quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A história ignominiosa do PS: de 9 de Agosto a 5 de Setembro de 1975

    Vimos (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2014/07/a-historia-ignominiosa-do-ps-de-1-de.html ) como a 8 de Agosto de 1975 o PS consegue uma vitória importante da sua ala militar: a apresentação da «Carta dos Nove». (Recordemos: quando dizemos PS referimo-nos principalmente às cúpulas do PS, em especial aqui aos dirigentes contra-revolucionários da clique de Mário Soares: Manuel Alegre, Jaime Gama, Almeida Santos, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia, António Barreto, etc; excluímos as massas trabalhadoras enganadas pela demagogia «socialista» do PS.)
    A «carta», dirigida ao PR, general Costa Gomes, e rapidamente divulgada, não era assim tão importante pelo texto em si mesmo, parido pelo ideólogo do Grupo dos Nove, Melo Antunes, embora não escondesse os seus propósitos sociais-democratas. O próprio Vasco Lourenço, também dos Nove e líder da contra-revolução dentro do MFA, impaciente pelo atrasado parto do documento, referiu-se-lhe nestes termos: «nunca mais escrituravam isso; já falámos tantas vezes nessas m...» (citado num livro de um PS orgulhoso da contra-revolução). O que interessava era sair cá para fora com qualquer coisa que catapultasse a ala pró-PS do MFA. E arrebanhasse aliados. Mesmo que à força, como nos quartéis da Região Militar Centro em que logo se iniciou a recolha de apoios em reuniões habilmente manipuladas. Às vezes não tão habilmente, como no quartel da Guarda em que o comandante disse logo preto no branco que «toca a assinar o documento» porque era preciso «correr com os comunistas».
    Os «Nove» também eram designados por «não-alinhados» e «moderados». Quanto ao não-alinhamento, toda a gente sabia que eram pró-PS e restante direita. Confirmaram-no, destruindo o MFA com o apoio de Otelo, derrubando o governo de Vasco Gonçalves e alçando ao poder o PS e restante direita. Quanto ao moderantismo, ficou mais tarde esclarecido o que entendiam por isso, quando prenderam, perseguiram e irradiaram das forças armadas toda a esquerda militar, sem qualquer culpa formada, que tinha participado destacadamente no 25 de Abril e no processo revolucionário, reintroduzindo os spinolistas e parte dos fascistas que tinham sido saneados.
    Mas a história da contra-revolução militar ficará para outra altura. Veremos então o papel dissimulado do hábil contra-revolucionário Costa Gomes, bem como do «revolucionário» Otelo, o aspirante a «Fidel da Europa», que sistematicamente apoiou a contra-revolução em todos os momentos decisivos. Veremos também como, desde o início (24/1/1975), o novo embaixador em Lisboa, Franck Carlucci, com agentes da CIA (e dos serviços secretos alemães) que na altura pulularam pelo país, contribuiu para articular a componente militar da contra-revolução liderada pelos «Nove» com a componente civil liderada pelo PS.
    No período em análise a CIA-Carlucci articulou de forma convergente, com o seu aliado PS, três vectores contra-revolucionários: o vector governamental e de propaganda interna e externa (PS às claras); o vector militar (PS por detrás dos «Nove»): o vector da actividade terrorista contra a esquerda civil, também com o apoio do PS.
    Este é o período denso do apogeu do «Verão Quente», expressão que designou as múltiplas actividades terroristas contra as forças de esquerda: assaltos e incêndios de sedes do PCP, MDP/CDE, Sindicatos e Uniões Sindicais, e, em muito menor número, da FSP (Frente Socialista Popular) e UDP; ataques armados contra comícios e sessões de esclarecimento do PCP e MDP/CDE; ataques com bombas em instalações de forças de esquerda e de Sindicatos; destruição com bombas de carros de militantes de esquerda; agressões violentas e assassinatos de trabalhadores, dirigentes sindicais, intelectuais progressistas, e militantes do PCP, MDP/CDE e UDP.
