segunda-feira, 11 de abril de 2016

Ainda sobre o Brasil

No artigo anterior sobre o Brasil caracterizámos sucintamente a situação política como «a agonia do reformismo em tempo de crise». Noutros artigos (ver p. ex. «A ilusão de uma saída reformista da crise»), dissemos o que entendíamos (e normalmente se entende) por «reformismo» de forças políticas que se reclamam de esquerda (caso do PS português e do PT-Partido dos Trabalhadores brasileiro).
   
Precisemos. Comecemos por notar que as revoluções ou processos revolucionários são eventos raros e esparsos na História; durante a maior parte do tempo (décadas, séculos) as forças progressistas têm necessariamente de lutar por reformas; seria, portanto, um óbvio contra-senso qualquer oposição à luta por reformas, por princípio.
   
Há, todavia, muitos tipos de reformas. Entende-se por «reformismo» a prática política oportunista que apenas luta por reformas facilmente enquadráveis e digeridas pelo sistema socioeconómico vigente, sem qualquer perspectiva da sua superação. No caso concreto que nos interessa, o do sistema capitalista neoliberal, trata-se de reformas como o RSI, a taxa Tobin, a regulamentação do sector bancário, o incentivo estatal à produção, etc., que, sem negarmos terem (ou poderem ter) alguns efeitos benéficos, não modificam (modificaram) em nada o grau de exploração dos trabalhadores. Muitos países capitalistas as aplicam (aplicaram) e os males do sistema perduram (perduraram), com acrescida exploração e aumento da desigualdade social.
   
Partidos que se limitam unicamente a tal tipo de reformas, comportadas pelo sistema (pelo menos em tempo de vacas gordas) e digeridas por ele (alteráveis e contornáveis de diversas formas em tempo curto), são reformistas. Conjugam sempre medidas populares com medidas a favor do capital numa postura de colaboração de classes, propagandeando a ideia de serem «neutrais» e capazes de estabelecer uma «cooperação» harmoniosa entre as classes a bem do «interesse nacional». Na prática, tais partidos pagam sempre uma factura ao capital por este ter deixado passar certas medidas populares. Não faz parte do programa e acção prática de tais partidos reformas como, por exemplo, o controlo público da banca, que claramente vai contra o capitalismo neoliberal.
   
O PT brasileiro é um claríssimo exemplo de partido reformista. Foi essa prática reformista que conduziu à actual situação. Expomos a seguir um conjunto dos principais factos políticos e económicos que suportam a nossa afirmação.
   
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O PT nasceu do movimento sindical, nomeadamente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), a maior central sindical do Brasil, representando, como é natural, várias correntes de opinião do movimento operário, de católicos ligados ao movimento da teologia da libertação, e da participação de intelectuais e artistas progressistas. A cúpula do PT veio, contudo, a representar cada vez mais a elite operária que nunca foi socialista ou que foi cooptada pelo capitalismo. O PT acolheu também os anseios das massas rurais paupérrimas, brutalmente exploradas do sertão brasileiro representadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), reclamando reforma agrária.
   
Antes de Lula da Silva ter ganho as eleições presidenciais de 2002, os discursos e disposições programáticas do PT eram claramente de esquerda; isto é, iam no sentido de consolidar a democracia, de atender às aspirações das classes mais pobres, aos direitos dos trabalhadores, numa óptica contrária aos ditames neoliberais a que tinham obedecido os governos anteriores (Collor de Melo, Itamar Franco e, por último, Fernando Henriques Cardoso -- FHC), eivados de corrupção, de rapina dos bens do Estado, de privatizações, de submissão ao sector bancário e ao imperialismo.
   
O PT concorreu às eleições presidenciais de 2002 numa coligação: PT - PL (Partido Liberal) - PMN (Partido da Mobilização Nacional) - PCdoB (Partido Comunista do Brasil) - PCB (Partido Comunista Brasileiro). Tendo em conta os posicionamentos políticos dos vários partidos e comparando-os com os partidos portugueses (com toda a imprecisão que qualquer comparação deste género sempre comporta) pensamos não errar dizendo que a coligação era formada por um partido tipo PSD (o PL), três do tipo PS (PMN, PT, PCdoB) e um do tipo PCP (PCB). Para fins de mais fácil compreensão do leitor português, a coligação apoiante de Lula pode então ser, aproximadamente, representada assim: PSD-PS(3)-PCP.
   
