--
Compreendo -- interrompeu-o Mason. -- O senhor zela pelos interesses
legislativos dos estabelecimentos de jogo.
--
Entre outras coisas -- redarguiu Fenwick. -- Sabe, Mason, há muita gente que
gosta de atacar o jogo, mas, no fim de contas, não há nada de mal nessa
actividade. Jogar é um escape para as emoções. Todos jogam, é universal. Não se
pode acabar com o jogo, pura e simplesmente. [...] Digo-lhe ainda mais uma
coisa, Mason. Jogar é bom! Faz circular o dinheiro, encoraja a sociabilidade e
é um excelente negócio para qualquer comunidade. Veja o que sucede, por
exemplo, aqui em Rowena. Ficaria surpreendido com a quantidade de dinheiro que
entra nesta cidade proveniente do jogo! Vem gente de toda esta região fazer um
joguinho de cartas... e deixa cá dinheiro.
--
Presumo que os jogadores nunca acabam de jogar empatados, quero dizer, com o
dinheiro que começaram -- observou o advogado.
Fenwick
atirou a cabeça para trás e desatou a rir à gargalhada.
--
O senhor é um ponto, Mr. Mason! Mas esse é precisamente o princípio do jogo
organizado! O cliente não empata. Com a breca, ele não quer tal coisa! Se
quisesse ficaria em casa, não se daria ao trabalho de ir a uma casa de jogo. É
essa a filosofia do jogo. Às vezes, o cliente tem lucro; o explorador do jogo
tem sempre lucro. O explorador não tem uma casa para perder. Há os que ganham,
há os que perdem, e embora os segundos sejam em número maior do que os
primeiros, os que ganham, ganham muito. [...] Por outro lado, o explorador de
uma casa de jogo sabe que, embora uma pessoa possa ganhar mil e quinhentos
dólares no decorrer de uma semana, a maioria das pessoas que participam no jogo
contribuirão para lhe pagar. É disso que ele vive. Acredite, Mr. Mason, jogar é
uma coisa boa para a comunidade.
Erle Stanley Gardner "O Caso do Revólver
Trocado"
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Neste artigo:
Introdução
Jogos com forwards
Forwards e o caso
da Showa Shell
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Introdução
Imaginemos que a ministra das Finanças aceitava
jogar o seguinte jogo com o leitor:
Se
em 31 de Dezembro de 2014 o défice orçamental for superior a 4,5% do PIB,
conforme o governo (e a troika) se propõem atingir, a ministra paga-lhe em 1 de
Janeiro de 2015 retroactivos correspondentes a todos os cortes praticados até
2014 (respeitantes a ordenados/ pensões e subsídios). Se for igual ou inferior
aos 4,5% a ministra mantém todos os cortes.
Para evitar esquecimentos da ministra, o
leitor passa hoje -- digamos, 31 de Dezembro de 2013 -- a escrito os termos do
jogo num contrato devidamente datado e assinado por ambas as partes, legalmente
vinculativo.
Este contrato é um derivado.
Vejamos a definição mais geral: derivado (ou derivativo, como dizem
os brasileiros traduzindo literalmente do inglês «derivative») é um
contrato entre duas partes que estabelece futuras entregas de activos, com base
no valor assumido por uma variável, tal como o preço de um outro activo
(acções, títulos de dívida, metais, petróleo, etc.) ou o valor de qualquer variável
com significado económico ([1]).
No caso do exemplo, existe a entrega de
activos -- retroactivos correspondentes a cortes -- numa data futura: 1 de
Janeiro de 2015. A variável com significado económico é o défice orçamental.
A designação «derivado» provém do facto do
valor do contrato «derivar» do preço de um activo ou do valor de uma variável
económica. (Não tem nada a ver com o significado da palavra «derivada» na
Matemática.)
Desde logo se vê, pelo exemplo acima, que um
derivado é uma aposta no futuro posta em contrato. Daí a sua natureza
intrínseca de jogo.
Mas porquê perder tempo com jogos deste tipo?
Qual a relevância deste tema?
Para vermos que o tema «derivados» tem uma
enorme, uma gigantesca relevância, no actual sistema capitalista, basta atentar
nisto:
Segundo os peritos, o volume global do mercado
de derivados é mais de 1.200 triliões de dólares: 1.200.000.000.000.000
dólares: 20 vezes mais que a riqueza criada em todo o planeta durante um ano!
