sexta-feira, 29 de abril de 2016

Mentindo com Estatísticas: O Salário Mínimo e o Desemprego

 Lying with Statistics: The Minimum Wage and the Unemployment

No passado 19 de Abril publicou o JN uma notícia com o título «Alta do salário mínimo vai prolongar o desemprego». Aí se papagueava o pensamento neoliberal de Bruxelas sobre o assunto. Todos os grandes jornais pertencem a monopólios da comunicação social, tornando-se meros divulgadores das directizes do grande capital. Estas, por definição, apoiam os interesses do capital e rebaixam ou negam os direitos dos trabalhadores. Vários meios são utilizados com esse objectivo. Estatísticas erradas e mentirosas, embora apelativas para o leitor comum criticamente desarmado, fazem parte desses meios.
   
Neste caso concreto, o JN publicou a figura 1 abaixo, comentando no texto: «em 2015, esse contingente de desempregados crónicos abarcava ainda 410,7 mil pessoas, mais 44,7 mil do que em 2011». Os «desempregados crónicos» são os desempregados há mais de um ano. Os dados são de fontes oficiais (INE, PORDATA).
The Jornal de Notícias (JN) published last April 19 an article entitled “The minimum wage hike will prolong unemployment” The article parroted the Brussels neo-liberal thought on the matter. All large audience newspapers are owned by media monopolies, hence they are mere popularizers of the big capital directives. By definition, such directives uphold the interests of the capital and debase or deny the workers rights. In achieving such purpose various methods are applied. Wrong and mystifying statistics, albeit evocative to the common and critically unarmed reader, are an integral part of such methods.
   
In this concrete case the JN published the Figure 1 below, with the text comment: “in 2015, the contingent of chronic unemployment still comprehended over 410.7 thousand people, 44.7 thousand more than in 2011”. By “chronic unemployment” is meant those that are unemployed for over one year. The data are from official sources (INE, PORDATA).

Fig. 1. Salário mínimo mensal (vermelho) e desempregados de longa duração (mais de um ano) em milhares de indivíduos (preto). Minimum monthly wage (red) and long term (over one year) unemployed individuals in thousands (black).

Os erros e mentiras nucleares da notícia são vários. Passamos a comentar.
The article contains several kernel mistakes and lies. We now comment them.

A) Comparações pontuais isoladas de processos temporais não dizem nada
    
A notícia pretende que o leitor fique com a impressão de que o salário mínimo mensal (SM) tem crescido, mas que infelizmente isso traduziu-se num aumento do desemprego de longa duração (D): «em 2015, esse contingente de desempregados crónicos [era ainda] mais 44,7 mil do que em 2011». Contudo, se só olharmos para instantâneos das variáveis – neste caso, os valores de 2011 e 2015 – não podemos tirar quaisquer conclusões válidas.
   
A figura 2 mostra duas evoluções alternativas hipotéticas de D (azul e magenta) com os mesmos valores pontuais. Temos assim três alternativas de D: uma (a preto), em que sobe durante dois anos e desce nos dois anos seguintes; outra (a azul), em que sobe uniformemente nos quatro anos; outra ainda (a magenta) em que desce em três anos e só sobe no último ano. É óbvio que não é possível inferir uma regra geral de evoluções tão diversas e contraditórias apesar de terem os mesmos valores terminais.
A) Isolated point comparisons of temporal processes are of no value
    
The article purports to instill in the reader the idea that though the minimum monthly wage (SM) has grown, this was unfortunately at the cost of a rise of long term unemployment (D): “in 2015, that contingent of chronic unemployment still comprehended […] 44.7 thousand more than in 2011”. However, if we only look to snapshots of the variables – in this case the values for 2011 and 2015 – we are unable to draw any valid conclusion.
   
Figure 2 shows two alternative hypothetical evolutions of D (blue and magenta) with the same point values. We thus have three alternatives for D: one (black), where it grows along two years and then declines in the following two; another (blue), where it uniformly grows during the four years; yet another (magenta) where it declines during three years and only in the last year it increases. It is obviously impossible to infer a general rule from such diverse and contradicting evolutions, though they have the same end-interval values.


Fig. 2. Duas alternativas hipotéticas de evolução de D (azul e magenta) com os mesmos valores terminais em 2011 e 2015. Two hypothetical alternatives for the time evolution of D (blue and magenta) with the same end values in 2011 and 2015.

B) Comparações de tendências lineares de processos temporais podem induzir em erro
    
A figura do JN também mostra duas rectas de «tendência», pouco visíveis: uma, a cinzento, une os pontos terminais de D; outra, a vermelho claro, une os pontos terminais de SM. Estas rectas não são referidas no texto da notícia. Destinam-se ao leitor mais atento que gosta de inspeccionar figuras e a mensagem é clara: Vêem? A tendência de D é de crescimento, tal como a de SM, logo ambas as evoluções estão relacionadas.
   
Contudo, esta mensagem não é válida. A comparação de evoluções temporais de duas variáveis exige medir o grau de relacionamento entre elas em todos os intervalos de tempo (anos). Essa medição, assumindo um modelo de relação linear (o mais usual e também o mais adequado neste caso), é feita somando os produtos cruzados dos desvios de cada valor face à respectiva média. A média de SM é 489 € e a de D é 447,2. Estamos, portanto, a falar da seguinte soma: (485 - 489)x(366 - 447,2) + (485 - 489)x(452,7 - 447,2) + etc. Esta soma, devidamente normalizada, é conhecida por (coeficiente de) correlação (linear). Varia entre -1 e 1 com valores positivos indicando uma relação no mesmo sentido (D e SM sobem ou descem conjuntamente) e valores negativos em sentidos opostos (quando D sobe SM desce e vice-versa). A grandeza absoluta da correlação mede a sua intensidade.
   
No caso presente, temos a seguinte correlação entre SM e a
   
recta de tendência de D do JN:          +0,71
evolução real de D:                            - 0,33
   
Portanto, o tipo de relação entre D e SM não é de subida conjunta, como sugeria a recta de tendência de D. Pelo contrário, é de relação oposta: D essencialmente desce quando SM sobe. A intensidade da relação tambám não é a mesma.
   
(A medida de correlação está disponível em muitas aplicações, incluindo o Excel.)
    
C) As rectas de tendência não devem ser obtidas como fez o JN
    
Efectivamente, comparar rectas de tendência obtidas como as do JN (ligando pontos terminais) pode levar a conclusões inteiramente falsas. Por exemplo, na figura 2, quer a evolução de D (preto) quer a sua evolução hipotética a magenta, têm a mesma recta de tendência JN. Contudo, como é óbvio, reflectem realidades muito distintas.
   
Para determinarmos a recta de tendência correcta teremos de usar um método dito de regressão linear (também disponível em muitas aplicações, incluindo o Excel).
   
A figura 3 é igual à anterior mas com a recta de regressão – a verdadeira recta de tendência linear – da evolução a magenta. Note-se como, enquanto a tendência JN é crescente, agora a verdadeira tendência é decrescente.
   
Enquanto a correlação da evolução a magenta com SM é de +0,67 – crescem conjuntamente em 2014-2015 e nos anos em que SM é constante não influencia a correlação –, a correlação de SM com a recta de tendência da evolução magenta é de -0,71!
B) Comparisons of linear trends of temporal processes may be misleading
    
Two barely visible “trend” lines are also shown in the JN’s graph: a grey one, joining the endpoints of D; a light red one, joining de endpoints of SM. These lines are not mentioned in the article text. They are intended to the attentive reader who likes to inspect pictures, and the conveyed message is clear: See? D has a growth trend, in the same way as SM, therefore the two evolutions are related.
   
However, this is an invalid message. The comparison of the temporal evolution of two variables demands measuring the degree of relationship between them in all time intervals (years). Such measurement, assuming a linear relation model (the most common one and also the most adequate one in this case), is carried out by adding cross-products of the deviations of each value from the respective average. The average of SM is 489 € and of D is 447.2. We then carry out the summation: (485 - 489)x(366 - 447,2) + (485 - 489)x(452,7 - 447,2) + etc. Duly standardized this summation is known as the (linear) correlation (coefficient). It varies between -1 and 1 with positive values indicating a relation in the same direction (D and SM increase or decrease jointly) and negative values in opposite directions (when D increases SM decreases and vice-versa). The absolute magnitude of the correlation measures its intensity.
   
In our case we obtain the following correlation between SM and
   
the JN trend line of D:            +0,71
the real D:                               - 0,33
   
We conclude that the relation between D and SM is not one of joint rise, as suggested by the trend line of D. On the contrary, it is an opposite relation: D essentially drops when SM rises. The intensity of the relation is also not the same.
   
(Several applications provide the computation of the correlation, including Excel.)
    
C) Trend lines should not be derived in the way  JN did
    
As a point of fact, comparing trend lines derived in the way JN did (by endpoint joining) may lead to entirely false conclusions. Take, for instance, Figure 2, where either the evolution of D (black) or its hypothetical evolution in magenta have the same JN trend line. Both evolutions represent, however, quite distinct realities.
   
In order to determine the correct trend line we must use a method named linear regression (also available in many applications, including Excel).
   
Figure 3 is the same as the previous one but with the regression line – the true linear trend line – of the magenta evolution. Note that whereas the JN trend is an increasing one the true trend is a decreasing one.
   
Whereas the correlation of the magenta evolution with SM is +0.67 – they grow together in 2014-2015 and in the years SM is constant it has no influence on the correlation –, the correlation of SM with the trend line of the magenta evolution is -0.71!


Fig. 3. O mesmo que 2 com a recta de regressão (cinzento) da curva a magenta. The same as Figure 2 with the regression line (grey) of the magenta curve.

D) O SM deve ser expresso em valor real e não em valor nominal
    
Este é um dos erros frequentes dos que não possuem uma literacia básica em economia: o uso incorrecto de variáveis económicas.
   
Os valores dos salários, como os de quaisquer preços, sofrem alterações (normalmente, depreciações) ao longo do tempo. Por conseguinte, se queremos efectuar comparações em igualdade de condições, teremos, por vezes, de ter em conta o factor de depreciação ao longo do tempo. No caso presente, os valores indicados de SM são valores nominais – os valores expressos no valor corrente da moeda, sem ter em conta a inflação-deflação; logo, sem ter em conta o que um dado valor monetário pode realmente adquirir. Se estivéssemos a comparar duas séries temporais de preços nominais, poderíamos prescindir do factor de depreciação – estaríamos a comparar nas mesmas condições. Não é o caso aqui. Teremos de usar os valores reais do SM. (O INE e PORDATA fornecem os factores de depreciação do índice de preços no consumidor.)
   
A figura 4 mostra os valores reais do SM (azul). A diferença não parece importante face aos valores nominais. Porém, a descida de 2011 para 2012 do valor real de SM redunda numa correlação com D bem mais forte do que tínhamos visto em B: -0,83.
D) SM must be expressed in real value, not in nominal value
    
This is one of the often encountered mistakes of those lacking basic literacy in economics: the incorrect use of economic variables.
   
The values of wages, as of any prices, undergo changes (usually, depreciations) in the course of time. Consequently, if one wants to do comparisons in equal conditions, one has, in some cases, to take into account the depreciation factor in the course of time. In the case here the values assigned to SM are nominal values – values expressed in terms of the current monetary value, without accounting for inflation-deflation; thus, without taking consideration of what a given monetary value is really able to purchase. Had we been comparing two temporal series of nominal prices we would then do without the depreciation factor – we would be comparing in the same conditions. That’s not the case here. Here we must use the SM real values. (INE and PORDATA supply the depreciation factors of the consumer price index.)
   
Figure 4 shows the SM real values (blue). The differences with respect to the nominal values don’t look that important. Nonetheless, de SM decline between 2011 and 2012 results in a far stronger correlation than the one found in B: -0.83.



Fig. 4. O mesmo que fig. 1 com o SM real a azul. The same as Figure 1 with the real SM (blue).

E) A análise de um pequeno segmento temporal não autoriza a formular uma lei geral.
    
Esta é uma questão geral da validação do raciocínio indutivo. Em que medida resultados obtidos de casos particulares podem ser usados para formular uma lei geral? Existem metodologias apropriadas para lidar com este problema. Não é este, contudo, o local para as abordarmos. Vamos, simplesmente, apresentar um método empírico suficiente para o caso presente.
   
O JN «analisou» um segmento temporal de 5 anos, quase todo da legislatura PSD-CDS, de brutal austeridade e ataque aos trabalhadores. É um segmento de duração superior a uma legislatura; logo, de duração não trivial. Imaginemos que passeávamos uma janela temporal de 5 anos de 1974 a 2015 e em cada posição da janela medíamos a correlação entre o SM real e D. Obtemos a curva de correlação a azul da figura 5. Note-se a descida de 2010 a 2013 devido ao aumento brutal do desemprego num período em que o SM real desceu. Os valores negativos que ocorrem no período contra-revolucionário pós 1975, até à adesão à CEE em 1986, têm a ver com o desmantelamento contra-revolucionário dos direitos dos trabalhadores, e não com crises globais. Globalmente a curva de correlação sobe e desce caoticamente não revelando nenhum padrão regular, logo nenhuma lei geral.
   
A correlação global entre SM real e D é fraca: 0,29 (encontraríamos tal correlação em SMs e Ds aleatórios do mesmo comprimento com uma probabilidade superior a 5%).
E) The analysis of a small time segment doesn’t allow inferring a general law
    
This is a general issue concerning the validation of inductive thought. Under which conditions results obtained from individual cases can be used to formulate a general law? There are suitable methodologies to tackle this issue. It’s not here, however, the place to approach them. We will restrict ourselves to present an empirical method sufficient for the case at hand.
   
JN “analyzed” a time segment of 5 years, almost all of the PSD-CDS legislature, of brutal austerity and attack to the workers. The time span of the segment is larger than that of a normal legislature (4 years); therefore, of a non trivial extension. Let us imagine sliding a 5-year time window from 1974 through 2015 and measuring at each position of the window the correlation between the real SM and D. We obtain the blue correlation curve of Figure 5. Note the decline between 2010 and 2013 due to the huge increase of unemployment in a period of a decreasing real SM. The negative values occurring in the post 1975 counterrevolutionary period until the EEC membership in 1986 are more the result of the counterrevolutionary dismantling of workers rights than an influence of global crises. On the whole the correlation curve goes up and down chaotically without displaying any specific regular pattern and thus no general law.
   
The global correlation between the real SM and D is small: 0.29 (one would find such a correlation in randomly drawn SMs and Ds of the same length with a probability over 5%).
    

Fig. 5. Curva de correlação a azul em segmentos correntes de 5 anos, entre SM real (vermelho) e D (preto). Correlation curve (blue) in running 5-year segments, between the real SM (red) and D (black)
    
F) O salário mínimo não é uma causa do desemprego
    
O salário mínimo corresponde ao valor mínimo da força de trabalho em determinadas condições sociais; neste caso, nas condições da sociedade portuguesa.
   
A classe capitalista procura baixar o mais possível este valor, de forma a aumentar a taxa de exploração do trabalho (mais-valia produzida pelo trabalhador a dividir pelo salário) e, daí, a taxa de lucro, mesmo que isso implique o aumento do desemprego. A classe trabalhadora procura aumentar o SM, aproveitando todos os momentos em que a correlação de forças lhe é favorável. E, obviamente, procura baixar o desemprego. Um baixo SM contrai o consumo interno, prejudicando a expansão do sector produtivo nacional, com produção para o mercado interno. Este aspecto não é actualmente importante para a classe capitalista portuguesa, na sua generalidade. Além disso, este aspecto é totalmente irrelevante para a troika (embora por vezes digam o contrário), dominada pelo capital alemão e corporações europeias transnacionais que exportam bens de consumo para Portugal. E cada vez mais e dos mais básicos, mesmo os que eram de tradição portuguesa: leite, suínos, sardinha, etc. Mas o aspecto em questão é importante para a classe trabalhadora, a única classe patriótica que não pode deixar de lutar pelo futuro do país. Ao invés, as «pátrias» dos capitalistas são os offshores e as suas alianças prioritárias são com os congéneres estrangeiros representados pela troika.
   
Dito isto, é realmente «comovente» verificar a preocupação da CE-troika com os alegados efeitos nocivos do aumento do SM no desemprego. Conforme afirmou Arménio Carlos da CGTP (isto num breve clip no mesmo JN) acerca da «teoria» da CE: «é uma teoria desenvolvida pela Comissão Europeia para travar a evolução das restantes grelhas salariais», «a troika nunca conseguiu justificar as razões para ser contra o aumento do SMN» e «defende um modelo económico de baixos salários, que é desastroso».
   
As relações entre SM e D têm menos a ver com a interacção de SM sobe – lucro baixa e SM sobe – consumo aumenta – lucro aumenta, e mais a ver com os acasos da luta de classes, não existindo nenhuma lei geral de relação causal entre as duas. Por isso mesmo, e apesar das luminárias de economistas que possui, «a troika nunca conseguiu justificar as razões para ser contra o aumento do SMN».
   
Será que isto é demonstrável, ao menos empiricamente, no caso português? De facto, é. Comecemos por notar o que dissemos acima: a correlação observada entre SM e D é baixa. Note-se que uma forte correlação entre duas variáveis não implica de forma alguma a existência de causalidade, mas uma fraca correlação é frequentemente sintoma de ausência de causalidade. No caso presente, a «teoria» anunciada no título do JN era que «Alta do salário mínimo vai prolongar o desemprego». Parece razoável entender a formulação algo vaga de «prolongar o desemprego» como significando que, pelo menos nos dois anos a seguir a um aumento do SM, o número de desempregados se mantém acima de 99% do número do ano anterior (consideramos, portanto, como não significativo um desvio abaixo de 1%). Seja:
   
N = número de anos, ai, em que houve aumento de SM com respeito ao ano anterior, com i indicando o i-ésimo ano corrente;
   
P = número de ocorrências de 2 anos a seguir a ai, com «prolongamento» de desemprego (critério acima);
   
V = número de ocorrências de 2 anos a seguir a ai, em que o desemprego registou uma descida em pelo menos um deles (o contrário de P).
   
