domingo, 10 de novembro de 2019

Pânico no Federal Reserve e retorno ao "credit crunch" num oceano de dívidas


Panic in the Federal Reserve and return to the “credit crunch” in an ocean of debts


Dado o seu interesse,  divulgamos abaixo um artigo da autoria de Eric Toussaint, docente na Universidade de Liège, e porta-voz do CADTM - Committee for the Abolition of Illegitimate Debt. Autor de vários livros sobre temas económicos, coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, que funcionou sob a alçada do Parlamento grego entre Abril e Outubro de 2015 e foi dissolvida a 12/11/2015. Encontrámos este artigo em resistir.info com tradução do original por Rui Viana Pereira.
Given its interest, we post below a translation of an article by Eric Toussaint, Professor at the University of Liège and spokesman for the CADTM - Committee for the Abolition of Illegitimate Debt. Author of several books on economic topics he coordinated the work of the Truth Commission on Public Debt, under the tutelage of the Greek Parliament between April and October 2015 and dissolved on 2015/11/12. We found this article on resistir.info with translation from the original into Portuguese by Rui Viana Pereira.

Pânico no Federal Reserve* e retorno ao "credit crunch" num oceano de dívidas

Eric Toussaint

4 de Outubro de 2019
Panic in the Federal Reserve and return to the “credit crunch” in an ocean of debts

by Eric Toussaint

October 4, 2019
*Federal Reserve, ou Fed, é o banco central dos EUA.

Num cenário de descalabro, o FED injectou 53,2 mil milhões de dólares nos bancos a 17 de Setembro de 2019, porque estes não conseguiam obter financiamento corrente, dia a dia, nem no mercado interbancário nem nos money market funds (ver caixa "O que são os money market funds?"). O Fed voltou a fazer o mesmo nos dias 18 e 19 de Setembro.

Este tipo de procedimento traz à memória o mês de setembro de 2008, quando os grandes bancos, em pleno descalabro, deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros (o que, entre outras coisas, provocou a falência do banco Lehman Brothers) e tiveram de apelar à ajuda dos bancos centrais. Os grandes bancos privados já não confiavam uns nos outros. O mercado bancário secou subitamente; a este estado de coisas a imprensa chamou credit crunch. A partir desse momento, a Fed injectou continuamente liquidez nos grandes bancos privados dos EUA e até 2011 permitiu que os bancos europeus recorressem massivamente à liquidez em dólares. Tinha de ser: os bancos norte-americanos e os bancos europeus estavam de tal maneira interligados, que a falta de liquidez na Europa impediria os bancos europeus de honrar os seus compromissos com os bancos norte-americanos, provocando-lhes graves dificuldades.

Na terça-feira, 17 de setembro de 2019, no mercado interbancário e no mercado dos money market funds, os bancos viram-se na contingência de aceitar pagar juros na ordem dos 10 % se quisessem ter acesso ao crédito, enquanto a taxa a que a Fed emprestava dinheiro aos bancos rondava os 2 a 2,25 %. Por isso, face à pressão do grande capital e de Trump, a Fed emprestou aos bancos privados 53,2 mil milhões de dólares ao fim do dia 17 de Setembro. E no dia seguinte, novamente sob pressão de Trump, dos grandes bancos e das grandes empresas, a Fed baixou a taxa de juros oficial pela primeira vez em 3 meses. Na quarta-feira, 18 de setembro, a taxa da Fed fixou-se em 1,75% e 2%, ou seja, desceu 0,25%. Apesar desta descida, Trump exprimiu mais uma vez uma crítica dura, via tweet: "Jay Powell e o Federal Reserve voltaram a falhar. Falta-lhes tomates, tino e visão". Trump quer que o Fed reduza muito mais a taxa de juro, que a fixe em 0%, a fim de corresponder à política do BCE e do Banco do Japão, cujas taxas já se situam nos 0%.
In a disaster scenario, the Fed injected $ 53.2 billion into banks on September 17, 2019, because they could not get day-to-day financing for current tasks either in the interbank market or in the money market funds (see box "What are money market funds?"). The Fed did the same again on 18 and 19 September.

This type of procedure brings to memory the month of September 2008, when the big banks, in full disaster, stopped lending each other money (which, among other things, caused the bankruptcy of Lehman Brothers) and had to appeal to help from central banks. The big private banks no longer trusted each other. The banking market suddenly dried up; this state of affairs was called credit crunch by the press. From that point on, the Fed continually injected liquidity into the large US private banks and until 2011 allowed European banks to resort heavily to dollar liquidity. It had to be so: US banks and European banks were so interconnected that the lack of liquidity in Europe would prevent European banks from honouring their commitments to US banks, causing them serious difficulties.


On Tuesday, September 17, 2019, the banks saw themselves in a position to agree to pay 10% interest if they wanted to have access to credit in the inter-bank market and in money market funds, while the rate at which the Fed lent money to banks stood at around 2 to 2.25 percent. As a result, under pressure from big business and Trump, the Fed lent private banks $ 53.2 billion by the end of the day of September 17. And the next day, again under pressure from Trump, from the big banks and the big companies, the Fed lowered its official interest rate for the first time in 3 months. On Wednesday, September 18, the Fed interest rate stood at 1.75% and 2%, i.e., it lowered 0.25%. Despite this decrease, Trump once again voiced harsh criticism via tweet: "Jay Powell and the Federal Reserve Fail Again. No guts, no sense, no vision!" Trump wants the Fed to lower the interest rate much further, to set it at 0%, in order to match the ECB and Bank of Japan policies, whose interest rates stand already at 0%.

