Vimos (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/07/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-1-de.html
) como a 8 de Agosto de 1975 o PS consegue uma vitória importante da sua ala
militar: a apresentação da «Carta dos Nove». (Recordemos: quando dizemos PS
referimo-nos principalmente às cúpulas do PS, em especial aqui aos dirigentes
contra-revolucionários da clique de Mário Soares: Manuel Alegre, Jaime Gama,
Almeida Santos, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia, António Barreto, etc; excluímos as massas trabalhadoras enganadas pela demagogia
«socialista» do PS.)
A «carta», dirigida ao PR, general Costa
Gomes, e rapidamente divulgada, não era assim tão importante pelo texto em si
mesmo, parido pelo ideólogo do Grupo dos Nove, Melo Antunes, embora não
escondesse os seus propósitos sociais-democratas. O próprio Vasco Lourenço, também
dos Nove e líder da contra-revolução dentro do MFA, impaciente pelo atrasado parto
do documento, referiu-se-lhe nestes termos: «nunca mais escrituravam isso; já
falámos tantas vezes nessas m...»
(citado num livro de um PS orgulhoso da contra-revolução). O que interessava
era sair cá para fora com qualquer coisa que catapultasse a ala pró-PS do MFA.
E arrebanhasse aliados. Mesmo que à força, como nos quartéis da Região Militar
Centro em que logo se iniciou a recolha de apoios em reuniões habilmente
manipuladas. Às vezes não tão habilmente, como no quartel da Guarda em que o
comandante disse logo preto no branco que «toca a assinar o documento» porque era
preciso «correr com os comunistas».
Os «Nove» também eram designados por
«não-alinhados» e «moderados». Quanto ao não-alinhamento, toda a gente sabia
que eram pró-PS e restante direita. Confirmaram-no, destruindo o MFA com o apoio
de Otelo, derrubando o governo de Vasco Gonçalves e alçando ao poder o PS e
restante direita. Quanto ao moderantismo, ficou mais tarde esclarecido o que
entendiam por isso, quando prenderam, perseguiram e irradiaram das forças
armadas toda a esquerda militar, sem qualquer culpa formada, que
tinha participado destacadamente no 25 de Abril e no processo revolucionário,
reintroduzindo os spinolistas e parte dos fascistas que tinham sido saneados.
Mas a história da contra-revolução militar
ficará para outra altura. Veremos então o papel dissimulado do hábil contra-revolucionário
Costa Gomes, bem como do «revolucionário» Otelo, o aspirante a «Fidel da
Europa», que sistematicamente apoiou a contra-revolução em todos os momentos
decisivos. Veremos também como, desde o início (24/1/1975), o novo embaixador em
Lisboa, Franck Carlucci, com agentes da CIA (e dos serviços secretos alemães) que
na altura pulularam pelo país, contribuiu para articular a componente militar
da contra-revolução liderada pelos «Nove» com a componente civil liderada pelo
PS.
No
período em análise a CIA-Carlucci articulou de forma convergente, com o seu
aliado PS, três vectores contra-revolucionários: o
vector governamental e de propaganda interna e externa (PS às claras); o vector
militar (PS por detrás dos «Nove»): o vector da actividade terrorista contra a
esquerda civil, também com o apoio do PS.
Este é o período denso do apogeu do «Verão
Quente», expressão que designou as múltiplas actividades terroristas contra as
forças de esquerda: assaltos e incêndios de sedes do PCP, MDP/CDE, Sindicatos e
Uniões Sindicais, e, em muito menor número, da FSP (Frente Socialista Popular) e UDP; ataques armados contra comícios e sessões de esclarecimento do
PCP e MDP/CDE; ataques com bombas em instalações de forças de esquerda e de Sindicatos;
destruição com bombas de carros de militantes de esquerda; agressões violentas
e assassinatos de trabalhadores, dirigentes sindicais, intelectuais
progressistas, e militantes do PCP, MDP/CDE e UDP.
