terça-feira, 5 de maio de 2020

Sobre Trotski – VIII | On Trotsky – VIII

Março de 1921 a Janeiro de 1923: o crescente distanciamento entre Lénine e Trotski
March 1921 to January 1923: the growing estrangement between Lenin and Trotsky 



O período do X Congresso do PCR(b) (16-Mar-1921) até ao fim de 1922 é um período extremamente rico, complexo e denso de acontecimentos políticos da RSFSR e URSS (constituída em 28-Dez-1922), quase desconhecido no Ocidente. 

É um período marcado por insubstituíveis contribuições de Lénine para a teoria da construção socialista, cujo interesse permanece actual. Contribuições quanto à resolução das grandes questões candentes e nas condições da Rússia nessa época: a NEP como etapa de construção do socialismo; a reorganização dos aparelhos do Partido e do Estado; a formação da URSS, a questão das nacionalidades e a construção de nações-estados; a Internacional Comunista (Comintern) e a formulação de orientações dos partidos comunistas dos paises capitalistas e/ou oprimidos que enfrentavam um ressurgimento do ataque capitalista às massas trabalhadoras, nomeadamente com o o apoio do fascismo.

É um perído marcado pela luta política de Lénine e dos leninistas que constituíam a larga maioria do partido e gozavam da confiança e apoio de amplas massas populares, contra os ataques de Trotski. Trotski que, neste período, se afasta irrevogavelmente de Lénine.

Trotski não esteve sozinho. Tinha poucos mas importantes apoiantes em lugares de topo do Partido e do Estado: especialistas imbuídos de espírito pequeno-burguês. Também eles revelaram, em vários aspectos, a sua oposição à via leninista de construção do socialismo, seguindo as opiniões derrotistas e aventureiras de Trotski justificadas por fraseologia de «esquerda». Não por acaso as teses de Trotski foram mais tarde usadas por Khrutchev e Gorbatchev; pelo primeiro, no início do esvaziamento do socialismo; pelo segundo, no desmantelamento do socialismo que ainda sobrava e na restauração capitalista.

Para compreender este período consideramos indispensável o livro «Politicheskoye zaveshchaniye» Lenina: real'nost' istorii i mify politiki (O "Testamento Político" de Lénine. Realidade histórica e mitos políticos) escrito por V. A. Sakharov (não confundir com o reaccionário Andrei Sakharov, amigo do fascista Soljenitsine, e tal como ele agraciado com o Prémio Nobel e apreço dos imperiais), publicado em 2003 pela Editora da Universidade Estatal de Moscovo (o original em russo está online). [139]  Trata-se de um livro solidamente documentado, com análises objectivas. Não conhecemos traduções. Um outro livro a que recorremos é Outline History Of The Communist Party Of The Soviet Union, Part II (Esboço da história do Partido Comunista da União Soviética, Parte II) escrito por N. N. Popov. [140] Um livro já antigo (1934), mas ainda de interesse. Vários livros que consultámos de autores ocidentais são parcos ou omissos de informações, e alguns com análises sem credibilidade por inconsistência com factos (caso de E. H. Carr que vimos na Parte VII).

No presente artigo iremos apenas analisar os aspectos que consideramos mais importantes e que retratam melhor a oposição do Leninismo ao Trotskismo.
The period from the X Congress of the PCR(b) (16-Mar-1921) to the end of 1922 is an extremely rich, complex and dense period of political events in the RSFSR and the USSR (founded on 28-Dec-1922), practically unknown in the West.

It is a period marked by Lenin’s irreplaceable contributions to the theory of socialist construction, whose interest remains integral to our days. The contributions regarding the resolution of major burning issues in the conditions of Russia at the time focused: the NEP as a stage in the construction of socialism; the reorganization of the Party and State apparatuses; the formation of the USSR, with the question of nationalities and nation-state building; the Communist International (Comintern) and the formulation of guidelines for the Communist Parties of the capitalist and/or oppressed countries facing a resurgence of the capitalist attack on the working masses, namely with the support of fascism.

It is a period marked by the political struggle of Lenin and the Leninists, who made up the vast majority of the Party and enjoyed the confidence and support of the broad popular masses, against Trotsky's attacks. Trotsky who, during this period, irrevocably distances himself from Lenin.

Trotsky was not alone. He had a few but important supporters in top positions of the Party and the State: specialists imbued with the petty-bourgeois spirit. They too manifested, in various aspects, their opposition to the Leninist course on the construction of socialism, following the defeatist and adventurous opinions of Trotsky justified by "left" verbiage. It was not by chance that Trotsky's theses were later used by Khrushchev and Gorbachev; the former, at the onset of emptying up socialism; the latter, in dismantling the socialism that still remained and restoring capitalism.

In order to understand this period we consider indispensable the book «Politicheskoye zaveshchaniye» Lenina: real'nost' istorii i mify politiki (Lenin's "Political Testament". Historical Reality and Political Myths) by V. A. Sakharov  (not to be confused with the reactionary Andrei Sakharov, friend of the fascist Solzhenitsyn, and as with him awarded the Nobel Prize and appreciation of the imperials), published in 2003 by the Moscow State University Publisher (the Russian original is online). [139] It is a solidly documented book, with objective analyzes. We are not aware of any translations. Another book we resorted to is Outline History Of The Communist Party Of The Soviet Union, Part II, by N. N. Popov. [140] An old book (1934), but still of interest. Several books that we consulted of Western authors contain sparse or missing information, and in addition some contain analyzes lacking credibility due to inconsistency with facts (as in the case of E. H. Carr that we analyzed in Part VII).

In the present article we only analyze the aspects that we consider most important and that best demonstrate the opposition of Leninism to Trotskyism.

Características da luta política de Trotski neste período

A leitura dos trabalhos de Trotski no período em questão, publicados no Ocidente, transmitem uma falsa impressão sobre a luta política de Trotski contra o leninismo. Para além de faltarem trabalhos e partes de trabalhos, uma leitura pouco atenta e desinformada do contexto pode até sugerir que Trotski defende a via leninista (bolchevique) de construção do socialismo. E sem dúvida Trotski esforçou-se em alguns trabalhos (sobre a NEP e, em particular, nos seus discursos em reuniões da Comintern) por transmitir a ideia do seu «bolcheviquismo» e até de inspirador do leninismo (vimos um exemplo disso na Parte VII). Isto convinha-lhe para se apresentar como o herdeiro de Lénine, escolhido por ele para lhe suceder na liderança do partido.

Contudo, existem já muitos documentos, quase todos desconhecidos no Ocidente (actas e notas de congressos, de sessões plenárias do Comité Central (CC) e do Politburo (PB),  memórias de membros do CC e PB, etc.), que mostram claramente que no período em questão Trotski se perfilou contra Lénine e o partido, despojando-se da aura de «bolcheviquismo» de que gozara até ao final da guerra civil. Quanto a documentação, assinale-se que ainda falta um grande volume porque, segundo todos os autores que conhecemos que não afinaram/afinam pelo diapasão anti-Estáline, anti-comunista -- incluindo V. Sakharov –, a todos como eles foi-lhes vedado o acesso aos arquivos a partir de Khrutchev. Efectivamente, muitos documentos agora conhecidos foram divulgados por autores anti-comunistas a quem foi concedido acesso aos arquivos durante a «perestroika», com o objectivo de fornecer a Gorbatchev e comparsas armas contra o comunismo. Gorbatchev e comparsas não tiveram o sucesso que desejavam nesta abertura.

Existem, porém, documentos de Trotski publicados no Ocidente que são reveladores. Um exemplo é a carta de 21-Dez-1921 a M.S. Olminski, um historiador nomeado pelo Conselho dos Comissários do Povo (CPC) de 21-Set-1920 para presidir à Comissão de História do Partido. Trotski aconselha-o nessa carta a não publicar as suas antigas cartas ao menchevique Tchkeidze, entre as quais a de 1-Abr-1913 em que verberava Lénine em termos insultuosos (ver Parte III). O conselho não se devia, contudo, a ter ultrapassado as suas antigas ideias. Bem pelo contrário. Diz assim (ênfases a negrito e interpolações em parênteses rectos são sempre nossos):

«[Publicar as cartas a Tchkeidze] seria recontar as divergências que tinha nesse tempo com os bolcheviques. … Não vejo necessidade de voltar a esse assunto ... Aliás, essa revisão retrospectiva da luta entre fracções poderia ainda hoje gerar polémica, porque, confesso francamente, não acho de modo algum que, nas minhas divergências com os bolcheviques, estivesse errado em todos os aspectos. Estava completamente errado na minha avaliação da fracção menchevique: sobrestimei as suas capacidades revolucionárias e achei possível isolar e neutralizar a sua ala direita. No entanto, esse erro fundamental devia-se ao facto de analisar as duas fracções, bolchevique e menchevique, colocando-me na perspectiva da revolução permanente e da ditadura do proletariado, enquanto bolcheviques e mencheviques adoptaram nessa altura o ponto de vista da revolução burguesa e da república democrática. Eu não tinha percebido que as duas fracções estavam separadas por divergências tão profundas, e esperava ... que o próprio curso da revolução as levasse ao programa da revolução permanente ...

«Ainda hoje seria capaz de separar facilmente os meus artigos polémicos ... em duas categorias: os focados na análise das forças internas da revolução ... e aqueles em que avaliei as fracções ... Poderia ainda hoje publicar os artigos da primeira categoria sem fazer qualquer correção, porque eles são totalmente concordantes com a posição adoptada pelo nosso partido desde 1917. ...» [141]

Portanto, segundo Trotski, o seu erro foi ter «sobrestimado» as capacidades revolucionárias dos mencheviques (!) quando estes nunca esconderam a sua aliança com a burguesia na época em que Trotski andava de braço dado com eles. Foi ter achado possível isolar e neutralizar a sua ala direita (!) quando nunca mostrou intenções da fazê-lo e, pelo contrário, apoiou F. Dan que era do mais à direita dos mencheviques. Esse «erro» deveu-se a ter-se colocado na perspectiva da revolução permanente, enquanto os bolcheviques (Lénine incluído, claro) adoptaram o ponto de vista da revolução burguesa! Não tinha percebido (!) que as duas fracções estavam separadas por divergências tão profundas. E esperava que o próprio curso da revolução os levasse – a ambos, mencheviques e bolcheviques (!)  -- ao programa da revolução permanente! Revolução permanente, cuja «perspectiva» fora causa do seu «erro fundamental». (Para que serve então a «teoria» da revolução permanente?) Mas que, pelos vistos, continuava válida, como ele próprio insinua e continuará a afirmar em artigos do período em questão. Aliás, ao dizer que os seus «artigos polémicos ... focados na análise das forças internas da revolução» são «totalmente consistentes com a posição adoptada pelo nosso partido desde 1917» sugere que foi Lénine e o POSDR(b) que adoptaram as posições de Trotski. É uma das muitas mentiras flagrantes desta carta (já vimos que Lénine frequentemente criticou a análise de Trotski «das forças internas da revolução») que mais tarde Trotski repetirá, como se irá ver.

Note-se também uma característica de Trotsky: começa por dizer que errou quando obrigado a isso pelas circunstâncias para mais tarde concluir que afinal tinha razão e que foi a sua razão que inspirou os outros.

A partir de 1921 as relações entre Trotski e Lénine deterioram-se cada vez mais, ao contrário do que Trotski mais tarde procurou sustentar nas suas obras, fazendo-se passar por o «escolhido» de Lénine. Trotski cada vez mais se distancia de Lénine na teoria e na prática. Um indicador disso é o número de contactos entre Lénine e Trotski em comparação com outros membros do PB, Estáline, Kamenev e Zinoviev. Em 1922, p. ex., na correspondência iniciada por Lénine com membros do PB, Trotski aparece abaixo de todos os outros [142]. Enquanto, do total da correspondência iniciada por Lénine, 70,2% se destina a Estáline, Trotski é destinatário apenas 16,9% das vezes e numa gama de assuntos muito mais estreita. [142]

Em 1921 e 1922 a luta política de Trotski contra Lénine e os órgãos dirigentes do Partido sube de tom. Nas reuniões do PB a sobranceria de Trotski atinge o abuso: passava as reuniões a estudar inglês [143] e numa delas chamou «rufião» a Lénine [144].

