terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Sintomas graves. Nenhuma terapia tradicional possível

Severe symptoms. Traditional therapy unviable



A humanidade sob o sistema capitalista é como um doente com sintomas cada vez mais graves. Muitos dos sinais sintomáticos – investimento produtivo, emprego, especula-ção financeira, exploração e super-exploração do trabalho, desigualdade social, serviços sociais, violência sobre as populações, guerras e conflitos imperiais, etc. --, podem ser objectivamente avaliados com bastante rigor. Essas avaliações são todas de agravamento da doença desde há décadas: investimento produtivo em declínio, baixa acentuada de emprego, elevada especulação financeira, forte exploração do trabalho, degradação de serviços sociais, aumento continuado de conflitos e guerras devido à ganância imperial, etc.

Quando falamos em «agravamento» é da esmagadora maioria da população que se trata, englobando trabalhadores assalariados, trabalhadores independentes e os pequenos e médios produtores e empreendedores. Para o grande capital e seus penduras, para os 1% do topo, o referido agravamento é a condição sine qua non do seu enorme florescimento.

Muito do agravamento sintomático do capitalismo é disfarçado e negado pelos defensores do sistema e seus media. Assim, a especulação financeira é retratada como benéfica para o dinamismo dos negócios, a exploração do trabalho como inexistente, antes como o «salário justo» dadas as condições actuais de concorrência, a super-exploração da terceirização laboral é vista como ajuda aos países menos desenvolvidos para aprenderem a trabalhar como deve ser, os conflitos imperiais são ajudas humanitárias do «mundo livre» para instalar democracia e liberdade onde não existe, etc.

Há, contudo, um sintoma que os defensores do capitalismo não conseguem negar e disfarçar, porque está à vista de todos diariamente: a desigualdade social.

Estudos recentes da Oxfam, que se apresenta como uma «confederação internacional de 20 ONGs trabalhando com parceiros em mais de 90 países para acabar com as injustiças que causam a pobreza», revelaram:

-- «Nos últimos 25 anos, os 1% do topo ganharam mais rendimento do que o conjunto dos 50% do fundo».
-- «Desde 2015 os 1% do topo possuem mais riqueza do que o resto do mundo.»
-- «82% do rendimento criado [em 2017] foi para os 1% do topo, enquanto a metade mais pobre da humanidade não obteve nada».
-- «Oito homens possuem tanta riqueza quanto a metade mais pobre do mundo».
-- «A riqueza dos bilionários [património superior a mil milhões de US$] aumentou em média 13% ao ano entre 2006 e 2015, seis vezes mais rapidamente que os salários dos trabalhadores comuns».
-- «Nos 12 meses até Março de 2017 os 2.043 bilionários aumentaram a sua fortuna nuns impressionantes 762 mil milhões de US$ -- o suficiente para acabar sete vezes com a pobreza extrema».
-- «Se o crescimento tivesse sido pró-pobre entre 1990 e 2010, mais de 700 milhões de pessoas, a maioria mulheres, não viveriam hoje na pobreza».
-- «Três quartos da pobreza extrema poderiam, de facto, ser hoje eliminados usando recursos existentes, aumentando a tributação dos mais ricos e reduzindo gastos militares e outros».
-- «Longe de escorrerem para baixo [*], o rendimento e riqueza estão a ser sugados para cima a uma taxa alarmante».
(*) Alusão ao velho e ridículo argumento de que a existência de ricos é benéfica, dado que quanto mais ricos forem mais «escorre» da sua farta mesa para baixo.

A desigualdade social tem aumentado desde meados dos anos 70. Esse aumento acelerou desde 1990, com o colapso dos regimes da URSS e países do Leste Europeu aliados no âmbito do COMECON. Esse colapso – apresentado abusivamente como o «colapso do socialismo» ou «colapso do comunismo» -- não demonstrou a impraticabilidade do socialismo como os defensores da «economia de mercado» na altura afirmaram e continuam a afirmar. Bem pelo contrário, o colapso teve como causa principal as infracções às leis de construção do socialismo. Violações consciente e premeditadamente introduzidas desde os anos 60. Na verdade, enquanto o socialismo vigorou nesses países, mostrou a sua superioridade face ao capitalismo: havia um grande igualitarismo social, pleno emprego, bons serviços sociais, grandes conquistas na ciência e cultura, etc.

Com o apregoado «colapso do socialismo» o capitalismo sentiu-se livre como nunca para explorar os trabalhadores e oprimir e saquear nações mais fracas, invertendo processos de independência nacional.

À questão «Quem causa isto [desigualdade social]?» a Oxfam reconhece: «As corpora-ções e indivíduos super-ricos desempenham o papel fundamental». E exemplificam:

-- «As grandes empresas tiveram êxito em 2015/16: os lucros foram altos e as 10 maiores corporações do mundo tiveram uma receita global maior que a dos governos de 180 países em conjunto».
-- «Mercados bolsistas globais em alta considerados o principal motor da escala-da de riqueza dos detentores de activos financeiros no ano passado [2017]. A riqueza do fundador da Amazon, Jeff Bezos, dilatou em 6 mil milhões de US$ logo nos primeiros 10 dias de 2017».
-- «Nos próximos 20 anos, 500 pessoas doarão 2,1 biliões de US$ aos herdeiros, um valor maior que o PIB da Índia, país de 1,3 mil milhões de pessoas».
-- «Um CEO da FTSE-100 ganha tanto num ano como 10 mil pessoas a trabalhar nas fábricas de vestuário do Bangladesh».

Os porta-vozes da Oxfam vão por vezes bem longe na sua crítica da «economia»:

-- «Há algo de muito errado numa economia global que permite que 1% goze da maior parte do aumento de riqueza, enquanto a metade mais pobre do mundo fica de fora» [CEO da Oxfam Irlanda]
-- «Para que o trabalho seja de facto a via para sair da pobreza, há que garantir um salário digno para os trabalhadores comuns; que possam exigir condições decentes, sem discriminação das mulheres. Se isso significa menos para os ricos, então é um preço que nós -- e eles -- deveríamos estar dispostos a pagar.» [idem]
-- «A concentração da riqueza extrema no topo não é um sinal de uma economia próspera, mas sintoma de um sistema que está a falhar aos milhões que trabalham duramente, que confeccionam as nossas roupas e cultivam os nossos alimentos, vivendo com salários de miséria». [CEO da Oxfam Inglaterra]
-- «É tempo de construir uma economia humana que beneficie todos, não apenas os poucos privilegiados». [Ibid]
-- «Falsos pressupostos subjacentes à economia dos 1%»: «…o mercado tem sempre razão; o papel dos governos deveria ser minimizado…»; «…as corpo-rações precisam de maximizar os lucros e dividendos aos accionistas custe o que custar…»; etc. [Oxfam report, 2017]

Será que estes senhores são comunistas? Claro que não. Tal como não o são os autores de um relatório do FMI de Junho de 2016 que identificaram o neoliberalismo como causa fundamental da desigualdade crescente.

E, obviamente, o ex-presidente Obama também é insuspeito de comunismo, apesar de ter dito na Assembleia-Geral da ONU em Setembro de 2016 que «Um mundo onde 1% da humanidade controla tanta riqueza quanto os 99% do fundo nunca será estável».

Na realidade, todos estes senhores defendem o capitalismo com unhas e dentes. Qual é, por exemplo, a terapia recomendada ao doente e posta em prática pela Oxfam?

A tradicional, que encontramos noutras instâncias «preocupadas» com os pobres: «ajudamos o povo a reclamar os seus direi-tos», «ajudamos as mulheres a pedir justiça», «fornecemos água, alimentos e serviços sanitários em zonas de desastre», «pressiona-mos governos, organizações internacionais e corporações para políticas agrárias mais justas e acção sobre mudança climática»; «trabalha-mos para assegurar globalmente abasteci-mentos de alimentos para que as pessoas tenham sempre o suficiente para comer»; «pressionamos para garantir fluxos financei-ros adequados para apoiar serviços básicos às pessoas pobres».

Portanto, depois de muitas afirmações sobre a gravidade dos sintomas, de diagnósticos claros que a Esquerda subscreveria, a terapia recomendada pela Oxfam – e também por outras instituições «preocupadas» com a «economia» -- é a única que os defensores capitalistas podem oferecer: filantropia e apelos às boas almas dos governos e das corporações para que contribuam para uma «economia humana». Filantropia e apelos que se repetem há séculos sem curar o doente. Pelo contrário, os sintomas agravam-se.

A Oxfam bem clama: «levantemo-nos contra a desigualdade», «as corporações trabalham para os do topo», «apertam os trabalhadores e produtores», «evadem pagamento de impostos, compram políticos». Mas não passa pela cabeça da Oxfam e de outros tirar as únicas conclusões possíveis das suas próprias afirmações: ajudar os movimentos populares e dos trabalhadores que de facto se levantam contra as desigualdades, e exigir o fim dos monopólios, o fim do domínio do grande capital, através da socialização da economia.

Na realidade, as pregações da Oxfam e de outros tem como objectivos:

-- Manter nas massas a ilusão de que, de dentro do sistema, provém uma preocupação credível e crescente com a desigualdade social e outros males do capitalismo. Desigualdade e males que não seriam intrínsecos ao capitalismo, que não seriam consequências inevitáveis das suas leis internas, mas antes excrescências que podem ser extirpadas.

-- Esta ilusão é reforçada através da ideia de que a questão em causa é uma questão moral e não material. De que o mal do capitalismo se deve apenas ao facto de à frente das corporações se encontrarem indivíduos «maus», que se forem devidamente convencidos pela Oxfam e outros, logo se tornarão «bons» e colaborarão para uma «economia mais humana».

-- É assim, também mantida a ilusão de que, para curar o doente, basta confiar na Oxfam e outras organizações pró-capitalistas. Os respectivos CEOs e doutores são e serão as personalidades habilitadas ao exercício da filantropia e à emissão de apelos.

-- As ilusões, as falsas ideias, procuram criar a apatia nas massas, a travar a luta de classes. A frase acima de Obama, «Um mundo [assim] nunca será estável», reflecte precisamente a preocupação de Obama com a luta de classes. Luta pela qual passa a cura do doente e que atirará pela borda fora a filantropia, os apelos, e a conversa fiada.

Há um aspecto importante que ressalta dos relatórios da Oxfam, bem como de muitas afirmações e textos de defensores do capitalismo. Nunca usam as palavras «capitalista»» ou «capitalismo». Só falam numa abstracta «economia» ou, quando muito, em «economia de mercado». Má consciência ou medo de chamar os bois pelo nome?
*   *   *
Não há terapia que salve o doente no âmbito do capitalismo. A única terapia possível é o socialismo
Mankind under the capitalist system is like a sick body with increasingly severe symptoms. Many of the symptomatic signals -- productive investment, employment, financial speculation, exploitation and super-exploitation of labor, social inequality, social services, violence against populations, wars and imperial conflicts, etc. -- can be objectively evaluated in a fairly accurate way. All such evaluations show a worsening of the disease for decades: declining productive investment, marked decline in employment, high financial speculation, heavy exploitation of labor, degradation of social services, continued escalation of conflicts and wars due to imperial greed, and so on.

When we say “worsening” we mean worsening for the overwhelming majority of the population, encompassing wage workers, self-employed workers and small and medium producers and entrepreneurs. For the big capital and their hangers-on, for the 1% of the top, the said worsening is the sine qua non condition of their thriving, of their booming wealth.


Much of the symptomatic worsening of capitalism is glossed over and even denied by the proponents of the system and their media. They portray, for instance, financial speculation as being beneficial to business dynamism, the exploitation of labor as non-existent, but rather as a “fair wage” given the current conditions of competition, over-exploitation of outsourced labor is described as helping the less developed countries, teaching them how work should be done, imperial conflicts are humanitarian aids of the "free world" to install democracy and freedom where they do not exist, etc.

There is, however, a symptom that the defenders of capitalism cannot deny and gloss over, because it is in plain sight of everyone and on a daily basis: social inequality.