O que são os money market funds (MMF)?

Os MMF são sociedades financeiras dos EUA e da Europa, pouco ou nada controladas ou regulamentadas, pois nem sequer têm licença bancária. Fazem parte do shadow banking. Em teoria, os MMF têm uma política prudente, mas a realidade é outra. A administração Obama tencionava regulamentá-los, porque, em caso de falência de um MMF, o risco de ter de utilizar recursos públicos para os salvar é demasiado alto. Esta intenção ficou a meio caminho. Os MMF suscitam muita inquietação, tendo em conta os consideráveis fundos que gerem e a queda, desde 2008, da sua margem de lucro. Em 2019 os MMF norte-americanos movimentaram 3400 mil milhões de dólares de fundos, contra 3800 mil milhões em 2008. Sendo fundos de investimento, os MMF colectam capitais dos investidores (bancos, fundos de pensões, etc.). Estes dinheiros são depois emprestados a muito curto prazo, frequentemente ao dia, aos bancos, às empresas e aos Estados. Nos anos 2000 o financiamento prestado pelos MMF tornou-se um componente importante do financiamento a curto prazo dos bancos.

A agência de notação Moody's calcula que, durante o período 2007-2009, 62 MMF tiveram de ser salvos da falência pelos bancos ou fundos de pensões que os tinham criado. Estamos a falar de 36 MMF que operam nos EUA e 26 na Europa, e de um custo total de 12,1 mil milhões de dólares. Entre 1980 e 2007, 146 MMF tiveram de ser salvos pelos seus patrocinadores. Em 2010-2011, ainda segundo a Moody's, 20 MMF tiveram de ser recapitalizados [1]. Isto mostra a que ponto podem pôr em perigo a estabilidade do sistema financeiro privado.
What are money market funds (MMF)?

The MMFs are US and European financial corporations with little or no control or regulation as they do not even have a banking license. They are part of shadow banking. In theory, MMF have a prudent policy, but the reality is different. The Obama administration intended to regulate them, because if an MMF goes bankrupt, the risk of having to use public resources to rescue it is too high. This intention got stuck. MMFs are a matter of concern given the considerable funds they manage and the decline in their profit margin since 2008. In 2019 US MMFs transacted $ 3,400 billion in funds, compared to $ 3,800 billion in 2008. As investment funds, MMFs raise capital from investors (banks, pension funds, etc.). These funds are then lent on a very short-term, often by the day, to banks, businesses and states. In the 2000s, the financing provided by MMFs became an important component of short-term bank financing.

The Moody's rating agency estimates that during the period 2007-2009, 62 MMF had to be rescued from bankruptcy by the banks or pension funds that had created them. We are talking of 36 MMF operating in the US and 26 in Europe, and of a total cost of $ 12.1 billion. Between 1980 and 2007, 146 MMFs had to be rescued by their sponsors. In 2010-2011, according to Moody's, 20 MMF had to be recapitalized [1]. This shows to what extent they can endanger the stability of the private financial system.

O que acaba de acontecer é mais um sinal do estado da economia capitalista mundial. O crescimento é extremamente débil nos países mais industrializados. A economia dos EUA, que tinha sido dopada pelas medidas fiscais de Trump em 2017-2018 para favorecer o grande capital, entrou numa desaceleração progressiva que inquieta os patrões. A economia alemã tem passado mal, a da Grã-Bretanha também, assim como a italiana. O mercado automóvel anda na mó de baixo na Alemanha, na China, na Índia… A China mantém um crescimento de 5 a 6%, mas esta é a sua taxa de crescimento mais baixa nos últimos 30 anos.

A economia capitalista mantém-se à tona num oceano de dívidas e a injecção massiva de liquidez fornecida pelos principais bancos centrais reforça essa tendência.

Pouco ou nada dos lucros das empresas é reinvestido na produção; os lucros vão para os bolsos dos accionistas e para a especulação em títulos financeiros diversos, ou seja, para o capital fictício. Já para não falar na luta contra as mudanças climáticas, que realmente não faz parte das preocupações dos chefes das empresas e dos grandes accionistas privados. O sector bancário, desde 2008, não foi minimamente saneado e a concentração bancária aumentou. Os grandes grupos privados absorveram um grande número de bancos médios e prosseguiram numa lógica de maximização dos lucros imediatos por via da especulação. As autoridades reguladoras deixam andar. O mesmo fazem os governos ao serviço do grande capital.

A economia capitalista mantém-se à tona num oceano de dívidas e a injecção massiva de liquidez fornecida pelos principais bancos centrais (o BCE, o banco central dos EUA, do Japão, da Grã-Bretanha e da China) reforça essa tendência.

Por causa das políticas levadas a cabo pelos bancos centrais e pelos governos, a economia dos países mais industrializados caiu naquilo que o economista britânico J. M. Keynes (1883-1946) chamou a armadilha da liquidez. Enquanto os bancos centrais injectarem liquidez e baixarem as taxas de juros, os bancos e as grandes empresas privadas preferirão arrecadar essa liquidez posta ao seu dispor ou utilizá-la para especular.