Num testemunho de membros do PB de 1922 é afirmado: «O trabalho de equipa entre o cam. [camarada] Trotski e a maioria do Politburo já se arrasta há muitos anos principalmente na forma do camarada Trotski a enviar cartas e declarações nas quais invariavelmente critica quase todas as atividades do CC...» [145]

Nma carta assinada por 9 membros e candidatos a membro do PB [146], de 31- Dez-1923, estes escreveram: «Antes da doença do cam. Lénine, nos dias em que o cam. Lénine supervisionou directamente o trabalho do Politburo» Lénine «não podia trabalhar com calma, precisamente porque o cam. Trotski introduziu os elementos de fraccionismo e desconexão que instilou cada vez mais após a doença do cam. Lénine.» [147]

Molotov, nas suas recordações [148], também refere que no Verão de 1921 "já era impossível trabalhar com Trotski".

*   *   *
A luta política de Trotski era multifacetada. Para além da mentira, intriga e dissimulação, recorreu no período em questão a:
1) demagogia;
2) utilizar os seus apoiantes (Preobrajenski, N. Osinski, Piatakov, Krestinski, Serebriakov, etc.) para conduzir a sua luta contra o Partido [149];
3) disseminar a ideia da NEP como fim da revolução socialista e bancarrota do leninismo;
4) procurar dominar o aparelho económico;
5) republicar os seus velhos artigos sobre a «revolução permanente» para um combate dissimulado do leninismo.

Dois exemplos de (1):

a) Trotski no seu panfleto sobre os sindicatos (ver Parte VI) defendeu a seguinte tese: «Na área do consumo, isto é, das condições da vida pessoal dos trabalhadores, é necessário seguir a línha do igualitarismo. Na esfera da produção, o princípio do trabalho de choque continuará durante muito tempo a ser decisivo». Lénine citou-a em Os sindicatos, o momento actual e os erros de Trotski, 30-Dez-1920, rebatendo-a assim:
«Isto é um perfeito emaranhado teórico. É totalmente falso. Trabalho de choque é uma preferência de escolha, mas uma preferência sem consumo não é nada. Se me preferem tanto que recebo um oitavo de pão, muito obrigado por essa preferência. A preferência por trabalho de choque é também preferência pelo consumo. Sem isso o trabalho de choque é um sonho, una quimera, e apesar de tudo somos materialistas. E os trabalhadores também são materialistas quando se lhes fala em trabalho de choque; dizem: dêem-nos pão, roupa e carne. Este é o nosso critério, e sempre o foi...»
Trotski manteve em escritos posteriores esta demagogia igualitarista que atraía o apoio dos estratos mais atrasados ​​dos trabalhadores, mais infectados por preconceitos pequeno-burgueses.

b) Trotski defendeu no XI Congresso que a «mais importante» tarefa do partido era a educação da geração jovem [150]. Queria atrair jovens inexperientes para o seu lado e fazer deles oposição ao partido, como se viu mais tarde com Estáline. Lénine e os leninistas, sem descurarem a preparação ideológica (o partido tinha cursos para isso) via a educação política da geração jovem como parte do processo da construção socialista. Para Trotski isso era inaceitável porque para ele a revolução ainda não era socialista. Além disso, via a educação dos jovens  como garantia do amanhã da revolução, desprezando o facto de que a experiência da vida não pode ser substituída por estudos teóricos. Afastava-se, assim, da conhecida tese do marxismo de que é o ser que determina a consciência.

Dois exemplos de (2):

a) Quando Lénine propôs ao XI Congresso do PCR(b) criar pela primeira vez o cargo de Secretário-Geral e eleger Estáline para esse cargo houve uma aceitação geral da proposta. O próprio Trotski não se opôs. Mas Preobrajenski, aliado de Trotski, [151] manifestou a sua oposição o que motivou a seguinte réplica de Lénine: «O que podemos fazer para preservar a situação actual no Comissariado do Povo das Nacionalidades? Para lidar com todas as questões do Turquestão, do Caucáso e outras questões? Todas estas questões são políticas! Para resolver essas questões ... precisamos de alguém a quem os representantes de qualquer uma dessas nações possam abordar e discutir as suas dificuldades ... Onde podemos encontrar alguém assim? Não me parece que o cam. Preobrajensky possa sugerir um candidato melhor que o cam. Estáline. O mesmo se aplica à Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses. Este é um assunto vasto; mas, para poder lidar com as investigações, devemos ter à frente um homem que goze de grande prestígio; caso contrário, ficaremos submersos e ultrapassados por pequenas intrigas.» Estáline foi eleito por 193 votos a favor e 16 contra.

b) Piatakov chefiava em 1921 a Directoria Central da Indústria de Carvão do Donbass. A sua missão envolvia um enorme trabalho para normalizar a extracção das grandes minas de carvão do Donbass, o que implicava reunir vontades para a tarefa. Mas Piatakov, como bom trotskista, aplicou métodos burocráticos militares de gestão, impedindo assim a incorporação das massas trabalhadoras no trabalho mineiro e industrial. Além disso, subestimou a importância de restaurar pequenas minas e outros ramos da indústria, e interrompeu a iniciativa de organizações partidárias locais e sindicatos na construção económica. Na VI Conferência do PC(b) da Ucrânia, realizada de 9 a 13 de Dezembro de 1921, os delegados do Donetz e de outras organizações condenaram severamente os métodos de trabalho de Piatakov. Após a conferência, Piatakov foi retirado do seu cargo no Donbass. Lénine refere-se a este caso no seu relatório do CC ao XI Congresso em 27-Mar-1921 como exemplo de como um militante comunista não deve actuar. Objectivamente, Piatakov, insistindo em métodos já condenados pelo partido, sabotou a linha de actuação do partido.

Dois exemplos de (3):

a) No X Congresso teve lugar uma sessão fechada na qual Trotski apresentou o relatório sobre o exército. Por proposta categórica de Lénine, adoptada pelo Congresso apesar da oposição de Trotski, não foi feito registo estenográfico do relatório. Na altura os abastecimentos do exército eram gravemente afectados pela crise económica. Iniciara-se a desmobilização e o descontentamento entre os camponeses afectava o ànimo dos soldados. Todos estes factos foram apresentados por Trotski com ênfase exagerada, de pânico, que distorcia totalmente a situação do Exército Vermelho. Pelo que Trotsky disse, apenas uma conclusão era possível: o governo soviético entraria em colapso em muito pouco tempo. Era mais uma uma manifestação derrotista de Trotski, com a sua característica falta de confiança no Partido, no governo soviético e na classe trabalhadora. O Congresso delineou uma série de medidas para fortalecer o Exército Vermelho apesar da redução numérica. [152]

b) A atitude derrotista de Trotski quanto à revolução socialista na Rússia agravou-se com a NEP. Na sua opinião, a NEP tinha enterrado a revolução socialista, que só poderia ser salva pela revolução proletária mundial. Na reunião do PB de 25-Ago-1921 Trotski declarou que «os dias do poder soviético estão contados», que «o cuco já cantou» [153], que a morte do poder soviético era inevitável caso as suas propostas de política económica e de gestão da economia não fossem adoptadas. Yaroslavski, secretário do CC em 1921, lembrou mais tarde que «Lénine expressou repetidamente extrema insatisfação com Trotski, dizendo que estava “mortalmente cansado” da histeria de Trotsky» [154].
*   *   *
Veremos outros exemplos nas próximas secções.
Characteristics of Trotsky's political struggle in this period

The works of Trotsky that have been published in the West for the period in question convey a false impression about the political struggle of Trotsky against Leninism. In addition to works and parts of works that are missing in the West, a less attentive and/or a context uninformed reading may even suggest that Trotsky defended the Leninist (Bolshevik) way of building socialism. Trotsky indeed did not spare efforts in some of his works (on the NEP and, particularly, in his speeches at Comintern meetings) to convey the idea of his “Bolshevikism” and even of having been an inspirer of Leninism (we saw an example of this in Part VII). This suited him well to present himself as Lenin's heir, chosen by Lenin as successor in the leadership of the Party.

Nevertheless, many documents are already avilable, almost all unknown in the West (minutes and notes of congresses, plenary sessions of the Central Committee (CC) and the Politburo (PB), memoirs of members of the CC and PB, etc.), clearly showing that during the period in question Trotsky took a stand against Lenin and the Party, divesting himself of the "Bolshevik" aura he had enjoyed until the end of the civil war. As for the documentation, it should be noted that a large amount is still missing because, according to all the authors we know who were/are not tuned to the anti-Stalin, anti-communist trend -- including V. Sakharov --, everyone out of tune to the trend had the access to the archives blocked since Khrushchev. As a matter of fact, many documents that are presently known were divulged by anti-communist authors who were granted access to the archives during the "perestroika", with the aim of providing weapons against communism to Gorbachev and his cronies. Gorbachev and his cronies did not reap the success they desired in this opening.

There are, however, documents by Trotsky published in the West that are revealing. An example is a letter dated 21-Dec-1921 to M.S. Olminsky, a historian appointed by the Council of People's Commissars (CPC) on 21-Sep-1920 to chair the Commission of Party History. Trotsky advises him in the letter not to publish his old letters to the Menshevik Chkeidze, including the one of 1-Apr-1913 in which Lenin was criticized in abusive terms (see Part III). Trotsky’s advice was not, however, motivated by having surpassed his old ideas. Quite the opposite. He wrote (emphases in bold and interpolations in square brackets are always ours):

“[To publish the letters to Chkeidze] would tell the divergences I had at that time with the Bolsheviks. … I do not see the need to return to this subject ... Moreover, this retrospective review of factional struggle could, still now, give rise to controversy, because, I confess frankly, I do not think at all that, in my disagreements with the Bolsheviks, I was wrong on all points. I was completely wrong in my assessment of the Menshevik faction: I overestimated its revolutionary capabilities, and I thought possible to isolate and neutralise its right wing. However, this fundamental error is due to the fact that I was analysing the two factions, Bolsheviks and Mensheviks, by placing myself from the perspective of the permanent revolution and of the dictatorship of the proletariat, while, at that time, the Bolsheviks and Mensheviks were adopting the point of view of the bourgeois revolution and of the democratic Republic. I had not realised that the two factions were separated by such deep divergences, and I was hoping … that the course of the revolution would lead them to the programme of the permanent revolution

“Today, I would still be able to easily separate my polemical articles … into two categories: those focused on the analysis of the internal forces of the revolution … and those in which I evaluated the factions ... Now I could still publish articles of the first category without making any correction, because they are entirely consistent with the position adopted by our Party since 1917. …” [141]

Therefore, according to Trotsky, his mistake was due to having "overestimated" the revolutionary capabilities of the Mensheviks (!) though they never hid their alliance with the bourgeoisie at the time Trotsky went hand in hand with them. It was also due to finding it possible to isolate and neutralize their right wing (!) when he never showed any intention to do so and, on the contrary; he supported F. Dan who was in the rightmost wing of the Mensheviks. The "error" was due to having placed himself in the perspective of the permanent revolution, whereas the Bolsheviks (Lenin included, of course) adopted the point of view of the bourgeois revolution! He hadn't realized that the two factions were separated by such deep divergences (!). And he had hoped that the course of the revolution would lead them -- both Mensheviks and Bolsheviks (!) -- to the program of the permanent revolution! Permanent revolution, whose "perspective" was the cause of his "fundamental error." (What was then the "theory" of permanent revolution good for?) But which, apparently, was still valid, as he himself implies and will continue to state in articles of the period in question. In fact, when stating that his "polemical articles ... focused on the analysis of the internal forces of the revolution" are "entirely consistent with the position adopted by our Party since 1917" he is suggesting that it was Lenin and the RSDLP(B) who adopted the positions of Trotsky. This is one of the many blatant lies of the letter (we have already seen that Lenin frequently criticized Trotsky's analysis of "the internal forces of the revolution") that Trotsky will later repeat, as will be seen.

Note also a characteristic of Trotsky: he begins by saying that he was wrong when the circumstances forced him to do so, only to conclude later on that he was right after all, and that it was his reason that inspired others.

As of 1921, the relationship between Trotsky and Lenin deteriorated more and more, contrary to what Trotsky later sought to sustain in his works, posing as Lenin's "chosen" one. Trotsky becomes increasingly estranged from Lenin in theory and practice. An indicator of this is the number of contacts between Lenin and Trotsky compared to other members of the PB, Stalin, Kamenev and Zinoviev. In 1922, e.g., in Lenin's correspondence with members of the PB, Trotsky appears below all the others [142]. Whereas, out of the total correspondence initiated by Lenin, 70.2% is destined to Stalin, Trotsky is the addressee only 16.9% of the time and on a much narrower range of subjects. [142]

In 1921 and 1922 Trotsky's political struggle against Lenin and the governing bodies of the Party escalated. In the PB meetings, Trotsky's haughtiness reaches the point of abuse: he spent the meetings studying English [143] and in one of them called Lenin a "bully" [144].