O «Verão Quente» teve o seu início «oficial» em 13 de Julho de 1975, em Rio Maior,
quando uma multidão fanatizada, encabeçada por energúmenos ao serviço da CAP,
atacou as sedes do PCP e da FSP. Os energúmenos armados de
mocas, quais réplicas dos broncos trauliteiros miguelistas, agrediram barbaramente
militantes comunistas e outros democratas. A moca foi promovida desde essa
época a «orgulhoso» símbolo do reaccionarismo caceteiro de Rio Maior. Até hoje.
Quem então aplaudiu o caceteirismo bronco de Rio Maior foi Manuel Alegre do PS.
Disse na visita que logo aí fez: «Esta terra tornou-se um símbolo. O nome de
Rio Maior entrou na história do povo português pela liberdade e o socialismo».
Nunca fomos a Rio Maior, mas a avaliar pela apreciação de Manuel Alegre deve lá
reinar um socialismo de fina água. (Manuel Alegre é uma das maiores fraudes do
PS, um indivíduo fátuo, poseur de
esquerda, envolvido em tudo que o PS tem feito de mais reaccionário. Apesar
disso, certa «esquerda», da RC ao BE, parece gostar tanto desta fraude que o
apoiaram nas últimas eleições presidenciais!)
O simples facto de ter sido levada a cabo a
campanha terrorista, às claras, com conhecimento de quem eram os operacionais
terroristas, e feita em larga escala, comprova, desde logo, que não existia (e nunca existiu) durante o
período revolucionário um poder revolucionário capaz de defender a revolução.
(O Copcon de Otelo era inoperante; quando instado porque permitia os assaltos e
incêndios a sedes do PCP Otelo respondeu que não fazia mal porque o PCP tinha
muitas sedes.) Como é óbvio e tem sido
provado pela história, uma revolução sem um poder revolucionário, logo sem
meios de se defender, está condenada desde o início a morte súbita. A revolução portuguesa foi mais uma
confirmação deste axioma.
A campanha terrorista do «Verão Quente»
comprova também que o mito da «ditadura comunista» era uma gigantesca mentira
criada e alimentada pelo PS com fins de propaganda interna e externa para
liquidar a via socialista da revolução.
Na campanha terrorista participaram: agrários
(latifundiários do Sul e médios camponeses da zona da Estremadura, com destaque
para os energúmenos da CAP de Rio Maior, Alcobaça e Bombarral; grupos
organizados pelo ELP e MDLP (pides, fascistas e spinolistas) no Norte; grande
parte do clero português do Norte e Centro, não só por incitamento à violência
anti-comunista (lembremos aqui que o clero reaccionário da tarimba salazarista
sempre designou por comunistas não só os comunistas propriamente ditos como
todos os democratas incomodativos) durante as homilias, mas também participando
fisicamente nas operações terroristas. Ficou famoso, neste particular, o cónego
Melo de Braga; agora promovido a herói com uma estátua em Braga. Promoção feita
pelo presidente da Câmara, Mesquita Machado. Do PS.
O PS não poupou o apoio moral, e em alguns
casos também físico, à campanha terrorista. O terrorismo serviu ao PS e
restante direita para dois propósitos: intimidar e remeter as forças de
esquerda a uma posição defensiva; propagandear interna e externamente que o
«povo» rejeitava a revolução, fornecendo assim a justificação para actos de
força contra a revolução, actos contra-revolucionários. Na época toda a
imprensa de direita da Europa e EUA vertia lágrimas pelas coitadinhas das
populações portuguesas, vítimas de uma ditadura comunista e que, espontaneamente, se revoltavam contra os
comunistas. Enfim, um modus operandi
velho como a história, sempre presente no saco de truques das classes
exploradoras quando necessitam de defender com unhas e dentes o seu «direito» de
continuar a explorar.
