A
queda do atroz regime
dos khmers vermelhos, em 1979, revelou um dos piores genocídios do século XX. Os
media «ocidentais» divulgaram, e bem,
em maior ou menor grau, as terríveis imagens desse genocídio. Aproveitaram, contudo,
para incutir a ideia de que era só mais uma matança levada a cabo por
comunistas. «Esqueceram-se» de dizer que:
- A ideologia dos khmers
vermelhos nada tinha de comunista, embora se chamassem a si próprios
comunistas;
- O genocídio
praticado pelos khmers vermelhos, que roubou a vida a mais de dois milhões de
pessoas, foi antecedido pelo genocídio praticado pelos americanos que roubou a
vida a entre 500 mil a 750 mil pessoas. De facto, este último foi causa próxima
do primeiro;
- O fim do genocídio,
a libertação do Camboja do pesadelo dos khmers vermelhos, deveu-se,
essencialmente, à intervenção dos comunistas vietnamitas;
- Após a libertação do
Camboja os governos dos EUA e do Reino Unido foram, juntamente com a
China, grandes apoiantes dos «comunistas» khmers vermelhos. Apoiantes dos
assassinos em todos os âmbitos: militar, económico e diplomático.
É sobre estas questões importantes da tragédia cambojana – questões
que os media «ocidentais» sempre esconderam
do cidadão comum – que nos iremos debruçar.
A ideologia dos khmers
vermelhos
Comecemos por lembrar que desde os trabalhos de Marx e
Engels os comunistas têm colocado como objectivo político essencial o
desenvolvimento da actividade produtiva, particularmente da produção industrial,
com vista ao maior bem-estar da sociedade como um todo (não só para alguns).
Friedrich Engels dizia assim, já em 1847 (ênfase nosso): «Pelo facto de a sociedade retirar das mãos dos
capitalistas privados o usufruto de todas as forças produtivas e meios de
comunicação, [...] serão eliminadas, antes do mais, todas as consequências
nefastas que agora ainda se encontram ligadas à exploração da grande indústria.
As crises desaparecerão; a produção alargada que, para a ordem actual da
sociedade, é uma sobreprodução e uma causa tão poderosa da miséria, já não será
então suficiente e terá de ser alargada ainda muito mais. Em vez de ocasionar a
miséria, a sobreprodução assegurará, para além das necessidades imediatas da
sociedade, a satisfação das necessidades de todos, e criará novas necessidades
e, ao mesmo tempo, os meios para as satisfazer.» ([1]).
A afirmação de Engels não era uma simples ideia «caída do céu aos
trambolhões». Era fruto de muito trabalho de análise histórica e económica;
análise comparativa e evolutiva das diversas formações socio-económicas desde
os alvores da humanidade: comunismo primitivo (comunidades tribais) -->
esclavagismo --> feudalismo --> capitalismo --> socialismo. O
socialismo (e o comunismo como fase avançada do socialismo) tal como o
conceberam Marx, Engels, Lenine e outros, surge, assim, como uma culminação progressista. Os comunistas (e não só) querem
andar para a frente nessa evolução,
no sentido do progresso. Os reaccionários querem andar para trás.
(Assinale-se que os comunistas «querem andar» e, sempre que podem,
andam: a URSS deu o maior salto registado na História, na produção material e
científica, e nas condições de vida dos trabalhadores, em poucos anos. Pelo
contrário, com o regresso ao capitalismo em 1990, a Rússia regrediu. Outros
exemplos se podem apontar de progresso real
do socialismo face ao capitalismo.)
Voltemos aos khmers vermelhos. Em que direcção queriam andar e andaram
os seus dirigentes?
Pol Pot, Khieu Sampan e Ieng
Sary ([2]) foram os dirigentes máximos dos khmers vermelhos.
Encontraram-se em Paris e fundaram em 1951 um círculo marxista de estudantes khmer.
Quando, mais tarde, regressaram ao seu país, fundaram o Partido Comunista do Kampuchea
(PCK). O círculo marxista era, de facto, um círculo maoísta; Pol Pot sempre se afirmou
como admirador de Mao Tsé-Tung.
Conforme é amplamente
demonstrado por declarações e actos dos dirigentes a ideologia dos khmers vermelhos
era uma mistura eclética que combinava elementos (de facto, frases soltas) do
marxismo, com nacionalismo extremo e xenofobia.
Na vertente política, defendiam
uma sociedade puramente agrária, «anti-industrialista», como a do
comunismo primitivo. Para os khmers
vermelhos o ideal social eram as tribos das
montanhas cambojanas que se encontravam nesse estado. Queriam regredir a esse
«[ideal] de uma sociedade totalmente comunista sem perder tempo com etapas
intermédias», conforme Pol Pot afirmou aos chineses em 1975.
Na vertente nacionalista,
idealizavam o Império Angkor e consideravam-se «arianos entre os asiáticos»,
superiores aos vietnamitas e chineses.
Como se vê, a ideologia do PCK era uma salgalhada extremamente
reaccionária; logo, absolutamente anti-comunista.
