sábado, 26 de janeiro de 2019

Venezuela: As Mentiras dos Media ao Serviço do Império


A ridícula pretensão de um tal Guadoi proclamando-se de moto próprio como «presidente interino» (!) da Venezuela mereceu bombásticas notícias dos media dominantes de Portugal. No JN e Público já é o 3.º dia de grandes notícias de 1.ª página e de página inteira no interior.

De facto, «moto próprio» é força de expressão. Por detrás do moto próprio de Guadoi – Presidente da Assembleia Nacional -- e seus apoiantes está a mão própria dos EUA. Cheia de dólares.

Voltemos aos media. O que dizem eles? Pois, como era de esperar, propagam as mentiras do Império, destinadas a justificar a intervenção militar dos EUA na Venezuela com o apoio do chamado Grupo de Lima: os países com os governos mais reaccionários da América Latina -- Colômbia, Brasil, Peru, e outros.

A intenção de preparar um golpe contra a Venezuela já vem de longe e é também apoiada pela UE. Trata-se de fazer com que os monopólíos ianques e europeus voltem a pôr a pata na Venezuela, fazendo do país um mero escravo dos EUA & C.ª É lamentável que o governo de Portugal siga acéfala, imoral e submissivamente nesta onda, em particular o ministro Santos Silva (que se diz socialista!) com declarações de mero eco do Império.

Quais são os factos?

-- Nicolás Maduro é um presidente eleito democraticamente. A oposição participou democraticamente em eleições e perdeu-as. As eleições foram observadas por comissões internacionais que atestaram a sua validade. Mas, claro, para os chefões imperiais, seus penduras e lacaios, é preciso dizer que Maduro é um ditador.

-- O apoio dado por EUA, Grupo de Lima e UE a Guadoi equivale a apoiar um golpe de estado. No fundo, temos o seguinte quadro: quando para EUA, Grupo de Lima e UE – quando para os monopólios destes países – os resultados democráticos são contra os seus interesses, a democracia não lhes convém. É silenciada ou distorcida. Esta postura enquadra-se no combate aos direitos dos povos de escolherem soberanamente o seu caminho, combate dos representantes dos monopólios, enraivecidos pela falta de perspectivas de um capitalismo em crise. Procuram constantemente abrir perspectivas através da escravização (interna e externa).

-- Que a Venezuela trilhe um caminho soberano, saindo da habitual submissão latino-americana ao «irmão grande» do Norte, é algo que o governo do «irmão» não tolera; além das perdas (Venezuela é um país com as maiores reservas de petróleo) é um mau exemplo. As declarações oficiais e documentais de líderes políticos e militares dos EUA revelam isso claramente. (Remetemos os leitores para a leitura atenta de artigos de José Goulão em AbrilAbril que demonstram isso.)

-- É falso que Maduro seja, como disseram os nossos jornais e TV, um presidente isolado. Na sua tomada de posse não estiveram representantes dos EUA e UE. Mas estiveram representantes oficiais de 38 países (China, Rússia, África do Sul, México, e outros), 16 organizações internacionais (União Africana, Liga Árabe, etc.) e representantes de forças políticas de 94 países, incluindo EUA e Canadá. Isto não é isolamento.

-- A oposição na Venezuela não é maioritária, mas sim minoritária. Mas as notícias e fotos dos jornais e TV apresentam a oposição minoritária ao governo de Nicolás Maduro como se fosse uma maioria.

-- Guadoi é presidente de uma assembleia que se descridibilizou pelas sistemáticas medidas ilícitas que tomou, contra a Constituição. É uma assembleia, que se colocou permanentemente fora-da-lei.

-- É sempre a oposição que recorre à violência: bandos de jovens armados, subsidiados pela CIA – sim, existem documentos sobre isso -- e com palavras de ordem e símbolos fascistas que agrediram, incendiaram e mataram inocentes, incluindo da forma mais horrorosa, decepando com arames ou queimando vivas as vítimas de ataques. Há montanhas de documentos oficiais e de testemunhos credíveis sobre isso. Mas, os jornais e TV ao mando dos monopólios «esquecem» esses documentos e testemunhos porque é preciso acusar de violência um governo que se defende todos os dias de ataques terroristas.

