou por descartar-se do «socialismo» em 1975. Ao chamar o FMI nos anos 80 e depois ao aliar-se com a direita em governos de restauração monopolista, mostrou o que entendia por «democracia». Era a democracia ao serviço dos monopólios. Agora já nem o mais elementar da democracia burguesa – as eleições – lhe convém. E não lhe convém porque não convém aos amigos americanos: foi eleito alguém contra os interesses deles. Alguém que os incomoda porque, no essencial, conduz uma política de afirmação soberana ao colocar os recursos do país ao serviço do povo.

Como se sabe (já foi anunciado pelo governo dos EUA, em particular pelo seu fascista Bolton), a administração americana tenciona (desde há muito!) ter um pretexto para intervir militarmente na Venezuela. Com o apoio dos seus aliados. E o governo português, pela voz do ministro da defesa, irresponsavelmente, também diz estar pronto a enviar tropas! Incrível mas verdade. Já não seriam só tropas americanas com as da Colômbia -- por alguma razão entrou recentemente na NATO! -- e quase certamente do Brasil de Bolsonaro que também já disse estar mortinho por entrar para a NATO. Uma NATO que tem vindo a crescer como um enorme polvo para sufocar tudo que não obedeça aos desígnios do grande capital.

É claro que PSD e CDS estão com o PS contra Nicolás Maduro. Só o PCP, partido dos trabalhadores, tem vindo a defender firmemente o não à ingerência e intervenção na Venezuela. E ao defender essa posição o PCP explica detalhadamente por que razão essa é a posição justa. Incluindo para os portugueses que residem na Venezuela que seriam seguramente muito afectados por uma guerra civil-intervencionista na Venezuela

E quanto ao BE? Pois, ouvimos de Catarina Martins que não estão nem com Guaidó nem com Maduro; que defendem eleições democráticas para resolver a questão. Que eleições democráticas querem eles? Já as houve e venceu Maduro. Aliás, desde que Hugo Chávez foi eleito em 1999 já houve 25 eleições. É mais do que uma eleição por ano!!! Este ano, de acordo com a Constituição também vão haver eleições legislativas. Portanto, pergunta-se de novo: que raio de eleições querem eles, os do BE? A resposta é simples: só podem ser as mesmas eleições que também defende a administração americana e os reaccionários da UE; eleições com intervenção deles no terreno, «sabiamente» conduzidas para derrubar a revolução bolivariana. Tais «eleições» foram propostas pelos americanos (com apoio da CE) como pretexto intervencionista; mas como o governo de Maduro rejeitou tal proposta os americanos passaram a privilegiar a opção golpista e militar.

O BE, ao vir falar de «eleições», não só alinha implicitamente com o imperialismo, como está a defender de forma atrasada uma proposta imperialista.

Analisemos por fim o «nem Guaidó nem Maduro» do BE. Trata-se de uma posição que no fundo alinha com o imperialismo no seu desejo de remover Maduro. Isto, porque a afirmação «nem Guaidó nem Maduro» é simplesmente inconsequente: se Maduro for removido não é o BE que irá impedir os imperialistas de entronizar Guaidó (ou outro Guaidó qualquer).

Efectivamente, a posição «nem Guaidó nem Maduro» é bem caracterizadora do papel reservado ao BE -- partido da pequena burguesia radicalizada que não é «nem» a favor da burguesia «nem» a favor dos trabalhadores (é supraclasse!) – de estabelecer a confusão nas fileiras da esquerda. É uma posição inteiramente semelhante à tomada por Trotski aquando das negociações de paz de Brest-Litovsk: «nem paz, nem guerra». Posição que Lenine teve firmemente de combater. Assim como o «nem paz, nem guerra» de Trotski serviu para o avanço dos exércitos imperiais alemães que puseram em perigo a revolução soviética, também a tirada «nem Guaidó nem Maduro» do BE só serviria, se aplicada, para pôr em perigo a revolução bolivariana. Mas, desde já, ao enfraquecer o campo dos que defendem a revolução bolivariana, está a dar força aos desígnios imperiais.