E como os
derivados são jogos e todos os jogos têm um vencedor e um perdedor; e como,
além disso, assentam em apostas largamente especulativas sobre riqueza futura,
portanto, largamente fictícia, é fácil entender que o mundo capitalista assenta
actualmente sobre uma enorme bolha especulativa, um autêntico barril de
pólvora. Isso mesmo é reconhecido por quase todos os economistas, incluindo
alguns convencionais ([2]). (Outro barril de pólvora do actual sistema
capitalista é a astronómica dívida pública americana.)
Aliás, tivemos
um exemplo recente e flagrante do barril de pólvora: a Grande Recessão iniciada
em 2008 e despoletada pela «explosão» dos derivados de crédito (à habitação,
etc.).
Será que este
é só um problema das grandes economias, como as dos EUA e do Japão? Não.
Veremos mais tarde que toda a Europa tem uma enorme quota no mercado de
derivativos, incluindo Portugal. Aliás, o recente caso dos swaps já
faria desconfiar disso mesmo.
Mas, para podermos
compreender a natureza do jogo com derivados, e em que contexto eles surgem,
necessitamos primeiro de algumas noções. Procuraremos fazê-lo de forma simples
e omitindo o jargão técnico ([3]).
Procuraremos, também, revelar aquilo que não é revelado, incluindo pelos
peritos; procuraremos também desfazer um sem-número de mitos e afirmações
incorrectas que circulam em artigos dos media
e na web.
Jogos com forwards
Os contratos
com derivados assentam em previsões; tal como outras actividades, quer sejam
jogos -- como quando procuramos prever as cartas do adversário na sueca, poker,
etc. -- ou não -- como na previsão de fenómenos naturais. São os derivados
jogos ou não? E, no caso afirmativo, que tipos de jogos são?
Previsão da
esperança de vida
A figura
abaixo mostra a evolução da esperança de vida (EV) das mulheres portuguesas aos
65 anos (dados do INE). Esta evolução é praticamente linear (rectilínea): a EV
-- média dos anos de sobrevivência acima dos 65 anos -- tem aumentado a uma
taxa de 0,15 anos (cerca de 55 dias) por ano, no período considerado: 1975 a
2011.
Suponhamos que
o leitor só conhece os valores da EV de 1975 (14,8) e de 1976 (15) e aceita
participar no seguinte jogo: prever qual o valor da EV em cada ano
seguinte, até 2011. Com a informação disponível do passado, e tendo em conta
que a EV tem uma tendência crescente (embora desconhecendo a taxa de
crescimento e se a evolução é ou não linear), pode tentar o seguinte ([4]):
somar ao último valor conhecido o incremento entre esse valor e o anterior. Por
exemplo, para 1977 a previsão seria 15+(15-14,8) = 15,2 anos. O valor exacto
foi de 15,5 anos. As previsões assim obtidas, para o período considerado,
constam da seguinte tabela:
Ano
|
EV exacta
|
EV prevista
|
Ano
|
EV exacta
|
EV prevista
|
Ano
|
EV exacta
|
EV prevista
|
Ano
|
EV exacta
|
EV prevista
|
1976
|
15
|
-
|
1985
|
16,7
|
16,6
|
1994
|
17,8
|
17,9
|
2003
|
18,9
|
18,8
|
1977
|
15,5
|
15,2
|
1986
|
17
|
16,9
|
1995
|
18,1
|
17,9
|
2004
|
19,1
|
19,1
|
1978
|
15,4
|
16
|
1987
|
17,2
|
17,3
|
1996
|
18,1
|
18,4
|
2005
|
19,4
|
19,3
|
1979
|
15,9
|
15,3
|
1988
|
17,2
|
17,4
|
1997
|
18,2
|
18,1
|
2006
|
19,6
|
19,7
|
1980
|
16,1
|
16,4
|
1989
|
17,6
|
17,2
|
1998
|
18,4
|
18,3
|
2007
|
19,7
|
19,8
|
1981
|
16,2
|
16,3
|
1990
|
17,1
|
18
|
1999
|
18,5
|
18,6
|
2008
|
19,7
|
19,8
|
1982
|
16,7
|
16,3
|
1991
|
17,2
|
16,6
|
2000
|
18,6
|
18,6
|
2009
|
20
|
19,7
|
1983
|
16,4
|
17,2
|
1992
|
17,5
|
17,3
|
2001
|
18,6
|
18,7
|
2010
|
20,2
|
20,3
|
1984
|
16,5
|
16,1
|
1993
|
17,7
|
17,8
|
2002
|
18,7
|
18,6
|
2011
|
20,3
|
20,4
|
Todas as
diferenças entre os valores exactos e os previstos são reduzidas, inferiores a
um ano (entre -0,9 e 0,6 do ano). A soma das diferenças é de apenas -0,1 do ano.