O JN falou das manifestações das donas de casa batendo nas panelas com as tampas. Mas «esqueceu-se» de mencionar que esse tipo de manifestação, envolvendo donas de casa de bom nível de vida, foi uma invenção da CIA, aplicada pela primeira vez no Chile de Allende para promover o movimento insurreccional e terrorista do fascista Pinochet.

-- São apresentados números dos que deixaram a Venezuela fugindo das dificuldades económicas e violência. Mas, os jornais e TV «esquecem-se» sempre de dizer que as dificuldades económicas são fruto da guerra económica promovida pelos EUA e atiçada internamente; nomeadamente pelos armazenistas açambarcadores que forçam o esvaziamento das prateleiras de certos produtos para aumentar o descontentamento popular e justificar a violência dos bandos fascistas.

Entre esses açambarcadores estavam alguns proprietários que foram -- e muito bem – detidos pelas autoridades por infracção da lei. O que mereceu algumas lágrimas a Santos Silva, sempre ternurento com respeito aos próceres do Império.

-- Os jornais e TV noticiam alegremente estimativas inflacionadas dos números de fugitivos, desde milhões a 700 mil. Estimativas apresentadas sem qualquer explicação. Não lhes interessa; quando se trata de zurzir os que se insubordinam contra o Império, vale tudo.

De facto, os números segundo vários observadores e estatísticas das fronteiras não parecem ser superiores a 200 mil. Mas, para além disso, os jornais e TV sofrem de esquecimento de notícias bem conhecidas e propagandeadas quer pelo governo venezuelano, quer por observadores independentes. É que o governo do «ditador» Maduro instituiu o programa «Regresso a la Patria», que promove o regresso dos fugitivos dando-lhes trabalho, abrigo e um começo de vida. Ao abrigo deste programa já regressaram mais de 120 mil fugitivos.

Alguns, aliás, regressaram de moto próprio, porque verificaram que não existia na Colômbia e no Peru o paraíso que lhes tinham prometido. Sim, porque o fenómeno dos fugitivos também tem a componente da propaganda imperialista, que incita cidadãos vulneráveis a fugir e os usa para justificar uma «intervenção humanitária» na Venezuela.

-- A pobreza também é um assunto constantemente propagandeado, como se fosse Maduro e o chavismo a causa da pobreza. E aqui, mais uma vez, os jornais e TV convenientemente «esquecem-se» (convenientemente para mercenários do capital, é claro) que foi precisamente Chávez e Maduro que mais combateram a pobreza na Venezuela com os muitos programas sociais que implementaram. Aliás, foi precisamente por isso que o governo de Chávez ganhou um galardão da ONU e da FAO. Maduro tem continuado esses programas e ainda há pouco tempo entregou mais 500 mil habitações sociais

Além disso, note-se este facto espantoso do humanitário e comovido Império, dos humanitários e comovidos jornais e TV: nos governos que precederam Chávez, nomeadamente do horroroso Andrés Perez que massacrou o seu povo, apesar da extrema pobreza existente, nunca os jornais e TV se mostraram comovidos com a pobreza da Venezuela. NUNCA. Nessa altura Andréz Perez era até muito incensado.

(Isto faz-nos lembrar que no tempo da URSS o Império enviava fotógrafos a Moscovo com a missão de fotografar pobres. A fim de propagandear como havia pobreza na Rússia, difamando osocialismo. Esses mercenariozitos lá iam a Moscovo e, com muita dificuldade, lá descobriam um ou outro pobre. Depois da restauração capitalista na URSS surgiram milhares de pobres em Moscovo. Mas então, já os jornais e TV do Império não lhes ligaram importância. Já não valia a pena fotografá-los.)

*   *   *

Está tudo bem na Venezuela? Não, não está. O governo de Maduro tem cometido vários erros (alguns reconhecidos por Maduro). Entre eles, bem documentados pelo Partido Comunista da Venezuela – que não faz parte do governo --, avultam o facto do governo não estar a valorizar os trabalhadores e estar a aliená-los do apoio ao governo, o deixar intocadas grandes corporações domésticas (como a empresa Polar e muitas cadeias de TV privadas que participam 24 h/dia, 7 dias/semana, nos ataques e desestabilização), e a falta de combate eficaz à violência e à corrupção.