De 9 de Agosto a 5 de Setembro de 1975
A 2.ª fase contra-revolucionária do PS
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Agosto
Notícia
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Comentário
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9/8.
Comunicado do PS sobre a «Carta dos Nove»: «acontecimento de primeira importância».
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Obviamente
de «primeira importância» para o PS. Finalmente, sob a batuta de Carlucci, a
contra-revolução militar surgia articulada com a contra-revolução civil.
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10/8.
Melo Antunes ao Nouvel Observateur:
«estratégia comunista acaba de malograr-se em Portugal.»
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Melo
Antunes, ideólogo dos Nove, repete a tese do PS de que tudo faziam para
malograr a «estratégia comunista» e instaurar em vez disso o «socialismo
democrático», ou como também diziam «o verdadeiro espírito do 25 de Abril». De
facto, restauraram o capitalismo monopolista e latifundiário, colocando no
poder económico os mesmos capitalistas do regime anterior. Se não queriam o
socialismo deviam logo tê-lo dito no 25 de Abril de 1974 e não andar a
enganar o povo.
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14/8.
Os Nove preparam um «Programa de Acção». Em manifs e comícios em Lisboa,
Porto e Portimão o PS exige a saída de Vasco Gonçalves e declara o seu apoio
ao «Documento Melo Antunes».
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Fica
confirmado que a «Carta dos Nove» é o «Documento Melo Antunes». Afastar Vasco
Gonçalves, um dos elementos mais consequentes do 25 de Abril, homem probo e sério,
sempre foi um objectivo essencial do PS. Facilitado agora com a consolidação
da ala contra-revolucionária do MFA liderada pelos «Nove». Nessa altura Melo
Antunes chegou a ser indiciado para PM.
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17/8.
PS contesta a greve simbólica de meia hora, marcada pela Inter, de repúdio à
violência fascista do «Verão Quente».
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Imperava
o terrorismo bombista e caceteiro contra tudo que fosse de esquerda. Orquestrado
por PS e direita e, no terreno, a cargo de bandos fascistas e esquerdistas.
Nesse mesmo dia o comicio do PCP em Alcobaça foi interrompido por tiroteio.
O PS,
ao contestar a greve simbólica marcada pela Inter, revela de que lado está.
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28/8.
Manifestação do PS no Porto contra Corvacho e Vasco Gonçalves.
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Eurico
Corvacho, comandante da Região Militar Norte, oficial bem identificado com o
MFA e que tinha denunciado o ELP (o elo fascista da contra-revolução onde se
acoitaram ex-pides) era uma espinha atravessada nos planos soaristas. Na
RMCentro estava Franco Charais, e na RMSul Pezzarat Correia, ambos pró-PS. Apadrinhados
pelos «Nove» e incarnando «o verdadeiro espírito do 25 de Abril».
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30/8
Mário Soares encontra-se com o PR e defende um governo de salvação nacional
com PS, PPD e PCP.
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O
objectivo era afastar Vasco Gonçalves, o inimigo n.º 1. Para isso tudo
servia, inclusive o engodo de incluir o PCP num suposto «governo de salvação
nacional».
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O V Governo
Provisório tomou posse a 8 de Agosto de 1975 e terminou o seu mandato a 19 de
Setembro de 1975 por pressão dos militares contra-revolucionários dos «Nove»
com apoio de Otelo. Presidido por Vasco Gonçalves, era composto por
personalidades militares e civis prestigiadas, quase todas independentes (isto
é, não militantes de partidos). Entre estas últimas, assinale-se José Teixeira Ribeiro (prestigiado Prof.
