A ridícula pretensão de um tal Guadoi proclamando-se
de moto próprio como «presidente interino» (!) da Venezuela mereceu bombásticas
notícias dos media dominantes de
Portugal. No JN e Público já é o 3.º dia de grandes notícias de 1.ª página e de
página inteira no interior.
De facto, «moto próprio» é força de expressão.
Por detrás do moto próprio de Guadoi – Presidente da Assembleia Nacional -- e
seus apoiantes está a mão própria dos EUA. Cheia de dólares.
Voltemos aos media. O que dizem eles? Pois, como era de esperar, propagam as mentiras
do Império, destinadas a justificar a intervenção militar dos EUA na Venezuela
com o apoio do chamado Grupo de Lima: os países com os governos mais
reaccionários da América Latina -- Colômbia, Brasil, Peru, e outros.
A intenção de preparar um golpe contra a
Venezuela já vem de longe e é também apoiada pela UE. Trata-se de fazer com que
os monopólíos ianques e europeus voltem a pôr a pata na Venezuela, fazendo do país
um mero escravo dos EUA & C.ª É lamentável que o governo de Portugal siga acéfala,
imoral e submissivamente nesta onda, em particular o ministro Santos Silva (que
se diz socialista!) com declarações de mero eco do Império.
Quais são os factos?
-- Nicolás Maduro é um presidente eleito
democraticamente. A oposição participou democraticamente em eleições e
perdeu-as. As eleições foram observadas por comissões internacionais que
atestaram a sua validade. Mas, claro, para os chefões imperiais, seus penduras
e lacaios, é preciso dizer que Maduro é um ditador.
-- O apoio dado por EUA, Grupo de Lima e UE a
Guadoi equivale a apoiar um golpe de estado. No fundo, temos o seguinte quadro:
quando para EUA, Grupo de Lima e UE – quando para os monopólios destes países –
os resultados democráticos são contra os seus interesses, a democracia não lhes
convém. É silenciada ou distorcida. Esta postura enquadra-se no combate aos
direitos dos povos de escolherem soberanamente o seu caminho, combate dos
representantes dos monopólios, enraivecidos pela falta de perspectivas de um
capitalismo em crise. Procuram constantemente abrir perspectivas através da
escravização (interna e externa).
-- Que a Venezuela trilhe um caminho soberano,
saindo da habitual submissão latino-americana ao «irmão grande» do Norte, é
algo que o governo do «irmão» não tolera; além das perdas (Venezuela é um país
com as maiores reservas de petróleo) é um mau exemplo. As declarações oficiais
e documentais de líderes políticos e militares dos EUA revelam isso claramente.
(Remetemos os leitores para a leitura atenta de artigos de José Goulão em AbrilAbril que demonstram isso.)
-- É falso que Maduro seja, como disseram os
nossos jornais e TV, um presidente isolado. Na sua tomada de posse não
estiveram representantes dos EUA e UE. Mas estiveram representantes oficiais de
38 países (China, Rússia, África do Sul, México, e outros), 16 organizações
internacionais (União Africana, Liga Árabe, etc.) e representantes de forças
políticas de 94 países, incluindo EUA e Canadá. Isto não é isolamento.
-- A oposição na Venezuela não é maioritária,
mas sim minoritária. Mas as notícias e fotos dos jornais e TV apresentam a
oposição minoritária ao governo de Nicolás Maduro como se fosse uma maioria.
-- Guadoi é presidente de uma assembleia que
se descridibilizou pelas sistemáticas medidas ilícitas que tomou, contra a
Constituição. É uma assembleia, que se colocou permanentemente fora-da-lei.
-- É sempre a oposição que recorre à
violência: bandos de jovens armados, subsidiados pela CIA – sim, existem
documentos sobre isso -- e com palavras de ordem e símbolos fascistas que
agrediram, incendiaram e mataram inocentes, incluindo da forma mais horrorosa,
decepando com arames ou queimando vivas as vítimas de ataques. Há montanhas de
documentos oficiais e de testemunhos credíveis sobre isso. Mas, os jornais e TV
ao mando dos monopólios «esquecem» esses documentos e testemunhos porque é
preciso acusar de violência um governo que se defende todos os dias de ataques
terroristas.
O JN falou das manifestações das donas de casa
batendo nas panelas com as tampas. Mas «esqueceu-se» de mencionar que esse tipo
de manifestação, envolvendo donas de casa de bom nível de vida, foi uma
invenção da CIA, aplicada pela primeira vez no Chile de Allende para promover o
movimento insurreccional e terrorista do fascista Pinochet.
-- São apresentados números dos que deixaram a
Venezuela fugindo das dificuldades económicas e violência. Mas, os jornais e TV
«esquecem-se» sempre de dizer que as dificuldades económicas são fruto da
guerra económica promovida pelos EUA e atiçada internamente; nomeadamente pelos
armazenistas açambarcadores que forçam o esvaziamento das prateleiras de certos
produtos para aumentar o descontentamento popular e justificar a violência dos
bandos fascistas.
Entre esses açambarcadores estavam alguns
proprietários que foram -- e muito bem – detidos pelas autoridades por
infracção da lei. O que mereceu algumas lágrimas a Santos Silva, sempre
ternurento com respeito aos próceres do Império.