Para os dados portugueses de SM real e de D obtém-se: N = 24; P = 8; V = 16. Isto é, é mais provável encontrar a seguir a um aumento do SM um período de dois anos em que se regista pelo menos uma descida do desemprego (16/24) do que um prolongamento do desemprego (8/24). A conclusão é a mesma se usarmos SM nominal (com proporções respectivamente de 13/35 e 22/35). A «teoria» da CE-troika não se confirma.
   
(Aplicámos também um teste estatístico de causalidade, cuja explanação não cabe aqui, que também confirmou a ausência de causalidade.)
     
G) No caso português (e noutros), aos valores anuais de desempregados devem ser somados os dos emigrantes
    
É sabido que a actual crise levou à emigração de muitos jovens licenciados e quadros qualificados. Mas mesmo antes da crise a emigração tem sido elevada em Portugal. Infelizmente as estatísticas da emigração são fracas. Concretamente, faltam os valores da emigração total anterior a 1992 e entre os anos de 2004 a 2010. Os números que existem apontam para um número de emigrantes entre 20 a 30% dos desempregados desde 1992. É um enorme contingente de emigrantes que constitui uma claríssima denúncia dos sucessivos governos de direita. Os últimos do PSD-CDS inclusive aplaudiram a emigração.
   
Conforme já expusemos em artigos anteriores, muitos emigram precisamente por terem sido desempregados de longa duração. O facto de deixarem de estar registados nos centros de emprego em nada autoriza olhar com optimismo indevido os números do desemprego. Como já dissemos, se todos os desempregados emigrassem a taxa de desemprego seria de 0%.
   
Portanto, um estudo rigoroso das causas do desemprego deverá ter sempre em conta a emigração. Isto é, deverá ser um estudo das causas do desemprego-emigração. Sobretudo, em Portugal, onde a emigração é elevada.
   
Se tomarmos em conta os valores disponíveis da emigração, adicionando-os a D, verifica-se que as conclusões acima não se alteram. No que diz respeito à alegada influência causal da subida do SM real, obtemos agora os números: N = 9; P = 2; V = 7. Para o SM nominal os números são: N = 12; P = 4; V = 8. Mais uma vez, a «teoria» da CE-troika não se confirma.
F) The minimum wage is not a cause of unemployment
    
The minimum wage corresponds to the minimum value of the labor power in given social conditions; in this case, in the conditions of the Portuguese society.
   
The capitalist class tries as much as it can to lower this value, so that the rate of exploitation of the work is increased (surplus value produced by the worker divided by the wage) and from there increasing the rate of profit, even though that may result in an increase of the unemployment. The working class tries to increase the SM, profiting from all moments of a favorable correlation of forces. And, obviously, it tries to lower the unemployment. A low SM diminishes the domestic consumption and detriments the development of the domestic productive sector, producing for the domestic market. At the present moment this is not, in general, an important issue for the Portuguese capitalist class. Moreover, this is a totally irrelevant issue for the troika (though sometimes they say otherwise), dominated by German capital and transnational European corporations exporting consumption goods to Portugal. Exporting each time more, and more basic ones, even what used to be traditional Portuguese items: milk, pigs, sardines, etc. But the above aspect is important to the working class, the sole patriotic class that cannot but struggle for the future of the country. In contrast, the “countries” of the capitalists are offshores, and their priority alliances are with their foreign mates represented by the troika.
   
This being said, it is really “touching” to observe the preoccupation of the EC-troika with the alleged harmful effects on unemployment, from an SM increase. As Arménio Carlos from CGTP stated about the EC “theory” (in a brief clip in JN): “it is a theory developed by the European Committee to put a break on the evolution of other salary grids”, “the troika was never able to justify why they are against the SM increase” and “defends a low-salary economic model, which is a disaster”.
   
The links between SM and D depend less on the interplay of SM increases – profit decreases and SM increases – consumption increases – profit increases, and depend more on chance events of class struggle. A general causality law does not exist between them. For that reason and in spite of its economic luminaries “the troika was never able to justify why they are against the SM increase”.
   
Is this a demonstrable statement, at least empirically for the Portuguese case? It is, indeed. Let us start from what we said above: the observed correlation between SM and D is small. To be sure, a strong correlation between two variables does not imply at all a causality relation, but a weak correlation is often a symptom of an absence of causality. In our case, the “theory” announced by the JN title was “The minimum wage hike will prolong unemployment”. It seems reasonable to interpret the somewhat vague formulation “prolong unemployment” as signifying that, at least in two years following an SM increase, the number of unemployees stays over 99% of the previous year number (we are thus considering as being non-significant a deviation below 1%). Let:
   
N = number of years, ai, with an increase of SM relative to the previous year, with i indicating the ith running year;
   
P = number of times that a 2-year period following ai was one of “prolonged” unemployment (the criterion above);
   
V = number of times that in a 2-year period following ai an unemployment decrease was observed at least in one year (P’s complement).
   
For the Portuguese data of real SM and D one obtains: N = 24; P = 8; V = 16. That is, the probability of finding a 2-year period with at least one decrease of the unemployment following an SM increase (16/24) is higher than the one of finding a prolonged unemployment (8/24). The conclusion is the same if we use SM nominal values (the proportions are now, respectively, 13/35 and 22/35). The EC-troika “theory” is not confirmed.
   
(The absence of causality was also confirmed by a specific statistical test, whose explanation falls out of the scope of this article.)
    
G) In the Portuguese case (and in other ones), the number of annual emigrants must be added to the number of the unemployees
    
It is well-known that the present crisis led to the emigration of a large number of young graduated people and highly qualified cadres. But even before the crisis the emigration in Portugal has been high. Unfortunately, the statistics of emigration are of poor quality. Concretely, the values of the total emigration before 1992 and from 2004 through 2010 are missing. The existing data indicate a number of emigrants varying around 20 to 30% the number of unemployees since 1992. It is a huge contingent of emigrants, constituting a clear denunciation of the successive right-wing governments. The last ones of the PSD-CDS have even applauded the emigration.
   
We have already noticed in previous articles that many people emigrate precisely because they were long term unemployees. The fact that they ceased being registered at employment agencies does not authorize us to look upon the unemployment figures with unduly optimism. As we have told, if all the unemployed people emigrated the unemployment rate would fall to 0%.
   
Therefore, a rigorous study on the causes of unemployment must always take the emigration into account. That is, it must be a study on the unemployment-emigration causes. Especially in Portugal where the emigration is high.
   
Taking into account the available values of emigration, by adding them to D, does not modify the above conclusions. In what respects the alleged causal influence of the real SM increase, we now obtain the values: N = 9; P = 2; V = 7. For the nominal SM the figures are: N = 12; P = 4; V = 8. Once again the EC-troika “theory” is not confirmed.


quinta-feira, 21 de abril de 2016

Marxismo e Ciência: Materialismo Histórico (6)

Continuação de / Continuation of:
   
De [0]:
11 – Evolução Histórica das Formações Sociais
  B2 e B3 – Sistemas Feudais
  B2 – Feudalismo de Servidão
    B2C – Servidão Estatal
----------------------- Artigo Presente ------------------------
    B2D – Feudalismo Senhorial (Feudalismo Dominial)
  B3 – Feudalismo de Pequenos Produtores Independentes
    B3D – Feudalismo de Rendeiros e Mercados
    B3C – Feudalismo de Comunidades («Modo Asiático de Produção»)

(Continua no próximo artigo)
From [0]:
11 – Historical Evolution of Social Formations
  B2 e B3 – Feudal Systems
  B2 – Serfdom Feudalism
     B2C – State Serfdom
----------------------- Present Article ----------------------
     B2D – Manorial Feudalism (Seigneurial Feudalism)
  B3 – Feudalism of Independent Petty Producers
    B3D – Feudalism of  Tenants and Markets
    B3C – Feudalism of Communities (“Asiatic Mode of Production”)

(Continues in a next article)


B2D – Feudalismo Senhorial (Feudalismo Dominial)
   
FSs: Reinos bárbaros da Alta Idade Média Europeia, do séc. VI ao séc. XI. (Outros, possíveis.)
    
RdP: A nobreza é a classe dominante. Além da nobreza laica, existe uma nobreza clerical de altos dignitários da Igreja. Designamos ambas por «nobreza» em B2D e B3D: ambas defendem e vivem do MP feudal. A nobreza possui os principais meios de produção (terra, moinhos, fornos, etc.) e apropria-se do sobreproduto de camponeses adstritos a lotes de terra nos seus domínios – servos da gleba – sob as formas: renda em espécie, renda em trabalho (trabalho compulsivo nas terras do senhor = corveia) e impostos. A apropriação de sobreproduto, tal como em B1 e B2C, é por coerção directa. Os PPs, para além dos servos, são pouco importantes. O comércio é quase inexistente.
    
OrgPol: Domínios senhoriais organizados hierarquicamente num sistema de vassalagem. Cada domínio é um micro-Estado auto-suficiente.
    
Evolução:
Com a invasão do Império Romano as tribos bárbaras [1] apoderaram-se das terras dos nobres romanos, com os respectivos colonos e escravos; estes já pouco se distinguiam dos colonos (B1C). A conquista apressou a desagregação da organização gentílica das tribos bárbaras. Cada tribo elegia um chefe (rei) que conduzia a conquista e doava terras, com os servos (colonos e ex-escravos), aos seus principais guerreiros (duques).
   
A conquista operou, portanto, uma vasta expropriação de meios de produção. A doação desses meios passava de rei a duques e destes à nobreza subordinada, segundo um sistema de vassalagem hierarquizado: aquele que recebia um domínio e servos – um feudo (origem da palavra feudalismo) – de um nobre, tornava-se seu vassalo [2]. Estava obrigado a apresentar-se a cavalo e armado sempre que o senhor o requeria, participando sob sua ordem em expedições guerreiras. Tinha ainda de satisfazer outras obrigações (contribuir para dotes de casamentos, para a construção de fortificações, etc.). O incumprimento dos deveres de vassalagem retirava, em princípio, o feudo ao faltoso. Na prática, tal raramente acontecia e, com o tempo, os feudos tornaram-se hereditários e regidos segundo o princípio: «o vassalo do meu vassalo não é meu vassalo».
    
Os nobres bárbaros adoptaram a fé cristã num período mais ou menos curto (pelas mesmas razões que os patrícios romanos fizeram), tornando-se o alto clero e as ordens religiosas-militares possuidores de enormes domínios [3].
    
O feudo (ou domínio) de um nobre compreendia três parcelas: o manso senhorial, das terras exclusivas do senhor, com o seu castelo, moinhos,  forno, forja, lagares, etc.; o manso servil, dos lotes de terra de usufruto (e não de propriedade) dos servos da gleba, de onde deveriam tirar o sustento das suas família e pagar as rendas e impostos ao senhor (a condição de servo passava de pai a filho, assim como o direito de usufruto); as terras comunais – bosques, florestas, prados – que podiam ser usadas pelos servos em certas condições.
    
O perigo de guerras constantes levaram os camponeses livres (não sujeitos a um senhor) e cidadãos romanos [4] a buscar a protecção de um nobre [5], obtendo um lote em troca de se tornar seu servo: impedido de abandonar o domínio do senhor sob pena de duros castigos [6], obrigado a trabalhar durante certos dias no manso do senhor (corveia) e a pagar-lhe uma renda (geralmente em espécie) pelo usufruto do lote. Era também obrigado a inúmeras prestações: trabalhar na construção de estradas, pontes e fortificações; pagar direitos de uso de moinho, forno, lagares, balneário, etc.; pagar taxa de justiça, portagens, etc. Todas as rendas e impostos constituíam a renda feudal, de que uma parte importante era a renda em trabalho, uma reminiscência do esclavagismo.
Apesar da dura condição do servo, ela constituiu um progresso face à escravidão. O servo possuía instrumentos de produção e, ao contrário do escravo, tinha interesse em trabalhar com maior intensidade e eficiência para obter um maior rendimento para si próprio e família, uma vez deduzido o sobreproduto para o senhor. Alguns servos chegaram mesmo a enriquecer-se, tornando-se mais tarde camponeses livres.
As forças produtivas melhoraram em B2D, embora com lentidão (rotação de culturas, novos tipos de arado, grades, foices, etc., novo arreio de cavalos, juntas de bois, adubos naturais, criação de porcos e gado, generalização do moinho hidráulico, etc.).
   
Um feudo funcionava como um micro-Estado. Os servos eram também artesãos. Além de alimentarem os seus senhores, também os vestiam, calçavam, armavam, construíam os castelos, etc. O senhor apenas oferecia protecção contra invasões e comportava-se como um autocrata com direito de justiça no seu domínio [7]. O poder real era em geral débil, não havendo praticamente um poder central. A capital do Império de Carlos Magno era onde ele tinha o seu acampamento; o seu aparelho de Estado pouco mais era do que um intendente do tesouro e colector de impostos, um homem de letras que lia e redigia tratados, um evangelizador e o conselho militar dos seus condes.
   
Em B2D não existe um Estado centralizado, como em B2C, mas uma enorme fragmentação de territórios com particularismos de costumes, impostos, leis e autoridades [8]. A produção é essencialmente agrícola (90% da população é camponesa), realizada por pequenos produtores e maioritariamente para uso; não para troca. Reina a economia natural, praticamente sem comércio e com mercado reduzido, de transacções em espécie. As cidades são pouco importantes.
    
Transição:
As revoltas de servos e camponeses livres foram raras [9], dado o esmagador poder militar da nobreza e a influência da Igreja [10]. Os servos, contudo, resistiram aos senhores de várias maneiras: fugas, mau trabalho para o senhor, recusa de impostos, etc.
    
Entretanto, lentas alterações decorriam nas cidades e no comércio. As cidades tinham sido pilhadas e destruídas durante as invasões. Não passavam de pequenos burgos cujos habitantes eram simultaneamente artesãos e camponeses, sujeitos a senhores feudais laicos ou religiosos. Mas o aumento da riqueza de muitos nobres estimulou a procura de bens, incluindo bens de luxo trazidos por mercadores do Oriente. As cidades marítimas italianas foram as primeiras a ter um comércio florescente. O artesanato desenvolvia-se. Alguns servos fugiam para terras distantes e tornavam-se artesãos livres, por vezes itinerantes. Aparecem nos campos ferreiros, carpinteiros e oleiros. Dá-se uma divisão do trabalho com a separação do artesanato da agricultura.
    
Nas cidades os que trabalham nos ofícios, sem tempo para dedicar às suas terras, preferem arrendá-las a camponeses e comprar-lhes víveres e matérias-primas. Ressuscita, assim, o comércio que leva ao aumento da moeda em circulação, substituindo a troca em espécie por troca em dinheiro (passagem da economia natural a monetária). Camponeses e artesãos passam a reunir-se em cruzamentos de caminhos e lugares protegidos por castelos e mosteiros para celebrar feiras. Estabelece-se o comércio entre as cidades e os campos. As primeiras, fornecem mercadorias e ferramentas; as segundas, víveres e matérias-primas. O produto excedentário acumula-se em certos camponeses médios e ricos que se libertam da servidão. Ao mesmo tempo, cada vez mais servos fogem para as cidades, gozando de direito de asilo para se tornarem livres ao fim de algum tempo.
    
O progresso das forças produtivas, nomeadamente das técnicas agrícolas, exigia uma organização mais complexa do trabalho. Como os servos não estavam minimamente interessados nas corveias, onde perdiam tempo de que tinham necessidade para as suas culturas, o senhor feudal viu-se confrontado com perdas de um trabalho pouco produtivo. Os nobres ainda tentaram celebrar acordos com as cidades para não ser dado asilo a servos fugitivos. No final do séc. XI, dando-se conta do insucesso de tais acordos, acabaram por abandonar o sistema de corveias e  passaram para um regime de renda em espécie ou mesmo em dinheiro. Estava em curso a transição para B3D a qual, todavia, não teve lugar em países de muito fraco poder central: na Polónia e na Prússia Oriental ainda imperava a servidão feudal no início do séc. XIX!
B3 – Feudalismo de Pequenos Produtores Independentes
O rendimento da classe dominante provém essencialmente do sobretrabalho de pequenos produtores independentes, camponeses e artesãos. São «independentes» ou «livres» por não estarem sujeitos às corveias e impostos típicos da servidão. O sobreproduto é apropriado quer sob a forma de rendas individuais em espécie ou dinheiro (B3D) quer sob a forma de tributos em espécie ou dinheiro prestados e/ou controlados comunitariamente (B3C).
B3D – Feudalismo de Rendeiros e Mercados
   
Nota: B3D corresponde a um estádio preliminar que desembocou na transição do feudalismo para o capitalismo. Só os países da Europa Ocidental passaram plenamente por esta classe de FSs entre os séculos XI e XVI e, por isso, só os países da Europa Ocidental «inventaram» o capitalismo, com destaque para a Inglaterra que foi pioneira. B3D suscitou várias polémicas, actualmente resolvidas no essencial [11].
    
RdP: B3D caracteriza-se por uma grande multiplicidade classista e de relações de produção. Os pequenos produtores – camponeses livres da servidão feudal e artesãos – são os esteios económicos. Há também produtores com menor papel: os servos, em algumas regiões e apenas numa fase inicial (tipicamente, até ao séc. XIII); os assalariados rurais e urbanos numa fase final (tipicamente, depois do séc. XIII). Existe uma «classe média»: a «burguesia urbana» (patriciado, mestres de ofícios, mercadores, armadores, banqueiros) e a «burguesia rural» [12] (lavradores ricos, com rendeiros e/ou assalariados). A «classe média» apropria-se de parte do sobreproduto dos produtores. A classe dominante é a nobreza, que vive da apropriação da parte restante de sobreproduto dos produtores, directa e indirectamente. Directamente, sob a forma de rendas em espécie ou dinheiro e de impostos. Indirectamente, cobrando impostos da «classe média».
    