    O «Verão Quente» teve o seu início «oficial» em 13 de Julho de 1975, em Rio Maior, quando uma multidão fanatizada, encabeçada por energúmenos ao serviço da CAP, atacou as sedes do PCP e da FSP. Os energúmenos armados de mocas, quais réplicas dos broncos trauliteiros miguelistas, agrediram barbaramente militantes comunistas e outros democratas. A moca foi promovida desde essa época a «orgulhoso» símbolo do reaccionarismo caceteiro de Rio Maior. Até hoje. Quem então aplaudiu o caceteirismo bronco de Rio Maior foi Manuel Alegre do PS. Disse na visita que logo aí fez: «Esta terra tornou-se um símbolo. O nome de Rio Maior entrou na história do povo português pela liberdade e o socialismo». Nunca fomos a Rio Maior, mas a avaliar pela apreciação de Manuel Alegre deve lá reinar um socialismo de fina água. (Manuel Alegre é uma das maiores fraudes do PS, um indivíduo fátuo, poseur de esquerda, envolvido em tudo que o PS tem feito de mais reaccionário. Apesar disso, certa «esquerda», da RC ao BE, parece gostar tanto desta fraude que o apoiaram nas últimas eleições presidenciais!)
    O simples facto de ter sido levada a cabo a campanha terrorista, às claras, com conhecimento de quem eram os operacionais terroristas, e feita em larga escala, comprova, desde logo, que não existia (e nunca existiu) durante o período revolucionário um poder revolucionário capaz de defender a revolução. (O Copcon de Otelo era inoperante; quando instado porque permitia os assaltos e incêndios a sedes do PCP Otelo respondeu que não fazia mal porque o PCP tinha muitas sedes.) Como é óbvio e tem sido provado pela história, uma revolução sem um poder revolucionário, logo sem meios de se defender, está condenada desde o início a morte súbita. A revolução portuguesa foi mais uma confirmação deste axioma.
    A campanha terrorista do «Verão Quente» comprova também que o mito da «ditadura comunista» era uma gigantesca mentira criada e alimentada pelo PS com fins de propaganda interna e externa para liquidar a via socialista da revolução.
    Na campanha terrorista participaram: agrários (latifundiários do Sul e médios camponeses da zona da Estremadura, com destaque para os energúmenos da CAP de Rio Maior, Alcobaça e Bombarral; grupos organizados pelo ELP e MDLP (pides, fascistas e spinolistas) no Norte; grande parte do clero português do Norte e Centro, não só por incitamento à violência anti-comunista (lembremos aqui que o clero reaccionário da tarimba salazarista sempre designou por comunistas não só os comunistas propriamente ditos como todos os democratas incomodativos) durante as homilias, mas também participando fisicamente nas operações terroristas. Ficou famoso, neste particular, o cónego Melo de Braga; agora promovido a herói com uma estátua em Braga. Promoção feita pelo presidente da Câmara, Mesquita Machado. Do PS.
    O PS não poupou o apoio moral, e em alguns casos também físico, à campanha terrorista. O terrorismo serviu ao PS e restante direita para dois propósitos: intimidar e remeter as forças de esquerda a uma posição defensiva; propagandear interna e externamente que o «povo» rejeitava a revolução, fornecendo assim a justificação para actos de força contra a revolução, actos contra-revolucionários. Na época toda a imprensa de direita da Europa e EUA vertia lágrimas pelas coitadinhas das populações portuguesas, vítimas de uma ditadura comunista e que, espontaneamente, se revoltavam contra os comunistas. Enfim, um modus operandi velho como a história, sempre presente no saco de truques das classes exploradoras quando necessitam de defender com unhas e dentes o seu «direito» de continuar a explorar.

De 9 de Agosto a 5 de Setembro de 1975
A 2.ª fase contra-revolucionária do PS

Agosto
Notícia
Comentário
9/8. Comunicado do PS sobre a «Carta dos Nove»: «acontecimento de primeira importância».
Obviamente de «primeira importância» para o PS. Finalmente, sob a batuta de Carlucci, a contra-revolução militar surgia articulada com a contra-revolução civil.
10/8. Melo Antunes ao Nouvel Observateur: «estratégia comunista acaba de malograr-se em Portugal.»
Melo Antunes, ideólogo dos Nove, repete a tese do PS de que tudo faziam para malograr a «estratégia comunista» e instaurar em vez disso o «socialismo democrático», ou como também diziam «o verdadeiro espírito do 25 de Abril». De facto, restauraram o capitalismo monopolista e latifundiário, colocando no poder económico os mesmos capitalistas do regime anterior. Se não queriam o socialismo deviam logo tê-lo dito no 25 de Abril de 1974 e não andar a enganar o povo.
