segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Sobre Trotski - VI | On Trotsky – VI


O Período de Novembro de 1920 a Março de 1921
The Period from November 1920 to March 1921


Ao entrar no POSDR(b), Trotski viu-se obrigado a dissimular a bagagem de oportunismo que vimos nos artigos anteriores. Teve, porém, de revelar em múltiplos eventos a sua atitude perante o partido e as massas. Até essa altura Trotski nunca tinha estado num partido. Tinha sido apenas  o chefe da pequeníssima «fracção Trotski» rodeado de fiéis intelectuais, fascinados pelos dotes oratórios, ecletismo e auto-propaganda do mestre. Nunca tinha tido (e nunca teve) ligações com organizações operárias. Também nunca tinha tido que lidar com as massas populares, excepto episodicamente em 1905.
Upon entering the RSDLP(B), Trotsky was forced to dissimulate his stock-in-trade of opportunism we saw in previous articles. But he had to reveal at various events his attitude toward the Party and the masses. Until then, Trotsky had never been a member of any party. He had been the head of the tiny “Trotsky’s faction”, surrounded by faithful intellectuals, fascinated by the master's oratory skills, eclecticism and self-aggrandizing. He had never had (and would never have) bonds with workers' organizations. He had never had to deal with popular masses either, except episodically in 1905.

Trotski Perante o Partido e as Massas

Em toda a sua actividade política Trotski é o superlativo do intelectual oportunista de esquerda. Exibe em dose extraordinária, perante o partido e as massas, todos os defeitos típicos do intelectual pequeno-burguês. Muitos desses defeitos só se tornaram mais notórios quando ingressou no POSDR(b). Ajudam a compreender melhor o comportamento político de Trotski e seus seguidores, nomeadamente na famosa discussão sobre os sindicatos..

Seguem-se várias citações de historiadores, políticos, biógrafos, etc., e do próprio Trotski, que caracterizam a sua atitude perante o partido e as massas [103]. Os autores citados, muitos deles contemporâneos de Trotski, são de várias persuasões ideológico-políticas, incluindo trotskistas, conforme descrito nas notas. Apesar das várias persuasões é impressionante ver como convergem no essencial. As citações aqui vão até cerca de 1922. Mencionaremos outras mais tarde. As interpolações são nossas.


«A percepção de que era um líder revolucionário intelectual fazia Trotski sentir-se acima das massas. Sentia-se superior a todos que conheceu e nunca se sentiu próximo das massas, mas entronizou-se, inconscientemente, na indiferença olímpica acima da vida real, acima das massas. Permaneceu essencialmente um aristocrata». (Basseches, [104].)

«O desacordo [entre Trotski e os bolcheviques] era fundamental e nunca foi eliminado. ... [Trotski] nunca aceitou realmente o princípio que governava o relacionamento do partido de Lénine com as massas porque era incapaz de acreditar no poder criativo do proletariado. Era um egoísta, com toda a confiança excessiva do egoísta. Era da substância de que são feitos os ditadores. A sua ideia de liderança tinha como premissa o reconhecimento das suas capacidades, com proletários que fariam o que ele ordenasse. Eles tinham que ser organizados e ele organizou-os como parte de uma máquina sob o controlo de funcionários da classe média -- a intelligentsia e os oficiais do Exército, com ele à frente. Trotski ... nunca se poderia render à ideia de se integrar no proletariado, ou acreditar ... que a luta revolucionária traria as classes trabalhadoras para as fileiras da liderança. ... O seu snobismo intelectual arruinou-o como revolucionário.» (Murphy, [105].)

«Essa [capacidade de ligar-se às mais amplas camadas de trabalhadores] era uma das coisas que Trotski, enquanto membro do Partido Comunista da União Soviética, foi totalmente incapaz de compreender. A sua tendência era sempre dar ordens às massas não-partidárias como se fossem seus subordinados imediatos no Ministério da Guerra.» (Campbell, [106].)

«Trotsky ... gostava de citar as palavras do anarquista francês Proudhon: “Do destino, eu rio-me; e quanto aos homens, são ignorantes demais, escravos demais para sentir-me incomodado com eles.”» (Sayers and Kahn, [99].)

«A história iria mostrar que Trotski (nos seus dias no Exército Vermelho) era um rígido e implacável tiranete quanto a disciplinar os outros.» (Campbell, [106].)

«Embora [Trotski] raramente perdesse a oportunidade de adoptar uma pose revolucionária, de "ser mais revolucionário do que qualquer outro", muitas vezes a pose ocultava o mais profundo pessimismo; ocultava o facto de que o poseur não tinha fé nas massas russas e se estava a preparar para se render ao capitalismo.» (Campbell, [106].)


«Trotski não reconhecia outra autoridade que não fosse a sua. O seu temperamento e toda a sua natureza o levavam ao radicalismo. É notável que tudo no carácter e carreira de Trotski que o ajudou a avançar também contribuiu para a sua queda. Porquê? Porque tudo promoveu o seu defeito radical, a vaidade.» (Basseches, [104].)

«Trotski, que era essencialmente um aristocrata intelectual, para não dizer um snobe intelectual, estava um pouco deslocado no meio bolchevique.» (Duranty, [107].)

«Nisso [más relações com líderes], Trotski só tinha que se culpar a si próprio. Arrogante, cínico, desdenhoso da mediocridade, toda a sua carreira foi pontilhada de explosões violentas dirigidas contra inúmeras personagens menores.» (Cole, [108].)

«Trotski, o revolucionário por excelência, brilhante como orador e o mais polémico escritor de sua época, mas deficiente em capacidade construtiva e congenitamente incapaz de trabalhar em harmonia com os outros.» (Cole, [108].)

«Ele [Trotski] era amplamente detestado pela arrogância e falta de tacto. Ele próprio admitia, ter uma reputação de insociabilidade, individualismo, aristocratismo. Até o seu biógrafo e admirador admite que raramente podia pôr de lado a tentação de lembrar aos outros os seus erros e insistir na sua superioridade e perspicácia. Desdenhoso do estilo colegial de Lénine e dos outros líderes bolcheviques, exigiu, como comandante das forças armadas do país, obediência inquestionável a si mesmo, dando origem a rumores sobre ambições “bonapartistas”.» (Barbusse, [109].)

«Eis como o comissário de guerra Trotski, discursando num dos seus espectaculares comícios de massas em Moscovo, foi descrito pelo famoso correspondente americano no estrangeiro, Isaac Marcosson: “Trotsky apareceu no que os actores chamam de boa entrada:... depois de um atraso, e no momento psicológico certo, emergiu das alas e caminhou com passos rápidos para a pequena tribuna ... Inundou os seus ouvintes com um Niagara de palavras, como nunca ouvi. Vaidade e arrogância destacaram-se pro-eminentemente.”» (Sayers and Kahn, [99].)

«Faltavam a Trotski muitas das qualidades do verdadeiro estadista e líder. Os seus dons brilhantes foram ensombrados por uma vaidade extraordinária, como constantemente mostram as suas obras. Era quase patologicamente egocêntrico. Aparecia sempre como homem forte e autoconfiante; muitas das suas acções mostram, porém, que era torturado por inibições ...» (Basseches, [104].)

«Que Trotski desempenhou um papel na Revolução de Outubro é inegável; mas fê-lo sempre sob a liderança do partido. Porém, em todas as suas reminiscências, o partido não figura em nenhum lado, e o grande chefe Trotski está em todos os lados.» (Campbell, [106].)
Trotsky Before the Party and the Masses

In all his political activity Trotsky is a superlative of the opportunist leftist intellectual. He exhibits in outstanding degree all typical defects of the petty-bourgeois intellectual before the party and the masses. Many of these defects only became more noticeable when he joined the RSDLP(B), and they provide a better understanding of the political behaviour of Trotsky and his followers, namely in the famous discussion on the trade unions.

Below are several quotations from historians, politicians, biographers, etc., and from Trotsky himself, which characterize his attitude towards Party and masses [103]. The authors of the quotations, many of them contemporary with Trotsky, are of various ideological-political persuasions, including Trotskyists, as described in the notes. Despite the various persuasions, it is impressive to see how they essentially converge. The quotations go until ca. 1922. Others will be mentioned later. The interpolations are ours.

The contempt for the masses

“The sense of being an intellectual revolutionary leader lifted Trotsky in his own estimation above the masses. He felt his superiority to all whom he met; he never felt close to the masses, but enthroned himself, quite unconsciously, in Olympian aloofness above real life, above the masses. He remained essentially an aristocrat.” (Basseches, [104].)

“The disagreement [between Trotsky and the Bolsheviks] was fundamental and was never eliminated. … [Trotsky] never really accepted the principle governing the relationship of Lenin’s party with the masses because he was incapable of believing in the creative power of the proletariat. He was an egotist, with all the over-confidence of the egotist. He was of the stuff of which dictators are made, and his conception of leadership had as its premise the recognition of his abilities plus a proletariat which would do as he ordered. They had to be organized. He would organize them as part of a machine under the control of a staff drawn from the middle classes – the intelligentsia and the Army officers, with himself at the head. He [Trotsky]… could never surrender himself to the idea of integrating himself with the proletariat, or believe … that the revolutionary struggle would bring the working-classes into the ranks of leadership. ... His intellectual snobbery ruined him as a revolutionary.” (Murphy, [105].)

This [ability to merge with the broadest masses of toilers] was one of the things which Trotsky, in his period of membership of the Communist Party of the Soviet Union, was utterly incapable of grasping. His tendency was always to order the non-party masses as if they were his immediate collaborators in the Ministry of War.” (Campbell, [106].)

“Trotsky … was fond of quoting the words of the French Anarchist, Proudhon: ‘Destiny -- I laugh at; and as for men, they are too ignorant, too enslaved for me to feel annoyed at them.’” (Sayers and Kahn, [99].)

“History was to show that Trotsky (in his Red Army days) was a rigid and implacable martinet in disciplining others.” (Campbell, [106].)

“While he [Trotsky] seldom missed an opportunity of adopting a revolutionary pose, of ‘being more revolutionary than anyone else,’ very often the pose concealed the profoundest pessimism; concealed the fact that the poseur had no faith in the Russian masses and was preparing to surrender to capitalism.” (Campbell, [106].)

Individualism, arrogance and vanity

“Trotsky could recognize no other authority than his own. His temperament and his whole nature drove him to radicalism. It is remarkable that everything in Trotsky’s character and career that helped him forward also contributed to his fall. Why? Because everything promoted his radical defect, his vanity.” (Basseches, [104].)

“Trotsky, who was essentially an intellectual aristocrat, not to say an intellectual snob, was somewhat out of place in the Bolshevik milieu.” (Duranty, [107].)

“For this [bad relations with leaders] Trotsky had only himself to blame. Arrogant, cynical, contemptuous of mediocrity, his whole career had been dotted with violent outbursts directed against innumerable lesser personages.” (Cole, [108].)

“Trotsky, the revolutionary per excellence, brilliant as an orator and the ablest polemical writer of his time, but deficient in constructive ability and congenitally incapable of working in harmony with others.” (Cole, [108].)
 
“He [Trotsky] was widely disliked for arrogance and lack of tact. As he himself admitted, he had a reputation for unsociability, individualism, and aristocratism. Even his admiring biographer concedes that he could rarely withstand the temptation of reminding others of their errors and insisting on his superiority and insight. Scorning the collegiate style of Lenin and the other Bolshevik leaders, he demanded, as commander of the country’s armed forces, unquestioned obedience to himself, giving rise to talk of ‘Bonapartist’ ambitions.” (Barbusse, [109].)


“Here is how war commissar Trotsky, addressing one of his spectacular mass rallies in Moscow, was described by the famous American foreign correspondent, Isaac Marcosson: ‘Trotsky made his appearance in what actors call a good entrance… after a delay, and at the right psychological moment, he emerged from the wings and walked with quick steps to the little pulpit. … He inundated his hearers with a Niagara of speech, the like of which I have never heard. Vanity and arrogance stood out pre-eminently.’” (Sayers and Kahn, [99].)

“Trotsky lacked much of the quality of the true statesman and leader. His brilliant gifts were marred, as his works continually show, by an extraordinary vanity. He was almost pathologically egocentric. He always played the strong, self-confident man; yet many of his actions showed that he was tortured by inhibitions…” (Basseches, [104].)

“That Trotsky played a role in the October Revolution is undeniable; but he did so always under the leadership of the Party. But in all his reminiscences the Party is nowhere, and the big chief Trotsky is everywhere.” (Campbell, [106].)

Líder ou nada

«Ao longo da sua longa carreira revolucionária, até 1917, Trotski foi um homem de tão forte individualidade que nunca pôde permanecer muito tempo nas fileiras de um partido ou grupo político organizado. Ele tinha que ser líder ou nada.» (Chamberlin, [110].)

«Esta [sobre a caracterização que Lénine faz de Trotski] é a imagem perfeita do homem que prefere ser general num grupelho do que ser um colaborador leal num grande partido.» (Campbell, [106].)

«... Trotski nunca estava disponível para aprender, sempre queria ensinar, nunca pôde suportar estar em segundo lugar, tinha sempre de ser o primeiro.» (Basseches, [104].)

Indisciplina

«A história ... iria também mostrar que o seu [de Trotsky] profundo egoísmo pessoal, o seu «nobre anarquismo», torná-lo-ia constitucional e politicamente incapaz de aceitar a disciplina.» (Campbell, [106].)

«Nas suas memórias, o agente secreto britânico Bruce Lockhart escreve: “não lidámos com Trotski com sabedoria [com vista a opô-lo em 1917 aos bolcheviques]. ... Ele não era nem menchevique nem bolchevique. Era o que Lénine chamava de trotskista, isto é, individualista e oportunista. Um revolucionário com o temperamento de um artista e coragem física, mas nunca foi nem poderia ser um bom membro do partido.”» (Sayers and Kahn, [99].)

«... Mas Trotski e seus seguidores recusaram-se a submeter-se às suas próprias regras [do centralismo democrático]. Estabeleceram uma organização secreta com a sua tipografia secreta.» (Davis, [111].)

«... Lénine lembrou um exemplo recente da "luta de Trotski contra o Comité Central", na qual Trotski exibia “uma auto-confiança excessiva e uma tendência de demasiada atracção pelo lado puramente administrativo dos assuntos”. ... Lénine também aludiu à tendência de Trotski de se opor ao Comité Central, uma falta grave num líder de um partido baseado em disciplina e trabalho colectivo, e de ser suspeito de "individualismo".» (Deutscher, [112].)


«Ele [Trotski] tinha passado os 13 ou 14 anos anteriores em luta fraccionária contra Lénine, atacando-o com insultos pessoais ferozes, como "advogado desleixado", "caricatura hedionda de Robespierre, maliciosa e moralmente repulsiva", "explorador do atraso russo”, "desmoralizador da classe trabalhadora russa", etc., insultos comparados com os quais as respostas de Lénine foram contidas, quase brandas.» (Deutscher, [113].)

«Havia pouco dessa subtileza em Trotski, que raramente suportava a tentação de lembrar aos outros os seus erros e insistir na sua superioridade e clarividência. A sua própria clarividência, não menos real por causa da sua ostentação, era ofensiva ... Ele era o desordeiro nato.» (Deutscher, [114].)

«Trotski fez o possível por denegrir sistematicamente o passado revolucionário de Estáline, e quase todos os autores burgueses repetem essas calúnias. Trotski declarou [em Trotski, A Minha Vida]: "Estáline ... é a notável mediocridade do partido".»  (Martens, [115].)

«Em Novembro de 1919, Estáline e Trotski receberam a recém-criada Ordem da Bandeira Vermelha pelos seus sucessos militares. Lénine e o Comité Central consideravam que os méritos de Estáline em liderar a luta armada nas áreas mais difíceis equivaliam aos de Trotski na organização e liderança do Exército Vermelho a nível central. Mas, para se sobressair, Trotski escreveu [em Stalin: An appraisal of the man and his influence]: "Durante todo o período da Guerra Civil, Estáline permaneceu como uma figura de terceira ordem".»  (Martens, [115].)


«Trotsky estava sempre na oposição. Ele exigiria esta ou aquela medida no momento em que os restantes líderes do partido pensavam que isso seria perigoso.» (Basseches, [104].)