Recent studies of Oxfam, which introduces itself as an “international confederation of 20 NGOs working with partners in over 90 countries to end the injustices that cause poverty”, revealed:

-- “Over the last 25 years, the top 1% have gained more income than the bottom 50% put together.”
-- “Since 2015, the richest 1% has owned more wealth than the rest of the planet.”
-- “82% of the wealth created last year [2017] went to the richest 1%, while the poorest half of humanity got nothing.”
-- “Eight men own the same wealth as the poorest half of the world.”
-- “Billionaire wealth rose by an average of 13 percent a year between 2006 and 2015 – six times faster than the wages of ordinary workers.”
-- “In the 12 months to March 2017, [2,043] billionaires’ fortunes grew by a staggering $762 billion – enough to end extreme poverty more than seven times over.”
-- “Had growth been pro-poor between 1990 and 2010, 700 million more people, most of them women, would not be living in poverty today.”
-- “Three-quarters of extreme poverty could in fact be eliminated now using existing resources, by increasing taxation and cutting down on military and other regressive spending.”
-- “Far from trickling down [*], income and wealth are being sucked upwards at an alarming rate.”
[*] An allusion to an old and ridiculous argument, according to which the existence of rich people is beneficial for the poor, since the richer they are the most trickles down out of their bountifully supplied tables.

Social inequality has increased since the mid-1970s. This increase has accelerated since 1990, with the collapse of the regimes of the USSR and Eastern European countries allied in the frame of the COMECON. This collapse – abusively referred to as the "collapse of socialism" or "collapse of communism" – did not demonstrate the impracticability of socialism as the defenders of the "market economy" at the time have claimed and continue to assert. On the contrary, the main cause of the collapse was the violations of socialism-building laws. Violations which were consciously and premeditatedly introduced since the 1960s. In truth, while socialism was in force in those countries, it showed its superiority vis-à-vis capitalism: there was great social egalitarianism, full employment, good social services, great achievements is science and culture, and so on.

With the proclaimed “collapse of socialism” capitalism felt free of any constraints to exploit the workers and oppress and plunder the weaker nations, reversing processes of national independence.

To the question "What is causing this [social inequality]?" Oxfam acknowledges: "Corporations and super-rich individuals both play a key role." And they exemplify:

-- “Big businesses did well in 2015/16: profits are high and the world’s 10 biggest corporations together have revenue greater than that of the government revenue of 180 countries combined.”
-- “Booming global stock markets were seen as the main driver for a surge in wealth among those holding financial assets last year [2017]. The founder of Amazon, Jeff Bezos, saw his wealth balloon by $6 billion in the first 10 days of 2017.”
-- “Over the next 20 years, 500 people will hand over $2.1 trillion to their heirs – a sum larger than the GDP of India, a country of 1.3 billion people.”
-- “A FTSE-100 CEO earns as much in a year as 10,000 people in working in garment factories in Bangladesh.”

Oxfam spokesmen go often much farther in their critique of the "economy":

-- “Something is very wrong with a global economy that allows the one percent to enjoy the lion’s share of increases in wealth while the poorest half of humanity miss out.” [Oxfam Ireland’s CEO]
-- “For work to be a genuine route out of poverty we need to ensure that ordinary workers receive a living wage and can insist on decent conditions, and that women are not discriminated against. If that means less for the already wealthy then that is a price that we – and they – should be willing to pay.” [same]
-- "The concentration of extreme wealth at the top is not a sign of a thriving economy but a symptom of a system that is failing the millions of hard-working people on poverty wages who make our clothes and grow our food." [Oxfam GB’s CEO]
-- “It’s time to build a human economy that benefits everyone, not just the privileged few.” [same]
-- “The false assumptions driving the economy of the 1%”: “… The market is always right, and the role of governments should be minimized…”; “… corporations need to maximize profits and returns to shareholders at all costs…”; etc. [Oxfam report 2017]

Are these gentlemen communists? Surely not. As are not the authors of an IMF report of June 2016 who identified neoliberalism as the cause playing the key role of growing social inequality.

And former President Obama is also, obviously, unsuspected of communism, despite having said at the UN General Assembly in September 2016 that "A world where 1% of humanity controls as much wealth as the bottom 99% will never be stable."

As a matter of fact, all these gentlemen defend capitalism tooth and nail. What, for example, is the therapy recommended to the sick body and put in practice by Oxfam?

The traditional one, also to be found in other organizations "concerned" with the poor people: "we help people to claim rights for themselves", "we help the women to seek justice", "we provide clean water, food and sanitation in disaster zones”, “we lobby governments, international organizations and corporations for fairer land policies and action on climate change”; “we work to secure global food supplies so that people always have enough to eat”; “We push to secure adequate financial flows to sustain basic services for poor people.”

Thus, after many statements about the severity of the symptoms, of outspoken diagnoses that the Left would subscribe to, the therapy recommended by Oxfam -- and also by other organizations expressing “concern” about the “economy” -- is the only one that capitalist advocates can offer: philanthropy and appeals to the good souls of governments and corporations to contribute to a "humane economy". Philanthropy and appeals that have been repeated for decades without healing the sick body. On the contrary, the symptoms worsen.

Oxfam does indeed cry out: "Let’s rise against inequality”, “Corporations, working for those at the top", "Squeezing workers and producers", "avoiding taxes, buying politics". But Oxfam and others never come to the point of drawing up the only possible conclusions from their own statements: to help popular and workers’ movements that actually rise up against inequalities and to demand an end of monopolies, of the domination of big capital, through the socialization of the economy.


In fact, the preachings of Oxfam and of others have the following aims:

-- To keep the masses in the illusion that, from within the system, there arises a credible and growing concern with social inequality and other evils of capitalism. Inequality and evils that would not be intrinsic to capitalism -- would not be inevitable consequences of their internal laws -- but rather excrescences that can be extirpated.

 
-- This illusion is reinforced by the idea that the issue being addressed is a moral one, rather than a material one. That the evils of capitalism are due only to the fact that at the head of corporations stand "bad" individuals who, if properly convinced by Oxfam and others, soon will become "good" and will collaborate for a "more humane economy".


-- This way, an illusion is also maintained that in order to heal the sick body, it is enough to rely on Oxfam and other pro-capitalist organizations. The respective CEOs and PhDs are precisely what is needed, the personalities qualified to exercise philanthropy and to issue appeals.


-- The illusions, the false ideas, are aimed at creating the apathy of the masses, of hindering the class struggle. The above sentence of Obama, "A world [like this] will never be stable," distinctly reflects Obama's concern with class struggle. A struggle which is the only path towards healing the sick body and which will throw overboard philanthropy, appeals, and small talk.


There is an important aspect that stands out from the Oxfam reports, as well as from many statements and texts by proponents of capitalism. They never use the words “capitalist” or “capitalism”. They only speak of an abstract “economy” or, at most, of “market economy”. Bad conscience or fear of calling a spade a spade?

*   *   *
There is no therapy, under capitalism, that will save the sick body. The only effective therapy is socialism.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Portugal: Ponto da Situação (2017)

Tal como em anos anteriores, uma vez conhecida a Previsão de Outono de 2017 do Eurostat e outros documentos, apresentamos uma reflexão sobre a situação económica e social do país.

É conhecido que se registou em 2017 uma pequena melhoria da situação económica portuguesa. Essa melhoria não surge isolada. É em grande parte influenciada por uma melhoria moderada das economias dos EUA e da Alemanha. Houve também ligeiras melhorias na economia japonesa e noutras da UE. Para além do continuado baixo preço do petróleo, devem-se tais melhorias a valorizações de activos financeiros e de propriedade.

Quanto a este último aspecto, os economistas da OCDE reconhecem as bases fictícias da melhoria, dizendo o seguinte: «Os riscos financeiros também estão a aumentar nas economias avançadas, com o longo período de baixas taxas de juros a incentivar uma maior tomada de risco e novos aumentos nas avaliações de activos, inclusive nos mercados imobiliários. Os investimentos produtivos que gerariam os meios para pagar as obrigações financeiras associadas (bem como cumprir outros compromissos com os cidadãos) parecem insuficientes.» (itálico nosso). Portanto, a nível global, continua a dominar o regabofe especulativo do capital financeiro com lucros que não assentam no capital produtivo.

No caso de Portugal o turismo também tem contribuído para a melhoria, não só pelas receitas próprias que produz como pelo estímulo que propaga a outros sectores empresariais, contribuindo para aumentos de investimento.

Vejamos alguns indicadores.

PIB, investimento, balança comercial

Segundo o BdP e Eurostat, o PIB deverá ter crescido 2,6% em 2017. Logo, um crescimento maior que o esperado em 2016 pela Comissão Europeia (CE) -- 1,2% -- e governo -- 1,5%. O peso do turismo no PIB subiu 47% em 8 anos. Em 2016 aumentou de 11,5 M€ (milhões de euros), mais 10% que em 2015. Em 2016 o turismo representava 7% do PIB e tinha um impacto total no PIB (através de outras actividades) estimado em 16%. O crescimento em 2017 deverá ter sido também da ordem dos 10%, contribuindo em cerca de 7,7% do PIB.

O crescimento homólogo do investimento privado (FBCF = formação bruta de capital fixo) no primeiro semestre de 2017 foi de 10%, suportado pela construção e pelo equipamento. Em Dezembro passado o BdP estimava a FBCF em 8,3% do PIB, mas projectava uma descida para 6,1% em 2018.

Note-se que, segundo os dados do INE, em 2015 – o ano mais recente com dados do INE – a FBCF aumentou de 1,85 B€ (mil milhões de euros) face a 2014. Contudo, se tomarmos apenas em conta as actividades produtivas (agricultura, silvicultura e pescas, as várias indústrias, construção, produção e distribuição de electricidade, captação e tratamento de água), os dados do INE mostram, não uma subida da FBCF, mas uma descida de 13 M€. Efectivamente, onze das dezoito áreas da actividade produtiva reportadas pelo INE registaram descidas da FBCF entre 2014 e 2015. Aguardamos com interesse os dados de 2016 e anos seguintes.

O investimento público tem estado sempre cerca de 10% abaixo do orçamentado desde a saída da troika. Em 2016, Portugal estava em último lugar dos países da UE-28 no que respeita à FBCF no sector público: 1,5% do PIB. Mais baixo que em 2015: 2,2% do PIB. A descida de investimento público é responsável pela continuada degradação de vários serviços públicos, nomeadamente na saúde, justiça e serviços de segurança social.

O défice da balança comercial continuou a agravar-se em 2017, aumentando de 12,42 B€ (B€ = mil milhões de euros) de Janeiro a Novembro (contra 9,79 B€ no mesmo período de 2016). Isto, apesar do recorde de exportações de 5,22 B€ em Novembro de 2017. Segundo o governo, as exportações irão cair de 8,3% (em 2017) para 5,4% em 2018.

O governo também afirmou que a descida de exportações em 2018 seria acompanhada de uma descida de importações. Parece-nos pouco credível. Entre outras razões, porque as fortunas dos mais ricos continuam a aumentar (como veremos abaixo) e as importações de artigos de luxo não são controladas. Em 2017 dispararam as vendas de carros de luxo: uma subida de 7,1% (!) com mais 14.804 veículos tais como Ferraris, Lamborghinis, Bentleys, Maseratti, Jaguares, Aston Martins, Porsches, etc. Qualquer coisa como 5 a 6 B€!

Indicadores laborais

A taxa de desemprego no final de 2017, segundo a CE, é de 9,9%. A previsão para 2018 é próxima deste valor: 9,8%. As previsões do Eurostat e FMI para 2018 são algo mais optimistas (8,5% e 9%, respectivamente).

Tal como em 2016, a diminuição da taxa de desemprego deveu-se em grande parte ao turismo. Em Fevereiro, a taxa de desemprego ainda estava, segundo o INE, em 10,5%. Mas, de Janeiro de 2016 a Junho de 2017 o turismo criou 60 mil empregos (Confederação do Turismo de Portugal).

A descida da taxa de desemprego corresponde, de facto, à criação de emprego pouco qualificado e mal pago, muitas vezes precário (cerca de 15% dos empregos são precários), ao mesmo tempo que têm sido eliminados postos de trabalho de maior qualificação e salário.  A própria CE reconhece isso mesmo: «Portugal cria emprego pouco qualificado e mal pago» (declaração de 12 de Novembro de 2017). Alguns factos:

-- De 2012 a 2016 a banca portuguesa cortou 10 mil postos de trabalho. Foi o maior corte na zona euro.
-- Em 2017 a CGD cortou mais de 600 postos de trabalho.
-- Em Janeiro deste ano os CTT anunciaram planos para fechar mais do dobro do número de lojas que fecharam desde 2013, o ano da privatização. Até Março, vão encerrar 22 lojas. Os CTT pretendem despedir 800 trabalhadores em 3 anos.
-- No sector das administrações públicas havia em Setembro de 2017 uma diminuição de 6.600 postos de trabalho face ao trimestre anterior. Desde o final de 2011 foram eliminados cerca de 60 mil postos de trabalho.
-- «Em Portugal há falta de enfermeiros tendo em conta a população, alerta a Comissão Europeia. Temos 6,3 destes profissionais por cada mil habitantes, quando a média europeia é de 8,4» (DN, 3/12/2017). É conhecida a grande emigração de enfermeiros, que saem do país devido aos baixos salários e más condições laborais.
-- Segundo um estudo da Iberinform -- organização ao serviço dos patrões -- publicado no passado Dezembro, as mil maiores empresas portuguesas obtiveram em 2016 maior produtividade, geraram 77% do PIB, e tiveram lucros acumulados que aumentaram 2,89% atingindo 5,8 B€ face a 5,7 B€ em 2015. Contudo, criaram menos postos de trabalho que em 2015.

