terça-feira, 8 de maio de 2018

Mike Pence na VIII Cimeira das Américas e a Resposta Cubana

O Vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, discursou no passado dia 14 de Abril na VIII Cimeira das Américas. O discurso de Pence foi uma exibição revoltante de hipocrisia, cinismo e mentiras.

Começou por anunciar que «ontem à noite, por decisão do presidente Trump» os EUA tinham atacado Bashar al Assad -- al Assad, não a Síria -- por ter usado «armas químicas» contra o povo. Esqueceu-se de dizer que o ataque antecipou a investigação da OPAQ sobre um ataque de que ainda ninguém encontrou evidência. Mostrou o músculo à cimeira.

Apresentou depois os EUA como uns amigalhaços da América Latina, a quem prestam grandes ajudas. Citou, como exemplo, a compra de abacates à Colômbia a troco de arroz americano. O exemplo dos abacates teve pelo menos a vantagem de ocultar quem são os verdadeiros amigalhaços sul-americanos dos EUA.

Evocou depois a defesa da democracia e liberdade que os EUA promovem na América. Estaria a pensar em Pinochet, Stroessner, Banzer, Somoza, etc., etc., como exemplos de democratas promovidos pelos EUA?

Zurze depois Cuba e Venezuela, chamando ditadores aos Castros e a Maduro. Ameaça Cuba com castigos. Diz que «O presidente Trump foi claro: os EUA não ficarão de braços cruzados enquanto a Venezuela desmorona». Não falou da guerra económica atiçada pelos EUA. Compreende-se, já que se mostrou muito comovido com as dificuldades que os venezuelanos sofrem; dificuldades precisamente causadas pela guerra económica. Também se esqueceu de mencionar o apoio dos EUA aos grupos fascistas e violentos da oposição venezuelana. Oposição cheia de democratas amantes de liberdade como os EUA gostam de promover. Daquela democracia e liberdade que fizeram dos EUA um dos países com mais miséria, mais violentos e com maior repressão de quem não está de acordo com os representantes dos oligarcas.

O discurso está cheio de «por decisão do presidente Trump», «Como o Presidente Trump disse», «como o presidente Trump deixou claro», «O presidente Trump enviou-me à América do Sul», «sob o presidente Donald Trump», «o presidente Trump assinou», etc. Lembra um discurso de um bonzo nazi incensando o Fuhrer. Quando o discurso termina jesuiticamente com «À medida que avançamos, tenhamos fé -- fé na capacidade ilimitada das pessoas do Novo Mundo de avançar os princípios que sempre foram a fonte da nossa grandeza. Tenhamos esse outro tipo de fé. Lembrem-se de orar pelas pessoas que estão a lutar sob o peso da tirania, lembrando, como diz o Bom Livro, que “onde está o espírito do Senhor, há liberdade”» o retrato de Pence fica completo.

Um participante na Cimeira deu a resposta adequada e incisiva a Pence: o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla. Aqui deixamos a sua resposta:


Chanceler cubano: O governo dos EUA não pode ser uma referência para a América Latina

Bruno Rodríguez Parrilla intervem na Cimeira das Américas
14 de Abril de 2018
*
O senhor vice-presidente dos Estados Unidos da América parece mal informado, ignora a realidade, esconde a verdade.

Quero perguntar-lhe directamente, ao Sr. Pence, se a Doutrina Monroe orienta ou não o seu governo na sua política em relação à América Latina.

Quero responder-lhe com as palavras de Bolívar: "Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a assolar a América com misérias em nome da liberdade".

Quero citar Marti: O que fiz até hoje, e farei, é impedir que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam com mais essa força nas terras da América.

Não é nada democrático atacar a Venezuela e mencionar o Presidente Nicolás Maduro Moros, quando ele foi excluído e não está aqui para lhe responder.

Rejeito as referências insultuosas a Cuba e à Venezuela e a atitude humilhante que assumiu para com a América Latina e o Caribe.

O vácuo moral do governo dos Estados Unidos não pode ser, não é uma referência para a América Latina e o Caribe.