A testimony of members of the PB in 1922 states: “The teamwork between comr. [comrade] Trotsky and the majority of the Politburo has been going on for many years mainly in the form of comr. Trotsky sending letters and declarations in which he invariably criticizes almost all activities of the CC.” [145]

In a letter signed by 9 members of and candidates to the PB [146], of 31-Dec-1923, they wrote: “Before the illness of comr. Lenin, in those days when comr. Lenin directly supervised the work of the Politburo," Lenin "could not work calmly precisely because comr. Trotsky introduced those elements of factionalism and disconnection which he increasingly instilled after comr. Lenin fell ill." [147]

Molotov, in his recollections [148], also mentions that in the summer of 1921 "it was already impossible to work with Trotsky".

*   *   *
Trotsky's political struggle was multifaceted. In addition to lying, intrigue and deception, in the period in question he resorted to:
1) demagoguery;
2) using supporters (Preobrazhensky, N. Osinsky, Pyatakov, Krestinsky, Serebryakov, etc.) to conduct the struggle against the Party [149];
3) dissemination of the idea of the NEP as the end of the socialist revolution and bankruptcy of Leninism;
4) seeking to dominate the economic apparatus;
5) republishing his old articles on the "permanent revolution" for a disguised fight against Leninism.

Two examples of (1):

a) Trotsky in his brochure on the trade unions (see Part VI) defended the following thesis: “The equalization line should be pursued in the sphere of consumption, that is, the conditions of the working people’s existence as individuals. In the sphere of production, the principle of shock work will long remain decisive for us.” Lenin quoted it in The Trade Unions, The Present Situation, And Trotsky’s Mistakes, 30-Dec-1920, rebuking it:
“This is a real theoretical muddle. It is all wrong. Shock work is a chosen preference, but preference is nothing without consumption. If all the preference I get is a couple of ounces of bread a day I am not likely to be very happy. The preference part of shock work implies preference in consumption as well. Otherwise, priority is a pipe dream, a fleeting cloud, and we are, after all, materialists. The workers are also materialists; if you say shock work, they say, let’s have bread, and clothes, and beef. That is the view we now take, and have always taken…”
Trotsky maintained in later writings this egalitarian demagoguery which attracted the support from the backward strata of the workers, the most infected by petty-bourgeois prejudices.

b) Trotsky argued at the XI Congress that the Party's "most important" task was the education of the young generation [150]. He wanted to attract to his side inexperienced young people and make out of them an opposition to the Party, as seen later with Stalin. Lenin and the Leninists, without neglecting ideological preparation (the Party had courses for that), saw the political education of the young generation as part of the process of socialist construction. For Trotsky this was unacceptable because for him the revolution was not yet socialist. Furthermore, he saw the education of young people as a guarantee of the future of the revolution, disregarding the fact that the experience of life cannot be replaced by theoretical studies. He thus departed from the well-known Marxist thesis that it is the being that determines consciousness.

Two examples of (2):

a) When Lenin proposed to the XI Congress of the RCP(B) to create for the first time the position of Secretary-General and elect Stalin to that position, there was general acceptance of the proposal. Trotsky himself did not object. But Preobrazhensky, Trotsky's ally, [151] expressed his opposition, motivating the following reply of Lenin: "What can we do to preserve the present situation in the People’s Commissariat of Nationalities; to handle all the Turkestan, Caucasian, and other questions? These are all political issues! But to settle these questions ... we need a man to whom the representatives of any of these nations can go and discuss their difficulties .... Where can we find such a man? I don’t think Comrade Preobrazhensky could suggest any better candidate than comr. Stalin. The same thing applies to the Workers’ and Peasants’ Inspection. This is a vast matter; but to be able to handle investigations we must have at the head of it a man who enjoys high prestige, otherwise we shall become submerged in and overwhelmed by petty intrigue.” Stalin was elected by 193 votes in favor and 16 against.

b) Pyatakov headed in 1921 the Central Directorate of the Donbass Coal Industry. His mission involved a huge task of normalizing the extraction of the big coal mines of the Donbass, which implied gathering people efforts for the task. But Pyatakov, as a good Trotskyist, applied military bureaucratic methods of management, thus impeding the incorporation of the working masses into mining and industrial work. In addition, he underestimated the importance of restoring small mines and other branches of industry, and interrupted the initiative in economic construction of the local Party organizations and trade unions. At the VI Conference of the CP(B) of Ukraine, held from 9 to 13 December 1921, delegates from Donetz and other organizations severely condemned Pyatakov's working methods. After the conference, Pyatakov was removed from his position at the Donbass. Lenin refers to this in his report of the CC to the XI Congress on March 27-Mar-1921 as an example of how a communist militant should not act. Objectively, Pyatakov, insisting on methods already condemned by the Party, sabotaged the Party's line of action.

Two examples of (3):

a) A closed session took place at the X Congress at which Trotsky presented his report on the army. Per Lenin's categorical proposal, adopted by the Congress despite Trotsky's opposition, no shorthand record of the report was made. At the time, the army supplies were severely affected by the economic crisis. The demobilization had begun and discontent among the peasants affected the mood of the soldiers. All of these facts were presented by Trotsky with an exaggerated, panicked emphasis, which totally distorted the situation of the Red Army. From what Trotsky said, only one conclusion was possible: the Soviet government would collapse in a very short time. It was yet another defeatist demonstration by Trotsky, with his characteristic lack of confidence in the Party, the Soviet government and the working class. The Congress outlined a series of measures to strengthen the Red Army, despite its reduction in numbers. [152]

b) Trotsky's defeatist attitude towards the Russian socialist revolution worsened with the NEP. In his opinion, the NEP had buried the socialist revolution, which could only be saved by the world proletarian revolution. At the PB meeting of 25-Aug-1921 Trotsky declared that "the days of Soviet power are numbered", that "the cuckoo has already crowed" [153], that the death of Soviet power was inevitable if his proposals regarding the economic policy and the management of the economy were not adopted. Yaroslavsky, secretary of the CC in 1921, later recalled that "Lenin repeatedly expressed extreme dissatisfaction with Trotsky, saying that he was ‘mortally tired’ of Trotsky's hysteria" [154].
*   *   *
Further examples will be presented in the following sections.

Trotski e a NEP

Vimos no artigo anterior (Parte VII) como Trotski se arrogou o papel de inspirador da NEP, invocando a sua carta ao PB de 20-Fev-1920, que mencionou no X Congresso do PCR(B) em Março de 1921 e repetiu, quase palavra por palavra, no XI Congresso em 29-Mar-1922. Neste congresso também voltou à sua antiga ideia de «nacionalizar» os sindicatos. Sobre isto, Trotski abriu assim o seu discuso de 29 de Março:
«Camaradas, a resolução do X Congresso sobre os sindicatos não sobreviveu até ao XI, como alguns de nós previram. O que não sobreviveu? A parte que caracterizava o relacionamento dos sindicatos com os órgãos económicos ...» [155]
Trotski, o profeta (como lhe chama o seu biógrafo trotskista I. Deutscher), cujas previsões saíam sempre certas, não tem razão quando diz que não sobreviveu «o relacionamento dos sindicatos com os órgãos económicos». De facto esse relacionamento sobreviveu e contribuiu para o sucesso da NEP. Nunca mais a questão dos sindicatos se colocou e no XI Congresso ninguém a levantou. Só Trotski, para quem os factos se tinham de adaptar às suas ideias e não o contrário.

Voltemos à NEP. A visão de Trotski, da carta de 20-Fev-1920, tinha de facto já sido proposta no seu relatório apresentado em 6 de Janeiro de 1920 ao Comité de Moscovo do RCP(b):
“Enquanto houver escassez de pão, o camponês terá que dar à economia soviética um imposto em espécie na forma de pão, sob pena de represália impiedosa. Num ano o camponês acostumar-se-á a isso e dará o pão. Alocaremos unidades proletárias, cem ou duas mil, para criar bases alimentares. E assim, tendo criado... a possibilidade de serviço geral de trabalho, compulsório, com o enorme significado do factor educativo, seremos capazes de pôr a nossa economia em ordem”. [156]

Trotski, apesar de falar em «imposto em espécie», mantinha os métodos coercivos do «comunismo de guerra» sobre os camponeses. Com a agravante, na carta de Fevereiro de 1920 (ver Parte VII), da coerção ser aplicada sobre os pequenos e médios camponeses enquanto defendia o favorecimento dos kulaks. Era uma visão da NEP totalmente oposta à de Lénine, para quem as medidas da NEP na agricultura, para além da resolução do problema alimentar, tinham também em vista reforçar a aliança do proletariado com os pequenos e (até certo ponto com os) médios camponeses (onde lavrava descontentamento e insurreições que ameaçavam a revolução) e combater a contra-revolução kulak. Para Lénine, a aliança com o camponesinato pobre era condição sine qua non para levar por diante a revolução socialista. (A NEP leninista também tinha como objectivo a transformação social de outras camadas pequeno-burguesas, como os arteãos e comerciantes.) Esta aliança estratégica do leninismo era totalmente contrária à visão sectária e irrealista da «revolução permanente» que Trotski nunca abandonou.

Depois do X Congresso Lénine continuou a desenvolver importantes acções de esclarecimento e orientações das medidas da NEP. Em 26-Mai-1921 teve lugar a X conferência do PCR(b) onde Lénine discursou. Trotski não participou. A Conferência formulou directrizes da NEP e de como esclarecer os trabalhadores, vencer confusões em algumas secções do partido, e combater os argumentos de SRs e mencheviques. Estes procuraram, acima de tudo, criar pânico nos trabalhadores e imbuí-los da convicção de que o governo soviético estava falido e que estava a ocorrer não um recuo organizado, mas uma fuga em pânico. Diziam ainda que o governo soviético já não era um governo dos trabalhadores e que estava a degenerar para o lado da burguesia. Depositavam esperanças na «NEP política» segundo a sua expressão. Os social-democratas estrangeiros também divulgavam nos jornais a ideia de que a NEP era uma capitulação à burguesia, um repúdio do comunismo e qualificaram a NEP como «o início da rejeição do programa do PCR e a rejeição do comunismo» [157].

Trotski e os trotskistas – que estavam organizados como fracção [158] – aproveitaram esta propaganda: pânico, recuo para o capitalismo, degeneração do partido, etc.

Além do imposto em espécie, uma componente da NEP leninista era restabelecer o comércio interno e relações monetárias. Trotski nunca fala em «relações de mercado»; refere-se apenas à «distribuição» de produtos industriais aos camponeses com «maior correspondência entre a distribuição de produtos industriais aos camponeses e a quantidade de pão que entregam... Atrair empresas industriais locais para isso», medida esta que afirnou na dirigir-se aos kulaks. A «NEP» de Trotski estimulava principalmente o kulak – como ele próprio reconhecia  -- que, além de poder pagar um imposto mais baixo, tinha mais capacidade de relações contratuais com empresas (carta de 20-Fev-1920, Parte VII). Os camponeses médios e pobres não podiam competir com isso. Isto é, as propostas de Trotski estimulavam o kulak -- o inimigo do poder soviético -- à custa dos camponeses pobres e médios. Assim, enquanto a NEP de Lénine levova à expansão da base social da revolução socialista, as propostas de Trotski levavam ao seu estreitamento.

Além disso, Trotsky não via a NEP como um recuo temporário, mas como um recuo que se manteria até pelo menos à revolução proletária europeia, conforme diria num discurso no Comintern em 1922. Caso contrário, a revolução socialista da Rússia cairia. [159]

Trotsky aparentemente adoptou as propostas de Lénine para a transição para o imposto em espécie, já que votou nelas no X Congresso do PCR(b) (8-16 de Março de 1921). Mas alguns meses depois agravavam-se as suas divergências com Lénine.

Antes da transição para a NEP considerava-se que primeiro se devia restaurar a indústria de larga escala como base da economia socialista, e só depois proceder à reconstrução técnica da agricultura. Mas já numa proposta de 8-Fev-1921 Lénine reconhecia a necessidade da restauração prioritária e urgente da agricultura, para a qual a indústria de larga escala não podia ajudar de imediato. No projecto de decreto do CEC (Conselho Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia), Instruções ao CLD (Conselho do Trabalho e Defesa) para os órgãos soviéticos locais, de 21-Mai-1921, Lénine define assim as prioridades:
«Temos agora dois critérios principais de êxito do nosso trabalho de desenvolvimento económico à escala nacional. Primeiro, o êxito na cobrança rápida, completa e, do ponto de vista estatal, correcta, do imposto em espécie; segundo -- e este é particularmente importante --, êxito na troca de produtos manufacturados por produtos agrícolas entre a indústria e a agricultura.»