«A leitura dos artigos que sobreviveram do que Estáline escreveu em Turukhansk [local de exílio na Sibéria] mostra que o desagrado do autor pelos métodos e pela personalidade de Trotski não se atenuara desde o último confronto. Num deles, sugere com alguma verdade que, em resultado dos anos passados fingindo estar acima das disputas do Partido, Trotski se tornara congenitamente incapaz de compartilhar a posição de qualquer outra pessoa, e tinha a todo o custo de se diferenciar de todos os outros grupos.» (Cole, [108].)
Leader or Nothing

“Throughout his long revolutionary career, up to 1917, Trotsky was a man of such strong individuality that he could never remain long within the ranks of an organized political party or group. He had to be leader or nothing.” (Chamberlin, [110].)

“This [referring to Lenin’s characterization of Trotsky] is the perfect picture of the man who prefers to be a general in a two-man band to being a loyal collaborator in a great party.” (Campbell, [106].)

“... For Trotsky was never ready to learn, wanted always to teach, could never endure the second-place but must always have the first.” (Basseches, [104].)

Indiscipline

“History … was equally to show that his [Trotsky’s] intense personal egotism, his ‘noble anarchism’, was to render him constitutionally and politically incapable of accepting discipline himself.” (Campbell, [106].)

“In his memoirs British agent Bruce Lockhart writes, ‘we had not handled Trotsky wisely [having in view to oppose him to Lenin]. … He was then neither a Menshevik nor a Bolshevik. He was what Lenin called a Trotskyist -- that is to say, an individualist and an opportunist. A revolutionary with the temperament of an artist and physical courage, he had never been and never could be a good party man.’” (Sayers and Kahn, [99].)

“… Yet Trotsky and his supporters refused to abide by their own rules [democratic centralism]. They built up a secret organization with a secret printing press.” (Davis, [111].)

“…Lenin recalled a recent instance of Trotsky’s ‘struggle against the Central Committee’, in which Trotsky displayed ‘too far-reaching a self-confidence and a disposition to be too much attracted by the purely administrative side of affairs‘. … Lenin also hinted at Trotsky’s inclination to oppose himself to the Central Committee, a grave fault in the leader of a party which was bred in discipline, team-work, and was suspicious of ‘individualism’.” (Deutscher, [112].)

Abuse and denigration of leaders

“He [Trotsky] had passed the earlier 13 or 14 years in factional struggle against Lenin, assailing him with ferocious personal insults, as “slovenly attorney,” as “hideous caricature of Robespierre, malicious and morally repulsive,” as “exploiter of Russian backwardness,” “demoralizer of the Russian working-class,” etc., insults compared with which Lenin’s rejoinders were restrained, almost mild.” (Deutscher, [113].)

“There was little of that subtlety in Trotsky, who could rarely withstand the temptation to remind others of their errors and to insist on his superiority and foresight. His very foresight, no less real because of its ostentatiousness, was offensive…. He was the born troublemaker.” (Deutscher, [114].)

“Trotsky did his best to systematically denigrate the revolutionary past of Stalin, and almost all bourgeois authors repeat these slanders. Trotsky declared [in Trotsky’s My Life]: `Stalin ... is the outstanding mediocrity in the Party'.” (Martens, [115].)

“In November 1919, Stalin and Trotsky received the newly created Order of the Red Banner for their military successes. Lenin and the Central Committee estimated that Stalin's merits in leading the armed struggle in the most difficult areas equalled Trotsky's in organizing and leading the Red Army at the central level. But to make himself come out in a better light, Trotsky wrote [in Stalin: An appraisal of the man and his influence]: `Throughout the period of the Civil War, Stalin remained a third-rate figure'.” (Martens, [115].)

He had to always be in opposition

“Trotsky was always in opposition. He would demand this or the other measure at a time when the rest of the party leaders thought that it would be dangerous.” (Basseches, [104].)

«Perusal of those articles which have survived from Stalin’s writings in Turukhansk [place of exile in Siberia] shows that their author’s distaste for the methods and the personality of Trotsky was not dimmed since their last clash. In one of these he suggests with some truth that as a result of the years spent in pretending to stand above the Party squabbles, Trotsky had become congenitally incapable of sharing anyone else’s position but must at all costs differentiate himself from all other groups.” (Cole, [108].)


Métodos burocrático-administrativos

«Recusando envolver-se na rotina política do dia-a-dia, frequentemente ausente das reuniões de gabinete e de outras deliberações administrativas, Trotski assumiu o cargo de estadista acima da luta. Para Trotski, o principal era a palavra de ordem, a tribuna do orador, o gesto marcante, mas não o trabalho de rotina. Os seus talentos administrativos eram, de facto, de baixa ordem. A colecção de documentos no arquivo Trotski da Universidade de Harvard, com numerosas comunicações a Lénine, revela uma incapacidade congênita de formular soluções práticas e sucintas: como regra, Lénine não comentou nem agiu sobre elas [comunicações de Trotski].» (Pipes, [116].)

“Trotski, que hoje aparece como inimigo da burocracia, apresentou a proposta de que os sindicatos se deviam tornar órgãos do Estado e que deviam ser 'sacudidos' por uma acção administrativa por parte do Partido Comunista. Quando essa proposta de sargento de instrução foi rejeitada no Comité Central do Partido, Trotski saiu e reuniu um grupo de adeptos com o objectivo de lutar contra o Comité Central.” (Campbell, [106].)

«Veremos que Trotski e Zinoviev não entenderam isso e foram repetidamente culpados de uma atitude burocrática e dominadora em relação às massas do povo russo. Isso não impede Trotski de se mostrar como se fosse um adepto da democracia “lutando pela liberdade” contra a “burocracia estalinista”.» (Campbell, [106].)

«Trotsky também escreveu [em A Minha Vida]: “no trabalho de rotina, era mais conveniente que Lénine dependesse de Estáline, Zinoviev ou Kamenev ... Eu não era adequado para executar incumbências ... Lénine precisava de ajudantes práticos e obedientes. Eu não servia para esse papel”. Estas frases dizem ... tudo sobre Trotski: ele atribuia a Lénine o seu próprio conceito aristocrático e bonapartista de partido: um líder cercado por ajudantes dóceis que lidam com os assuntos correntes!» (Martens, [115].)


«A incapacidade de autocrítica impediu Trotski de remediar os seus defeitos. Típico disso foi o seguinte incidente pouco conhecido. Em 1921 teve lugar uma conferência no Palácio do Kremlin com os principais líderes da Internacional Comunista. ... O assunto em discussão era se deveria ser iniciada uma insurreição na Alemanha. A maioria dos presentes era a favor da ideia. Lénine veio à reunião e, num longo discurso, opôs-se à proposta de insurreição. Na realidade, foi iniciada uma insurreição na Alemanha central que terminou numa derrota desastrosa do comunismo. A seguir a isso houve outra discussão. Trotski não tinha estado presente na primeira discussão, mas tinha expresso a sua opinião por escrito. Alguns líderes russos que tinham votado a favor da insurreição admitiram o seu erro. Desta vez, Trotski estava presente e fez um discurso atacando aqueles que haviam sido a favor da insurreição. Surpresos, os seus ouvintes salientaram que ele próprio havia apoiado a proposta. Ele negou isso e foi-lhe lembrado de que havia declarado a sua opinião por escrito. Apresentaram-lhe a carta. Entretanto, a discussão continuava. Trotski leu a carta, não disse uma palavra e foi-se embora, com o documento no bolso.» (Basseches, [104].)

«E é apenas no caso de Trotski que temos de ter em conta uma certa quantidade do elemento estritamente pessoal, isto é, a opinião de Trotski sobre a sua própria importância, coisa que possui em grau elevado. A sua natureza muito obstinada, a sua intolerância a qualquer forma de crítica ("Ele nunca esquece um ataque à sua ambição", disse Lénine) e o seu desapontamento por não ser colocado à frente dos assuntos sem associados, têm muito a ver com a sua hostilidade.» (Barbusse, [109].)

Gosto pela repressão

Já vimos no artigo anterior que os métodos de Trotski eram desnecessariamente brutais. Em 1918 quis fuzilar todos os comissários políticos de uma divisão de onde alguns oficiais tinham desertado para os brancos, o que levou dois membros do CMR do 3.º Exército a protestar ao CC contra a «atitude extremamente irreflectida de Trotski relativamente a coisas como fuzilamentos». A ordem de Trotski não foi cumprida por recusa dos oficiais que protestaram. O CC criticou e admoestou severamente Trotski por esse comportamento.

Isso não serviu de nada. «... em Novembro de 1920, irritado com relatos de insubordinação entre as tropas do Exército Vermelho que enfrentavam Wrangel, emitiu uma ordem que continha a seguinte passagem: "Eu, o vosso líder vermelho, nomeado pelo governo e investido com a confiança do povo, exijo uma fé total em mim." Todas as tentativas de questionar as suas ordens deveriam ser tratadas por execução sumária.» [116]


«Trotski era um odiador feroz e um escritor prolífico, um polemista e não um historiador, e estava sempre pronto a distorcer e inventar evidências contra os inimigos.» (Grey, [117].)

Em 1922 Trotski escreveu um post scriptum ao seu Programa de Paz (1915-17). Nele, apesar dos grandes avanços já alcançados na altura, Trotski exagerava as dificuldades e distorcia factos para validar a tese de que o que dissera em 1915-17 (impossível construir o socialismo na Rússia) continuava válido. Disse, entre outras coisas: “As nossas negociações comerciais com os Estados capitalistas, as concessões e a conferência de Génova são uma prova definitiva da impossibilidade de uma construção isolada do socialismo dentro de uma estrutura estatal nacional.” Ora, as negociações, concessões e conferência não tinham sido negativas como Trotski insinua e, mesmo que tivessem sido, nunca constituiriam a «prova definitiva»! Campbell diz sobre isto [106]: «O ousado revolucionário, que sempre gostara de se mostrar mais resoluto do que qualquer outro, está claramente a exagerar as dificuldades.»

«Trotski, num livro sobre "Lénine", que escreveu logo após a morte de Lénine, tentou dar a entender que, se o Partido seguisse o conselho de Lénine, teria tomado o poder "independentemente do soviete e nas costas dele"; que essa política foi rejeitada e a insurreição adiada de 17 para 25 de Outubro (antigo calendário russo) para coincidir com o II Congresso dos Sovietes. De facto, Lénine propôs a tomada do poder pelos sovietes de Moscovo e Petrogrado antes da abertura do Congresso. Isso foi necessário para antecipar os contra-revolucionários que poderiam a qualquer momento abrir a frente e permitir aos alemães tomarem Petrogrado, e [outras razões]» (Campbell, [106].) Conforme já vimos no artigo anterior, Trotski mente aqui descaradmente. Foi Lénine (com outros) que defendeu esforçadamente a tomada de poder antes da abertura do Congresso. A “conversa” insidiosa de Trotski destina-se a esconder que a sua posição na altura corresponderia a trair a revolução, conforme Lènine assinalou.
Bureaucratic-administrative methods

“Refusing to involve himself in the routine of day-to-day politics, frequently absent from cabinet meetings and other administrative deliberations, Trotsky assumed the post of a statesman above the fray. For Trotsky, the main things were the slogan, the speaker’s platform, the striking gesture, but not routine work. His administrative talents were, indeed, of a low order. The hoard of documents in the Trotsky archive at Harvard University, with numerous communications to Lenin, indicate a congenital incapacity for formulating succinct, practical solutions: as a rule, Lenin neither commented nor acted on them [Trotsky’s communications].” (Pipes, [116].)

“Trotsky, who today appears as the enemy of bureaucracy, came forward with the proposal that the trade unions must become State organs, and that they should be ‘shaken up’ by administrative action on the part of the Communist Party. When this drill sergeant proposal was rejected in the Central Committee of the Party, Trotsky went outside and gathered a group of adherents for the purpose of fighting against the Central Committee.” (Campbell, [106].)

“We will see that Trotsky and Zinoviev did not understand this and were repeatedly guilty of a bureaucratic, domineering attitude towards the masses of the Russian people. This does not prevent Trotsky from posing as an adherent of democracy ‘battling for freedom’ against the ‘Stalinist bureaucracy’.” (Campbell, [106].)

“Trotsky also wrote [in My Life]: `in routine work it was more convenient for Lenin to depend on Stalin, Zinoviev or Kamenev  .... I was not suited for executing commissions .... Lenin needed practical, obedient assistants. I was unsuited to the role'. These sentences say … everything about Trotsky:  he pinned onto Lenin  his own aristocratic and Bonapartist  concept of a party: a leader surrounded by docile assistants who deal with current affairs!” (Martens, [115].)

Unable of self-criticism and withstand criticism

“His lack of self-criticism prevented Trotsky from ever remedying his defects. Typical of this was the following little-known incident. A conference took place in 1921 in the Kremlin Palace between the foremost leaders of the Communist International. ... The subject under discussion was whether a rising should be started in Germany. The majority of those present were in favor of the idea. Lenin came to the meeting, and in a lengthy speech opposed the suggested rising. A rising was actually started in central Germany, ending in a disastrous defeat for Communism. Subsequently another discussion took place in that hall. Trotsky had not been present at the first discussion, but had set down his opinion in writing. Some Russian leaders who had voted in favor of the rising admitted their mistake. This time Trotsky was present, and he made a speech attacking those who had been in favor of the rising. In astonishment his hearers pointed out that he himself had supported the proposal. He denied this, and was reminded that he had actually set down his opinion in writing. His letter was produced. Meanwhile the discussion continued. Trotsky read the letter, said not a word, and went away, with the document in his pocket.” (Basseches, [104].)

“And it is only in the case of Trotsky that we have to take into account a certain amount of strictly personal element, namely Trotsky's opinion of his own importance, which he possesses in a very high degree. His very self-willed nature, his intolerance of any form of criticism ("He never forgets an attack on his ambition," said Lenin) and his disappointment at not being put at the head of affairs without any associates, have a great deal to do with his hostility.” (Barbusse, [109].)

A taste for repression

We have already seen in the previous article that Trotsky's methods were unnecessarily brutal. In 1918 he wanted to shoot all the political commissars of a division from which some officers had deserted to the Whites; this prompted two members of the RMC of the 3rd Army to protest to the CC against the “extremely ill-considered attitude of Trotsky relatively to things like shootings.” Trotsky's order was not fulfilled thanks to the refusal of the protesting officers. The CC severely criticized and admonished Trotsky against such behaviour.

It was of no use. “… in November 1920 angered by reports of insubordination among Red Army troops facing Wrangel, he issued an order that contained the following passage: ‘I, your Red leader, appointed by the government and invested with the confidence of the people, demand complete faith in myself.’ All attempts to question his orders were to be dealt with by summary execution.” [116]

Always ready to distort facts

“Trotsky was a fierce hater and a prolific writer, a polemicist rather than a historian, who was always ready to distort and invent evidence against his enemy.” (Grey, [117].)

In 1922 Trotsky wrote a Postscript to his Peace Program (1915-17). In this Postscript, despite the great advances already made at that time, Trotsky exaggerated the difficulties and distorted facts to validate the thesis that what he had said in 1915-17 (impossible to build socialism in Russia) was still valid. He said, among other things: "Our commercial negotiations with the capitalist States, the concessions, the conference at Genoa, is a definite proof of the impossibility of an isolated construction of Socialism within a national state framework." In fact, the negotiations, concessions, and conference had not been negative as Trotsky implies, and even if they were, this would never constitute a “definitive proof”! As Campbell says about this [106]: "The bold revolutionary, who always liked to pose as being more resolute than anyone else, is clearly exaggerating the difficulties."

“Trotsky, in a book on ‘Lenin’ which he wrote immediately after Lenin’s death, tried to make out that if the Party had followed Lenin’s advice it would have seized power “independently of the Soviet and behind its back”; that this policy was rejected and the insurrection was postponed from October 17th to October 25th (old Russian calendar) in order to coincide with the Second Soviet Congress. In point of fact, Lenin proposed the seizure of power by the Moscow and Petrograd Soviets before the Congress opened. This was necessary to anticipate the counter-revolutionaries who might at any moment open the front and allow the Germans to seize Petrograd, and [other reasons].” (Campbell, [106].) As we saw in the previous article, Trotsky lies here shamelessly. It was Lenin (with others) who strenuously struggled for the seizure of power before the opening of the Congress. Trotsky's insidious "chat" is meant to conceal that his position at the time amounted to betraying the revolution, as Lenin pointed out.