Nos últimos 100 anos, eles são responsáveis ​​pelos mais brutais abusos contra os direitos humanos e a dignidade humana. Todos os governos despóticos da região, todos sem excepção, foram impostos ou receberam apoio do governo dos Estados Unidos, incluindo as mais cruéis ditaduras militares. Actos vergonhosos como a Operação Condor ou o sangrento golpe de Estado no Chile pesam sobre a consciência dos governos norte-americanos.

O país de Pence foi o primeiro e o único a usar a arma nuclear contra civis inocentes. Ele é responsável por guerras criminosas e centenas e centenas de milhares de mortes, de massacres de civis, incluindo crianças, mulheres e idosos, que eles chamam de danos colaterais.

É responsável por actos de tortura, desaparecimentos, execuções extrajudiciais e sequestros.

O governo dos Estados Unidos é autor de violações maciças, flagrantes e sistemáticas dos direitos humanos dos seus próprios cidadãos afro-americanos, de hispânicos, de migrantes e de minorias.

É uma vergonha para a humanidade que neste país de extrema riqueza haja dezenas e dezenas de milhões de pessoas pobres.

Eles têm um padrão racial diferenciado nas suas prisões e na aplicação da pena de morte; é onde ocorre a maioria dos erros judiciais associados à execução de pessoas; é onde os estudantes são mortos por armas, cujas vidas foram sacrificadas ao imperativo do lobby político, particularmente na Flórida.

O governo dos Estados Unidos recebeu dezenas e dezenas de milhões de dólares do lobby de armas, e um senador de Miami recebeu nada menos que 3 milhões por apoiar o mesmo conceito.

Miami é onde estão as máfias políticas, onde terroristas internacionais confessos se refugiam e é também o local da famosa fraude eleitoral do ano 2000.

O Sr. Pence não disse, quando falou em corrupção, que o seu país é o centro da lavagem de activos financeiros do narcotráfico e do contrabando de armas para o sul que desestabiliza países inteiros.

O sistema eleitoral que o elegeu e a legislatura, na qual ele serviu por muito tempo, é corrupto por natureza, porque está sustentado de maneira insolitamente legal nas contribuições financeiras das corporações e nos chamados Comités de Acção Política.

É o governo que impõe um feroz proteccionismo, que não toma em conta que vai arruinar a indústria, a agricultura e o emprego em toda a nossa região.

É onde o lobby político impôs a ideia de que a alteração climática é uma invenção anti-norte-americana.

É o sistema político e eleitoral em que tem havido um tráfico escandaloso com dados privados de dezenas de milhões de cidadãos.

Se o seu governo estivesse interessado no bem-estar, nos direitos humanos e na autodeterminação dos cubanos, poderia levantar o bloqueio, colaboraria com a nossa cooperação internacional, em vez de sabotá-la, e daria fundos aos programas de colaboração médica cubana no mundo e aos programas de alfabetização.

Ele referiu-se de modo insultuoso a Cuba. Respondo com o texto da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, assinada em Havana pelos Chefes de Estado da América Latina e do Caribe em 2014, cujos princípios incluem o direito inalienável dos povos e dos Estados a escolher livremente o seu próprio sistema político, económico, social e cultural.

Respondo-lhe também com um parágrafo do documento histórico assinado no acontecimento desta época, no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana, por Sua Santidade o Papa Francisco e por Sua Santidade o Patriarca Kirill, que escolheram Cuba para assinar um documento que diz: «O nosso encontro fraterno aconteceu em Cuba, na encruzilhada entre norte e sul, leste e oeste. Desta ilha, símbolo das esperanças do “Novo Mundo” e dos dramáticos acontecimentos da história do século XX ... »

Estamos a poucas horas do 57.º aniversário do bombardeio de aviões dos EUA a aeroportos de Cuba, em que morreram cubanos em defesa de nossa independência e soberania, em cuja despedida de luto se proclamou o carácter socialista da Revolução Cubana, e surpreende que, após tantas décadas, o vice-presidente Pence tenha vindo aqui para usar a mesma linguagem que levou os governos da época a realizar esse terrível acontecimento.

Os eventos que ocorreram nos últimos anos mostram que a coexistência entre os Estados Unidos e Cuba é possível, produtiva e pode ser civilizada.

Para isso, não espere ele, nem a delegação que ocupa agora a cadeira que acaba de abandonar, que Cuba ceda um milímetro nos seus princípios, nem cesse no seu empenho de construir o socialismo.