Quando os khmers vermelhos
tomaram o poder em 1975 deram, de imediato, início à criação da «sociedade
comunista»; de repente, sem passar por «etapas intermédias», à boa maneira
voluntarista do «comunismo» maoísta. Instauraram em 1975 -- que declararam ser
o «Ano Zero» -- uma sociedade sem classes. Isto é, uma sociedade em que todos
teriam de ser camponeses, praticando uma agricultura de subsistência como as
tribos nordestinas, o ideal de referência dos khmers vermelhos. Nesse imenso salto
para trás na História, o maior salto reaccionário que a História regista, os khmers vermelhos foram consequentes ([3]):
- Fecharam e/ou destruiram fábricas, bancos, hospitais,
escolas e universidades;
- Removeram em massa as populações das cidades (consideradas
corrompidas pelo capitalismo) para os campos;
- Acabaram com todos que tinham educação superior (médicos,
engenheiros, professores, juristas, etc.), obrigando-os a trabalhos forçados ou
liquidando-os fisicamente em campos de extermínio; o ódio dos khmers vermelhos
pelos intelectuais era profundo – os únicos intelectuais possíveis, porque
detentores da «verdade», eram os líderes;
- Profissionais e operários qualificados, considerados uma
permanente ameaça ao regime, tiveram sorte idêntica à dos intelectuais;
- Ieng Sary, por exemplo, «via conspirações e traidores em
todo o lado. Conduzia sessões de denúncia que redundavam em histeria colectiva.
Jovens esposas denunciavam os maridos sem evidências, crianças denunciavam os
pais. Todos os filhos de trabalhadores eram [considerados] revisionistas e
membros do KGB soviético.» ([4]);
- Proibiram tudo que destoasse do comunismo primitivo:
dinheiro, música, rádios, televisão, maquinaria, tecnologia;
- Baniram a religião, a liberdade de escolha de cônjuge, a
liberdade de circulação, todos os direitos civis e a liberdade de falar
qualquer idioma que não fosse o cambojano.
Nesta parafernália de extremo reaccionarismo – onde não
faltou retirar as crianças aos pais logo que atingiam sete anos de idade, a
imposição da indumentária diária e de refeições comunais – os «comunistas» khmers vermelhos foram muito mais longe
que os mais radicais talibãs.
No seu delírio xenófobo os khmers vermelhos
perseguiram chineses e vietnamitas, levando a cabo campanhas de limpeza étnica.
Eis uma peroração de um quadro khmer
vermelho a uma multidão ([5];
tradução nossa): «Como sabem, durante o regime de Lon Nol os chineses eram os
parasitas da nação. Eles aldrabavam o governo. Faziam dinheiro à custa dos
camponeses cambojanos… Agora o Alto Comité Revolucionário quer separar os
infiltradores chineses dos cambojanos, para ver que truques têm na manga. A
população de cada povoado será separada num sector chinês, num vietnamita e num
cambojano. Portanto, se não sois cambojano, levantai-vos e abandonai o grupo.
Lembrai-vos que os chineses e vietnamitas têm uma aparência totalmente distinta
dos cambojanos».
Os primórdios dos khmers
vermelhos
Os khmers vermelhos
iniciaram actividades guerrilheiras, em meados dos anos sessenta, entre
pequenas tribos de montanheses habitando as florestas do nordeste cambojano, nas
províncias limítrofes de Ratanakiri, Mondolkiri, Stung Treng, e Kratie. Segundo
[6] os núcleos iniciais de Pol Pot e Ieng Sary engrossaram com opositores ao
governo de Sihanouk, beneficiando do ressentimento das tribos com medidas
governamentais (p. ex., deslocações forçadas impostas pelos plantadores de
borracha).
O principal apoio internacional dos khmers vermelhos provinha da China (armas e munições) e,
moderadamente, do Vietname do Norte (RDV-República Democrática do Vietname). O
«comunismo agrário» do PCK era ideologicamente próximo do maoísmo e, além disso
e mais do que isso, convinha à China ter um contrapeso «à mão» contra os
comunistas vietnamitas, cujo aliado principal era a URSS. Recordemos que em
1972 a China abriu as portas aos americanos (visita de Nixon), que ficaram
satisfeitíssimos pelas oportunidades de negócio oferecidas e por terem
encontrado um inesperado aliado contra a URSS (no âmbito da dissensão
sino-soviética). Isso não impediu, porém, que em várias épocas os khmers vermelhos recebessem apoio dos
comunistas vietnamitas. Aliás, os khmers
vermelhos procuraram mesmo obter apoio da URSS no que não tiveram êxito.
(O artigo [7] explica as complexidades da política regional.)
As tribos que acolheram os khmers vermelhos estavam num
estado primitivo. Segundo um testemunho de 1978 do próprio Pol Pot os montanheses
eram «indivíduos completamente analfabetos sem a menor ideia de cidades,
automóveis e parlamento». Várias entrevistas de montanheses recrutados para a
guerrilha no período de 1964 a 1970 (apresentadas em [6]), são reveladoras do
«trabalho ideológico» dos khmers
vermelhos, combinando noções simplistas e a coerção aterrorizadora:
- «No início as pessoas estavam muito interessadas na
ideologia de Pol Pot [...] Sabíamos que os khmers vermelhos queriam construir
uma sociedade forte e substituiriam os líderes que actuassem mal»;
- «Ieng Sary era nessa época o grande chefe em Ratanakiri.