Trotski por ele mesmo

(A ler com atenção)

«Cheguei à Rússia em Fevereiro de 1905 [tinha 26 anos] ... Entre os camaradas russos, não havia ninguém com quem pudesse aprender alguma coisa. ... Os fundamentos teóricos assentes na prisão e no exílio, o método político assimilado no estrahngeiro, encontravam agora aplicação prática pela primeira vez na guerra... Estava confiante perante os eventos. ... Visualizava o efeito deles na mente dos trabalhadores ... Em Outubro [de 1905], mergulhei de cabeça no gigantesco redemoinho que ... foi o maior teste dos meus poderes. ..... Não posso deixar de notar aqui que essas decisões surgiram em mim bastante obviamente: ... Senti organicamente que os meus anos de aprendizagem tinham terminado, embora não no sentido em que parei de aprender. ... Mas nos anos que se seguiram aprendi como um mestre aprende, e não como um aluno. ... Nenhum grande trabalho é possível sem intuição ... Creio que os eventos de 1905 revelaram em mim essa intuição revolucionária e me permitiram confiar no seu garantido apoio durante o resto da minha vida ... os erros que cometi, por mais importantes que tenham sido ... sempre se referiram a questões que não eram fundamentais ou estratégicas ... Na apreciação da situação política não posso, com toda consciência, ... acusar-me de quaisquer erros sérios de julgamento.» Trotski, A Minha Vida, cap. XIV.
Trotsky by himself

(To be read carefully)

“I came to Russia in February of 1905 [he was 26-years old] ... Among the Russian comrades, there was not one from whom I could learn anything. … The theoretical foundations laid in prison and in exile, the political method assimilated abroad, now for the first time found practical application in war. I was confident in the face of events. … I visualized their effect on the minds of the workers … In October [1905], I plunged headlong into the gigantic whirlpool, which … was the greatest test for my powers. .... I can’t help noting here that those decisions came to me quite obviously. .... Without thinking about it … I organically felt that my years of apprenticeship were over, although not in the sense that I stopped learning. … But in the years that followed I have been learning as a master learns, and not as a pupil. … No great work is possible without intuition that is, without that subconscious sense ... The events of 1905 revealed in me, I believe, this revolutionary intuition, and enabled me to rely on its assured support during my later life. … the errors which I have committed, however important they may have been … always referred to questions that were not fundamental or strategic … In all conscientiousness, I cannot, in the appreciation of the political situation as a whole … accuse myself of any serious errors of judgment.” Trotsky, My Life, chap. XIV.

Trotski e a militarização dos sindicatos

Prelúdio
(Abril a início de Novembro de 1920)

Depois dos breves momentos de glória na guerra civil, Trotski, com a sua posição consolidada no partido, abriu de novo a sua bagagem de oportunismo, fraccionismo e oposição a Lénine.

A partir da primavera de 1920, com o fim da guerra civil à vista, Lénine passou a concentrar a sua atenção sobre questões económicas urgentes para construir os alicerces do socialismo. Uma delas era o plano de electrificação da Rússia. A outra, era o papel dos sindicatos que exigia passar dos métodos coercitivos impostos pelo «comunismo de guerra», para métodos democráticos e participativos dos trabalhadores, que melhorassem as suas condições de vida e estimulassem o seu entusiasmo na produção. No início de Novembro de 1920 Lénine escreveu o Projecto de Resolução «As Tarefas dos Sindicatos e os Métodos para Realizá-las», onde chama a atenção para a necessidade -- já reconhecida pelo IX Congresso do PCR(b) de 29 de Março a 5 de Abril de 1920 e pela Conferência do PCR(b) de Setembro de 1920 – quanto a

«... ser iniciada ... uma transição gradual mas firme, dos métodos extraordinários [usados por necessidades da guerra] para a normalização, em particular pelo envio dos melhores organizadores de sindicatos individuais para o reforço do Conselho Central de Sindicatos de Toda a Rússia [CCS] no seu conjunto, para melhorar o seu aparelho, para tornar mais sistemático o trabalho de todos os sindicatos e, assim consolidar o movimento sindical no seu todo.» (As interpolações são nossas, excepto nota em contrário.)

Lénine acrescentava, de acordo com a resolução do IX Congresso do PCR(b):

«Em particular, isto deve ser aplicado ao Tsektran [Comité Central dos Sindicatos dos Transportes]. Há que pôr fim ao seu crescimento desproporcional em comparação com os outros sindicatos; e os melhores elementos assim disponíbilizados devem levar a todo o movimento sindical os métodos de elevação do democratismo, da iniciativa, da participação na gestão da indústria, da emulação, etc., que deram os melhores resultados na prática.»

O Projecto de Resolução constituía, portanto, uma chamada de atenção para resoluções anteriores, para a necessidade (com o fim da guerra) de  reorganizar o trabalho dos sindicatos de acordo com as tarefas da construção socialista pacífica, desenvolver a democracia, e abandonar os métodos militares de direcção e administração. Foi esta linha sindical que o PCR(b) propôs na V Conferência de Toda a Rússia dos Sindicatos, que decorreu de 2 a 6 de Novembro de 1920.

Trotski, porém, que nunca confiara no proletariado e nas massas populares, nem na necessidade do exemplo e da persuação, sustentava que as principais funções do Estado eram administrativas, e que a nova sociedade nasceria não de acordo com leis objectivas, mas de acordo com a vontade dos seus líderes [3]. Já no IX Congresso do PCR(b) tinha defendido o uso do trabalho forçado, dizendo que «[o] homem é um animal bastante preguiçoso» que tinha de ser «disciplinado e esporeado». [3] Não surpreende, portanto, que na citada V Conferência se pronunciasse contra a passagem a novos métodos de trabalho. Na sessão de 3 de Novembro do grupo comunista da V Conferência, Trotski atacou a linha de impulsionar a democracia nos sindicatos falou em «sacudir a partir de cima» os sindicatos, de lhes «apertar os parafusos do comunismo de guerra» e da imediata «governamentalização dos sindicatos»; opôs-se à linha leninista de «abordar as massas, ganhar as massas e ligarmo-nos a elas», defendendo a militarização dos sindicatos [118].

O discurso de Trotski, contestado pelo sindicalista M. Tomski, atiçou novos fraccionismos numa altura em que a questão já tinha sido muito discutida e decidida, e era prioritária a acção prática concreta de recuperação económica. Entretanto, a V Conferência adoptou por mais de 200 votos a favor, com 12 abstenções o documento de Rudzutak (membro do PCR(b)), As Tarefas dos Sindicatos na Produção, que estava de acordo com as teses de Lénine mas que passou despecebido durante algum tempo: «O erro grave que eles [Trotski e outros] (e eu acima de tudo) cometemos foi que "negligenciámos" as teses de Rudzutak ... adoptadas pela V Conferência. Este documento é o mais importante em toda a controvérsia» dirá mais tarde Lénine em A Crise no Partido.

Vimos acima que Lénine também fala do Tsektran, o CC de um sindicato que unificara em Setembro de 1920 dois sindicatos dos transportes, ferroviários e aquáticos, por necessidade de criar uma forte liderança centralizada capaz de garantir a rápida recuperação dos transportes, cuja desorganização ameaçava paralisar a economia. A dificuldade das tarefas exigia a aplicação provisória de medidas extraordinárias e métodos de trabalho militares nesse sindicato. Infelizmente, após realizar um importante trabalho de recuperação dos transportes, o Tsektran – liderado por Trotski -- degenerou num organismo burocrático separado das massas. A burocracia, os métodos puramente administrativos, as designações arbitrárias, o abandono dos métodos de trabalho democráticos, foram repetidamente impostos pelos trotskistas, que tinham tomado o Tsektran e incitado os trabalhadores contra o partido. Esses métodos foram condenados pelo CC do PCR(b). Os plenários do CC de 9 de Novembro e 7 de Dezembro, resolveram integrar o Tsektran no CCS, com direitos iguais com os outros sindicatos e recomendou ao Tsektran mudar de métodos de trabalho e expandir a democracia sindical, com ampla elegibilidade em todos os órgãos sindicais, abolir nomeações arbitrárias, etc. O I Congresso de Toda a Rússia dos Trabalhadores dos Transportes, em Março de 1921, expulsou os trotskistas da liderança do Tsektran e estabeleceu métodos democráticos de trabalho.
Trotsky and the militarization of the trade unions

Prelude
(April to early November 1920)

After the brief moments of glory in the civil war, Trotsky, with a consolidated position in the party, once again opened his stock-in-trade of opportunism, factionalism and opposition to Lenin.

From the spring of 1920, with the end of the civil war in sight, Lenin began focusing his attention on urgent economic issues having in view the foundations of socialism. One on them was the Russian electrification plan. Another was the role of the trade unions which required the shift from coercive methods imposed by the “war communism” to democratic and participatory methods of the workers, bringing about the improvement of their living conditions and stimulating their enthusiasm in production. In early November 1920 Lenin wrote the Draft Resolution on “The Tasks of the Trade Unions, And The Methods of Their Accomplishment”, which draws attention to the need -- already recognized by the Ninth Congress of the RCP (B), March 29 to April 5 1920, and the RCP (B) Conference of September 1920 – as regards

“.. a gradual but steady transition must be effected from urgency procedures to a more even distribution of forces, particularly in the secondment of the individual unions’ best organisers to the All-Russia Central Council of Trade Unions [CCTU] with a view to consolidating that body as a whole, improving the functioning of its apparatus, achieving greater system in the work of all trade unions, and thereby strengthening the entire trade union movement.
(Interpolations are ours, unless otherwise stated.)

Lenin added, in accordance to the resolution of the Ninth Congress of the RCP(B):

This measure should be applied in particular to the Tsektran [Central Committee of the Trade Unions of Transports]; an end must be put to its disproportionate growth as compared with the other unions, and the best elements thus released should extend to the entire trade union movement those methods of the broader application of democracy, the promotion of initiative, participation in the management of industry, the development of emulation, and so forth, which have yielded the best practical results.

The Draft Resolution, therefore, drew attention to previous resolutions on the need (with the end of the war) to reorganize the work of trade unions according to the tasks of peaceful socialist construction, develop democracy, and abandon military methods of management and administration. It was this trade union line that the RCP(B) proposed at the Fifth All-Russia Conference of Trade Unions, which took place from 2 to 6 November 1920.

Trotsky, however, who had never trusted the proletariat and the masses, or the need of example and persuasion, maintained that the main functions of the state were administrative, and that the new society would be born not according to objective laws, but according to the will of their leaders [3]. He had already advocated at the Ninth Congress of the RCP(B) the use of forced labour, saying that "[m]an is a rather lazy animal" that had to be "disciplined and spurred on." [3] It is therefore hardly surprising, that at the aforementioned Fifth Conference, he spoke against moving to new working methods. At the November 3 meeting of the Communist Group of the Fifth Conference, Trotsky attacked the line of promoting democracy in trade unions and spoke of "shaking-up [the trade unions] from above", "tightening the screws of war communism" and the immediate "governmentalization of the trade unions”; he opposed the Leninist line of "approach to the mass, the way of winning it over, and keeping in touch with it", defending the militarization of the unions [118].

Trotsky's speech, contested by the trade-unionist M. Tomsky, stirred up new factions at a time when the issue had already been much discussed and decided, and the priority was concrete practical action for economic recovery. Meanwhile, the Fifth Conference adopted by over 200 votes in favour with 12 abstentions the document submitted by Rudzutak (member of the RCP(B)), The Tasks of the Trade Unions in Production, in line with Lenin's theses, but which had passed unnoticed during some time: “The serious mistake they [Trotsky and others] (and I above all) made was that we "overlooked" Rudzutak's theses ... adopted by the Fifth Conference. That is the most important document in the whole of the controversy,” will say later Lenin in The Party Crisis.

We have seen above that Lenin also mentions the Tsektran, the CC of a unified trade union of two trade unions: rail and water transports. The unification set up in September 1920, had in view the need of a strong centralised leadership capable of tackling tasks of rapid rehabilitation of transports, whose disorganization threatened to paralyse the economy. The enormity of the tasks demanded the provisional application of extraordinary measures and military methods of work in the union. Unfortunately, having carried out an important work of transport rehabilitation, the Tsektran – led by Trotsky -- degenerated into a bureaucratic body isolated from the masses. The Troyskyists who had taken over the Tsektran and incited the workers against the Party repeatedly imposed bureaucracy, purely administrative methods, and the abandonment of democratic methods of work. The plenary sessions of the CC on November 8 and December 7, 1920, condemned Tsektran’s methods and adopted a decision to incorporate it into the CCTU on a par with other trade unions. The Tsektran was advised to change its methods, develop trade union democracy, make elective all trade union bodies, abolish arbitrary appointments, etc. The First All-Russia Congress of Transport Workers in March 1921 expelled the Trotskyists from the Tsektran leadership who opposed this reform and put in place democratic methods of work.



Trotski agrava as divergências

(8 de Novembro de 1920 a início de Janeiro de 1921)

De 8 a 10 de Novembro de 1920 tem lugar um plenário do CC do PCR(b) onde é discutida a questão sindical. A 8 de Novembro Trotski lê as suas teses, Os sindicatos e o seu papel no futuro, onde defende a política do «abanão» camuflada com conversa sobre uma alegada «crise severa» nos sindicatos. Na visão de Trotski, os sindicatos deveriam manter uma disciplina militar usando métodos de coerção, deveriam tornar-se «veículos da repressão revolucionária» com o direito de «ordenar» e de aplicar punições, caso contrário, conforme disse, os sindicatos tornar-se-iam «uma mera fórmula sem substância».

As teses de Trotski receberam 7 votos e as de Lénine 8. (Nessa altura o CC tinha vários seguidores de Trotski [119].) A discussão prossegue. Tomski opõe-se às teses de Trotski e é apoiado por Lénine. As teses de Lénine «As Tarefas dos Sindicatos e os Métodos para Realizá-las» acabam por ser adoptadas por 10 votos contra 4 (Trotski, Andreiev, Krestinski e Rikov) e 1 abstenção.

Surge o «grupo pára-choques» com Bukhárine e Zinoviev. O CC cria uma comissão sindical e elege Trotski para a integrar. Trotski recusa. (O leitor lembrar-se-á de outras recusas de Trotski desde que entrou no PCR(b); sempre que uma comissão ia contra os interesses da sua luta fraccionista, Trotski recusava trabalhar nela.) Como diz mais tarde Lénine em A Crise no Partido:

«Ele [Trotski] recusa-se a trabalhar na comissão, e bastou esse passo para agravar o seu erro original, que posteriormente o leva ao fraccionismo. Sem esse passo, o seu erro (ao submeter teses incorrectas) permaneceria muito pequeno, um de tantos em que alguma vez incorreram todos os membros do Comité Central, sem excepção». (Lénine, no mesmo artigo, autocritica-se por ter feito nessa reunião «uma série de “ataques” evidentemente exagerados e por conseguinte errados».)

De 20 a 22 de Novembro de 1920 realizou-se a Conferência do PCR(b) da Província de Moscovo, de cuja agenda constavam as eleições para o Comité de Moscovo. A Conferência decorreu num ambiente tenso, devido à controvérsia sobre os sindicatos estimulada por Trotski e aos ataques de grupos de oposição que se esforçavam por ganhar influência contra a linha do partido. Esses grupos eram:

-- A «oposição operária», grupo anarco-sindicalista, encabeçado por A. Shliápnikov, S. Medvédev, A. Kollontai, e outros, surgiu em Setembro de 1920 na IX Conferência do PCR(b). A «oposição operária» exigia: entregar a direcção de toda a economía a um «Congresso de produtores» agrupados em sindicatos, que elegeriam um órgão central de direcção de toda a economía; os órgãos de direcção económica seriam eleitos pelos sindicatos respectivos, propondo candidaturas que não poderiam ser recusadas pelo PCR(b) nem pelos sovietes. Tais exigências negavam o papel dirigente do partido como instrumento fundamental na construção socialista. Os sindicatos eram contrapostos ao Estado soviético e ao PCR(b) como forma superior de organização da classe operária.