14/8. Os Nove preparam um «Programa de Acção». Em manifs e comícios em Lisboa, Porto e Portimão o PS exige a saída de Vasco Gonçalves e declara o seu apoio ao «Documento Melo Antunes».
Fica confirmado que a «Carta dos Nove» é o «Documento Melo Antunes». Afastar Vasco Gonçalves, um dos elementos mais consequentes do 25 de Abril, homem probo e sério, sempre foi um objectivo essencial do PS. Facilitado agora com a consolidação da ala contra-revolucionária do MFA liderada pelos «Nove». Nessa altura Melo Antunes chegou a ser indiciado para PM.
17/8. PS contesta a greve simbólica de meia hora, marcada pela Inter, de repúdio à violência fascista do «Verão Quente».
Imperava o terrorismo bombista e caceteiro contra tudo que fosse de esquerda. Orquestrado por PS e direita e, no terreno, a cargo de bandos fascistas e esquerdistas. Nesse mesmo dia o comicio do PCP em Alcobaça foi interrompido por tiroteio.
O PS, ao contestar a greve simbólica marcada pela Inter, revela de que lado está.
28/8. Manifestação do PS no Porto contra Corvacho e Vasco Gonçalves.
Eurico Corvacho, comandante da Região Militar Norte, oficial bem identificado com o MFA e que tinha denunciado o ELP (o elo fascista da contra-revolução onde se acoitaram ex-pides) era uma espinha atravessada nos planos soaristas. Na RMCentro estava Franco Charais, e na RMSul Pezzarat Correia, ambos pró-PS. Apadrinhados pelos «Nove» e incarnando «o verdadeiro espírito do 25 de Abril».
30/8 Mário Soares encontra-se com o PR e defende um governo de salvação nacional com PS, PPD e PCP.
O objectivo era afastar Vasco Gonçalves, o inimigo n.º 1. Para isso tudo servia, inclusive o engodo de incluir o PCP num suposto «governo de salvação nacional».

    O V Governo Provisório tomou posse a 8 de Agosto de 1975 e terminou o seu mandato a 19 de Setembro de 1975 por pressão dos militares contra-revolucionários dos «Nove» com apoio de Otelo. Presidido por Vasco Gonçalves, era composto por personalidades militares e civis prestigiadas, quase todas independentes (isto é, não militantes de partidos). Entre estas últimas, assinale-se José Teixeira Ribeiro (prestigiado Prof. Catedrático de Direito da U. Coimbra), Macaísta Malheiros (juiz, desembargador e actual Presidente da Liga Portuguesa dos Direitos Humanos), Mário Ruivo (cientista dos recursos aquáticos). O governo não tinha nenhum militante do PCP, tinha um do MDP/CDE (Pereira de Moura, católico militante) e um, Mário Murteira, pró-PS senão mesmo militante do PS (foi militante e dirigente da UEDS, um rebento secessionista do PS de 1979 a 1984, que depois se reintegrou no PS, voltando à alma mater). Era este o governo da «ditadura comunista», da «ditadura gonçalvista», berrada histericamente por PS e restante direita, com coro internacional nos media ligados ao imperialismo, por Kissinger e consortes.
    Em pouco mais de um mês os ministros do V Governo, que substituíram os PSs dos governos anteriores, fizeram mais pelo povo, pelo país, do que fizeram durante mais de um ano os socialistas de pacotilha da clique soarista, já então transpirando incompetência e fatuidade por todos os poros, já então mais preocupados em colocar familiares e amigalhaços na administração pública.