Em 22 de Dezembro de 2017 o JN publicou a notícia de que 58% dos desempregados não recebiam subsídio de desemprego.

Quanto a salários e direitos laborais, atentemos nestes dados:

-- Em Junho de 2016, 23% dos portugueses ganhavam o salário mínimo nacional.
-- No terceiro trimestre de 2017, de 141.500 empregos criados, 96.400 (68%) eram de menor qualificação com salários abaixo de 733 €, sendo 56.700 (40%) abaixo de 666 €!
-- Em 2017, no sector privado e em termos nominais, a média salarial subiu 1,8% de Janeiro a Julho de 2017. Mas, descontando a inflação, a subida foi de 0,6%...
-- Efectivamente, um artigo do economista Eugénio Rosa de 16 de Junho de 2017, mostra documentadamente que o ganho médio em Portugal caiu em relação ao ganho médio da UE-28. Todavia – e esta é a velha questão das médias -- o mesmo não aconteceu com os membros do conselho de administração e de fiscalização da CGD que, logo após a enorme recapitalização da “Caixa” com o dinheiro dos contribuintes, tiveram aumentos que variaram entre 79,6% e 166,9%!!! Além disso – e para que não restassem dúvidas sobre a existência de dois mundos aparte, o do capital e o do trabalho -- a administração da CGD logo fez saber que pretendia congelar os salários dos trabalhadores até 2020!!!

Desde a contra-revolução de Novembro de 1975 os direitos dos trabalhadores têm sido fortemente atingidos. As contratações colectivas caíram a pique e os delegados sindicais são perseguidos em muitas empresas. Conhecemos empresas em que pura e simplesmente os sindicatos estão proibidos de entrar, numa clara ilustração do que significa a democracia burguesa, ainda que se trate da democracia portuguesa com um governo da ala esquerda do PS sob acordo do PCP e BE. De facto, não é pelo acordo do PCP e BE com o PS que algo substancial ocorreu neste aspecto. Pelo contrário, como já vamos ver.

A tabela abaixo mostra o número de trabalhadores portugueses enquadrados em acordos de contratação colectiva, bem como a respectiva percentagem face à população empregada a tempo completo. Com a crise de 2008 e os governos de Passos Coelho esse número (e percentagem) caiu a pique de 2010 para 2012. A partir de 2013 verificou-se um ligeiro aumento, mas longe dos valores pré-crise. Com o governo PS houve um ligeiro aumento em 2016. Mas, em 2017, e apesar do aumento de emprego (embora o valor final concreto não seja ainda conhecido), o número de trabalhadores com contrato colectivo diminuiu!

Contratação Colectiva
Ano
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
N.º de trabalhadores com contrato colectivo (milhões)
1,6
1,7
1,4
1,7
0,90
0,12
0,18
0,24
0,5
0,6
0,5
Percentagem em termos do n.º de trabalhadores a tempo completo.
35,8%
37,8%
32,0%
39,4%
22,0%
3,1%
4,7%
6,1%
12,6%
14,8%


É claro que os trabalhadores não deixaram nem deixarão de lutar. O ano de 2017 foi fértil em greves, concentrações e outras formas de luta. São de destacar, entre outras, as greves na Somincor (mina de Neves-Corvo), Tesco (multinacional japonesa), Thyssenkrupp Elevadores, entrepostos logísticos da Sonae, Beralt Tin & Wolfram (minas da Panasqueira), CTT, Triumph, Auto-Europa, Multiauto, Matutano (Grupo Pepsico), e Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Estas lutas dos trabalhadores muitas vezes não passam nos media dos grupos corporativos (jornais de grande circulação, TV, etc.). Quando passam, é sob a forma de breve menção, silenciando ou distorcendo as razões os trabalhadores, e mencionando apenas os incómodos que acarretam, para lançar a pequena burguesia contra o movimento dos trabalhadores. Quem queira estar a par do mundo do trabalho – um mundo à parte dos media do grande capital – terá de consultar os portais da CGTP-IN, da Abril-Abril, ler o «Avante!», etc.

No passado 12 de Janeiro teve lugar um plenário da CGTP-IN que reuniu cerca de 750 delegados sindicais. Foi aprovada uma resolução política, «Agir e Lutar», apontando como fundamental para 2018 a reposição dos direitos retirados e a melhoria efectiva da vida dos trabalhadores. A CGTP-IN destaca justamente que o Orçamento do Estado para 2018 «reflecte avanços que melhoram a vida dos trabalhadores e do povo [...], resultado da acção e da luta reivindicativa desenvolvida nos locais de trabalho». Mas, declara também que o OE demonstra «insuficiências» e que, portanto, é necessário «ir mais além», afirmando 2018 como «um ano decisivo para, no quadro da actual correlação de forças na Assembleia da República, garantir a reposição integral de direitos usurpados por décadas de política de direita» (itálicos nossos).

Dívida Pública (DP), Dívida Externa (DE) e Défice Orçamental (DO)

Portugal tinha em 2016 a terceira maior DP (dívida das administrações públicas, central, regional e local) da UE-28 -- 130,1% --, logo a seguir à da Grécia (180,8%) e Itália (132%). Em 2017 a DP ficou em 126,4%.

É conveniente, porém, analisar a DP no quadro de todas as dívidas sectoriais.

No final de 2016 a dívida do sector não financeiro totalizava 715.154 M€, assim repartida: DP, 300.958 M€; dívida das empresas privadas, 265.213 M€; dívida das famílias, 142.079 M€. A dívida total do sector não financeiro era financiada em cerca de 1/3 por credores estrangeiros; mas, a DP era financiada quase em metade por credores estrangeiros (46,6%). (Dados do BdP, que obtivemos a partir do artigo de Eugénio Rosa «A Divida que está a Estrangular o País, o Estado, as Empresas e as Famílias», cuja leitura recomendamos.)

Somando todas as parcelas que devemos ao estrangeiro, com juros a taxas entre 3% e 4%, a nossa dívida externa bruta era, em final de 2016, de 398.850 M€, e a líquida (subtraindo o que temos a haver do estrangeiro) era de 181.315 M€, praticamente igual ao PIB previsto para 2017. Eugénio Rosa assinala que a DE é «cerca de três vezes mais do que quando o país entrou para a zona Euro» e ainda, como é fácil de entender, «os encargos com a divida externa são muito pesados, funcionando também como um garrote que impede um crescimento económico e desenvolvimento sustentado e elevado».

A situação da DP no início de 2017 não era famosa. A DP estava a aumentar a um ritmo superior ao de 2016. Enquanto em 2016 tinha aumentado a uma média de 1.222 M€/mês, nos primeiros dois meses de 2017 aumentou a uma média de 1.912 M€/mês atingindo 304.782 M€. O aumento continuou pelo menos até metade de 2017, atingindo no final de Junho 132,4% do PIB.

No final de 2017 a DP só baixou porque o governo retirou dinheiro da «almofada financeira» para efectuar pagamentos antecipados da dívida ao FMI num total de 10 B€ (foi paga 80% da dívida; o último pagamento antecipado de 1 B€ no passado Dezembro só vencia entre Março e Maio de 2021). Entretanto, uma emissão de obrigações do Tesouro no valor de 6 B€ colmatou a «almofada financeira», embora a menor nível. O atractivo desta engenharia financeira é que substituiu a taxa de juro usurária cobrada pelo FMI (4,3%) por uma muito mais baixa, a das obrigações do Tesouro, da ordem de 1,6% (indexada à taxa Euribor).

Para 2018 o governo pretende continuar com esta engenharia financeira a fim de baixar a DP. (A previsão do Eurostat é de 124,1%; para o FMI – entusiasmado com os pagamentos antecipados – a previsão é de 122,5% !) O problema está em que tal engenharia não é livre de riscos. A taxa Euribor pode aumentar e novos buracos bancários podem «comer» a «almofada». No artigo de Eugénio Rosa já citado, o autor refere uma reunião de economistas do PS e BE (o PCP não foi convidado) que delineou cinco medidas para baixar a DP, incluindo as duas adoptadas em 2017. Nenhuma das cinco medidas é livre de riscos e, como diz Eugénio Rosa, «… mesmo implementando todas estas [cinco] medidas, a redução dos encargos com a divida que se obteria, por um lado, não resolveria de nenhuma forma o problema … até porque a divida continuaria a crescer alimentada pelo défice orçamental enquanto durasse e pelo reduzido aumento do PIB; e, por outro lado, mesmo aqueles “resultados/poupanças” são aleatórios (podem variar de ano para ano, e mesmo em relação ao previsto).»

Na realidade, para evitar o desastre económico e social, não existe alternativa credível que não seja a renegociação da dívida, conforme vimos a defender neste blog desde o seu início (em 2012).

Quanto ao défice orçamental, ele caiu de 2% do PIB em 2016 para 1,4% em 2017. A previsão do Eurostat para 2018 mantém este valor. Apesar do DO em 2016 e 2017 ter sido inferior aos 3% impostos por Bruxelas, isso não foi aproveitado para, p. ex., aumentar o investimento público e com isso melhorar os serviços sociais (ver o que dissemos acima). Tal aumento seria possível com pequeníssimo impacto na DP.

O critério dos 3% é, de facto, um «critério mágico» fixado pelas economias dominantes da UE que não tem em conta a diversidade estrutural das economias dos países mais pobres.

Perspectivas para 2018

Pensamos que os comentários que fizemos em 2017 sobre a evolução da situação económica e social portuguesa se mantêm válidos no essencial.

Quanto à economia, ela continua pouco produtiva e vulnerável a «choques externos», como diz o Eurostat; isto é, muito dependente da «boa saúde» das economias que compram bens e serviços a Portugal. Quanto à exportação de bens, ela assenta em baixos salários – más condições de vida – dos trabalhadores portugueses. Além disso, grande parte dessa exportação depende de monopólios estrangeiros; logo, só se reflecte nesses baixos salários e não em mais-valias retidas em Portugal. Estas também são (quase todas) exportadas. A Previsão do Eurostat diz assim sobre o crescimento do investimento em 2017: «…grande impulso ao investimento este ano proveio de uma melhoria de capacidade [produtiva] na maior empresa de automóveis [Autoeuropa] do país, que deverá desvanecer-se em 2018». O que acontece se «amanhã» o Grupo Volkswagen decidir terminar com a Autoeuropa e deslocalizá-la para a «Cochinchina» onde os salários são ainda mais baixos?

As previsões da OCDE para a economia mundial em 2018 e 2019 são de abrandamento: «Embora a melhoria cíclica a curto prazo seja bem-vinda, permanece modesta em comparação com os padrões de recuperações passadas. Além disso, as perspectivas de continuar o aumento do crescimento global até 2019 e garantir as bases para um maior potencial de produção e um crescimento mais sólido e inclusivo não parecem ainda existir. Os efeitos persistentes do prolongado crescimento inferior ao necessário, após a crise financeira, ainda estão presentes no investimento, no comércio, na produtividade e na evolução salarial. Prevê-se alguma melhoria em 2018 e 2019, quanto às empresas que realizam novos investimentos para actualizar o seu stock de capital, mas isso não será suficiente para compensar totalmente as insuficiências passadas e, assim, os ganhos de produtividade permanecerão limitados.»

As previsões do INE e Eurostat para a economia portuguesa em 2018 e 2019 são de abrandamento. A do Eurostat refere: «O crescimento das exportações [de bens e serviços portugueses] deverá estar em 2019 mais alinhado com a procura externa, já que o impacto do fabrico de automóveis e do turismo deve diminuir.».