Portanto, o BE, com o seu «nem Guaidó nem Maduro» com a máscara democrática do pedido de «eleições», só serve para confundir alguma esquerda, desempenhando objectivamente o papel de quinta coluna do imperialismo.

Se, por hipótese, o imperialismo vencesse na Venezuela, os rios de sangue do povo trabalhador vítima dos fascistas teriam de ser anotados na conta corrente do PS-PSD-CDS-BE.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Os que querem derrubar Nicolás Maduro


Those who want to overthrow Nicolás Maduro

Já apresentámos vários factos em artigos anteriores que demonstram por que razão o imperialismo tem vindo a ingerir-se na Venezuela procurando derrubar um governo  cuja defesa da soberania os incomoda.

(Agora, essa ingerência intervencionista subiu de tom com os EUA -- e uma UE totalmente lacaia dos interesses imperiais – a apresentar ultimatos de apear um presidente democraticamente eleito para o subsituir por uma marionete não eleita, mas do agrado deles! É esta a democracia deles!)

Um artigo recente de um site estrangeiro (que vive de donativos), com que deparámos, traz mais informação de interesse. Trata-se de uma entrevista com a presidente do Partido dos Trabalhadores de Brasil que esteve em Caracas na tomada de posse de Nicolás Maduro. Entre outras revelações atente-se no estado actual do sistema de justiça do Brasil. Note-se que o mesmo se poderia dizer de muitos outros países, nomeadamente da UE (como os casos salientes da Ucrânia, Polónia e Hungria) sem preocupação de relevo das lideranças políticas e da UE. Uma clara demonstração de que a apregoada «independência» da Justiça é no capitalismo uma farsa, dado que as chorudamente pagas elites judiciais estão essencialmente e impunement alinhadas com a protecção do sistema e dos seus mais relevantes patronos, encabeçando frequentemente processos de perseguição política usando (enxovalhando) a lei como lhes interessa.

(A propósito, veja-se o respeito que o governo PS e o seu pró-imperial ministro Santos Silva, têm pelo art. 7 da Constituição Portuguesa que diz «»1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios [...] da não ingerência nos assuntos inernos de outros Estados [...] 2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colnialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos [...])

Segue-se abaixo a nossa tradução do artigo.
In previous articles we have already presented several facts demonstrating why imperialism has been interfering in Venezuela seeking to overthrow a government whose defense of sovereignty annoys them.

(This interventionist interference has now escalated with the US - and an EU totally subservient of imperial interests - submitting ultimatums to put down a democratically elected president replacing him with an un-elected marionette, but to their liking! That’s their democracy!)

A recent article from a foreign site (which lives on donations), which we came across, brings more information of interest. It is an interview with the president of the Workers' Party of Brazil who was in Caracas at the inauguration of Nicolás Maduro. Among other revelations, we draw attention to the current state of the justice system in Brazil. Notice that the same could be said of many other countries, notably the EU (as the salient cases of Ukraine, Poland and Hungary) with no prominent concern of the political leaderships. A clear demonstration that the so-called "independence" of justice is in capitalism a farce, since the overpaid judicial elites are essentially aligned with impunity and the protection of the system and of their most relevant patrons, often in the front line of political persecution, using (messing) the law in a way that suits them.

(Incidentally, notice the respect that the PS government and its pro-imperial minister Santos Silva do not have for article 7 of the Portuguese Constitution stating: “1. Portugal is governed in international relations by the principles [...] of non-interference in the internal affairs of other States [...] 2. Portugal advocates the abolition of imperialism, colonialism and any other forms of aggression, domination and exploitation in the relations between nations [...])

The article, by Brian Mier, The Corporatists Who Want Venezuela's President Ousted, can be read here.


Os Chefes de Corporações que Querem Derrubar o Presidente da Venezuela
(The Corporatists Who Want Venezuela's President Ousted)
Brian Mier, Jan 24, 2019


Publicado por: truthdig, drilling beneath the headlines.

