quinta-feira, 17 de março de 2016

O que se passa no Brasil?

Em duas palavras, o que se passa é isto: a agonia do reformismo em tempo de crise.
   
Quando o PT subiu ao poder em 2002 o clima económico a nível mundial era bem melhor que o actual. O Brasil conseguia manter uma balança comercial em superavit (à custa de exportação de petróleo, matérias primas e produtos alimentares) mantendo níveis moderados de dívida externa e dívida pública, logo com boas condições de contrair empréstimos para investimento.
   
Isso permitiu ao governo do PT e aliados (incluindo da direita PMDB) melhorar a situação social no Brasil, apesar de se manter desde o início numa toada estreita de colaboração de classes: em Junho de 2002 Lula da Silva aquietou a inquietação do sector financeiro com a sua possível vitória, através da sua famosa  ''Carta ao Povo Brasileiro'', na qual Lula se comprometia a controlar a inflação, cumprir acordos com o FMI e, sobre a ''transição'' para ''outro modelo'' económico, dizia que não se faria ''num passe de mágica''. O documento foi apelidado, pela esquerda do próprio PT, de ''Carta aos Banqueiros''.
   
Entretanto, com a crise do capitalismo a nível mundial de que temos vindo a falar no nosso blog – crise que, dentro do capitalismo, está para durar e até para se agravar --, a conjuntura económica alterou-se profundamente. O comércio mundial está em queda. A própria China está a marcar passo, consumindo muito menos petróleo e ultimamente desfazendo-se de grande parte dos seus stocks de metais. Todas as “economias emergentes” passaram a sofrer as consequências. Os rendimentos das principais exportações do Brasil diminuiram, incluindo do petróleo. De 2002 para 2015 a dívida externa brasileira cresceu 159%, a dívida pública em percentagem do PIB deu um salto de 2014 para 2016 de 59% para 69%; a inflação de Janeiro de 2015 a Janeiro de 2016 passou de 7,2% a 10,7%. Consequência: cortes nas políticas sociais, descontentamento e frustração nas classes mais desfavorecidas. Numa palavra: fim do êxito das políticas reformistas, que sempre assentam numa colaboração de classes.
     
A única saída para o povo trabalhador do Brasil seria enveredar por uma via “rumo ao socialismo”, como tem feito, por exemplo, a Venezuela. Aí, apesar da enorme inflação e da guerra económica, as conquistas sociais continuam vivas. Mas no Brasil o PT sempre rejeitou tal rumo. Sempre defendeu a aliança com partidos de direita e a manutenção de boas relações com o imperialismo. Lula sempre foi muito bem recebido na Casa Branca, ao contrário de Chávez, Maduro, Rafael Correa e Evo Morales.
   
Sobre as limitações do reformismo, incluindo na Venezuela (http://revolucaoedemocracia.blogspot.pt/2015/12/o-recente-reves-do-processo.html ), já muito escrevemos neste blog. Sobre o Brasil, recomendamos a leitura atenta do seguinte artigo do PCB:
   
Mauro Luis Iasi, A crise do PT: o ponto de chegada da metamorfose, 10Mar2016:
http://pcb.org.br/portal2/10609