Além disso, continua elevada a probabilidade de uma nova crise mundial a curto prazo. Já não são só os marxistas que dizem isso. A Perspectiva Económica Mundial do FMI do passado Outubro (a última de 2017) diz o seguinte:
«As valorizações de acções continuaram a crescer e estão próximas de recordes de máximos, isto porque os bancos centrais mantiveram regras de política monetária favoráveis, em situação de inflação fraca. Isto faz parte de uma tendência mais geral dos mercados financeiros globais, onde as baixas taxas de juros, uma melhoria de perspectiva económica e um aumento do apetite de risco aumentaram os preços dos activos e diminuíram a volatilidade»
e
«Uma acumulação contínua de cargas de dívidas e avaliações exageradas de activos podem ter repercussões económicas globais. ... um reajuste dos riscos poderia levar a um aumento nos spreads de crédito e a uma queda no mercado de capitais e nos preços da habitação, fazendo descarrilar a recuperação económica e comprometendo a estabilidade financeira».


Quanto às perspectivas sociais, e apesar de alguma melhoria das condições de vida de certos estratos de baixos rendimentos, Portugal continua a ser um dos países mais desiguais da UE, conforme revelou o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, divulgado pelo INE no final do passado Novembro. Estamos já abaixo da Bulgária, Lituânia, Roménia, Espanha e Letónia.

No final de 2016 11% dos trabalhadores eram pobres e, segundo o INE, quase 2,6 milhões de portugueses (1/4 da população) estavam em risco de pobreza. (A taxa de risco de pobreza é calculada tendo em conta rendimentos abaixo do limiar de pobreza e indicadores de privação material, que indicam falta de bens ou de dinheiro.)

Mas, inclusive, estes valores parecem ser optimistas. Segundo o estudo «Rendimento Adequado em Portugal (raP) – Quanto é necessário para uma pessoa viver com dignidade em Portugal?» -- estudo de uma parceria entre várias universidades, entre as quais a de Lisboa e a Católica, e a Rede Europeia Anti-Pobreza --, o limiar da pobreza em Portugal está subestimado. Um dos investigadores afirmou: «Há uma clara subestimação dos valores da pobreza e há uma subestimação também dos valores, dos mínimos sociais que estão fixados, do salário mínimo, dos mínimos sociais da protecção social».

E que se passa no outro extremo da distribuição de rendimento? Já vimos que a venda de carros de luxo está em alta. Não é de admirar, dado que Portugal ganhou 7 mil milionários em 2017! Que galardão, não é? Temos agora cerca de 68 mil portugueses milionários (isto é, com património acima de 1 M€), segundo o Global Wealth Report.

E destes 68 mil – 0,7% da população portuguesa -- os 25 maiores estão ainda maiores! A soma das suas fortunas atingiu 18,8 B€ em 2017, contra 15 B€ de 2016. Um crescimento de 3,8 mil milhões de euros! Um crescimento de 25,3% que envergonha o crescimento de qualquer PIB. Mais outra maravilha portuguesa alcançada em pleno governo de «esquerda»!!!

Com um governo de «esquerda» assim, que permite tais maravilhas aos capitalistas, aos 0,7% da população portuguesa, não é de admirar que a luta de classes ainda esteja a baixo vapor, que os trabalhadores passem por muitas frustrações nas suas lutas para conseguirem migalhas, que continuem muitos deles a ter uma vida de miséria, e que a sua consciência política esteja algo confusa como se viu nas eleições autárquicas. Então não querem lá ver, que mesmo com o PCP no acordo, no essencial, plus ça change plus c’est la même chose?

Os capitalistas é que não brincam em serviço. Pelo sim pelo não – não vá serem colhidos de surpresa como no 25 de Abril de 1974 – tratam de pôr as suas fortunas a salvo nos paraísos fiscais. Já vimos isso nos Panama Papers e voltamos agora a ver de novo nos Paradise Papers: 1,4 milhões de ficheiros que expõem 127 líderes políticos e a elite capitalista com fortuna nas Bermudas, Caimão, Maurícias, Hong-Kong e ilha de Man graças aos serviços da Appleby & Asiatic Trust.

Desta vez e segundo o semanário Expresso, foram encontrados nos 1,4 milhões de ficheiros «uma série de antigos administradores do Grupo Espírito Santo e do BPN». Quem é que disse que o crime não compensa? É claro que mal se soube dos Paradise Papers, logo a CE veio dizer que era necessário redobrar de esforços para pôr cobro ao escândalo, etc. Um bocado como os padres que admoestam e obrigam a rezas de contrição os fiéis (ou outros padres) cujos pecados foram revelados. As admoestações e rezas passam e os fiéis pouco depois recaem nos mesmos pecados. Mas cai bem na fotografia as admoestações e rezas de contrição.

Aqui, em Portugal, é que nem rezas de contrição se avistam. No «Pacto de Justiça» que está a ser acordado entre o PS e BE ficou de fora o «combate ao enriquecimento ilícito». O crime continua a compensar.

Atentemos: Medidas sobre a dívida: reunião de economistas do PS e BE; «Pacto de Justiça»: em acordo entre o PS e BE. Cada vez mais o BE serve de apêndice ao PS, algo que já vimos a documentar desde 2012. É natural que assim seja. Ambos representam a mesma classe social: a pequena burguesia urbana, com uma ala moderada (ala esquerda do PS) e outra mais radical (BE).


Voltando aos 0,7% do topo. Mais coisa menos coisa, são estes 0,7% de capitalistas que exercem a sua tutela, o seu domínio, na muito democrática democracia burguesa de Portugal. Uma democracia que os serve, mas representa uma enorme opressão – milhões de pobres, vidas de miséria, falta de direitos e repressão de direitos -- sobre a esmagadora maioria dos portugueses.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Ucrânia: a história repete-se | Ukraine: history repeats itself

Acabámos de ler Brest-Litovsk, The Forgotten Peace (Brest-Litovsk, A Paz Esquecida) do historiador inglês John Wheeler-Bennett, publicado em 1938 [1]. O autor revela na interpretação dos factos a sua posição de historiador burguês, anti-comunista. Isso leva-o a afirmações disparatadas e mesmo ridículas (p. ex., de que Lenine era derrotista, seguidor de Blanqui [2], etc.), subjectivistas – caindo, por isso mesmo, constantemente em contradições – e, como era de esperar, nega a luta de classes. Neste aspecto, aqui e além, a boca foge-lhe para a verdade, quando p. ex. admite que eram os operários e camponeses que aderiam à revolução bolchevista, contra capitalistas e latifundiários.

O livro, porém, é rico na menção de factos históricos que merecem crédito. Escrito em 1938, os factos de 1917-18 ainda estavam frescos na memória de muitas testemunhas oculares, permitindo uma esclarecedora comparação de narrativas. Estavam também acessíveis memórias, jornais da época, minutas de reuniões e documentos oficiais, alguns destes em Apêndice no livro.

Em Brest-Litovsk encontraram-se, logo após a revolução socialista de Outubro, delegações da Rússia soviética e do Império Alemão («Alemanha» para simplificar) para celebrar um tratato de paz pondo fim ao brutal conflito da 1ª GM entre ambos os países. De facto, tornou-se não num tratado de paz livremente acordado, mas num ultimato alemão que a Rússia se viu constrangida a aceitar, no final não de uma mas de várias reuniões; para além de delegados alemães, participaram delegados dos outos países que com a Alemanha formavam a Quádrupla Aliança: o Império Austro-Húngaro («Áustria» para simplificar), Bulgária e Turquia; os princípios soviéticos de «paz sem anexações e indemnizações» chocaram com as condições predadoras avançadas pelas Potências Centrais (Alemanha e Áustria), que envolviam várias nações, entre elas a ucraniana.

(Os princípios soviéticos de paz sem anexações, de defesa de direitos nacionais e de livre auto-determinação das nações, vieram mais tarde a ser adoptados internacionalmente.)

Neste artigo abordamos apenas a questão da Ucrânia, joguete da avidez imperial alemã-austríaca, em aliança íntima com a burguesia local. O livro de Wheeler-Bennett fornece óptimos esclarecimentos sobre este tema que evocaam constantemente semelhanças com a história recente.

Antes de olharmos para o livro de Wheeler-Bennett, importa dar alguns esclarecimentos [3]:

O território que viria a constituir a República Socialista Soviética da Ucrânia (RSSU) – o primeiro estado ucraniano estável da história – estava dividido no início da 1ª GM, de acordo com o Congresso de Viena de 1815, em onze províncias. Nove pertenciam ao Império Russo: Taurida, Katerinoslav, Karkov, Kerson, Poltava, Tcherniev, Podolia, Volínia, Kiev. A Galícia e o norte da Bucovina pertenciam ao Império Austro-Húngaro. (Ver mapa abaixo.). As províncias mais ocidentais sofreram historicamente a influência de migrações alemãs e austríacas. Alemães, austríacos e seus descendentes constituíram nessas províncias parte influente da burguesia e da aristocracia, explorando durante séculos os camponeses ucranianos. Faziam parte da elite administrativa e intelectual. Desde o final do séc. XIX a Áustria estimulou o nacionalismo ucraniano burguês, apoiado nesses estratos sociais, como arma contra a influência russa.
We have just read Brest-Litovsk, The Forgotten Peace by the English historian John Wheeler-Bennett, published in 1938 [1]. The author reveals in his interpretation of the facts his stand of bourgeois, anti-communist, historian. This leads him to nonsensical and even laughable assertions (e.g., that Lenin was a defeatist, a follower of Blanqui, etc.), subjectivism – and for that reason constantly falling into contradictions -- and, as was to be expected, he denies class struggle. In this latter aspect, here and there, he has slips of the pen, e.g. when he concedes that it was workers and peasants who adhered to the Bolshevik revolution, against capitalists and landowners.

The book, however, is rich in the mention of historical facts that deserve credit. Written in 1938, the facts of 1917-18 were still fresh in the memory of many eyewitnesses, allowing an illuminating comparison of narratives. Memoirs, periodicals, minutes of meetings, and official documents were also accessible, some of the latter given in Appendix in the book.

In Brest-Litovsk, met shortly after the socialist revolution of October delegations from the Soviet Russia and from the German Empire ("Germany" for short) for the purpose of signing a peace treaty, putting an end to the brutal WWI conflict between the two countries. In reality, it turned out to be not a freely agreed peace treaty, but a German ultimatum which Russia was compelled to accept, in the end of not one but of several meetings; in addition to the German delegates, there were also delegates from the other countries which formed with Germany the Quadruple Alliance: the Austro-Hungarian Empire (Austria for short), Bulgaria and Turkey; the Soviet principles of "peace without annexations and indemnities" clashed with the predatory conditions advanced by the Central Powers (Germany and Austria), which involved several nations, including the Ukraine.

(The Soviet principles of peace without annexations, of defence of national rights and of self-determination of nations, came later to be adopted internationally.)

In this article we only address the question of Ukraine, a plaything of German-Austrian imperial greed, in close alliance with the local bourgeoisie. Wheeler-Bennett's book provides excellent insights on this subject, constantly bringing to mind similarities with the recent history.

Before looking into Wheeler-Bennett's book, a few clarifications are of order [3]:

The territory that would constitute the Ukrainian Soviet Socialist Republic (Ukr-SSR) -- the first historically stable Ukrainian state -- was divided at the beginning of WWI, according to the Vienna Congress of 1815, into eleven provinces. Nine belonged to the Russian Empire: Taurida, Ekaterynoslav, Kharkov, Kherson, Poltava, Cherniev, Podolia, Volynia, Kiev. Galicia and northern Bucovina belonged to the Austro-Hungarian Empire. (See map below.). The westernmost provinces had historically undergone the influence of German and Austrian migrations. Germans, Austrians and their descendants constituted in these provinces an influential part of the bourgeoisie and the aristocracy, exploring for centuries the Ukrainian peasants. They were part of the administrative and intellectual elite. Austria encouraged, since the end of the 19th century, Ukrainian bourgeois nationalism, supported by those social strata,  as a weapon against Russian influence.


Territórios ucranianos 1914-1919 | Ukrainian lands 1914-1919. Historical Atlas of Ukraine.
 (Note-se que a Crimeia não fazia parte desses territórios | Note that Crimea was not part of these lands.)