OrgPol: Monarquias nos Estados unificados (Inglaterra, França, Espanha, Portugal, etc.) com domínios feudais e cidades com auto-governo: comunas. Os feudais e as comunas regulamentam e regulam nos seus territórios os assuntos económicos e administrativos, incluindo justiça e impostos. O rei decide a política externa e a guerra, sob influência da alta nobreza. A partir do séc. XIII surgem corpos representativos dos três estados, clero, nobreza e povo, este representado apenas por burgueses importantes: Cortes, Estados Gerais (França), Parlamento (Inglaterra). A Alemanha está fragmentada em inúmeros ducados, principados, bispados, etc., e comunas. O poder do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico é débil. No território italiano não há poder central: há vários estados feudais, incluindo o Estado Papal que é um dos maiores, cidades governadas por feudais, e duas repúblicas – Génova e Veneza – que são, de facto, duas comunas.
    
Evolução:
A evolução de B3D deve-se a uma dialéctica complexa entre o campo – onde surge uma divisão social entre os camponeses arrendatários – e as cidades – onde progride a produção mercantil.
   
A produtividade na agricultura aumenta neste período, devido ao desenvolvimento do artesanato (melhores instrumentos agrícolas) e a novas culturas. A maior produtividade, o crescimento da economia mercantil a as lutas dos camponeses, já assinaladas em B2D, forçaram os feudais que sempre procuraram maximizar a renda feudal, a buscar novas formas de exploração dos camponeses: procederam ao parcelamento de todas as suas terras que arrendaram a camponeses (ex-servos ou outros), por renda em espécie ou dinheiro [13]. Os camponeses, transformados em pequenos produtores independentes, viram-se estimulados a desenvolver as forças produtivas e acumular algum sobreproduto. Por vezes o senhor arrendava lotes maiores a antigos intendentes, camponeses desafogados e citadinos com posses. Surgiu, assim, uma camada de lavradores ricos que, por sua vez, empregavam camponeses ou mesmo assalariados rurais – em ambos os casos duplamente explorados, pelo lavrador e pelo feudal – e procuravam tornar-se proprietários. No séc. XVI a renda em dinheiro torna-se a base do regime de propriedade rural.
    
Muitos dos camponeses tornados «independentes» cedo viram a sua situação piorar devido a duas causas principais: 1) os mais pobres (com lotes mais pequenos, menos férteis e em piores condições de escoar a produção) tinham dificuldade em pagar a renda nos prazos fixados e caíam muitas vezes nas garras de usurários; 2) cada vez mais a nobreza exigia a renda em dinheiro e a desvalorização da moeda, agravada nos séculos XIV-XV, dificultava a vida dos pobres, tanto mais que a nobreza tinha passado a exigir um resgate de emancipação da servidão. Os camponeses pobres arruinados ou migram para as cidades ou se oferecem como assalariados rurais. Muitos lavradores abastados apropriam-se de terras abandonadas pelos camponeses arruinados e arrendam-nas ou contratam assalariados rurais, aumentando a sua riqueza. Forma-se uma burguesia rural que arrenda ou subarrenda parcelas de terreno a camponeses sem terra ou os contrata como assalariados.
    
Assiste-se, assim, ao subarrendamento, ao trabalho assalariado e a uma nova luta de classes nos campos: entre a burguesia rural [14] e os produtores dela dependentes. No séc. XIV eclodem violentas revoltas de camponeses um pouco por toda a Europa, e quase todas com apoio das camadas pobres das cidades, nomeadamente de artesãos. Na Inglaterra, ocorreu em 1381 a revolta dos camponeses liderada pelo assentador de telhas Wat Tyler. Com um exército de 10 mil homens, avançou sobre Londres cujas portas foram abertas pelo povo. Exigiu do rei moderadíssimas medidas sociais [15] que, por temor, foram aceites, levando à dispersão de parte do exército; refeita do temor, a nobreza atacou Wat Tyler à traição e decapitou-o bem como os revoltosos. Em França, estalou em 1358 a revolta conhecida por Jacquerie; enfurecidos pelos impostos e pilhagens feudais os camponeses assaltaram castelos e incendiaram as casas nobres. A nobreza rapidamente esmagou a revolta. Revolta do mesmo género ocorreu em Portugal no âmbito da revolução burguesa de 1383 [16].
    
Nos séc. X-XI cada vez mais artesãos, muitos deles camponeses fugitivos, se instalam nas cidades em crescimento, com melhor acesso a mercados, protecção contra banditismo, etc. Passam a constituir a maior parte da população urbana, tornando-se a cidade a célula da produção mercantil simples: o produto do artesão vai directamente para o mercado. A separação do artesanato da agricultura teve enormes consequências: no aperfeiçoamento dos ofícios – logo, no avanço das forças produtivas –, no comércio, e no desenvolvimento social.
    
O mestre artesão trabalhava no seu atelier, com membros da família e um ou mais companheiros ou aprendizes. A fim de se defenderem de exacções feudais os mestres de cada ofício associaram-se em corporações, uma organização típica de B3D. Estas cedo vieram a ter outras funções fixadas em estatutos: entreajuda no escoamento da produção; criação de fundos de ajuda a órfãos e viúvas de artesãos; monopólio do respectivo ofício; proibição da concorrência, mesmo dentro da corporação, estabelecendo a igualdade de condições de trabalho, através de uma regulamentação minuciosa de todos os processos técnicos, horas de trabalho, número de companheiros e aprendizes, etc. O aprendiz pagava a aprendizagem com o seu trabalho, tornando-se ao fim de algum tempo companheiro com salário fixado pelos estatutos. Era, portanto, um assalariado. Depois de algum tempo o companheiro podia tornar-se mestre. Aprendizes e companheiros tinham interesses antagónicos dos mestres. Esse antagonismo deu lugar a lutas violentas quando os mestres se tornaram um corpo privilegiado de entrave à promoção de companheiros em mestres.
    
As cidades, inicialmente, pertenciam a senhores feudais que impunham direitos constrangedores: direito de pernoita, de serviço a cavalo ou a pé, taxa por uso de fornos de pão, direitos sobre vendas, etc. Além de constrangedores, várias acções dos feudais entravavam o desenvolvimento do artesanato, como a imposição de corveias e a captura de sevos fugitivos. Havia também sempre o perigo de guerras entre feudais levarem à pilhagem de cidades. Por estes motivos, cedo as cidades mais importantes resistiram aos senhores, mesmo em confrontos armados onde tiveram papel destacado as corporações. Acabaram por conquistar direitos próprios [17], por vezes a troco do pagamento de um resgate. Nasceram assim as comunas, um fenómeno típico de B3D: cidades que são senhores colectivos, com terras próprias, administração autónoma (conselho municipal), eleições para cargos públicos, finanças e cobrança de impostos, dispondo de tribunais (embora a alta justiça fosse apanágio do rei), exército e, em alguns casos, o direito de declarar guerra, celebrar alianças e assinar tratados [18]. Em Portugal, já no séc. XII se formaram os concelhos – equivalentes das comunas – com direito de asilo de servos fugitivos [19].
    
O progresso do artesanato estimulou o comércio. Cada vez mais a actividade económica das cidades cresce porque a transacção de bens não se limita à própria cidade mas estende-se a outras regiões. Surgem cidades e regiões com artesanato especializado: tecidos de lã da Flandres e Picardia, produtos em couro da Espanha, vinhos de Bordéus, armas de Milão e Nuremberga, vidro de Veneza, etc. O comércio, por sua vez, influi no artesanato. Um exemplo é o dos tecidos de lã da Flandres que dependiam da importação de lã inglesa e de alúmen do Médio Oriente para fixar as cores. Florescem as feiras e duas rotas de comércio: do Mediterrâneo, controlado pelas cidades italianas; dos portos da Liga Hanseática no mar do Norte e mar Báltico.
    
O comércio impõs a circulação monetária, levantando o problema do câmbio. No séc. XII surgem os cambistas. O mercador que partia em viagem pagava ao cambista para obter um título de câmbio; ao chegar ao local de destino, dirigia-se a um agente do cambista e recebia em troca do título a respectiva importância na moeda local. O título de câmbio chegou a substituir a moeda e a ser usado em operações de crédito. Operações que se desenvolveram imenso a partir do séc. XIII, quando os empréstimos a várias classes sociais eram já correntes. Os banqueiros começaram por ser os mercadores ricos das cidades italianas e do Sul da França.
    
Com o desenvolvimento das comunas, do comércio e da banca, criou-se um estrato social designado por patriciado constituído pelos burgueses mais ricos que detinham o «poder de Estado» na cidade: a administração urbana, a justiça, as finanças, a milícia, e a cobrança de impostos aos artesãos. Estes burgueses eram principalmente grandes mercadores que investiam os proventos do comércio em terrenos e grandes imóveis urbanos. As corporações lutaram contra o patriciado, com um resultado que dependia da economia urbana. Se os ofícios eram economicamente menos importantes que o comércio, ganhava o patriciado (Hamburgo, Lubeck, Bremen, Veneza, Génova); caso contrário, ganhavam as corporações (Florença, Colónia, Francoforte) conquistando participação no poder local ao cabo de áspera e longa luta.
    
Vemos que em todo este período, se desenrola uma interacção dialéctica entre os avanços das forças produtivas e as seguintes lutas de classes: entre a nobreza e artesãos; entre a nobreza e a «classe média»; entre a nobreza e camponeses; entre os artesãos e o patriciado; entre os artesãos e os mestres das corporações.
    
Vemos, também, que a existência de domínios feudais e de comunas com auto-governo conferiam uma grande descentralização na tomada de decisões económicas e, em muitos casos, judiciais e políticas. Houve, todavia, variações neste aspecto de país para país [20].
    
Finalmente, é importante não perder de vista que, apesar do papel das cidades, da produção mercantil e do comércio, a classe dominante era a nobreza e o MP dominante era o feudal. Cidades, produção mercantil e comércio estavam política e economicamente sujeitas ao MP feudal que impunha: ausência de mercado livre de terras, impostos e taxas (dízimos, portagens, pontagens, taxa de descarga em portos, etc.), regulamentos sobre mercados, particularismos feudais (diferentes sistemas de pesos e medidas, multiplicidade e má qualidade das moedas, etc.). Em 1500, a esmagadora maioria da população vivia nos campos (92,8% na Inglaterra, 91,8% na Alemanha, 91,2% na França, 81,6% na Espanha, 77,9% na Itália e 70,5% na Holanda) [21]. Na Inglaterra, a contribuição da agricultura para o PIB em 1522 era ainda maioritária: 43,2 % (36,5% manufacturas, 20,3% serviços) [22].
    
Transição:
    
Crise de B3D (séc. XV-XVI)
    
-- Crise da nobreza. A diminuição do valor real das rendas monetárias da nobreza é o primeiro sintoma do fim do MP feudal, pois elas representavam o excedente arrancado à força do camponês, e a sua diminuição era o sinal monetário do declínio do MP. A diminuição do valor real das rendas teve duas causas principais: 1) A desvalorização da moeda, devido a gastos com guerras constantes e consumos sumptuários. 2) O avanço da produção industrial nas cidades fez com que as relações de comércio entre a cidade e o campo se inclinassem num sentido desvantajoso para o último. No mercado global o senhor comprava caro e vendia barato.
A pequena e média nobreza empobrecem. A alta nobreza endivida-se astronomicamente, recorrendo ao Tesouro (muitas vezes pilhando-o), endividando o Estado. A pequena e média nobreza procuram sair do aperto colocando-se ao serviço de outros feudais, mesmo que «estrangeiros». São criados laços contratuais que levam ao colapso geral das relações de vassalagem e do sistema de feudos, já muito confuso por alienações e usurpações. A alta nobreza mantém grandes exércitos e procura ter acesso aos recursos do Estado, originando a anarquia feudal dos séc. XIV-XV [23] a qual, ao invés do fragmentarismo dos séc. IX-XII, é agora conduzida apenas pela alta nobreza cujos exércitos vivem da pilhagem do povo. No séc. XVI a propriedade da terra está concentrada em alguns magnates feudais.
    
-- Crise das corporações, cuja regulamentação minuciosa da produção entravava o progresso técnico e aperfeiçoamento dos instrumentos, logo o desenvolvimento das forças produtivas: qualquer segredo técnico era ciosamente guardado pela corporação que o detinha [24]; algumas invenções eram recusadas pelo receio de que o aumento de produtividade baixasse os preços [25]; a ausência de divisão de trabalho dentro de cada ofício era também um entrave.
A condição dos companheiros agravou-se a partir do séc. XIV: para passar de aprendiz a companheiro tinham de pagar uma jóia, oferecer presentes aos mestres e executar uma obra-prima às suas custas. Eram preteridos por familiares dos mestres, isentos dessas obrigações e, mais tarde, impedidos de subir a mestre, tornando-se «companheiros perpétuos». Os seus salários diminuiram e as condições de trabalho pioraram, tornando-se na prática servos dos mestres.
A luta entre companheiros e mestres eclode. Os primeiros reivindicam aumentos de salários e diminuição de horas de trabalho, recorrendo à greve [26]. Falta-lhes, contudo, consciência política: os companheiros continuam a sonhar ser mestres e regressar aos bons velhos tempos.
    
Nascimento das relações capitalistas (segunda metade do séc. XVI)
    
As relações capitalistas nasceram do seio das contradições insanáveis de B3D [27]. A causa última foi a resistência camponesa que desenvolveu as comunas, a expansão da propriedade e o status livre, e a evolução da economia no sentido da produção de mercadorias. A produção para o mercado, isto é, uma produção tendo em vista o valor de troca, e não apenas o valor de uso como em B2D, modificou a atitude dos produtores. Era agora possível acumular riqueza, não sob a forma de bens perecíveis, mas sob a forma conveniente e portátil de dinheiro, títulos de câmbio e ordens de pagamento. A posse de riqueza tornou-se um fim em si mesmo, e afectou não apenas os comerciantes mas também membros da nobreza.
Os principais factores no desenvolvimento das relações capitalistas foram:
    
-- O saque das colónias: matérias-primas, bens de consumo, e sistema de plantações, que criaram a acumulação primitiva de capital nos ricos mercadores da Inglaterra, França, Holanda e no que iria ser os EUA, como vimos em B1D [28]. A Inglaterra dominou um vasto Império colonial, entre outras razões porque parte importante da sua nobreza feudal se tornou comerciante, aliando-se à burguesia. Nada de semelhante aconteceu noutros países. O sistema colonial incrementou o comércio. Formaram-se «sociedades-monopólio» de exploração colonial que foram motores de concentração do capital.
    
-- Transformação de mercadores em empresários capitalistas. Inicialmente, o mercador começou por aproveitar a divisão técnica do trabalho entre corporações (primeiro, nos têxteis: fiandeiros, tecelões, tingidores) e comprava matérias-primas a um, instrumentos a outro, que vendia às corporações com a condição de lhe venderem a produção. Do produto da venda amortizava os instrumentos, pagava a matéria-prima e os artesãos, obtendo um lucro que provinha do sobretrabalho dos artesãos. O mercador tornava-se empresário capitalista. Quando os regulamentos das corporações punham obstáculos o mercador transferia esta actividade para o campo ou usava o sistema doméstico, distribuindo os passos de produção por várias famílias.
Mais tarde, o  mercador ingeriu-se directamente no processo produtivo. Levava os artesãos a realizar operações particularmente custosas ou complicadas (tingir os tecidos, p. ex.) num local proporcionado por ele e sob sua fiscalização e, por último, concentrou todas as operações num local sob sua direcção. Tinha nascido a manufactura, forma embrionária de produção capitalista que prevaleceu na Europa desde final do séc. XV até ao séc. XVIII e, com ela, a burguesia industrial, proprietária dos meios de produção. As manufacturas assestaram o golpe final nas corporações que não conseguem competir em termos de produtividade, preço e qualidade.
Nos campos surge uma burguesia rural que emprega assalariados rurais e adquire terras a preços irrisórios ou mesmo a troco de nada, como aquando da expropriação das terras do clero nas revoluções burguesas. Nesse período a burguesia desenvolveu ainda mais os bancos e o crédito a fim de transformar bens congelados (terras e títulos de dívida) em activos realizáveis.
    
-- Nascimento do exército de assalariados. Ao capitalista convinha que houvesse o maior número possível de pobres, despojados de meios de produção e meios de sustento, que se vissem forçados a vender a sua força de trabalho, sendo empregues por um salário na execução de tarefas simples na manufactura. Quanto mais houvesse, melhor, porque diminuiria o salário aumentando o lucro. Um enorme exército inicial de indivíduos pobres, procurando vender a sua força de trabalho nas cidades, foi conseguido de dois modos:
1 – Pela ruína dos artesãos e desmantelamento das corporações.
2 – Pela expropriação dos camponeses pobres das suas terras, quer por ruína (incapazes de concorrer com a burguesia rural e de pagar as dívidas) quer por compulsão, como aconteceu na Inglaterra com o sistema dos cercamentos. [29].
Tinha nascido a classe proletária, de indivíduos sem outra alternativa senão vender a única mercadoria de que dispunham: a sua força de trabalho.
    
Monarquias absolutas e revoluções burguesas
    
A ascensão da burguesia e sua crescente pressão sobre o poder político levou ao surgimento na Europa de monarquias absolutas. Trata-se de uma forma de Estado feudal que centralizava o poder para aparecer como árbitro entre feudais e  burguesia, e protectora de ambas face ao movimento revolucionário das massas populares vítimas da exploração feudal e capitalista. Nos embates decisivos entre nobreza e burguesia, o monarca absoluto, representante supremo do Estado da nobreza latifundiária, nunca se enganou na representação desse papel [30].
Por fim, os entraves colocados ao capitalismo pelo Estado feudal tornam-se insuportáveis. Irrompem revoluções burguesas que conduzem a burguesia ao poder: a Revolução dos Países-Baixos (1566-1609), a primeira revolução burguesa triunfante, que instaurou a República Holandesa; a Revolução Inglesa (1640-1660) que instaurou a República Inglesa; a Revolução Francesa (1789-1793) que instaurou a República Francesa. As duas últimas tiveram profundas repercussões mundiais. Outras, na Europa, tiveram lugar no séc. XIX [31].
A burguesia, ao contrário de escravos, servos e camponeses independentes, surge no palco da História como uma classe revolucionária letrada, com consciência de classe e consciência política, inicialmente portadora de uma ideologia progressista de livre-pensamento e fundamentação científica inspirada no Iluminismo [32].
Note-se que, mesmo depois das revoluções, a burguesia ainda foi várias vezes apeada do poder e teve de lutar muitos anos e mesmo décadas contra a reacção feudal até se firmar politicamente como classe dominante [33], embora o MP fosse já capitalista.
B3C - Feudalismo de Comunidades («Modo de Produção Asiático»)
FSs: Pelo menos as seguintes: Egipto e Pérsia antigos, Império Árabe, Impérios Inca e Azteca, China (1124 a.C.-1368 d.C.), Japão (250 d.C. a início do séc. XIX).
    