Para Trotsky as prioridades eram diferentes. Em 7-Ago-1921 propôs ao Pleno do CC as suas Teses sobre a implementação do início da nova política económica, onde dizia [160]:
"Com o novo curso, como no antigo, a principal tarefa é restaurar e fortalecer a indústria nacionalizada de larga escala"

Portanto, nesta questão, Trotski não distinguia o antes e o presente da NEP. Continuava a considerar que se devia primeiro restaurar e desenvolver a indústria de larga escala à custa do trabalho «compulsório» dos pequenos e médios camponeses e só satisfazer os seus interesses após um longo processo de restauração da indústria de larga escala. O Pleno não apoiou as teses de Trotski. Lénine respondeu a Trotski e seguidores em 5-Nov-1921, no artigo A importância do ouro agora e depois da vitória completa do socialismo:
«Uma questão teórica. Como explicar a transição de uma série de acções extremamente revolucionárias para acções extremamente "reformistas" na mesma área e num momento em que a revolução como um todo faz progressos vitoriosos? Não significa isso "rendição de posições", uma "admissão de derrota", ou algo assim? É claro que os nossos inimigos... dizem que sim. ....
«Mas há "perplexidade", diremos também entre amigos.
«Restaurar a indústria de larga escala, organizar a troca directa dos seus produtos pela produção da pequena agricultura camponesa e, assim, ajudar a socialização desta última. ... era este o plano ... que seguimos por mais de três anos, até à primavera de 1921. Esta foi uma abordagem revolucionária ....
«Desde a primavera de 1921, em vez dessa abordagem ... estamos a adoptar ... um método totalmente diferente, um tipo reformista de método: não quebrar o antigo sistema económico social ... mas revitalizar o comércio, a pequena propriedade, o capitalismo, ao mesmo tempo que cautelosa e gradualmente os controlamos ...
«A questão que se coloca é esta. Se, depois de tentar métodos revolucionários, descobrimos que eles falharam e adoptamos métodos reformistas, não prova isso que estamos a dizer que a revolução em geral foi um erro? Não prova isso que não se deveria ter começado com a revolução, mas se deveria ter começado com reformas e confinar-se a elas?
«Esta é a conclusão que os mencheviques e outros como eles tiraram.»

Lénine propunha planear «os alicerces de um plano económico nacional do Estado para o próximo período de um ano ou dois», com os recursos alimentares como ponto de partida, o que limitava o desenvolvimento de outras indústrias, e «prestar especial atenção à indústria que fornece bens adequados [aos camponeses] pela troca de pão». Trotski queria de forma irrealista – para as condições objectivas e subjectivas da Rússia dessa época, claro -- avançar de imediato para a grande indústria, desprezando totalmente os interesses dos camponeses; logo, solapando a base social da revolução. Isto é, Trotski ainda se situava antes da NEP. É significativo que no citado artigo de 7-Ago-1921 volta outra vez a propôr a nacionalização dos sindicatos (!), questão já há muito ultrapassada.
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O afastamento de Trotski das posições leninistas, o seu comportamento e obstinação nos antigos erros mencheviques valeu-lhe o isolamento no PB. [161]
Trotsky and the NEP

We saw in the previous article (Part VII) how Trotsky arrogated the role of having inspired the NEP, invoking his letter to the PB of 20-Feb-1920, which he mentioned at the X Congress of the RCP(B) in March 1921 and repeated, almost word by word, at the XI Congress on 29-Mar-1922. At this congress he also came back to his old idea of "nationalizing" the trade unions. Trotsky began his 29 March discourse as follows:
“Comrades, the resolution of the X Congress on trade unions did not live up to the XI, as some of us have predicted. What hasn’t survived out of it? The part that characterized the relationship of trade unions and the economic bodies ...” [155]
Trotsky, the prophet (as his Trotskyist biographer I. Deutscher calls him), whose predictions always came out right, is wrong when he says that "the relationship between the trade unions and the economic bodies" did not survive. In fact, that relationship did survive and contributed to NEP's success. The question of the trade unions was never again brought up and nobody raised it at the XI Congress. Only Trotsky, for whom the facts had to adapt to his ideas and not otherwise.

Let's go back to the NEP. Trotsky's view, sated in his letter of 20-Feb-1920, had in fact already been proposed in his report submitted to the Moscow Committee of the RCP(B) on 6-Jan-1920:
“As long as we have a shortage of bread, the peasant will have to give the Soviet economy a tax in kind in the form of bread under pain of merciless reprisal. A peasant will get used to this in a year and will give bread. We will allocate proletarian units, hundred or two thousand, to create food bases. And then, having created ... the possibility of general labor service, as compulsory, with the enormous significance of the educational factor, we will be able to put our economy in order.” [156]

Trotsky, despite speaking of "tax in kind", maintained the coercive methods of "war communism" on the peasantry. And with the aggravating factor, in the letter of February 1920 (see Part VII), that the coercion was applied to the petty and middle peasants while advocating favour for the kulaks. It was a view of the NEP entirely opposite to that of Lenin, for whom the measures of the NEP for the agriculture, in addition to solving the food problem, were also aimed at strengthening the alliance of the proletariat with the petty and (to some extent) the middle peasantry (where dissatisfaction and insurrections posed a threat to the revolution) and combat the kulak counter-revolution. For Lenin the alliance with the poor peasantry was a sine qua non condition for carrying on the socialist revolution. (The Leninist NEP also aimed at the social transformation of other petty-bourgeois strata, such as artisans and traders.) This strategic alliance of Leninism was totally contrary to the sectarian and unrealistic view of the "permanent revolution" that Trotsky never abandoned.

Lenin continued after the X Congress to develop important actions of clarification and providing orientations on the measures of the NEP. On 26-May-1921 took place the X Party Conference where Lenin spoke. Trotsky did not attend it. The Conference formulated guidelines of the NEP and on how to provide explanations to the workers, overcome confusions in some sections of the Party, and fight the arguments of SRs and Mensheviks. The latter sought, above all, to spread panic among the workers and imbue them with the conviction that the Soviet government was bankrupt and that what was taking place was not an organized retreat, but a panic-stricken flight. They also stated that the Soviet government was no longer a workers' government and that it was degenerating to the side of the bourgeoisie. They pinned their hopes on the "political NEP" according to their expression. The foreign social democrats also publicized in the newspapers the idea that the NEP was a capitulation to the bourgeoisie, a repudiation of communism, and qualified the NEP as "the beginning of the rejection of the RCP program, the rejection of communism" [157].

Trotsky and the Trotskyists – who were organized as a faction [158] -- took advantage of this propaganda: panic, retreat to capitalism, Party degeneration, etc.

In addition to the tax in kind, a component of the Leninist NEP was to re-establish domestic trade and monetary relations. Trotsky never speaks of "market relations"; he only mentions "distribution" of industrial products to peasants with "greater correspondence between the distribution of industrial products to the peasants and the amount of bread they deliver... attracting local industrial enterprises to this". Trotsky's "NEP" mainly stimulated the kulak -- as he himself recognized -- which, in addition to being able to pay a lower tax, was more capable of contractual relations with enterprises (20-Feb-1920 letter, Part VII). The middle and poor peasants could not compete. That is, Trotsky's proposals stimulated the kulak -- the enemy of Soviet power -- at the expense of the poor and middle peasants. Thus, while Lenin's NEP led to the expansion of the social base of the socialist revolution, Trotsky's proposals led to its narrowing.

Furthermore, Trotsky did not see the NEP as a temporary retreat, but as a retreat that would go on until (at least) the European proletarian revolution took place, as he would say in his speech at the Comintern in 1922. Otherwise the Russian socialist revolution would fail. [159]

Trotsky apparently adopted Lenin's proposals for the transition to the tax in kind, since he voted for them at the X Congress of the RCP(B) (8-16 March 1921). But a few months later, his disagreements with Lenin were aggravated.

Before the transition to the NEP, it was considered that large-scale industry should first be restored as a basis of the socialist economy, and only afterwards should the technical reconstruction of agriculture be carried out. But already in a proposal of 8-Feb-1921 Lenin recognized the need of giving to the restoration of agriculture priority and urgency; a restoration for which large-scale industry could not be of immediate help. In the draft decree of the CEC (All-Russian Central Executive Committee of the Soviets), Instruction of the CLD (Council of Labor and Defence) To The Local Soviet Bodies, 21-May-1921, Lenin defines the priorities as follows:
“We now have two main criteria of success in our work of economic development on a nation-wide scale. First, success in the speedy, full and, from the state point of view, proper collection of the tax in kind; and second -- and this is particularly important -- success in the exchange of manufactured goods for agricultural produce between industry and agriculture.”

For Trotsky the priorities were different. On 7-Aug-1921 he proposed to the CC Plenum his Theses On Carrying Out The Beginnings Of The New Economic Policy, where he said [160]:
"With the new course, as with the old, the main task is to restore and strengthen the large-scale nationalized industry."

Therefore, on this issue, Trotsky did not distinguish between before and present of the NEP. He continued to believe that the large-scale industry should first be restored and developed at the expense of the "compulsory" labor of the petty and middle peasantry, and only after a long process of restoration of the large-scale industry would their interests be satisfied. The Plenum did not support Trotsky's theses. Lenin replied to Trotsky and followers on 5-Nov-1921, in the article The Importance Of Gold Now And After The Complete Victory Of Socialism:
“A theoretical question. How can we explain the transition from a series of extremely revolutionary actions to extremely ‘reformist’ actions in the same field at a time when the revolution as a whole is making victorious progress? Does it not imply a ‘surrender of positions’, an ‘admission of defeat’, or something of that sort? Of course, our enemies … say that it does. ...
“But there is ‘perplexity’, shall we say, among friends, too.
“Restore large-scale industry, organise the direct exchange of its goods for the produce of small-peasant farming, and thus assist the socialisation of the latter. … this was the plan … that we followed for more than three years, up to the spring of 1921. This was a revolutionary approach ...
“Since the spring of 1921, instead of this approach … we have been adopting … a totally different method, a reformist type of method: not to break up the old social economic system … but to revive trade, petty proprietorship, capitalism, while cautiously and gradually getting the upper hand over them ...
“The question that arises is this. If, after trying revolutionary methods, you find they have failed and adopt reformist methods, does it not prove that you are declaring the revolution to have been a mistake in general? Does it not prove that you should not have started with the revolution but should have started with reforms and confined yourselves to them?
“That is the conclusion which the Mensheviks and others like them have drawn.”

Lenin proposed to plan “the foundations of a national economic plan for the State for the next period of a year or two”, with food resources as a starting point, which limited the development of other industries, and to “pay special attention to the industry that provides adequate goods [to the peasants] for the exchange of bread”. Trotsky unrealistically – taking into account, of course, the objective and subjective conditions of Russia at that time, -- wanted to move immediately to the big industry, totally disregarding the interests of the peasants; hence, undermining the social basis of the revolution. That is, Trotsky was still standing before the NEP. It is significant that in the aforementioned article of 7-Aug-1921 he again proposes the nationalization of the trade unions (!), an issue that had long been overcome.
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Trotsky's departure from the Leninist positions, his behavior and obstinacy in the old Menshevik errors, earned him isolation in the PB. [161]

Trotski e o Monopólio do Comércio Externo

Na Primavera de 1921 a NEP ainda não contemplava o mercado interno. No Outono, porém, essa nova concessão ao capitalismo tornou-se necessária, conforme explicou Lénine em 29-Out-1921 [162]: «A troca de mercadorias fracassou ... o mercado privado acabou por ser mais forte do que nós e em vez da circulação de mercadorias tivemos comércio comum, de venda e compra». Lénine e os leninistas tiveram de fazer face à incompreensão de várias organizações e explicar que isso não invalidava o rumo socialista: o Estado controlaria (e controlou) o comércio interno e a circulação monetária.

Note-se que a questão do comércio interno, num estado dos trabalhadores e camponeses pobres, exigia um controlo legal de forma a evitar abusos. Num discurso ao IX Congresso dos Sovietes em 23-Dez-1921, Lénine fez a seguinte observação:
«Se tomarmos qualquer negociação comercial sob controlo estatal e legal (o nosso tribunal é proletário e pode vigiar cada empresário particular para ver se as leis não são interpretadas por eles como nos estados burgueses; recentemente, houve um exemplo disso em Moscovo e todos sabem que multiplicaremos esses exemplos, punindo severamente qualquer tentativa desses empresários privados de violar as nossas leis)...»
O exemplo de Moscovo refere-se ao julgamento de 15 a 18 de Dezembro de 1921 de 35 empresários, proprietários de salas de chá e restaurantes, padarias, estabelecimentos de fabrico de calçado, etc. Foram acusados de violar o Código do Trabalho, a saber: explorar o trabalho de crianças, jovens e mulheres, prolongar a jornada de trabalho, etc.. Trabalhadores de grandes empresas, membros e não membros do Partido, actuaram como procuradores públicos. O tribunal condenou 10 dos acusados a multas elevadas ou a trabalhos forçados sem prisão.