Durante a 1ª GM 3,5 milhões de ucranianos lutaram no exército russo e 250 mil (da Galícia e Bucovina) no exército austro-húngaro. O exército russo-ucraniano avançou em Agosto de 1914 na Galícia. A repressão austríaca, contra prisioneiros de guerra e civis suspeitos de colaboração e simpatia com os russos, foi brutal. Foram colocados em dois campos de concentração; um em Terezin no que viria a ser o campo de concentração nazi de Theresienstadt; o outro, e principal, em Thalerhof, perto de Graz, onde no total (de 4 de Setembro de 1914 a 10 de Maio de 1917) foram internados 20.000 ucranianos. Até ao inverno de 1915 os prisioneiros dormiam no chão sem abrigo expostos à chuva e geada. Segundo um congressista americano (declarações ao NY Times, 16 de Dezembro de 1917 cuja leitura se recomenda: [4]), os prisioneiros eram espancados e torturados. Estima-se [4] que no total foram executados por razões políticas entre 2.000 e 3.000 prisioneiros; 1.200 nos primeiros 18 meses.

Em Março de 1917, aproveitando a revolução de Fevereiro na Rússia e o enfraquecimento do exército russo, dá-se um levantamento em Kiev encabeçado por partidos burgueses (análogos aos partidos cadete e socialista-revolucionário da Rússia). É constituído (sem eleições) um «parlamento» conhecido por Rada Central. Intelectuais das províncias ocidentais da Ucrânia desempenharam papel proeminente na Rada. A Rada nunca controlou todo o território da Ucrânia. Em muitas províncias, particularmente no Leste, formaram-se governos soviéticos que vieram a obter uma maioria de bolcheviques ucranianos. O mais importante deles foi em Karkov. A Rada e seus sucessivos rebentos sempre teve uma posição anti-bolchevique e de submissão às forças mais reaccionárias, internas e externas.

No final de 1917 as forças bolcheviques ucranianas venceram as forças da Rada apesar destas terem tido o apoio das forças militares ultra-reaccionárias de Symon Peliura e dos cossacos haidamaks, de aviadores franceses, e de oficiais ingleses e romenos. Em Março de 1918 o exército alemão repeliu os bolcheviques que tiveram de abandonar Kiev. A Rada é reinstalada. Este período de tempo é silenciado pelos actuais historiadores burgueses ucranianos, empenhados em reescrever a história procurando dar à Rada uma dignidade estatal que nunca teve e apresentar os bolcheviques ucranianos como elementos estrangeiros.

Em Abril de 1918 os alemães, com o apoio dos elementos mais reaccionários da Rada, instalaram como ditador o general cossaco czarista P. Skoropadsky. Em Novembro de 1918 o ditador foi substituído por um Directório, um novo rebento da Rada que incluía agora Petliura e outras figuras sinistras, como Yevhen Petrushevych, ditador da República Popular da Ucrânia Ocidental (!). Durante todo este período decorria em pleno a intervenção armada estrangeira na Rússia soviética.
*   *   *
Voltemos ao livro de Wheeler-Bennett:

A 2 de Dezembro de 1917 houve um primeiro encontro em Brest-Litovsk – fortaleza em território bielo-russo ocupado pelos alemães -- entre a delegação russa soviética com as delegações da Quádrupla Aliança (hegemonizada pela Alemanha) para discutir os termos de um armistício. Uma segunda reunião veio a concluir a assinatura do armistício em Dezembro.

Em 20 de Dezembro teve início uma terceira reunião para acordar termos de um tratado de paz. A delegação soviética apresentou os termos leninistas de paz sem anexações e (para a 1ª GM inter-imperialista) sem indemnizações. Os secretários dos negócios estrangeiros alemão e austríaco concordaram primeiro com a fórmula soviética (25 de Dezembro), mas dicordaram as forças mais de direita alemãs e austríacas, nomeadamente Ludendorff (general influente do Estado-Maior do Comando Supremo que veio a apoiar Hitler). Os alemães acabaram por colocar objecções quanto à não participação da Entente (Inglaterra e França, com seus aliados) e quanto à sua interpretação de anexações (Ludendorff queria mantê-las) e auto-determinação. A Entente não respondeu aos apelos de paz. Uma quarta reunião a 2 de Janeiro de 1918 confirmou a rejeição alemã da declaração de 25 de Dezembro.

Na quarta reunião na segunda semana de Janeiro de 1918, a delegação alemã, em apoio dos seus apetites predadores, traz de surpresa uma delegação do governo da Rada! Diz Wheeler-Bennett: «uma delegação de [três] moços, não há muito estudantes» [5]. A delegação da Rada «tinham planos de grande alcance para uma Ucrânia alargada, que previa a anexação das porções rutenianas [com etnias eslavas] da Galícia e da Bucovina e a cedência pela Áustria do distrito de Cholm [a Leste da Volínia].»

Os austríacos ficaram incomodados com as propostas dos ucranianos, nomeadamente com a perspectiva de ter de comprar trigo à Ucrânia a troco da cedência de territórios. A Áustria estava sob severa fome e os ucranianos sabiam disso. Os alemães, pelo contrário, apoiaram e lisonjearam os ucranianos, dado considerarem a Rada como uma arma contra a Rússia e um meio de pressionar a Áustria a manter-se alinhada com os seus planos.

O General Max Hoffmann, chefe do Estado-Maior do exército alemão no Leste, aliado de Ludendorff e porta-voz da extrema-direita alemã em Brest-Litovsk, rapidamente viu as vantagens de negociar com os ucranianos e «tomou-os sob sua protecção, embora uma descrição mais adequada talvez seja a de um gato a protejer um canário». Os ucranianos não se fizeram rogados. Juntou-se-lhes o primeiro-ministro Wsewolod Holubowicz e declararam a 10 de Janeiro que a Rada desejava negociar uma paz separada com as Potências Centrais e a sua «independência do regime soviético de Petrogrado». A declaração foi aceite por ambas as delegações alemã e russa, embora o reconhecimento formal da independência fosse reservado para o tratado de paz.

Como as negociações se arrastassem, Hoffmann acordou a 14 de Janeiro com o Conde Czernin, líder da delegação austríaca, abrir negociações separadas com os ucranianos e prometeu-lhes satisfazer a reivindicação do distrito de Cholm disputado pelos polacos. Czernin cedeu, tendo em conta a urgência em obter o trigo ucraniano. Por outro lado, como representante da extrema-direita alemã Hoffmann era contra a existência de uma Polónia independente. Negou, porém, aos ucranianos a reivindicação quanto à Galícia e Bucovina. Uma vez consultado o governo em Kiev os delegados da Rada concordaram. Assistimos, portanto, aqui a tráfico de territórios sem qualquer consulta dos respectivos povos. Entretento, Trotsky, nessa altura líder da delegação russa, declarou que nada devia ser decidido sobre a Ucrânia sem o acordo do governo soviético.

A 29 de Janeiro inicia-se a quinta reunião em Brest-Litovsk. Com a delegação soviética vêm três representantes da República Soviética da Ucrânia (RSU). Trotsky confirma a vitória bolchevique ucraniana cujas forças estão às portas de Kiev e avisa que a paz separada entre as Potências Centrais e a Rada não pode ser reconhecida. Os delegados das Potências Centrais preparam então um confronto dos representantes da Rada com os da Rússia e da RSU para 1 de Fevereiro. Nesse confronto «O líder da Rada, Sevruk, começou por realçar a independência completa de seu Estado de quaisquer laços, físicos, espirituais ou políticos, com a Rússia soviética. Isto foi negado ferozmente tanto por Trotsky quanto pelo líder soviético ucraniano, Medvjedev, que declarou que Kiev, na medida em que ainda representava qualquer coisa, representava apenas os intelectuais e as classes terratenentes, que buscavam separar-se da Rússia para melhor preservação de seus privilégios. Então, o segundo porta-voz de Rada, Liubynski, retrucou com um discurso de uma hora que, quanto a puro e vitrólico opróbrio, ultrapassou de longe tudo o que foi ouvido nesta conferência, das mais estranhas conferências de paz. Insultou os bolcheviques sem contenção, enumerando um catálogo dos seus pecados...» No final Trotsky disse que, estando a delegação da Rada sem governo, representava nenhum território maior que os quartos que ocupavam em Brest-Litovsk.

As Potências Centrais, contudo, já tinham decidido apoiar a Rada que lhes era submissa. «Na conclusão da sessão, Czernin, apesar dos protestos de Trotsky, declarou, em nome das Potências Centrais, que reconheciam "imediatamente a República Popular da Ucrânia [a Rada] como um Estado independente, livre e soberano, capacitado para independentemente celebrar acordos internacionais".» Ludendorff exprimiu a sua satisfação com o tratado com a Rada, que deveria ser apoiada pela força se necessário.

A sexta reunião em Brest-Litovsk inicia-se a 6 de Fevereiro de 1918. O tratado de paz separado das Potências Centrais com a Rada foi ultimado – com inúmeras alíneas, conforme mostra o texto inserto no livro de Wheeler-Bennett --, apesar dos protestos da delegação russa soviética. Assinado a 9 de Fevereiro, em troca de Cholm (à custa dos polacos, isto é, as Potências Centrais davam o que não lhes custava) a Rada teria de entregar pelo menos um milhão de toneladas de trigo às Potências Centrais, além de outros recursos. «O efeito disso [do tratado] foi tornar a Ucrânia teoricamente um Estado neutro, embora se tornasse na verdade um celeiro político e um armazém para as Potências Centrais. Dos ovos ao manganês, a longa lista de bens requisitados parece-se com o inventário alargado de uma casa de "venda por correspondência". Os alemães e austríacos iriam considerá-la mais como um estabelecimento de "cash and carry".»

Quanto à paz entre Alemanha e Rússia, a reunião de Fevereiro terminou num impasse. Os alemães consideraram então denunciar o armistício e desencadear uma ofensiva contra a Rússia. Mas, «Sem a ajuda da Ucrânia a Alemanha e Áustria-Hungria não poderiam sobreviver ao inverno de 1918-1919... Logo, a Ucrânia tinha ser libertada do bolchevismo para abastecer as Potências Centrais com alimentos.» Entretanto, a Áustria recusou-se a continuar a guerra. Os polacos manifestaram-se contra a cedência de Cholm. Houve greve geral em Varsóvia, Cracóvia e Lemberg a 14 de Fevereiro. No Parlamento em Viena, a 19 de Fevereiro, polacos, checos e eslovenos opuseram-se fortemente ao tratado com a Rada. O primeiro-ministro austríaco «anunciou no final da sessão que a província de Cholm não reverteria automaticamente para a Ucrânia, mas que seria celebrado um acordo complementar segundo o qual uma Comissão seria nomeada, composta por representantes da Quádrupla Aliança, Ucrânia e Polónia, que determinaria o destino futuro da província de acordo com os desejos expressos de sua população.»

Os alemães quebram unilateralmente o armistício a 17 de Fevereiro. A 19 de Fevereiro a Rússia comunica a aceitação do tratado de paz. Os alemães adiam a resposta e progridem na ofensiva, avançando até Narva a cerca de 100 km de Petrogrado. No Sul, alemães e austríacos avançam na Ucrânia. A 23 a Alemanha apresenta como ultimato um novo tratado com condições mais duras para a Rússia, incluindo um artigo pelo qual a Rússia teria de reconhecer o tratado das Potências Centrais com a Ucrânia. A Rússia foi obrigada a aceitar o ultimato e a ofensiva alemã parou em Narva. Mas não parou na Ucrânia, que «rapidamente se tornava uma província ocupada» pelos alemães.

Em 29 de Março de 1918 foi finalmente assinado o tratado entre o Império Alemão e a República Socialista Soviética da Rússia. Nesse dia, Hoffmann escrevia no seu diário «Na Ucrânia, continuamos a avançar». Wheeler-Bennett relata: «Vinte e quatro horas antes do acordo com as Potências Centrais, o exército vermelho do general Muraviev expulsou o governo da Rada de Kiev e estabeleceu uma República Soviética da Ucrânia em comunhão com Moscovo. A Rada recuou para Jitomir e apelou em termos lamentáveis ao governo alemão para ajudar a resistir a "esta invasão bárbara de nossos vizinhos do norte". Ficou indiscutivelmente claro que, se as Potências Centrais, que haviam feito a paz com a Ucrânia por causa do pão, desejassem obtê-lo, teriam que ir buscá-lo.»

O avanço das tropas alemãs -- com papel menor dos austríacos [7] -- na Ucrânia deparou com forte resistência das tropas bolcheviques ucranianas. O campesinato ucraniano opunha-se à pilhagem alemã. Apesar disso, Kiev caiu a 1 de Março e Odessa a 12 de Março. «Alguns círculos em Viena conceberam a ideia de um Habsburgo como Rei da Ucrânia e exortaram o Imperador Karl a enviar o Arquiduque Eugen ou o Arquiduque Friedrich a Odessa, a fim de assegurar o comando principal para a monarquia». Depois de trocas azedas de correspondência entre alemães e austríacos, chegou-se a um acordo: a Áustria ficou com Odessa, Kerson e o sul da Ucrânia; a Alemanha com Nikolaev, Sebastopol e o norte da Ucrânia. Nos meses seguintes, porém, o «rei não coroado da Ucrânia» era o Marechal alemão von Eichhorn que tinha substituído Hoffmann.