Nota: A classe B3C é extensa e variada. Limitaimos a nossa exposição a algumas FSs. Nenhum MP levantou tanta polémica como o MPA [34].
    
RdP: Os produtores – camponeses e artesãos – são membros de comunidades que detêm o usufruto em comum da terra, não a sua propriedade. A comunidade é a célula produtiva num regime de trabalho co-operativo. Toda a terra pertence a um autocrata que pode doar domínios a nobres, geralmente só em usufruto. O sobreproduto dos produtores é entregue colectivamente, sob a forma de um tributo, a cortesãos ou funcionários do autocrata (Faraó, Rei, Imperador, Inca, etc.). O autocrata, a nobreza cortesã, funcionários e chefes militares constituem a classe dominante que vive dos tributos colectados. Em B3D o sobreproduto é extraído descentralizadamente de produtores individuais, enquanto aqui é apropriado por compulsão centralizada e tradição, sob a forma de uma «renda colectiva». Isto é, em vez de sujeitos individuais trata-se aqui de sujeitos colectivos com alguma autonomia interna, embora numa dependência económica feudal, o que distingue B3C de B2C.
O papel económico e social dos escravos é irrelevante. Nenhuma das FSs B3C passou pelo esclavagismo (B1C), transitando as respectivas comunidades directamente do comunismo primitivo para o MP feudal. B3C é uma evolução directa do regime comunitário primitivo (A). A nobreza feudal provém quer da nobreza de uma gens proeminente, quer da nobreza de uma tribo invasora.
    
OrgPol: Autocracia. Cada comunidade (aldeia, vila) é em larga medida auto-suficiente; goza de certa autonomia interna, está económica e socialmente largamente isolada das outras, é politicamente dependente do autocrata e representada perante a burocracia estatal por elementos séniores escolhidos pela comunidade. Existe um estrato de comerciantes, muitas vezes socialmente discriminado, itinerante entre as comunidades e comerciando quase sempre os mesmos produtos. A administração autocrática envia, em certas datas, colectores de tributos às comunidades. Os tributos são, geralmente, pagos em espécie.
    
Evolução:
O exemplo mais antigo de B3C é o do Egipto faraónico [35]. Desde o neolítico que as populações do vale do Nilo se uniram em comunidades gentílicas – nomos – que construíam colectivamente canais de irrigação. Cada nomo era uma comunidade fechada, com o seu próprio nome, costumes e deuses totémicos. O aumento do solo arável para sustentar uma população crescente e o regime de cheias do Nilo requereu trabalhos de irrigação de maior envergadura sob direcção centralizada. Formaram-se primeiro dois agrupamentos de nomos, os reinos de Norte e Sul, até que em 3.200 a.C., da luta entre Norte e Sul, sai vitorioso o Sul sendo os dois reinos unidos sob o faraó Menes que instaurou um poder autocrático apoiado pela nobreza. Toda a terra pertencia ao faraó que podia doá-la em usufruto aos nomos e aos nobres. Nos nomos, a terra era trabalhada pelas famílias. Existia um conselho do nomo e um chefe, nomarca, que recolhia e entregava o tributo em espécie a um representante do faraó. Os tributos eram guardados em armazéns reais ou nos templos. Os membros das comunidades eram por vezes obrigados a trabalhar em construções públicas e nos templos. Os prisioneiros de guerra eram convertidos em escravos, mas o seu papel económico era menor: trabalhavam nas terras próprias do faraó, da nobreza e dos templos.
Em 3000 a.C. começou a desenvolver-se o comércio e o artesanato. Períodos de invasões, declínio, fragmentação, anarquia e revoltas [36] permeiam a história do antigo Egipto. São sempre ultrapassados pela restauração do poder central faraónico que, com ligeiras variações, exibe as características principais de B3C:
    
-- Não há (ou quase não há) propriedade privada da terra.
-- Cada comunidade detém o usufruto da terra e é auto-suficiente (ou quase), logo resistente a mudanças.
-- Não há uma dependência directa do membro da comunidade face à autoridade. É a comunidade que é responsável, de forma colectiva, perante a autoridade.
-- O tributo é uma renda colectiva e não individual.
-- A comunidade ou o seu conselho tomam as principais decisões sobre a sua economia, participação em obras públicas, detendo também alguns poderes jurisdicionais.
-- Assim, o membro da comunidade está numa situação muito diferente da servidão de Estado (B2C). Só não é «livre» no sentido em que, salvo razões especiais, não pode abandonar a comunidade.
-- A autoridade (autocrata, nobreza) e estratos associados (burocracia, clero) vive da apropriação do sobreproduto das comunidades, sob a forma de tributos colectados em certos dias do ano.
-- A autoridade assegura a construção de grandes obras públicas (que não poderiam ser realizadas sem uma coordenação central) e oferece protecção contra invasores. O autocrata é o juiz supremo, podendo delegar poderes em nobres e governadores.
    
No Império Inca as comunidades de produtores chamavam-se ayllu [37]. A produção era essencialmente agrícola e usava instrumentos primitivos do neolítico. O arado de ferro e a roda eram desconhecidos. A baixa produtividade do trabalho era parcialmente compensada por um sistema de trabalho colectivo bem organizado [38], boas observações astronómicas, e um eficiente sistema de transporte e comunicação. Eram usados adubos e praticadas culturas específicas (p. ex., a batata).
O ayllu já existia nas comunidades primitivas andinas (A). A desagregação gentílica fez emergir uma nobreza de sangue a que pertencia o Inca (Imperador). O Inca era o único proprietário da terra de que doava parcelas em usufruto a nobres. A terra era dividida em três partes: terra do Estado (Inca, nobres, exército), terra dos deuses (clero e virgens do «Sol»), terra comunitária dos ayllus. O ayllu era auto-suficiente. Os seus membros não podiam abandonar o ayllu e, para além de tributo, pagavam uma renda em trabalho, trabalhando certos dias nas terras do Estado e dos deuses. O trabalho era colectivo e dentro do ayllu permaneciam relações igualitárias. O comércio era quase inexistente. O Estado promovia grandes trabalhos públicos, nomeadamente a construção de culturas em terraços, sistemas de irrigação e estradas que envolviam o trabalho dos membros dos ayllus.
    
O Império Azteca nasceu da conquista de reinos estruturados em comunidades, gravitando em torno de cidades-estado da Mesoamérica, por tribos mexica vindas do Norte [39]. Na conquista apoderaram-se e expandiram a cidade de Tenochtitlan e estabeleceram uma aliança com as cidades-estado Texcoco e Tlacopan. Aliança que depois hegemonizaram. A sociedade azteca compunha-se de comuns (camponeses, artesãos, baixo clero) – que residiam em comunidades –, do imperador, dos nobres (incluindo altos chefes militares) e do alto clero.
A terra pertencia ao imperador que podia doar lotes a nobres, a guerreiros e a comunidades (calpulli); neste último caso apenas em usufruto e não em propriedade. Os nobres podiam ter alguma propriedade privada, mas a terra doada pelo imperador podia-lhes ser retirada em certas condições. As comunidades eram lideradas por um único nobre e um conselho de anciãos, mas era o chefe de comunidade (calpullec) que geria a terra comunitária onde trabalhavam os comuns, e de cujo sobreproduto era pago tributo ao Imperador. Os comuns e mercadores tinham também de pagar taxas e tributo aos nobres em bens e serviços.
Certas instituições (exército, templos, tribunais), dispunham de terras dadas em usufruto pelo imperador, donde extraíam sobreproduto das respectivas comunidades para suportar a instituição.
A escravatura tinha significado reduzido no império Azteca, dado que os prisioneiros de guerra eram sacrificados aos deuses. Contudo, alguns escravos (geralmente por punição de crimes), bem como servos, trabalhavam em terras dos nobres.
    
Na China [40], tribos do neolítico juntaram-se no vale fértil do rio Hoang-ho originando o Estado Chan-Yin no séc. XVI a.C. A esmagadora maioria da população vivia em comunidades rurais (aldeias), formadas por grandes famílias (gens), que cultivavam cevada, trigo, milho e, mais tarde, o arroz. Desenvolveram o artesanato, descobrindo a seda. Destacou-se uma nobreza gentilícia e um rei limitado por um conselho de chefes de famílias. A escravatura tinha um papel reduzido nas terras do Estado. Em 1124 a.C. o Estado Chan-Yin é conquistado por tribos periféricas, dando origem à longa dinastia Chou (1124-221 a.C.) que unificou territórios da China actual sob um Estado fortemente centralizado. Segundo vários historiadores chineses, data desta época a FS B3C [41]. Durante a dinastia Chou viveu o filósofo Confúcio cuja doutrina conservadora de obediência à tradição e temor a toda a inovação reflecte a alta centralização de B3C do seu tempo. Tornar-se-ia o sustentáculo ideológico de todas as FSs pré-socialistas da China. Pregava a resignação, a modéstia e idealizava a família patriarcal e o Estado centralizado: «o pai deve ser pai, o filho deve ser filho e o senhor deve ser senhor», «A desobediência dos vilãos é o princípio de toda a desordem».
A história da China é complexa. Desde a dinastia Chou à dinastia Ming (1384 d.C.) contam-se 15 dinastias e alguns períodos tumultuosos de fragmentação em vários Estados. Entretanto, ao longo de todo este vasto período (2.500 anos) permanecem constantes (com variações pouco importantes) as características típicas de B3C (convivendo com alguma propriedade privada, feudal, da terra) [42]:
    
-- Um sistema extremamente estável de organização das comunidades rurais – aldeias – por linhagens familiares = gens. Cada gens nomeava um chefe para o conselho de aldeia, sob os critérios de senioridade, educação, reputação e capacidade. As aldeias dispunham de alguma autonomia e mantiveram-se como células básicas da produção até depois da revolução socialista.
-- Em muitas aldeias as gens tinham terras em comum, em alguns casos até 50% a 70% do solo arável da aldeia. As restantes terras eram divididas em parcelas pelas gens, reservando algumas delas para trabalho comunitário em benefício do funcionário estatal (“barão”) e/ou do Estado [43]. Também havia parcelas para o culto, a escola e a caridade.
-- As gens tratavam de serviços públicos e detinham algum poder jurídico, codificado em regras inspiradas no confucionismo. Um aspecto importante: em muitos casos as gens financiavam um dos seus membros que demonstrasse maior aptidão a concorrer aos exames imperiais, tornando-se um funcionário estatal, barão rural.
-- O rei ou imperador (título depois de 221 a.C) era o proprietário de todas as terras. Fazia doações de terras e aldeias a familiares e a chefes militares dando origem a uma nobreza latifundiária. Administrava o reino com um conselho de ministros.
-- Na administração estatal desempenhava um papel importante a classe dos barões rurais [43]: funcionários aprovados em exames imperiais que eram destacados para as aldeias para as administrar conjuntamente com os conselhos de aldeia, organizando a colecta da renda ao Estado, trabalhos públicos e milícias. Serviam de intermediários entre as aldeias e a alta burocracia estatal. Muitas vezes como defensores dos interesses da aldeia.
-- O Estado cobrava renda e outros impostos às famílias [44], requisitando homens para trabalhos públicos e exército. Os rendeiros nas terras da nobreza pagavam renda e impostos ao Estado, e renda aos nobres.
-- O comércio estava reduzido ao fornecimento de artigos de luxo aos barões rurais, à nobreza, aos altos funcionários e ao imperador e sua corte.
    
O Estado levou a cabo trabalhos de grande magnitude, como a Grande Muralha (iniciada em 246 a.C.) e o Grande Canal que uniu o Huang-ho ao Iangtzé (1776 km, iniciado em 589 d.C.).
Ao longo da história chinesa ocorreram várias insurreições camponesas, expressando o descontentamento pelos impostos e a falta de terra. Acabaram todas por ser sufocadas pela nobreza, mesmo na maior delas que chegou a destronar o imperador. O antigo sistema era sempre restaurado, embora com reformas que o fizeram lentamente evoluir para B3D.
    
A história do Japão [45] foi influenciada pela da China: confucionismo, Estado centralizado, conservadorismo, e isolacionismo até 1853. O Japão não teve escravos. O B3C japonês teve uma característica própria: a forte organização militar. Toda a terra foi dividida entre cerca de uma centena de chefes militares que eram chefes de clãs, um dos quais, o xogun, detinha o poder. Havia um Imperador simbólico. Cerca de três centenas de daimios (uma espécie de governadores militares) administravam os territórios tendo ao seu serviço um exército de cavaleiros, os samurais (10% da população) que desempenhavam um papel com semelhanças ao dos barões rurais chineses. O daimio recebia tributo das aldeias em arroz (1/3 da colheita) e pagava aos samurais em arroz. Havia, portanto, um sistema de extracção de tributo em espécie das comunidades rurais (kiodotai). Até ao séc. XVII o comércio era reduzido e o comerciante visto com desprezo.
No período de 1543 a 1603 d.C. surgiram guerras entre nobres tendentes a uma fragmentação do Estado com base em exércitos de samurais e possível transição para B3D. Contudo, um dos nobres, Tokugawa, venceu os rivais, reunificou o Japão e repôs as antigas regras do MPA em 1573, introduzindo a reforma da não hereditariedade da terra do daimio; quando um daimio morria, a terra voltava ao Estado e era realocada. O poder dos daimios foi assim restringido. Em 1603 o chefe da família Tokugawa tornou-se xogun e deu início ao sistema de governo militar (bakufu) em que o xogun é quem detém todo o poder, sendo o imperador apenas um símbolo. No final do séc. XVI o samurai foi separado da terra e teve de procurar trabalho nas cidades, na burocracia estatal.
    
Transição:
O Egipto antigo veio a ser incorporado no Império Árabe, ele também em B3C, que no Egipto e noutros estados do Império Árabe subsistiu até ao séc. XIX, tendo transitado para B3D.
    
Os impérios Inca e Azteca foram conquistados pelos espanhóis no séc. XVI e integrados compulsivamente no sistema colonial de B3D.
    
Na China, aparecem rendeiros livres em terras dos nobres no reinado de Wu-Ti (140-87 a.C.). Embora o regente Wang Mang (8 a.C.) declare toda a terra propriedade do Estado, a propriedade privada da terra pela nobreza começa a consolidar-se e torna-se hereditária no séc. VIII.
Entretanto, o artesanato desenvolvia-se e nas cidades em crescimento formavam-se corporações de artesãos bem como manufacturas do Estado e privadas. Os mercadores, inicialmente uma classe desprezada (segundo a tradição confucionista), associam-se e crescem de importância. Contudo, o papel económico principal continuava a ser a produção agrícola nas aldeias.
Tempos tumultuosos no séc. X tinham ocasionado grandes migrações de camponeses que fugiam das aldeias e se tornavam assalariados rurais das terras de nobres e comerciantes ricos. Por fim, na dinastia de Ming (1368-1644 d.C.) já quase nada distingue a China da Europa feudal B3D, embora não tivesse passado pela FS B2C. As diferenças, que iriam travar a evolução para o capitalismo, eram: a auto-suficiência das aldeias (débil mercado interno) que mantinham uma organização comunitária; um controlo apertado imperial-burocrático do artesanato; a manutenção de uma atitude feudal face ao comércio e às indústrias; o isolacionismo imperial com restrições ao comércio externo; a canalização do investimento dos comerciantes em terras (aquisição de status social igual ao da nobreza), em detrimento do investimento em manufacturas.
    
O Japão do séc. XIX tinha já grandes cidades com  comércio, artesanato e mercados florescentes.
Nos últimos anos do Estado Tokugawa, em pleno séc. XIX, houve grandes rebeliões camponesas e urbanas. Torna-se claro que o feudalismo B3C tinha de ser superado. Em 1866-1868 teve lugar a chamada restauração Meiji, um movimento que envolveu daimios, samurais, burgueses, artesãos e comerciantes, desejosos por razões diversas de acabar com o xogunato e devolver o poder ao imperador. O movimento triunfa em 1868: o xogunato Tokugawa é abolido e o imperador postumamente declarado Meiji (iluminado). Dá-se a transição para B3D, com um regime absolutista (mas o imperador continua sem poder, o qual reside num conselho imperial!) em vias de evoluir para o capitalismo. Todavia, em 1920 o Japão tinha ainda muitas características de B3C, com a agricultura a contribuir para ¼ do PIB e metade da população dependente da agricultura para viver.
Quer no caso do Japão quer da China houve ingerência dos diversos imperialismos (Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, EUA) a pretexto de quebrar o isolacionismo e estabelecer relações comerciais. Pretexto que escondia apetites coloniais. No caso do Japão apressou a transição para o capitalismo.
B2D – Manorial Feudalism (Seigneurial Feudalism)
   
SFs: Barbarian kingdoms of the European High Middle Ages, 6th to 11th centuries. (Possibly, other ones.)
    
RoP: The nobility is the dominant class. Besides the secular nobility there is also a clerical nobility of high clergymen. We name both “nobility” in B2D and B3D, since both defend and live from the feudal MP. The nobility owns the main means of production (land, mills, ovens, etc.) and appropriates the surplusproduct of peasants bound to land lots in their domains – land-bound serfs – under the forms: rent in kind, rent in work (compulsory work in the lord’s land = corvée) and taxes. The appropriation of surplusproduct is by direct coercion, as in B1 and B2C. With the exception of the serfs the SPs are of reduced importance. Trade is almost inexistent.
    