O método de previsão é bastante bom.
De facto,
continua a ser bom quando, em vez de prever um ano à frente, prevemos 3 anos à
frente, usando o último valor disponível e a média dos dois incrementos
anteriores. Por exemplo, para prever o valor para 1978 dispomos do valor de
1977 (15,5) e calculamos a média dos dois incrementos anteriores: (0,2+0,5)/2 =
0,35. A previsão é de 15,85. Se fizermos isto para todos os anos obtemos
desvios entre -0,7 e -0,5 do ano; a soma de todos os desvios é de apenas -0,4 do
ano.
Previsão da
cotação JPY/USD
A cotação do
iene face ao dólar (JPY/USD), de 1989 ao final de 1994, é mostrada a traço
preto no gráfico abaixo.
A evolução de
JPY/USD é claramente irregular. Se aplicássemos o método anterior para prever a
cotação do dia seguinte obteríamos várias vezes desvios significativos entre os
valores exactos e os valores previstos; entre -6,66 e 4,80 Y (iene).
Normalmente, não é a previsão para o dia seguinte que interessaria em
aplicações económicas, mas sim a previsão a 90, 180 ou 360 dias (ou trimestre,
semestre e ano).
Seja a
previsão a 90 dias. Não interessa aplicar aqui o anterior método do incremento
médio porque claramente não estamos perante uma evolução linear. Suponhamos que
usávamos simplesmente o valor do trimestre anterior. Por exemplo, a 1 de Abril
de 1989 a cotação é de 1$ = 132,6Y. É este o valor que usamos para «prever» a
cotação em 30 de Junho de 1989. De facto, quando chegamos a esta data
verifica-se que a cotação é de 143,8Y. Um desvio de -11,1 Y. Se repetirmos para
todos os meses (primeiro dia de cada mês), obtemos desvios que variam entre
-16Y e 17,25Y e somam 112,5Y. Não se podem considerar desvios pequenos!
De facto, os
que negoceiam no mercado cambial (mercado forex, de «foreign exchange market»)
dispõem de um outro método mais complexo de previsão; baseia-se na chamada taxa
ou cotação forward (explicada em [5] se o leitor tiver curiosidade),
construída à custa das taxas de juro de empréstimos bancários (neste caso, do
Japão e dos EUA), e mostrada a azul no gráfico acima ([6]). Infelizmente, neste
caso, a taxa forward ainda tem pior desempenho que o método simplista
que tínhamos usado: os desvios da cotação forward face à cotação oficial
variam entre -20,2Y e 28,1Y somando 176,4Y!
O gráfico abaixo
mostra os desvios relativamente à taxa forward. Até Janeiro de 1991 a
taxa forward tem tendência para se situar abaixo do verdadeiro valor, no
ramo ascendente da cotação oficial: desvios negativos. Mas, no longo ramo
descendente, apesar de alguns episódios ascendentes, a taxa forward está
quase sempre acima do valor oficial: os desvios são quase sempre positivos.
Forwards e o caso da Showa Shell
Os jogos
anteriores estão relacionados com um tipo muito simples de derivados: os forwards.
Um
forward é um contrato juridicamente vinculativo entre duas partes que
obriga à futura compra ou venda de um activo por uma quantidade, preço e data
acordados no momento do contrato. Juridicamente vinculativo significa que é
exercida uma penalização em caso de incumprimento.
Exemplo: As firmas XY e UV assinam em
13/4/2013 um forward a 90 dias pelo qual a XY compra à UV 25 M$ (milhões
de dólares) ao câmbio de 0,9€ = 1$.
Quantidade = 25 M$
Preço = 0,9 € por 1$
Data de entrega =
17/7/2013
Em 17/7/2013 (90 dias depois) o contrato é
executado: a UV entrega 25 M$ à XY e esta paga-lhe 25x0,9 = 22,5 M€, independentemente
do preço do dólar em 17/7/2013, no termo do contrato ([7]). Se em 17/7/2013 o
câmbio for 1€ = 1$, o comprador XY ganha 2,5 M€ e o vendedor UV
perde a mesma quantidade. Se for 1€ = 0,85$, XY perde 1,25 M€ e UV ganha a
mesma quantidade. (Alguns pormenores mais em [8].)