Conhecíamo-lo como "Van". Era um homem grande, alto como um “barang”
[francês]. Caminhava como um “barang”. Ele instou-nos a opormo-nos aos Estados Unidos
e a fazer uma revolução contra os que invadissem o Kampuchea. Eu só conhecia a
cara dele, não me podia aproximar dele. Eu era uma pessoa miúda, uma pessoa
vulgar, e ele era o líder. Nessa altura ninguém ousava falar a Ieng Sary. Tínhamos
medo dos líderes.»;
- «falaram-nos na luta dos pobres contra os ricos.
Disseram-nos que iriam ganhar a guerra e ocupar todo o país. Acreditámos
neles.»;
- «Gostar ou não gostar [dos khmers vermelhos]… é irrelevante. Receávamos que nos matassem. É
complicado. Levavam-nos com eles e não nos davam comida suficiente. Víamos um
ou dois abatidos por dizerem qualquer coisa errada, ou por se oporem a eles.
Vemos uma pessoa abatida e então não nos atrevemos a dizer nada. Mantemo-nos
calados e cumprimos ordens».
Alguns elementos tribais eram promovidos:
- «No povoado chamavam uma pessoa para uma reunião. Era o Tnak
Loeu (Nível Superior); mas ninguém sabia onde a pessoa ia, ou sobre o que era a
reunião. [...] Todas as ordens do Tnak Loeu vinham de uma ou duas pessoas que
tinham ido às reuniões. A tribo fazia o que lhe pediam, sem realmente pensar.
Se, por exemplo, nos pedissem para fazer 500 estacas afiadas de bambu por dia e
por pessoa, nós fazíamo-las sem argumentar, sem perguntar qual a finalidade»;
- «Foi a mim que chamaram ao “posto”. Chamavam quem
confiavam [...] De volta ao povoado ensinei os aldeões como fazer estacas
afiadas de bambu e balestras para defender o povoado, e também lhes expliquei
sobre a luta de classes. As pessoas sentavam-se à minha volta à noite e ouviam-me».
Seria interessante conhecermos como é que um elemento tribal
explicava a «luta de classes»!
De vez em quando os chefes organizavam conferências. Em 1964
Ieng Sary organizou uma durante três dias para várias centenas de pessoas. Em
1967 Pol Pot organizou uma reunião durante um mês para 50 líderes dos
montanheses. Um deles disse mais tarde: «As nossas impressões de Pol Pot eram
muito boas. O povo adorava-o. Ele viveria e morreria com o povo. Ele
comportava-se muito bem. Ninguém pensava que as coisas se tornassem como se
tornaram.» O «comunismo» dos chefes era muito relativo. Pol Pot e Ieng Sary não
eram quaisquer Che Guevara compartilhando as mesmas dificuldades dos seus
camaradas. Eles e suas mulheres eram transportados em padiolas através das florestas.
Eis um testemunho: «Transportámos Pol Pot porque ele era um grande homem. Ele
deitava-se na padiola e não caminhava. Mais de 10 ou 20 pessoas por dia
transportavam-no montanha acima e abaixo. Quando o transportavam, se o roçavam
contra um ramo eles batiam no carregador.». Um outro testemunho no mesmo
sentido é reportado em [6].
A força dos khmers vermelhos até 1974 foi
sempre muito reduzida. Num recontro
dos guerrilheiros contra forças governamentais de Sihanouk, em 1969, Pol Pot afirmou
na altura que as suas forças eram de 150 homens mas que só menos de metade
podiam lutar porque os outros não tinham armas ([8]). Isso não impediu Pol Pot
de dizer que tinha havido uma grande vitória contra 18 batalhões (!) e, mais
tarde, em 1977, quando os khmers vermelhos estavam no poder, apresentar o recontro como
um evento glorioso da «guerra popular» dos anos sessenta. Outro estudo ([7])
também reconhece que no período de 1968-1970 as operações dos khmers vermelhos contra as forças governamentais falharam, com perdas elevadas, sem a
«mínima esperança de chegar ao poder».
Muitos dos elementos tribais que constituíram o
«proletariado» de Pol Pot nada lucraram com isso. Apesar da retórica de Pol Pot
o modo de vida tradicional das tribos foi destruído quando os khmers vermelhos tomaram o poder ([9]). Muitos
deles também acabaram torturados e/ou executados na sinistra prisão de Tuol
Sleng em Phnom Pehn.
Lon Nol e o genocídio
praticado pelos EUA
A postura dúbia de Sihanouk face à guerra movida pelo
imperialismo ianque contra as forças patrióticas dos comunistas vietnamitas, valeu-lhe
a remoção do poder num golpe de estado orquestrado pela CIA em Março de 1970 ([10]).
Foi substituído pelo reaccionário general Lon Nol, uma marionete da
administração americana.