Convém ainda recordar as palavras de Karl Marx (1818-1883) em O Capital: "Desde o instante em que nasceram, os grandes bancos, repletos de títulos nacionais, não passam de associações de especuladores privados plantadas ao lado dos governos e que, graças aos privilégios que deles obtêm, vivem à custa do dinheiro público emprestado". [2]


A questão não é: as bolhas especulativas irão rebentar ou não? Mas sim: quando rebentarão elas?

A propósito das crises, acrescentava ele: "A crise rebenta primeiro onde grassa a especulação e só depois alastra à produção. O observador superficial não se apercebe da crise na produção. A desorganização consecutiva da produção não parece ser o resultado inevitável da sua exuberância anterior, mas sim uma simples reacção da especulação quando esta se deflaciona". [3]

Na situação actual, a economia capitalista mundial entrou numa nova fase de crise, com uma desaceleração acentuada da produção, superprodução em relação à procura real e especulação sobre uma série de activos principalmente financeiros (ver adiante). Junta-se a isto uma guerra comercial acentuada pela política de Trump, o reforço da corrida ao armamento e uma guerra de divisas. Entretanto a crise ecológica assume novas proporções e o grande capital, na mira do lucro imediato, adopta políticas que agravam essa crise. É tempo de fazer uma viragem radical a favor da Natureza, da qual a Humanidade faz parte.


A armadilha da liquidez

Nesta secção do artigo passo em revista o balanço da acção dos bancos centrais dos países mais industrializados desde o início da crise e resumo as ameaças inerentes às suas políticas. É importante sublinhar o dilema com que se vêem confrontados, dilema pelo qual são responsáveis.

Ponhamos as coisas de forma simples e um pouco esquemática: os banqueiros centrais perguntam-se quanto tempo irão manter a política actual, que consiste em injectar massivamente liquidez nos bancos e manter uma taxa real de juros muito baixa, próxima do zero, ou pelo menos inferior à inflação. Faz bastante tempo que eles sabem muito bem que ao aplicarem esta política, a fim de permitirem que os bancos (e as grandes empresas não financeiras) se mantenham à tona de água, favorecem o nascimento de novas bolhas especulativas, as quais podem rebentar a curto ou médio prazo. A questão não é: irão elas rebentar ou não? Mas sim: quando rebentarão?

Ao mesmo tempo, os dirigentes dos bancos centrais sabem que se reduzirem nitidamente as injecções de liquidez, vão causar dificuldades aos grandes bancos e provocar o rebentamento de novas bolhas especulativas que se formaram ao longo dos últimos anos. Se além disso aumentarem as taxas de juros, aumentam ainda mais o risco de falências bancárias e rebentamento de bolhas. Ainda por cima, se aumentarem as taxas de juros, aumentam automaticamente o custo do pagamento da dívida pública e agravam o défice dos Estados [4].

É claro que existem alternativas (ver "Manifesto por Um Novo Internacionalismo dos Povos na Europa" e "Gilets jaunes: apprendre de l'histoire et agir dans le présent"). Estas alternativas implicam optar por uma mudança radical de políticas, parar de favorecer os 1 % mais ricos e encetar reformas profundas em proveito dos 99 %. Ora os banqueiros centrais não têm apetência nem intenções de mudar o conteúdo de classe da sua política: estão ao serviço do 1 % e do sistema capitalista que lhe dá vida.


Isto coloca-lhes um dilema: prosseguir grosso modo a política actual (injecções de liquidez nos bancos e baixas taxas de juros) ou iniciar uma viragem sem mudar de lógica, ou seja reduzir a injecção de liquidez [5] e ir aumentando a taxa de juros. É como escolher entre a peste ou a cólera.

A aplicação de uma política que conjuga taxas de juros muito baixas com a injecção de grandes quantidades de liquidez nos bancos provocou os seguintes efeitos [6]:

1. Os bancos conseguem manter-se à tona de água (com raras excepções) porque recebem dos bancos centrais uma quantidade de fundos que já não conseguem obter nos mercados financeiros, em virtude da escassez de empréstimos interbancários, da grande dificuldade de vender títulos de crédito bancário a longo prazo – covered bonds e outros títulos, etc. Por outro lado, o financiamento através dos bancos centrais, ao qual se juntam várias outras ajudas dos Estados, permite-lhes ter acesso aos money market funds para o financiamento dia a dia. Este acesso pode evaporar-se da noite para o dia, como aconteceu a 17 de setembro de 2019. Em suma: os bancos privados dependem completamente do apoio dos Estados.

2. Os bancos desenvolveram as suas operações especulativas favorecendo as actividades que oferecem rendimentos mais elevados: abandonaram (durante algum tempo) o mercado imobiliário para se dedicarem à especulação sobre as matérias-primas e alimentares (sobretudo em 2008-2009), os títulos da dívida pública (desde 2009), as obrigações das empresas não financeiras (corporate bonds), os valores bolsistas (desde inícios de 2013), as divisas … Por conseguinte as suas actividades de trading não se reduziram. As técnicas especulativas evoluíram e em certos casos agravaram-se, nomeadamente com o reforço do trading de alta frequência.

3. Os bancos reduziram o crédito às famílias e às empresas, em particular as pequenas e médias empresas, que representam a maioria dos empregos. As economias periféricas da União Europeia são as mais afectadas. Os bancos endureceram as condições de concessão de crédito à economia real (constituída pelas famílias e empresas não financeiras, em particular as pequenas e médias empresas [PME]), o que vai contra a vontade expressa dos bancos centrais, que afirmam que os bancos devem aumentar os seus créditos. Mas por detrás dos discursos, os banqueiros centrais (e os governos) não tomam qualquer medida que force os bancos a abrirem os cordões à bolsa em benefício dos sectores que poderiam relançar a procura privada e alimentar algum crescimento, ou pelo menos mantê-lo.