Durante a Conferência de Moscovo o grupo iniciou a luta fraccionária. A fim de colocar no Comité de Moscovo o maior número possível dos seus partidários, o grupo organizou uma reunião especial de delegados operários numa sala diferente da dos demais. Mais tarde, no X Congresso do PCR(b), Lénine diria: «Em Novembro, quando a Conferência das duas salas foi realizada, quando alguns se reuniram aqui, enquanto outros o fizeram no outro extremo deste mesmo piso, e eu fui a vítima porque tinha de agir como mensageiro e ir de uma sala para outra, foi evidente o dano do nosso trabalho, o começo do fraccionismo e de uma cisão». [120]

-- O «grupo pára-choques», liderado por N. Bukhárine e integrado por I. Larin, E. Preobrajenski, L. Serebriákov, G. Sokólnikov e outros. O grupo dizia querer «amortecer» as diferenças entre Lénine e Trotski quanto ao papel e tarefas dos sindicatos. De facto, no seu falso papel de conciliador, Bukhárine defendeu Trotski por todos os meios e atacou Lénine. Numa reunião a 30 de Dezembro de 1920 Lénine disse (em Os sindicatos, o momento actual e os erros de Trotski) que se pudesse desenhar tão bem caricaturas quanto Bukhárine «o representaria como um homem a derramar um balde de querosene sobre as chamas, com a legenda: “querosene amortecedor”». De facto, o «grupo pára-choques» colaborou com a actividade fraccionária de Trotski. Foi cúmplice do pior e mais prejudicial fraccionismo. Lénine chamou às teses de Bukhárine e seus apoiantes – muitos dos quais trotskistas -- de «o ápice da decomposição ideológica» (em A Crise no Partido). Pouco depois, Bukhárine renunciou a sua plataforma e juntou-se abertamente à posição de Trotski, numa antecipação do que iria acontecer nos anos 30 sob Estáline.

-- O grupo fraccionário oportunista que demagogicamente se intitulava de "centralismo democrático", liderado por M. Boguslavski, N. Osinski, T. Saprónov, V. Smirnov e outros. Agiu pela primeira vez contra a linha do partido no VIII Congresso do PCR(b). O grupo negava o papel dirigente do partido nos sovietes e sindicatos, opunha-se à direcção pessoal e responsabilidade pessoal dos directores da indústria, defendia a fusão do CCP com o presidium do CEC de toda a Rússia, exigia liberdade para fracções e grupos e que fosse abolida a subordinação dos órgãos de poder local ao poder central. No IX Congresso o grupo teve o apoio de A. Rikov, M. Tomski, V. Miliutin e A. Lomov. O IX Congresso criticou severamente os elementos sindicalistas (Shliápnikov, Lozovski, Tomski, Lutovinov), que defendiam a «independência» dos sindicatos contrapondo-os ao PCR(b) e ao poder soviético. O Congresso desmascarou as suas visões antipartidárias e opôs-se-lhes resolutamente, apontando que os sindicatos, como escola do comunismo, deveriam organizar as massas proletárias, treiná-las no trabalho de gestão, elevar o seu nível cultural e político e prepará-las para o papel de construtores do socialismo. O grupo teve reduzida influência nas massas do partido, mas as suas acções foram aprovadas pelos mencheviques, que simpatizavam com eles em muitas questões. O grupo publicou a sua plataforma fraccionária entre 1920 e 1921, durante a discussão sindical. Tomski foi o grande opositor a Trotski na V Conferência.

-- Os «Partidários de Ignátov», grupo anarco-sindicalista e antipartidário, chefiado por Y. N. Ignátov. Existiu em 1920 e 1921, no período de discussão sindical mas a sua influência, confinada a Moscovo, era diminuta. Os partidários de Ignátov compartilhavam as visões anarco-sindicalistas da «oposição operária» num sentido mais anarquista. Depois do X Congresso do PCR(b) o grupo dissolveu-se.

A Conferência do PCR(b) da Província de Moscovo, sob a direcção de Lénine, rejeitou as intervenções contra o partido e apontou a necessidade de combater grupos sem princípios. A lista de candidatos ao Comité de Moscovo, elaborada pela «oposição operária» na sua reunião privada foi rejeitada pela Conferência que aprovou a lista proposta pelo Bureau Político do CC. [121]

De 22 a 29 de Dezembro teve lugar o VIII Congresso de Sovietes de toda a Rússia [122] numa altura em que a frente económica era «a principal e mais importante» (Lénine). Trotski, contudo, aproveitou o Congresso para, numa reunião conjunta a 24 de Dezembro de delegados do Congresso de Sovietes com militantes sindicais, atiçar de novo a questão sindical (que não fazia parte da agenda do Congresso), a fim de obter apoios de fora do CC para as suas teses -- que tinham sido vencidas no CC. Em 25 de Dezembro, publicou-as (em nome de «vários operários responsiáveis») numa brochura-plataforma,  O papel e as tarefas dos sindicatos, que marcou a formação da sua fracção anti-partido.

Na sua brochura Trotski estabelecia um programa de abolição dos sindicatos, enquanto organizações públicas chamadas a defender os interesses dos trabalhadores e a ajudar o partido na educação das massas. Defendia também a ideia da «coalescência» das organizações sindicais com os órgãos económicos, que concentrariam todo o controlo da produção, e a transformação dos sindicatos em órgãos de militarização do trabalho -- não apenas dos operários, mas também dos camponeses. Trotski, de facto, propôs que o trabalho forçado fosse introduzido em todas as esferas da vida da sociedade soviética e pediu a abolição do princípio do incentivo económico, defendido pelas teses de Rudzutak e por Lénine e seus associados no CC.

Na sua brochura Trotski ia ainda mais longe. Ele, que tinha sido um menchevique e um aliado de Kautsky, chamava agora a Lénine (e seguidores) kautskista-menchevique (!) nestes termos exaltados:

«O simples pôr em contraste métodos militares (ordens, punições) com métodos sindicais (explicação, propaganda, actividade independente) é uma manifestação de preconceitos kautskistas-mencheviques-socialista-revolucionários. ... O contraste entre as organizações dos trabalhadores e as organizações militares no estado operário é uma rendição vergonhosa ao kautskismo».

Em 30 de Dezembro de 1920, tem lugar uma reunião conjunta de delegados comunistas que tinham participado no VIII Congresso dos Sovietes com comunistas do CCS e do conselho sindical de Moscovo. Conforme revelaria Lénine no artigo A Crise no Partido, 19 de Janeiro de 1921, «A controvérsia reacende-se intensamente. Zinoviev e Lénine, por um lado, Trotski e Bukhárine, por outro. Bukhárine quer fazer de “pára-choques”, mas só fala contra Lénine e Zinoviev, e nem uma palavra contra Trotski». Trotski e Bukhárine aparecem, portanto, como aliados, inclusive na intriga. De facto, Lénine revela no mesmo artigo:

«Na minha opinião, o clímax de toda a discussão de 30 de Dezembro foi a leitura das teses de Rudzutak. ... Trotski e Bukhárine, longe de se atreverem a objectá-las, até inventaram a lenda de que a “melhor parte” das teses havia sido elaborada por membros de Tsektran -- Holtzmann, Andreiev e Liubimov. ...

«A lenda foi desbaratada nesse mesmo dia, 30 de Dezembro, por Rudzutak, que assinalou que "não existe" nenhum Liubimov no CCS, que no seu presidium Holtzmann tinha votado contra essas teses e que estas foram elaboradas por uma comissão composta por Andreiev, Tsiperovich e ele próprio.

«Mas suponhamos que a lenda de Bukhárine e Trotski era verdadeira. Nada os destrói tão completamente quanto essa suposição. Porque, se “os do Tsektran” incorporaram as suas "novas” ideias na resolução de Rudzutak, se Rudzutak as aceitou, se todos os sindicatos aprovaram essa resolução ... e se Bukhárine e Trotski nada têm a dizer contra ela, o que é que se deduz disto?

«Deduz-se que todas as discrepâncias de Trotski são artificiais, que nem ele nem "os do Tsektran" têm qualquer tipo de "novas tarefas ou métodos", e que tudo o que é prático e essencial já foi dito, aprovado e decidido pelos sindicatos antes mesmo da questão ter sido levantada no Comité Central».

O discurso de Lénine proferido nessa mesma reunião de 30 de Dezembro foi publicado em 1921 com o título: Os sindicatos, o momento actual e os erros de Trotski. Lénine começa por dizer [123]:

«O meu material principal é o brochura do camarada Trotski O papel e as tarefas dos sindicatos. Quando o comparo com as teses que submeteu ao CC e o analiso com cuidado, fico impressionado com a quantidade de erros teóricos e as imprecisões óbvias que contém. Como é possível que alguém, no início de uma grande discussão no partido sobre esta questão, produza algo tão infeliz em vez de uma exposição cuidadosamente pensada?»

Antes de prosseguir para a análise das opiniões de Trotski, Lénine estabelece certos princípios fundamentais do papel dos sindicatos na etapa socialista, na etapa de transição do capitalismo para o comunismo:

«... os sindicatos, que abranjem todos os trabalhadores da indústria [124], são uma organização da classe dirigente, dominante e governante. ... Mas não são uma organização estatal; nem estão destinados à coerção, mas sim à educação. ...; são, de facto, escolas: escolas de administração, escolas de gestão económica, escolas de comunismo. São um tipo de escola muito incomum, porque não têm professores ou alunos; ... Falar sobre o papel dos sindicatos sem ter em conta estas verdades leva inevitavelmente a cair em vários erros.»

E, uma vez justificados teoricamente (e mais tarde Lénine também apresenta dados empíricos justificativos) estes princípios [125], Lénine deduz «conclusões práticas»:

«... os sindicatos são um elo entre a vanguarda e as massas, e pelo seu trabalho quotidiano levam convicção às massas, às massas da única classe capaz de nos levar do capitalismo ao comunismo. Por outro lado, os sindicatos são um "reservatório" do poder do estado. É isso que os sindicatos são no período de transição do capitalismo para o comunismo».

A partir destes princípios, e tendo em conta a situação na Rússia, Lénine passa a apontar os erros de Trotski:

«... há algo basicamente errado, no que diz respeito aos princípios, no camarada Trotsky, quando se refere, na sua primeira tese, à "confusão ideológica" ... Quem sofre de "confusão ideológica" é precisamente Trotski, porque neste problema-chave do papel dos sindicatos, do ponto de vista da transição do capitalismo para o comunismo, perdeu de vista o facto de que estamos aqui diante de um sistema complexo, de engrenagens que não podem ser simples, uma vez que a ditadura [isto é, o papel dominante e dirigente] do proletariado não pode ser exercida através do proletariado organizado como um todo. Não pode funcionar sem uma série de "correias de transmissão" que vão da vanguarda para a massa da classe avançada, e dela para as massas trabalhadoras.»

Observando que Trotski justificava as suas teses como baseadas num "princípio geral" polemizando contra princípios já esclarecidos no IX Congresso, Lénine diz:

«Em geral, o grande erro do camarada Trotski, o seu erro de princípio, é que, quando levanta neste momento uma questão de "princípio", está a arrastar para trás o partido e o poder soviético. Graças a Deus já concluímos os princípios e passámos às tarefas práticas.

«... as verdadeiras divergências não consistem no que o camarada Trotski acredita, mas no problema de como ganhar as massas, como abordá-las, como se relacionar com elas. ... se tivéssemos feito um estudo detalhado, mesmo que em pequenas proporções, da nossa própria experiência e da nossa prática, poderíamos ter evitado as centenas de “divergèncias" e erros de princípio completamente inúteis, de que está cheia a brochura do camarada Trotski.»

Mais adiante, ao discutir a natureza do estado soviético, Lénine faz importantes observações:

«... O programa do nosso partido ... demonstra que o nosso é um estado operário com uma deformação burocrática. Tivemos que marcá-lo com essa etiqueta, digamos, sombria. É esta a realidade da transição.

«Bem, será justo dizer que num Estado que assumiu essa forma na prática, os sindicatos não têm nada a defender, ou que podemos passar sem eles para defender os interesses materiais e espirituais do proletariado organizado como um todo? Não, esse raciocínio está totalmente errado do ponto de vista teórico. .....

«Temos agora um Estado que todo o proletariado organizado deve defender, enquanto nós, pela nossa parte, devemos usar essas organizações dos trabalhadores para defender os trabalhadores face ao seu Estado e para que os trabalhadores defendam o nosso Estado. As duas formas de defesa são alcançadas através de um entrelaçamento peculiar das nossas medidas estatais e do nosso acordo ou "coalescência" com os nossos sindicatos.

«... “coalescer” implica a existência de coisas distintas que ainda têm de ser coalescidas: “coalescer” implica a necessidade de usarmos medidas do poder estatal para proteger os interesses materiais e espirituais do proletariado massivamente organizado desse mesmo poder estatal.»

Lénine também chama a atenção que «... é estranho ouvi-lo [a Bukhárine] dizer, tal como Trotski, que o partido terá que "escolher entre duas tendências"». Uma chamada de atenção a que voltará mais tarde.

Estáline também escreveu a 5 de Janeiro de 1921 um interessante artigo sobre as opiniões de Trotski, intitulado os Nossos Desacordos, que demontra bem porque razão as posições de Trotski não são marxistas, embora Estáline se abstenha de dizer isto explicitamente. Limitamo-nos aqui a três excertos:

«Um grupo de trabalhadores do Partido liderado por Trotski, intoxicado pelos sucessos alcançados pelos métodos militares do exército, supõe que esses métodos podem e devem ser adoptados pelos trabalhadores nos sindicatos, a fim de obter sucessos semelhantes no fortalecimento dos sindicatos e na revitalização da indústria. Mas esse grupo esquece que o exército e a classe trabalhadora são duas esferas diferentes, que um método adequado ao exército pode ser inadequado, prejudicial para a classe trabalhadora e os seus sindicatos».

«O erro que Trotski comete é que subestima a diferença entre o exército e a classe trabalhadora, coloca os sindicatos em pé de igualdade com as organizações militares e tenta, evidentemente por inércia, transferir métodos militares do exército para os sindicatos, para a classe trabalhadora».

«... A democracia nos sindicatos, ou seja, o que geralmente é chamado de “métodos normais de democracia proletária nos sindicatos”, é a democracia consciente, característica das organizações de massas da classe trabalhadora, que pressupõe a consciência da necessidade e utilidade de empregar sistematicamente métodos de persuasão dos milhões de trabalhadores organizados em sindicatos. Se essa consciência está ausente, a democracia torna-se uma palavra vazia.»
Trotsky aggravates disagreements

(From November 8 1920 to early January 1921)

From November 8 to 10, 1920, a plenary session of the CC of the RCP(B) took place where the trade union issue was discussed. On November 8 Trotsky read his theses, The Trade Unions and Their Future Role, where he advocates a policy of “shaking-up” camouflaged with chat about an alleged “severe crisis” in the unions. In Trotsky's view, the trade unions should maintain military discipline using methods of coercion, should become “vehicles of revolutionary repression” with the right to “order” and to mete out punishment, otherwise, he said, they would become “a mere formula without substance”.

Trotsky's theses received 7 votes and Lenin's 8 votes. (At the time the CC had several followers of Trotsky [119].) The discussion goes on. Tomsky opposes Trotsky's theses and is supported by Lenin. Lenin's theses “The Tasks of the Trade Unions, end the Methods of Their Accomplishment” were eventually adopted by 10 votes against 4 (Trotsky, Andreyev, Krestinsky and Rykov) with 1 abstention.

The "buffer group" comes out with Bukharin and Zinoviev. The CC appoints a trade union commission and elects Trotsky to join it. Trotsky refuses. (The reader will remember Trotsky's other refusals since joining the RCP(B); whenever a commission was put up against the interests of his factionalist struggle, Trotsky refused to join it.) As Lenin says later in The Party Crisis:

“He [Trotsky] refuses to work on the commission, magnifying by this step alone his original mistake, which subsequently leads to factionalism. Without that step, his mistake (in submitting incorrect theses) remained a very minor one, such as every member of the Central Committee, without exception, has had occasion to make.” (Lenin, in the same article, criticizes himself for having made at this meeting "a number of number of obviously exaggerated and therefore mistaken ‘attacks’".)