Gleisi Hoffmann cresceu num lar católico em Curitiba onde, depois de desistir de se tornar freira, ingressou no movimento estudantil, filiou-se no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foi eleita consecutivamente presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Curitiba, do Estado do Paraná e do Brasil. Tornou-se posteriormente advogada, filiou-se no Partido dos Trabalhadores (PT) e iniciou uma trajectória política que culminou com o cargo de chefe de gabinete de Dilma Rousseff (2011-2014), de senadora, e na sua actual posição de presidente nacional do PT.

Em 2015 foi acusada de corrupção como parte da investigação Lava Jato, do Departamento de Justiça dos EUA / Ministério Público do Brasil, liderada por Sérgio Moro actual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Através de um negócio judicial, para obter um testemunho de um criminoso e sentenciado, em troca de redução da sentença, Geisi foi acusada de receber subornos da companhia estatal de petróleo Petrobrás. O caso chegou ao Supremo Tribunal em 2017, onde foi rejeitado por decisão unânime por falta de provas materiais.

Geisi viajou para a Venezuela em 10 de Janeiro, a fim de participar na cerimónia de inauguração do presidente Nicolás Maduro. Foi muito contactada pelos media naquela semana. Consegui abordá-la em 19 de Janeiro para lhe dar a oportunidade de explicar a uma audiência de língua inglesa por que achava tão importante ir à inauguração.

Brian Mier: A sua visita à inauguração de Nicolás Maduro na Venezuela foi muito criticada no Norte, até mesmo pelos jornalistas anglo-saxões que escrevem para publicações supostamente progressistas, como o Guardian. A senhora publicou uma declaração sobre a sua visita, dizendo que quem a criticou não entende os conceitos de soberania e de autodeterminação. A avaliar pela maneira como os media anglo-saxões reagiram à sua visita, creio que efectivamente muitas pessoas das nações historicamente imperialistas da Inglaterra e dos EUA não têm uma boa compreensão desses conceitos. Por que razão os conceitos de soberania e autodeterminação são importantes e como se relacionam eles com a sua recente visita à Venezuela?

Gleisi Hoffmann: A soberania está relacionada com o não reconhecimento de um órgão superior de natureza externa. Por outras palavras, a nação tem autoridade suprema. Não há hierarquia entre as nações. A autodeterminação é o direito que um povo tem de se governar, de fazer as suas escolhas sem intervenção estrangeira. É por isso que referi que o governo dos EUA e aqueles que me criticaram não entendem o que é soberania e autodeterminação, pois acreditam que forças de fora da Venezuela deveriam resolver os seus problemas. Nós acreditamos no oposto. Só o povo venezuelano tem capacidade de resolver os seus problemas, através de um processo de diálogo, aprendizagem e relacionamento. A minha viagem à Venezuela esteve, portanto, relacionada com o que o Partido dos Trabalhadores pensa sobre soberania e autodeterminação. Nenhuma outra nação ou órgão externo tem o direito de pregar a violência e a intervenção e de se intrometer nos assuntos de outra nação. Podemos, por outro lado, apoiar a construção de diálogos, reunir as partes opostas e encorajar uma solução pacífica para os conflitos. Foi isso que o Presidente Lula sempre fez.

BM: Gostaria de lhe perguntar sobre o uso da lei, o uso do sistema judicial de se envolver em assassinatos de carácter e perseguição política. Tal como Lula é vítima desse processo, a senhora foi perseguida durante anos pela operação judicial Lava Jato do Departamento de Justiça dos EUA / Procuradores Públicos de Brasil, liderada por Sérgio Moro, actual ministro da Justiça de Bolsonaro. Muitas pessoas já tinham pensado que a senhora concorreria ao cargo de presidente. Pessoalmente, vi o assassinato de carácter, judicial/mediático, que foi realizado contra si como uma tentativa de impedi-la de concorrer. Como afectou esse processo judicial a sua vida?