PolOrg: Seigneurial domains – manors – hierarchically organized in a system of vassalage. A manor is a self-sufficient micro-State.
    
Evolution:
With the invasion of the Roman Empire the barbarian [1] tribes seized the lands of the Roman nobility, with their coloni and slaves, these being now barely distinguishable from coloni (B1C). The conquest hastened the breakdown of the gentile organization of the barbarian tribes. Each tribe elected a chief (king) who led the conquest and donated lands with the serfs (coloni and ex-slaves), to his most distinguished army leaders (dukes).
   
The conquest amounted, therefore, to a huge expropriation of means of production. The donation of these means passed from king to dukes and from these to the subordinated nobility, according to a hierarchical system of vassalage: anyone receiving a manor and serfs – a fief (origin of the word feudalism) – from a nobleman became his vassal [2]. He was legally bound to present himself armed and on horse whenever summoned by his lord, and take part in war expeditions under his command. Moreover, he had to satisfy other obligations (to contribute to wedding dowries, to the building of fortresses, etc.). The non-compliance to vassal duties would in principle entail the withdrawing of the fief from the defaulter. In practice that was a rare occurrence, and as time went by fiefs became hereditary and ruled by the maxim “the vassal of my vassal is not my vassal”.
    
The barbarian noblemen embraced the Christian faith after a not too long period (for the same reasons the Roman patriciate did). The high clergymen and the religious-military Orders became owners of vast domains [3].
    
A fief (or manor) of a nobleman comprised three parts: the seigneurial manse,  with the lord’s exclusive land, his castle, mills, oven, forge,  olive and wine presses, etc.; the servile manse, with the land lots of usufruct (not of property) of the land-bound serfs, from which they had to extract the sustenance of their families and the payment of rents and taxes to the feudal lord (the servile condition passed from father to son together with the usufruct right); the communal lands – woods, forests, grasslands – which could be used by the serfs under certain conditions.
    
Facing the danger of constant wars the free peasants (not subject to a lord) and Roman citizens [4] sought the protection of a nobleman [5], obtaining a lot in exchange of becoming one of his serfs: with no right to leave the domain of the lord, or he would suffer harsh punishment [6], obliged to work certain days in the lands of the lord (corvée), and to pay him a rent (usually in kind) for the usufruct of his lot. He also had to comply to numerous obligations: to work in the construction of roads, bridges, and fortresses; to pay rights for the use of the mill, oven, olive and wine presses, bathhouse, etc.; to pay justice tax, tolls, etc. All rents and taxes formed the feudal rent, an important part of which was the rent in work, a reminiscence of slavery.
Though the condition of the serf was harsh, it constituted a progress compared to slavery. The serf owned instruments of production and, in contrast to the slave, he had an interest in working with more intensity and efficiency to obtain larger revenues for himself and family, once the surplusproduct to the lord was subtracted. A few serfs even managed to get rich and later become independent peasants.
The productive forces improved in B2D, albeit in a slow pace (crop rotation, new types of plough, broadforks, sickles, etc., new horse harness, bullock carts, natural manures, cattle and pig breeding, extensive use of the water mill, etc.).
    
A fief operated as a micro-State. The serfs were also craftsmen. Besides feeding their lords, they also gave them garments, shoes and weapons, built their castles, etc. The lord only delivered protection against invaders and behaved as an autocrat with the right to apply justice in his domain [7]. The royal power was usually weak, and central power was practically lacking. The capital of the Charlemagne Empire was the place where he set up his encampment, and his State apparatus was little more than a Chancellor of the Treasure with the tax collecting charge, a literate man who read and wrote treaties, an evangelizer, and the military council of his counts.
    
There is no central state in B2D, as in B2C, but a huge territorial fragmentation with particularisms of usages, taxes, laws, and authorities [8]. The production is essentially of agricultural products (the peasantry amounts to 90% of the population), performed by small producers and mostly for use alone; not for exchange. Natural economy plays the overwhelming role, with practically no trade and market transactions reduced to barter. Towns are of little importance.
   
Transition:
The insurrections of serfs and free peasants were rare [9], given the overwhelming military power of the nobility and the influence of the Church [10]. The serfs, however, opposed the lords in several ways: running way, sloppy work for the lord, refusing to pay taxes, etc.
    
Meanwhile, slow changes were taking place in the towns and in the trade. With the invasions, the towns had been plundered and destroyed. They became villages whose inhabitants were at the same time peasants and craftsmen, subject to secular or clerical feudal lords. Yet, the increase in wealth of many noblemen stimulated the procurement of commodities, including luxury commodities brought by merchants from the East. The Italian maritime towns were the first to have a flourishing commerce. The artisanry was developing. A few serfs ran away to distant regions and became free craftsmen, sometimes itinerant. Blacksmiths, carpenters, and potters, appear in the rural places. A division of labor separating agriculture from artisanry emerges.
    
Those working in the crafts in the towns, lacking time to dedicate to their lands, prefer to rent them to peasants and buy from them food supplies and raw materials. This way, trade resuscitates, increasing the currency in circulation and substituting the trade in kind by monetary trade (transition from natural economy to monetary economy). Peasants and craftsmen started gathering at road crossings and in places protected by castles and monasteries, to have their trade fairs. Thus, the commerce between towns and countryside is established. The former, supplying tools and merchandises; the latter, food supplies and raw materials. A surplus amount is hoarded by some well-off and rich peasants who get free from serfdom. At the same time, more and more serfs flee to the towns, enjoying from asylum rights to become free after a period of time.
    
The progress of the productive forces, namely of the agrarian techniques, demanded a more complex organization of the work. Since the serfs weren’t at all interested in corvées, where they wasted the time they needed to dedicate to their crops, the feudal lord found himself confronted with the losses inherent to a weakly productive work. The lords still attempted to establish agreements with the towns in order that asylum to fugitive serfs wouldn’t be granted. By the end of the 11th century, realizing that such agreements were unsuccessful, they ended up abandoning the corvée system and switched to a regime of rent in kind or even in money. The transition to B3D was in progress, except in countries of a very weak central power. In Poland and Eastern Prussia feudal serfdom prevailed unchecked until the beginning of the 19th century!
B3 – Feudalism of Independent Petty Producers
The revenue of the dominant class is mainly provided by the surpluswork of independent petty producers, peasants and craftsmen. They are considered “independent” or “free” because they are not subject to the corvées and taxes typical of serfdom. The surplusproduct is appropriated either in the form of individual rents in kind or money (B3D) or in the form of tributes in kind or money rendered and/or controlled by communities (B3C).
B3D – Feudalism of Tenants and Markets
   
Note: B3D corresponds to a preliminary stage which ultimately led to the transition from feudalism to capitalism. Only the countries of Western Europe went through this class of SFs in a full-fledged way between the 11th and 16th centuries; consequently, only the countries of Western Europe “invented” capitalism, with the prominence of England which had the pioneer role. B3D stirred several polemical debates, now essentially settled [11].
    
RoP: B3D is characterized by a large number of social classes and of relations of production. The petty producers – peasants free from the feudal serfdom, and craftsmen – are the pillars of the economy. There are also producers with a lesser role: the serfs, in a few regions and only in an early phase (typically until the 13th century); the rural and urban wage workers in a later phase (typically, after the 13th century). There is a “middle class”: the “urban bourgeoisie” (patriciate, masters of crafts, traders, ship-owners, bankers) and the “rural bourgeoisie” [12] (rich farmers with tenants and wage workers). The “middle class” appropriates a part of the producers’ surplusproduct. The dominant class is the nobility, living from the appropriation of the remaining share of the producers’ surplusproduct, both in a direct and indirect way. Directly, under the form of rents in kind or money, and taxes. Indirectly, by charging taxes on the “middle class”.
    
PolOrg: Monarchies in the unified States (England, France, Spain Portugal, etc.) with feudal domains and towns with self-government: communes. The feudal lords and the communes regulate and rule the economic and administrative affairs of their territories, including justice and taxes. The king decides the foreign affairs and warfare, under the influence of the high nobility. Representative bodies of the three estates, clergy, nobility and common people (represented only by important bourgeois), are established after the 13th century: Courts, Estates General (France), Parliament (England). Germany is fragmented in a large number of principalities, duchies, bishoprics, etc., and communes. The power of the emperor of the Holy Roman Empire is weak. In the Italian territory there is no central power: there are several feudal states, including as one of the largest the Papal State, towns governed by feudal lords and two republics – Genoa and Venice – which are, in fact, communes.
    
Evolution:
The evolution of B3D dwells on a complex dialectics between the countryside – where a social division of the peasant tenants arises – and the towns where the mercantile production progresses.
    
The productivity of agriculture increases during this period, due to the development of crafts (improved agricultural tools) and to new crops. The improved productivity, together with the growth of the mercantile economy and the struggles of the peasants, already mentioned in B2D, forced the feudal lords, who always sought to maximize the feudal rent, to find out new ways of exploiting the peasantry: they proceeded to parcelling all their lands that they rented to the peasants (ex-serfs or other people), receiving a rent in kind or in money [13]. The peasants, transformed into independent petty producers felt themselves stimulated to develop the productive forces and to hoard some of the surplusproduct. Sometimes the lord rented larger pieces of land to former caretakers, well-off peasants, and town-dwellers. A social layer of rich farmers came into being; they, on their turn, employed rural tenants or even wage workers – in both cases twice exploited, by the farmer and by the feudal lord – and made every endeavour to become landowners. The rent in money becomes the basis of the land-propertied regime in the 16th century.
    
Many of the newly made “independent” peasants soon saw their living to worsen due to two main causes: 1) the poorest ones (with smaller or less fertile lots and/or with more impediments to sell out their production) were confronted with difficulties paying their rent on the stipulated deadlines and often fell into the hands of usurers; 2) the nobility was increasingly demanding rent in money and the devaluation of the currency, aggravated during the 14th -15th centuries, worsened the condition of the poor people, and even more so because the nobility had started to claim a payment for the emancipation of serfdom. The ruined poor peasants either migrate to the towns or offer themselves as rural wage workers. Many affluent farmers take over the lands abandoned by the ruined peasants and rent them or contract rural workers, increasing their wealth. A rural bourgeoisie is then formed, which rents or subleases land lots to peasants without land, or contracts them as wage workers.
    
An increased subleasing regime and work on wages sets in, and a new class struggle in the countryside makes its appearance: between the rural bourgeoisie [14] and the dependent producers. Violent peasant rebellions erupt in the 14th century all over Europe, almost always with the support of poor social layers from the towns, namely craftsmen. A peasant rebellion broke out in England in 1381; it was led by the roof tiller Wat Tyler. With an army of 10 thousand men he marched over London whose doors were opened by the people. He demanded very moderate social reforms [15] from the king which were accepted, out of fear, leading to the dispersion of part of the rebel army; with their fears wiped away the nobility treacherously attacked Wat Tyler and decapitated him as well as the rebels. A peasant rebellion broke out in France in 1358 known as Jacquerie; enraged by the feudal taxes and their plunders the peasants assaulted the castles and burned down noble houses. The nobility crushed the rebellion in a short time. A rebellion of the same sort took place in Portugal as part of the 1383 bourgeois revolution [16].
    
Craftsmen, many of them fugitive peasants, increasingly install themselves in the growing towns during the 10th -11th centuries, with better access to markets, protection against banditry, etc. They constitute the larger section of the urban population, and with it the town becomes the cell of the simple mercantile production: the craftsman product enters directly into the market. The separation of the agriculture from the crafts had enormous consequences: in the improvement of the crafts – thus, in the advancement of the productive forces –, in the trade, and in the social development.
    
The master artisan worked in his workshop, with members of his family and one or more journeymen and apprentices. In order to defend themselves from feudal exactions the masters of each craft associated in guilds, a typical organization of B3D. These soon acquired other functions fixed in bylaws: mutual assistance in the production outlet; establishment of funds for assisting orphans and widows of artisans; monopoly of the respective craft; prohibition of concurrency, even inside the guild itself, by establishing the uniformity of work conditions through a much detailed regulation of all technical processes, work hours, number of journeymen and apprentices, etc. The apprentice paid with his work the apprenticeship, becoming journeyman after a period of time with a salary fixed in the bylaws. He was thus a wage worker. In the course of time the journeyman could become a master. Apprentices and journeymen had a conflict of interest with the masters. This antagonism burst out into violent struggles when the masters became a privileged body, obstructing the promotion of journeymen to masters.
    
Initially, the towns belonged to feudal lords who imposed upon them several embarrassing rights: right to overnight, right of service on foot or on horse, tax for use of bread ovens, rights on sales, etc. More than embarrassing, several actions of the feudal lords were a hindrance to the development of artisanry, namely the imposition of corvées and the arrest of fugitive serfs. On top of that there always was the danger that wars among lords would lead to town plunders. For such reasons, the most important towns soon resisted to their lords, even in armed confrontation with the guilds having the major role. The towns ended up obtaining their own rights [17], sometimes, with a discharge payment. This way, the communes were born, a typical B3D phenomenon: towns that act as colective “lords”, with their own lands, autonomous administration (municipal council), elections for public charges, their own finances and tax collection, with courts (even though the high justice was reserved to the king), army and, in some cases, the right to declare war, establish alliances and conclude treaties [18]. In Portugal, councils – the local name of communes – existed already in the 12th century, with the right of asylum to fugitive serfs [19].
    
The progress of the crafts boosted the trade. The growth of urban economic activity is increasingly due commodity transactions not being restricted to the town alone, but reaching out other regions. Hence, towns and regions with specialized craft products emerge: wool cloths from Flanders and Picardie, leather products from Spain, wines from Bordeaux, weapons from Milan and Nuremberg, glass from Venice, etc. Trade, on its turn, influences crafts. An example being the wool cloths from Flanders, which depended on the importation of wool from England and of alum from the Middle East to set dyes. Trade fairs flourish and two trade routes as well: of the Mediterranean Sea, controlled by Italian towns; of the Hanseatic League harbour towns of the North Sea and Baltic Sea.
    
Trade enforced monetary circulation, raising the currency exchange issue. Moneychangers appeared in the 12th century. The merchant leaving on a trade journey would pay the moneychanger to obtain a bill of exchange; when arriving to his destination he would go to an agent of the moneychanger swapping the bill of exchange by the respective amount in local currency. The exchange bill even came to substitute currency, being used in credit operations. These developed in a large scale from the 13th century onwards, when loans to several social classes were already a common thing. The first bankers were rich merchants of the Italian and Southern France towns.
    
A social layer known as patriciate showed up with the progress of the communes, the trade, and the banks. It was composed by the richest bourgeoisie who held the “State power” in the towns: the urban administration, the Justice, the finances, the militia, the tax collection from the craftsmen. These bourgeois were generally big merchants who invested their tarde revenues in urban ground and large buildings. The guilds struggled against the patriciate with an outcome which depended on the urban economy. Whenever crafts were of a lesser economic importance than trade, the patriciate was victorious (Hamburg, Lubeck, Bremen, Venice, Genoa); otherwise, the victory went to the guilds, conquering a participation in the local power after prolonged and harsh struggles (Florence, Cologne, Frankfurt).
    
We see that during this whole period a dialectical interaction unfolds between the advances of the productive forces and the following class struggles: between the nobility and the craftsmen; between the nobility and the “middle class”; between the nobility and the peasants; between the craftsmen and the patriciate; between the craftsmen and the masters of guilds.
    
We also see that the existence of feudal domains and of self-governed communes conferred a large decentralization in the taking of economic, and in many cases, judicial and political decisions. There were, nonetheless, variations in this aspect from country to country [20].
    
Finally, one should not loose sight that even though the role of towns, mercantile production and trade was an important one, the dominant MP was the feudal one. Towns, mercantile production and trade were politically and economically subject to the feudal MP, which enforced: the absence of a free market of the land; taxes and duties (tithe, road and bridge tolls, load levies in the harbors, etc.); market regulations, feudal particularisms (different weight and measure systems, multiplicity and bad quality of the currency, etc.). In 1500, the overwhelming majority of the population lived in the countryside (92.8% in England, 91.8% in Germany, 91.2% in France, 81.6% in Spain, 77.9% in Italy, 70.5% in The Netherlands) [21]. In England, the contribution of agriculture to GDP in 1522 was still the largest one: 43.2 % (36.5% for manufactures, 20.3% services) [22].
    
Transition:
    
Crisis of B3D (15th – 16th centuries)
    
-- Crisis of the nobility. The decrease in real value of the rents in money of the nobility is the first symptom of the feudal MP end; since they represented the surplus coersively exacted from the peasant, their decrease was the monetary sign of the MP decline. The decrease in real value of the rents had two main causes: 1) Currency devaluation, due to expenses with constant wars and luxury consumptions. 2) Advances of the industrial production in the towns, with the consequence that trade relations between town and countryside became disadvantageous to the latter. In the global market the lord was buying expensive and selling cheap.
The petty and middle nobility become impoverished. The high nobility incurs in astronomical debts, appealing to the Treasury (often plundering it), and indebting the State. The petty and middle nobility search a way out placing themselves at the service of other lords, even “foreign” ones. New contractual bounds are established, leading to the general collapse of the vassalage relations and the fief system, already quite confused due to alienations and usurpations. The high nobility maintains large armies and does all it can to access State resources, causing the feudal anarchy of the 14th–15th centuries [23]; contrary to the 9th-11th centuries fragmentation the anarchy is now the work of the high nobility whose armies live from plundering the common people. In the 16th century land property is concentrated in a few feudal moguls.
    
