sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Abutres | Vultures

 

Divulgamos um artigo do Avante! que diz muito – o essencial -- sobre o que se passa na Bielorrússia em poucas palavras.

We publicize an article from Avante! that says a lot -- the essentials -- about what's going on in Belarus in a nutshell.

  

Abutres

 

Jorge Cadima

 

Avante! 10-09-2020

Vultures

 

 by Jorge Cadima

 

Avante! 2020-09-10

 

Para perceber o que se passa na Bielorrússia basta ler Anders Aslund, um dos arquitectos da «terapia de choque» que restaurou o capitalismo na Rússia após 1991. Aslund é um criminoso da guerra de classes. Numa década, o PIB russo caiu para quase metade (data.worldbank.org). A esperança de vida dos homens russos desceu para 59,8 anos (Relatório Desenvolvimento Humano PNUD, 2000) e o país estava à beira do colapso. Mas a pilhagem não criou só miséria e morte – criou os milionários russos e encheu as contas dos oligarcas demo-ocidentais: entre 1992 e 1998 a fuga de capitais da Rússia para os bancos ocidentais atingiu 210 mil milhões de dólares (Financial Times, 27.8.99).

 

Diz agora Aslund (www.intellinews.com, 15.8.20): «Quem visita a Bielorrússia fica surpreendido: trata-se da última economia soviética, mas na realidade funciona. […] A sua economia altamente industrializada é dominada por cerca de 40 empresas estatais, em particular na indústria pesada. Ainda produzem produtos soviéticos […] mas são os melhores produtos soviéticos que alguma vez viram. […] Os problemas macro-económicos são diminutos. A inflação está sob controlo, em cerca de 5%. O deficit orçamental oficial é minúsculo, e a dívida pública total limita-se a 35% do PIB. […] Em geral a administração estatal está de boa saúde, provavelmente a melhor da ex-União Soviética. […] A Bielorrússia não tem grandes homens de negócios ou oligarcas privados. A corrupção é até ao momento surpreendentemente limitada». Apetece dizer: claro!

 

Mas Aslund não está a debitar elogios. Está a apresentar o catálogo de vendas do que espera ser a próxima temporada da mega-produção «pilhagem a Leste». Não vislumbra doença, mas exige a cura: «A maioria das grandes empresas terá de ser privatizada». Para serem saqueadas pelo capital imperialista (enchendo alguns bolsos) e depois fechadas (destruindo a concorrência). Nem os Estaleiros Navais de Gdansk, berço do Solidariedade, escaparam a esse destino. A preocupação de Aslund é que «uma venda aberta resulte em donos russos de quase tudo». Não foi para isto que deu vida aos oligarcas, a quem agora chama «lobos russos que rondam as suas potenciais vítimas». Para Aslund, só os abutres euro-americanos têm direito ao saque.

 

O presidente Lukachenko não está na mira pelo mal que possa ter feito, mas pelo bem que fez ao defender a economia da Bielorrússia dos apetites vorazes do grande capital globalista e também dos oligarcas russos, mantendo «três quartos da economia no sector público». Fosse outra a sua opção e, como Guaidó, seria considerado Presidente legítimo com zero votos. Teria o tratamento mediático dos democráticos Emirados Árabes Unidos, apreciados por Israel, os EUA e o legitimamente eleito Rei Emérito de Espanha que para lá fugiu de prestar contas à justiça.

 

Os discursos sobre manifestantes pró-democracia de Macron, Trump ou Biden são para enganar incautos. Pergunte-se aos Coletes Amarelos, contra os quais vale tudo – até arrancar olhos, às vítimas da violência policial nos EUA ou aos muitos milhares de nova-iorquinos que todos os dias fazem bichas de quarteirões para receber comida doada (New York Post, 22.8.20) enquanto os multimilionários aproveitam a pandemia para encher os bolsos.

To understand what's going on in Belarus, just read Anders Aslund, one of the architects of the "shock therapy" which restored capitalism in Russia after 1991. Aslund is a class war criminal. In a decade, Russian GDP had fallen by almost half (data.worldbank.org). The life expectancy of Russian men had dropped to 59.8 years (UNDP Human Development Report, 2000) and the country was on the verge of collapse. But looting did not just create misery and death -- it created Russian millionaires and filled the accounts of demo-western oligarchs: between 1992 and 1998 the flight of capital from Russia to Western banks amounted to $ 210 billion (Financial Times, 1999-08-27).

 

Aslund (www.intellinews.com, 1920-08-15)  says now: “Anyone visiting Belarus is surprised: this is the last Soviet economy, but in reality it works. […] Its highly industrialized economy is dominated by around 40 state-owned companies, particularly in heavy industry. They still produce Soviet products [...] but they are the best Soviet products you have ever seen. […] Macro-economic problems are small. Inflation is under control, at around 5%. The official budget deficit is miniscule, and the total public debt is limited to 35% of GDP. […] In general, the state administration is in good health, probably the best in the former Soviet Union. […] Belarus does not have big businessmen or private oligarchs. Corruption has so far been surprisingly limited.” One feels like saying: of course!

 

But Aslund is not pouring out praise. He is displaying the sales catalogue of what he expects to be the next season of the mega-production "looting the East". He doesn’t detect any sign of disease, but demands a cure: "Most large companies will have to be privatized." To be plundered by imperialist capital (filling up some pockets) and then closed (destroying competition). Not even the Gdansk shipyards, the birthplace of Solidarity, escape this destiny. Aslund's concern is that "an open sale might result in Russian owners of almost everything". It was not for such outcome that he blew life into the oligarchs, whom he now calls "Russian wolves that prowl his potential victims". For Aslund, only Euro-American vultures are entitled to plunder.

 

President Lukachenko is under fire not for the wrong he may have done, but for the good he did in defending the Belarusian economy from the voracious appetites of big globalist capital and also from Russian oligarchs, maintaining "three quarters of the economy in the public sector". Had he taken another option, he would be considered, like Guaidó, a legitimate President even with zero votes. He would have had the media consideration as the democratic United Arab Emirates, appreciated by Israel, the US, and the legitimately elected King Emeritus of Spain, who fled there evading accounts with justice.

 

Macron, Trump or Biden's speeches about pro-democracy protesters are aimed at fooling the unwary. Just ask the Yellow Vests, against whom anything goes -- even gouging out eyes, the victims of police violence in the US or the many thousands of New Yorkers who line up every block every day to receive donated food (New York Post, 1920-08-22) while multimillionaires take advantage of the pandemic to fill their pockets.