Em menos de dois meses o Camboja foi invadido por uma força
de 30.000 soldados americanos e 40.000 sul-vietnamitas. Depois de alguns
ataques a bases guerrilheiras efectuados pelos americanos com helicópteros, os conselheiros
militares americanos pressionaram Lon Nol a retirar todas as forças militares
das províncias nordestinas ([6]). Os americanos desejavam flagelar com
bombardeamentos as rotas cambojanas de abastecimento do vietcong procurando
fazer de Phnom Penh um baluarte militar com essa finalidade. Eram as vias de abastecimento
do vietcong que preocupavam os EUA; não as diminutas forças dos khmers vermelhos.
A retirada das forças governamentais (9.000 soldados) das
províncias nordestinas beneficiou os khmers
vermelhos, cujos dirigentes se apressaram a declarar as quatro
províncias como «zona libertada». Por outro lado, Sihanouk e seus seguidores,
na sua oposição a Lon Nol, aliaram-se aos khmers vermelhos (!) o que aumentou a projecção internacional destes
([11]).
Em Março de 1970 as forças de Pol Pot eram ainda reduzidas e
o seu apoio popular muito limitado. Entretanto, os bombardeamentos americanos
que decorreram de 1970 até 1974, iniciados por iniciativa de Richard Nixon e do
seu conselheiro Henry Kissinger (o mesmo que incitou em 1975 à invasão de
Timor-Leste pela Indonésia), continuados por Gerald Ford, causaram tal
devastação que contribuiram para um enorme aumento das forças de Pol Pot.
Documentos vindos a público assim o comprovam, como por exemplo este do
director de operações da CIA datado de 1973 ([12]): «Estão [os khmers
vermelhos] a usar a destruição causada pelos ataques dos B52 como tema
principal da sua propaganda. Esta abordagem tem resultado num recrutamento bem
sucedido de jovens. Os residentes dizem que a campanha de propaganda tem sido
eficaz nas áreas de refugiados sujeitas aos ataques dos B52».
Na realidade, o efeito da «propaganda» era óbvio. Durante
quatro anos os bombardeiros B52 despejaram bombas de napalm e de fragmentação que
causaram uma vastíssima destruição, causando a morte de 750.000 cambojanos
segundo a própria revista Time ([13]). Só num período de seis meses de 1973 os raids dos B52 largaram mais toneladas de
bombas do que no Japão durante toda a segunda guerra mundial: o equivalente a
cinco Hiroshimas ([14]). O regime de Richard Nixon e Henry Kissinger fez isso secreta e ilegalmente. Em
completo desespero um enorme número de cambojanos correu para os khmers
vermelhos. De repente, em 1975, as forças de Pol Pot contavam já com 700.000
homens! Por outro lado, ao fazerem do Camboja um segundo campo de batalha do
Vietname, os americanos levaram, naturalmente, Hanói a oferecer ajuda a Pol Pot
em 1974 ([7]).
O genocídio praticado
pelos khmers vermelhos
Em 1975 os khmers
vermelhos capturaram Phnom Pehn e declararam o «Ano Zero». Evacuaram a
população da cidade (dois milhões e meio de habitantes) concentrando-a em
campos de internamento. Repetiram este procedimento em todas as cidades ([6]).
O país fechou-se totalmente ao exterior, tornando muito difícil saber o que se
passava no seu interior.
Torturas, execuções sumárias, mortes por exaustão e maus
tratos em campos de trabalho forçado -- os «campos da morte» --, tornaram-se
prática corrente na «República Democrática do Kampuchea» (RDK) totalmente
controlada pelos khmers vermelhos.
Este genocídio que custou a vida a dois milhões de pessoas (um quinto da
população) foi já descrito pormenorizadamente em muitas publicações. Em 2004
foi apresentado um filme-documentário sobre o genocídio. O jornal The Guardian publicou um artigo de muito
interesse sobre o filme ([14]), da autoria do jornalista independente John
Pilger ([15]), o primeiro repórter ocidental a visitar Phnom Pehn depois da sua
libertação em 1979 e a revelar ao mundo a verdadeira dimensão dos khmers vermelhos e, mais tarde, as
cumplicidades dos imperialistas.
E os comunistas
vietnamitas? Não conheciam o que se passava? Apenas muito parcialmente. Na
primeira metade de 1976 teve lugar a última reunião entre as autoridades do
novo Vietname e dos khmers vermelhos; concretamente, uma reunião entre
Le Duan (Secretário-Geral do Partido Comunista do Vietname) e Pol Pot. Um alto
funcionário da RDV revelou em 1978 ao embaixador soviético em Hanói que,
enquanto Pol Pot falava em amizade, Le Duan denominou o regime da RDK de
«comunismo de escravidão» ([7]). A reunião, como era de esperar, não teve
consequências. Continuaram, porém, a subsistir dúvidas em Hanói sobre o rumo da
RDK, até porque nessa altura (1976) surgiram clivagens entre os dirigentes da
RDK de que acabou por sair vencedor Pol Pot ([16]). A partir de meados de 1976
Hanói deixou de ter informações precisas sobre a RDK.