-- Crisis of the guilds, whose detailed regulation of the production was a hindrance to the technical progress and tool improvement; hence, a hindrance to the improvement of the productive forces: any technical secret was zealously secured by the guild that had it [24]; some inventions were refused by the fear that an increase in productivity would lower the prices [25]; the absence o labor division within each craft was also a hindrance.
The condition of the journeyman became harder from the 14th cent. onwards: in order to be promoted from apprentice to journeyman he had to pay an admission fee, to offer presents to the master and produce a masterpiece at his costs. He lost in preference to the master’s relatives, free from such obligations. He later became a “perpetual journeyman”. Journeymen wages decreased and the work conditions worsened to such a point that they were practically serfs of the masters.
Struggles between journeymen and masters broke out. The journeymen demand increased wages and a decrease of working hours. They go on strike [26]. But they lack political conscience: the journeymen still dream of becoming masters and of going back to the good old times.
    
Birth of the capitalist relations (second half of the 16th century)
    
The capitalist relations sprang out of the bosom of the incurable contradictions of B3D [27]. The ultimate cause was the peasant struggle, which led to the development of communes, to the expansion of property and free status, and to the economic evolution towards mercantile production. The production for the market, i. e., a production for the sake of exchange value, not just for use value as in B2D, modified the attitude of the producers. It now became possible to procure affluency not in the form of hoarding perishable products, but in the convenient and portable form of money, exchange bills, and payment orders. The property of wealth became an end in itself and affected not only the traders but the members of the nobility as well.
The main factors in the development of the capitalist relations, were:
    
-- The colonial plunder: raw materials, consumption goods, and plantation system created the primitive accumulation of capital in rich traders from England, France, Netherlands and the would-be USA, as shown in B1D [28]. England ruled over a vast colonial Empire, among other reasons because an important part of its feudal nobility engaged in trade, allying itself to the bourgeoisie. Nothing of that sort happened in other countries. The colonial system boosted the trade. “Monopoly corporations” of the colonial exploration were formed, which steered the concentration of capital.
    
-- The transformation of traders in capitalist entrepreneurs. Initially, the trader began making use of the technical division of work among the guilds (first, with the textiles: spinners, weavers, dyers). He bought raw materials here and tools there that he sold to the guilds with the provision that they would sell him the production. From the realization of the products he redeemed the costs of the tools, paid the raw materials and the craftsmen, obtaining a profit derived from the overwork of the craftsmen. The trader then became a capitalist entrepreneur. Whenever the bylaws of the guilds set obstacles, the trader would transfer his activity to the countryside or used the putting-out system, distributing the production steps by several families.
At a later stage the trader directly meddled into the productive process. He would take the craftsmen to work out some processes, particularly the costly or complex ones (e.g., cloth dyeing) in a place provided by him and under his supervision. Finally, he concentrated all processes in one place under his direction. Thus, was born the manufacture, embryonic form of the capitalist production prevailing in Europe since the end of the 15th cent. through the 18th cent., and with it the industrial bourgeoisie, owner of the means of production. The manufactures gave the coup de grâce to the guilds, unable to compete in terms of productivity, price and quality.
A rural bourgeoisie appears in the countryside, employing rural workers on wages and acquiring lands at negligible prices or even for free as it happened with the expropriation of lands from the Church during the bourgeois revolutions. In that period the bourgeoisie further developed the bank and credit system aiming to transform frozen assets (lands and debt bills) into realizable assets.
    
-- Origin of the wage labor army. The capitalist had a vested interest in the existence of the largest possible number of poor people, without means of production and living means; people forced to sell their labor-power for a wage pay carrying out simple tasks in the manufactures. The larger the number the better since it would decrease the wages increasing the profits. A vast initial army of poor people seeking out to sell their labor-power in the towns was formed in two ways:
1 – Through the ruin of the craftsmen and the dismantling of the guilds.
2 – Through the expropriation of poor peasants from their lands, either because they were ruined (unable to compete with the rural bourgeoisie and to pay their debts) or by compulsion, as happened in England with the enclosures process. [29].
The proletariat class was thus born, composed of individuals whose sole alternative was to sell the only commodity they owned: their labor-power.
    
Absolute monarchies and bourgeois revolutions
    
The rise of the bourgeoisie and its growing pressure on the political power led to the establishment of absolute monarchies in Europe. This is a form of feudal State with centralized power playing the role of arbiter between feudal lords and bourgeoisie, and as a protector of both classes with respect to the revolutionary movement of the popular masses victims of the feudal and capitalist exploitation. In the decisive clashes between mobility and bourgeoisie the absolute monarch, supreme representative of the State of the land-estate nobility, never got it wrong in representing his/her role [30].
At last, the impediments of the feudal Sate to capitalism became unbearable and led to the bourgeois revolutions that brought the bourgeoisie to the power: the Revolution of The Netherlands (1566-1609), the first victorious bourgeois revolution, installed the Batavian Republic; the English Revolution (1640-1660) installed the English Republic; the French Revolution (1789-1793) installed the French Republic. The latter two had profound world repercussions. Other revolutions in Europe took place in the 19th cent. [31].
Contrary to slaves, serfs, and independent peasants, the bourgeoisie steps on the History stage as a literate revolutionary class, with class and political conscience, initially upholding a progressive ideology of free-thinking and scientific grounding inspired by the Enlightenment [32].
Note that, even after the revolutions, the bourgeoisie was several times dethroned from its power and had to struggle many years and even decades before being firmly the political dominant class [33], though the MP was already the capitalist one.
B3C – Feudalism of Communities (“Asiatic Mode of Production”)
SFs: At least the following ones: ancient Egipt and Persia, Arab Empire, Inca and Aztec Empires, China (1124 BC-1368 AD), Japan (250 BC to the early 19th cent.).
    
Note: Class B3C is large and diverse. We confine our explanation to a few SFs. No MP raised so much polemics as the AMP [34].
    
RoP: The producers – peasants and craftsmen – are members of communities that enjoy the usufruct of land in common; not their ownership. The comunity is the producing cell, using a co-operative work regime. All the land is owned by an autocrat who can donate domains to noblemen, usually in usufruct alone. The overproduct of the producers is colectively rendered, under the form of a tribute, to court nobles or officers of the autocrat (Pharaoh, King, Emperor, Inca, etc.). The autocrat, the court nobility, officers, and military chiefs, compose the dominant class living from the collected tributes. In B3D the surplusproduct is exacted in a decentralized way out of individual producers, whereas here it is appropriated under the form of a “colective rent” by centralized compulsion and tradition. That is, instead of individual subjects we are dealing here with colective sujects with some internal autonomy; although a feudal economic dependence exists, B3C is distinct from B2C.
The economic and social role of the slaves is irrelevant. None of the B3C SFs went through slavery (B1C); the transition of the communities to the feudal MP took place directly out of the primitive communism. B3C is a direct evolution of the primitive community regime (A). The feudal nobility comes from the nobility of a prominent gens, or from the nobility of an invader tribe.
    
PolOrg: Autocracy. Each community (hamlet, village) is largely self-sufficient. It enjoys some degre of internal autonomy, is economically and socially quite isolated from the other ones, is politically dependent from the autocrat, and is represented before the state beaurocracy by senior elements chosen by the community. There is a stratum of commerciants, often socially discriminated, itinerant among the communities and trading the same products almost always. The autocratic administration sends tribute collectors to the communities at specified dates. Tributes are usually paid in kind.
    
Evolution:
The most ancient example of B3C is the Pharahonic Egypt.[35] The populations of the valley of the Nile began gathering into gentile communities – nomos – since the Neolithic. They collectively built irrigation canals. Each nomo was a closed community, with its own name, customs, and totemic gods. The increase of arable soil to support a growing population, and the flood regime of the Nile, demanded irrigation works of a larger scale, under a centralized direction. At first, two clusters of de nomos, the Northern and Southern kingdoms were formed, and later, in 3200 BC, out of their wars the Southern kingdom became victorious and both kingdoms are united under the Pharaho Menes. He put in place an autocratic power supported by the nobility. All the land belonged to the Pharaoh who could donate it in usufruct to the nomos and noblemen. The land of the nomos was worked by their families. There was a council of the nomo and a chief, nomarc, who collected and delivered the tribute in kind to a representative of the Pharaoh. The tributes were kept in the royal warehouses and in the temples. The members of the communities had sometimes to work in public constructions or in the temples. The prisoners of war were converted into slaves, but they played a minor role: they worked in specific lands of the Pharaoh, nobility, and temples.
Trade and crafts started developing from 3000 BC. Periods of invasions, decline, fragmentation, anarchy, and insurrections [36] intersperse the history on ancient Egypt. They were always superseded by the restoring of the Pharahonic central power, which with slight variations show us the main features of B3C:
    
-- There is no (or almost no) private ownership of the land.
-- Each community has the usufruct of the land and is self-sufficient (or almost); therefore, resilient to changes.
-- There is no direct dependence of a member of the community before the authorities. The community responds in a colective manner to the authorities.
-- The tribute is a collective rent, not an individual one.
-- The community or its council take the main decisions on its economy, participation in public constructions, and also has some jurisdictional rights.
-- Thus, the community member is in a quite distinct position compared to State serfdom (B2C). He only fails to be “free” in the sense that he cannot abandon the community, unless in special situations.
-- The authority (autocrat, nobility) and associated strata (beaurocracy, priests) live from the appropriation of the surplusproduct of the communities, in the form of tributes collected at certain yearly dates.
-- The authority is responsible by carrying out large public works (that woudn’t be possible without central co-ordination) and offers proteccion against invaders. The autocrat is the supreme judge, though he can delegate jurisdiction in the nobility and governors.
    
The communities of producers were called ayllu in the Inca Empire [40]. The production was essentially agricultural and was done with Neolithic primitive tools. The iron plough and the wheel were unknown. The low productivity of the work was partially compensated by a well organized system of collective work [38], good astronomical observations, and an efficient system of transport and communication. Manures were used and specific crops as well (e.g., potatoes).
The ayllu existed already in the primitive Andean communities (A). A line of kinship nobility to which belonged the Inca (Emperor) came to the fore with the gentile breakdown. The Inca was the sole owner of the land, of which he gave lots in usufruct to noblemen. The land was divided into three parts: land of the State (Inca, noblemen, army), land of the gods (priests and virgins of the “Sun”), and communitarian land of the ayllus. Their members were not allowed to leave the ayllu and had to pay both a tribute and a rent in work, by farming the lands of the State and the gods in certain days. Work was done in a collective way, and egalitarian relations were in existence inside the ayllu. Trade was almost absent. The State promoted large public works, namely the building of terraces for crop farming, irrigation systems, and roads, involving the work of ayllu members.
    
The Aztec Empire grew out of the conquest by mexica tribes invading from the North kingdoms with a communitarian structure, gravitating around town-states of Mesoamerica [39]. With the conquest they seized and expanded the town of Tenochtitlan, and established an alliance with the town-states Texcoco e Tlacopan. An alliance that they came to hegemonize. The Aztec society was composed of commoners (peasants, craftsmen, low clergymen) – who lived in communities –, the emperor, the noblemen (including high-ranking military chiefs), and the high clergymen.
The land was owned by the emperor who could donate lots to noblemen, to warriors, and to communities (calpulli); in the latter case only in usufruct, not in ownership. The noblemen could have some private property, but the land donated by the emperor could be taken away from them in certain conditions. The communities were led by a single nobleman and a council of elders, but it was the community chief (calpullec) who managed the community land worked by the commoners, and from whose surplusproduct was taken the tribute paid to the emperor. The commoners and merchants also had to pay taxes and tribute in kind to noblemen.
Some institutions (army, temples, and courts) had lands given in usufruct by the emperor, from which they extracted surplusproduct out of the respective communities, in order to support the institution.
Slavery had a much reduced meaning in the Aztec Empire, since the prisoners of war were sacrificed to the gods. However a few slaves (usually as a punishment by crimes), and serfs, also worked in the lands of the nobility.
    
In China [40] Neolithic tribes gathered in the fertile valley of the Hoang-ho river giving rise to the Shang-Yin State in the 16th cent. BC. The overwhelming majority of the population lived in rural communities (hamlets), formed by large families (gens), who grew barley, millet, maize, and at a later stage, rice. They developed crafts and discovered the silk. A gentile nobility emerged with a king limited by a council of family leaders. Slavery played a minor role in the lands of the State. The Shang-Yin was conquested in 1124 BC by peripheral tribes, giving birth to the long Zhou dinasty (1124-221 BC), which unified the territories of present China in a highly centralized State. According to several Chinese historians, the SF B3C dates from this time [41]. The philosopher Confucius lived in the late Zhou period. His conservative doctrine of obedience to tradition and fear of any innovation reflects the higly centralization of the B3C of his time. It would become and ideological pillar of all pre-socialist SFs of China. He preached resignation, modesty, and idealized the patriarchal family and the centralized State: “the father must be father, the son must be son, and the lord must be lord”, “The disobedience of the commoners is the beginning of all disorders”.
The history of China is complex. From the Zhou dynasty to the Ming dinasty (1384 AD) there were 15 dinasties and a few tumultuous periods of fragmentation into several States. Nevertheless, all along this vast period (2,500 years) the typical features of B3C are observed (with variations of minor importance, with B3C “living” together with some feudal private property of the land) [42]:
    
-- An extremely stable organization of rural communities – hamlets – by family lineages = gens. Each gens appointed a chief to the hamlet council, according to criteria of seniority, education, reputation, and capability. The hamlets had some autonomy and stayed as the basic productive cells until after the socialist revolution.
-- The gens owned lands in common in many hamlets, in some cases up to 50% to 70% of the hamlet arable soil. The remaining lands were divided in lots by the gens, reserving some of them to communitarian work for the benefit of the state officer (gentry) and/or the State [43]. There were also lots for the cult, the school, and charity.
-- The gens took care of public services, and hold some judicial power codified into rules inspired by confucianism. An important aspect: the gens would often finance one of its members who had better capabilities to submit to the imperial examinations, becoming a state officer and member of the gentry.
-- The king or emperor (the title after 221 BC) was the owner of all the lands. He donated lands and hamlets to family members and to military chiefs, giving birth to large-landowning nobility. He administered the kingdom with a council of ministers.
-- An important role of the state administration was played by the class of the gentry [43]: officers approved in imperial exams were dispatched to the hamlets in order to admnister them together with the hamlet councils, organizing the collection of rent to the State, public works, and militia. They served as middle men between the hamlets and the high central beaurocracy; and often as defenders of the hamlet interests.
-- The State collected rent and other taxes from the families [44], requisitioning men for public services and army. The tenants of the nobility paid rent and taxes to the State, and rent to the noblemen.
-- Trade was reduced to supplying luxury goods to the gentry, to high officers, and to the emperor and his court.
    
The State promoted works of large magnitude, such as the Great Wall (begun in 246 BC) and the Grand Canal linking the Huang-ho to the Yang-Tze (1776 km, begun in 589 AD).
Several peasant insurrections erupted along the Chinese history, expressing discontent with taxes and lack of land. They all ended up suffocated by the nobility, even the larger of them which went so far as to dethrone the emperor. The former system was always restored, though with reforms that made it slowly evolve towards B3D.
    
The history of Japan [45] was influenced by China: confucianism, centralized State, conservatism, and isolationism until 1853. Japan had no slaves. The Japanese B3C had a specific feature: its strong military organization. All the land was divided among approx. hundred military chiefs who were clan chiefs, one of whom, the Shogun wielded the power. There was a symbolic emperor. Around three hundred Daymios (a sort of military governors) administred the territories having at their service an army of knights, the Samurai (10% of the population) who played a role with similarities to the one of the Chinese gentry. The Daymio received tribute in rice (1/3 of the crop) from the hamlets and paid the Samurai in rice. There was, thus, a system of extracting tribute in kind from the rural communities (kiodotai). Trade was weak until the 17th cent. and the commerciant was looked upon with despise.
In the period from 1543 to 1603 AD wars have erupted among the noblemen, tending to a State fragmentation and possible transition to B3D. However, one of the noblemen, Tokugawa, subdued the rivals, reunited Japan, and put back the old B3C rules in 1573, introducing the reform of the non-hereditarity of the Daymio land; when a Daymio died the land went back to the State and was re-assigned. Thus, the power of the Daymios was restrained. In 1603 the chief of the Tokugawa family became Shogun and started a system of military government (bakufu) where the Shogun was the only one in power, and the emperor a mere symbol. By the end of the 16th cent. the Samurai was separated from the land and had to search for work in the towns, in the state beaurocracy.
    
Transition:
The ancient Egypt was later incorporated in the Arab Empire, also in B3C, which subsisted in Egypt and other states of the Arab Empire until the 19th cent., when it evolved to B3D.
    
The Inca and Aztec Empires were conquested by the Spanish in the 16th cent. and integrated by force in the colonial system of B3D.
    
Free tenants appeared in China, in the lands of the noblemen, in the reign of Wu-Ti (140-87 BC). Though the regent Wang Mang (8 BC) declares all the land as ownership of the State, the private property of land by the noblemen starts consolidating and becomes hereditary in the 8th cent.
At the same time crafts were devoping in the growing towns and artisan guilds are formed as well as state and private manufactures. The merchants, initially a despised class (in accordante to confucian tradition), associate and grow in importance. However, the main economic role was still played by the agricultural production of the hamlets.
Tumultuous times of the 10th cent. had given place to large migrations of peasants who ran away from the hamlets and became rural wage workers in the lands of the nobility and of rich commerciants. Finally, during the Ming dinasty (1368-1644 AD) only a few things distinguish China from the Europena feudal B3D, though China had not passed through the SF B2C. The differences, which would hinder the evolution toward capitalism, were: the self-sufficiency of the hamlets (weak domestic market) which maintained a communitarian organization; a tight imperial-beaurocratic control of the crafts; the maintenance of a feudal attitude towards trade and industries; the imperial isolationism with restrictions on the foreign trade; the chanelling of investment in lands by the merchants (procuring a nobility-like social status) in detriment of investment in the manufactures.
    