From 20 to 22 November 1920, was held The Moscow Gubernia Conference Of The RCP(B), in whose agenda stood the elections to the Moscow Committee. The Conference took place in a tense atmosphere, due to Trotsky's controversy over the trade unions and the attacks by opposition groups trying to gain influence against the party line. These groups were:

-- The “workers opposition”, an anarcho-syndicalist group headed by A. Shlyapnikov, S. Medvedev, A. Kollontai, and others, emerged in September 1920 at the Ninth Conference of the RCP(B). The “workers opposition” demanded: to hand over the leadership of the whole economy to a “Congress of producers” grouped in trade unions, which would elect a central governing body of the whole economy; the economic governing bodies would be elected by their respective trade unions, proposing candidates that could not be rejected by the RCP(B) or the Soviets. Such demands denied the leading role of the Party as a fundamental instrument in the socialist construction. The trade unions were counterposed to the Soviet state and the RCP(B), as the superior form of working-class organization.

During the Moscow Conference the group began the fractional struggle. In order to place as many of its supporters as possible in the Moscow Committee, the group organized a special meeting of workers' delegates in a different room from the others. Later, at the Tenth Congress of the RCP(B), Lenin would say: “There was evidence of damage to our work, the start of factionalism and a split in November, during the two-room conference -- when some met here and others down at the other end of the floor, and when I had my share of the trouble, for I had to act as errand-boy and shuttle between the rooms.” [120]

-- The “buffer group” headed by N. Bukharin and comprising I. Larin, E. Preobrazhensky, L. Serebryakov, G. Sokolnikov and others. The group claimed as being its purpose to serve as a "buffer" in the differences between Lenin and Trotsky regarding the role and tasks of the trade unions. In reality, Bukharin in his false role of conciliator, defended Trotsky by all means and attacked Lenin. In a meeting on December 30, 1920 Lenin said (in The Trade Unions, The Present Situation And Trotsky’s Mistakes) that if he could draw cartoons as well as Bukharin “I would depict him as a man pouring a bucket of kerosene on the flames, and give the following caption: ‘Buffer kerosene’." In fact, the “buffer group” cooperated with Trotsky's factional activity. It was complicit in the worst and most harmful factionalism. Lenin characterized the theses of Bukharin and his supporters -- many of them Trotskyists -- as "being an all-time low in ideological disintegration" (in The Party Crisis). Shortly thereafter Bukharin resigned his platform and openly joined Trotsky's position in an anticipation of what would occur in the 1930s under Stalin.

-- The opportunist factional group that demagogically called itself "democratic centralism", led by M. Boguslavsky, N. Osinsky, T. Sapronov, V. Smirnov and others. Its first action against the party line took place at the Eighth Congress of the RCP(B). The group refuted the leading role of the party in the soviets and trade unions, opposed the personal leadership and personal responsibility of industry directors, advocated merging the CPC with the Presidium of the All-Russian CEC, demanded freedom for factions and groups, and a ban on the subordination of local authorities to central power. At the Ninth Congress the group got the support of A. Rykov, M. Tomsky, V. Milyutin and A. Lomov. The Ninth Congress severely criticized the trade union elements (Shlyapnikov, Lozovsky, Tomsky, Lutovinov), who defended the "independence" of the trade unions opposing them to the RCP(B) and Soviet power. The Congress unmasked their anti-Party views and resolutely opposed them, pointing out that trade unions, as schools of communism, should organize the proletarian masses, train them in management work, raise their cultural and political level and prepare them as builders of socialism. The group had little influence on the Party masses, but their actions were approved by the Mensheviks, who sympathized with them on many issues. The group published its factional platform between 1920 and 1921 during the trade union controversy. Tomsky was the great opponent to Trotsky at the V Conference.

-- The "Activists of Ignatov", an anarcho-syndicalist and anti-party group headed by Y. N. Ignatov. It existed in 1920 and 1921, during the period of the trade union controversy but its influence, confined to Moscow, was quite small. Ignatov's supporters shared the anarcho-syndicalist views of the "workers opposition" in a more anarchist sense. After the Tenth Congress of the RCP(B) Ignatov's group was dissolved.

The Moscow Gubernia Conference Of The RCP(B), under Lenin's leadership, rejected interventions against the party and pointed to the need to fight unprincipled groups. The list of candidates for the Moscow Committee drawn up by the “workers' opposition” at its private meeting was rejected by the Conference which approved the list proposed by the CC Political Bureau. [121]

From 22 to 29 December took place the Eighth All Russia Congress of Soviets [122] at a time when the economic front was "the main and most important" one (Lenin). Trotsky took advantage of the Congress to stir up again the trade union issue (which was not an item of the Congress agenda) at a joint meeting hold on 24 December of delegates to the Congress of Soviets with trade union activists. His aim was to carry support for his theses -- which had been defeated in the CC – from outside the CC. He published them on 25 December, (on behalf of “a number of responsible workers”) in a pamphlet-platform, The Role and Tasks of Trade Unions, which marked the formation of his anti-Party faction.

In his pamphlet Trotsky set out a program for abolishing trade unions as public organizations called upon to defend the interests of working people and to assist the party in the upbringing of the masses. He advocated also the idea of the "coalescence" of trade union organizations with the economic bodies, which would concentrate all control of production, and the transformation of the trade unions into bodies for the militarization of labour -- not only of the workers but also of the peasants. Trotsky, in fact, proposed that forced labour be introduced into all walks of life of Soviet society and called for the abolition of the principle of economic incentive, advocated in Rudzutak’s theses of and by Lenin and his associates in the CC.

In his pamphlet Trotsky went even a step further. He, who had been a Menshevik and an ally of Kautsky, was now calling Lenin (and followers) a Kautskyite-Menshevike (!) In these excited terms:

“The bare contrasting of military methods (orders, punishment) with trade-union methods (explanation, propaganda, independent activity) is a manifestation of Kautskian-Menshevik-Socialist-Revolutionary prejudices. … The very contrasting of labour organisations with military organisation in a workers’ state is shameful surrender to Kautskyism.”

On December 30, 1920, took place a joint meeting of communist delegates who had participated in the Eighth Congress of the Soviets with communists of the CCTU and communists of the Moscow City Council of trade unions. As Lenin would reveal in his article The Party Crisis, January 19 1921, “The controversy flares up to full blast. Zinoviev and Lenin on one side, Trotsky and Bukharin on the other.  Bukharin wants to play the ‘buffer’, but speaks only against Lenin and Zinoviev, and not a word against Trotsky." Thus, Trotsky and Bukharin came out as allies, even in intrigue. As a matter of fact, Lenin reveals in the same article:

“In my opinion, the climax of the whole discussion of December 30 was the reading of Comrade Rudzutak’s theses. … Trotsky and Bukharin, far from being able to object to them, even invented the legend that the ‘best part’ of the theses had been drawn up by members of Tsektran -- Holtzmann, Andreyev and Lyubimov.

The legend was exploded that very day, December 30, by Rudzutak, who pointed out that Lyubimov “did not exist” on the All-Russia Central Council of Trade Unions, that in its presidium Holtzmann had voted against these theses, and that they had been drawn up by a commission consisting of Andreyev, Tsiperovich and himself.

“But let us for a moment assume that Comrades Trotsky and Bukharin’s legend is true. Nothing so completely defeats them as such an assumption. For what is the conclusion if the ‘Tsektranites’ had inserted their “new” ideas into Rudzutak’s resolution, if Rudzutak had accepted them, if all the trade unions had adopted this resolution … and if Bukharin and Trotsky have nothing to say against it? 

It is that all of Trotsky’s disagreements are artificial, that neither he nor the ‘Tsektranites’ have any “new tasks or methods”, and that everything practical and substantive had been said, adopted and decided upon by the trade unions, even before the question was raised in the Central Committee.

Lenin's speech at that same meeting of 30 December was published in 1921 with the title: The Trade Unions, The Present Situation And Trotsky’s Mistakes. Lenin begins by saying [123]:

My principal material is Comrade Trotsky’s pamphlet, The Role and Tasks of the Trade Unions. When I compare it with the theses he submitted to the CC, and go over it very carefully, I am amazed at the number of theoretical mistakes and glaring blunders it contains. How could anyone starting a big Party discussion on this question produce such a sorry excuse for a carefully thought out statement?”

Before proceeding to analyze Trotsky's views, Lenin sets out certain fundamental principles of the role of trade unions in the socialist stage, in the transition stage from capitalism to communism:

“…trade unions, which take in all industrial workers [124], are an organisation of the ruling, dominant, governing class …. But it is not a state organisation; nor is it one designed for coercion, but for education. …; it is, in fact, a school: a school of administration, a school of economic management, a school of communism. It is a very unusual type of school, because there are no teachers or pupils; … To talk about the role of the trade unions without taking these truths into account is to fall straight into a number of errors.”

And, once theoretically justified these principles (and later Lenin also provides supporting empirical data) [125], Lenin deduces “practical conclusions”:

“… the trade unions are a link between the vanguard and the masses, and by their daily work bring conviction to the masses, the masses of the class which alone is capable of taking us from capitalism to communism. On the other hand, the trade unions are a ‘reservoir’ of the state power. This is what the trade unions are in the period of transition from capitalism to communism.”

From these principles, and taking into account the situation in Russia, Lenin proceeds to point out Trotsky's mistakes:

“… there is something fundamentally wrong in principle when Comrade Trotsky points, in his first thesis, to ‘ideological confusion’ … It is Trotsky who is in ‘ideological confusion’, because in this key question of the trade unions’ role, from the standpoint of transition from capitalism to communism, he has lost sight of the fact that we have here a complex arrangement of cogwheels which cannot be a simple one; for the dictatorship [i.e., the dominant and ruling role] of the proletariat cannot be exercised by a mass proletarian organisation. It cannot work without a number of ‘transmission belts’ running from the vanguard to the mass of the advanced class, and from the latter to the mass of the working people.”

Observing that Trotsky justified his theses as being based on a "general principle", arguing against principles that had already been clarified at the Ninth Congress, Lenin says:

In general, Comrade Trotsky’s great mistake, his mistake of principle, lies in the fact that by raising the question of “principle” at this time he is dragging back the Party and the Soviet power. We have, thank heaven, done with principles and have gone on to practical business.”

“… the actual differences do not lie where Comrade Trotsky sees them but in the question of how to approach the mass, win it over, and keep in touch with it. … had we made a detailed, even if small-scale, study of our own experience and practices, we should have managed to avoid the hundreds of quite unnecessary “differences” and errors of principle in which Comrade Trotsky’s pamphlet abounds.”

Further on, when discussing the nature of the Soviet state, Lenin makes important observations:

“… Our Party Programme … shows that ours is a workers’ state with a bureaucratic twist to it. We have had to mark it with this dismal, shall I say, tag. There you have the reality of the transition.

“Well, is it right to say that in a state that has taken this shape in practice the trade unions have nothing to protect, or that we can do without them in protecting the material and spiritual interests of the massively organised proletariat? No, this reasoning is theoretically quite wrong. .....

“We now have a state under which it is the business of the massively organised proletariat to protect itself, while we, for our part, must use these workers’ organisations to protect the workers from their state, and to get them to protect our state. Both forms of protection are achieved through the peculiar interweaving of our state measures and our agreeing or ‘coalescing’ with our trade unions.

“…’coalescing’ implies the existence of distinct things that have yet to be coalesced: ‘coalescing’ implies the need to be able to use measures of the state power to protect the material and spiritual interests of the massively organised proletariat from that very same state power.”

Lenin also points out that "... it is strange to hear you [Bukharin] say, like Trotsky, that the Party will have to "choose between two trends." This alarm bell will receive further attention from Lenin at a later time.

Stalin also wrote on 5 January 1921 an interesting article on Trotsky's opinions, entitled Our Disagreements, which demonstrates well why Trotsky's positions are not of a Marxist, though Stalin abstains himself of writing that explicitly. We limit ourselves here to three excerpts:

“A group of Party workers headed by Trotsky, intoxicated by the successes achieved by military methods in the army, supposes that those methods can, and must, be adopted among the workers, in the trade unions, in order to achieve similar successes in strengthening the unions and in reviving industry. But this group forgets that the army and the working class are two different spheres, that a method that is suitable for the army may prove to be unsuitable, harmful, for the working class and its trade unions.”

“The mistake Trotsky makes is that he underrates the difference between the army and the working class, he puts the trade unions on a par with the military organisations, and tries, evidently by inertia, to transfer military methods from the army into the trade unions, into the working class.”

“… Democracy in the trade unions, i.e., what is usually called ‘normal methods of proletarian democracy in the unions,’ is the conscious democracy characteristic of mass working-class organisations, which presupposes consciousness of the necessity and utility of systematically employing methods of persuasion among the millions of workers organised in the trade unions. If that consciousness is absent, democracy becomes an empty sound.”


O fraccionismo de Trotski é derrotado

(Janeiro a Março de 1921)

Apesar de já criticados de forma exaustiva e demonstrativa, e apesar de já derrotados em reuniões do CC, os grupos oposicionistas persistiram na sua actividade, com relevância para Trotski e Bukhárine. Note-se que não se tratava aqui de uma mera exposição de opiniões diferentes; tratava-se sim de uma actividade fraccionista contra a linha adoptada democraticamente pelo partido, que semeava confusões e diversionismo entre os trabalhadores e camponeses, causando danos consideráveis à frente económica.

A 14 de Janeiro de 1921, quando já decorriam trabalhos de preparação do X Congresso do PCR(b), a Comissão Sobre os Sindicatos do CC editou a brochura Projecto de resolução do X Congreso do PCR sobre o papel e as tarefas dos sindicatos assinado por nove membros do CC (Zinóviev, Estáline, Tomski, Rudzutak, Kálinine, Kámenev, Petróvski, Artiom y Lénine) e também por Lozovski, membro da comissão sindical. [126]

A 16 de Janeiro, o jornal Pravda, cujo chefe de Redacção era Bukhárine, publicou a plataforma Bukhárine (assinada também por Larin, Preobrajenski, Serebriakov, Sokolnikov, Yakovleva) e a plataforma Saprónov do «centralismo democrático» (assinada também por Bubnov, Boguslavski, Kamenski, Maximovski, Osinski, Rafail). Na reunião alargada do Comité de Moscovo do PCR(b) de 17 de Janeiro pronunciaram-se também os «Ignatovistas» que vêem a sua plataforma publicada no Pravda em 19 de Janeiro. Todas estas plataformas defendiam teses anarco-sindicalistas, de «sindicalizar o Estado». Lénine comentou que Bukarin tinha caído num erro muito mais sério do que todos os de Trotski em conjunto que equivalia a romper com o comunismo. Numa votação na reunião alargada do Comité de Moscovo do PCR(b) de 17 de Janeiro as teses de Lénine obtiveram 84 votos contra 27 de Trotski. A 18 de Janeiro o Comité de Moscovo apelou a todas as organizações para apoiarem unanimemente as teses de Lénine.

Em 26 de Janeiro foi publicado pela Secção de Imprensa do Soviete de Moscovo o artigo de Lénine Mais uma Vez Sobre os Sindicatos, o Momento Actual e os Erros dos Camaradas Trótski e Bukhárine. [127] O artigo é longo e importante. Nele Lénine põe a claro – com numerosos exemplos extraídos da brochura de Trotski de 25 de Dezembro de 1920 e de afirmações posteriores – os seus intentos fraccionstas e o seu palavreado enganador. Põe também a claro – e este aspecto não é  menor, conforme se iria revelar nos anos 30 – o encobrimento que Bukhárine prestava ao fraccionismo de Trotski no seu falso papel de «amortecedor» que Bukhárine justificava assim: «... quando um comboio tende a ir rumo a um choque, não é nada mau ter um pára-choques». Limitar-nos-emos aqui a assinalar alguns excertos de análises feitas por Lénine às posições de Trotski.

«A brochura de Trotski abre com a afirmação de que “é fruto dum trabalho colectivo”, que “vários trabalhadores responsáveis, particularmente sindicalistas ... participaram na sua elaboração e que é uma "brochura-plataforma". No final da tese 4, lemos que "o próximo Congresso do partido terá que escolher [itálico de Trotski] entre as duas tendências do movimento sindical".» (A interpolação é de Lénine.)

