A Novela das
marionetas de Trump na Venezuela
João Pedro Stedile
Membro da equipa de coordenação do Movimento dos Trabalhadores
sem Terra, MST, Brasil
Fonte: O
Lado Oculto
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Trump’s Puppet Show in Venezuela
By João
Pedro Stedile
Member of the co-ordination team of “Movimento dos Trabalhadores sem Terra (Landless Workers’ Movement), MST,”
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De usurpação em
usurpação, o homem de mão de Trump na Venezuela, Juan Gaidó, prossegue a sua
saga contra as instituições democráticas ao mesmo tempo que vai esfacelando a
oposição de direita. Não na sua qualidade de presidente da República
“interino” mas na de “presidente” de um parlamento paralelo decidiu nomear um
chefe fascista ausente do país para “recuperar” a estação de televisão
Telesur, espaço de liberdade de expressão e informação na América Latina.
Desconhece-se como se processará o assalto às instalações e fontes de
emissão, mas Washington não desiste de agitar Guaidó.
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From usurpation to usurpation,
Trump's hand in
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O governo Trump considera-se dono da Venezuela e exige que
o povo obedeça ao seu capataz, Juan Guaidó, que por sinal é muito bem pago.
Em 2015 houve eleições para a Assembleia Nacional da
Venezuela. A representação é unicameral, não existem senadores - só
deputados: são 167.
Nessas eleições, a oposição ao “chavismo” conquistou a
maioria dos deputados. Os “chavistas” ficaram em franca minoria com apenas 55
deputados, organizados num bloco denominado Pátria. O Tribunal de Justiça
Eleitoral cancelou a eleição de alguns deputados por fraude e ou por
corrupção, decisão que os partidos direitistas não quiseram reconhecer.
Instalou-se assim um conflito permanente acerca da legitimidade e legalidade
da Assembleia Nacional. Uma batalha incessante entre o Poder Executivo
“chavista” e a oposição direitista que controlava o parlamento.
Numa resposta a este impasse e ao aumento da violência,
com atentados, “guarimbas” (distúrbios terroristas nas ruas) de sectores
radicais de direita, o governo usou as suas faculdades constitucionais e
convocou, em 2017, uma Assembleia Popular Constituinte que, segundo a
Constituição em vigor, tem um nível institucional superior ao Presidente e ao
Parlamento. A oposição mais radical recusou-se a participar nas eleições para
a Constituinte, pois sua táctica é derrubar o governo pela violência.
Desde então funcionam na Venezuela dois colégios
legislativos.
A saga de Juan Guaidó
Em 2018 realizaram-se eleições para a Presidência da
República e os governos estaduais. A oposição participou nas eleições, que
contou com a presença de observadores de várias instituições internacionais.
Maduro derrotou três outros competidores e a oposição elegeu alguns governadores
estaduais. Todos tomaram posse regularmente em 10 de Janeiro de 2019.
Logo em Janeiro de 2019, articulado pelo governo Trump, o
sector mais radical dos partidos direitistas, que se distingue pela
realização de atentados nas cidades, conseguiu eleger o deputado Juan Gerardo
Guaidó como presidente da Assembleia Nacional. O que deveria ser um acto
normal, a eleição anual do presidente da Assembleia pelos deputados,
transformou-se numa afronta à democracia. Guaidó autoproclamou-se Presidente
da República, num desafio ao presidente recém-eleito e empossado pelos
Poderes Judiciais segundo a Constituição: Nicolás Maduro.
Este acto unilateral fez parte de um plano golpista, que
previa inclusivamente a intervenção de forças armadas dos Estados Unidos, da
Colômbia e do Brasil. Após uma série de episódios e um ciclo de mobilizações
populares durante o ano de 2019, o golpe foi derrotado. A ampla maioria do
povo continuou a apoiar o governo de Nicolás Maduro, apesar da crise
económica e do bloqueio económico e financeiro imposto pelo governo de Trump.
O ponto decisivo para o êxito das manobras golpistas
consistia em dividir as Forças Armadas, conquistando o seu apoio ao golpe.
Para tanto, os sectores direitistas recorreram a numerosos procedimentos
valendo-se de mentiras, de tentativas de cooptação e de corrupção de
militares. As Forças Armadas da Venezuela, no entanto, mantiveram-se leais à
Constituição e ao governo comandado por Nicolás Maduro, contribuindo assim
para a derrota dos grupos e partidos direitistas e golpistas.
Nasce um parlamento paralelo
O mandato de Guaidó como presidente da Assembleia Nacional
terminou em Janeiro de 2020. No dia 5, data constitucional prevista para a
eleição do novo presidente parlamentar, parte da oposição ao “chavismo” –
mais civilizada e contrária à intervenção norte-americana – discordou dos
adeptos da reeleição de Guaidó e apresentou um outro candidato.