-- Os jornais e TV noticiam alegremente estimativas
inflacionadas dos números de fugitivos, desde milhões a 700 mil. Estimativas
apresentadas sem qualquer explicação. Não lhes interessa; quando se trata de
zurzir os que se insubordinam contra o Império, vale tudo.
De facto, os números segundo vários
observadores e estatísticas das fronteiras não parecem ser superiores a 200
mil. Mas, para além disso, os jornais e TV sofrem de esquecimento de notícias
bem conhecidas e propagandeadas quer pelo governo venezuelano, quer por
observadores independentes. É que o governo do «ditador» Maduro instituiu o
programa «Regresso a la Patria», que promove o regresso dos fugitivos
dando-lhes trabalho, abrigo e um começo de vida. Ao abrigo deste programa já
regressaram mais de 120 mil fugitivos.
Alguns, aliás, regressaram de moto próprio,
porque verificaram que não existia na Colômbia e no Peru o paraíso que lhes
tinham prometido. Sim, porque o fenómeno dos fugitivos também tem a componente
da propaganda imperialista, que incita cidadãos vulneráveis a fugir e os usa
para justificar uma «intervenção humanitária» na Venezuela.
-- A pobreza também é um assunto
constantemente propagandeado, como se fosse Maduro e o chavismo a causa da
pobreza. E aqui, mais uma vez, os jornais e TV convenientemente «esquecem-se»
(convenientemente para mercenários do capital, é claro) que foi precisamente
Chávez e Maduro que mais combateram a pobreza na Venezuela com os muitos
programas sociais que implementaram. Aliás, foi precisamente por isso que o
governo de Chávez ganhou um galardão da ONU e da FAO. Maduro tem continuado
esses programas e ainda há pouco tempo entregou mais 500 mil habitações sociais
Além disso, note-se este facto espantoso do
humanitário e comovido Império, dos humanitários e comovidos jornais e TV: nos
governos que precederam Chávez, nomeadamente do horroroso Andrés Perez que
massacrou o seu povo, apesar da extrema pobreza existente, nunca os jornais e
TV se mostraram comovidos com a pobreza da Venezuela. NUNCA. Nessa altura
Andréz Perez era até muito incensado.
(Isto faz-nos lembrar que no tempo da URSS o
Império enviava fotógrafos a Moscovo com a missão de fotografar pobres. A fim
de propagandear como havia pobreza na Rússia, difamando osocialismo. Esses
mercenariozitos lá iam a Moscovo e, com muita dificuldade, lá descobriam um ou
outro pobre. Depois da restauração capitalista na URSS surgiram milhares de
pobres em Moscovo. Mas então, já os jornais e TV do Império não lhes ligaram
importância. Já não valia a pena fotografá-los.)
* * *
Está tudo bem na Venezuela? Não, não está. O
governo de Maduro tem cometido vários erros (alguns reconhecidos por Maduro).
Entre eles, bem documentados pelo Partido Comunista da Venezuela – que não faz parte do governo --, avultam
o facto do governo não estar a valorizar os trabalhadores e estar a aliená-los
do apoio ao governo, o deixar intocadas grandes corporações domésticas (como a
empresa Polar e muitas cadeias de TV privadas que participam 24 h/dia, 7
dias/semana, nos ataques e desestabilização), e a falta de combate eficaz à
violência e à corrupção.
Ao contrário do que tem sido propagandeado, o
regime Chávez-Maduro não é um regime
socialista. Não existe propriedade social dos principais meios de produção, cadeias
de distribuição e bancos, nem existe um regime encabeçado pela classe
trabalhadora. É, sim, um regime capitalista.
Apesar dos erros e insuficiências do regime
Chávez-Maduro, os democratas valorizam-no por aquilo que tem de positivo: a
devolução do país ao seu povo, arrancando-o de debaixo da bota do Império, dos
grandes monopólios estado-unidenses e multinacionais, a defesa de uma política
soberana onde quem decide são representantes do povo e não representantes dos
monopólios, que procura colocar os recursos e fruto do trabalho ao serviço do
povo. Procura e tem conseguido, conforme demonstram as medidas sociais
avançadas que diminuíram a pobreza, melhoraram os cuidados de saúde, diminuíram
fortemente a mortalidade infantil, realizaram um trabalho gigantesco de construção
de habitação social e levaram a educação gratuita às grandes massas.
(Ver os vários artigos que escrevemos sobre a
Venezuela, com citações de documentos e estatísticas oficiais.)
É atribuído a Goebbels, ministro de propaganda
de Hitler, o dito «Se se repetir uma mentira vezes suficientes o povo
acreditá-la-á». Na fase actual do capitalismo cada vez mais os chefes do
capital monopolista recorrem a soluções de extrema-direita. Não é por acaso que
governos de extrema-direita são a «moda» nos EUA e UE. Não nos deve, portanto,
surpreender que para os media
controlados pelo pensamento único do capital – é preciso destruir a Venezuela
Bolivariana – para dar esse golpe é preciso mentir, mentir, e mentir sempre mais.
Cabe aos democratas consequentes contribuir com
firmeza para o desmascaramento das mentiras do imperialismo americano e europeu,
das mentiras de Trump, Bolton, Merkel, Juncker, Mácron, etc., e defender a
Venezuela contra os planos de intervenção imperialista: Mãos Fora da Venezuela!