4. As grandes empresas não financeiras, vendo-se privadas de crédito, recorrem à emissão de obrigações (corporate bonds) para se financiarem. Os bancos e outros especuladores compram essas obrigações, que geralmente geram bons rendimentos.
Em caso de necessidade, podem revender as obrigações no mercado secundário. Quem fica a perder são as pequenas e médias empresas, que não têm meios para emitir obrigações nos mercados financeiros. O que Mario Draghi propõe aos banqueiros europeus, para os encorajar a abrirem os seus créditos às PME, é que aumentem a emissão de produtos estruturados, constituídos por pacotes de créditos às PME. Significa isto que os bancos que concedem créditos às PME podem retirá-los dos seus balanços, titularizando-os por via do seu empacotamento num produto estruturado (asset backed securities). O BCE propõe que os bancos de seguida usem esses pacotes como colateral (= garantia) junto do BCE, a fim de obterem crédito a 0% de juros. Uma vez que as taxas de juro impostas às PME pelos bancos oscilam entre os 5% e os 6% em Espanha e Itália, entre os 3% e os 4% em França e Alemanha, os bancos poderiam obter lucros muito interessantes, afirma Mario Draghi. Apesar desta proposta tão apelativa, os bancos mantêm-se relutantes em aumentar os seus créditos às PME e em fabricarem mais produtos estruturados, conforme propõe o presidente do BCE. Este mostra-se muito desiludido e continua a insistir na mesma proposta sempre que tem ocasião.

5. A política dos bancos em relação às dívidas públicas soberanas assume formas contrastantes e complementares. Por um lado, não hesitam em especular contra as dívidas soberanas de países que os próprios bancos ajudaram a fragilizar. Para isso – quando não intervêm directamente – servem-se dos seus braços financeiros: hedge funds, special purpose vehicle (SPV), fundos de investimento, etc. Ao mesmo tempo, os bancos incrementaram fortemente a sua actividade de compra de títulos soberanos, que não só constituem uma fonte de rendimentos muito elevados (trata-se de títulos espanhóis ou italianos, para falar do mercado mais importante, mas também títulos ucranianos, turcos, etc.), mas também servem de garantia e meios de liquidez (títulos soberanos dos EUA, do Reino Unido, da Alemanha, França, Benelux e outros países da zona euro ) … Por isso não nos surpreende o aparecimento de políticas bancárias que podem parecer contraditórias, uma vez que os bancos se especializaram no câmbio das suas actividades especulativas (na expectativa de rendimentos elevados) e noutros tipos de investimentos.


6. Dito isto, acrescentemos que os bancos não sanearam de facto os seus balanços nem diminuíram significativamente a sua alavancagem. Os reveses do Deutsche Bank em 2018-2019 são um dos muitos exemplos.

7. Regra geral, a política dos bancos centrais e dos governos teve efeitos muito negativos na saúde das economias, sempre em proveito dos bancos e doutras sociedades financeiras, bem como das grandes empresas não financeiras. Foram suprimidos dezenas de milhões de empregos, milhões de famílias perderam a sua habitação, a pobreza e as desigualdades aumentaram a olhos vistos, a qualidade dos serviços públicos foi deliberadamente degradada … e desenvolveram-se novas bolhas especulativas.


8. Eis uma lista incompleta das novas bolhas especulativas que geram rendimentos consideráveis e que podem rebentar a qualquer instante:

--  A bolha das obrigações de empresas não financeiras, os corporate bonds (ver "A Montanha de Dívidas Privadas das Empresas Estará no Âmago da Próxima Crise Financeira"). A última queda retumbante remonta a 1994, a anterior ocorreu em 1987.

--  A bolha bolsista, em plena expansão desde 2013 (a anterior data de 2007-2008).


--  A bolha imobiliária em formação nos EUA e na China. Basta que uma delas rebente para provocar efeitos encadeados de enorme amplitude.

A novidade das bolhas actuais é que elas se desenvolvem num contexto de fraco crescimento económico, para não dizer estagnação económica, nos países mais industrializados, ao passo que as fases de desenvolvimento das bolhas nos últimos 40 anos aconteceram no contexto de uma certa euforia económica e de uma taxa de crescimento muito alta.

9. Por causa das políticas levadas a cabo pelos bancos centrais e pelos governos, a economia dos países mais industrializados caiu no que J. M. Keynes chamou a armadilha da liquidez. Enquanto os bancos centrais injectarem liquidez e baixarem as taxas de juros, os bancos e as grandes empresas privadas preferirão manter essa liquidez à mão de semear. Os bancos guardam-na para fazer face aos golpes provocados pelas bombas ao retardador que detêm no seu balanço e pelas novas bolhas que contribuíram para criar. As empresas industriais e de serviços consideram que não vale a pena investir, porque a procura privada e pública está anémica. Sentam-se, por assim dizer, num monte de liquidez e utilizam-na para especular. As grandes empresas privadas não estão interessadas em investir a sua liquidez na economia produtiva ou em emprestá-la às PME e às famílias. Segundo J. M. Keynes, para sair da armadilha da liquidez é necessário que os poderes públicos aumentem as despesas públicas, a fim de relançar a procura e, por arrasto, a economia: despesas de investimento (poder-se-ia evidentemente investir na transição ecológica, em energias renováveis, em grandes obras públicas úteis, em edifícios escolares e comunitários), despesas de contratação de pessoal nos serviços públicos e melhoria da sua remuneração, despesas sociais (saúde, educação, serviços sociais), aumento do montante das pensões de reforma e de vários subsídios sociais … Mas disso os banqueiros centrais e os governos nem querem ouvir falar.