«Se isto não é a formação de uma fracção por um membro do CC, se isto não significa "rumo a um choque", que o camarada Bukhárine, ou qualquer dos seus correligionários, expliquem ao Partido qual é o outro significado possível das palavras "fraccionismo", e o partido "tende a ir rumo a um choque". ...

«Imaginem: depois dos dois plenários do CC (9 de Novembro e 7 de Dezembro) numa discussão sem precedentes, detalhada e acalorada das teses originais do camarada Trotski e de toda a política sindical que ele advoga para o partido, um membro do CC, um de dezanove, forma um grupo fora do CC e apresenta o seu “trabalho colectivo” como uma “plataforma”, convidando o Congresso do partido a “escolher entre duas tendências”!»

Era evidente que Trotski procurava formar (e formou) uma fracção, numa altura em que a saúde de Lénine periclitava [123,  127], procurando alçar-se a figura de topo do partido. Quanto a Bukhárine o mais importante era diminuir Lénine face a Trotski. Diz Lénine logo a seguir à última citação acima: «Isto, aliás, ... é uma demonstração flagrante do verdadeiro papel do grupo Bukhárine como apoiante do pior e mais prejudicial tipo de fraccionismo». Mais adiante diz Lénine sobre Trotski :

«... Vejamos os ataques fraccionistas que abundam nesta brochura. Na primeira tese, encontramos um “gesto” ameaçador contra “certos trabalhadores do movimento sindical” lançados “para trás, para o sindicalismo, puro e simples, que o partido repudiou como princípio há muito tempo” (evidentemente o partido é representado por apenas um membro dos dezanove do CC). A tese 8 condena grandiloquentemente "o conservadorismo profissionalista da camada dirigente de funcionários sindicais" (note-se esta concentração realmente burocrática da atenção na "camada dirigente"!). A tese 11 começa com a espantosamente diplomática, conclusiva e eficiente "insinuação" (como dizê-lo com mais delicadeza?) que a "maioria dos sindicalistas ... reconhece apenas formalmente, ou seja, em palavras" as resoluções do IX Congresso do Partido.

«Descobrimos assim que temos diante de nós juízes de muita autoridade que dizem que a maioria (!) dos sindicalistas reconhece apenas em palavras as decisões do partido!»

A pose de sapiência de Trotski, que fora de qualquer análise concreta se sente autorizado para se colocar acima do partido e das massas, como uma espécie de ser iluminado – talvez por se basear na sua famosa «intuição» revolucionária -- é aqui clara. Na análise da tese 12 de Trotski, Lénine comenta, entre outras, a afirmação de Trotski de que «... ao repudiar as novas tarefas e métodos, muitos dirigentes sindicais tendem a cultivar no seu meio um espírito de estreiteza ...»:

«... examinai esta maneira de abordar a questão: muitos dirigentes sindicais "tendem a cultivar no seu meio um espírito"... É uma abordagem totalmente burocrática. Toda a questão, vejam lá, está no "espírito" que Tomski e Lozovski tendem a cultivar "no seu meio" e de modo nenhum no nível de desenvolvimento nem nas condições de vida das massas, de milhões de homens.»

E Lénine, chamando a atenção que «sem querer Trotski revelou o fundo de toda a questão que ele e o “pára-choques" Bukhárine e C.ª têm evitado e dissimulado com tanto cuidado», conclui (colocámos margens extra para realçar):

«Qual é o fundo da questão? É o facto de muitos dirigentes sindicais repudiarem as novas tarefas e métodos e tenderem a cultivar no seu meio um espírito de hostilidade para com os novos funcionários?

«Ou é o facto de que as massas de trabalhadores organizados em sindicatos protestam legitimamente e exprimem inevitavelmente a sua disposição de expulsar os novos funcionários que se recusam a corrigir os excessos inúteis e nocivos de burocratismo?

«Estará o fundo da questão em que alguém se recusa a entender as "novas tarefas e métodos"?

«Ou em que alguém tenta sem êxito dissimular a defesa de certos excessos inúteis e nocivos da burocratismo com muita conversa sobre novas tarefas e métodos?

Vemos aqui o falso anti-burocrata Trotski desmascarado por Lénine precisamente por querer aplicar aos sindicatos «excessos inúteis e nocivos da burocratismo» dentro da sua visão de militarizar, «apertar os parafusos» aos sindicatos. Aliás, Trotski sempre se incomodou apenas com o que ele estigmatizava de «burocracia» nos outros; mas, com os seus «excessos inúteis e nocivos da burocratismo» sempre se deu bem.

Trotski sentindo a falsa posição em que se colocara, recorreu a nova verborreia para justificar métodos militares em organizações civis -- «[j]á tivemos uma atmosfera de guerra... devemos agora ter uma atmosfera de produção» -- e minimizar a antiga palavra de ordem de "sacudir a partir de cima"). Lénine desmascara as duas. Sobre a última:

«Parece agora ao camarada Trotski que atribuir-lhe a política de "sacudir a partir de cima" é "uma simples caricatura" ... Mas a palavrinha “sacudir” tornou-se verdadeiramente “proverbial”, não só no sentido de que, depois de proferido pelo camarada Trotski na V Conferência ... “percorreu” tanto o partido como os sindicatos. Infelizmente, ainda hoje continua a ser exacta num sentido muito mais profundo, que resume só por si todo o espírito, toda a tendência da brochura-plataforma Papel e Tarefas dos Sindicatos. A brochura-plataforma do camarada Trotski está repleta do espírito da política de "sacudir a partir de cima"»

No X Congresso do PCR(b) (8-16 de Março, 1921) Lénine no Discurso sobre os sindicatos (Parte II.5) denuncia novas falsidades de Trotski e a sua indisciplina:

«O camarada Trotski disse a sua palavra final na discussão sobre a questão sindical no Pravda, em 29 de Janeiro de 1921. No seu artigo, «Existem desacordos, mas porquê confundir as coisas?», acusou-me de ser o responsável por essa confusão ...

«A acusação volta-se totalmente contra Trotski; é ele que tenta culpar outros. Todo o seu artigo se baseia na alegação de que tinha levantado a questão do papel dos sindicatos na produção e era esse o assunto em discussão. É falso; não foi isso que criou as divergências e as exacerbou. ...

«Já naquela altura [V Conferência], todos os que não tinham ignorado a resolução de Rudzutak compreenderam ... que sobre o papel dos sindicatos na produção não poderiam surgir divergências.
.....
«O camarada Trotski agora ri-se da minha pergunta sobre quem começou tudo e fica surpreso que eu o censure por se recusar a servir na comissão.

«Fiz isso porque isso é muito importante, camarada Trotsky, muito importante, de facto; a sua recusa em servir na comissão sindical foi uma violação da disciplina do CC. E quando Trotski fala disso, o resultado não é uma controvérsia, mas um abalo do partido e a criação de sentimentos amargos ...
.....
«Quando a autoridade do camarada Trotski é acrescentada a isso, e quando num discurso público em 25 de Dezembro, disse que o Congresso teria escolher entre duas tendências, essas palavras são imperdoáveis!»

O X Congresso condenou as ideias da «oposição operária», do grupo «centralismo democrático» e de outras tendências, e aprovou por maioria esmagadora a linha leninista sobre os sindicatos.

Lénine explicou também no X Congresso os danos causados pelos grupos oposicionistas. Sem de qualquer forma travar o debate de opiniões, bem pelo contrário, Lénine realçou (mais uma de tantas vezes desde 1903) a necessidade de unidade: «... não sería acertado pôr um ponto final [na discussão] dizendo: “Acabemos com as discussões. Basta”. Mas a discussão teórica é uma coisa e a linha política do partido -- a luta política -- é outra. Nós não somos um clube de debates. Podemos, é claro, editar simpósios e publicações especiais, e continuaremos a fazê-lo, mas o nosso primeiro dever é lutar nas condições mais difíceis, e para isso é necessária a unidade». A resolução "Sobre a Unidade do Partido" aprovada no X Congresso por proposta de Lénine ordenou a dissolução imediata de todas as fracções que enfraqueciam a unidade do Partido. O Congresso autorizou o CC a aplicar, como medida extrema, a expulsão do Partido de membros do CC envolvidos em actividades fraccionistas.

Após o X Congresso, o grupo de Ignátov e grande parte dos membros da base do grupo «oposição operária» apoiou incondicionalmente a linha do Partido. No entanto, o que restou da «oposição», liderado por Shliápnikov e Medvedev, manteve a organização ilegal e continuou a fazer propaganda antipartidária, encobrindo-a com fraseologia ultra-revolucionária. A liquidação orgânica do grupo só ocorreu em 1922, no XI Congresso do PCR(b).

Trotski e os líderes do grupo «centralismo democrático» também continuaram a desenvolver atividade fraccionária antipartido. Em 1923, constituíram um bloco, chamado «grupo dos 15», liderado por Sapronov e Smirnov, que foi expulso do partido no XV Congresso do PCTU(b) em Dezembro de 1927.

Os partidários de Trotski afirmam por vezes que a proibição de fracções aprovada no X Congresso se destinava a ser temporária. Mas nada consta nas Actas do Congresso que apoie tal ideia.[128] É mais uma lenda trotskista.
Trotsky's factionalism is defeated

(January to March 1921)

In spite of having already been thoroughly and demonstratively criticized, in spite of having already been defeated in CC meetings, the oppositionist groups persisted in their activity, with relevance to Trotsky and Bukharin. Let us note that this was not merely a presentation of different opinions; it was rather a fractional activity against the line democratically adopted by the party, which caused confusion and diversion among the workers and peasants, causing considerable damage to the economic front.

On January 14 1921, when the preparatory work for the Tenth Congress of the RCP(B) was already underway the CC Commission on Trade Unions issued the brochure Draft Resolution of the Tenth Congress of the RCP on the Role and Tasks of Trade Unions signed by nine members of the CC (Zinoviev, Stalin, Tomsky, Rudzutak, Kalinin, Kamenev, Petrovsky, Artiom and Lenin) and also by Lozovsky, member of the trade union commission. [126]

On January 16 the newspaper Pravda, whose editor-in-chief was Bukharin, published the Bukharin platform (also signed by Larin, Preobrazhensky, Serebryakov, Sokolnikov, Yakovleva) and the Sapronov platform of the “democratic centralism” (also signed by Bubnov, Boguslavsky, Kamensky, Maximovsky, Osinsky, Rafail). At the enlarged meeting of the Moscow Committee of the RCP(B) on January 17 the “Ignatovites” also spoke and got their platform published in Pravda on January 19. All these platforms upheld anarcho-syndicalist theses of "trade-unionizing the state". Lenin commented that Bukharin had fallen into a much more serious mistake than all of Trotsky's put together amounting to a break with communism. In a vote at the enlarged meeting of the Moscow Committee of the RCP(B) of January 17 Lenin's theses obtained 84 votes against 27 Trotsky’s. On January 18 the Moscow Committee appealed to all organizations to an unanimous support of Lenin’s theses.

On 26 January, the Press Section of the Moscow Soviet published Lenin's pamphlet Once Again On The Trade Unions, The Current Situation and the Mistakes of Trotsky and Buhkarin. [127] The pamphlet is long and important. In it Lenin brings to light -- using numerous examples taken from Trotsky's pamphlet of 25 December 1920 and Trotsky’s later statements -- his factional intentions and his deceiving phrase mongering. Lenin also brings to light -- and this aspect is no less important, as would be revealed in the 1930s -- Bukharin's concealment of Trotsky's factionalism in his false role of “buffer”, which Bukharin justified in this way: “... when a train seems to be heading for a crash, a buffer is not a bad thing at all”. We will confine ourselves here to a few excerpts from Lenin's analyses of Trotsky's positions.

“Trotsky’s pamphlet opens with the statement that ‘it is the fruit of collective work’, that ‘a number of responsible workers, particularly trade unionists … took part in compiling it, and that it is a ‘platform pamphlet’. At the end of thesis 4 we read that ‘the forthcoming Party Congress will have to choose [Trotsky’s italics] between the two trends within the trade union movement’. (Lenin’s interpolation)

“If this is not the formation of a faction by a member of the CC, if this does not mean ‘heading for a crash’, then let Comrade Bukharin, or anyone of his fellow-thinkers, explain to the Party any other possible meaning of the words ‘factionalism’, and the Party ‘seems to be heading for a crash’. ...

“Just imagine: after the CC had spent two plenary meetings (November 9 and December 7) in an unprecedentedly long, detailed and heated discussion of Comrade Trotsky’s original draft theses and of the entire trade union policy that he advocates for the Party, one member of the CC, one out of nineteen, forms a group outside the CC and presents his ‘collective work’ as a ‘platform’, inviting the Party Congress ‘to choose between two trends’!”

It was evident that Trotsky was seeking to form (and did form) a faction, at a time when Lenin's health was crumbling [123, 127], was seeking to ascend to top figure of the Party. For Bukharin, on the other hand, the most important thing was to diminish Lenin against Trotsky. Lenin says, following the last citation above: "This, incidentally, … is a glaring exposure of the Bukharin group’s true role as abettors of the worst and most harmful sort of factionalism." Further in his article Lenin writes about Trotsky -- "one out of nineteen of the CC":

“… Look at the factional attacks in which this pamphlet abounds. In the very first thesis we find a threatening ‘gesture’ at ‘certain workers in the trade union movement’ who are thrown ‘back to trade-unionism, pure and simple, which the Party repudiated in principle long ago’ (evidently the Party is represented by only one member of the CC’s nineteen). Thesis 8 grandiloquently condemns ‘the craft conservatism prevalent among the top trade union functionaries’ (note the truly bureaucratic concentration of attention on the ‘top’!). Thesis 11 opens with the astonishingly tactful, conclusive and business-like (what is the most polite word for it?) ‘hint’ that the ‘majority of the trade unionists … give only formal, that is, verbal, recognition’ to the resolutions of the Party’s Ninth Congress.

“We find that we have some very authoritative judges before us who say the majority (!) of the trade unionists give only verbal recognition to the Party’s decisions.”

Trotsky's pose of sapience, who out of any concrete analysis feels authorized to place himself above the party and the masses as some sort of enlightened being -- perhaps on basis of his famous revolutionary ‘intuition' -- is here quite clear. In analyzing Trotsky's thesis 12, Lenin comments, among other things, Trotsky's statement that "… many trade unionists, balking at the new tasks, and methods, tend to cultivate in their midst a spirit of corporative exclusiveness ...":

“… take a closer look at the approach to the subject: many trade unionists ‘tend to cultivate in their midst a spirit’… This is an out-and-out bureaucratic approach. The whole point, you see, is not the level of development and living conditions of the masses in their millions, but the ‘spirit’ which Tomsky and Lozovsky tend to cultivate ‘in their midst’.”

And Lenin, drawing attention to the fact that "Trotsky has unwittingly revealed the essence of the whole controversy which he and the Bukharin and Co. ‘buffer’ have been evading and camouflaging with such care" sums up (we place extra margins to highlight):

“What is the point at issue? Is it the fact that many trade unionists are balking at the new tasks and methods and tend to cultivate in their midst a spirit of hostility for the new officials?

Or is it that the masses of organised workers are legitimately protesting and inevitably showing readiness to throw out the new officials who refuse to rectify the useless and harmful excesses of bureaucracy?

“Is it that someone has refused to understand the ‘new tasks and methods’?

Or is it that someone is making a clumsy attempt to cover up his defence of certain useless and harmful excesses of bureaucracy with a lot of talk about new tasks and methods?

We see here the false anti-bureaucrat Trotsky unmasked by Lenin, precisely for wanting to apply to the trade unions "useless and harmful excesses of bureaucracy" within his vision of militarizing, "tightening the screws" to the trade unions. As a matter of fact, as regards "bureaucracy", Trotsky systematically expressed his hostility only towards what he stigmatized as such in others; but with his own "useless and harmful excesses of bureaucracy" he always lived well.