A coligação formou um Conselho Político que elaborou um «Programa de 100 Dias» no qual constava promover um plebiscito para decidir a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Em 22 de Junho de 2002, já próximo das eleições (6 de Outubro de 2002), Lula apresentou uma «Carta ao Povo Brasileiro» num tom conciliatório para com o sector financeiro («O Banco Central acumulou um conjunto de equívocos», «À parte manobras puramente especulativas, que sem dúvida existem, o que há é uma forte preocupação do mercado financeiro», «[...] respeito aos contratos e obrigações do país») mas ainda defendendo, por exemplo, a reforma agrária.
   
Depois de ter ganho as eleições (com 61,3% na 2.ª volta) Lula descarta-se do Conselho Político e de propostas do «Programa de 100 Dias», como a reforma agrária e a promoção do plebiscito para uma Constituinte. Na Venezuela, o plebiscito e convocação da Constituinte foram logo a primeira medida levada a cabo por Hugo Chávez. A necessidade de uma Constituinte era enorme na Venezuela e também o era (é) no Brasil. Só assim se podia alterar o modus faciendi do Estado ao serviço do grande capital, acabando com os mil e um canais abertos à corrupção e com um aparelho de Justiça enfeudado à direita.
   
Rapidamente se torna também claro que o governo PT opta pela colaboração de classes, pelas conciliações de bastidores com os banqueiros e a alta burguesia industrial, equilibrando algumas medidas progressistas com largos favores ao grande capital. Entre as medidas progressistas, avultam: a «Bolsa Família», uma espécie do nosso RSI para as famílias sem posses cujos filhos frequentam a escola; a «Minha Casa, Minha Vida» de apoio à habitação social; o fornecimento de água potável e construção de sistemas de irrigação em regiões do interior; alguns programas de emprego. Essas medidas melhoraram, sem dúvida, a vida de milhões de brasileiros; concretamente, tiraram o Brasil do mapa da fome (reconhecido pela FAO e ONU).
   
Vejamos, agora, os favores ao grande capital. Um dos mais importantes foi o aprofundamento da «privatização interna» da estatal petrolífera Petrobras, a maior empresa do Brasil, com uma contribuição de 13% para o PIB. (Estima-se que por cada R$ -- real brasileiro -- investidos na Petrobras, são gerados três R$ no país.)
   
Com FHC o monopólio estatal da Petrobras, tinha sido quebrado pela cedência de prestação de serviços em exclusividade à Odebrecht. (A Odebrecht é uma multinacional brasileira dos sectores de Engenharia, Infra-estruturas, Indústria, Energia, Transportes e Meio Ambiente.) Os governos Lula e Dilma levaram mais longe essa privatização interna facilitando parcerias com empresas privadas, lesivas para o Estado.
   
Em 2007 a Petrobras celebrou uma parceria de compra do segundo maior distribuidor de combustível brasileiro (Refinaria Ipiranga) com dois parceiros, o Grupo Ultra e a Braskem, desembolsando 1,3 B$ (biliões=milhar de milhões de dólares US). O Grupo Ultra desembolsou 1,1 B$ e a Braskem 1,6 B$.
A Ultra ficou com a parte mais lucrativa rede de distribuição do Sul e Sudeste, enquanto a Petrobras ficou com a parte menos lucrativa da rede. Em 2008, a Braskem, controlada pela Odebrecht que actuava dentro da Petrobras, adquiriu participações em várias empresas de refinaria. Isto é, a Petrobras tinha servido de veículo de fortalecimento de grandes empresas privadas, que se apropriaram da tecnologia da Petrobras.
   