GH: O processo judicial evoluiu para um sistema de perseguição política e um instrumento de certos sectores da sociedade brasileira para aceder ao poder. Não é só a sociedade brasileira; é um fenómeno a que se assiste em toda a América Latina. Infelizmente, espalhou-se pelo continente. Fui profundamente afectada pelo caso contra mim. Fui absolvida de todas as acusações que eles levantaram contra mim por decisão unânime do Tribunal Supremo; mas antes disso acontecer, passei por uma série de constrangimentos públicos. A minha casa foi invadida pela polícia. O meu marido foi preso e libertado. Houve protestos contra mim -- as críticas na imprensa foram sempre ácidas --, fui perseguida nas redes sociais e os meus filhos foram assediados em público. Foi um processo muito doloroso. Mas fiquei muito aliviada por esta situação ter sido esclarecida quando o meu recurso final foi analisado e fui absolvida de todas as acusações. No entanto, ainda me causa problemas nas minhas relações sociais e na minha trajectória política.

BM: Quais são os riscos de ter um ultraconservador altamente politizado como o ex-investigador da Lava Jato, promotor e juiz Sérgio Moro, a dirigir o Ministério da Justiça?

GH: O ministro da Justiça, Sérgio Moro, é agora responsável pela perseguição política. Por outras palavras, é ele que irá eliminar os rivais e inimigos do sistema e fará isso usando a lei. Fará isso montando e dirigindo processos de investigação contra pessoas que se opõem ao seu governo ou que podem criar obstáculos para o que eles estão a procurar levar a cabo em termos de negociações e projectos.

BM: Os EUA estiveram envolvidos nesses processos judiciais?

GH: Não tenho dúvidas sobre os interesses e envolvimento dos Estados Unidos no processo de investigação Lava Jato no Brasil. Não sei se o objectivo deles era perseguir o PT, mas não há dúvida de que se empenharam na operação para fazer avançar a meta comercial de abrir a Petrobrás às companhias petrolíferas norte-americanas, e conseguiram. Esses interesses de negócios são muito fortes. E, certamente, se conseguirem enfraquecer ou destruir quem quer que se envolva em oposição política e não estiver alinhado com o conceito deles de relações internacionais, não hesitarão em fazê-lo.

BM: Qual o papel que a indústria internacional do petróleo desempenhou no golpe de 2016, no assassinato de carácter e na perseguição de Lula e na tentativa de golpe que parece estar em andamento na Venezuela?

GH: O governo dos EUA envolveu-se no processo Lava Jato no Brasil devido ao seu interesse em aceder ao nosso petróleo. Temos enormes reservas de petróleo offshore na camada pré-sal. Recentemente, desenvolvemos uma maneira de extraí-lo de forma muito barata devido à tecnologia que foi desenvolvida pela nossa companhia estatal de petróleo, a Petrobrás. Desenvolvemos um processo de extracção e políticas para uso deste petróleo que eram muito diferentes do que é feito com poços de petróleo normais. Desenvolvemos leis específicas e um regime de participação nas concessões limitadas de perfuração. Criámos um fundo para economizar parte do dinheiro obtido por essas perfurações e alocámos parte dos lucros ao sistema público de ensino. Por outras palavras, agimos com soberania quanto ao nosso petróleo. Isso não interessava às empresas petrolíferas norte-americanas, que queriam vir aqui e extrair o petróleo do pré-sal da mesma forma que trabalham noutros lugares do mundo, fazendo uma oferta e ficando com todo o petróleo sem ter que prestar contas ao governo brasileiro ou ao povo brasileiro. Não tenho dúvidas, portanto, de que esse processo de golpe está totalmente ligado ao acesso facilitado ao petróleo brasileiro; tanto mais que, logo após o golpe de 2016 que depôs a presidente Dilma (e há entrevistas com Edward Snowden que mostram que o Brasil, a presidente Dilma e a Petrobrás estavam a ser alvo de escutas de ligações e monitoramento de comunicações pelo governo dos EUA), foi ratificada uma lei no Congresso, alterando as regras para a exploração das reservas de petróleo do pré-sal. Agora estão a trabalhar noutra, que altera os regulamentos para leiloar os poços ao estrangeiro. Portanto, isto está claro. Acima de tudo, o governo do golpe minimizou e enfraqueceu enormemente a Petrobrás, obrigando-a, após a investigação da Lava Jato, a vender os seus activos.