Os bons amigos dos khmers
vermelhos
Na Primavera de 1977 os khmers vermelhos, por sua iniciativa (e provável incitamento dos chineses),
lançaram-se numa guerra de fronteiras contra o Vietname na qual mataram
milhares de vietnamitas. Os vietnamitas aperceberam-se de que pessoal militar
chinês apoiava o treino e armamento dos khmers
vermelhos e construía estradas e bases militares. Refugiados do Camboja
começaram a afluir ao Vietname e ao Laos com sinistras notícias. De Dezembro de
1977 a Janeiro de 1978 as tropas vietnamitas destruíram unidades khmers,
retirando-se rapidamente do território cambojano. Milhares de refugiados
aproveitaram para fugir com as tropas vietnamitas ([7]). Em Abril de 1978
constituiu-se no Vietname a primeira brigada cambojana anti-Pol Pot. Em Dezembro
de 1978 os vários grupos de dissidentes e refugiados cambojanos constituíram a
Frente Unida de Salvação Nacional do Kampuchea (FUSNK) e, mais tarde, o Partido
Revolucionário do Povo.
Depois de algumas
hesitações (ver [7]) e perante a continuação das incursões dos khmers vermelhos,
as forças do Vietname, juntamente com a pequena força da FUSNK, tomaram Phnom
Pehn em Janeiro de 1979. A derrota dos khmers vermelhos em todo o
território foi rápida, dada a falta de
apoio popular. As forças de Pol Pot refugiaram-se na Tailândia (25.000 mil homens). A FUSNK declarou logo uma série de medidas de
encontro aos desejos populares, entre as quais o retorno dos monjes budistas e
a constituição de comités populares de administração local. O pesadelo genocida
dos khmers vermelhos terminava. Em breve era constituído um governo de
cambojanos com uma linha de actuação progressista, encabeçado por Heng
Samrin, um antigo dissidente dos khmers vermelhos.
Quem não ficou nada satisfeita com o fim do genocídio foi a
China e foram os imperialistas americanos e o seu apêndice britânico. É curioso
ver como uma fonte simpática para os EUA, como a wikipedia (versão inglesa), explica isso: «Um regime genocida tinha
terminado, mas para a China -- que tinha sistematicamente apoiado a RDK – e [para]
os EUA -- desejosos de encontrar vias de se desforrarem do Vietname pela sua
derrota humilhante na Guerra do Vietname -- bem como para outras potências
importantes, a rápida derrota dos khmers vermelhos marcou o início do “problema
cambojano”».
De facto, quem criou o «problema cambojano» foram os EUA,
China e Reino Unido. Não se tratou para os EUA de uma simples desforra de um
jogo -- afirmar isso é o cúmulo do disparate político. As razões dos EUA eram
materiais e objectivas: não deixar escapar um peão alvo de interesses
neocolonialistas e que poderia constituir mais um «mau exemplo» de
independência, logo de contágio, na região. Para a China também não se tratou
de um simples amuo por ver a RDK desaparecer; tratou-se, sim, de que a China também
tinha apetites imperialistas (tem vindo a saciá-los em várias partes do mundo,
nomeadamente em África) e, como assinalámos acima, convinha-lhe na altura um
Camboja maoísta como mais uma demonstração do «amor» do maoísmo pelos países do
Terceiro Mundo; uma demonstração e um contrapeso à política independente do
Vietname. Finalmente, a designação eufemística «problema cambojano» destinava-se
a deitar poeira aos olhos. Não era um mero «problema» com que China-EUA-Reino
Unido se tinham deparado, para sua surpresa. Muito pelo contrário. O «problema»
era, única e concretamente, a política premeditada
de agressão da Santa Aliança China-EUA-Reino Unido que, no seu ódio ao desenvolvimento independente de um povo,
não se coibia de apoiar genocidas.
A Santa Aliança procurou apresentar a sua preocupção com o
«problema» como sendo devida ao facto de os vietnamitas terem «invadido» e
permanecido no Camboja. Mas testemunhos de variadas correntes de pensamento são
unânimes em apresentar a satisfação dos cambojanos pelo fim do genocídio
proporcionado pelas tropas vietnamitas. É certo que o povo receou inicialmente
os vietnamitas; os khmers vermelhos tinham passado anos a convencer o povo de que
os vietnamitas eram o diabo. A livre constituição e funcionamento dos seus
próprios órgãos de governo removeu esse temor. Ainda hoje as autoridades
cambojanas homenageiam os vietnamitas que deram a vida para libertá-los do
genocídio (ver, p. ex., [17]). Homenageiam também Heng Samrin de quem a Santa
Aliança disse o pior possível (ver, p. ex., [18]).
Eis, por outro lado, uma breve resenha das actividades
reaccionárias da Santa Aliança ([19-23]). Repare-se na hipocrisia e falta de
escrúpulos:
- Declaração de Zbigniew Brzezinski, assessor de Nixon:
«Encorajei os chineses a apoiar Pol Pot… Pol Pot era uma abominação. Nunca o
poderíamos apoiar, mas a China podia.» De facto, Brzezinski mentiu: os EUA podiam
e puderam. Os EUA (Carter e Reagan) impuseram que a representação do Camboja na
ONU continuasse a ser ocupada por muitos anos pelos khmers vermelhos (apoio
diplomático); forneceram armamento (algum proveniente da Alemanha) às bases dos
khmers vermelhos na Tailândia no valor
de 17 a 32 milhões de dólares por ano (apoio militar); teleguiaram agências da
ONU e internacionais a fornecer mantimentos e outros recursos aos khmers
vermelhos (apoio económico). Por outro lado, os EUA embargaram a chegada de ajuda
humanitária de qualquer tipo ao Camboja. Um embargo total, inclusive de
terceiros países.