Mesmo com a Rada de novo no poder a pilhagem da Ucrânia tornou-se difícil. «O país era abundantemente fornecido de tudo, mas provou ser quase impossível colectar abastecimentos... [Os latifúndios] tinham sido confiscados [pelos bolcheviques] e a terra distribuída pelos camponeses, mas os novos proprietários recusavam-se a cultivar porque não sabiam se ficariam na posse das terras e culturas... O camponês só trocava cereais por bens; caso contrário, enterrava o excedente de alimentos e brandamente recusava-se a revelar o seu paradeiro. Até 2 de Março, em vez dos 300 camiões de cereais por dia prometidos à Áustria no âmbito do acordo, só um camião tinha chegado a Viena e um outro a Budapeste, e as cargas destes tinham provindo apenas de armazéns capturados e enviadas para as capitais "para convencer as pessoas por demonstração ocular das vantagens da paz com a Ucrânia".»

«As fronteiras da Ucrânia [segundo o acordo] não abrangiam as minas de carvão, e foi então decidido que as minas da Bacia do Donets deveriam ser incorporadas. Assim, os exércitos alemães e austríacos, que haviam capturado o centro de cereais de Karkov a 8 de Abril, foram atraídos ainda mais para Leste e em Maio penetraram a torto e a direito no sudeste da Rússia».

A Rada em Kiev era totalmente inepta. Hoffmann reconhecia que «A dificuldade na Ucrânia é simplesmente que a Rada Central só tem as nossas espingardas atrás dela. No instante em que retirarmos as nossas tropas a sua autoridade colapsa de imediato.» Wheeler-Bennett relata: «Mas, apesar da natureza periclitante de sua criação fantoche, as Potências Centrais continuaram a assinar novos acordos com ela. A Rada estava tão ansiosa quanto as Potências Centrais em apreender cereais escondidos, que, segundo as Potências Centrais, os camponeses tiravam ilegalmente dos armazéns do governo e que propunham agora requisitar com a ajuda de armas alemãs e austríacas. O comando militar alemão pouco se importava de onde vinham os cereais, desde que aparecessem e acabassem por ir para Berlim, Viena e Budapeste; e, nesse espírito amigável, um acordo foi finalmente alcançado a 9 de Abril para o fornecimento de sessenta milhões de puds [983.000 toneladas] de cereais para pão, cereais de forragem, sêmolas e sementes oleaginosas entre Abril e Julho.»

O comando militar alemão encarregou-se da tarefa criando a Organização de Comércio Germano-Ucraniano em Kiev, cujo sucesso dependia de alguma cooperação do campesinato. Os resultados da «Organização» foram muito pobres, porque, para além da oposição dos camponeses, «os delegados da Rada, nos seus sonhos entusiásticos, sobre-estimaram os stocks de cereais do país.» A resistência do campesinato ucraniano manifestou-se também no planeamento da próxima plantação, declarando à Rada que apenas plantariam para as suas próprias necessidades e, nos distritos onde ainda havia latifundiários, impediriam plantações adicionais Perante isto, o Marechal von Eichhorn, sem conhecimento da Rada, emitiu uma ordem ao campesinato ucraniano para que a plantação fosse a maior possível, devendo as infracções a esta ordem ser julgadas pelos tribunais militares do exército de ocupação. «… o fato de a Rada permanecer ignorante da existência desta ordem até quinze dias após a sua circulação pelas aldeias é, por si só, indicativo da medida do seu contacto com o país.»

O comando militar só comunicava à Rada o que «considerava adequado, e outras notícias apenas sabiam a pouco e pouco. Eles [membros da Rada] eram os fantoches da ocupação alemã, cuja própria existência dependia dos seus amos, que se estavam rapidamente a cansar da tendência crescente deles em se afirmarem. Ainda havia na Rada um espírito de independência nacional, especialmente nos Social-Democratas e nos Social-Federalistas, partidos com representantes no governo. Esses Ministros, incluindo o jovem ministro dos Negócios Estrangeiros, Liubinsky, que tinham assinado o tratado de 9 de Janeiro, ressentidos com a crescente interferência dos militares na administração interna, pediam continuamente uma política de resistência ao invertebrado presidente da Rada, M Holubowicz.»

«Para esses elementos, a notícia da ordem de Eichhorn foi a última gota e, incitando os seus colegas mais tímidos, forçaram a Rada a declará-la ilegal e, portanto, inválida. Este desafio, lançado a 26 de Abril, foi imediatamente respondido por Eichhorn com a proclamação da lei marcial e a entrega de um ultimato que exigia a rescisão da resolução Rada.» Os alemães davam-se conta de que a Rada era incapaz e talvez não quisesse, cumprir as obrigações de fornecer alimentos às Potências Centrais. Dos 9 milhões de puds que deveriam ser entregues em Abril, apenas 3 milhões tinham sido enviados até a terceira semana, com poucas perspectivas de o resto ser completado.

Os alemães chegaram à conclusão que queriam na Ucrânia um ditador pró-alemão que não hesitasse em cumprir as ordens de seus amos, em vez da Rada. Escolheram o general Skoropadsky, ex-oficial czarista de descendência ucraniana, que segundo Ludendorff era «um homem com quem era possível trabalhar bem». Os alemães acordaram com Skoropadsky a dissolução da Rada encarregando-o da tarefa de «restaurar a ordem». No âmbito desse restauro o direito da propriedade privada da terra seria restabelecido e, «no interesse da agricultura», as grandes propriedades restauradas. As leis das Potências Centrais sobre o serviço militar obrigatório seriam impostas na Ucrânia, «tendo esta que compensar as Potências pela assistência militar que lhe era concedida». Além disso, Skoropadsky deveria libertar a Áustria-Hungria do acordo de criação de uma província separada da Bukovina e parte da Galícia predominantemente habitada por ucranianos. O momento para a instalação de Skoropadsky como «o deus ucraniano da máquina alemã» não foi especificado. O comando militar preferiu mantê-lo como um trunfo, mas sabendo que o tempo para o jogar se aproximava rapidamente.

Entretanto, Holubowicz tentou apaziguar Eichhorn, oferecendo-se para demitir os seus colegas recalcitrantes, mas permaneceu evasivo quanto ao édito da terra. A resposta indefinida e insatisfatória da Rada serviu de pretexto a Eichhorn para prender ministros da Rada a 28 de Abril. «No dia seguinte, Skoropadsky foi proclamado Hetman da Ucrânia perante o Congresso dos Latifundiários.» Terminava assim abjectamente a anti-comunista Rada, povoada de intelectuais pequeno-burgueses reaccionários, desligados do povo. O seu papel histórico de muleta dos alemães e austríacos na pilhagem de recursos ucranianos e contenção do bolchevismo tinha-se esgotado. Para os seus amos estrangeiros as hesitações e inépcia da pequena burguesia já não eram compensadas pelas máscaras «populares» com que enganavam o povo.

«Os primeiros meses do regime de Skoropadsky foram marcados por uma substancial recuperação económica, com os proprietários de terras, os industriais e a burguesia ansiosos por cooperar com o novo governo e as agências da Alemanha e da Áustria-Hungria». As entregas de mantimentos começaram a atingir as quotas programadas. «A Ucrânia tornou-se por pouco tempo uma Meca burguesa, e ali se reuniram milhares de refugiados da Ucrânia soviética, ansiosos por participar no alvoroço da especulação que varria Kiev. Tendo-se recusado a emprestar dinheiro à Rada, as Podtências Centrais concederam ao governo do Hetman um empréstimo de 400.000.000 karbovantsi (l mark = 1 karbovanets)»

Contudo, apesar da «substancial recuperação económica» o regime de Skoropadsky inaugurou «um período de insurreições violentas por parte dos camponeses, que se ressentiam e se opuseram à restauração da terra aos grandes latifundiários e ao sistema intensificado de requisição de stocks de alimentos. A resistência passiva em certos distritos foi acompanhada de actos de sabotagem em outros. Em Odessa, uma fábrica de aviões foi incendiada; inúmeros depósitos de munições foram explodidos e trens destruídos; bandos de guerrilheiros emboscaram unidades isoladas de soldados. Os levantamentos camponeses, sangrentos em si mesmos, depararam com cruenta repressão às mãos dos latifundiários e das tropas alemãs e austríacas… Os conflitos eram frequentes e o espírito de descontentamento atingiu todo o país, onde logo se tornou visível que o governo de Skoropadsky dependia ainda mais das baionetas estrangeiras do que a Rada.»

«Além disso, a política de Eichhorn na Ucrânia estava a ter exactamente o efeito oposto ao que pretendia originalmente. O objetivo do tratado em separado em Brest-Litovsk era manter a Ucrânia permanentemente distanciada da Rússia soviética e criar nesse país um protectorado económico das Potências Centrais, através do qual elas poderiam ameaçar e influenciar o Governo em Moscovo. Agora, como resultado do regime de Eichhorn-Skoropadsky, o terreno estava bem preparado para uma aproximação entre a Ucrânia e a Grande Rússia. O campesinato, que inicialmente evitava o bolchevismo, agora voltou-se para ele como protecção contra a exploração e dominação repressiva das Potências Centrais…».

Com o fim da 1ªGM e a derrota das Potências Centrais desapareceu o suporte de Skoropadsky. Um Directório com figuras da anterior Rada tomou o poder, mas rapidamente o foi perdendo para os bolcheviques ucranianos. Em 30 de Dezembro de 1922 era fundada a RSSU.

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No seu O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Marx escreve: «Hegel observa numa de suas obras que todos os factos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.» Esta observação foi, no entanto, aplicada a «grandes factos e personagens históricos». Marx exemplifica com as revoluções francesas de 1789 e 1848, sendo a primeiro um ponto de viragem progressivo da história mundial.

No que diz respeito à Rada ucraniana da 1.ª GM, dominada pelas Potências Centrais germano-austríacas, e à Rada Maidan ucraniana, dominada pelas Potências Centrais americano-alemãs, não se observam «grandes personagens»», mas sim figuras desprezíveis, abjectos lacaios burgueses de Poderes Centrais que traiem o seu próprio povo. Episódios deste tipo não ocorrem apenas duas vezes; eles necessariamente ocorrem repetidamente, já que é da natureza do imperialismo -- como da de qualquer empresa de banditismo -- prosperar mantendo no seu rol pagamentos lacaios locais prostituídos.
During WWI 3.5 million Ukrainians fought in the Russian army and 250,000 (from Galicia and Bucovina) in the Austro-Hungarian army. The Russian-Ukrainian army advanced in August 1914 in Galicia. Austrian repression against prisoners of war and civilians suspected of collaboration or sympathy with the Russians was brutal. They were placed in two concentration camps; one in Terezin in what later became the Nazi concentration camp of Theresienstadt; the other, and main one, in Thalerhof, near Graz, where in total (from September 4, 1914 to May 10, 1917) 20,000 Ukrainians were interned. Until the winter of 1915 the prisoners slept on the ground in the open-air exposed to rain and frost. According to one American congressman (the statements to the NY Times, December 16, 1917, are worth reading: [4]), the prisoners were beaten and tortured. It is estimated [4] that in total were executed for political reasons between 2,000 and 3,000 prisoners; 1,200 during the first 18 months.

In March 1917, taking advantage of the February revolution in Russia and the weakening of the Russian army, an uprising led by bourgeois parties (similar to the cadet and socialist-revolutionary parties of Russia) took place in Kiev. A "parliament" known as Central Rada was formed (without elections). Intellectuals from the western provinces of Ukraine played a prominent role in the Rada. The Rada never controlled the whole Ukrainian territory. In many provinces, particularly in the East, Soviet governments were formed which came to gain a majority of Ukrainian Bolsheviks. The most important of them was in Karkov. The Rada and its successive offsprings have always had an anti-Bolshevik position and submission to the most reactionary forces, both internal and external.

By the end of 1917 the Ukrainian Bolshevik forces defeated the Rada forces despite the fact that they had the support of the ultra-reactionary military forces of Symon Peliura and the Haidamak Cossacks, of French aviators, and English and Rumanian officers. In March 1918 the German army repelled the Bolsheviks who had to leave Kiev. The Rada was reinstated. This period of time is silenced by present-day Ukrainian bourgeois historians, engaged on rewriting history, seeking to lend the Rada a state dignity which it never had and to portray the Ukrainian Bolsheviks as alien elements.