    No MFA avança agora com rapidez a contra-revolução. A 5/8 o «revolucionário» Otelo reintegra nos Comandos Jaime Neves, oficial fascista, «herói» do massacre de Wiriyamu em Moçambique. Esse «herói» tinha sido justamente saneado a 3/8 pelos militares progressistas dos Comandos. Mas, para Otelo, tudo que era progressista cheirava a PCP e tudo que cheirava a PCP era «social-fascista», de acordo com as sábias lições trotskistas bebidas do PRP-BR. Vai daí, reintregra o fascista Jaime Neves que iria ser «herói» destacado no 25 de Novembro. E para dar o toque magistral na farsa do seu «revolucionarismo», o Otelo-Copcon faz «auto-crítica revolucionária» dizendo ter sido precipitada a publicação do seu comunicado sobre os factos ocorridos nos Comandos a 31 de Julho, onde justamente se apontavam as manobras contra-revolucionárias de Neves et al. Agora sim, feita a «auto-crítica revolucionária» e com o fascista Neves (e outros do mesmo jaez) reintegrados, a revolução singrava bem. A 10/8 são suspensos do CR os nove da «Carta dos Nove» ao PR; são rapidamente reintegrados. A 12/8 alguns oficiais do Copcon propõem um «programa político» do tipo «poder popular» ao sabor esquerdista; uma iniciativa irrelevante como todas as iniciativas dos esquerdistas, cujo único móbil era atacar o PCP e seus aliados; independentemente do que PCP e aliados faziam no terreno. (A questão não reside aqui no direito de criticar fundamentadamente erros do PCP ou diferir das suas análises e propostas. Há uma enorme distância entre isso e a difamação e ataques sistemáticos ao PCP quer por dogmatismo e sem pejo de distorsão dos factos históricos, quer por opção reaccionária ou contra-revolucionária.)
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Impõe-se aqui uma reflexão sobre o papel do esquerdismo na revolução portuguesa.
    O leitmotiv dos grupelhos esquerdistas na revolução portuguesa foi sempre este: «Isso foi feito ou proposto pelo PCP? Então está mal [mesmo que com a iniciativa, apoio e implementação por largas massas de trabalhadores!]. É preciso denunciar e destruir isso; mesmo que nos tenhamos de aliar ao PS» E a denúncia era feita com berros histéricos e os mais variados e contraditórios slogans: porque era reformista; porque era estalinista; porque não era estalinista; porque era revisionista; porque era social-fascista; porque era capitalismo de estado; porque a luta contra o imperialismo soviético era mais importante que a luta contra o imperialismo americano, etc., etc. Enfim, filhotes da burguesia, ignorantes e/ou mascarados de revolucionários, em grupelhos que se multiplicaram como os cogumelos – MRPP, OCMLP, FEC-ml, AOC, PCP(r), UDP, LCI, PRP-BR, FUP, GDUPs, LST, MUT, PCP(m-l), PUP, CCRML, CARP(m-l), URML, etc. Todos, objectivamente contra-revolucionários. Muitos deles sempre aliados ao PS e presentes nas respectivas manifestações (com especial destaque para o MRPP e FEC-ml, amigos do coração do PS). Muitos manipulados pelas centrais do imperialismo. Muitos pagos pelas centrais do imperialismo (com destaque para a CIA). Todos responsáveis pela ajuda prestada à liquidação do processo revolucionário. Nenhum com rebates de consciência.
    Quase todos tiraram a máscara «revolucionária» quando a sua tarefa de destruir a revolução acabou. Basta olhar para Durão Barroso, revolucionaríssimo militante do MRPP, ou para Pacheco Pereira, grande lutador contra o capitalismo no PCP(m-l), ou ainda para Artur Albarran, ousado revolucionário do PRP, que entrou logo para comentador da TV uma vez terminada a revolução, e que, em 1997, se torna presidente do Conselho de Administração da EuroAmer, uma holding imobiliária de empresários e políticos norte-americanos, de que um membro destacado é Frank Carlucci da CIA. Coincidências! (Em 2005, com a falência da EuroAmer, Albarran seria alvo de uma investigação do Ministério Público, suspeito de branqueamento de capitais e falsificação de documentos. Ah, grande «revolucionário»!)
    Todos estes grupelhos esquerdistas tinham como base social os estudantes, alguma pequena burguesia radical de tendências anarquizantes (em que a ideia de «poder popular» se articulava as ideias basistas de não existência de partidos condutores da revolução (a não ser eles, claro; ver o que dissemos em http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2013/06/a-manif-da-apre.html ) e à não existência de qualquer Estado), e trabalhadores de colarinhos brancos (haja em vista a influência do MRPP na TAP, em particular no sindicato dos pilotos) para quem a máscara «revolucionária» servia (e serve) para esconder os propósitos elitistas.