Houve uma questão decisiva em que Lénine nunca cedeu: o monopólio estatal do comércio externo. De facto, enquanto os anteriores recuos e concessões podiam ser controlados pelo Estado, largar mão do monopólio estatal do comércio externo significava permitir ao capital e divisas estrangeiras penetrarem na Rússia e virem a dominar importantes alavancas da economia.

Mostraram-se a favor de quebrar o monopólio dois apoiantes de Trotski: Sokolnikov, Comissário do Povo do Comércio Externo, e Krestinski, representante da Rússia em Berlim e envolvido em negociações económicas com os alemães (no âmbito do Tratado de Rapallo), que exerciam pressão contra o monopólio estatal do comércio externo. Numa reunião do PB de 26-Jun-1922, que discutiu a questão, Trotski apoiou uma proposta de Zinoviev para mudar o regime de monopólio. Estáline hesitou [163]. Mais tarde, uma decisão de um Pleno do CC a 6-Out-1992 (Lénine esteve ausente por doença) permitiu «excepções» do monopólio.

Lénine, alarmado, pediu reconsiderar a decisão do Pleno de Outubro e adiar uma decisão para um próximo Pleno e reunir materiais sobre o assunto. A 12-Dez-1922 escreveu a Trotski pedindo-lhe a sua opinão. A resposta de Trotski foi ambígua: pareceu concordar com Lénine para logo a seguir estipular que não estava contra uma «mudança» do regime de monopólio estatal do comérico externo [164]. Além disso, argumentava que a questão mais importante era «a regulamentação do comércio externo russo na estrutura de todo o trabalho económico.» [165] A opinião de Trotski sobre essa (re)estruturação de órgãos económicos era completamente diferente da de Lénine como veremos.

A próxima sessão plenária do CC (25 membros) teria lugar a 18-Dez-1922. Em 15 de Dezembro -- quando Estáline, Zinoviev, Kamenev e Bukharine já tinham aderido à posição de Lénine perante os seus argumentos e materiais recolhidos --, Lénine, a fim de obter mais apoios para o Pleno onde não iria participar por agravamento da doença [166], pediu por carta a Trotski que apoiasse a sua posição, já que, como vimos, Trotski lhe tinha escrito estar de acordo com o monopólio do comérico externo embora com as ressalvas acima mencionadas. Trotski não foi o único a quem Lénine pediu apoio para defender o monopólio do comércio externo no próximo Pleno. O apoio de Trotski era importante mas não decisivo. Note-se que fê-lo por carta a Trotski porque há muito só comunicava por esse meio com Trotski, embora recebesse pessoalmente ou telefonasse a outros do partido: Estáline, Kamenev, Tsyurupa, Djerjinski, Gorbunov, etc. [167].

Trotski mais tarde apresentou a carta de Lénine de 15-Dez-1922 como Lénine tendo-lhe proposto uma aliança contra Estáline e outros membros leninistas do PB!

O Plenário de 18-Dez-1922 examinou a questão do monopólio do comércio externo e adoptou por unanimidade as decisões acordadas com Lénine. O manuscrito do projecto de decisão do Pleno foi preservado. [168] Este documento mostra que a preparação do projecto de decisão foi feita sem a participação de Trotsky. Foi escrito a tinta por Estáline, a julgar pela caligrafia, e assinado por Estáline, Zinoviev e Kamenev. Diz V. Sakharov: «As actas das reuniões do Pleno (e tanto o manuscrito quanto a cópia oficial dactilografada) e outros documentos não registam a actividade de Trotski na discussão da questão do monopólio do comércio externo. O próprio Trotski, nas suas numerosas memórias, também não disse nada sobre como defendeu a posição de Lénine no Pleno ... Não há razão para acreditar que Trotski tenha de alguma forma influenciado as decisões tomadas.»

Não é por acaso que, no XII Congresso do PCR(b) (Abril de 1923), num relatório sobre o trabalho da indústria, Trotski fez uma saúde ao monopólio e «seu repouso»; declarando-se como apoiante em princípio do monopólio, logo a seguir afirmou que «o contrabando ... atravessará fronteiras, e nenhum monopólio do comércio, nenhuma proteção de fronteiras nos protegerá da pressão do mercado mundial». [169]
Trotsky and the Foreign Trade Monopoly

In the spring of 1921 the NEP did not yet contemplate the domestic market. In the autumn, however, that new concession to capitalism became necessary, as Lenin explained on 29-Oct-1921 [162]: “commodity exchange has broken down … the private market proved too strong for us; and instead of the exchange of commodities we got ordinary buying and selling, trade.» Lenin and the Leninists had to face the incomprehension of several organizations and explain that this did not invalidate the socialist course: the State would control (and did control) the domestic trade and monetary circulation.

Note that the issue of domestic trade, in a workers’ and poor peasants’ State, required legal control in order to prevent abuse. In a speech to the IX Congress of Soviets on 23-Dec-1921, Lenin made the following observation:
“If we take any merchant trading under State and legal control (our court is a proletarian one, and it can watch each private businessman in order to see that the laws are not interpreted for them as in bourgeois states; recently there was an example of this in Moscow, and you all know that we shall multiply these examples, severely punishing any attempts by these private businessmen to contravene our laws)…”
The example of Moscow refers to the trial from 15 to 18 December 1921 of 35 businessmen, owners of tea rooms and restaurants, bakeries, shoe-making establishments, etc. They were accused of violating the Labor Code, namely: exploiting the work of children, youth and women, prolonging the workday, etc. Workers of large companies, members and non-members of the Party, acted as public prosecutors. The court sentenced 10 of the accused to large fines or forced labor but without jail.

There was a decisive issue that Lenin never gave in to: the State monopoly on foreign trade. In fact, while previous retreats and concessions could be controlled by the State, the relinquishing the State monopoly of foreign trade meant allowing foreign capital and foreign currencies to penetrate Russia and come to dominate important levers of the economy.

Two supporters of Trotsky came forward in favour of abolishing the monopoly: Sokolnikov, People's Commissar of Foreign Trade, and Krestinsky, Russia's representative in Berlin, involved in economic negotiations with the Germans (under the auspices of the Rapallo Treaty) who exerted pressure against the State monopoly on foreign trade. In the discussion of this issue at a PB meeting on 26-Jun-1922, Trotsky supported Zinoviev's proposal to change the regime of monopoly. Stalin hesitated [163]. Later, a decision by a CC Plenum on 6-Oct-1992 (Lenin was absent due to illness) allowed "exceptions" of the monopoly.

Lenin, alarmed, asked to reconsider the decision of the October Plenum, postponing a resolution to a forthcoming Plenum and meanwhile gathering materials on the subject. On 12-Dec-1922 he wrote to Trotsky asking his opinion. Trotsky's reply was ambiguous: he seemed to agree with Lenin but immediately stipulated that he was not against a "change" in the State monopoly regime [164]. Furthermore, he argued that the most important question was “the regulation of Russian foreign trade in the structure of all economic work in general.” [165] Trotsky's views regarding this (re)structuring of the economic bodies were completely different from those of Lenin.

The next plenary session of the CC (25 members) was scheduled to take place on 18-Dec-1922. On December 15 -- when Stalin, Zinoviev, Kamenev and Bukharin had already adhered to Lenin's position due to his arguments and the collected materials --, Lenin, in order to obtain more support for the Plenum where he would not participate due to the worsening of his disease [166], asked Trotsky by letter to support his position, since, as we have seen, Trotsky had written that he agreed with the foreign trade monopoly though with the above mentioned reservations. Trotsky was not the only one to whom Lenin asked for support to defend the foreign trade monopoly at the forthcoming Plenum. Trotsky's support was important but not decisive. It should also be noted that Lenin asked for this support of Trotsky by letter, because since a long time this was the only means through which he communicated with Trotsky, although he personally received or phoned to others from the Party: Stalin, Kamenev, Tsyurupa, Dzherzhinsky, Gorbunov, etc. [167].

Trotsky later portrayed Lenin's letter of 15-Dec-1922 as Lenin having proposed to him an alliance against Stalin and other Leninist members of the PB!

The Plenum of 18-Dec-1922 examined the question of the foreign trade monopoly and unanimously adopted the decisions agreed with Lenin. The manuscript of the full draft decision has been preserved. [168] This document shows that the preparation of the draft decision was made without the participation of Trotsky. It was written in ink by Stalin, judging by the calligraphy, and signed by Stalin, Zinoviev and Kamenev. V. Sakharov writes: «The minutes of the plenary meetings (and both the manuscript and the official typewritten copy) and other documents do not register Trotsky's activity in the discussion of the question of the foreign trade monopoly. Trotsky himself, in his numerous memoirs, said nothing about how he defended Lenin's position at the Plenum ... There is no reason to believe that Trotsky has in any way influenced the decisions taken.”

It is no coincidence that, at the XII Congress of the RCP(B) (April 1923), in a report about the work of the industry, Trotsky cheered to the health of the monopoly and "its rest"; declaring himself as a principled supporter of the monopoly, he immediately began to assert that “smuggling ... will pierce through frontiers, and no monopoly of trade, no border protection will protect us from the pressure of the world market.” [169]

A Reestruturação do Sistema Económico

Os anos 1921 e 1922 exigiram uma série de medidas importantes de melhoria do trabalho de órgãos económicos estatais. Para além do CPC, que funcionava em moldes semelhantes a um conselho de ministros, havia os seguintes órgãos da RSFSR:

1) Supremo Conselho Económico (SEC). Constituído logo após a revolução e subordinado ao CPC e CEC. Tarefas: resolver questões gerais das regiões económicas; gerir órgãos do controlo do trabalho; determinar as necessidades locais de combustíveis, matérias-primas, mão-de-obra, etc.; desenvolver planos de distribuição de pedidos, etc. Os órgãos locais do SEC tinham a participação dos sovietes locais, sindicatos, comités de fábrica, etc.  A partir de 1918 começou a prestar cada vez mais atenção à indústria. A partir de 1920 passou a ter a seu cargo o plano de electrificação (GOELRO). No período em questão A. Bogdanov presidia ao SEC.
2) Inspeção Operária e Camponesa, acrónimo russo: Rabkrin. Criada em 07/02/1920. O Rabkrin era um sistema de órgãos governamentais que lidavam com questões de controlo estatal. Tinha uma rede de agências locais tutelada conjuntamente com o Comissariado do Povo do Trabalho. Estáline encabeçava esse Comissariado e o Rabkrin. Tarefas do Rabkrin: auditorias financeiras (baseadas em planos de despesas), normas de trabalho, estandadização, implementação de inovações em todos os sectores, inspecção de combustíveis, eficácia da gestão burocrática em vários departamentos, e outras.
3) Conselho de Trabalho e Defesa (CTD). Criado em Abril de 1920 para coordenar e fortalecer as actividades de todos os departamentos no campo da defesa e da construção económica. Os membros do CTD eram os comissários do povo responsáveis ​​por assuntos militares, comunicações, agricultura, alimentação, trabalho, Rabkrin, SEC, e ainda um representante do Conselho Central de Sindicatos e o director do Bureau Estatístico Central. Lénine presidia ao CTD.
4) Comissão de Planeamento Estatal, acrónimo russo: Gosplan. Criado em 22 de Fevereiro de 1921. Missão: «desenvolver um plano económico unificado com base no GOELRO, aprovado pelo VIII Congresso dos Sovietes, e monitorar a implementação deste plano». No período em questão o Gosplan limitou-se ao GOELRO, cujo presidente era G. Krjijanovski (ver nosso artigo anterior sobre este notável companheiro de Lénine). (O Gosplan só a partir de 1925 passou a formular planos económicos anuais da URSS; quinquenais a partir de 1928.)

Tendo em conta a complexidade das questões a tratar e as insuficiências observadas (pelo PCR e CEC) do trabalho de órgãos estatais, nomeadamente quanto à economia, Lénine propôs em 28-Nov-1921 um plano de reorganização dos mais altos órgãos da administração estatal. O plano estabelecia um segundo posto de Vice-Presidente do CPC e um posto de Vice-Presidente do CTD. [170] Esta reforma tinha em vista entre outras coisas «integrar e melhorar o trabalho económico COMO UM TODO, especialmente em ligação com e através do Banco Estatal (comércio) e o Gosplan.» O PB aceitou a proposta de Lénine a 1-Dez-1921 e nomeou em 23-Mar-1922 uma comissão de especialistas para líderar o Gosplan segundo a orientação leninista. Ao longo de 1922 a reestruturação envolveu o aumento do número de Vice-Presidentes e a coordenação do seu trabalho com o Rabkrin. O conceito leninista da NEP reforçou-se.