Catedrático de Direito da U. Coimbra), Macaísta Malheiros (juiz, desembargador
e actual Presidente da Liga Portuguesa dos Direitos
Humanos), Mário Ruivo (cientista
dos recursos aquáticos). O governo não tinha nenhum militante do PCP, tinha um
do MDP/CDE (Pereira de Moura, católico militante) e um, Mário Murteira, pró-PS
senão mesmo militante do PS (foi militante e dirigente da
UEDS, um rebento secessionista do PS de 1979 a 1984, que depois se reintegrou
no PS, voltando à alma mater). Era este o governo da «ditadura
comunista», da «ditadura gonçalvista», berrada histericamente por PS e restante
direita, com coro internacional nos media
ligados ao imperialismo, por Kissinger e consortes.
Em
pouco mais de um mês os ministros do V Governo, que substituíram os PSs dos
governos anteriores, fizeram mais pelo povo, pelo país, do que fizeram durante
mais de um ano os socialistas de pacotilha da clique soarista, já então
transpirando incompetência e fatuidade por todos os poros, já então mais
preocupados em colocar familiares e amigalhaços na administração pública.
No MFA avança agora com rapidez a
contra-revolução. A 5/8 o «revolucionário» Otelo reintegra nos Comandos Jaime
Neves, oficial fascista, «herói» do massacre de Wiriyamu em Moçambique. Esse
«herói» tinha sido justamente saneado a 3/8 pelos militares progressistas dos
Comandos. Mas, para Otelo, tudo que era progressista cheirava a PCP e tudo que
cheirava a PCP era «social-fascista», de acordo com as sábias lições
trotskistas bebidas do PRP-BR. Vai daí, reintregra o fascista Jaime Neves que
iria ser «herói» destacado no 25 de Novembro. E para dar o toque magistral na
farsa do seu «revolucionarismo», o Otelo-Copcon faz «auto-crítica revolucionária»
dizendo ter sido precipitada a publicação do seu comunicado sobre os factos
ocorridos nos Comandos a 31 de Julho, onde justamente se apontavam as manobras
contra-revolucionárias de Neves et al.
Agora sim, feita a «auto-crítica revolucionária» e com o fascista Neves (e
outros do mesmo jaez) reintegrados, a revolução singrava bem. A 10/8 são suspensos
do CR os nove da «Carta dos Nove» ao PR; são rapidamente reintegrados. A 12/8
alguns oficiais do Copcon propõem um «programa político» do tipo «poder
popular» ao sabor esquerdista; uma iniciativa irrelevante como todas as
iniciativas dos esquerdistas, cujo único móbil era atacar o PCP e seus aliados;
independentemente do que PCP e aliados faziam no terreno. (A questão não reside
aqui no direito de criticar fundamentadamente erros do PCP ou diferir das suas
análises e propostas. Há uma enorme distância entre isso e a difamação e
ataques sistemáticos ao PCP quer por dogmatismo e sem pejo de distorsão dos
factos históricos, quer por opção reaccionária ou contra-revolucionária.)
* *
*
Impõe-se
aqui uma reflexão sobre o papel do esquerdismo na revolução portuguesa.
O leitmotiv dos grupelhos esquerdistas na
revolução portuguesa foi sempre este: «Isso foi feito ou proposto pelo PCP?
Então está mal [mesmo que com a iniciativa, apoio e implementação por largas
massas de trabalhadores!]. É preciso denunciar e destruir isso; mesmo que nos tenhamos
de aliar ao PS» E a denúncia era feita com berros histéricos e os mais variados
e contraditórios slogans: porque era
reformista; porque era estalinista; porque não era estalinista; porque era
revisionista; porque era social-fascista; porque era capitalismo de estado; porque
a luta contra o imperialismo soviético era mais importante que a luta contra o
imperialismo americano, etc., etc. Enfim, filhotes da burguesia, ignorantes e/ou
mascarados de revolucionários, em grupelhos que se multiplicaram como os
cogumelos – MRPP, OCMLP, FEC-ml, AOC, PCP(r), UDP, LCI, PRP-BR, FUP, GDUPs,
LST, MUT, PCP(m-l), PUP, CCRML, CARP(m-l), URML, etc. Todos, objectivamente contra-revolucionários. Muitos deles sempre
aliados ao PS e presentes nas respectivas manifestações (com especial destaque
para o MRPP e FEC-ml, amigos do coração do PS). Muitos manipulados pelas
centrais do imperialismo. Muitos pagos pelas centrais do imperialismo (com
destaque para a CIA). Todos responsáveis pela ajuda prestada à liquidação do processo
revolucionário. Nenhum com rebates de consciência.