Antecipando a iminente derrota, Guaidó orquestrou uma
confusão na entrada do edifício da Assembleia, numa tentativa frustrada para
boicotar a sessão. Apesar disso, compareceram 127 deputados, sendo eleito com
81 votos – a maioria dos presentes – o deputado Luis Parra, do partido
oposicionista Primero Justicia, como novo presidente da Assembleia e
substituto de Guaidó.
Enraivecido, Guaidó reuniu no mesmo dia, na sede de um
jornal opositor, 30 deputados que o reelegeram por unanimidade para continuar
na presidência da Assembleia. Nasceu um parlamento paralelo.
A divisão da oposição precipitou o caos. O sector radical,
terrorista, subordinado aos Estados Unidos, conta com apenas 30 deputados,
liderados por Guaidó. A maioria da oposição, que se propõe conquistar o
governo pela via democrática e conta com uma base de 81 deputados, só
reconhece Luis Parra como presidente da Assembleia Nacional.
Ataque à Telesur
No dia 14 de Janeiro, o parlamento paralelo comandado por
Guaidó reuniu-se novamente e tomou a decisão de escolher um novo presidente
para a companhia estatal de comunicações, a Telesur. Como se um acto
administrativo como esse fosse uma atribuição da Assembleia ou do presidente
da Assembleia. Guaidó nomeou o jornalista Leopoldo Castillo para “recuperar”
a Telesur. Além do absurdo jurídico, tramado apenas para gerar fatos
políticos, Leopoldo Castillo – um antigo militante da extrema- direita
venezuelana – encontra-se, do momento, fora do país.
Na década de oitenta, Castillo foi embaixador da Venezuela
em El Salvador e participou, com a direita fascista local, nos acontecimentos
que levaram ao assassínio
de padres jesuítas.
A Telesur é uma Fundação latino-americana que não depende
juridicamente da Assembleia Nacional da Venezuela. A presidente é a
jornalista colombiana Patricia Villegas. Esta tentativa de usurpação de
Guaidó, mais uma, explica-se como uma acção realizada a pedido dos seus
padrinhos nos Estados Unidos, em parte devido à queda de audiências da CNN em
espanhol, estação de televisão pertencente a um grupo direitista que apoia
Trump. E explica-se ainda, sobretudo, porque a Telesur tem transmitido com
fidelidade os acontecimentos não só da Venezuela, mas também os do Chile,
Argentina, Peru, Equador, Colômbia, contrapondo-se às manipulações mediáticas
do império.
Jorram milhões de dólares
A articulação de Guaidó com Trump e a sua equipa é
permanente. No dia 14 de Janeiro, o Departamento do Tesouro dos Estados
Unidos aplicou sanções ao deputado Luis Parra e a outros dois deputados
membros da presidência eleita da Assembleia Nacional. O governo Trump
considera-se dono da Venezuela e exige que o povo obedeça ao seu capataz,
Juan Guaidó, que por sinal é muito bem pago.
Esta confusão toda, a coexistência de dois presidentes da
Assembleia Nacional, as disputas dentro da oposição, apenas se resolverão,
provavelmente, mediante a convocação de novas eleições para o Parlamento.
Eleições, previstas por lei, a serem convocadas pelo Tribunal Eleitoral no
primeiro semestre deste ano. Até lá, Guaidó continuará a enganar quem quiser
ser enganado. E os norte-americanos continuarão a promover as suas mentiras.
Tornou-se um facto público recentemente – tanto nos
Estados Unidos como na Venezuela – que a USAID (United States Agency for
International Development) contribuiu com 128 milhões de dólares e Elliott Abrams
– o enviado de Trump para o golpe na Venezuela - com outros 50 milhões
para financiarem
as actividades de Guaidó. O conjunto da oposição recebeu da USAID, desde
2017, 467 milhões de dólares.
A actual conjuntura internacional possibilitou ao governo
de Maduro obter alguns trunfos. A Venezuela foi eleita membro da Comissão de
Direitos Humanos da ONU. O novo governo da Argentina expulsou a representante
de Guaidó e voltou a reconhecer unicamente o governo de Maduro. Nos próximos
dias deve acontecer o mesmo com o novo governo da Espanha. Guaidó não teve
êxito, sequer, na tentativa de se apoderar da Embaixada da Venezuela em
Brasília.
A capacidade de mobilização do povo da Venezuela e a sua
unidade com as Forças Armadas são pilares fundamentais de sustentação do
governo de Maduro.