A política aplicada até hoje pelos bancos centrais e pelos governos provocou um forte aumento da dívida pública, em consequência de vários factores encadeados.

10. Em consequência da sua política, o volume do balanço dos bancos centrais aumentou consideravelmente. Este enorme crescimento num período muito curto serviu para manter intacto o poder dos grandes bancos privados, sem no entanto fazer as economias sair da crise. Assim indicam os pontos precedentes. Para além das declarações propagandísticas, não foi tomada nenhuma iniciativa capaz de sanear verdadeiramente o sistema bancário. Graças à intervenção dos bancos centrais (e às decisões dos governos), os grandes bancos continuam a exercer as suas actividades especulativas, frequentemente fraudulentas, para não dizer criminosas. Estas actividades são mantidas graças a uma transfusão permanente de recursos (créditos públicos ilimitados, taxas de juro quase nulas ou mesmo negativas). Alguns bancos – e não poucos – mantêm-se vivos por respiração artificial (aos créditos públicos junta-se uma injecção de capitais públicos, a fim de os recapitalizar, e garantias públicas sobre as suas dívidas).


A política aplicada até hoje pelos bancos centrais e pelos governos provocou um forte aumento da dívida pública, em consequência de vários factores encadeados: o custo do resgate dos bancos, o custo da crise – cuja responsabilidade cabe aos bancos centrais, aos governos, aos bancos privados e a outras grandes empresas –, as isenções fiscais oferecidas às grandes empresas e às grandes fortunas … Tudo isto somado confere um carácter claramente ilegítimo a uma parte muito considerável da dívida pública. A sua anulação faz parte das propostas para sair da crise.


A acção dos bancos centrais e a função das crises no sistema capitalista

No sistema capitalista uma crise serve, de certa maneira, para repor o contador a zeros: quando as bolhas especulativas rebentam, o preço dos activos volta a aproximar-se do seu valor real de mercado; as empresas menos rentáveis vão à falência e uma parte do capital é destruído. O desemprego aumenta e os salários baixam. As crises fazem parte do metabolismo do capitalismo. Não pretendo com isto justificar as crises ou o capitalismo, quero apenas sublinhar que o funcionamento do sistema capitalista implica o rebentamento periódico de crises.


Até agora, a intervenção dos poderes públicos, que responderam docilmente às exigências dos patrões, permitiu evitar ou impedir que a crise exercesse a sua função normal de "purga" do sistema capitalista. Enquanto do lado da maioria da população há dezenas de milhões de vítimas, do lado dos responsáveis pela crise o capital não é metido na ordem, as falências das grandes empresas são muito limitadas, os bancos não sanearam as suas contas e vão-se formando novas bolhas especulativas. Não se verifica a retoma do investimento produtivo.

É necessário adoptar uma estratégia internacionalista

A fraca quantidade de falências bancárias nos EUA, na Europa e no Japão não pode ser atribuída senão à ajuda prestada aos banqueiros privados pelos bancos centrais e pelos governos. Os governantes acharam que os bancos privados eram demasiado grandes para caírem na falência. A manutenção de uma política governamental que favorece os interesses das grandes empresas privadas e ataca os interesses económicos e sociais das populações, a insuficiente (e sempre em queda) procura pública e privada, as bolhas especulativas persistentes … são os ingredientes necessários ao prolongamento da crise. Se não se fizer uma viragem a favor da justiça social, a crise irá arrastar-se durante muitos anos ou assumir um carácter brutal e súbito.


É necessário adoptar uma estratégia internacionalista. Há também que procurar constantemente desenvolver campanhas e acções coordenadas a nível internacional nos domínios da dívida, da ecologia, do direito à habitação, do acolhimento de imigrantes, refugiados e refugiadas, da saúde pública, da educação pública e de outros serviços públicos, do direito ao trabalho. Têm de ser travadas lutas para pôr mão nos bancos centrais através dos poderes públicos, a fim de os pôr ao serviço do povo, para socializar a banca, as seguradoras e o sector da energia, para fazer retornar ao domínio público os bens comunitários, para anular as dívidas ilegítimas, para fechar as centrais nucleares, para reduzir radicalmente o recurso às energias fósseis, para impedir o dumping fiscal e os paraísos fiscais, para defender e alargar os direitos das mulheres e LGBTI, para promover os bens e serviços públicos e o lançamento de processos constituintes. Em suma, é preciso um programa resolutamente anticapitalista, feminista, internacionalista e ecologista.
What has just happened is yet another sign of the present state of the world capitalist economy. Growth is extremely weak in the most industrialized countries. The US economy, which had been doped by Trump's fiscal measures in 2017-2018 to favour big business, has entered into a progressive slowdown that worries the bosses. The German economy is performing badly, and the same is happening with the British and Italian economies. The automotive market is at its lowest in Germany, China, IndiaChina has maintained a growth of 5 to 6%, but this is its lowest growth rate in the last 30 years.