Semelhantes aos forwards são os
futuros:
Um
futuro é um contrato parecido com um forward (obriga à futura
compra ou venda de um activo por uma quantidade, preço e data acordados no
momento do contrato) mas com padronização de quantidades e datas: só certas
quantidades e certas datas, ambas fixadas por uma instituição oficial, como por
exemplo uma Bolsa.
Os futuros são, pois, menos flexíveis que os forwards.
Além disso, geralmente os contratantes têm de pagar um «seguro» à instituição
oficial, seguro esse que serve de garantia de cumprimento. Ao contrário dos
futuros, os forwards são contratos
feitos de acordo com os desejos dos contratantes, no chamado «mercado de
balcão» (OTC = «over-the counter») em
firmas de investimento, de corretagem, departamentos financeiros de bancos e de
outras instituições ou companhias. No mercado de balcão a exposição dos
contratantes ao risco de incumprimento é significativa.
* *
*
No início de 1993 a Showa Shell Sekiyu K.K. (que
designaremos simplesmente por Showa), subsidiária da Royal Dutch Shell (Shell),
declarou perdas de 125 biliões de ienes (mais de 1 bilião de dólares!) em
transacções de divisas. Tratava-se de uma soma de tal modo elevada que na sede
da Shell não queriam acreditar e perguntaram mais de uma vez à Showa se não
seria milhões em vez de biliões! (Este exemplo é de [9]. Usamos a palavra
«bilião», como sempre temos vindo a fazer, com o significado de mil milhões.)
A Showa comprava petróleo em bruto e pagava em
dólares à Shell e a outros fornecedores. Processava-o e vendia os produtos
resultantes aos clientes japoneses que pagavam em ienes. O preço de petróleo
não variava muito; já o mesmo não se podia dizer do preço do dólar em ienes (o
câmbio). A Showa comprava todos os meses 25 milhões de barris por 300 milhões
de dólares (M$). Em Setembro de 1989 a Showa decidiu «proteger-se» da
depreciação do iene contratando um forward a 90 dias com um banco. Estamos
no nosso exemplo acima.
A 30 de Setembro o câmbio era 1$ = 145Y. Nesse
dia o contrato foi assinado nos seguintes termos: 90 dias depois a Showa
entregava ao banco 300 M$ x 145Y/$ = 43,5 BY (biliões de ienes) e o banco
entregava à Showa 300 M$ (independentemente do câmbio do momento).
Este é um de muitos exemplos de derivados do
mercado forex.
Em 31 de Dezembro de 1989 a Showa entregou os
43,5 BY e recebeu 300 M$. Nessa altura o câmbio era 1$ = 140Y. O dólar tinha-se
depreciado e a Showa perdeu com o forward 300x(140-145) = -1,5 BY ([10]).
A Showa tinha outras alternativas para se
proteger das flutuações do dólar.
Podia ter, muito simplesmente, criado num banco uma conta em dólares, sujeita à
taxa de juro do dólar que na altura era de 6%. Para dispor de 300 M$ ao fim de
um trimestre bastava ter depositado 300/(1+0,06/4) = 295M$. Como o câmbio em 30
de Setembro era de 147 Y, teria então de obter um empréstimo em ienes de
295x147 = 43,448 BY com um custo final, dada a taxa de juro anual do Japão de
3%, de 43,448x(1+0,03/4) = 43,774 BY. Face ao forward a Showa teria
de pagar mais 43,774 – 43,5 = 0,724 BY mas não sofreria a perda de 1,5 BY.
(Segundo o autor de [9] a Showa escolheu o forward porque não deixa
traços na folha de contabilidade; é um contrato off-balance sheet,
característica tão apreciada pelos especuladores financeiros.)
Num curto período inicial em que o dólar se
apreciou a Showa ganhou com isso. Mas, depois desse curto período, o dólar
manteve-se a depreciar (ver gráfico e exemplo acima) e os corretores da Showa,
em vez de pararem às primeiras perdas e mudarem de estratégia, continuaram com
os forwards, sempre à espera de uma apreciação do dólar que, num simples
golpe, anulasse as perdas já acumuladas! De facto, isto não é mais do que o
comportamento típico de um jogador, conhecido por «falácia do jogador». Julgar
que, pelo facto de ter sempre saído «cara» em lançamentos consecutivos de uma
moeda, então na próxima vez é maior a probabilidade de sair «coroa». (A
probabilidade mantém-se sempre a mesma.)