In April 1918 the Germans, with the support of the most reactionary elements of the Rada, installed as dictator a Tsarist Cossack General: P. Skoropadsky. In November 1918 the dictator was replaced by a Directory, a new offspring of the Rada, which now included Petliura and other sinister figures, such as Yevhen Petrushevych, dictator of the West Ukrainian People's Republic (!). Throughout this period a foreign armed intervention was taking place in full swing in Soviet Russia.

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Let's go back to Wheeler-Bennett's book:

On December 2  1917 took place the first meeting at Brest-Litovsk -- a fortress on German-occupied territory of Belarus -- between the Soviet Russian delegation and the delegations of the Quadruple Alliance (hegemonized by Germany) to discuss the terms of an armistice. A second meeting ended in December witth the signing of the armistice.

A third meeting was held on December 20 to agree on terms of a peace treaty. The Soviet delegation presented the Leninist terms of peace without annexations and (for the inter-imperialist WWI) without indemnities. The German and Austrian secretaries of foreign affairs first agreed to the Soviet formula (25 December), but the German and Austrian right-wing forces, notably Ludendorff (influential general of the Supreme Command General Staff who later came to support Hitler), did not agree. The Germans eventually raised objections regarding the non participation of the Entente (England and France, with their allies) and their interpretation of annexations (Ludendorff wanted to maintain them) and self-determination. The Entente remained silent to the peace appeals. A fourth meeting on 2 January 1918 confirmed the German rejection of the December 25 declaration.

At the fourth meeting in the second week of January 1918, the German delegation, in support of their predatory appetites, brought a delegation from the Rada government by surprise! Wheeler-Bennett says: "a delegation of [three] young men, hardly past their student years" [5]. The Rada delegation "harboured far-reaching plans for a greater Ukraine which envisaged the annexation of the Ruthenian [Slavic ethnic groups] portions of Galicia and Bukovina, and the surrender by Austria of the district of Cholm [East of Volynia]."

The Austrians were disturbed by the proposals of the Ukrainians, especially with the prospect of having to buy wheat from Ukraine in exchange for the surrender of territories. Austria was under severe famine and the Ukrainians knew this. The Germans, on the contrary, supported and flattered the Ukrainians, considering the Rada as a weapon against Russia and a means of pressuring Austria to keep her in step with their plans.

General Max Hoffmann, chief of the General Staff of the German army in the East, an ally of Ludendorff and spokesman of the German far right in Brest-Litovsk, quickly saw the advantages of negotiating with the Ukrainians and "had taken them under his wing, though perhaps a cat protecting a canary would be a more apt description." The Ukrainians didn’t have to be asked twice. They were joined by Prime Minister Wsewolod Holubowicz and declared on January 10 that the Rada wanted to negotiate a separate peace with the Central Powers and their “independence from the Soviet regime of Petrograd”. The declaration was accepted by both the German and Russian delegations, although formal recognition of independence was reserved for the peace treaty.

As the negotiations dragged on, Hoffmann agreed on 14 January with Count Czernin, leader of the Austrian delegation, to open separate talks with the Ukrainians and vowed to satisfy their claim of the Cholm district disputed by the Poles. Czernin conceded, taking into account the urgency on getting Ukrainian grain. In addition to that, as a representative of the German far right, Hoffmann was against the existence of an independent Poland. He denied, however, to the Ukrainians the claim on Galicia and Bucovina. Once their government was consulted in Kiev, the Rada delegates agreed. We thus see here a trade of territories going on without any consultation of the respective peoples. Meanwhile, Trotsky, then leader of the Russian delegation, stated that nothing should be decided about Ukraine without the agreement of the Soviet government.

The fifth meeting at Brest-Litovsk took place on 29 January. Together with the Soviet delegation came three representatives of the Soviet Republic of Ukraine (SRU). Trotsky confirmed the Ukrainian Bolshevik victory whose forces are at the gates of Kiev and warns that the separate peace between the Central Powers and the Rada cannot be recognized. The delegates of the Central Powers then prepare a confrontation between the representatives of the Rada with those of Russia and the SRU for February 1. In this confrontation "The Rada leader, Sevruk, led off by re-emphasizing the complete independence of his State from any ties, physical, spiritual, or political, with Soviet Russia. This was fiercely denied both by Trotsky and by the Ukrainian Soviet leader, Medvjedev, who declared that Kiev, in so far as it still represented anything, represented only the intellectuals and the landed classes, who sought separation from Russia for the better preservation of their privileges. There-upon the second Rada spokesman, Liubynski, retorted with an hour-long speech which for pure vitriolic opprobrium far exceeded anything that had been heard at this strangest of peace conferences. He reviled the Bolsheviks without restraint, recounting a catalogue of their sins... " In the end, Trotsky said that since the Rada delegation had no government, it represented no greater territory than the rooms they occupied at Brest-Litovsk.

The Central Powers, however, had already decided to support the Rada that was submissive to them. "At the conclusion of the session Czernin, despite Trotsky's protests, declared on behalf of the Central Powers that they recognized ‘immediately the Ukrainian People's Republic [the Rada] as an independent, free and sovereign State, which is able to enter into international agreements independently'". Ludendorff expressed his satisfaction with the treaty with the Rada, which should be backed by force if necessary.

The sixth meeting in Brest-Litovsk opens on February 6, 1918. Despite the protests from the Russian Soviet delegation the separate peace treaty between the Central Powers and the Rada was then finalized -- with a large number of articles, as the text included in Wheeler-Bennett's book shows. Signed on 9 February, in exchange for the Cholm surrender (at the expense of the Poles, i.e., the Central Powers gave what costed them almost nothing) the Rada would have to deliver at least a million tons of wheat to the Central Powers, as well as other supplies. "The effect of it [the treaty] was to leave the Ukraine theoretically a neutral State in the world, while actually it became a political granary and store-house for the Central Powers. From eggs to manganese, the long list of supplies required read like the inventory of a sublimated ‘mail order’ house. But the Germans and Austrians were to find it more of a ‘cash and carry’ establishment."

As regards the peace between Germany and Russia, the February meeting ended in a deadlock. The Germans then considered denouncing the armistice and triggering an offensive against Russia. But, "Without assistance from the Ukraine, Germany and Austria-Hungary could not survive the winter of 1918-1919… Therefore the Ukraine must be rescued from Bolshevism in order to supply the Central Powers with food". At that time Austria refused to continue the war. The Poles spoke out against the surrender of Cholm. There was a general strike in Warsaw, Krakow and Lemberg on 14 February. At the Parliament in Vienna on 19 February, Poles, Czechs and Slovenes fiercely opposed the treaty with the Rada. The Austrian Prime Minister “announced at the close of the sitting that the province of Cholm would not automatically revert to the Ukraine, but that a supplementary agreement would be entered into, whereby a Commission should be appointed consisting of representatives of the Quadruple Alliance, the Ukraine, and Poland, which should determine the future destiny of the province in accordance with the expressed wishes of its population."

The Germans unilaterally broke the armistice on February 17. On 19 February, Russia announced the acceptance of the peace treaty. The Germans postponed the response and advanced on the offensive, progressing up to Narva about 100 km away from Petrograd. In the South, Germans and Austrians advance in Ukraine. On the 23rd, Germany presents as an ultimatum to Russia a new treaty with tougher conditions, including an article according to which Russia would have to recognize the treaty of the Central Powers with Ukraine. Russia was compelled to accept the ultimatum and the German offensive stopped at Narva. But it did not stop in Ukraine, which "was rapidly becoming an occupied province" by the Germans.

On March 29 1918 a treaty was finally signed between the German Empire and the Soviet Socialist Republic of Russia. On that day, Hoffmann wrote in his diary, "In the Ukraine we are still advancing." Wheeler-Bennett reports: "Twenty-four hours before the treaty with the Central Powers had been signed, the Red army of General Muravev expelled the Government of the Rada from Kiev and established there a Ukrainian Soviet Republic in communion with Moscow. The Rada retreated to Zhitomir and appealed in pitiful terms to the German Government for aid in resisting ‘this barbaric invasion of our northern neighbours’. It became indisputably clear that if the Central Powers, who had made peace with the Ukraine for the sake of bread, wanted to get it, they would have to go and fetch it."

The advance of the German troops -- with minor role of the Austrians [7] -- in the Ukraine faced strong resistance of the Ukrainian Bolshevik troops. The Ukrainian peasantry was opposed to the German plunder. In spite of that, Kiev fell on March 1 and Odessa on March 12. "Some circles in Vienna, conceived the idea of a Habsburg as King of the Ukraine, and urged the Emperor Karl to send either the Archduke Eugen or the Archduke Friedrich to Odessa in order to secure the chief command for the monarchy." After acrid exchanges of correspondence between Germans and Austrians, an agreement was reached: Austria retained Odessa, Kherson and southern Ukraine; Germany retained Nikolaev, Sevastopol and northern Ukraine. In the following months, however, the "uncrowned king of the Ukraine" was the German Marshal von Eichhorn who had replaced Hoffmann.

Though the Rada was again in power the pillage of Ukraine became difficult. "The country was abundantly supplied with everything, but it proved almost impossible to collect supplies... [the large estates] had been confiscated [by the Bolsheviks] and the land distributed among the peasants, but the new owners refused to cultivate because they did not know whether they would be left in possession of either land or crops… The peasant would only exchange grain for goods; otherwise he burried his surplus stocks of food and blandly refused to disclose their whereabouts. Up till March 2, instead of the 300 truck-loads of grain per day which had been promised to Austria under the agreement, but one truck-load had reached Vienna and one truck-load Budapest, and these had only been seized from captured stores and sent off to the capitals ‘in order to convince the people by ocular demonstration of the advantages of peace with the Ukraine’."

"The frontiers of the Ukraine [according to the agreement] did not embrace coal-fields, and it was decided that those of the Donets Basin must be incorporated therein. Thus the German and Austrian armies, which had captured the grain centre of Kharkov on April 8, were drawn even further eastward and by May had penetrated willy-nilly into South-eastern Rússia."

In Kiev the Rada existed in a welter of ineptitude. Hoffmann frankly admitted that "The difficulty in the Ukraine is simply that the Central Rada has only our rifles behind it. The moment we withdraw our troops their authority will collapse at once." Wheeler-Bennett states: “But despite the ramshackle nature of their puppet creation, the Central Powers proceeded to conclude further agreements with it. The Rada was as anxious as they were to lay its hands on the hidden grain, which, they claimed, the peasants had taken unlawfully from the Government storehouses, and which it was now proposed to requisition with the help of German and Austrian arms. The German military command cared little whence the grain came so long as it was produced and eventually found its way to Berlin, Vienna, and Budapest; and in this amicable spirit an agreement was finally reached on April 9 for the furnishing of sixty million poods [983,000 tons] of bread cereals, fodder grain, podded grain, and oil seeds between April and July.”

The German military command took charge of the task by creating the Germano-Ukrainian Trade Organization in Kiev, whose success depended on some cooperation of the peasantry. The results of the "Organization" were very poor, because, in addition to the opposition of the peasants, "the delegates of the Rada in their enthusiastic dreams had overestimated the stocks of grain in the country." The resistance of the Ukrainian peasantry also manifested itself in the planning of the next plantation, declaring to the Rada that they would plant only for their own needs, and in the districts where there were still landlords, they would prevent additional plantations. In response to that, Marshal von Eichhorn, without knowledge of the Rada, issued an order to the Ukrainian peasantry that the plantation should be as large as possible, and contravention of this order would be judged by the military courts of the occupying army. “…the fact that the Rada remained ignorant of the existence of this order until a fortnight after it had been circulated to the villages is in itself indicative of the extent of their contact with the country.”

The military command communicated to the Rada only what it "considered fit, and further news only leaked in to them by degrees. They [the Rada members] were the puppets of the German occupation, dependent for their very existence on their masters, who were rapidly becoming tired of their growing tendency to assert themselves. There was still in the Rada a spirit of national independence, especially in the Social Democrats and the Social Federalists, parties which had their representatives in the Government. These Ministers, including the youthful Minister for Foreign Affairs, Liubinsky, who had signed the treaty of January 9, resentful of the increasing interference of the military with internal administration, were continually urging a policy of resistance upon the invertebrate president of the Rada, M. Holubowicz.”