The capitalist economy remains afloat in an ocean of debts, and the massive injection of liquidity provided by major central banks reinforces this trend.

Little or nothing of corporate profits is reinvested in production; profits go to the pockets of shareholders and to speculation in miscellaneous financial securities, that is, to fictitious capital. Not to mention the fight against climate change, which really is not part of the concerns of corporate bosses and large private shareholders. Since 2008, the banking sector has not been cleaned up and banking concentration has increased. Large private groups absorbed a large number of medium-sized banks and have pursued the logic of maximizing immediate profits through speculation. Regulatory authorities close their eyes. So do governments at the service of big business.

The capitalist economy remains afloat in an ocean of debts and the massive injection of liquidity provided by the major central banks (the ECB, the central bank of the US, Japan, Great Britain and China) reinforces this trend.

Because of policies pursued by central banks and governments, the economy of the most industrialized countries has fallen into what British economist J. M. Keynes (1883-1946) called the liquidity trap. As long as central banks inject liquidity and lower interest rates, banks and large private companies will prefer to hoard that liquidity at their disposal or use it to speculate.

It is also worth recalling the words of Karl Marx (1818-1883) in Capital: "From the moment they were born, large banks, filled up of national securities, have been associations of private speculators planted alongside governments and which, thanks to the privileges they derive from them, they live at the expense of borrowed public money." [2]

The question is not: will speculative bubbles burst or not? But rather: when will they burst?

On the subject of crises, he added: "The crisis breaks out first where speculation rages and only then it spreads to production. The superficial observer is unaware of the crisis in production. The subsequent disorganization of production does not seem to be the inevitable result of its former exuberance, but a simple reaction of speculation when it deflates". [3]

In the present situation, the world capitalist economy has entered a new stage of crisis, with a sharp slowdown in production, an overproduction in relation to real demand and speculation on a range of mainly financial assets (see below). In addition to this there is a trade war accentuated by Trump's policy, the reinforcement of the arms race and a currency war. In the meantime the ecological crisis takes on new proportions and big capital, in the aim of immediate profit, adopts policies that aggravate this crisis. It is time to make a radical turn in favor of nature, of which humanity is a part.

The liquidity trap

In this section of the article I review the account of the actions by the central banks of the most industrialized countries since the beginning of the crisis and summarize the threats inherent in their policies. It is important to underline the dilemma they are faced with, the dilemma for which they are responsible.

Let's put it simply and somewhat schematically: central bankers wonder how long they will stick to the current policy which consists of massively injecting liquidity into banks and maintaining a very low real interest rate, near zero, or at least below inflation. They have long known that by applying this policy in order to allow banks (and large non-financial corporations) to stay afloat favours the birth of new speculative bubbles, which may burst on a short or medium term. The question is not: will they burst or not? But rather: when will they burst?

At the same time, central bankers know that were they to sharply decrease liquidity injections, they would cause difficulties to big banks and would provoke the burst of the new speculative bubbles that have been forming over the last years. If, in addition, they increase interest rates they will then further increase the risks of bank crashes and of bubble bursts. On top of that, if interest rates rise, they automatically increase the cost of public debt repayment and aggravate states deficits. [4]

Of course there are alternatives (see "Manifesto for a New Internationalism of Peoples in Europe" and "Gilets jaunes: apprendre de l'histoire et agir dans le présent"). These alternatives entail opting for radical changes of policies, stopping favouring the richest 1% and embarking on profound reforms to the advantage of the 99%. But the central bankers have no desire or intention to change the class content of their policies: they are at the service of the 1% and of the capitalist system that gives life to those 1%.

This poses a dilemma for them: to either broadly pursue the current policy (liquidity injections into banks and low interest rates) or to embark on a turn without changing of [capitalist] logic, i.e., to reduce the liquidity injection [5] and to increase the interest rates. It is like choosing between plague or cholera.

Applying a policy that combines very low interest rates with the injection of large amounts of liquidity into banks has resulted in the following effects [6]:

1. Banks are able to stay afloat (with rare exceptions) because they receive from central banks an amount of funds they can no longer obtain from financial markets because of the shortage of inter-bank lending, and of the great difficulty of selling long-term securities of bank credit -- covered bonds and other securities, etc. On the other hand, financing through central banks, with the addition of various other state aids, gives them access to money market funds for day-to-day financing. This access can evaporate overnight, as happened on September 17, 2019. In short: private banks are completely dependent on state support.

2. Banks have developed their speculative operations by favouring the activities which offer higher yieldings: they abandoned (for a while) the real estate market and engaged in speculation on raw materials and food commodities (particularly in 2008-2009), public debt securities (since 2009), non-financial corporate bonds, stock market values ​​(since early 2013), currencies… Therefore, their trading activities have not been reduced. Speculative techniques have developed and in some cases have worsened, notably with the reinforcement of high frequency trading.


3. Banks have reduced credit to households and businesses, particularly small and medium-sized enterprises, which account for the majority of jobs. The peripheral economies of the European Union are the hardest hit. Banks have tightened lending conditions for the real economy (consisting of households and non-financial corporations, in particular small and medium-sized enterprises [SMEs]), and this goes against the express wishes of central banks, with their statements that banks should increase granting credits. But behind such speeches, central bankers (and governments) take no action to force banks to open up their purses to the benefit of sectors that could relaunch private demand and sustain some growth or at least maintain it.