Pelo meio das parcerias floresceram os «favores» e a corrupção. Por exemplo, no governo Lula, José Dirceu (Ministro-Chefe da Casa Civil de Lula) ajudou a entregar o Pré–Sal (depósitos salinos de petróleo) da Petrobras ao empresário Eike Batista, patrão de um enorme conglomerado de empresas, uma delas ligada ao petróleo: a OGX. O processo de entrega teve início em 2005–2006 e o consultor da OGX era precisamente José Dirceu (!), que passou a contratar técnicos da Petrobras detentores de segredos estratégicos. A OGX, criada em 2007 com 0,2 B$ em 2008 já valia 17 B$ !!! Disse assim um professor da Universidade de São Paulo: «tudo que ele [Eike Batista] tinha era uma equipa recrutada da Petrobras e os blocos generosamente leiloados por Lula e Dilma […] Foi um dos processos de “acumulação primitiva” mais extraordinários da história do capitalismo mundial. Alguém sai do nada e em menos de três anos tem uma fortuna de biliões de dólares»A Petrobras durante toda a sua existência conseguiu 20 biliões de barris, enquanto Eike Batista em pouco tempo passou a ter reservas de 10 biliões de barris, que correspondiam a 100 B$!
   
Dirceu tornou-se conhecido pelo caso de corrupção «mensalão». Foi condenado a mais de dez anos de prisão que começou a cumprir em 2013, mas em Outubro de 2014, no governo Dilma, foi libertado para cumprir o resto da pena em casa… Quanto às empresas de Eike Batista foram atacadas por uma epidemia de crescentes prejuízos e falências, onde a corrupção imperou e contaminou a Petrobras.
   
Os governos Lula não se limitaram a favorecer políticas neoliberais. Levaram também a cabo outras medidas gravosas contra o povo, nomeadamente quanto à punição dos torturadores da ditadura militar. Lula adiou a criação da Comissão da Verdade, depois diluiu os seus objectivos e acabou por inviabilizar a punição dos torturadores processados pela Ordem dos Advogados do Brasil, sem sequer esperar por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Um claro sinal de «conciliação» à extrema-direita e de desmoralização da democracia. Também tomou medidas contra os trabalhadores, ainda mais danosas do que as de FHC: fim da reforma na totalidade, os trabalhadores têm de «poupar» entregando dinheiro aos capitalistas; lei das falências em que os trabalhadores são ressarcidos por último, primeiro são os credores; etc.
   
Nas eleições presidenciais de 2006, a coligação era outra. O PCB, já em 2005, tinha denunciado as políticas do PT e retirado o seu apoio a Lula. Agora, a coligação era de 3 partidos. Usando a técnica comparativa anterior, a composição era mais de direita:
   
    Coligação nas eleições presidenciais de 2002:        PSD-PS(3)-PCP
    Coligação nas eleições presidenciais de 2006:        PSD-PS(2)
   
A viragem à direita acentuou-se nas eleições ganhas por Dilma Rousseff:
   
    Coligação nas eleições presidenciais de 2010:        CDS(3)-PSD(4)-PS(3)
    Coligação nas eleições presidenciais de 2014         CDS(4)-PSD(3)-PS(2)
   
Á medida que o PT foi virando à direita foi concedendo cada vez mais favores ao capital e negociando ou oferecendo o que podia para se manter no poder. As campanhas passaram a captar mais recursos das grandes empresas que as dos adversários, inclusive junto ao capital financeiro – uma clara demonstração do apoio do grande capital ao PT – e receberam o apoio de chefões locais da burguesia.
   
Um aspecto digno de nota. Nas sucessivas coligações houve muitas entradas e saídas de partidos. Um, contudo, permaneceu sempre fiel ao PT: o PCdoB. Trata-se de um partido social-democrata (oportunista), oriundo de uma passada cisão do PCB. Um dos slogans muito repetidos do PCdoB é «comunismo com responsabilidade». Na realidade, o posicionamento do PCdoB nada tem de comunista e no governo não faz (nem poderia fazer) «comunismo». Mas é «responsável»; ou seja, o seu «comunismo» presta-se a todas as negociatas «responsáveis» com o capital, com a enorme vantagem de confundir as massas com constante conversa de marxismo-leninismo.
   