Lula é um grande líder do povo brasileiro e sempre trabalhou pela nossa soberania e autodeterminação sem jamais desrespeitar qualquer outro país. Eles sabiam, por isso, que Lula teria sido uma enorme resistência a esses interesses que eles tinham aqui. Lula teria mobilizado o apoio popular contra esses interesses estrangeiros e teria, de facto, sido eleito presidente. Prenderam-no para o impedir de ser eleito.

Isto tudo é também evidente na Venezuela. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Está muito mais perto dos EUA do que o Médio Oriente. Tem uma posição geográfica estratégica na América Latina. Desde que Chávez assumiu o governo há mais de 20 anos, a Venezuela adoptou uma postura diferente em relação à comercialização do seu petróleo e também em relação às suas políticas internas. E isso desagradou muito aos americanos porque a Venezuela não se alinhou com eles. Portanto, toda essa conversa sobre democracia na Venezuela, sobre Maduro ser um ditador, mascara, na verdade, interesses comerciais muito fortes no acesso ao petróleo. É a mesma coisa que aconteceu no Iraque. Ninguém discute se o Iraque tem democracia ou se o povo iraquiano está bem nos dias de hoje, eles simplesmente esqueceram-se disso. Os americanos conseguiram posicionar-se no Iraque para aceder ao petróleo e a situação foi resolvida. Portanto, é agora essencial prestar muita atenção e tomar posição a favor da soberania e da autodeterminação da Venezuela. Os problemas com a oposição devem ser resolvidos através de um processo de mediação e debate e de uma solução pacífica.

BM: A senhora visita Lula com frequência. Como está ele?

GH: Lula está bem. Lula é uma fortaleza política, emocional e física, apesar de ter sobrevivido ao cancro e tantos outros problemas em sua vida. É claro que tem 73 anos, logo esse encarceramento tem consequências na sua disposição. Mas está politicamente bem e tem uma visão clara do seu papel na história e do que temos a fazer aqui para defender o Brasil; o que temos que fazer para nos posicionarmos do lado do povo brasileiro. Não temos ideias de quando será libertado. Todas as medidas legais foram bloqueadas. Nós fizemos tudo o que pudemos fazer legalmente e estamos a lutar politicamente. A prisão de Lula é política. Não é baseada em factos legais porque nenhuma prova foi apresentada para sustentar a sua condenação. A sua condenação não foi feita com base em evidências materiais. Não há iclusive um crime claramente definido. Então isto é muito sério. Mas, infelizmente, como somos vítimas das leis aqui no Brasil, não vejo nenhuma perspectiva de uma rápida libertação de Lula. Vamos lutar muito e sempre defenderemos o nosso ex-presidente para a sociedade brasileira.

BM: O que pode a comunidade internacional fazer para ajudar?

GH: A comunidade internacional pode e está a ajudar-nos. É fundamental que os defensores da democracia, intelectuais e pessoas que entendem a história de Lula e do Brasil mostrem o seu apoio, e muitos já o fizeram. Também acho que o Prémio Nobel da Paz para Lula, até mesmo só a sua candidatura, serviria como reconhecimento da sua inocência. Não tenho dúvidas de que, se ele ganhasse o Prémio Nobel da Paz, seria por causa do reconhecimento do que ele significa para a América Latina e o mundo, em termos de pacificação de relações conflituantes. Lula foi muito importante, não apenas do ponto de vista externo da construção da paz, mas do ponto de vista interno, quando deu ao povo brasileiro acesso a condições dignas de vida.