- Em 1982 o governo Reagan justificava que a bandeira dos khmers
vermelhos estivesse hasteada em Nova Iorque para assinalar a «continuidade» do
regime. Nessa altura 50 agentes da CIA foram enviados para a Tailândia para
gerir a «operação Camboja». Bom, segundo a wikipedia
deveríamos dizer para «resolver» o «problema cambojano».
- Em 1981 alguns aliados dos EUA começaram a denotar
desconforto com o reconhecimento de Pol Pot pela ONU. O genocídio era já
amplamente conhecido da opinião pública. Então, os EUA com a China e Singapura,
inventaram a «Coligação do Governo Democrático do Kampuchea» ([24]) encabeçada
por Sihanouk e constituída pelos khmers vermelhos e pela Frente Nacional de
Libertação do Povo Khmer (KPNLF) de extrema-direita, financiada pela CIA e agrupando
mercenários e bandidos comandados por ex-oficiais de Lon Nol ([25]). «Uma
ilusão magistral» segundo a CIA.
- Declaração de Deng Xiaoping em 1984 (note-se: em 1984!):
«Não percebo porque algumas pessoas quiseram remover Pol Pot; ele fez alguns erros
no passado mas agora está a liderar a luta contra os agresssores vietnamitas».
Portanto, Pol Pot fez «alguns erros»; coisa sem importância. E, em 1984, os
vietnamitas ainda eram os «agressores». Não os khmers vermelhos que faziam
incursões da Tailândia contra um governo legitimamente eleito e gozando de amplo
apoio popular. Mas, claro, Deng Xiaoping tinha que justificar ter dado 100
milhões de dólares por ano aos khmers vermelhos durante toda a década de 80.
- Na ânsia de apoio aos khmers vermelhos os EUA chegaram ao
cúmulo de procurar esconder o genocídio. Um relatório da CIA de 1980 relatava
falsamente (e sabiam que era falso) que o regime de Pol Pot tinha parado de
executar pessoas em 1976. Em 1989 ainda o New York Times defendia um livro (Philip Short,
Pol Pot) que ilibava os khmers
vermelhos de genocídio: «[Short]
defende de forma persuasora que...[Pol Pot] não cometeu genocídio». A
referência [19] desmantela a retórica «tecnicista» -- mero jogo de palavras -- de
Short. O Primeiro-Ministro de Singapura, apoiante dos khmers vermelhos, também
afirmou que estes tinham de fazer parte do Camboja e que «eram os jornalistas
que faziam deles uns demónios».
- A aliança EUA-China era profunda ([26]). Segundo um artigo
da Newsweek de 1983 «Através da CIA a
China está a apoiar as forças estacionadas na floresta do assassino Pol Pot». China
e CIA de braço dado.
- Depois do "Irangate" os ingleses passaram em
1989 a apoiar militarmente os khmers vermelhos, num arranjo entre Reagan e Thatcher.
Conforme revelou um elemento do SAS (Special
Air Service; forças militares especiais) em 1991: «Nós treinámos os khmers
vermelhos em muitas questões técnicas – muito sobre minas. [...] Até treino
psicológico lhes demos. Primeiro eles queriam ir aos povoados e simplesmente
cortar as pessoas aos bocados. Dissemos-lhes como avançar com calma...» De
início as autoridades inglesas mentiram sobre o seu envolvimento no Camboja. Só
em Junho de 1991, depois de dois anos de mentiras, o governo inglês reconheceu finalmente
que o SAS tinha estado secretamente a treinar os khmers vermelhos. Disse assim
Rae McGrath que compartilhou o Prémio Nobel pela campanha contra as minas
terrestres e estudou a fundo o envolvimento do SAS no Camboja: «O treino do SAS
foi uma política ciminosamente irresponsável e cínica».
- Em 1989 Sihanouk recebeu relatórios dos serviços secretos
referindo «Conselheiros dos EUA nos campos dos khmers vermelhos na
Tailândia,... Os homens da CIA estão a ensinar direitos humanos aos khmers
vermelhos!».
Em 1991, na sequência de acordos de paz celebrados em Paris
e sob forte pressão da China, dos EUA, e seus aliados (Reino Unido, Austrália,
Singapura, Tailândia, etc.), os khmers vermelhos encabeçados por Ieng Sary puderam
transferir-se da Tailândia para uma zona específica do Camboja (zona de Pailin,
agora extinta; [27]). Khieu Samphan, o cruel Primeiro-Ministro de Pol Pot
recebeu a saudação da «força de paz» da ONU! Os EUA e a China tudo fizeram para
incluir os khmers vermelhos no governo mas não conseguiram.
Os khmers vermelhos recusaram-se a participar em eleições.