4. The large non-financial corporations, being deprived of credit, resort to the issuance of corporate bonds to finance themselves. Banks and other speculators buy these bonds, which usually generate good returns.
If necessary, they may resell the bonds in the secondary market. The losers are small and medium-sized enterprises, which cannot afford to issue bonds in the financial markets. What Mario Draghi proposes to European bankers, to encourage them to grant their loans to SMEs, is to increase the issuance of structured products consisting of loan packages to the SMEs. This means that banks that lend to SMEs could withdraw them from their balance sheets by securitizing them by packaging them into a structured package (asset backed securities). The ECB proposes that banks then use these packages as collateral with the ECB in order to obtain 0% interest credit. As interest rates imposed on SMEs by banks range from 5% to 6% in Spain and Italy, from 3% to 4% in France and Germany, banks could make very interesting profits, says Mario Draghi. Despite this appealing proposal, banks remain reluctant to increase their lending to SMEs and to come up with more structured products, as proposed by the President of the ECB. Draghi expresses big disappointment and continues to insist on the same proposal whenever he has an occasion for that.

5. Banks' policies towards sovereign public debt take on contrasting and complementary forms. On the one hand, they do not hesitate to speculate against the sovereign debts of countries that the banks themselves have helped to undermine. For that purpose – and when they do not intervene directly -- they resort to their financial arms: hedge funds, special purpose vehicles (SPV), investment funds, etc. At the same time, banks have greatly increased their activity in buying sovereign bonds, which are not only a source of very high yields (not only the Spanish or Italian securities, just to mention the most important market, but also Ukrainian, Turkish securities, etc.), but also serve as collateral and liquidity means (sovereign bonds of the US, UK, Germany, France, Benelux and other eurozone countries)… That’s why one should not be surprised by the emergence of banking policies that may look contradictory, because banks became specialized in altering their speculative activities (in anticipation of high returns) and in other types of investments.

6. That said, let us add that banks did not actually clean up their balance sheets or significantly reduce their leverage. Deutsche Bank's setbacks in 2018-2019 are one of many examples.

7. As a rule, the policy of central banks and governments has had very negative effects on the health of economies, always to the benefit of banks and other financial corporations, as well as large non-financial corporations. Tens of millions of jobs have been suppressed, millions of families have lost their homes, poverty and inequalities have risen sharply, the quality of public services has been deliberately degraded… and new speculative bubbles have developed.

8. Here is an incomplete list of the new speculative bubbles that generate considerable yields and which can burst at any moment:

-- The corporate bond bubble, bonds of the non-finantial corporations (see "The Mountain of Corporate Private Debt Will Be at the Heart of the Next Financial Crisis"). The last serious fall dates back to 1994, the previous one occurred in 1987.

-- The stock bubble, which has been booming since 2013 (the previous one dates back from 2007-2008).

-- The real estate bubble in a growth process in the US and China. A burst of either of them is enough to cause dazzling chained effects of enormous amplitude.

The novelty of today's bubbles is that they grow up in a context of weak economic growth, not to say economic stagnation, in the most industrialized countries, whereas the bubble's development stages over the last 40 years have come in the context of a certain economic euphoria and a very high growth rate.

9. Because of policies pursued by central banks and governments, the economies of the most industrialized countries have fallen into what J. M. Keynes called the liquidity trap. As long as central banks inject liquidity and lower their interest rates, banks and large private companies will prefer to hoard that liquidity ready to be of use. The banks keep it to cope with the blows that may be caused by the retarded bombs they maintain in their accounts and by the new bubbles they have contributed to creating. Industrial and service companies consider that it is not worth investing because private and public demand is anemic. They sit, as it were, in a lot of liquidity and use it to speculate. Large private companies are not interested in investing their liquidity in the productive economy or lending it to SMEs and households. According to JM Keynes, getting out of the liquidity trap requires public authorities to increase public spending in order to relaunch demand and, on account of  that by the economy: investment spending (one could of course invest in the ecological transition, renewable energy, major useful public works, school and community buildings), expenditure on hiring staff in public services and improving their remuneration, social expenditure (health, education, social services), increased retirement pensions and of various social subsidies… But the central bankers and governments don't even want to hear about that.

The policy applied to this day by central banks and governments has led to a sharp increase in public debt as a result of a number of linked factors.

10. As a result of their policy, the balance sheet volume of central banks increased considerably. This huge growth over a very short period has served to keep the power of the large private banks intact, but without pulling the economies out of the crisis. This is indicated by the preceding points. Apart from the propaganda statements, no action has been taken to truly remedy the banking system. Thanks to the intervention of central banks (and government decisions), large banks continue to carry on their often fraudulent, not to say criminal, speculative activities. These activities are maintained thanks to a permanent transfusion of resources (unlimited public loans, almost zero or even negative interest rates). Some banks -- and not a few -- are kept alive by artificial breathing (to public credit is added an injection of public capital to recapitalize them and public guarantees on their debts).

The policy applied to this day by central banks and governments has led to a sharp rise in public debt, as a result of several linked factors: the cost of bailing out banks, the cost of the crisis -- the responsibility of which lies with central banks, governments, private banks and other large corporations -- the tax exemptions offered to large corporations and large fortunes… All this added up to a very considerable amount of public debt being clearly illegitimate. Its cancellation is part of the proposals to get out of the crisis.