“For these elements the news of Eichhorn's order was the last straw, and, stampeding their more timid colleagues, they forced the Rada to declare it illegal and therefore invalid. This challenge, thrown down on April 26, was immediately answered by Eichhorn with the proclamation of martial law and the delivery of an ultimatum which demanded the rescinding of the Rada resolution.” The Germans realized that the Rada was incapable and might not want to fulfill the obligations of providing food to the Central Powers. Of the 9 million puds that were to be delivered in April, only 3 million had been shipped by the third week, with little prospect of the rest being completed.

The Germans came to the conclusion that they wanted in the Ukraine a pro-German dictator who would not hesitate to carry out the orders of their masters, instead of the Rada. They chose General Skoropadsky, a former Tsarist officer of Ukrainian descent, who, according to Ludendorff, was "a man with whom it was possible to work well." The Germans agreed with Skoropadsky on the dissolution of the Rada, entrusting him with the task of "restoring order". In the context of this restoration, the right of private ownership of land would be restored and, “in the interest of agriculture”, the large estates would be restored. The laws of the Central Powers on compulsory military service would be imposed in Ukraine, "which would compensate the Powers for the military assistance accorded her". In addition, Skoropadsky was to free Austria-Hungary from the agreement to create a separate province of Bukovina and part of Galicia prepoderantly inhabited by Ukrainians. The time for the installation of Skoropadsky as "the Ukrainian god from the German machine" was not specified. The military command preferred to keep it as a trump card, but knowing that the time to play it was fast approaching.

In the meantime, Holubowicz had tried to placate Eichhorn by offering to dismiss his recalcitrant colleagues, but remained evasive on the land edict. The indefinite and unsactisfactory reply of the Rada was the pretext for Eichhorn arresting ministers of the Rada on April 28. “On the following day Skoropadsky was proclaimed Hetman of the Ukraine before the Congress of Landowners.” The anti-communist Rada, peopled by reactionary petty-bourgeois intellectuals disconnected from the people, had thus abjectly ended its days. Its historical role as crutch of the Germans and Austrians in the plundering of the Ukrainian resources and containment of bolshevism was exhausted. To their foreign masters the wavering and ineptitude of the petty bourgeoisie were no longer compensated by the "popular" masks with which they deceived the people.

The early months of Skoropadsky's regime were marked by a substantial economic revival, the land-owners, industrialists, and bourgeoisie being only too anxious to co-operate with the new Government and the agencies of Germany and Austria-Hungary.” The deliveries of commodities began to attain almost the planned quotas. “The Ukraine became for a short time a bourgeois Mecca, and thither flocked thousands of refugees from Soviet Russia, eager to join in the riot of speculation which was sweeping Kiev. Having refused to lend money to the Rada, the Central Powers at once gave the Hetman's Government a loan of 400,000,000 karbovantsi (l mark = 1 karbovanets)”

However, in spite of the "substantial economic revival", the Skoropadsky regime inaugurated "a period of violent insurrections on the part of the peasants, who resented and opposed the restoration of the land to the great estate-owners and the intensified system of requisitioning food stocks. Passive resistance in certain districts was coupled with acts of sabotage in others. In Odessa an aeroplane factory was set on fire; numerous munition dumps were exploded and trains wrecked; and bands of partisans ambushed isolated units of soldiers. The peasant risings, bloody in themselves, were met with bitter repression at the hands of the land-owners and the German and Austrian troops... Conflicts were frequent and the spirit of discontent seethed throughout the country, where it soon became apparent that the Skoropadsky Government was even more dependent upon the foreign bayonets than the Rada had been."

“Moreover, the policy of Eichhorn in the Ukraine was having exactly the opposite effect to that which had been originally intended. The object of the separate treaty at Brest-Litovsk had been to keep the Ukraine permanently estranged from Soviet Russia, and to create in that country an economic protectorate of the Central Powers through which they might threaten and influence the Government at Moscow. Now, as a result of the Eichhorn-Skoropadsky regime, the ground had been well prepared for a rapprochement between the Ukraine and Greater Russia. The peasantry, who had at first eschewed Bolshevism, now turned to it as a protection against the exploitation and repressive domination of the Central Power…”

With the end of WWI and the defeat of the Central Powers the support of Skoropadsky disappeared. A Directory with figures from the previous Rada took power, but quickly lost it to the Ukrainian Bolsheviks. The Ukr-SSR was founded on December 30 1922.

*   *   *

In his The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte, Marx writes: “Hegel remarks somewhere that all great, world-historical facts and personages occur, as it were, twice. He has forgotten to add: the first time as tragedy, the second as farce.” This observation was, however, applied to “great, world-historical facts and personages”. Marx exemplifies wirh the French Revolutions of 1789 and 1848, the first one being a progressive turning point of world history.

As regards the WWI Ukrainian Rada mastered by the German-Austrian Central Powers, and the Ukrainian Maidan Rada mastered by the American-German Central Powers, one does not observe “great personages”, but rather contemptible figures, abject bourgeois lackeys of Central Powers who betray their own people. Episodes of this sort of do not occur only twice; they are bound to occur repeatedly, since it is of the nature of imperialism – as of any brigandage enterprise -- to thrive by keeping local prostituted minions on its payrol.


Notas e Referências | Notes and References

[1] Macmillan & Co., Ltd., London; disponível em | available at Internet Archive.

[2] Blanqui, Louis-Auguste (1805-1881), revolucionário francês que advogava a tomada de poder por um pequeno grupo de revolucionários | French revolutionary who defended the taking of power by a small group of revolutionaries.

[3] Muitos destes esclarecimentos encontram-se na wikipedia | Many of these clarifications can be found in Wikipedia.

[4] O artigo completo em The New York Times, 16-Dez-1917:

TERRORISMO NA BOÉMIA.
Medill McCormick Obtém Detalhes da Crueldade Austríaca Aí Exercida.

Numa carta a J.F. Stepins, director do American State Bank de Chicago, o congressista Medill McCormick, de Chicago, recentemente regressado da Europa, descreveu as condições na Boémia. Entre outras coisas, declarou:
"A situação da Boémia difere da da Polónia, na medida em que não foi exaurida por exércitos em confronto nem redividida. A imprensa da Boémia é ainda mais amordaçada do que a imprensa de Viena. Proibiram tocar a música nacional. Houve prisões aos magotes pelo menor pretexto, e acho que se pode afirmar com justeza que houve entre 2.000 e 3.000 execuções políticas. Citando uma comunicação privada que me foi enviada em resposta a um pedido de informações:
"O número de civis que se admite oficialmente terem sido executados na Boémia por motivos políticas, durante os primeiros dezoito meses de guerra, foi 1.200, e este número é certamente apenas uma parte da verdade. Entretanto, milhares de intelectuais foram colocados em campos de internamento sem condições sanitárias e sujeitos a todo tipo de privação; a mortalidade tem sido muito elevada. No Parlamento austríaco, o deputado socialista checo Stribrny, da República Checa, deu uma descrição terrível do tratamento das vítimas internadas -- entre elas mulheres, raparigas e velhos, que foram enviados muitas vezes agrilhoados, e geralmente amontoados conjuntamente em camiões de gado imundos.
"Num dos casos, um grupo de quarenta e três pessoas foram mortas na estrada por um destacamento da milícia húngara. No campo de Talerhof na Estíria, muitos foram espancados até sangrarem e até torturados. Durante os três primeiros dias e noites de Outubro, pessoas de todas idades e sexos tiveram de acampar ao ar livre sem nenhum tipo de abrigo. Depois de desinfectadas, as mulheres e raparigas tiveram que se despir, e muitas vezes ficavam nuas ao frio por mais de uma hora até terem de volta as roupas. As epidemias foram galopantes. Não houve pretensões de saneamento. Os guardas brutais obrigaram-nos a avançar penosamente de joelhos para as latrinas através da imundície. Os horrores de Talerhof lançam o acampamento de Wittenherg na sombra.
"Até mesmo o mais simpatizante dos austríacos dos líderes checos, o socialista Smeral, declarou corajosamente já no mês passado que a política deplorável destes três anos de guerra, a sua arrogância e injustiça, se enraizou tão profundamente na alma das pessoas que, para a vasta maioria dos checos, o Estado checo aparece como a única saída para um caos intolerável.
"Os planos do governo para o ‘reconhecimento dos direitos das nacionalidades’ prevêem o auto-governo nacional local numa escala tal que, se for realizado, os checoslovacos, em vez de se unirem num único Estado nacional, serão discriminados racial e administrativamente pelo estabelecimento de governos locais alemães e húngaros, de tal modo que a Eslováquia, a Morávia e a Boémia se parecerão com um tabuleiro de xadrez político e étnico".

The full article of The New York Times, Dec., 16, 1917:

TERRORISM IN BOHEMIA.
Medill McCormick Gets Details of Austrian Cruelty There.

In a letter to J. F. Stepins, President of the American State Bank of Chicago, Congressman Medill McCormick of Chicago, who recently returned from Europe, describes conditions in Bohemia. He says in part:
“The situation of Bohemia differs from that of Poland in that it has neither been wasted by contending armies nor redivided. The Bohemian press is even more closely muzzled than the Viennese press. The playing of national music was prohibited. There were wholesale arrests upon the slightest provocation, and 1 think it may be fair to say that the political executions have numbered between 2,000 and 3,000. I quote from a private communication which was sent me in answer to a request for information:
“The number of civilians officially admitted to have been executed for political offenses in Bohemia during the first eighteen months of war was 1.200, and this is certainly only a part of the truth. Meanwhile thousands of intellectuals were placed in insanitary internment camps and subjected to every kind of privation; the mortality has been very great. In the Austrian Parliament the Czech National Socialist Deputy Stribrny has given a terrible account of the treatment of interned victims — among them women, girls and old men, who were sent off often in chains, and who were usually crowded together in filthy cattle trucks.
“In one case a batch of forty-three persons were killed on the road by a Magyar militia detachment. In the Styrian camp of Talerhof many were beaten till they bled and were even tortured. For the first three day and nights of October all sexes and ages were camped in the open without any kind of accommodation. When disinfected the women and girls had to undress, and were often waiting naked in the cold for over an hour until they got their clothes again. Epidemics were rampant. There was no pretense at sanitation, and brutal guards forced them to wade up to the knees through filth on their way to the latrines. The horrors of Talerhof throw the camp of Wittenherg into the shade.
“Even the most Austrophile of the Czech leaders, the Socialist Smeral, boldly declared only last month that the deplorable policy of these three years of war, its arrogance and injustice, have cut so deep into the soul of the people that to the vast majority of the Czcchs the Czech State appears as the only way out of an intolerable chaos.
“The Government’s plans for ‘recognition of the rights of nationalities’ provide for local national self-government on such a scale that if it is carried out the Czechoslovaks, instead of being united in a single national State, will be racially and administratively broken up by the establishment of local German and Hungarian Governments, so that Slovakia, Moravia, and Bohemia will look like a political ethnological checkerboard.”

[5] Os três jovens da Rada | The three young men of the Rada: Levitsky, Liubinsky, Sevruk.

[6] No início da 1.ª GM o território polaco estava dividido entre a Alemanha e a Rússia. O exército alemão veio a ocupar toda a Polónia. Essa ocupação era ferozmente defendida pelos sectores dominantes Império Alemão (alta burguesia e Junkers).
At the beginning of WWI the Polish territory was divided between Germany and Russia. The German army came to occupy all of Poland. This occupation was fiercely defended by the dominant sectors of the German Empire (high bourgeoisie and Junkers).

[7] O governo austríaco tinha declarado sair da guerra, de acordo com os desejos de largas camadas da população, incluindo a burguesia. Negou-se a uma operação conjunta com a Alemanha na Ucrânia. A resposta do Comando Supremo alemão foi simples e eficaz. Se os austríacos não cooperassem militarmente na Ucrânia, a Alemanha recusaria partilhar com a Áustria produtos alimentares ucranianos. A Áustria cedeu. A cedência tornou-se ainda mais abjecta quando o governo austríaco aceitou um novo tratado militar com a Alemanha que reconhecia o completo domínio alemão na Ucrânia.
The Austrian government had declared that it would go out of the war, according to the desires of broad strata of the population, including the bourgeoisie. He refused a joint operation with Germany in Ukraine. The response of the German Supreme Command was simple and effective. If the Austrians did not cooperate militarily in Ukraine, Germany would refuse to share Ukrainian food products with them. Austria gave in. The ceding became even more abject when the Austrian government accepted a new military treaty with Germany that recognized complete German rule over Ukraine.