Tornaram-se o grupo terrorista mais rico do mundo, vendendo aos tailandeses partes
de floresta e pedras preciosas. A Tailândia tem sido o seu maior apoio, tendo
construído para eles estradas e hospitais. Entretanto, o seu número declinou
devido a deserções e conflitos internos; mas não estão totalmente extintos.
Continuando uma linha de actuação que vem dos tempos de Heng
Samrin as autoridades cambojanas tudo têm feito para julgar os khmers vermelhos
culpados de crimes contra a humanidade. Os EUA e a China tudo têm feito contra
isso! Já em 1991 a Subcomissão dos Direitos Humanos da ONU, pressionada pela
China, EUA e outros, resolvia que «nenhum membro do governo procuraria
detectar, prender, extraditar ou levar a julgamento aqueles que tinham sido
responsáveis por acções genocidas durante o período de 1975 a 1978.» ([20]).
Que rica Subcomissão dos Direitos Humanos! Os acordos de paz, para «não ofender»
o principal apoiante dos khmers vermelhos, a China, substituíram inclusive
todas as menções de «genocídio» por «políticas e práticas do passado recente»!
Pol Pot morreu tranquilamente em 1988 sem nunca ser
incomodado. Só em 2003, finalmente, o Camboja e a ONU concordaram em julgar os
criminosos. Os julgamentos decorrem com alguns juízes da ONU. Mas sem o apoio
dos EUA.
Muitos khmers vermelhos estavam na prisão em Phnom Pehn
desde 1999. Outros tinham fugido. Só em Julho de 2010 – 31 anos depois da queda
do regime dos khmers vermelhos! – o primeiro genocida, Kang Kek Iew, comandante
do campo de extermínio S21, foi julgado. Considerado culpado de crimes de
guerra e crimes contra a humanidade foi condenado a prisão perpétua. Em 2011
Ieng Sary foi levado a julgamento. Acabou por ser amnistiado!
Diz assim o historiador Ben Kiernan em conclusão do seu
estudo de 2009 ([19]): «Nos campos da morte reais [que realmente existiram] os
perpretadores do genocídio andavam [comportavam-se] livremente e Washington
continua mouca às suas vítimas».
A
história concreta do genocídio cambojano, a história que não chegou ao grande
público, constitui uma demonstração exemplar do extremo embuste, hipocrisia, e
negação dos direitos humanos dos imperialistas ianques, dos seus aliados
«ocidentais», e dos «socialistas de mercado com características chinesas». Uma
demontração dos extremos a que estão disposto a ir na prossecução dos seus
objectivos imperialistas.
Referências
[1]
Friedrich
Engels, «Princípios Básicos do Comunismo», Novembro de 1847.
Ed. “Avante!”; disponível em Marxists
Internet Archive. Este trabalho sintético de Engels destinava-se à
divulgação entre os trabalhadores e o público em geral. Noutros trabalhos
anteriores e posteriores de Marx e Engels, de leitura mais laboriosa, a
fundamentção e argumentação é mais precisa e detalhada.
[2] O verdadeiro nome de Pol Pot era Saloth Sar; Pol Pot era
«nome de guerra». O verdadeiro nome de Ieng Sary era Kim Trang. Dentro do PCK Pol Pot, Khieu Sampan e Ieng Sary eram
conhecidos respectivamente por «Irmão n.º 1», «Irmão n.º 2» e «Irmão n.º 3».
[5] Citado em Weitz, Eric D. (2005). "Racial
Communism: Cambodia under the Khmer Rouge". A Century of Genocide:
Utopias of Race and Nation. Princeton University Press.
[7] As relações entre vietnamitas e khmers vermelhos
passaram por muitas vicissitudes até 1975. Um estudo cuidado, baseado em arquivos soviéticos, é apresentado em: Dmitry Mosyakov, “The Khmer Rouge and the Vietnamese
Communists: A history of their relations as told in the Soviet archives”, Vostok (‘Orient’), no. 3, August 2000.
Nele se diz, nomeadamente (tradução nossa): “[Em 1949-1953] Hanói
apostou na aliança com Sihanouk, que era não só crítico dos Estado Unidos mas
também concedeu ao Vietname do Norte a possibilidade de usar bases de
retaguarda na chamada Via de Ho Chi Minh [Ho
Chi Minh Trail] e mesmo o fornecimento de armas e munições para a luta no
Sul através do porto cambojano de Sihanoukville. (Contudo, os khmers
[vermelhos] ficavam com aproximadamente 10% de todos os fornecimentos -- ver
Chanda, Brother Enemy, N.Y., 1986, pp. 61, 420.)”. A partir de meados dos anos
sessenta Pol Pot quis obter apoio da URSS e da China. Obteve armamento da China,
mas não da URSS: «As esperanças do PCK
na ajuda soviética eram injustificadas […] A falência em estabelecer contactos
com Moscovo não enfraqueceu a posição de Pol Pot, já que tinha Beijing atrás
dele. Para fortalecer o apoio de Hanói mostrou-se mesmo disposto a uma maior
união e «solidariedade especial» com a RDV»
[8] O trabalho [6] cita a seguinte avaliação feita por Pol
Pot em 1968-69: «Não tínhamos pessoal. Não tínhamos economia. Não tínhamos
força militar nem sítio onde esconder. Não obstante o tamanho das florestas não
encontrávamos abrigo. [...] O inimigo conhecia as florestas. Quer fôssemos para
um ou outro lugar eles sabiam onde estávamos. Tínhamos umas poucas armas aqui e
além, mas não tínhamos território nem população sob o nosso controlo.»