Quase todos tiraram
a máscara «revolucionária» quando a sua tarefa de destruir a revolução acabou.
Basta olhar para Durão Barroso, revolucionaríssimo militante do MRPP, ou para
Pacheco Pereira, grande lutador contra o capitalismo no PCP(m-l), ou ainda para
Artur Albarran, ousado revolucionário do PRP, que entrou logo para comentador
da TV uma vez terminada a revolução, e que, em 1997, se torna presidente do
Conselho de Administração da EuroAmer, uma holding imobiliária de
empresários e políticos norte-americanos, de que um membro destacado é Frank
Carlucci da CIA. Coincidências! (Em 2005, com a falência da EuroAmer, Albarran
seria alvo de uma investigação do Ministério Público, suspeito de branqueamento
de capitais e falsificação de documentos. Ah, grande «revolucionário»!)
Todos estes
grupelhos esquerdistas tinham como base social os estudantes, alguma pequena
burguesia radical de tendências anarquizantes (em que a ideia de «poder
popular» se articulava as ideias basistas de não existência de partidos
condutores da revolução (a não ser eles, claro; ver o que dissemos em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/a-manif-da-apre.html
) e à não existência de qualquer Estado), e trabalhadores de colarinhos brancos
(haja em vista a influência do MRPP na TAP, em particular no sindicato dos
pilotos) para quem a máscara «revolucionária» servia (e serve) para esconder os
propósitos elitistas.
Muitos
destes grupelhos esquerdistas, com destaque para o MRPP e UDP, promoveram
greves selvagens com fins meramente provocatórios, como a dos padeiros, logo a
seguir ao 25 de Abril de 1974, e sucessivas greves dos pilotos da TAP.
Aliaram-se constantemente com o PS, em eleições para os sindicatos dos
bancários, dos jornalistas, dos trabalhadores do comércio, etc., e nas listas
para as associações de estudantes e para os órgãos de gestão das escolas de ensino
superior; ecoando os slogans mais reaccionários do PS e as tiradas mais
difamatórias do PCP.
Muitos
destes grupelhos apoiaram e participaram no terrorismo contra-revolucionário. O
MRPP descreveu a violência no Norte como «uma revolta camponesa contra o
social-fascismo». Quando os militantes do PCP defenderam a sua sede em Leiria
isso foi descrito pelo MRPP como «os sociais-fascistas a abater camponeses».
É sabido que
a CIA financiou grupos maoístas por todo o mundo. Várias fontes concordam em
que Franck Carlucci, embaixador dos EUA em Portugal e agente da CIA, financiou
e manipulou o MRPP (ver p. ex. http://www.humanite.fr/blogs/commission-europeenne-barroso-et-juncker-anciens-maoiste-et-trotskiste-reperes-par-la-cia#sthash.JnyoR1RR.dpuf).
E não se trata apenas de fontes comunistas ou de esquerda. Vale a pena ouvir o
que diz François Asselineau do partido da direita francesa Union Populaire
Republicaine, sobre como Carlucci descobriu no MRPP o talento de Barroso e o orientou
na adesão ao PPD; a CIA depois financiou-o em estudos nos EUA e apoiou-o na
ascenção na UE : Qui gouverne
réellement la France et l'Europe: https://www.youtube.com/watch?v=Bb8dB7d3BdE.