    Muitos destes grupelhos esquerdistas, com destaque para o MRPP e UDP, promoveram greves selvagens com fins meramente provocatórios, como a dos padeiros, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, e sucessivas greves dos pilotos da TAP. Aliaram-se constantemente com o PS, em eleições para os sindicatos dos bancários, dos jornalistas, dos trabalhadores do comércio, etc., e nas listas para as associações de estudantes e para os órgãos de gestão das escolas de ensino superior; ecoando os slogans mais reaccionários do PS e as tiradas mais difamatórias do PCP.
    Muitos destes grupelhos apoiaram e participaram no terrorismo contra-revolucionário. O MRPP descreveu a violência no Norte como «uma revolta camponesa contra o social-fascismo». Quando os militantes do PCP defenderam a sua sede em Leiria isso foi descrito pelo MRPP como «os sociais-fascistas a abater camponeses».
    É sabido que a CIA financiou grupos maoístas por todo o mundo. Várias fontes concordam em que Franck Carlucci, embaixador dos EUA em Portugal e agente da CIA, financiou e manipulou o MRPP (ver p. ex. http://www.humanite.fr/blogs/commission-europeenne-barroso-et-juncker-anciens-maoiste-et-trotskiste-reperes-par-la-cia#sthash.JnyoR1RR.dpuf). E não se trata apenas de fontes comunistas ou de esquerda. Vale a pena ouvir o que diz François Asselineau do partido da direita francesa Union Populaire Republicaine, sobre como Carlucci descobriu no MRPP o talento de Barroso e o orientou na adesão ao PPD; a CIA depois financiou-o em estudos nos EUA e apoiou-o na ascenção na UE : Qui gouverne réellement la France et l'Europe: https://www.youtube.com/watch?v=Bb8dB7d3BdE. Neste longo discurso a parte importante é a partir de 2h 35 min. (Uma outra revelação é a de que Jean-Claude Juncker, protector ardoroso do paraíso fiscal do Luxemburgo, e apoiado pelo NSA num escândalo de espionagem, era um elemento de um grupelho trotskista. Um ex-esquerdista ciático substituiu outro ex-esquerdista ciático na presidência da CE.)
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    A traição a Vasco Gonçalves acentua-se. A 24/8 Otelo dá mais uma facada na revolução aconselhando-o numa carta, logo divulgada, a resignar. Além disso, proíbe-lhe a entrada nas unidades do Copcon! Enquanto dava facadas na revolução, Otelo, num tom patético, diz a 22/8 aos jornalistas que «andamos [ele, o ideólogo, claro] à procura de uma linha ideológica para o MFA»!
    Um dos alvos principais da contra-revolução militar era a famosa 5.ª Divisão da CEMGFA, criada a 18 de Julho de 1974 com o objectivo de difusão e propaganda do ideário do MFA -- relembremos o Programa do MFA: «a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das camadas da população até agora mais desfavorecidas, [...] o que necessariamente implicará uma estratégia antimonopolista» e «b) Uma nova política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes trabalhadoras» --, tendo a seu cargo os assuntos de natureza político-militar. Constituía um baluarte coeso de oficiais honestos e dedicados à revolução portuguesa, uma importante secção do que se convencionou chamar de «esquerda militar». A 5.ª Divisão ajudou a resolver muitos problemas levantados pelas populações e levou a cabo «campanhas de dinamização cultural», nomeadamente em zonas rurais e suburbanas, as quais, para além de actividades culturais, incluíam sessões de esclarecimento sobre o que se passava no país, sobre o que era a democracia e o socialismo (lembremos que as populações vinham de uma situação de profunda ignorância, fruto de quase meio século de fascismo), e sobre outras questões (como realizar assembleias, como iria decorrer o processo eleitoral, etc.). O PS e restante direita cedo revelaram um enorme medo por tudo que contribuísse para dissipar a ignorância política das populações. Na realidade, e da nossa própria experiência, podemos afirmar que deparámos com o boicote sistemático do PS às «campanhas de dinamização cultural», enquanto de figuras locais do PPD encontrámos, muitas vezes, receptividade. O PS (e restante direita na sua esteira) vieram a propalar desde o «Verão Quente» o mito, que mantêm até hoje, de que as «campanhas de dinamização cultural» se destinavam a difundir o «comunismo». Se isso fosse verdade custa a entender como é que o PCP não teve muito maior votação, apesar do elevadíssimo número de campanhas da 5.ª Divisão. De facto, tal afirmação não é verdadeira. É inteiramente falsa. O apartidarismo das campanhas era escrupulosamente observado. Naquelas em que participámos ia quase sempre o comandante da nossa Unidade, homem honesto, que nas suas perorações e esclarecimentos pouco se afastava do que diziam os oficiais da 5.ª Divisão. Este comandante era do PPD.
