Em duas palavras, o que se passa é isto: a agonia do reformismo em tempo de crise.
Quando o PT subiu ao poder em 2002 o clima
económico a nível mundial era bem melhor que o actual. O Brasil conseguia
manter uma balança comercial em superavit (à custa de exportação de petróleo,
matérias primas e produtos alimentares) mantendo níveis moderados de dívida
externa e dívida pública, logo com boas condições de contrair empréstimos para
investimento.
Isso permitiu ao governo do PT e aliados
(incluindo da direita PMDB) melhorar a situação social no Brasil, apesar de se
manter desde o início numa toada estreita de colaboração de classes: em Junho
de 2002 Lula da Silva aquietou a inquietação do
sector financeiro com a sua possível vitória, através da sua famosa ''Carta ao Povo Brasileiro'', na qual Lula se
comprometia a controlar a inflação, cumprir acordos com o FMI e, sobre a
''transição'' para ''outro modelo'' económico, dizia que não se faria ''num
passe de mágica''. O documento foi apelidado, pela esquerda do próprio PT, de
''Carta aos Banqueiros''.
Entretanto, com a crise do capitalismo a nível
mundial de que temos vindo a falar no nosso blog – crise que, dentro do
capitalismo, está para durar e até para se agravar --, a conjuntura económica
alterou-se profundamente. O comércio mundial está em queda. A própria China
está a marcar passo, consumindo muito menos petróleo e ultimamente
desfazendo-se de grande parte dos seus stocks de metais. Todas as “economias
emergentes” passaram a sofrer as consequências. Os rendimentos das principais
exportações do Brasil diminuiram, incluindo do petróleo. De 2002 para 2015 a
dívida externa brasileira cresceu 159%, a dívida pública em percentagem do PIB
deu um salto de 2014 para 2016 de 59% para 69%; a inflação de Janeiro de 2015 a
Janeiro de 2016 passou de 7,2% a 10,7%. Consequência: cortes nas políticas
sociais, descontentamento e frustração nas classes mais desfavorecidas. Numa
palavra: fim do êxito das políticas reformistas, que sempre assentam numa colaboração
de classes.
A única saída para o povo trabalhador do
Brasil seria enveredar por uma via “rumo ao socialismo”, como tem feito, por
exemplo, a Venezuela. Aí, apesar da enorme inflação e da guerra económica, as
conquistas sociais continuam vivas. Mas no Brasil o PT sempre rejeitou tal
rumo. Sempre defendeu a aliança com partidos de direita e a manutenção de boas
relações com o imperialismo. Lula sempre foi muito bem recebido na Casa Branca,
ao contrário de Chávez, Maduro, Rafael Correa e Evo Morales.
Sobre as limitações do reformismo, incluindo
na Venezuela (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2015/12/o-recente-reves-do-processo.html ), já muito escrevemos neste blog. Sobre o Brasil, recomendamos a
leitura atenta do seguinte artigo do PCB:
Mauro Luis Iasi, A crise do PT: o ponto de chegada da metamorfose, 10Mar2016:
http://pcb.org.br/portal2/10609