Neste longo discurso a parte importante é a partir de 2h 35 min. (Uma outra
revelação é a de que Jean-Claude
Juncker, protector ardoroso do paraíso fiscal do Luxemburgo, e apoiado pelo NSA
num escândalo de espionagem, era um elemento de um grupelho trotskista. Um
ex-esquerdista ciático substituiu outro ex-esquerdista ciático na presidência
da CE.)
* *
*
A traição a Vasco Gonçalves acentua-se. A 24/8
Otelo dá mais uma facada na revolução aconselhando-o numa carta, logo
divulgada, a resignar. Além disso, proíbe-lhe a entrada nas unidades do Copcon!
Enquanto dava facadas na revolução, Otelo, num tom patético, diz a 22/8 aos
jornalistas que «andamos [ele, o ideólogo, claro] à procura de uma linha ideológica
para o MFA»!
Um dos alvos principais da contra-revolução
militar era a famosa 5.ª Divisão da CEMGFA, criada a 18 de Julho de 1974 com o objectivo de difusão e propaganda do
ideário do MFA -- relembremos
o
Programa do MFA: «a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo
Português, em particular das camadas da população até agora mais
desfavorecidas, [...] o que necessariamente implicará uma estratégia
antimonopolista» e «b) Uma nova política social que, em todos os domínios, terá
essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes
trabalhadoras» --, tendo a seu cargo os assuntos de natureza político-militar. Constituía um baluarte coeso de oficiais honestos e dedicados à
revolução portuguesa, uma importante secção do que se convencionou chamar de
«esquerda militar». A 5.ª Divisão ajudou a resolver muitos problemas levantados
pelas populações e levou a cabo «campanhas de dinamização cultural»,
nomeadamente em zonas rurais e suburbanas, as quais, para além de actividades
culturais, incluíam sessões de esclarecimento sobre o que se passava no país,
sobre o que era a democracia e o socialismo (lembremos que as populações vinham
de uma situação de profunda ignorância, fruto de quase meio século de
fascismo), e sobre outras questões (como realizar assembleias, como iria
decorrer o processo eleitoral, etc.). O PS e restante direita cedo revelaram um
enorme medo por tudo que contribuísse para dissipar a ignorância política das populações.
Na realidade, e da nossa própria experiência, podemos afirmar que deparámos com
o boicote sistemático do PS às «campanhas de dinamização cultural», enquanto de
figuras locais do PPD encontrámos, muitas vezes, receptividade. O PS (e
restante direita na sua esteira) vieram a propalar desde o «Verão Quente» o
mito, que mantêm até hoje, de que as «campanhas de dinamização cultural» se
destinavam a difundir o «comunismo». Se isso fosse verdade custa a entender
como é que o PCP não teve muito maior votação, apesar do elevadíssimo número de
campanhas da 5.ª Divisão. De facto, tal afirmação não é verdadeira. É inteiramente falsa. O apartidarismo
das campanhas era escrupulosamente observado. Naquelas em que participámos ia
quase sempre o comandante da nossa Unidade, homem honesto, que nas suas
perorações e esclarecimentos pouco se afastava do que diziam os oficiais da 5.ª
Divisão. Este comandante era do PPD.
As razões do ódio da direita à 5.ª Divisão
eram: a) o contributo que dava à dissipação da ignorância das populações; b) a
publicação do «Boletim do MFA», segundo nós uma das mais lúcidas publicações da
época, que circulava principalmente nas unidades das forças armadas, e que em
termos simples, factuais e muito claros denunciava as manobras da contra-revolução
militar (e, em menor detalhe, também da civil); c) o ser constituído por um
corpo coeso de oficiais honestos e de ideias políticas claras a favor da
revolução que, pela sua participação nas Assembleias do MFA (e outros órgãos),
muito incomodavam os planeadores da contra-revolução; d) o terem tido uma
contribuição decisiva no derrube do putsch
spinolista do 11 de Março, algo que a reacção não podia perdoar.
A 5.ª Divisão tornou-se o alvo principal a
abater por parte dos militares contra-revolucionários (spinolistas, «moderados»
do Grupo dos Nove, etc.).