Os conceitos diferentes de Lénine e Trotski sobre a NEP levaram a sérias divergências de Trotski com Lénine e Estáline sobre a reorganização do aparelho económico. Trotski defendia passar de imediato à indústria de larga escala, pelo que dava a primazia ao planeamento, ao Gosplan. Lénine e Estáline, com a atenção focada na agricultura, mecanismos de mercado com indústrias ligeiras, e no GOELRO como passo imprescindível para passar à indústria de larga escala, davam a primazia ao Rabkrin e ao CTD, vendo o Gosplan durante a NEP como uma comissão de especialistas sob tutela do CTD, com a missão pricipal de implementar o GOELRO. Em 14-Maio-1921 Lénine escreveu [171]:
«O Gosplan deve organizar o seu trabalho de modo a elaborar, pelo menos na época da colheita, os principais princípios de um plano económico estatal para o próximo ano ou dois. Deve começar com a alimentação, pois esta é a raiz principal de todas as nossas dificuldades. ... P.S. 1) Deve ser prestada atenção especial às indústrias que produzem artigos que podem ser trocados por cereais ... »

Trotski dava pouco valor ao GOELRO. Logo após o VIII Congresso dos Sovietes da RSFSR ter adoptado o GOELRO, escreveu ao CC:
«Os delegados de toda a Rússia recebem no centro de Moscovo uma “ideia” de electrificação para 10 anos na forma de um sólido plano económico, mas quando voltarem para casa terão de ter em conta que não temos combustível para os próximos 10 meses, nem mesmo para os próximos 10 dias, e o centro não alertou ninguém sobre isso». [172]

Trotsky foi contra a conversão do Gosplan numa comissão consultiva de especialistas. Lançou um ataque a todo o sistema de gestão, propondo reetirar o CC da resolução de problemas económicos, retirar do CTD, presidido por Lenin, a solução dos problemas económicos, e concentrar todas as questões económicas no Gosplan, o qual devia desenvolver um plano estatal e garantir a sua implementação «do ponto de vista da grande indústria estatal». Escreveu que o Gosplan
«... deve passar por uma reconstrução completa, tanto na composição quanto nos métodos de trabalho ... o plano económico deve ser construído em torno da indústria de grande escala como seu núcleo ... Quem quer que conduza na prática a vida industrial deve gerir ideológica e organizacionalmente o desenvolvimento, a verificação, a regulamentação, e a implementação do plano económico todos os dias, de hora em hora.» [173]

Esta formulação, totalmente contrária ao que já tinha sido adoptado pelo partido e pelo Estado, foi considerada como um pedido para confiar a Trotski, autor do projecto, todo o sistema de gestão económica. Em 9-Ago- 1921, os membros do PB avaliaram aassim a proposta:
«O cam. Trotski realmente colocou-se perante o partido numa posição tal ... que o partido deveria conceder ao cam. Trotski uma verdadeira ditadura no campo da economia». [174]

O plenário do CC de 8-Out-1921 rejeitou as propostas de Trotski [175].

Trotski e seus apoiantes entraram em conflito com Lénine a partir da Primavera de 1922. Passaram a criticar também o CTD, o Rabkrin bem como a instituição de Vice-Presidentes, cujas tarefas eram «definidas de forma tão global que era o mesmo que não ter tarefas atribuídas». [176], Lénine respondeu com um ataque cerrado contra Trotski em 5-Mai-1922, numa longa carta argumentada com dados qualitativos e quantitativos, de que citamos apenas as seguintes passagens:
“As observações do cam. Trotski também são parcialmente vagas ... e não requerem resposta; outras, renovam as nossas antigas divergências com o cam. Trotski, como já repetidamente observámos no Politburo. Vou responder-lhes brevemente sobre dois pontos principais: a) Rabkrin e b) Gosplan.

a) O cam. Trotski está fundamentalmente errado sobre o Rabkrin. Com o nosso estreito "departamentalismo", existente mesmo entre os melhores comunistas, a baixa preparação dos funcionários, e as intrigas internas nos departamentos (pior do que em qualquer secção do Rabkrin), não se pode agora prescindir do Rabkrin. Devemos trabalhar árdua e sistematicamente para torná-lo um aparelho de investigação e de melhoria de todo o trabalho de governação. ... Não temos outros meios práticos para investigar, melhorar, dar instruções do trabalho.

b) Quanto ao Gosplan, o cam. Trotski não só está fundamentalmente errado mas produz julgamentos relativamente a algo sobre o qual está incrivelment mal informado. O Gosplan não sofre de academismo; pelo contrário, sofre de sobrecarga de rotina miudinha, de "vermicelli" ....» [177]

Na mesma carta Lénine comenta um segundo artigo de Trotski, dizendo:
«O segundo artigo do cam. Trotski ... contém, em primeiro lugar, um extremamente excitado e profundamente erróneo “criticismo” ... Em segundo lugar, atira as mesmas acusações de academismo do Gosplan que são fundamentalmente erradas e diametralmente opostas à verdade, acusações que levam à seguinte declaração do cam. Trotski incrívelmente desinformada ... "Actualmente", diz ele, "não existe nem pode haver um plano económico sem definir a quantidade de moeda emitida e sem distribuir fundos em dinheiro entre os departamentos. Porém, até onde posso julgar, o Gosplan não tem nada a ver com essas questões básicas.” Se ele tentasse, aprenderia que o Gosplan tem uma secção financeira e económica, que lida precisamente com essas questões».

A proposta de Trotski com vista a tornar-se «ditador económico» foi rejeitada.

Trotski também se opôs aos leninistas noutras questões económicas. Para Trotski, o partido devia separar-se completamente da gestão económica e da selecção de pessoal, remetendo-se à ideologia e educação. Toda a economia, incluindo a nomeação de pessoal, deveria ser transferida para especialistas não-partidários, que nessa altura eram na maioria hostis ao regime soviético.

No XI Congresso, Trotski, Preobrajenski e Osinski criticaram Lénine quanto ao sistema de governo existente. Preobrajensky propôs remover as questões económicas do PB e criar um Bureau Econômico do CC. Lénine rejeitou essa proposta, alegando que era impossível separar questões políticas e económicas e criticou o desejo de uma reestruturação sem fim do aparelho. Lénine e seus apoiantes sabiam que era preciso introduzir alterações mas não no sentido desejado por Trotski. O XI Congresso apoiou Lénine. O princípio da divisão do trabalho entre o partido e o Estado, proposto por Lénine, foi consagrado. [178]
The Restructuring of the Economic System

The years 1921 and 1922 required a series of important measures to improve the work of State economic bodies. In addition to the CPC, which operated similarly to a council of ministers, there were the following RSFSR bodies:

1) Supreme Economic Council (SEC). Constituted shortly after the revolution and subordinated to the CPC and CEC. Tasks: resolve general issues in economic regions; manage the organs of labor control; find out local needs for fuels, raw materials, labor, etc.; develop plans of distributing request orders, etc. The local SEC bodies were participated by local soviets, trade unions, factory committees, etc. From 1918 it began paying increased attention to the industry. As of 1920, it started to be in charge of the electrification plan (GOELRO). During the period in question A. Bogdanov chaired the SEC.
2) Workers’ and Peasants’ Inspection, Russian acronym: Rabkrin. Created on 07/02/1920. The Rabkrin was a system of government agencies that dealt with issues of State control. It involved a network of local agencies jointly supervised with the People's Commissariat of Labor. Stalin headed this Commissariat and the Rabkrin. Rabkrin's tasks: financial audits (based on budgetary plans), work standards, standardization, implementation of innovations in all sectors, fuel inspection, efficiency of bureaucratic management in various departments, and others.
3) Council of Labor and Defence (CLD). Created in April 1920 to coordinate and strengthen the activities of all departments in the field of defence and economic construction. The members of the CLD were the People’s Commissars responsible for military affairs, communications, agriculture, food, work, Rabkrin, SEC, as well as a representative of the Central Council of Trade Unions and the director of the Central Statistical Bureau. Lenin chaired the CLD.
4) State Planning Commission, Russian acronym: Gosplan. Created on February 22, 1921. Mission: "to develop a unified economic plan based on the GOELRO, approved by the VIII Congress of Soviets, and to monitor the implementation of this plan". During the period in question, the Gosplan was limited to the GOELRO, whose president was G. Krzhizhanovski (See our previous article on this notable comrade-in-arms of Lenin). (Gosplan only began formulating annual economic plans for the USSR in 1925; and five-year plans since in 1928.)

Taking into account the complexity of the issues to be dealt with and the shortcomings observed (by the RCP and CEC) in the work of state bodies, namely regarding the economy, Lenin proposed on 28-Nov-1921 a plan for reorganizing the highest bodies of the State administration. The plan established a second post of Vice President of the CPC and a post of Vice President of the CLD. [170] The plan had in view among other things “to integrate and improve the economic work AS A WHOLE, especially in connection with and through the State Bank (trade) and the State Planning Commission.” The PB accepted Lenin's proposal on 1-Dec-1921 and appointed on 23-Mar-1922 a committee of experts to lead the Gosplan according to Leninist guiding lines. Throughout 1922 the restructuring involved increasing the number of Vice-Presidents and coordinating their work with the Rabkrin. The Leninist concept of NEP was reinforced.

The different concepts of Lenin and Trotsky about the NEP led to serious divergences between Trotsky vis-a-vis Lenin and Stalin regarding the reorganization of the economic apparatus. Trotsky advocated moving immediately to large-scale industry, and he thus gave priority to planning, to the Gosplan. Lenin and Stalin focused their attention on agriculture, market mechanisms with light industries, and GOELRO as an essential step to move to large-scale industry; they gave primacy to the Rabkrin and the CLD, seeing the Gosplan as a commission of specialists under the tutelage of the CLD, with the principal mission of implementing the GOELRO. Lenin wrote on 14-May-1921 [171]:
“The State Planning Commission should organise its work in such a way as to have drawn up, at least by harvest time, the main principles of a State economic plan for the next year or two. It should start with food, for this is the taproot of all our difficulties. … P.S. 1) Special attention must be paid to the industries producing articles that can be exchanged for grain …

Trotsky gave little value to the GOELRO plan. Soon after the VIII Congress of Soviets of the RSFS had adopted GOELRO, he wrote to the CC:
“The delegates from all of Russia receive at the center of Moscow an ‘idea’ of electrification for 10 years in the form of a solid economic plan, but when they go home they have to take into account that we are short of fuel not only for the next 10 months, but even for the next 10 days, and the center didn’t warn anyone about it.” [172]

Trotsky was against transforming the Gosplan into an advisory commission of specialists. He launched an attack on the whole management system, proposing to withdraw the CC from solving economic problems, removing the solution of economic problems from the CLD, chaired by Lenin, and concentrating all economic issues on the Gosplan, which was to develop a State plan and guarantee its implementation "from the point of view of the large State-owned industry". He wrote that the Gosplan
"… should undergo a complete reconstruction both in composition and working methods ... the economic plan should be built around large-scale industry as a core ... Whoever leads in practice the industrial life should ideologically and organizationally manage the development, verification, regulation, and the implementation of the economic plan every day, from hour to hour.” [173]

This formulation, totally contrary to what had already been adopted by the Party and the State, was considered as a request to entrust the entire economic management system to Trotsky, the author of the project. On 9-Aug-1921, the members of the PB evaluated the proposal as follows:
Comr. Trotsky actually put himself before the Party in such a position that ... the Party must concede comr. Trotsky's actual dictatorship in the field of economy.” [174]

The CC Plenum of 8-Oct-1921 rejected Trotsky's proposals [175].