The 19th cent. Japan had already large towns with flourishing trade, crafts, and markets.
In the last years of the Tokugawa State, in the middle of the 19th cent., there was an upsurge of large peasant and urban rebellions. The need to surpass the B3C feudalism is clearly felt. In 1866-1868 took place the so-called Meiji-restoration, a movement involving Daymios, Samurai, bourgeois, craftsmen, and commerciants, desiring by different reasons to finish with the Shogunate and give back the power to the emperor. The movement triumphs in 1868: the Tokugawa Shogunate is abolished and the emperor posthumously declared Meiji (enlightened). The transition to B3D is achieved with an aboslutist regime (but the emperor is still powerless; the power resides in an imperial council!) on the way to evolve to capitalism. Nevertheless, Japan still had in 1920 many features inherited from B3C, with an agriculture contributing to ¼ of the GDP and half of the population depending on the agriculture for their living.
The various imperialisms (England, France, Germany, Russia, and USA) meddled in the Chinese and Japanese affairs with the pretext of finishing with isolationism and establishing commercial relations. A pretext hiding colonial apetites. In the case of Japan it hastened up, however, the transition to capitalism.
     
Notas e Referências
[1] O termo «bárbaro» é usado, não no sentido de desprovido de cultura, mas sim por se encontrar na FS A, embora em fase de transição. The word “barbarian” is used not in the sense of having no culture but in the sense of being in the SF A class, though in a transition stage.
[2] Muitos historiadores não-marxistas vêem no feudalismo apenas relações de vassalagem baseadas na doação de terras. Esta visão é inadequada: não explica o «motor» económico do MP, as RdP entre senhores e camponeses. Por isso mesmo, não explica porque se pode e deve designar como feudais FSs onde as relações de vassalagem não existem ou têm um papel menor (B2C, B3D e B3C).
Many non-Marxist historians see feudalism only as vassalage relations based on land donation. This is an inadequate view: it doesn’t explain the MP economic “motor”, the RoP between lords and peasants. For this reason it doesn’t explain why one can and should rightly consider as feudal SFs where relations of vassalage don’t exist or play a minor role (B2C, B3D, and B3C).
[3] A Igreja católica mobilizou-se na extensão dos seus domínios, inculcando nos nobres a ideia de que os pecados podiam ser expiados através de doações. Instituiu também o imposto do dízimo (um décimo do rendimento ou a doação de um escravo em dez) que todos os crentes deveriam pagar. Os seus grandes dignitários obtiveram direitos especiais de justiça, emancipando os escravos que fossem trabalhar como servos nas suas terras. Em pouco tempo a autoridade e riqueza da Igreja católica eram tais que o rei franco Quilperico (séc. VI) dizia que «são só os bispos quem de facto governa». O maior senhor feudal da Igreja era o Papa: na Alta Idade Média possuía todo o Lácio e o Exarcado de Ravena.
The Catholic Church engaged in extending its domains, instilling the idea in the noblemen that their sins could be redeemed by donations. It also instituted the tithe (one tenth of the revenue or the donation of one slave out of ten) that all believers should pay. Their high dignitaries were granted special judiciary rights, emancipating the slaves who would work as serfs in their lands. In a short period of time the authority and wealth of the Church were so big that the Frankish king Chilperic (6th c.) said “only the bishops do in fact rule”. The biggest feudal lord of the Church was the Pope. He owned in the High Middle Ages the whole Latium and the Exarchate of Ravenna.
[4] Parte do patriciado romano aliou-se à nobreza bárbara. Outra parte emigrou para o Império Romano do Oriente (Bizâncio). A part of the Roman patriciate became allied to the barbarian nobility. The other part emigrated to the Eastern Roman Empire (Byzantium).
[5] O poder do senhor feudal dependia do número de vassalos que pagavam renda. Isto levou os feudais, até ao séc. XI, a empreender guerras contínuas para se apoderarem das terras de outros.
The might of a feudal lord depended on the number of rent-paying vassals. This fact led the feudal lords to pursue a constant state of warfare until the 11th century, aiming to seize the lands of other lords.
Além das obras já citadas, ver: | Besides the above cited works see: Rodney Hilton, Feudalism in Europe: Problems for Historical Materialists, New Left Review I-147, pp. 84-93, 1984.
[6] Álvaro Cunhal, no seu livro As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média (Ed. Estampa, 1980), cita documentos dos séc. IX-XI do Norte de Portugal de venda, doação e  troca de homens, designados pelos nomes. Ora, os documentos referem-se não à venda, doação e troca de escravos, mas sim de glebas a que estão ligados os servos nomeados. Se algum servo fugia as milícias feudais perseguiam-no e, uma vez capturado, reconduziam-no à força à sua gleba, punindo-o com açoites, mutilações e, por vezes, matavam-no como exemplo de castigo da rebeldia.
Álvaro Cunhal, in his book “As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média” (Ed. Estampa, 1980), cites documents of the 9th-11th cent. from the Northern Portugal stating the sale, purchase, donation and exchange of men, designated by their names. Now, the documents are not referring to the sale, purchase, donation and exchange of slaves, but instead they refer to the land lots to which the named serfs were bound. A runaway serf would be persecuted by feudal militiamen and, once captured, they would bring him back to his lot, punishing him with lashings, mutilations, and sometimes they killed him as an exemplary punishment of rebelliousness.
[7] Muitos domínios feudais gozavam de imunidade: não podiam ser visitados por condes (nobres com funções militares ou administrativas nomeados pelos reis; do latim comes = companheiro) ou outros oficiais reais, gozando de uma espécie de independência.
Many feudal manors enjoyed franchise rights: they could not be visited by counts (noblemen with military or administrative functions appointed by the kings; from the Latin comes = companion) or by other royal officers, enjoying a kind of independence.
[8] Em B2D, ao contrário de B2C, os que desempenhavam cargos civis ou militares não o faziam em nome do «Estado», mas em satisfação de ligações ao senhor, recompensadas da forma que este quisesse. Assim, a autoridade tornava-se fragmentada e descentralizada. In B2D, in contrast to B2C, those who fulfilled official duties, whether civil or military, did so not for the sake of the “State", but because of links with their overlord, rewarded as he saw fit. Thus, authority became fragmented and decentralized.
Stubbs, William, Feudalism, A General Overview, http://history-world.org/feudalism.htm
[10] A Igreja ensinava que Deus tinha criado pobres e ricos, devendo os primeiros obedecer aos segundos, segundo a ordem divina. O servo devia cumprir resignadamente os seus deveres senão cometia um pecado. Os servos, tal como os escravos, eram iletrados e dados a superstições, pelo que a lavagem ao cérebro da Igreja resultava maravilhosamente para manter o MP feudal. Os nobres feudais valorizaram essa função da Igreja e cumularam-na de bens.
The Church taught that God had created poor and rich people, and the former should obey to the latter, according to the divine order. The serf should fulfil his duties with resignation otherwise he would be sinning. Serfs, as slaves, were illiterate and prone to superstitions; therefore, the brainwashing of the Church operated marvellously to maintain the feudal MP. The feudal nobility had in much appraise this role of the Church and granted it a heap of wealth.
[11] B3D foi estudada do ponto de vista marxista (tanto quanto sabemos, pela primeira vez) por Maurice Dobb, Studies in the Development of Capitalism, publicado em 1947, com várias reedições (Kessinger Publishing, LLC, 2007, 408 pags.). Deu origem a um célebre debate dos anos 50 aos anos 70, que envolveu historiadores e economistas marxistas e não marxistas de vários países, capitalistas e socialistas. Vários artigos deste debate estão numa colectânea publicada em 1977 e com várias reedições:  Sweezy P, Dobb M, Takahashi K, Hilton R, Hill C, Lefebvre G, Procacci G, Hobsbawm E, Merrington J, The Transition from Feudalism to Capitalism (versão digitalizada na Internet: A Transição do Feudalismo para o Capitalismo. Um Debate, Editora Paz e Terra S.A., 2004, Brasil). No essencial, a tese de Maurice Dobb ganhou a adesão maioritária e concorda com a análise dos historiadores soviéticos. É essa tese que seguimos, à qual estudos posteriores que consultámos nada acrescentam de substancial.
B3D was studied from a Marxist point of view (to the best of our knowledge, for the first time) by Maurice Dobb’s Studies in the Development of Capitalism, published in 1947, with several re-editions (Kessinger Publishing, LLC, 2007, 408 pp.). It originated a famous debate from the years 50 to the 70s, involving Marxist and non-Marxist historians and economists from several countries, capitalist and socialist. Several articles of the debate were collected in a book published in 1977 with several re-editions:  Sweezy P, Dobb M, Takahashi K, Hilton R, Hill C, Lefebvre G, Procacci G, Hobsbawm E, Merrington J, The Transition from Feudalism to Capitalism. Maurice Dobb’s line of thought won the major agreement and is concordant with the analysis of the Soviet historians. It is the line of thought that we follow, to which nothing of substantial was added in the later studies that we have consulted.
[12] Usámos aspas em “burguesia” porque não se trata aqui da burguesia capitalista. Trata-se, sim, das camadas sociais que em B3D estão na origem dessa classe. Com esta chamada de atenção deixaremos no que se segue de usar aspas.
We use quotation marks in “bourgeoisie” because we are not dealing here with the capitalist bourgeoisie. We are dealing with the social layers that in B3D are at the origin of that class. With this remark we omit the quotation marks in the subsequent text.
[13] O parcelamento rural iniciou-se nos séculos XII e XIII. Land parcelling began in the 12th and 13th centuries.
[14] Nos séculos XIV-XV muitos dos grandes lavradores provêm da cidade, engrossando as hostes da burguesia rural. Contratam feitores e assalariados rurais como no MP capitalista. In the 14th – 15th centuries many big farmers come from the towns, enlarging the rural bourgeoisie. They contract foremen and rural wage workers as in the capitalist MP.
[15] As medidas exigidas foram: libertação definitiva de toda a servidão, abolição de prestações pessoais substituindo-as por uma reduzida taxa monetária, concessão aos camponeses do direito de comerciar livremente a sua produção.
The demanded reforms were: definitive freeing from all serfdom, abolishment of personal services substituting them by a reduced tax in money, and granting the right for peasants to freely trade their production.
[16] Ver: António Borges Coelho, A Revolução de 1383, Ed. Caminho, 2006; Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média, op. cit. A revolta camponesa é descrita por Fernão Lopes na sua Crónica de D. João I. A simpatia do cronista pelos camponeses que tomavam os castelos de assalto é patente em vários trechos da crónica, nomeadamente neste: «Era maravilha ver que tanto ânimo incutia Deus neles e tanta cobardia nos outros que os castelos que os antigos reis, jazendo sobre eles por longos tempos, por força de armas não podiam tomar, os povos miúdos, mal armados e sem capitão, com os ventres ao sol, antes do meio dia os tomavam à força.»
The peasant rebellion is described by Fernão Lopes in his Crónica de D. João I (Chronicle of King John I). The sympathy of the chronicler by the peasants who took the castles by assault is evidenced in several parts of the chronicle, namely this one: “It was marvelous to see that so much courage God put on them and so much cowardice in the others, that the castles that the ancient kings could not take by the force of arms, in spite of long sieges, the minor peoples, badly armed and without captain, and with their bellies to the sun, would take them by force before noon.”
[17] A luta das cidades contra os feudais começou nos séculos X e XI e podia durar séculos. Colónia lutou durante todo o sec. XIII contra o senhor feudal, um arcebispo, até se tornar «cidade livre». A cidade francesa de Laon (fabrico de tecidos), lutou 200 anos até se tornar uma comuna. Em Portugal, a cidade do Porto, teve de lutar contra o bispo até ver reconhecida por D. Dinis (séc. XIII) o seu direito a concelho, limitando a acção do bispo e proibindo os fidalgos de habitarem na cidade.
The struggle of the towns against the feudal lords began in the 10th-11th cent. and could last for centuries. Cologne struggled during the whole 13th cent. against its feudal lord, an archbishop, until becoming “free town”.  The French town of Laon (cloth making) struggled for two centuries until becoming a commune. The town of Porto in Portugal had to struggle against the bishop until the recognition of its right to council by King Dennis (13th cent.), limiting the bishop’s role and forbidding the nobles to live in the town.
[18] Na Inglaterra os direitos concedidos a algumas cidades foram mais restritos dada a maior centralização real. | The rights granted to certain towns in England were more restricted given its higher State centralization.
[19] Um factor determinante na formação de comunas foi a luta do povo. Em Portugal foi essa luta que arrancou as cartas de direitos concelhios – os forais – ao representante máximo da nobreza, o rei. As necessidades de repovoamento, no seguimento da reconquista, e a tradição de auto-governo das comunidades mouras, também influíram na formação dos concelhos. Em toda a Europa, os próprios burgueses, necessitando de maiores contingentes de mão-de-obra e de mais soldados para fortalecer o poderio militar das cidades, tudo fizeram para facilitar a evasão dos servos.
Sobre a Idade Média em Portugal, sugerimos, por ordem de importância: Álvaro Cunhal, op. Cit.; Alexandre Herculano, História de Portugal (várias edições); A. Borges Coelho, Comunas ou Concelhos, Prelo Editora, 1973; Armando Castro, Portugal na Europa do seu Tempo, Seara Nova, 1977.
A determinant factor in the formation of communes was the struggle of the people. In Portugal that struggle wrested the charters of council rights – the “forais” – from the supreme representative of the nobility, the king. The populating needs in the aftermath of the “reconquista” and the self-government tradition of the Moorish communities also had an influence in the formation of councils. Throughout Europe the bourgeois themselves in need of a larger pool of labor force and soldiers to strengthen the military might of the towns did everything they could to propitiate the escape of serfs.
[20] A Inglaterra tinha um poder real mais forte que o das monarquias continentais até 1215, ano em que a nobreza obrigou o rei João I a assinar a Magna Carta que limitava o poder real frente aos privilégios da nobreza. Mais tarde o Parlamento retirou do rei o direito de estabelecer novos impostos e de cobrar os fixados sem sua aprovação. Só com Henrique VIII o poder real volta a ser reforçado a partir de 1533.
The power of the English monarchs was stronger than in the continental monarchies until 1215, when the nobility forced King John I (Lackland) to sign the Magna Carta, which set limits to the royal rights in comparison to the privileges to the nobility. Later, the Parliament withdrew from the king the right to install new taxes and to collect the established ones without its approval. Only with Henry VIII the royal rights were reinforced after 1533.
[21] Robert C. Allen, Economic structure and agricultural productivity in Europe, 1300-1800, European Review of Economic History, 3, 1-25, Cambridge Univ. Press, 2000.
[22] Stephen Broadberry, Bruce Campbell, et al., British Economic Growth, 1270-1870, Cambridge University Press, 2015.
[23] A anarquia feudal traduziu-se em guerras entre facções da nobreza: Guerra das Rosas em Inglaterra (1455-1487), guerra entre Burginhões e Armanhaques na França (1407-1435); guerras entre Guelfos e Gibelinos na Itália (1120-1320), etc. The feudal anarchy led to wars among factions of the nobility: Wars of the Roses in England (1455-1487), war between Burgundians and Armagnacs in France (1407-1435); wars between Guelphs and Ghibellines in Italy (1120-1320), etc.
[24] Por exemplo, os fabricantes de vidro de Veneza ameaçavam com sanções rigorosas quem traísse o segredo de fabrico de vidro de cor. | For instance, the glass makers of Venice threatened with harsh punishment whoever betrayed the secret of color glass making.
[25] Por exemplo, em Colónia, uma invenção de roda de fiação e torção da seda foi recusada porque «o conselho [da corporação] achou que muitos dos que vivem deste ofício irão então perecer». For instance, in Cologne an invention of a wheel to spin and twist the silk was refused because “[the guild] council came to the conclusion that many of those living from the craft will then perish”.
[26] Ocorrem greves de companheiros por toda a Europa: dos tosquiadores de Londres em 1350, dos peleiros de Estrasburgo e Friburgo em 1370, dos alfaiates em Constança em 1410 e em Londres em 1415. | Many strikes of journeymen take place throughout Europe: shearers in London in 1350, furriers in Strasbourg and Fribourg in 1370, tailors in Konstanz in 1410 and in London in 1415.
[27] Já vimos nas anteriores FSs que toda a transição para um novo MP dominante se deve a contradições insanáveis no interior do antigo MP. O mesmo aconteceu em B3D.  Nenhum MP é estático e se auto-perpetua. Nunca é necessário invocar causas exteriores ao MP para explicar a sua evolução, embora tais causas possam ter influência como factor acessório. Alguns, propuseram como causa do nascimento do capitalismo o comércio de artigos de luxo de Génova e Veneza com o Médio Oriente. Porém, o capital deste comércio (capital comercial) permaneceu sempre na esfera da circulação, e nunca se aplicou à produção agrícola ou industrial de maneira inovadora. A chamada revolução comercial do Renascimento italiano em nada alterou o MP feudal.
We saw in the previous SFs that every transition to a new dominant MP is due to incurable contradictions within the old MP. The same applies to B3D.  No MP is static and self-perpetuating. There is never a need of appealing to causes external to the MP in order to explain its evolution, though such causes may have an influence as accessory factors. Some people proposed as cause for the birth of capitalism the trade in luxury articles of Genoa and Venice with the Middle East. However, the capital derived from this trade (commercial capital) always stayed in the circulation sphere and was never applied innovatively to the rural and industrial production. The so-called commercial revolution of the Italian Renaissance didn’t change anything of the feudal MP.
[28] Portugal e Espanha viveram um longo período de reacção feudal desde o séc. XVI ao séc. XVIII. A nobreza parasitava o monopólio real do comércio e, na lógica feudal, interessava-se principalmente por conquistar terras e pilhar meios de pagamento (tributos, metais nobres) usados para importar bens do exterior, atrasando a emergência de manufacturas.