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Próximo
artigo:
Estacionaridade
Seguros e Derivados
Opções e o caso da Allied Lyons
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Notas:
[1] Existem derivados sobre as condições climáticas. Neste caso, o que está
em jogo é a influência das condições climáticas sobre variáveis de interesse
económico: más colheitas, consumo excessivo de energia, etc.
[3] Os EUA e Reino Unido foram os grandes
criadores de derivados aquando da imposição de políticas económicas neoliberais
(Reagan e Thatcher). O jargão técnico é, por isso, anglo-saxónico e mais do que
isso: assente na gíria dos corretores de bolsa desses países. Trata-se dum
palavreado muito colorido e muito evocativo desse grupo profissional. Quando
usado noutros países, como o fazem muitos peritos e jornalistas em Portugal, o
único mérito desse palavreado é tornar incompreensível aquilo que é muito
simples.
[4] Há outras
abordagens mais sofisticadas; todas conduzindo às mesmas conclusões básicas.
[5] A taxa forward baseia-se na teoria
da «Paridade da Taxa de Juro» que explicamos assim:
A firma japonesa ABC quer investir 100 MY (milhões
de ienes) durante 1 ano. Pode fazê-lo sem grande risco em Y à taxa de juro
praticado pela banca japonesa, seja 3%. Obtém ao fim de um ano
100x(1+0,03)=103MY. De uma forma geral, para um investimento de A ienes
obtém A(1+i) onde i é a taxa de juro nacional. A firma ABC
tem também outra possibilidade: a de aproveitar uma taxa de juro mais elevada
numa divisa estrangeira, p. ex., o dólar. Pode fazer o seguinte: comprar
dólares ao câmbio do momento, seja 145Y/$. Compra, portanto, 100/145 M$. Em
geral, representando por S o câmbio actual, obtém A/S $.
Investe estes dólares num banco americano à taxa aí praticada, maior que a
japonesa; seja 6%. Ao fim de um ano obteria 100/145x(1+0,06) = 0,731 M$. Em
geral, A/S(1+i*) onde i* é a taxa de juro
estrangeira. Mas a ABC não espera um ano; no mesmo dia em que converte A
em $ e coloca num banco americano vende um forward a um ano no valor de A/S(1+i*)
para assegurar o valor do investimento do iene. Designemos por F o valor
do câmbio a usar no forward de forma a obter o mesmo que obteria se
tivesse investido no banco japonês. Então, deverá ser: A(1+i) = AF/S(1+i*)
ou seja F = S(1+i)/(1+i*). No caso do exemplo, F
= 145(1+0,03)/(1+0,06) = 140,9 Y.
[6] Usámos no cálculo os dados históricos das
taxas de juro trimestrais publicadas pelo Federal Reserve Bank dos EUA e pelo
Ministério das Finanças do Japão.
[7] Conhecido por «spot price» no
jargão da área.
[8] A figura mostra a situação de um comprador
de um forward. (No jargão da área, a parte que compra diz-se que detém uma posição
longa; a que vende diz-se que detém uma posição curta.) O eixo
horizontal corresponde ao preço efectivamente existente no termo do contrato,
quando é executado (spot price), que designámos por S. O valor de
0,9 € foi, no exemplo, o preço contratado (strike price), que designámos
por E. O eixo vertical corresponde ao retorno (payoff) para o
comprador. Para o comprador, o retorno é uma simples recta a 45º: se S
> E o retorno do comprador é um lucro (p. ex., para S = 1,1, o
lucro é de 1,1-0,9 = 0,2 € por dólar); se S < E o comprador
tem prejuízo. O gráfico para o vendedor é simplesmente o simétrico em torno da
horizontal (quando um tem lucro o outro tem prejuízo e vice-versa).
[9] Laurent L Jacque,
“Global Derivative Debacles. From Theory to Malpractice”, World
Scientific Pub. Co., 2010.
[10] Os valores de [9] têm discrepâncias relativamente aos que tivemos
acesso. As conclusões não dependem disso. O aspecto essencial é o comportamento
dos desvios para a cotação forward que mostrámos.