    As razões do ódio da direita à 5.ª Divisão eram: a) o contributo que dava à dissipação da ignorância das populações; b) a publicação do «Boletim do MFA», segundo nós uma das mais lúcidas publicações da época, que circulava principalmente nas unidades das forças armadas, e que em termos simples, factuais e muito claros denunciava as manobras da contra-revolução militar (e, em menor detalhe, também da civil); c) o ser constituído por um corpo coeso de oficiais honestos e de ideias políticas claras a favor da revolução que, pela sua participação nas Assembleias do MFA (e outros órgãos), muito incomodavam os planeadores da contra-revolução; d) o terem tido uma contribuição decisiva no derrube do putsch spinolista do 11 de Março, algo que a reacção não podia perdoar.
    A 5.ª Divisão tornou-se o alvo principal a abater por parte dos militares contra-revolucionários (spinolistas, «moderados» do Grupo dos Nove, etc.).
    A 25/8, unidades do Copcon (mas não seguidoras de Otelo) afirmam recusar o documento dos Nove. Em retaliação, o CR manda suspender no dia seguinte as actividades da 5.ª Divisão. A 28/8, militares do Copcon, a mando de Otelo (o grande «revolucionário» mais uma vez em acção), assaltam com grande aparato bélico as instalações da 5-ª Divisão e encerram-nas! Não estava lá na altura quase ninguém. E também não encontraram as armas com que supostamente os «comunistas» da 5.ª Divisão estariam armados até aos dentes. Otelo veio depois, mentirosamente e sem qualquer vergonha na cara, declarar que a ocupação da 5.ª Divisão se tinha efectuado «por haver ameaças de assalto [da direita]» à 5.ª Divisão! O assalto bélico do Copcon-Otelo às modestas instalações quase vazias da 5.ª Divisão do CEMGFA foi o maior acto «revolucionário» que a história registará da actividade de protecção à revolução levada a cabo pelo Copcon-Otelo! Debalde procuraríamos nos arquivos históricos testemunhos factuais da defesa da revolução contra a violência spinolista-fascista por parte do Copcon-Otelo. Mas o assalto bélico às instalações da 5.ª Divisão, esse sim, consta.
    Com o fim da 5.ª Divisão em 28 de Agosto de 1975 termina o MFA apartidário, aliado ao povo, tendo como objectivos «a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das camadas da população até agora mais desfavorecidas, [...] «b) Uma nova política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa dos interesses das classes trabalhadoras».
    Começa um novo MFA, partidário, aliado ao PS (trazendo pela arreata a restante direita), cujo objectivo era instalar o capitalismo «social-democrata» em Portugal tendo como corolário a submissão total ao imperialismo ianque-alemão.
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    Em vários pontos do país surgem manifestações orquestradas pelo PS e restante direita contra figuras progressistas. Em Coimbra, manifestação de católicos a 4/8 contra Vasco Gonçalves, sendo denunciadas pelo bispo prisões arbitrárias (dos elementos fascistas do ELP) e tribunais populares (que nunca existiram); no Porto, contra Corvacho e Vasco Gonçalves a 28/8; ataques a Vasco Gonçalves por Emídio Guerreiro no comício do PPD a 16/8; etc.
    Os actos de terrorismo são demasiados para os relatar todos aqui. Eis alguns: a 10/8, manifestações em Braga e Viseu com o apoio dos bispos que estavam com os «nove verdadeiros revolucionários» acabam com ataques e incêndios a sedes do PCP; a 11/8 o distrito de Braga é percorrido por uma onda de violência contra sedes do PCP, com algumas incendiadas, agressões a militantes, etc., destacando-se o envolvimento de energúmenos logisticamente organizados e açolados por padres; no mesmo dia, diz Mário Soares no comício em Braga: «Em Rio Maior o povo soube reagir às afrontas [...] É um exemplo que pode ser seguido noutras regiões», defendendo também o protagonismo provocatório dos «rapazes do MRPP»; a 17/8, um comício do PCP em Alcobaça, onde participava Álvaro Cunhal, é interrompido por nutrido tiroteio de hostes reaccionárias dinamizadas pela CAP e só não tem lugar um banho de sangue porque os seguranças do PCP conseguiram, também com armas, escorraçar os assaltantes; a 18/8 é incendiada a sede do PCP em Ponte de Lima; de 18 a 20/8 a sede do PCP de Aveiro esteve cercada e alvejada a tiro por bandos de arruaceiros do ELP, que puderam actuar à vontade porque o QG de Coimbra e o Copcon não mexeram uma palha; ainda a 18/8 as instalações da União dos Sindicatos de Aveiro foram saqueadas por bandos de arruaceiros incluindo elementos do MRPP; a 23/8 é assaltada a sede do PCP em Bragança.