Trotsky, sensing the false position he had put himself in, resorted to new phrase mongering -- to justify military methods in civil organizations: "[w]e once had a war atmosphere... we must now have a production atmosphere" -- and downplayed the old slogan "shake-up from above". Lenin unmasks them both. About the last:

“It now seems to Comrade Trotsky that it is ‘an utter travesty’ to ascribe the ‘shake-up-from-above’ policy to him ... But ‘shake-up’ is a real ‘catchword’, not only in the sense that after being uttered by Comrade Trotsky at the Fifth All-Russia Conference … it has … ‘caught on’ throughout the Party and the trade unions. Unfortunately, it remains true even today in the much more profound sense that it alone epitomises the whole spirit, the whole trend of the platform pamphlet entitled The Role and Tactics of the Trade Unions. Comrade Trotsky’s platform pamphlet is shot through with the spirit of the “shake-up-from-above” policy.

At the Tenth Congress of the RCP(B) (March 8-16, 1921), Lenin in his Speech on the Trade Unions (Part II.5) denounces the most recent false statements of Trotsky and his indiscipline:

Comrade Trotsky had his final say in the discussion on the trade union question in Pravda of January 29, 1921. In his article, “There Are Disagreements, But Why Confuse Things?”, he accused me of being responsible for this confusion ...

The accusation recoils on Trotsky, for he is trying to shift the blame. The whole of his article was based on the claim that he had raised the question of the role of the trade unions in production, and that this is the subject that ought to have been discussed. This is not true; it is not this that has caused the disagreements, and made them painful. …

Already at that time [Fifth Conference] it was realised by everyone who had not overlooked Rudzutak’s resolution … that no disagreements could be found on the role of the trade unions in production.
……
Comrade Trotsky now laughs at my asking who started it all, and is surprised that I should reproach him for refusing to serve on the commission.

I did it because this is very important, Comrade Trotsky, very important, indeed; your refusal to serve on the trade union commission was a violation of Central Committee discipline. And when Trotsky talks about it, the result is not a controversy, but a shake up of the Party, and a generation of bitter feeling
…..
But when Comrade Trotsky’s authority was added to this, and when in a public speech on December 25 he said that the Congress must choose between two trends, such words are unpardonable!”

The Tenth Congress condemned the ideas of the "workers' opposition", the "democratic centralism" group and other tendencies, and overwhelmingly approved the Leninist line on trade unions.

Lenin also explained at the Tenth Congress the damage caused by opposition groups. Without in any way putting a break on the debate of opinions, quite the contrary, Lenin stressed (once again since 1903!) the need for unity: “it would be wrong to have done with it by saying, ‘Let’s have no more discussions. Full stop.’ But a theoretical discussion is one thing, and the Party’s political line -- a political struggle -- is another. We are not a debating society. Of course, we are able to publish symposiums and special publications and will continue to do so but our first duty is to carry on the fight against great odds, and that needs unity.” The resolution "On Party Unity" adopted at the Tenth Congress on Lenin’s motion ordered the immediate dissolution of all factions that weakened the Party’s unity. The Congress authorized the CC to apply, as an extreme measure, expulsion from the Party of CC members involved in factional activity.

After the Tenth Congress, Ignátov's group and most rank-and-file members of the "workers opposition" group unconditionally supported the Party line. However, what remained of the "opposition", led by Shlyapnikov and Medvedev, kept the organization illegal and continued to carry out anti-party propaganda, masking it with ultra-revolutionary phrase mongering. The organic liquidation of the group only took place in 1922 at the Eleventh Congress of the RCP(B).

Trotsky and the leaders of the "democratic centralism" group also continued to develop anti-Party factional activity. In 1923, they formed a bloc, the so-called "group of 15," led by Sapronov and Smirnov, who was expelled from the Party at the Fifteenth Congress of the AUCP(B) in December 1927.

Supporters of Trotsky sometimes claim that the ban of factions approved at the Tenth Congress was intended to be temporary. But there is nothing in the Minutes of the Congress to support such an idea. [128] It is yet another Trotskyist legend.

Notas VI | Notes VI

[103] Recorremos ao monumental (1400 páginas A4) e extremamente útil repositório de citações intitulado The Real Stalin recolhidas por Claud (“Klo”) Dennis McKinsey, que foi publicado por https://espressostalinist.com/the-real-stalin-series/. Muitas das citações recolhidas por “Klo” McKinsey foram por nós verificadas. Adicionámos também citações de outras fontes.
We made use of the monumental (1400 A4 pages) and extremely useful repository of quotations entitled The Real Stalin collected by Claud (“Klo”) Dennis McKinsey, published by https://espressostalinist.com/the-real-stalin-series/. Many of the quotations collected by "Klo" McKinsey wre checked by us. We also added quotations from other sources.

[104] Basseches, Nikolaus. Stalin. London, N.Y, Staples Press, 1952. Basseches foi correspondente na URSS do jornal austríaco burguês Neue Freie Press. Atacou várias vezes as políticas económicas soviéticas em termos tais que levaram Estáline a propor a sua expulsão da URSS numa carta a Kaganovitch e Molotov. Contudo, a sua biografia de Estáline é considerada por alguns mais objectiva e menos anti-estalinista que as de Trotski, Djillas e de sociais-democratas.
Basseches, Nikolaus. Stalin. London, N.Y, Staples Press, 1952. Basseches was correspondent in the USSR of the bourgeois Austrian newspaper Neue Freie Press. He repeatedly attacked Soviet economic policies in such a way that led Stalin to propose his expulsion from the USSR in a letter to Kaganovich and Molotov. However, his biography of Stalin is considered by some to be more objective and less anti-Stalinist than those of Trotsky, Djillas, and social democrats.

[105] Murphy, John Thomas. Stalin, London, John Lane, 1945. Murphy foi um sindicalista inglês que se tornou em 1917 um dos líderes do Workers’ Committees and Shop Stewards’ Movement, aderindo ao Socialist Labour Party. Com a Revolução de Outubro evoluiu para o bolchevismo, vindo a participar no Comintern. Foi preso em 1925 com outros militantes por ser comunista. Veio a tornar-se crítico de Estaline no final da 2.ª GM e segundo parece a renunciar ao marxismo.
Murphy, John Thomas. Stalin, London, John Lane, 1945. Murphy was an English trade unionist who became in 1917 one of the leaders of the Workers’ Committees and Shop Stewards' Movement, joining the Socialist Labour Party. With the October Revolution he evolved into Bolshevism, participating in the Comintern. He was arrested in 1925 with other militants for being a communist. He became critical of Stalin at the end of WWII and, apparently, he ended up renouncing Marxism.

[106] Campbell, John Ross, Soviet Policy and its Critics, London, Victor Gollancz Ltd, 1939. Campbell foi um comunista britânico (CPGB). Em 1924 foi acusado sob a Lei de Incitar ao Motim por um artigo publicado no Workers' Weekly: apelou aos soldados britânicos que "tornassem claro que, nem na guerra de classes nem na guerra militar, virariam as suas armas contra os seus irmãos trabalhadores." Em 1932, Campbell tornou-se editor do Daily Worker do CPGB. Em 1939 publicou o seu livro em grande parte em defesa dos julgamentos de Moscovo, depois de aí passar um ano observando os acontecimentos.
Campbell, John Ross, Soviet Policy and its Critics, London, Victor Gollancz Ltd, 1939. Campbell was a British Communist (CPGB). In 1924 he was charged under the Mutiny Act by an article in Workers' Weekly: he called on British soldiers to "let it be known that, neither in the class war nor in a military war, will you turn your guns on your fellow workers." In 1932, Campbell became editor of the CPGB Daily Worker. In 1939 he published his book largely in defence of the Moscow Trials, after spending a year observing the events.

[107] Duranty, Walter, I Write as I Please, N.Y., Simon and Schuster, 1935. Duranty foi um jornalista anglo-americano que chefiou a agência em Moscovo do The New York Times de 1932 a 1936. Ganhou o prémio Pulitzer pelas suas reportagens sobre a URSS. Embora criticasse os russos e Estáline em termos bastante reaccionários, tendenciosos e que totalmente distorciam a verdade, diz-se que a reacção americana não lhe perdoou ter desmentido o mito do alegado Holodomor na Ucrânia e da alegada «farsa» dos julgamentos de Moscovo em 1938. Contudo, uma leitura do seu livro The Kremlin and the People, de 1941, não nos mostrou qualquer objectividade e vontade de investigar a verdade quanto aos julgamentos de Moscovo. Pelo contrário, revelam um Duranty superficial e auto-convencido, cheio de preconceitos enraizados, e de uma futilidade espantosa.
Duranty, Walter, I Write as I Please, N.Y., Simon and Schuster, 1935. Duranty was an Anglo-American journalist who headed the Moscow agency of The New York Times in 1932-1936. He won the Pulitzer Prize for his reporting on the USSR. Although he criticized the Russians and Stalin in very reactionary terms, in biased terms which completely distorted the truth, it has been said that the American reaction did not forgive him for having denied the myth of the alleged Holodomor in Ukraine and the alleged “farce” of the Moscow trials in 1938. However, a reading of his 1941 book The Kremlin and the People showed us no objectivity and willingness to investigate the truth about the Moscow trials. On the contrary, they reveal a self-convinced and superficial Duranty, full of deep-rooted prejudice and astonishing futility.

[108] Cole, David M. Josef Stalin; Man of Steel, London, N.Y., Rich & Cowan, 1942. O autor é inglês e veicula no seu livro a visão burguesa sobre a Revolução de Outubro, Lénine, Estáline, etc. O livro é citado pela The Royal Institute of International Affairs, Oxford Academic: «Uma biografia detalhada que é ao mesmo tempo um relato do desenvolvimento do Estado soviético. O autor constrói um relato dramático, mas contido, a partir do material disponível.» É também citado por um jornalista que escreve para a US Foreign Affairs.
Cole, David M. Josef Stalin; Man of Steel, London, N.Y., Rich & Cowan, 1942. The author is English and conveys in his book the bourgeois vision of the October Revolution, Lenin, Stalin, etc. The book is mentioned by The Royal Institute of International Affairs, Oxford Academic: “A detailed biography that is at the same time an account of the development of the Soviet state. The author builds a dramatic but restrained story from the available material.” The book is also cited by a journalist who writes for the US Foreign Affairs.

[109] Barbusse, Henri. Stalin. N.Y., The Macmillan Co., 1935. Barbusse foi um escritor francês, amigo de Einstein durante toda a vida. Viveu muito tempo em Moscovo tornando-se amigo da URSS e de Estáline. Aderiu ao PCF em 1923. Figura de renome mundial pela sua obra e actividade progressistas, foi uma das figuras emblemáticas da Frente Popular na França. Falecido em Setembro de 1935, foi aclamado pela multidão que invadiu as ruas de Paris durante o seu funeral em Paris. O escritor André Malraux pronunciou o seu elogio em nome da Associação de Escritores e Artistas Revolucionários. Está enterrado no cemitério de Père-Lachaise, não muito longe do Muro dos Federados.
Barbusse, Henri, Stalin, N.Y., The Macmillan Co., 1935. Barbusse was a French writer and a lifelong friend of Einstein. He lived for a long time in Moscow becoming friends with the USSR and Stalin. He joined the PCF in 1923. A world renowned figure for his progressive literary work, positions and activity, he was one of the emblematic figures of the Popular Front in France. Deceased in September 1935, he was acclaimed by the crowd that invaded the streets of Paris during his funeral in Paris. Writer André Malraux pronounced his praise on behalf of the Association of Revolutionary Writers and Artists. He is buried in Père-Lachaise cemetery, not far from the Federated Wall.

[110] Chamberlin, William Henry, Soviet Russia. Boston: Little, Brown, 1930. Jornalista americano correspondente em Moscovo para o The Christian Science Monitor no período 1922-1934. No livro Soviet Russia, de 1930, escreveu sobre a NEP e, em geral, mostra apoiar a Revolução Russa. Quando regressou aos EUA veio a tornar-se gradualmente anti-comunista. No livro The Russian Revolution, publicado em 1935, é claramente hostil ao regime soviético e aos bolcheviques, defendendo pontos de vista burgueses, embora se mantenha objectivo em muitos aspectos. Trata com simpatia Trotski, em termos elogiosos no final do cap. 2. Toma aí claro partido por ele, defendendo-o no incidente com o 3.º exército quando Trotsky mandou fuzilar sem necessidade comissários veteranos bolcheviques.
Chamberlin, William Henry, Soviet Russia. Boston: Little, Brown, 1930. American journalist correspondent in Moscow for The Christian Science Monitor, 1922-1934. In the 1930 book Soviet Russia, he wrote about the NEP and generally shows support for the Russian Revolution. When he returned to the US, he gradually became anti-communist. In the book The Russian Revolution, published in 1935, he is clearly hostile to the Soviet regime and the Bolsheviks, defending bourgeois views, although remaining objective in many respects. He treats Trotsky with sympathy, even in praising terms at the end of the chapter 2, where he clearly takes sides with him, defending him in the incident with the 3rd army when Trotsky unnecessarily ordered veteran Bolshevik commissars to be shot.

[111] Davis, Jerome, Behind Soviet Power, N. Y., The Readers’ Press, Inc., c. 1946. Davis, um cristão metodista, foi professor de sociologia. Tornou-se defensor do pacifismo quando visitou os campos de prisioneiros da 1.ª GM na Rússia, integrado numa missão da YMCA. Tornou-se amigo de Lénine durante a Revolução, visitando-o muitas vezes no Kremlin. Nos EUA defendeu causas conotadas com a esquerda, tendo sido por isso perseguido. Em 1939 levantou um processo a um jornalista por o descrever no The Saturday Evening Post como “um comunista e um estalinista”, processo que veio a ganhar. Foi um dos fundadores do movimento internacional pela paz.
Davis, Jerome, Behind Soviet Power, N.Y., The Readers' Press, Inc., c1946. Davis, a Methodist Christian, was a professor of sociology. He became an advocate of pacifism when he visited the WWI prison camps in Russia as part of a YMCA mission. He became friends with Lenin during the Revolution, often visiting him in the Kremlin. In the USA, he advocated left-wing causes and was persecuted for that. In 1939 he filed a lawsuit with a journalist for describing him in The Saturday Evening Post as "a communist and a Stalinist," a lawsuit that he won. He was one of the founders of the international peace movement.

[112] Deutscher, Isaac, Stalin, A Political Biography. Oxford Univ. Press, 1967.
O jornalista e escritor polaco I. Deutscher foi um famoso biógrafo trotskista de Trotski. Estudou filosofia e economia aderindo ao Partido Comunista da Polónia (KPP) em 1927. Viajou pela URSS em 1931 e no regresso fundou um grupo anti-estalinista no KPP. Expulso do KPP exilou-se no R.U. onde aderiu por pouco tempo a um grupo trotskista. Em 1942 tornou-se jornalista do jornal burguês The Economist (jornal com ligações ao MI5 e CIA). Em 1946-47 deixou o jornalismo para se tornar escritor. Tornou-se biógrafo de Trotski e um dos poucos a quem foi concedido acesso aos arquivos Trotski da Universidade de Harvard. O seu nome aparece com a nota «só simpatizante» na lista que George Orwell – um trotskista informador dos serviços secretos britânicos -- preparou em 1949 para o Information Research Department do MI6 sobre comunistas no R.U.  Na década de 1960, em pleno movimento da esquerda contra a guerra do Vietname, o trotskismo de Deutscher virou «marxismo humanista». Tony Blair elogiou a obra de Deutscher em 2006. Deutscher, cujo trajecto foi cada vez mais para a direita, de conciliação com o imperialismo, e de desgosto por qualquer revolução, só revela um rebate de decência nas edições do seu Stalin posteriores a 1948 onde argumenta porque razão não se pode igualar Estáline a Hitler.
The Polish journalist and writer I. Deutscher was a famous Trotskyist biographer of Trotsky. He studied philosophy and economics, joining the Communist Party of Poland (KPP) in 1927. He travelled through the USSR in 1931 and on his return founded an anti-Stalinist group in the KPP. Expelled from the KPP he exiled in the UK where he joined a Trotskyist group for a short time. He became a journalist in 1942 of the bourgeois newspaper The Economist (with ties to the MI5 and CIA). He left journalism in 1946-47 to become a writer. He became a biographer of Trotsky and one of the few to be granted access to Trotsky archives at the Harvard University. His name appears with the note "sympathizer only" on the list that George Orwell -- a Trotskyist and informant of the British secret services -- prepared in 1949 for the MI6's Information Research Department on communists in the UK. In the 60s, in the midst of a leftist movement against the Vietnam War, Deutscher's Trotskyism turned "humanistic Marxism." Tony Blair praised Deutscher's work in 2006. Deutscher, whose trajectory has always been rightwards, conciliatory with imperialism and of disgust for any revolution, only reveals a ringing of decency in the editions of his book Stalin subsequent to 1948 where he argues why one cannot equate Stalin to Hitler.