Os governos Dilma são claramente neoliberais: 1) Privatização do Pré-Sal que assenta um duro golpe económico à Petrobras: 2) Fim do pagamento por inteiro das reformas do Estado. Os funcionários públicos terão de entrar num regime de subsídio de parte da reforma, por empresas financeiras privadas ou pelo Estado, em piores condições que no antigo sistema de descontos. 3) Embora os governos PT tivessem aberto e financiado novas Universidades públicas, financiaram a um nível muito mais elevado os monopólios privados do ensino. Além disso, ultimamente, cortaram as despesas do Estado no ensino (revelando-se mentirosos quanto a imensas medidas que prometeram fazer e hipócritas no seu lema de «pátria educadora»), apontando para a privatização de Universidades. 4) Cortes na saúde. 5) Cortes nos fundos públicos que são transferidos para os vários Estados brasileiros, criando-lhes grandes dificuldades, especialmente no Norte e Nordeste. 6) Favorecimento das empresas privadas de transportes (deu lugar a poderosas greves/manifestações em 2013-2014, devido a aumentos de preços). 7) Um Ministro das Finanças (Levi) assumidamente neoliberal, que levou a cabo a «troikada» brasileira. Entretanto, saiu e foi para o FMI. 8) Uma ministra da agricultura (Kátia Abreu) representante do grande agronegócio e portanto dos grandes latifundiários, o que quer dizer que reforma agrária nem vê-la. Essa ministra, que era do PMDB, agora com a saída dos ministros do PMDB passou para o PT para não sair do governo e é grande amiga da Dilma…
   
Em suma, as políticas dos governos Dilma não têm sido nem progressistas nem de afirmação soberana. O único aspecto positivo que se regista é o programa «Mais Médicos» de que já falámos noutro artigo, bem como a continuação dos programas de bolsa família e minha casa minha vida.
   
Com o agravamento da crise do capitalismo o grande capital deseja destruir tudo de positivo que os governos PT fizeram, e está impaciente por o fazer. Tem boas condições para isso, precisamente por culpa do PT: manteve exactamente o mesmo estilo de negociatas com o capital usado por governos anteriores; manteve o aparelho de Estado intacto, nomeadamente o aparelho de Justiça; ao não mexer no aparelho de Justiça manteve intactos os mecanismos de corrupção existentes, favorecendo objectivamente com isso a direita (a velha história de «são todos a mesma coisa»); efectuou inúmeras e gravosas privatizações, que são o alimento da corrupção; não fez nada contra os monopólios da comunicação social, nas mãos da direita; não mexeu nos bancos, nem mesmo com reformas de regulamentação; pelas privatizações realizadas, favores ao grande capital e alianças com a direita, acabou por se tornar refém da direita – as negociatas com a direita passaram a ser como «balões de oxigénio» de sobrevivência do agonizante PT; alienou, desmoralizou e confundiu grande parte da sua base de apoio popular, trabalhadora. Lula e Dilma, na sua política de colaboração de classes, fizeram a cama onde a direita os quer deitar.
   
Para afastar o governo PT a direita tem actuado com o maior cinismo, procurando impugnar Dilma e processar Lula com base em acusações de corrupção, embora não se saiba da existência de provas concretas de corrupção.
   
Qual a postura que a esquerda brasileira preconiza no imediato? Alguns agrupamentos, com destaque para o PCB, defendem uma postura que nos parece acertada: são contra a impugnação de Dilma e contra eleições antecipadas; contudo, nas manifestações e declarações públicas, criticam certeiramente o PT por estar com a direita neoliberal, e defendem uma mudança de rumo. Outros agrupamentos, nomeadamente da esquerda de inspiração trotskista (com bastante peso no Brasil e na América Latina em geral) têm defendido «Eleições Já!». É uma postura de impaciência aventureira, já que nas eleições poderia ganhar o Aécio ou ainda pior. Efectivamente, por culpa do PT, a direita no Brasil tem crescido muito e sempre teve uma forte componente de extrema-direita. Na última manifestação da direita o Aécio foi assobiado, não o deixaram falar, e um político fascista, Jair Bolsonaro (vejam o perfil dele na wikipedia), foi ovacionado.
   