A 25/8, unidades do Copcon (mas não seguidoras
de Otelo) afirmam recusar o documento dos Nove. Em retaliação, o CR manda
suspender no dia seguinte as actividades da 5.ª Divisão. A 28/8, militares do
Copcon, a mando de Otelo (o grande «revolucionário» mais uma vez em acção),
assaltam com grande aparato bélico as instalações da 5-ª Divisão e
encerram-nas! Não estava lá na altura quase ninguém. E também não encontraram
as armas com que supostamente os «comunistas» da 5.ª Divisão estariam armados
até aos dentes. Otelo veio depois, mentirosamente e sem qualquer vergonha na
cara, declarar que a ocupação da 5.ª Divisão se tinha efectuado «por haver ameaças de assalto
[da direita]» à 5.ª Divisão! O assalto
bélico do Copcon-Otelo às modestas instalações quase vazias da 5.ª Divisão do CEMGFA foi o
maior acto «revolucionário» que a história registará da actividade de protecção
à revolução levada a cabo pelo Copcon-Otelo! Debalde procuraríamos nos arquivos
históricos testemunhos factuais da defesa da revolução contra a violência
spinolista-fascista por parte do Copcon-Otelo. Mas o assalto bélico às instalações da 5.ª Divisão,
esse sim, consta.
Com o
fim da 5.ª Divisão em 28 de Agosto de 1975 termina o MFA apartidário, aliado ao
povo, tendo como objectivos «a) Uma nova política
económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das camadas da
população até agora mais desfavorecidas, [...] «b) Uma nova política social
que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa dos
interesses das classes trabalhadoras».
Começa um novo MFA, partidário, aliado ao PS
(trazendo pela arreata a restante direita), cujo objectivo era instalar o
capitalismo «social-democrata» em Portugal tendo como corolário a submissão
total ao imperialismo ianque-alemão.
* * *
Em
vários pontos do país surgem manifestações orquestradas pelo PS e restante
direita contra figuras progressistas. Em Coimbra, manifestação
de católicos a 4/8 contra Vasco Gonçalves, sendo denunciadas pelo bispo prisões
arbitrárias (dos elementos fascistas do ELP) e tribunais populares (que nunca
existiram); no
Porto, contra Corvacho e Vasco Gonçalves a 28/8; ataques a Vasco Gonçalves por
Emídio Guerreiro no comício do PPD a 16/8; etc.
Os
actos de terrorismo são demasiados para os relatar todos aqui. Eis alguns: a
10/8, manifestações em Braga e Viseu com o apoio dos bispos que estavam com os
«nove verdadeiros revolucionários» acabam com ataques e incêndios a sedes do
PCP; a 11/8 o distrito de Braga é percorrido por uma onda
de violência contra sedes do PCP, com algumas incendiadas, agressões a
militantes, etc., destacando-se o envolvimento de energúmenos logisticamente
organizados e açolados por padres; no mesmo dia, diz Mário Soares no comício em
Braga: «Em Rio Maior o povo soube reagir às afrontas [...] É um exemplo que
pode ser seguido noutras regiões», defendendo também o protagonismo
provocatório dos «rapazes do MRPP»; a 17/8, um comício do PCP em Alcobaça, onde
participava Álvaro Cunhal, é interrompido por nutrido tiroteio de hostes
reaccionárias dinamizadas pela CAP e só não tem lugar um banho de sangue porque
os seguranças do PCP conseguiram, também com armas, escorraçar os assaltantes;
a 18/8 é incendiada a sede do PCP em Ponte de Lima; de 18
a 20/8 a sede do PCP de Aveiro esteve cercada e alvejada a tiro por bandos de
arruaceiros do ELP, que puderam actuar à vontade porque o QG de Coimbra e o
Copcon não mexeram uma palha; ainda a 18/8 as instalações da União dos
Sindicatos de Aveiro foram saqueadas por bandos de arruaceiros incluindo
elementos do MRPP; a 23/8 é assaltada a sede do PCP em Bragança.