O reflexo ideológico da reacção feudal foi a contra-reforma católica com a Inquisição, perseguição de burgueses, intelectuais inovadores, etc., contribuindo para um enorme atraso na transição para o capitalismo. Em contraponto com a Igreja católica, que representava a mentalidade feudal, surgiu no séc. XVI o protestantismo, adoptado por todos os países economicamente avançados. A Reforma de Lutero, Calvino, Zwingler oferecia uma religião popular, barata (livre das exacções do clero e do Papado), e que reflectia a mentalidade burguesa. Calvino ensinava que o comerciante e o capitalista tinham assegurada a salvação, e que o trabalhador devia trabalhar com afinco para se tornar proprietário. Justificava também a escravatura e a pilhagem das colónias.
Portugal and Spain went through a long period of feudal reaction from the 16th through the 18th cent. The nobility was a parasite of the royal monopoly of the trade and, under the feudal logic, was mainly interested in conquering lands and plundering means of payment (tributes, noble metals) used to import commodities from abroad, delaying the emergence of manufactures.
The ideological reflex of the feudal reaction was the Catholic Counter-Reform with the Inquisition, the persecution of the bourgeoisie, innovating intellectuals, etc., contributing to a huge delay in the transition to capitalism. In contrast to the Catholic Church, representing the feudal mentality, the Protestantism appeared in the 16th cent. and was adopted by all economically advanced countries. The Reform of Luther, Calvin, Zwingler offered a popular religion, cheap (free from exactions of clergymen and the Pope), which reflected the bourgeois mentality. Calvin preached that the trader and the capitalist had their salvation assured, and that the worker should work hard in order to become a proprietor. He also justified slavery and the plunder of the colonies.
[29] Desde tempos imemoriais os ingleses criavam ovelhas, cuja lã vendiam à Flandres onde era transformada em tecidos. No início do séc. XV os comerciantes ingleses começaram a fabricar tecidos em manufacturas, aumentando a procura de lã. A burguesia rural, para ampliar a criação de ovelhas, fonte de chorudos lucros, começou sistematicamente a expulsar os camponeses das suas terras de forma violenta, transformando-as em pastagens e cercando-as (enclosures) para impedir outros de as utilizar.
The English used to breed sheep since immemorial times, selling the wool to Flanders where it was transformed into clothes. In the beginning of the 15th cent. the English traders started producing cloths in manufactures, increasing the demand of wool. The rural bourgeoisie interested in the enlargement of sheep breeding, a source of fat profits, started expelling the peasants from their lands in a violent way, transforming them in grasslands. They surrounded the grasslands by enclosures to impede others the use of the pastures.
[30] A verdadeira face do rei absoluto é patenteada por Luís XVI na Revolução Francesa. Dava-se muito bem com a alta burguesia que, em qualquer monarquia absoluta, procura os favores do rei. Este corresponde-lhe, porque também tem necessidade dos favores da burguesia, nomeadamente do crédito bancário. Mas, em plena revolução, Luís XVI favorecia às escondidas a restauração feudal e procurou chamar a intervenção feudal estrangeira para pôr os burgueses na ordem.
The true face of an absolute king is revealed by King Louis XVI during the French Revolution. He was in good terms with the high bourgeoisie, which in every absolute monarchy procured favors from the king. The king complied, since he also needed favors from the bourgeoisie, namely credit from the banks. But, plunged into the revolution, Louis XVI secretly favored the feudal restoration and did what he could to  call in the foreign feudal intervention to set his bourgeoisie in the old order.
[31] A Revolução Liberal de 1820 em Portugal e a Primavera dos Povos em 1848. The Liberal Revolution in 1820 in Portugal and the Spring of Nations in 1848.
[32] O Iluminismo foi uma uma corrente de pensamento que dava primazia à razão, combatendo o obscurantismo e intolerância feudal-clerical. Iniciado pelos filósofos  Spinoza (1632-1677) e John Locke (1632-1704) o pleno florescimento iluminista ocorre no séc. XVIII, nomeadamente com a contribuição dos materialistas franceses.
The Enlightenment was a current of thought which gave primacy to reason, fighting the feudal-clerical obscurantism and intolerance. Initiated by the philosophers Spinoza (1632-1677) and John Locke (1632-1704) the full flourishing of the enlightenment takes place in the 18th cent., namely with the contribution of the French materialists.
[33] Na Holanda a nobreza conquistou posições a partir de 1700 e a monarquia de cariz feudal foi restaurada em 1795, ajudada pela reacção inglesa e prussiana aterrorizadas com a Revolução Francesa; só em 1815 foi instaurada a monarquia burguesa. A Inglaterra restaurou a monarquia de cariz feudal em 1609 e a reacção feudal teve vários períodos de domínio até 1794. Na França, a monarquia feudal foi restaurada em 1809 e perdurou até 1830. Em Portugal, a luta contra os feudais miguelistas durou até 1838; posteriormente Portugal sofreu vários períodos ditatoriais de influência monárquico-feudal e ainda em 1919 (quase um século depois de 1820!) sofria a contra-revolução da Monarquia do Norte.
The nobility of the Netherlands wrested back positions after 1700 and a feudal-cast monarchy was restored in 1795, with the help of the English and Prussian reactions terrified by the French Revolution; a bourgeois monarchy only came in place in 1815. A feudal-cast monarchy was restored in England in 1609 and the feudal reaction was dominant in several periods until 1794. A feudal monarchy was restored in France in 1809 and lasted until 1830. In Portugal, the fight against the feudal “miguelistas” took until 1838; afterwards, Portugal suffered several dictatorial periods of feudal-monarchic influence and still in 1919 suffered the counter-revolution of the Northern Monarchy.
[34] O MPA foi proposto por Marx e Engels com base em descrições históricas e testemunhos oculares da Ásia, particularmente da Índia. As suas reflexões sobre o MPA, sofreram precisões em textos sucessivos à medida que recebiam novas informações, ainda escassas no séc. XIX. (Ver: Kimio Shiozawa, Marx’s View of Asian Society and His “Asiatic Mode of Production” ; Huang Tan, JB, Marx, Historical Materialism and the Asiatic Mode of Production, Master Thesis, Simon Fraser University, Canadá, 2000).
Estaline e o Comintern negaram a existência do MPA por razões políticas, ligadas com a revolução chinesa. Contudo, houve na URSS quem continuasse a defender o MPA, incluindo o assessor económico de Estaline, Eugen Varga. Os historiadores soviéticos, porém, satisfizeram Estaline: negaram ou menorizaram o MPA, chamando-lhe, p. ex., «forma especial de esclavagismo». No pós-guerra só lenta e timidamente os historiadores soviéticos recuperaram o MPA, enquanto este sofria toda a espécie de maus-tratos das correntes idealistas e metafísicas francesas (neo-marxismo, estruturalismo, culturalismo, evolucionismo, etc.). O Centre d’Études et Recerches Marxistes francês publicou uma colectânea de estudos sobre o MPA, influenciados por tais correntes, e por isso mesmo largamente irrelevante (publicado pela Seara Nova: O Modo de Produção Asiático, C.E.R.M., 1974). Muitos historiadores asiáticos, rejeitaram o MPA por razões chauvinistas: viam o MPA como um preconceito ocidental destinado a estigmatizar o «despotismo oriental» e a acusar as civilizações asiáticas de atraso e estagnação. O estudo das civilizações pré-colombianas mostrou que o MPA não é só «asiático»; antes um MP pelo qual tiveram de passar muitas sociedades quando as classes sociais emergentes do comunismo primitivo encontraram condições para manter as comunidades gentílicas como unidades produtoras.
Em vários trabalhos recentes que consultámos sobre MPA, verificamos que se dedica mais atenção a aspectos menores do que à questão central das RdP, geralmente omitida: qual a forma principal de apropriação de sobreproduto por parte da classe dominante? Questão que exige investigação e respostas concretas para cada FS. Continuam também a reproduzir-se os antigos erros de apreciação do MPA. Sobre os mais correntes há que dizer: a) O MPA não foi um «sistema especial de escravatura»; os escravos tiveram papel muito diminuto ou nulo e os membros das comunidades não eram escravos. Foi um tipo especial de feudalismo de apropriação de renda feudal de comunidades. b) O MPA não corresponde a FSs «estáticas» ou «estagnadas». Nenhum MP é «estático» ou «estagnado», dada a tendência determinante de desenvolvimento das forças produtivas e, com isso, das condições de vida. c) O MPA não surgiu apenas em condições de clima «intensamente quente». O império Inca o comprova. d) O MPA não surgiu apenas onde eram necessários grandes trabalhos de «irrigação». Os impérios Inca, Azteca e o Japão o comprovam. e) A autocracia ou despotismo não é um exclusivo do MPA. Também existiram em FSs com outro MP dominante. O clima e a necessidade de grandes trabalhos de irrigação são factores acessórios que podem ter influenciado a transição da classe A para a classe B3C. Mas podem ter existido outros factores acessórios influentes, como a abundância de terra e ausência de competição por terra de comunidades limítrofes (ver B1C).
The AMP was proposed by Marx and Engels on basis of historical descriptions and eye witnessing of Asia, particularly from India. Their thoughts on the AMP underwent precise adjustments in successive texts as they received further information, still scarce in the 19th cent. (See: Kimio Shiozawa, Marx’s View of Asian Society and His “Asiatic Mode of Production” ; Huang Tan, JB, Marx, Historical Materialism and the Asiatic Mode of Production, Master Thesis, Simon Fraser University, Canadá, 2000).
Stalin and the Comintern denied the existence of the AMP out of political reasons, related to the Chinese revolution. There were, however, people in the USSR who persistently defended the AMP, namely Stalin’s economic advisor Eugen Varga. The Soviet historians, nonetheless, complied to Stalin: they denied or assigned a minor role to the AMP, calling it, e.g., a “special form of slavery”. Only in the after WWII the Soviet historians, slowly and timidly, salvaged the AMP, when at the same time it suffered all sorts of ill-treatment from the French idealist and metaphysical currents (neo-Marxism, structuralism, culturalism, evolutionism, etc.). The French Centre d’Études et Recerches Marxistes published a collection of studies on the AMP influenced by such currents, which for that reason are largely irrelevant. Many Asiatic historians rejected the AMP by chauvinist reasons: they saw AMP as a Western prejudice aimed at stigmatizing “oriental despotism” and label the Asiatic civilizations of belatedness and stagnated. The study of pre-Columbian civilizations has shown that AMP is not just “Asiatic”; it instead is an MP many societies had to go through whenever the social classes emerging from primitive communism found the conditions to maintain the gentile communities as the producing units.
After consulting many recent works on AMP we came to the observation that far more attention is being dedicated to minor aspects than to the central issue of the RoP, which is usually omitted: what is the main form of appropriation of surplusproduct by the dominant class? An issue demanding concrete research and answers for each SF. We also observed that the old errors of assessment of the AMP are being repeated. On the most common ones, we have this to say: a) AMP was not a “special system of slavery”; slaves had a much reduced role or none and the members of the communities were not slaves. It instead was a special type of feudalism with appropriation of feudal rent out of communities. b) AMP does not correspond to “static” or “stagnated” SFs. No MP is “static” and “stagnated”, given the determinant tendency to develop the productive forces and the living conditions with it. c) AMP didn’t appear only in conditions of “extremely hot” climate. The Inca Empire proves it. d) AMP didn’t appear only where large “irrigation” works were needed. The Inca and Aztec Empires as well as Japan prove it. e) Autocracy or despotism is not an exclusive of AMP. Other SFs with other dominant MP also have had it. Climate and need of large irrigation works are accessory factors which may have influenced the transition from class A to class B3C. But other influencing accessory factors may have played a role, such as the abundance of land and the absence of competition by neighboring communities (seer B1C).
[35] A bibliografia sobre a civilização egípcia é abundante. A História Universal e  a História da Antiguidade citadas [0] contêm informação suficiente. The literature on the Egyptian civilization is large. The World History and the History of the Antiquity cited [0] contain enough information.
[36] Uma das insurreições ocorreu cerca de 1960 a.C. Camponeses, artesãos e escravos expulsaram os nobres dos seus palácios, apoderaram-se dos armazéns reais, destruíram as listas de tributos e repartiram os produtos dos armazéns e tesouros. One of the insurrections took place around 1960 BC. Peasants, craftsmen, and slaves expelled the noblemen from their palaces, took hold of the royal warehouses, destroyed the lists of tributes, and distributed among them the warehouse goods and treasures.
[37] Os seguintes trabalhos descrevem em pormenor as forças produtivas e RdP no império Inca | The following works describe the productive forces and RoP of the Inca Empire: Heinz Dieterich, Some Theoretical and Methodological Observations about the Inca Empire and the Asiatic Mode of Productions, Latin American Perspectives, vol. IX, No. 4, pp. 111-132, 1982; Teixeira de Freitas, Luís Carlos, Who Were the Inca?, Biblioteca24horas/Seven Systems Lda., São Paulo, 2009.
[38] Os Incas mantinham estatísticas das terras e da mão-de-obra sob a forma de quipus, registos de nós em cordas. The Incas maintained statistics of the lands and workforce in the form of quipus, registers of knots in ropes.
[39] As seguintes fontes proporcionam informação de interesse sobre o Império Azteca | The following sources provide interesting information on the Aztec Empire: John Gledhill, The transformation of Asiatic formations: The case of Late Prehispanic Mesoamerica. In: Marxist Perspectives in Archaeology, (Ed. Matthew Spriggs), Cambridge Univ. Press, 1984; Aztec Property Law, https://tarlton.law.utexas.edu/exhibits/aztec/aztec_property.html; Aztec Empire, wikipedia.en.
[40] As seguintes fontes proporcionam informação de interesse sobre a China  | The following sources provide interesting information on China: Historia Universal, op. cit.; Jianxun Wang, Village Governance in Chinese History, Y673 Seminar, Indiana University, Spring 2006; Feng Deng, A Comparative Study on Landownership between China and England, 1996 (MPRA Paper No. 2241, posted 14. March 2007, http://mpra.ub.uni-muenchen.de/2241/ ); China’s land reform 1368-1960s: Inequality and peasant-state Struggles, http://www.rug.nl/research/portal/files/14692129/02_c2.pdf, Univ. Groningen; History of East Asia, NIILM University, Kaithal, Haryana, India, niilmuniversity.in\coursepack\humanities\History_of_East_Asia.pdf; Na Ning, Evolution of Clan Culture and Its Contemporary Significance, Asian Culture and History, vol. 4, no. 2; July 2012, www.ccsenet.org/ach ; An Encyclopaedia on Chinese History, Literature and Art (http://www.chinaknowledge.de/History/ ) Ulrich Theobald, Ph.D., Univ Tubingen.
[41] Dirlik, Arif. Revolution and History: Origins of Marxist Historiography in China, 1919-1937. Berkeley:  University of California Press, 1978. http://ark.cdlib.org/ark:/13030/ft1489n6wq/
[42] Alguns historiadores chineses pré-2.ª GM falam de MPA até 1840 (ver Revolution and History, op.cit.). Na obra The Asiatic Mode of Production in China, (ed. Timothy Brook). Routledge, 1989, que reúne 11 artigos de historiadores chineses dos anos oitenta, 7 deles defendem a aplicabilidade à China do MPA. Eugen Varga sustentava que, mesmo no caso da propriedade feudal privada da terra, se tratatava de facto de uma elite que não tinha propriedade privada mas controlava propriedade pública: Germaine Hoston Marxism and the Crisis of Development in Prewar Japan. Princeton University Press, 1986.
Some Chinese historians before WWII spoke of AMP until 1840 (see Revolution and History, op.cit.). The work The Asiatic Mode of Production in China, (ed. Timothy Brook). Routledge, 1989, a collection of 11 articles of Chinese historians of the 80s, contains 7 articles defending the applicability of AMP to China. Eugen Varga claimed that, even in the case of the feudal private property of the land, it was indeed an elite who didn’t have the private property but rather controlled public property: Germaine Hoston Marxism and the Crisis of Development in Prewar Japan. Princeton University Press, 1986.
[43] Os funcionários estatias nas aldeias constituíam uma espécie de pequena nobreza rural, que traduzimos por “barões”. Na primeira metade do séc. XIX o número de barões correspondia a 0,2% da população. | In the first half of the 19th century, the number of gentry was 0.2 % of the whole population.
[44] Na dinastia Chou a terra era dividida segundo um sistema de 9 lotes, em quadrado de 3x3, de que o central era a terra de onde se tirava o tributo ao rei ou nobre. Os 8 restantes lotes eram para 8 famílias da comunidade, que formavam a unidade tributável. Em 485 d.C. foi instituído o sistema de «campos iguais» que perdurou até 907 d.C. Neste sistema o camponês recebia em usufruto cerca de 1,1 ha ou mais, dependendo dos bois que possuía. A terra regressava ao Estado quando o camponês morria, sendo depois reatribuída. A partir da dinastia Yuan (1.279 d.C.) foi institucionalizado um sistema pelo qual os chefes de famílias mais importantes coligiam as declarações de imposto de outras famílias enviando-as aos barões rurais.
The land in the Zhou dynasty was divided according to a 9 lot system, in a 3x3 square, whose central one was the land from which the tribute to the king or noble was extracted. The 8 remaining ones were for 8 families of the community, making up the tribute-paying unit. In 485 AD the “equal field” system was put in place and lasted until 907 AD. In this system every peasant received in usufruct 1,1 ha or more, depending on the cattle he had. The land returned to the State when the peasant died and was then re-assigned. After the Yuan dynasty (1.279 AD) a system was put in place where the most important family chiefs had the charge of collecting tax declarations of other families, sending them to the gentry.
[45] As seguintes fontes proporcionam informação de interesse sobre o Japão | The following sources provide interesting information on Japan: Historia Universal, op. cit., Japan’s Feudal Economy, http://people.exeter.ac.uk/aebooth/economic_miracles_lecture2/emfc_lect2_japecon_home.htm; History of East Asia, op. cit.;  https://www.learner.org/courses/worldhistory/support/reading_8_2.pdf; Kallie Szczepanski, Feudalism in Japan and Europe, http://asianhistory.about.com/od/japan/a/Feudalism-In-Japan-And-Europe.htm, Updated January 20, 2015; The Meiji Restoration, Abolition of Feudalism, http://www.countriesquest.com/asia/japan/history/the_meiji_restoration/abolition_of_feudalism.htm , Germaine Hoston, op. cit.