[9] Segundo o trabalho [6]: «O inicial “casamento de conveniência”
de Pol Pot com o montanheses nordestinos acabou por se envenenar a seguir ao
bombardeamento dos EUA em 1973, quando os khmers vermelhos começaram a incitar
ao desenvolvimento de cooperativas, a impôr refeições comunais e proibir
práticas religiosas; a punir ou a executar os recalcitrantes. Num dos maiores
levantamentos contra os khmers vermelhos quinhentos aldeões Brou e Keung de
Ratanakiri fugiram para o Laos e o Vietname no início de 1975, alguns meses
antes dos comunistas [já vimos o que há de totalmente errado nesta designação] tomarem
oficialmente o poder em Phnom Pehn.»
[10] O regime de Sihanouk tinha procurado manter uma posição
de «neutralidade»: por um lado, deixava o vietcong usar um porto cambojano,
conforme vimos acima ([7]); por outro lado, os EUA não eram incomodados quando
bombardeavam esconderijos do vietcong no Camboja.
[11] A aliança chamou-se «Frente Nacional Unida do Kampuchea».
O sinistro assassino Ieng Sary, o «comunista» Ieng Sary, agora aliado do
príncipe Sihanouk, tornou-se um membro destacado do «Governo Real da União
Nacional do Kampuchea».
[15]
John Pilger é um repórter australiano que vive em Londres. O seu jornalismo
de investigação mereceu vários galardões, tais como a atribuição, por duas
vezes, do prémio de jornalista inglês do ano, e na área dos dos Direitos
Humanos. John Pilger tem participado em foruns marxistas e
anti-imperialistas. Denunciou, nomeadamente, as pretensas «guerras contra o
terrorismo» movidas pelos EUA. A este respeito vale a pena ver em
http://www.nzonscreen.com/title/face-to-face-with-kim-hill-john-pilger-2003,
um excerto de uma entrevista sobre a guerra do Iraque, onde destrói a aura de
respeitabiliade de uma jornalista neo-zelandesa – um exemplo destes famosos
opiniosos que nunca estudam nada nem lêem nada, mas sabem sempre tudo melhor
que ninguém, um exemplo dos muitos mercenários alcandorados em chorudas
sinecuras nas rádios e TVs pela sua deferência e contribuição para a diária
lavagem ao cérebro ao serviço do capitalismo.
John Pilger revela uma atitude que falta a
muita da nossa esquerda).
[16] As autoridades de Hanói chegaram a pensar, em finais de
1976, que Pol Pot e Ieng Sary tinham sido removidos do Poder ([7]).
[19] Ben Kiernan, “The
Cambodian Genocide and Imperial Culture”, publicado em 90 Years of Denial, publicação especial do Aztag Daily (Beirute) e do Armenian
Weekly (Boston) em Abril de 2005. Ben Kiernan é Professor de História e
Director do Programa de Estudos de Genocídios da Universidade de Yale. É autor dos livros How Pol Pot Came to Power e The Pol Pot
Regime (Yale University Press, 2004 and 2002).
[20] John
Pilger, “The Long Secret Alliance: Uncle Sam and Pol Pot”, Covert Action, Quarterly Fall,
1997.
[24] Conforme muito bem assinalou o historiador Ben Kiernan,
a «Coligação do Governo Democrático do Kampuchea» não era nem uma coligação, nem democrática, nem um governo, nem em
Kampuchea.
[25] Segundo [19], a táctica de khmers vermelhos e da KPNLF
era a mesma dos Contras da Nicarágua: aterrorizar as populações com emboscadas
e colocação de minas. Os americanos procuravam desestabilizar o governo de Phnom
Penh procurando envolver os vietnamitas numa guerra insustentável; procuravam
arrastá-los para o seu próprio «Vietname». Destruir a economia vietnamita ainda
em dificuldades e, se necessário, derrubar o governo de Hanói, era o fim
último. A ruína do Vietname permitiria restaurar o poder dos americanos na
Indochina.
[26] Segundo é descrito em [19] Kissinger explicava a
aliança China-EUA pela oposição à URSS e Vietname e porque, além disso, «A
China não tem objectivos expansionistas agora». Repare-se neste delicioso
«agora».
[27] Em 1992 uma «força de paz» da ONU chegou
ao Camboja. Em 1993 Sihanouk tornou-se rei do Camboja mas todos os poderes foram
atribuídos ao governo de uma democracia pluripartidária. Hun Sen, do
progressista Partido do Povo do Camboja, tem sido o Primeiro-Ministro na sequência
de vitórias eleitorais monitoradas por observadores internacionais. As reformas
e reconstrução do Camboja têm sido substanciais.