    A 29/8, enquanto milhares de pessoas no Porto apoiam Corvacho, fica-se a saber que Pinheiro de Azevedo é o novo PM, escolhido pelo CR dominado pelos Nove.

Setembro
Notícia
Comentário
3/9. Carta de Mário Soares ao PR propõe a implementação de um conjunto de «condições político-militares» e um «socialismo autogestionário».
Ao referir-se a «socialismo autogestionário» Soares devia estar a referir-se à colocação de militantes, familiares e amigalhaços seus em todos os postos do Estado. Este «socialismo autogestionário» o PS, de facto, apressou-se a implementar.
4/9. O PS diz em Londres que recusou formar um governo predominantemente socialista.
No VI Governo Provisório, oficializado a 19 de Setembro, de 16 ministros 12 (75%) eram do PS ou pró-PS. Se isto não é «predominantemente»...

    A 3/9, Pinheiro de Azevedo da JSN, prossegue com contactos para formar um governo que substitua o V Governo Provisório, o último que se manteve fiel aos objectivos do 25 de Abril e que foi traído pelos Nove e por Otelo. Vasco Gonçalves é nomeado para CEMGFA (presente envenenado de Costa Gomes), cargo a que renuncia a 5/9.
    A 5/9, tem lugar uma famosa e última Assembleia do MFA, na Base de Tancos das tropas paraquedistas. Tratou-se de uma Assembleia totalmente manipulada pelos Nove, que a encheram dos seus delegados escolhidos antidemocraticamente, com os comandos do spinolista Jaime Neves de armas aperradas, prontos para um golpe de força contra os «comunistas» se a Assembleia não parisse os resultados desejados, e impedimentos de elementos da esquerda militar de tomar a palavra e apresentar moções. Enfim, uma demonstração do que a direita entende por democracia. A Assembleia oficializa o afastamento de Vasco Gonçalves (que nela pronunciou um discurso corajoso e de grande dignidade), consagra o domínio dos Nove, e «assina» a sua auto-destruição.
    A Assembleia de Tancos marca o fim oficial do MFA. A partir dela começa, oficialmente, um outro «MFA», ao serviço do PS e da direita, ao serviço da recuperação capitalista de Portugal, sob a capa de «socialismo democrático».
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Na série «A história ignominiosa do PS» vimos até agora:
   
A fase marxista do PS (25 de Abril a 31 de Dezembro de 1974): o PS desdobra-se em declarações marxistas e socialistas com o objectivo de obter uma larga base de apoio proletária que lhe faltava.
A fase de duplicidade do PS (1 de Janeiro a 25 de Abril de 1975): o PS, embora não criticando as medidas dos governos em que participa, revela incomodidade com as medidas socializantes e começa a propalar a tese de que os governos de Vasco Gonçalves eram governos comunistas (apesar de ter neles participação maioritária). Aceita entemdimentos com os spinolistas, exibindo uma posição muito dúbia no putsch spinolista de 11 de Março.
A 1.ª fase contra-revolucionária do PS (de 26 de Abril a 8 de Agosto de 1975): tendo obtido votação maioritária nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25/4/1975, o PS sente-se institucionalmente legitimado, perante a opinião pública e o MFA, para sacudir o «rumo ao socialismo», flagelando o PCP e outras forças de esquerda consequentes e incitando à criação da sua facção no MFA: os «Nove».
A 2.ª fase contra-revolucionária do PS (9 de Agosto a 5 de Setembro de 1975): o PS articula com Carlucci-CIA três vectores contra-revolucionários: o vector governamental e de propaganda interna e externa; o vector militar (os «Nove»): o vector da actividade terrorista.