Trotsky and his supporters came into conflict with Lenin in the spring of 1922. They engaged on criticizing the CLD, the Rabkrin as well as the institution of Vice-Presidents, whose tasks were "so globally defined that it amounts to having no assigned tasks at all'. [176] Lenin replied with a strong attack against Trotsky in 5-May-1922, in a long letter argued with qualitative and quantitative data, of which we quote only the following passages:
“Some of comr. Trotsky’s remarks are likewise vague … and do not require an answer; other remarks made by him renew old disagreements that we have repeatedly observed in the Political Bureau. I shall reply to these on two main points: a) Rabkrin and b) Gosplan.

a) As regards the Rabkrin, comr. Trotsky is fundamentally wrong. In view of the hidebound ‘departmentalism’ that prevails even among the best Communists, the low standard of efficiency of the employees and the internal intrigues in the departments (worse than the intrigues of any section of the Rabkrin), we cannot at the moment dispense with the Rabkrin. A lot of hard and systematic work has to be put in to convert it into an apparatus for investigating and improving all government work. ... We have no other practical means of investigating, improving and giving instructions in this work.

b) As regards the Gosplan, comr. Trotsky is not only absolutely wrong but is judging something about which he is amazingly ill-informed. The Gosplan does not suffer from academic methods. On the contrary, it suffers from an overload of much, too much, petty routine “vermicelli”. [177]

In the same letter Lenin comments a second article by Trotsky, saying:
The second paper from comr. Trotsky ... contains, first, an extremely excited but profoundly erroneous “criticism” Secondly, this paper flings the same fundamentally wrong and intrinsically untrue accusations of academic method at the Gosplan, accusations which lead up to the next incredibly uninformed statement by comr. Trotsky. ‘At present,’ he writes, ‘there neither is nor can be an economic plan without establishing the quantity of money issued and without distributing cash funds between the departments. Yet, as far as I can judge, the Gosplan has nothing whatever to do with these basic questions.’ if he tried he would learn that the Gosplan has a financial and economic section, which deals precisely with the above questions.”

Trotsky's proposal having in view to become an "economic dictator" was rejected.

Trotsky also opposed the Leninists on other economic issues. For Trotsky, the party should completely withdraw from economic management and selection of personnel, confining itself to ideology and education. The entire economy, including the appointment of personnel, should be transferred to non-partisan experts, who at that time were mostly hostile to the Soviet regime.

At the XI Congress, Trotsky, Preobrazhensky and Osinsky criticized Lenin for the existing system of government. Preobrazhensky proposed to remove the economic issues from the PB and create an Economic Bureau of the CC. Lenin rejected this proposal, arguing that it was impossible to separate political and economic issues and criticized the desire for an endless restructuring of the apparatus. Lenin and his supporters knew that changes had to be made, but not in the direction desired by Trotsky. The XI Congress supported Lenin. The principle of division of labor between the Party and the State, proposed by Lenin, was enshrined. [178]

A Esperiência Económica de Trotski

Em 1921 Lénine e seus apoiantes queriam afastar Trotski de Moscovo, a fim de se libertarem de um irritante criticista e desorganizador do PB que só entravava o progresso no caminho já definido. Entre várias medidas (discutidas por Lénine com Molotov) foi proposto a Trotski um lugar de enviado do CC à Ucrânia para supervisionar a questão dos cereais. Trotski recusou. (Escreveria mais tarde estórias contraditórias sobre essa recusa.)

Lénine, juntamente com Estáline, Kamenev e Zinoviev, formou um grupo no PB oposto a Trotski. Molotov disse sobre isto: “Lénine compreendeu que Trotski agia de maneira muito corrosiva no que diz respeito a complicar as questões do partido e do Estado. Era uma figura perigosa. Sentia-se que Lénine ficaria feliz em livrar-se dele, mas não podia. Trotski tinha apoiantes fortes e suficientemente próximos, que estavam aqui e ali, e reconheciam a sua grande autoridade ... Lénine entendeu Trotski tão bem quanto Estáline, e acreditava que chegara a hora de remover Trotski e livrar-se dele ... Lénine decidiu: 'Vamos ter com Zinoviev e chegar a um acordo sobre o que fazer.’ Nós três, Lénine, Kamenev e eu ... fomos ter com Zinoviev para acordar em como lidar com Trotski.» [179]

Lénine,  por fim, concebu uma proposta que Trotski não podia recusar. Em 28-Jul-1921, escreveu um projecto de resolução do PB, que enviou a Trotski e outros membros do PB que oferecia a Trotski levar a cabo uma «experiência económica» indo ao encontro de desejos que ele anteriormente exprimira:
«... É decidido que o cam. Trotski tem o direito de tomar a seu cargo um ou mais sovkozes [herdades estatais] (a uma distância não muito longe de Moscovo ...) ... administrados pelo departamento militar [chefiado por Trotski]; que a lei sobre o aumento da independência financeira e material das grandes empresas é aplicada a esses sovkozes a título de experiència; esses sovkozes arrendam empresas industriais vizinhas para combinar a agricultura com a indústria e criar um grupo económico, com a tarefa especial de testar a partir de baixo a correção e adequação dos nossos decretos, analisar as condições de emprego e utilização de trabalho não militar, etc. Com vista a realizar a experiência de forma justa, ela deve ser levada a cabo em condições que excluam qualquer privilégio para essas empresas e sovkozes. ...» [180]

Lénine tinha razão ao oferecer a Trotski a «experiência económica». Na reunião do PB de 9-Ago-1921 disse a Molotov: «Que ele tente fazer algo na agricultura num ano! Nada pode ser feito!» [181]

Membros do PB disseram sobre isto [182]: «Logo no começo dos discursos "económicos" do cam. Trotsky ... o cam. Lénine explicou dezenas de vezes ao cam. Trotski que as questões económicas estão entre aquelas em que sucessos rápidos são impossíveis, em que anos e anos de trabalho paciente e persistente são necessários para alcançar resultados sérios. Não foi nem uma nem duas vezes que o cam. Lénine explicou que na questão de erguer a nossa economia nada de sério pode ser alcançado abruptamente, de um salto, com palavras altissonantes, e menos ainda com exageros de pânico».

Trotski aceitou a proposta do PB. O Grupo Combinado de Moscovo conhecido pela sigla russa MKK (ou Moskust) foi constituído sob liderança de Trotski e administrado pelo departamento militar. [183] Lénine, logo após a criação do MKK, quis acompanhar os seus primeiros passos. No final de Julho ou início de Agosto de 1921, escreveu a Kamenev: «Por favor, envie-me uma lista precisa das instalações fabris, fábricas, sovkozes e todas as outras empresas tomadas por Trotski ... Não sei se ele tomou (e poderia tomar) algo mais para além disso (directamente dos comissariados do povo?)». Logo a seguir uma segunda nota a Kamenev: "Por favor, verifique isso, e se é possível que lhe devam ser imediatamente reportados todos os casos de arrendamento." [184] Estas duas notas revelam claramente a preocupação de Lénine com o que Trotski poderia fazer, para além do decidido pelo PB.

Em 9-Mar-1922, Trotski declarou ao PB que as actividades do MKK «se estendem a empresas que vão para além dos limites da província de Moscovo». [185]

Entretanto, no início de 1922, o PB decidiu inspecionar o MKK. Trotski resistiu o máximo que pôde à inspecção. Em 18-Fev-1922 enviou uma carta ao PB, na qual argumentava que as disposições e instruções para tal inspecção ainda não tinham sido estabelecidas e a questão do controlo de empresas arrendadas não se aplicava ao MKK (!):
“Em relação ao Grupo, pela sua própria natureza, essa questão não é tão séria quanto em relação a empresários privados ou organismos estatais menos responsáveis, cooperativas, artéis, etc." [186]

Trotski protestou especialmente contra a inspecção ser realizada pelo Rabkrin, chefiada por Estáline. Procurou amedrontar os membros do PB de que a auditoria do MKK pelo Rabkrin significaria o colapso da NEP: “Seria ... o maior desastre se a competência do Rabkrin, fosse estendida a essas empresas. Significaria o rompimento da NEP", porque, sob a ameaça de tal inspeção, ninguém iria investir. Por trás desta tese, estava o desejo de libertar o capital privado do controlo do estado soviético.

Apesar dos protestos de Trotski, uma auditoria foi realizada em Fevereiro de 1922. As conclusões foram discutidas em Abril com representantes do Rabkrin e do MKK. As principais conclusões, divulgadas a 16 de Maio de 1922, foram as seguintes: o “Regulamento” do MKK não dava uma ideia da sua natureza legal; o MKK não era uma organização estatal nem capitalista privada; tinha-se tornado independente "do comando militar", pelo que, sem ninguém o saber, estava fora do sistema estatal; o “Regulamento” não especificava quais os membros do Conselho de Administração e como elegê-los, e a quem pertenciam as receitas do MKK.

Descobriu-se também que o significado da criação do MKK tinha sido pervertido. A ideia principal, de combinação, não tinha sido implementada, pois as empresas do MKK estavam separadas uma da outra: «Todas foram incorporadas sem um plano, para dar generalidade ao comércio moscovita» o qual objectivo da actividade do MKK. As empresas arrendadas estavam, seis meses depois, "num estado miserável", financeira e tecnicamente, e exigiam fundos enormes para sua recuperação. As grandes empresas do MKK não eram lucrativas. Só podiam operar com rentabilidade "por causa de oportunidades especulativas de mercado". O próprio Trotski reconheceu isso. O MKK era apenas um sorvedoiro de fundos do estado para o «mercado livre». Um parasita do estado. [186]

Também foram reveladas práticas abusivas: materiais em mau estado, indefinição de requisitos e seu monitoramento de sua aplicação, contabilidade extremamente primitiva com «relatórios analfabetos» só para enganar o estado real das contas, métodos ilegais de concessão de comissões. O arrendamento era feito de tal maneira que o MKK roubava o Conselho Económico de Moscovo, ou seja, o Estado. V. Sakharov assinala que o arquivo de Lénine contém outros materiais sobre violações do MKK relacionadas com o emprego e remunerações.

Apesar do seu estado de saúde, Lénine esteve presente no MKK até menos de 24-Nov-1922. Os membros e candidatos a membros do PB enviaaram a seguinte declaração ao CC em 31-Dez-1923:
«Na verdade, quando o cam. Trotski tentou criar uma alternativa ao trabalho económico na forma do famoso MKK, o cam. Lénine lutou durante meses contra esse pequeno "empreendimento económico" do cam. Trotski, e dezenas de vezes na presença e na ausência do cam. Trotski, o cam. Lénine argumentou detalhadamente que, com a abordagem do cam. Trotski das questões económicas, a economia só poderia ser destruída». [187]
*   *   *
Lénine ainda procurou manter Trotski numa posição que não perturbasse o curso traçado. Em Setembro de 1922 Lénine submeteu ao PB, através de Estáline, uma proposta para nomear Trotski Vice-Presidente do CPC. Trotski recusou, porque, como admitiu em carta a Estáline, «como Vice-Presidente do CPC, fui convidado a supervisionar não os departamentos económicos, mas a ser o primeiro chefe do Comissariado do Povo da Educação". Na segunda metade de 1922 Trotski alienou-se cada vez mais do Partido e os seus contactos com Lénine eram escassos.
Trotsky’s Economic Experiment

Lenin and his supporters wanted in 1921 to remove Trotsky from Moscow in order to free themselves from an irritating criticist and disorganizer of the PB that only impeded progress in the course already defined. Among several measures (discussed by Lenin with Molotov), Trotsky was offered a position as a CC-envoy to Ukraine to supervise the grain issue. Trotsky refused. (He would later write contradictory stories about this refusal.)

Lenin, together with Stalin, Kamenev and Zinoviev, formed a group in the PB opposite to Trotsky. Molotov recalled about this: “Lenin understood that Trotsky acted in a very corrosive manner as regards complicating matters in the Party and the State. A dangerous figure. It was felt that Lenin would be glad to get rid of him, but he could not. Trotsky had enough strong and close supporters, that were here and there, and who recognized his great authority ... Lenin understood Trotsky no worse than Stalin, and believed that the time would come to remove Trotsky and get rid of him … Lenin decided: ‘Let's go to Zinoviev and come to an agreement on what to do.’ The three of us, Lenin, Kamenev and I ... went to Zinoviev to agree on how to deal with Trotsky.” [179]

Lenin, at last, conceived a proposal that Trotsky could not refuse. On 28-Jul-1921, he wrote a draft resolution of the PB that he sent to Trotsky and other members of the PB, which offered Trotsky the possibility of carrying out an "economic experiment", meeting Trotsky’s previously expressed wishes:
«It is decided that comr. Trotsky has the right to be put in charge of one or more sovkozes [State farms] (at a distance not too far from Moscow…) ... administered by the military department [headed by Trotsky]; that the law on the increase of financial and material independence of large enterprises is applied to these sovkozes as an experiment; these sovkozes take on lease neighboring industrial enterprises in order to combine agriculture with industry and create an economic group, with the special task of testing from below the correctness and appropriateness of our decrees, analyzing the conditions of employment and the use of non-military labor, etc. In order to carry out the experiment in a fair way, it must be carried out under conditions that exclude any privileges for those enterprises and sovkozes. …” [180]

Lenin was right in offering Trotsky the “economic experiment”. He said to Molotov at the PB meeting on 9-Aug-1921: «Let him try to do something in agriculture in one year! Nothing can be done!” [181]

Members of the PB said about this [182]: “Right at the beginning of comr. Trotsky's speeches on ‘economy’ ... comr. Lenin explained to comr. Trotsky dozens of times that economic issues are among those where quick successes are impossible, where years and years of patient and persistent work are required in order to achieve serious results. It was not once nor twice that comr. Lenin explained that in the matter of raising our economy, nothing serious can be achieved abruptly, in a leap, with strong words, and even less so with panicking exaggerations.”