Finalmente, uma palavra sobre o imperialismo. Alguns batem na tecla da «ingerência do imperialismo», incluindo o PCP e os noticiários da Telesur. Como se sabe, o imperialismo ingere-se em tudo que o incomoda. Por isso é que se chama «imperialismo». Ingere-se contra processos revolucionários de perspectiva socialista; ingere-se contra processos democráticos de afirmação soberana, isto é, insubmissos no todo ou em parte ao imperialismo; ingere-se contra governos de direita antagónicos (o governo de Putin, por exemplo); ingere-se em governos de direita, amigos e aliados, quer porque não lhe fazem todas as vontades (a França na guerra do golfo) quer para melhor os teleguiar (sistema de espionagem da NSA nos países europeus); etc. Portanto, à pergunta «Há ingerência do imperialismo?» podemos sempre responder sem receio de errar: Sim.
   
Por outras palavras, a afirmação de que há «ingerência do imperialismo», embora possa parecer dizer muito, diz de facto muito pouco. Há que esclarecer quais os níveis, moldes e objectivos da ingerência e se ela é ou não factor de realce explicativo de dada situação política. Sem isso, dizer que há «ingerência do imperialismo» é dizer uma banalidade.
   
Mas há mais a dizer sobre este tema no caso do Brasil. É que, no fundo, dizer apenas que o que lá se passa é «ingerência do imperialismo» (como vimos na Telesur e parece ser a mensagem de um artigo de Albano Nunes no Avante! de 24/3), equivale a um branqueamento de culpas (por omissão) dos governos Lula e Dilma. É precisamente o conjunto dessas culpas o factor de realce explicativo e, inclusivamente, o factor determinante do desastre da situação política do Brasil. Quem não esclarece isso não contribui para dar a informação necessária à compreensão do que se passa e mostrar o dano imenso do reformismo e da cooptação pela burguesia.
   
Actualmente, um bom barómetro do incómodo e ingerência do imperialismo é o grau de demonização de figuras políticas incómodas. Lula e Dilma nunca foram demonizados pelo imperialismo, como aconteceu e acontece com Chávez, Maduro, Rafael Correa e Evo Morales. Por uma razão simples: na sua colaboração de classes Lula e Dilma sempre se deram bem com o imperialismo e até o favoreceram e favorecem. Um exemplo gritante: em 2010 o governo Lula negociou com Bush um acordo militar com os EUA que veio a ser assinado em Junho de 2015. É um acordo que transforma o Brasil numa espécie de super-Colômbia, um super-pivot do imperialismo na América Latina, com polícia e militares brasileiros treinados para esmagar protestos populares não só no próprio país mas, inclusive, noutros países, já que o acordo contempla o treino pelos especialistas ianques em «acções transfronteiriças». Contempla ainda «técnicas de vigilância e agentes disfarçados», «colecta, processamento e disseminação de dados e inteligência», etc. Uma clara demissão de soberania e de ameaça aos desenvolvimentos progressistas e soberanos de vários países da América Latina. (Ver mais detalhes aqui.) O acordo foi criticado e denunciado pelo Conselho Mundial da Paz. Apesar disso, em visita de Dilma a Obama em 2015, os respectivos Ministro e Secretário de Estado de Defesa ainda aprofundaram mais o acordo com aditamentos de um «projecto de defesa conjunto» e um «Acordo sobre Protecção de Informações Militares Sigilosas»!
   
Com amigos assim, que lhe satisfazem os mais profundos desejos, o imperialismo não tem de se preocupar muito. Pode perfeitamente manter a sua ingerência nos padrões habituais de low profile (ajuda na corrupção económica, intervenção nos meios de comunicação, e alienação das massas através de seitas religiosas made in USA). Para além da “amiga” Dilma, o imperialismo também sabe que a direita do Brasil tem uma presença forte em sectores importantes da sociedade e é capaz de “dar boa conta do recado”. A «ingerência do imperialismo» é um factor; mas não foi e não é, para já, o factor determinante.