Ao contrário do que tem sido propagandeado, o regime Chávez-Maduro não é um regime socialista. Não existe propriedade social dos principais meios de produção, cadeias de distribuição e bancos, nem existe um regime encabeçado pela classe trabalhadora. É, sim, um regime capitalista.

Apesar dos erros e insuficiências do regime Chávez-Maduro, os democratas valorizam-no por aquilo que tem de positivo: a devolução do país ao seu povo, arrancando-o de debaixo da bota do Império, dos grandes monopólios estado-unidenses e multinacionais, a defesa de uma política soberana onde quem decide são representantes do povo e não representantes dos monopólios, que procura colocar os recursos e fruto do trabalho ao serviço do povo. Procura e tem conseguido, conforme demonstram as medidas sociais avançadas que diminuíram a pobreza, melhoraram os cuidados de saúde, diminuíram fortemente a mortalidade infantil, realizaram um trabalho gigantesco de construção de habitação social e levaram a educação gratuita às grandes massas.

(Ver os vários artigos que escrevemos sobre a Venezuela, com citações de documentos e estatísticas oficiais.)

É atribuído a Goebbels, ministro de propaganda de Hitler, o dito «Se se repetir uma mentira vezes suficientes o povo acreditá-la-á». Na fase actual do capitalismo cada vez mais os chefes do capital monopolista recorrem a soluções de extrema-direita. Não é por acaso que governos de extrema-direita são a «moda» nos EUA e UE. Não nos deve, portanto, surpreender que para os media controlados pelo pensamento único do capital – é preciso destruir a Venezuela Bolivariana – para dar esse golpe é preciso mentir, mentir, e mentir sempre mais.

Cabe aos democratas consequentes contribuir com firmeza para o desmascaramento das mentiras do imperialismo americano e europeu, das mentiras de Trump, Bolton, Merkel, Juncker, Mácron, etc., e defender a Venezuela contra os planos de intervenção imperialista: Mãos Fora da Venezuela!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

26 = 3.800.000.000

26 = 3.800.000.000 | 26 = 3,800,000,000

Para aqueles perturbados pela fórmula do título há que esclarecer que a fórmula não é nossa. É a fórmula do resultado a que nos conduziu o capitalismo. Séculos de capitalismo.

Sim, no momento actual, os 26 mais ricos têm tanta riqueza quanto a metade mais pobre do planeta: 3.800 milhões -- 3.800.000.000 -- de seres humanos. Dados recentes da Oxfam.

Uma beleza, não é?

Que reflexões suscitam esta beleza? A nós suscitaram-nos as seguintes:

-- Há quem diga que o que conduziu a «isto» foi o neoliberalismo. Certo, mas redutor. O que conduziu a «isto» foi o capitalismo. Dizer apenas que foi o neoliberalismo pode suscitar a ideia de que é (ou seria) possível capitalismo sem neoliberalismo. Isso é falso.

É falso, devido a duas leis imanentes do capitalismo: a da concentração do capital e a da maximização do lucro.

O neolíberalismo foi e é a consequência lógica do desenvolvimento do capitalismo. Não é possível haver capitalismo sem aumento de concentração de capital e a busca da maximização do lucro.

-- Não é possível aumentar a concentração de capital e buscar a maximização do lucro sem aumentar a desigualdade social. Os «26» e os «3.800.000.000» são o verso e reverso interligados do resultado social das mesmas leis.

É demagógico e sem sentido defender as leis silenciando os seus resultados, como se eles não existissem.

Idem, apregoar que pode haver o verso sem haver o reverso (como os demagogos que brincam à caridadesinha).

-- A desigualdade social é um dos termómetros do capitalismo. O presente nível termométrico “26 = 3.800.000.000” indica febre elevadíssima.

-- De facto, a febre além de elevadíssima é galopante.

Em 2018 a fortuna dos multimilionários cresceu 12%, a um ritmo de 2.200 milhões de euros por dia – 11,3 vezes o PIB de Portugal em 2017! --, enquanto a riqueza da metade mais pobre da Terra diminuiu 11%! Dados da Oxfam.

-- O crescimento da desigualdade social, se nada se lhe opuser, continuará a acelerar-se.

A desigualdade social tem vindo sempre a crescer, uma vez passado o período pós 2.ª GM até meados dos 70 – período em que os chefões capitalistas, para além de novas oportunidades de lucro (havia imenso a construir depois das destruições da guerra e um enorme exército de desempregados) tinham de combater a atracção das massas pelo socialismo.