Central bank action and the role of crises in the capitalist system

In the capitalist system a crisis serves to some extent to reset the counter to zero: when speculative bubbles burst, the price of assets returns to their real market value again; The least profitable companies go bankrupt and some of the capital is destroyed. Unemployment rises and wages fall. Crises are part of the metabolism of capitalism. I do not intend with this to justify crises or capitalism, I just want to underline that the functioning of the capitalist system implies the periodic burst of crises.

So far, the intervention of the public authorities, who have responded meekly to the demands of the bosses, has allowed avoiding or impeding the crisis from performing its normal function of "purging" the capitalist system. Whereas on the side of the majority of the population there are tens of millions of victims, on the side of those responsible for the crisis capital stays unscathed, the bankruptcies of large companies are very limited, banks have not cleared their accounts and new speculative bubbles are being formed. And there is no recovery of productive investment.

It is necessary to adopt an internationalist strategy

The low amount of bank crashes in the US, Europe and Japan can only be attributed to aid given to private bankers by central banks and governments. The rulers thought that the private banks were too big to fall bankrupt. Maintaining a government policy that favours the interests of large private companies and attacks the economic and social interests of the population, the insufficient (and ever-falling) public and private demand, the persistent speculative bubbles… these are the necessary ingredients to prolong the crisis. Unless a turn is made favouring social justice, the crisis will drag on for many years or become brutal and sudden.

It is necessary to adopt an internationalist strategy. Continued efforts should also be made to develop internationally coordinated campaigns and actions in the fields of debt, ecology, housing rights, reception of immigrants, refugees’ men and women, public health, public education and other public services, and the right to work. Struggles have to be fought to get hold of central banks through the public authorities in order to put them at the service of the people, to socialize the banking, insurance and energy sectors, to return community assets to the public domain, to cancel illegitimate debts, to close nuclear power plants, to radically reduce the use of fossil fuels, to prevent tax dumping and tax havens, to defend and extend women's and LGBTI rights, to promote public goods and services and the launching of constituent processes. In short, we need a resolutely anti-capitalist, feminist, internationalist and ecologist program.

Notas | Notes

[1] Financial Times, "20 money market funds rescued", 21-Oct-2013.


[2] Karl Marx, 1867, Le Capital, livre I, Œuvres I, Gallimard, La Pléiade, 1963, cap. 31.


[3] "Crise, prospérité et révolutions", Marx-Engels, Revue de mai à octobre 1850 in Marx-Engels, La crise, 10-18, 1978, p. 94. [N. do T.: disponível (em francês) em pdf descarregável].


[4] É importante notar que o aumento das taxas de juros tem efeitos negativos em todos os países em desenvolvimento, que passam a ter maiores dificuldades no refinanciamento das suas dívidas e que verão uma grande quantidade de capitais partir em busca de melhores rendimentos nos países mais industrializados. Mas isto não comove os banqueiros centrais, conforme declarou publicamente a presidente do Fed em Fevereiro de 2014. Isto traz-nos à memória o que se passou em 1980-1981, quando as taxas de juros aumentaram brutalmente em consequência de uma decisão do Fed. Vários autores analisaram os efeitos da reviravolta.

It is important to note that rising interest rates have negative effects on all developing countries, which are finding it more difficult to refinance their debts and will see a large amount of capital to flee the country in order to seek better returns in the more industrialized countries. But this does not move the central bankers, as the Fed president publicly stated in February 2014. This brings to mind what happened in 1980-1981, when interest rates rose sharply as a result of a Fed decision. Several authors have analyzed the effects of the turnaround.

[5] O Fed iniciou prudentemente esta viragem a partir de dezembro de 2013, reduzindo o volume mensal de compra de produtos hipotecários estruturados (MBS) e de títulos do Tesouro (US Treasury Bonds). A seguir a Fed suspendeu essas operações, mas apenas vendeu uma parcela muito reduzida dos MBS, a fim de evitar que os grande bancos privados fossem afectados por um desmoronamento do mercado. Na realidade, a Fed conserva em seu poder 1,6 mil milhões de MBS, que são produtos estruturados altamente tóxicos. Mais recentemente, sob pressão de Trump e dos grandes bancos, a Fed regressou à política de quantitative easing.

The Fed prudently began this shift from December 2013, reducing the monthly purchase volume of structured mortgage products (MBS) and US Treasury Bonds. The Fed then suspended these operations, but only sold a very small portion of the MBS in order to prevent large private banks from being affected by a market collapse. In fact, the Fed retains 1.6 billion MBS in its possession, which are highly toxic structured products. More recently, under pressure from Trump and the big banks, the Fed has returned to its quantitative easing policy.

[6] Não abordo aqui os delitos, crimes e manipulações a que se dedicam os grandes bancos. Tudo isso foi analisado na série "Os Bancos e a Nova Doutrina "Too Big to Jail"" www.cadtm.org/Os-bancos-e-a-nova-doutrina-Too , publicada em 2014 e contida igualmente no meu livro Bancocracie – ver www.cadtm.org/Bancocratie-outil-indispensable.

I do not deal here with the delicts, crimes and manipulations of the big banks. All this was analyzed in the series "Banks and the New Doctrine "Too Big to Jail"" www.cadtm.org/Os-bancos-e-a-nova-doutrina-Too , published in 2014 and also included in my book Bancocracie - see www.cadtm.org/Bancocratie-outil-indispensable.