[113] Deutscher, Isaac. The Prophet Outcast. London, N.Y., Oxford Univ. Press, 1963.

[114] Deutscher, Isaac. The Prophet Unarmed. London, N.Y., Oxford Univ. Press, 1959.

[115] Martens, Ludo, Un autre regard sur Staline, Ed. EPO, Anvers, Bélgique, 1994. Edição portuguesa: Um Outro Olhar sobre Stáline, Ed. Para a História do Socialismo, Agosto 2009.
Martens estudou medicina na Universidade de Lovaina. Cono membro da União Católica de Estudantes Flamengos do Ensino Superior lutou com outros colegas segundo linhas progressistas e internacionalistas contra posições xenófobas e nacionalistas. Expulso da Universidade por ter denunciado a pedofilia no clero, enveredou pelo activismo político e foi fundador do Partido do Trabalho da Bélgica (PTB). Enquanto todos os outros partidos belgas  sucumbiram ao estreito nacionalismo, divididos em línguas e linhas nacionais, o PTB, o mais importante legado de Ludo à classe operária belga, permaneceu um partido de todos os trabalhadores belgas, flamengos e valões, unidos na luta pelo socialismo e contra o imperialismo belga. Martens também dedicou grande atenção à história e situação política do Congo. O seu livro sobre Estáline é um grande contributo para a história da URSS.
Martens, Ludo, Un autre regard sur Staline, Ed. EPO, Anvers, Bélgique, 1994. Translated into English: Another view of Stalin, Copyright 1995 John Plaice.
Martens studied medicine at the University of Leuven. As a member of the Catholic Union of Flemish Students in Higher Education, he fought with other colleagues along progressive and internationalist lines against xenophobic and nationalist positions. Expelled from the University for denouncing paedophilia in the clergy, he pursued political activism and was the founder of the Belgian Labour Party (PTB). While all the other Belgian parties succumbed to narrow nationalism, divided along languages and national lines, the PTB, Ludo's most important legacy to the Belgian working class, remained a party of all Belgian, Flemish and Walloon workers, united in the struggle for socialism and against Belgian imperialism. Martens also paid great attention to the history and political situation of the Congo. His book on Stalin is a great contribution to the history of the USSR.

[116] Pipes, Richard. Russia Under the Bolshevik Regime. N.Y., A.A. Knopf, 1993. Pipes era um americano de origem polaca (Ryszard Pipes) que veio a ser Professor na Universidade de Harvard. Especializou-se em história da Rússia, particularmente da União Soviética, adoptando um ponto de vista fortemente anti-comunista ao longo da sua carreira. Em 1976, chefiou uma equipa de analistas da CIA (o diretor da CIA era George H. W. Bush) para analisar as capacidades e os objetivos estratégicos da liderança política e militar soviética. Foi consultor do Stanford Research Institute, de 1973 a 1978. Em 1981 e 1982, actuou como membro do Conselho de Segurança Nacional, ocupando o cargo de diretor de assuntos da Europa Oriental e Soviética sob o presidente Ronald Reagan. Participou em duas reuniões do Clube Bilderberg, nas quais leccionou. Na década de 1970, Pipes foi um dos principais críticos de détente.
Pipes, Richard. Russia Under the Bolshevik Regime. N.Y., A.A. Knopf, 1993. Pipes was an American of Polish origin (Ryszard Pipes) who became Professor at Harvard University. He specialized in Russian history, particularly the Soviet Union, adopting a strong anti-communist viewpoint throughout his career. In 1976, he headed a CIA analyst team (the then CIA Director was George H. W. Bush) to analyze the capabilities and strategic objectives of Soviet political and military leadership. He was a consultant to the Stanford Research Institute from 1973 to 1978. In 1981 and 1982, he served as a member of the National Security Council, serving as director of Eastern and Soviet European affairs under President Ronald Reagan. He participated in two meetings of the Bilderberg Club, where he taught. In the 1970s, Pipes was one of the main critics of the détente.

[117] Grey, Ian. Stalin, Man of History. London: Weidenfeld and Nicolson, 1979. Grey era um historiador nascido na Nova Zelândia que se dedicou à história da Rússia. Em 1941, ingressou na marinha australiana e foi destacado para a Inteligência Naval do Almirantado em Londres, servindo na União Soviética como oficial. Serviu por dois anos e meio no norte da Rússia, actuando como elo de ligação nos Contratorpedeiros Britânicos da Marinha Soviética no Ártico. É considerado um historiador burguês,  mas honesto.
Grey, Ian. Stalin, Man of History. London: Weidenfeld and Nicolson, 1979. Gray was a New Zealand-born historian who devoted himself to Russian history. In 1941, he joined the Australian Navy and was posted to the Naval Intelligence of the Admiralty in London, serving in the Soviet Union as an officer. He served for two and a half years in northern Russia, acting as a liaison for the British Destroyers of the Soviet Navy in the Arctic. He is considered a bourgeois historian, but honest.

[118] As opiniões de Trotski na reunião de 3 de Novembro de 1920 são referidas em Istoriya profsoyuzov, Glava 11. 5-ya Vserossiyskaya konferentsiya profsoyuzov (http://istprof.ru/2165.html#_ftnref4) (História dos Sindicatos, Cap. 11 – V Conferência de Toda a Rússia dos Sindicatos) baseado no: Stenograficheskiy otchet Pyatoy Vserossiyskoy Konferentsii profsoyuzov. - Str. 65 (Relatório Estenográfico da V Conferência de Toda a Rússia dos Sindicatos – pág. 65)
Lénine também cita as opiniões de Trotski em: A Crise no Partido, 19 de Janeiro de 1921;  Mais uma Vez Sobre os Sindicatos, o Momento Actual e os Erros dos Camaradas Trótski e Bukhárine, 25 de Janeiro de 1921; Discurso sobre os Sindicatos, de 14 de Março de 1921, no X Congresso do PCR(b) (Secção II.5).
Trotsky's views at the meeting on 3 November 1920 are referred to in Istoriya profsoyuzov, Glava 11. 5-ya Vserossiyskaya konferentsiya profsoyuzov (http://istprof.ru/2165.html#_ftnref4) (History of Trade Unions, Chapter 11 - Fifth All-Russia Conference of Trade Unions) based on: Stenograficheskiy otchet Pyatoy Vserossiyskoy Konferentsii profsoyuzov. - Str. 65 (Verbatim Report of the Fifth All-Russia Conference of Trade Unions – p. 65)

[119] De acordo com as votações, só estariam presentes 15 dos 19 membros do CC eleitos pelo IX Congresso do PCR(b). Trotski e seus seguidores compunham pelo menos 7 dos membros de CC: N. Krestinski, E. Preobrajenski, K. Radek, C. Rakovski, L. Serebriakov, I. Smirnov, L. Trotski.
According to the votes, only 15 of the 19 CC members elected by the Ninth Congress of the RCP(B) would have been present. Trotsky and his followers made up at least 7 of the CC members: N. Krestinsky, E. Preobrazhensky, K. Radek, C. Rakovsky, L. Serebryakov, I. Smirnov, L. Trotsky.

[120] Lénine, X Congresso do PCR(b), Palavras Finais sobre o Relatório do PCR(b), Secção II.3, 9 de Março de 1921. | Tenth Congress of the R.C.P.(B.) II.3- Summing-Up Speech On The Report Of The C.C. Of The R.C.P.(B.), March 9 1921.

[121] Bureau Político do CC: Kamenev, Krestinski, Lénine, Estàline, Trotski | CC Political Bureau: Kamenev, Krestinsky, Lenin, Stalin, Trotsky.

[122] VIII Congresso de Sovietes de toda a Rússia de trabalhadores, camponeses, deputados do Exército Vermelho e cossacos. Participaram 2.537 delegados, o maior número de sempre. Do número total de delegados, 91,7% eram comunistas; 2.7%, simpatizantes comunistas; 3.9%, pessoas sem partido; 0,3%, mencheviques; 0,3%, Bundistas; 0,15%, SRs de esquerda; 0,15%, anarquistas e 0,8% de outros partidos.
O Congresso reuniu-se num momento em que a frente económica era «a principal e mais importante» (Lénine). Agenda: relatório sobre a atividade do CEC de toda a Rússia e do CCP, eletrificação da Rússia; reabilitação da indústria e transportes; desenvolvimento da produção agrícola e promoção da agricultura; eficiência dos estabelecimentos soviéticos e luta contra as práticas burocráticas. O Congresso adoptou o plano para a eletrificação do país e um projecto de lei sobre medidas para consolidar e desenvolver a agricultura camponesa. Lénine participou na discussão das suas principais cláusulas pelos delegados camponeses que não eram do Partido, numa reunião extraordinária em 22 de Dezembro.
Eighth All-Russia Congress of Soviets of Workers’, Peasants’, Red Army and Cossack Deputies held in Moscow on December 22-29, 1920. It was attended by 2,537 delegates, the greatest number ever. Of the total number of delegates 91.7 per cent were Communists; 2.7, Communist sympathisers; 3.9, non-party people; 0.3, Mensheviks; 0.3, Bundists; 0.15, Left S.R.s; 0.15, anarchists, and 0.8, from other parties.
The Congress met at a time when the economic front stood out as “the main and most important one” (Lenin). Agenda: report on the activity of the All-Russia CEC and the CPC, electrification of Russia; rehabilitation of industry and transport; development of agricultural production and promotion of farming; efficiency of Soviet establishments and the struggle against bureaucratic practices. The Congress adopted a plan for the electrification of the country and a draft law on measures to consolidate and develop peasant farming. Lenin took part in the discussion of its principal clauses by the non-Party peasant delegates to the Congress at a special meeting on December 22.

[123] Na verdade, a nossa citação é o § 2 do discurso de Lénine. O primeiro parágrafo, a abertura do discurso, é:
«Camaradas, antes de tudo, devo pedir desculpa por me afastar do regulamento, porque para participar do debate deveria ter ouvido o relatório, o co-relatório e as intervenções. Infelizmente, sinto-me tão mal que não estou em posição de fazê-lo. Mas ontem pude ler os principais documentos publicados e preparar as minhas observações. O facto de me afastar do regulamento naturalmente causar-lhes-á alguns inconvenientes: ao não ouvir as outras intervenções, posso repetir o que os outros disseram e deixar de lado o que devia tratar. Mas não tinha outra escolha» (ênfases nossos).
In fact, our quotation is § 2 of Lenin's speech. The first paragraph, the opening of the speech, is:
“Comrades, I must first of all apologise for departing from the rules of procedure, for anyone wishing to take part in the debate should have heard the report, the second report and the speeches. I am so unwell, unfortunately, that I have been unable to do this. But I was able yesterday to read the principal printed documents and to prepare my remarks. This departure from the rules will naturally cause you some inconvenience; not having heard the other speeches, I may go over old ground and leave out what should be dealt with. But I had no choice.” (our emphasis)

[124] Nessa época não existiam ainda sindicatos de trabalhadores de serviços. | At that time there weren’t yet any trade unions of the service sector.

[125] Justificação teórica:
«Em geral, essa transição [do capitalismo para o comunismo] não pode ser alcançada sem a liderança da classe que é a única que o capitalismo treinou para a produção em larga escala e que é a única que está divorciada dos interesses do pequeno proprietário. Mas o [papel dominante do proletariado na construção do socialismo – Lénine usa o termo científico de «ditadura do proletariado» de que demos s definição noutro artigo] não pode ser exercido através de uma organização que abrange toda essa classe, porque em todos os países capitalistas ... o proletariado ainda está tão dividido, tão degradado e tão corrompido em algumas partes (pelo imperialismo em alguns países) que uma organização que integra todo o proletariado» não pode exercer directamente» esse papel da classe dirigente, dominante e governante. Esse papel «Só pode ser exercido por uma vanguarda que concentra a energia revolucionária da classe.»

«.... os sindicatos estão, se assim posso dizer, entre o Partido e o governo», pois esse papel dominante do proletariado «não pode ser exercido ou as funções do governo desempenhadas sem uma base como os sindicatos» e as funções do governo “através de instituições especiais de novo tipo, como os sovietes.»

Theoretical justification:
“In general, this transition [from capitalism to communism] cannot be achieved without the leadership of that class which is the only class capitalism has trained for large-scale production and which alone is divorced from the interests of the petty proprietor. But the [dominant role of the proletariat in the construction of socialism -- Lenin uses the scientific term "dictatorship of the proletariat" whose definition we gave in another article] cannot be exercised through an organisation embracing the whole of that class, because in all capitalist countries … the proletariat is still so divided, so degraded, and so corrupted in parts (by imperialism in some countries) that an organisation taking in the whole proletariat cannot directly exercise proletarian dictatorship. It can be exercised only by a vanguard that has absorbed the revolutionary energy of the class.”

“… the trade unions stand, if I may say so, between the Party and the government” for that dominant role of the proletariat “cannot be exercised or the functions of government performed without a foundation such as the trade unions” and the functions of the government “through the medium of special institutions which are also of a new type, namely, the Soviets.”

[126] O documento ficou conhecido como «plataforma dos dez». Definía o papel dos sindicatos à luz das novas tarefas em relação com o fim da guerra civil e passagem à construção socialista pacífica. Aos sindicatos era atribuído o papel de escolas de direcção, administração e comunismo. A sua função principal era tomar parte no governo do Estado, na preparação de quadros para o aparelho soviético e económico, na luta por fortalecer a disciplina de trabalho. Deviam basear o seu trabalho de educação na persuasão e nas práticas democráticas.
The document became known as the “platform of the ten”. It defined the role of the trade unions in the light of the new tasks connected with the end of the Civil War and transition to peaceful socialist construction: the trade unions, being a school of administration, a school of economic management, a school of communism, were chiefly to take part in government, train personnel for government bodies and economic agencies, and help tighten labour discipline. They were to base their work on education, persuasion and democratic practices.

[127] Lénine começou a escrever o artigo em 21 ou 22 de Janeiro de 1921, em Gorki, onde descansava. Ao regressar a Moscovo em 22 de Janeiro, entregou a maior parte do artigo à secretária para dactilografar. Lénine terminou o trabalho em 25 de Janeiro e enviou-o para o impressor. Já tarde em 26 de Janeiro os membros do CC que participavam das discussões locais sobre o papel e as tarefas dos sindicatos receberam cópias do artigo impresso, enquanto os restantes exemplares ficaram prontos em 27 de Janeiro. (ênfases nossos).
Lenin began writing the pamphlet on January 21 or 22, 1921, in Gorki where he was taking a rest. Upon his return to Moscow on January 22, he handed the greater part of the pamphlet to his secretary for typing. He finished the work on January 25 and had it sent to the printer’s. Late on January 26, CC members who were going to attend local discussions of the trade unions’ role and tasks were given copies of the printed pamphlet, while the rest of the copies were ready on January 27. (our emphasis)

[128] Grover Furr, The Murder of Sergei Kirov, Aakar Books, 2018, pág. 78, nota 42: «... Os defensores de Trotsky afirmam por vezes que essa proibição era temporária. Mas não há linguagem na discussão no 10.º Congresso do Partido sugerindo que se pretendia que fosse temporária (Protokoly 523-548). Veja 10-i s’ezd RKP(b) (8-16 marta 1921 goda). Protokoly (Moscow: Partizdat, 1933)».
Grover Furr, The Murder of Sergei Kirov, Aakar Books, 2018, p. 78, note 42: “… Supporters of Trotsky sometimes claim that this ban was intended to be temporary. But there is no language in the discussion at the 10th Party Congress suggesting that it was intended to be temporary (Protokoly 523-548). See 10-i s’ezd RKP(b) (8-16 marta 1921 goda). Protokoly (Moscow: Partizdat, 1933).”