-- Para além da desigualdade social, também têm aumentado, e a ritmo crescente: a perda de liberdades, a opressão das massas trabalhadoras, a alienação das massas conduzida pelos media e políticos dominantes, o favorecimento de soluções pró-fascistas, as guerras e ameaças de guerra, a degradação do meio ambiente.

Também estes males resultam inexoravelmente das leis imanentes do capitalismo, em particular a lei da concentração do capital financeiro que é o leit motiv das agressões imperialistas.

Nenhum sistema social aniquilou tantos seres humanos como o capitalismo.

Para além das dezenas de milhões das duas guerras mundiais (pelo menos 85 milhões de mortos segundo a wikipedia) há que acrescentar as vítimas das muitas outras guerras, as vítimas da fome e da degradação do ambiente, da pobreza (cuja causa principal é o desemprego), dos assassinatos pelas «forças da ordem», das prisões e campos de concentração, etc.

-- Só há uma oposição eficaz: a que provém da luta unida das massas trabalhadoras.

 -- Só há uma saída do capitalismo: o socialismo.

-- Sem oposição e luta eficazes que conduzam ao socialismo a humanidade caminha para a catástrofe.

-- Cuba não entrou nos dados da Oxfam.
For those disturbed by the formula of the title it is necessary to clarify that the formula is not ours. It is the formula of the result that capitalism led us to. Centuries of capitalism.

At present, the 26 richest people have as much wealth as the poorest half of the planet: 3.8 billion – 3,800,000,000 -- human beings. Recent Oxfam data.

A beauty, isn’t it?

What thoughts this beauty gives rise to? As regards us, they gave rise to the following thoughts:

-- There are those who say that it was neoliberalism which led to "this". Sure, but reductive. What led to “this” was capitalism. To only say that it was neoliberalism may raise the idea that capitalism is (or would be) possible without neoliberalism. This is false.

It is false because of two immanent laws of capitalism: those of concentration of capital and of profit maximization.

Neoliberalism was and is the logical consequence of the development of capitalism. It is not possible to have capitalism without increasing capital concentration and pursuing profit maximization.

-- It is not possible to increase the concentration of capital and seek to maximize profit without increasing social inequality. The '26' and the '3,800,000,000' are the intertwined verse and reverse of the social outcome of the same laws.

It is demagogic and senseless to defend the laws silencing their results, as if they didn’t exist.

Equally, proclaiming that one can have the verse without the reverse (as the charity-monger demagogues).

-- Social inequality is one of the thermometers of capitalism. Today’s thermometric level "26 = 3.800.000.000" indicates a very high fever.

--- The fever besides being very high is in fact rampant.

In 2018, billionaires' fortunes grew by 12%, at a pace of € 2.2 billion a day -- 11.3 times Portugal's GDP in 2017! -- while the wealth of the poorest half of the world declined by 11%! Oxfam data.

-- The growth of social inequality, if nothing stands in the way, will continue to accelerate.

Social inequality has been growing ever since the post-WWII period until the mid-1970s – a period when the capitalist big bosses, in addition to new opportunities for profit (there was a lot to build after the war destructions and a huge army of unemployed), were compelled to fight against the attraction of the masses for socialism.

-- In addition to social inequality, the following have also increased at a growing pace: the loss of freedoms, the oppression of the working masses, the alienation of the masses led by the mainstream politicians and media, the favoring of pro-fascists solutions, the number of wars and threats of war, the degradation of the environment.

These evils, too, stem inexorably from the immanent laws of capitalism, in particular the law of the concentration of financial capital which is the leit motiv of imperialist aggressions.

No other social system has annihilated so many human beings as capitalism.

In addition to the tens of millions of the two world wars (at least 85 million people according to wikipedia), one must add the victims of many other wars, the victims of hunger and the degradation of the environment, victims of poverty (unemployment being the main cause), of the murders by the "forces of the order", of the prisons and concentration camps, etc.

-- There is only one effective opposition: that of the united struggle of the working masses.

 -- There is only one way out of capitalism: socialism.

-- Without effective opposition and fight leading to socialism, humanity is heading for catastrophe.

-- Cuba has not entered the Oxfam data.