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The
Trump administration considers itself owner of
In
2015 there were elections for the National Assembly of Venezuela.
Representation is unicameral, there are no senators -- only deputies: 167.
In
these elections, the opposition to “chavism” won the majority of deputies.
The “chavists” were in a clear minority with only 55 deputies, organized in a
bloc called Pátria (Fatherland). The Electoral Court of Justice cancelled the
election of some deputies for fraud and / or corruption, a decision that the
right-wing parties did not want to recognize. Thus, a permanent conflict
arose over the legitimacy and legality of the National Assembly. An incessant
battle between the “Chavist” executive branch and the right-wing opposition
that controlled the Parliament.
In
response to this impasse and the increase in violence, with attacks,
“guarimbas” (terrorist rioting on the streets) of radical right-wing sectors,
the government used its constitutional powers and convened, in 2017, a
Constituent People's Assembly which, according to the Constitution in force,
has a higher institutional level than the President and Parliament. The most
radical opposition refused to participate in the elections to the Constituent
Assembly, since its tactics is to overthrow the government by violence.
Since
then, two legislative bodies have operated in
The Saga of Juan Guaidó
In
2018 elections were held for the Presidency of the Republic and the state
governments. The opposition participated in the elections, which was attended
by observers from various international institutions. Maduro defeated three
other contestants and the opposition elected some state governors. All took office regularly on 10 January 2019.
As
early as January 2019, articulated by Trump’s administration, the most
radical sector of the right-wing parties, which distinguishes itself for
carrying out attacks in the cities, managed to elect deputy Juan Gerardo
Guaidó as president of the National Assembly. What should be a normal act,
the annual election of the President of the Assembly by the deputies, has
become an affront to democracy. Guaidó proclaimed himself President of the
Republic, in a challenge to the newly elected president who took office according
to the Constitution and the Judiciary Power: Nicolás Maduro.
This
unilateral act was part of a coup d’etat plan, which moreover had in store
the intervention of armed forces from the
The
decisive point for the success of the coup manoeuvres was to divide the Armed
Forces, gaining their support for the coup. To that end, the right-wing
sectors resorted to numerous procedures using lies, attempts at co-optation
and corruption of the military. The Armed Forces of Venezuela, however,
remained loyal to the Constitution and to the government commanded by Nicolás
Maduro, thus contributing to the defeat of the right-wing and groups and
parties upholding the coup plans.
A Parallel Parliament is Born
Guaidó's
term as president of the National Assembly ended in January 2020. On the 5th
January, the constitutional date scheduled for the election of the new
parliamentary president, part of the opposition to “chavism” -- more
civilized and opposed to North-American intervention -- disagreed with the
supporters of Guaidó's re-election and presented another candidate.
Anticipating
the imminent defeat, Guaidó orchestrated mayhem at the entrance to the
Assembly building, in a failed attempt to boycott the session. Despite this,
127 deputies attended, and elected deputy Luis Parra, with 81 votes -- the
majority of those present -- from the opposition party Primero Justicia, as the new president of the Assembly replacing
Guaidó.
On
the same day, Guaidó gathered, at the headquarters of a newspaper of the
opposition, 30 deputies who unanimously re-elected him to continue as
president of the Assembly. A parallel parliament was born.
The
division of the opposition precipitated chaos. The radical, terrorist sector,
subordinate to the
Attack on Telesur
On
January 14, the parallel parliament led by Guaidó met again and made the
decision to choose a new president for the state-owned communications
company, Telesur. As if an administrative act like that was the
responsibility of the Assembly or the President of the Assembly. Guaidó
appointed journalist Leopoldo Castillo to “recover” Telesur. In addition to
the legal absurdity, plotted only to generate political facts, Leopoldo
Castillo -- a former militant from the Venezuelan extreme right -- is, at the
moment, outside the country.
In
the 1980s, Castillo was
Telesur
is a Latin American Foundation that does not legally depend on the National
Assembly of Venezuela. The president is the Colombian journalist Patricia
Villegas. This attempted usurpation of Guaidó, one more, is explained as an
action carried out at the request of his godparents in the
Millions of Dollars are Pouring
Guaidó's
articulation with Trump and his team is permanent. On January 14, the United
States Treasury Department sanctioned Congressman Luis Parra and two other
members of the elected National Assembly presidency. The Trump administration
considers itself owner of
All
this confusion, the coexistence of two presidents of the National Assembly,
disputes within the opposition, will probably only be resolved by calling new
elections for Parliament. Elections, provided for by law, are to be called by
the
It
has recently become a public fact -- both in the
The
current international situation has enabled the government of Maduro to
obtain some advantages.
The
ability to mobilize the people of
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