A 29/8, enquanto milhares de pessoas no Porto
apoiam Corvacho, fica-se a saber que Pinheiro de Azevedo é o novo PM, escolhido
pelo CR dominado pelos Nove.
Setembro
Notícia
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Comentário
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3/9.
Carta de Mário Soares ao PR propõe a implementação de um conjunto de «condições
político-militares» e um «socialismo autogestionário».
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Ao
referir-se a «socialismo autogestionário» Soares devia estar a referir-se à colocação
de militantes, familiares e amigalhaços seus em todos os postos do Estado.
Este «socialismo autogestionário» o PS, de facto, apressou-se a implementar.
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4/9.
O PS diz em Londres que recusou formar um governo predominantemente
socialista.
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No
VI Governo Provisório, oficializado a 19 de Setembro, de 16 ministros 12
(75%) eram do PS ou pró-PS. Se isto não é «predominantemente»...
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A 3/9, Pinheiro de Azevedo da JSN, prossegue com
contactos para formar um governo que substitua o V Governo Provisório, o último
que se manteve fiel aos objectivos do 25 de Abril e que foi traído pelos Nove e
por Otelo. Vasco Gonçalves é nomeado para CEMGFA (presente envenenado de Costa
Gomes), cargo a que renuncia a 5/9.
A 5/9, tem lugar uma famosa e última Assembleia
do MFA, na Base de Tancos das tropas paraquedistas. Tratou-se de uma Assembleia
totalmente manipulada pelos Nove, que a encheram dos seus delegados escolhidos
antidemocraticamente, com os comandos do spinolista Jaime Neves de armas
aperradas, prontos para um golpe de força contra os «comunistas» se a
Assembleia não parisse os resultados desejados, e impedimentos de elementos da
esquerda militar de tomar a palavra e apresentar moções. Enfim, uma
demonstração do que a direita entende por democracia. A Assembleia oficializa o
afastamento de Vasco Gonçalves (que nela pronunciou um discurso corajoso e de
grande dignidade), consagra o domínio dos Nove, e «assina» a sua
auto-destruição.
A
Assembleia de Tancos marca o fim oficial do MFA. A partir dela começa,
oficialmente, um outro «MFA», ao serviço do PS e da direita, ao serviço da
recuperação capitalista de Portugal, sob a capa de «socialismo democrático».
* *
*
Na série «A história ignominiosa do PS» vimos
até agora:
A
fase marxista do PS (25 de Abril a 31 de Dezembro de 1974): o PS desdobra-se em
declarações marxistas e socialistas com o objectivo de obter uma larga base de
apoio proletária que lhe faltava.
A fase de duplicidade do PS (1 de
Janeiro a 25 de Abril de 1975): o PS, embora não
criticando as medidas dos governos em que participa, revela incomodidade com as
medidas socializantes e começa a propalar a tese de que os governos de Vasco
Gonçalves eram governos comunistas (apesar de ter neles participação
maioritária). Aceita entemdimentos com os spinolistas, exibindo uma posição
muito dúbia no putsch spinolista de 11
de Março.
A 1.ª fase contra-revolucionária do PS
(de 26 de Abril a 8 de Agosto de 1975): tendo obtido
votação maioritária nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25/4/1975, o
PS sente-se institucionalmente legitimado, perante a opinião pública e o MFA,
para sacudir o «rumo ao socialismo», flagelando o PCP e outras forças de
esquerda consequentes e incitando à criação da sua facção no MFA: os «Nove».
A 2.ª fase
contra-revolucionária do PS (9 de Agosto a 5 de Setembro de 1975): o PS articula
com Carlucci-CIA três vectores contra-revolucionários: o vector governamental e de propaganda
interna e externa; o vector militar (os «Nove»): o vector da actividade
terrorista.