Trotsky accepted the proposal of the PB. The Moscow Combined Group known by the Russian acronym MKK (or Moskust) was formed under the leadership of Trotsky and administered by the military department. [183] Lenin, right after the creation of the MKK, wanted to accompany its first steps. In late July or early August 1921, he wrote to Kamenev: “Please send me an accurate list of the plants, factories, sovkozes and all other enterprises taken over by Trotsky ... I don't know if he took (and could take) anything else besides that (directly from the People's Commissiariats?).” Immediately after this note a second accompanying one to Kamenev: “Please find that out, and whether it is possible that you should be immediately informed of all cases of leasing.” [184] These two notes clearly reveal Lenin's concern with what Trotsky could do that would go over the PB decision.

On 9-Mar-1922, Trotsky declared to the PB that the MKK activities "extend to enterprises that go beyond the limits of the province of Moscow." [185]

In the meantime, in early 1922, the PB decided to inspect the MKK. Trotsky resisted the inspection as long as he could. He sent a letter to the PB on 18-Feb-1922, in which he argued that the provisions and instructions for such an inspection had not yet been established and the question of controlling leased enterprises did not apply to the MKK (!):
“In relation to the Group, by its very nature, this question is not as acute as in relation to private entrepreneurs or to less responsible State bodies, co-operatives, artels, etc." [186]

Trotsky especially protested that the inspection would be carried out by the Rabkrin, headed by Stalin. He sought to frighten the PB members that the Rabkrin's audit of the MKK would mean the collapse of the NEP: “It would be ... the greatest disaster if the Rabkrin's competence were extended to these enterprises. It would mean the disruption of the NEP" because, under the threat of such inspection, no one would invest. Behind this thesis was his desire to free the private capital from control of the Soviet State.

Despite Trotsky's protests, an audit was carried out in February 1922. The conclusions were discussed in April with representatives from the Rabkrin and the MKK. The main conclusions, released on 16-May-1922, were as follows: the MKK “Regulations” did not provide an idea of its legal nature; the MKK was neither a State nor a private capitalist organization; it had become independent of "the military command", and consequently, without anyone knowing it, the MKK stood outside the State system; the “Regulations” did not specify who were the members of the Board of Directors and how to elect them, and to whom belonged the MKK's revenues.

It was also discovered that the aim underlying the creation of the MKK had been perverted. The main idea, of combination, had not been implemented, given that the MKK entreprises were separated from each other: "All of them have been incorporated without a plan, in order to provide generality to the Moscow trade" the endline of the MKK activities. The leased enterprises were, six months later, "in a miserable condition", financially and technically, such that it would demand huge funds for their recovery. The large enterprises of the MKK were not profitable. They could only operate profitably "because of speculative market opportunities". Trotsky himself recognized this. The MKK was simply a drain of State funds channeling them into the “free market”. A parasite of the State. [186]

Abusive practices were also revealed: materials in bad condition, lack of clear requirements and of their monitoring and application, extremely primitive accounting with "illiterate reports" just to deceive the real state of the accounts, and illegal methods of granting commissions. The leasing was made in such a way that the MKK robbed the Moscow Economic Council, i.e. the State. V. Sakharov points out that Lenin's archive contains other material on the MKK violations related to employment and remunerations.

Despite his state of health, Lenin was attentive to what was going on in the MKK until at least 24-Nov-1922. Members and candidates to membership of the PB sent the following statement to the CC on 31-Dec-1923:
“Actually when it came to comr. Trotsky’s attempt to create an alternative of economic work in the form of the famous MKK, comr. Lenin fought for months against this small "economic undertaking" of comr. Trotsky, and dozens of times in the presence and in the absence of comr. Trotsky, comr. Lenin argued in detail that with the approach of comr. Trotsky to economic issues, the economy could only be destroyed” [187]

*   *   *
Lenin still tried to keep Trotsky in a position that he would not disturb the defined course. In September 1922 Lenin submitted to the PB, through Stalin, a proposal to nominate Trotski Vice-President of the CPC. Trotsky refused, because, as he admitted in a letter to Stalin, "as Vice-President of the CPC, I was invited to oversee not the economic departments, but to be the first head of the People's Commissariat for Education". In the second half of 1922 Trotsky became increasingly alienated from the Party and his contacts with Lenin were scarce.


De novo o velho

Quando em Agosto de 1921 Trotski declarou que a morte do poder soviético era inevitável se não fosse adoptada a sua política económica, houve outra ideia em que insistiu no PB: a de que havia uma ameaça real de nova intervenção. É possível que essa insistência estivesse relacionada com a defesa de um orçamento elevado para o seu departamento militar. [188] Seja como for, Trotski aproveitou estas questões para ressuscitar a teoria da «revolução permanente» como alternativa à NEP de Lénine.

Trotsky começou a reimprimir no início de 1922 as suas antigas obras, onde a revolução socialista russa é analisada do ponto de vista da teoria da "revolução permanente". Assim, as divergências sobre a NEP levantaram uma nova discussão sobre questões fundamentais da teoria da revolução socialista. [189]

Em Março de 1922, na véspera do XI Congresso do PCR(b), apareceu uma colecção dedicada à revolução de 1905 com um prefácio escrito por Trotski em Janeiro de 1922, onde confirmava a validade de todas as suas avaliações básicas contrárias à teoria leninista de desenvolver a revolução democrático-burguesa na revolução socialista, nomeadamente:
«Foi precisamente no intervalo entre 9 de Janeiro e a greve de Outubro de 1905 que as ideias que vieram a ser chamadas de teoria da "revolução permanente" se formaram na mente do autor. ... A revolução russa ... não seria capaz de resolver as suas tarefas burguesas imediatas, a não ser colocando o proletariado no poder. E o proletariado ... não poderia ficar limitado ao quadro burguès da revolução ... a vanguarda proletária teria que fazer, logo nos estádios iniciais do seu governo, incursões extremamente profundas não apenas nas relações de propriedade feudal, mas também burguesa. Ao fazê-lo, entraria em conflito hostil não só com todos os grupos da burguesia que o tinham apoiado ... mas também com as amplas massas camponesas ...
«As contradições entre um governo dos trabalhadores e a esmagadora maioria dos camponeses num país atrasado só poderiam ser resolvidos à escala internacional, na arena da revolução proletária mundial. ...
«Apesar de uma interrupção de doze anos [isto é, em 1917] esta análise foi totalmente confirmada.» [190]

Portanto, Trotski  mantinha-se na «revolução permanente»; a sua tese tinha sido «totalmente confirmada» em 1917; não tinha havido uma revolução socialista em 1917 – para isso, teria de haver um «conflito hostil» com «as amplas massas camponesas» (o que não tinha ocorrido) e seria necessária, para resolver as contradições com os camponeses, a «revolução proletária mundial» (o que também não tinha ocorrido); assim, a revolução de Outubro era de natureza política, proletária, mas não socialista.

Trotski também republicou em 1922 a sua brochura de 1917, Programa da Paz, com um pós-escrito especialmente escrito, no qual desafiava abertamente a conclusão de Lénine de que era possível construir e desenvolver o socialismo na Rússia debaixo de cerco capitalista:
«Tendo-nos defendido no sentido político e militar como estado, não chegámos à criação de uma sociedade socialista e nem sequer nos aproximámos disso ... Enquanto a burguesia estiver no poder em outros estados europeus, somos compelidos a buscar acordos com o mundo capitalista para lutar contra o isolamento económico; com isso, podemos dizer com confiança que esses acordos podem, na melhor das hipóteses, ajudar a curar uma ou outra ferida económica, dar um ou outro passo adiante, mas um genuíno aumento da economia socialista na Rússia só será possível após a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa». [191]

As declarações de Trotski também revelam o seu desacordo com Lénine sobre o mais importante princípio marxista: a ditadura do proletariado. À tese de Lénine de que a essência da ditadura do proletariado era a união do proletariado com o campesinato sob o papel de guia do proletariado, Trotski opôs à sua própria tese: a ditadura do proletariado é o poder da classe operária dirigida contra todas as camadas não proletárias da sociedade. Além disso, Trotsky em 1922, como em 1905 e em 1917, também opondo-se a Lénine, deu primazia a factores externos no desenvolvimento da revolução socialista na Rússia, à frente dos internos. Conclusão: ao longo dos anos as divergências entre Lénine e Trotski – apesar da pertença deste ao POSDR – não diminuiram, mas pelo contrário intensificaram-se.

V. Sakharov assinala, a nosso ver correctamente, a este propósito: «O termo “reavivamento” [usado pela historiografia dominante] da teoria da “revolução permanente” transmite fielmente o lado externo da questão, mas não regista a evolução política interna que essa teoria sofreu durante a revolução socialista ... Anteriormente, ela exigia avançar a revolução, apesar do possível perigo de derrota. Agora, era usada para avaliar o caminho percorrido pela revolução e justificar a previsão da sua inevitável queda fora do quadro de uma vitoriosa revolução proletária mundial. Assim, Trotski, de "esquerda absurda" (como definia Lénine), transformou-se num vulgar social-democrata».

Trotski também republicou na colecção 1905 o seu artigo As Nossas Divergências, contendo uma polémica com Lénine sobre o lugar e o papel do campesinato na revolução socialista, em que dizia:
«... as características anti-revolucionárias do bolchevismo representam um grande perigo apenas no caso de uma vitória revolucionária.»
Mas a vitória bolchevique de 1917, etc., desmentia tal afirmação. Trotski removeu a contradição entre a sua previsão e os factos da história, com a seguinte nota na republicação de 1922:
«Isto, como se sabe, não aconteceu, porque sob a liderança do cam. Lénine, o bolchevismo realizou (não sem luta interna) o seu rearmamento ideológico nesta questão importantíssima na Primavera de 1917, ou seja, antes da conquista do poder. (1922)» [192]

Por outras palavras, como observa Sakharov, para Trotski não foram os bolcheviques que realmente tomaram o poder em Outubro de 1917, mas recém-formados trotskistas, que ainda não haviam percebido que o eram, e que por inércia mantiveram a antiga denominação e fidelidade a esquemas teóricos e políticos. Mais tarde, após a morte de Lénine, Trotski vai mais longe nesta sua visão dos factos históricos.

Estas republicações marcam o início da re-escrita da história da revolução por Trotsky. Ele precisava disto para mostrar que era superior a Lénine, que era o verdadeiro líder da "bolchevização" do bolchevismo e, portanto, o sucessor natural de Lénine.

Como observa V. Sakharov, a táctica de republicar escritos antigos com comentários adequados foi superior à táctica de publicar um novo artigo descrevendo antigas divergências. Permitiu-lhe mostrar de forma mais completa as origens e a profundidade das divergências, apresentar uma argumentação detalhada e raciocinada da sua posição anti-leninista, criticar Lénine sem levantar críticas às suas opiniões anteriores, combinar críticas à NEP, a Lénine e ao bolchevismo, apontar-lhes erros anteriores como causa de erros actuais, e fundamentar a tese sobre o perigo do curso leninista para o destino da revolução. Isto permitiu a Trotski disseminar a ideia de que estivera sempre certo na luta contra Lénine e afirmar-se como o principal mas subestimado teórico do partido.
*   *   *
Trotski também usou a seu favor a doença de Lénine, obtendo apoio de pessoas próximas de Lénine: esposa e secretárias. No final de Dezembro de 1922, Lénine, alegadamente, escreveu o conjunto de cartas e notas conhecido por «Testamento de Lénine», de que Trotski e seus apoiantes se serviram para lutar contra o leninismo. No próximo artigo abordaremos esta questão assinalando por que razão é adequado dizermos «alegadamente».
Old Stuff Served Anew

At the same time that in August 1921 Trotsky declared that the death of the Soviet power was inevitable if his policy on the economy was not adopted, there was another idea that he kept insisting at the PB: that there was a real threat of a new intervention. It is possible that this insistence was related to his claim of a large budget for his military department [188]. In any case, Trotsky took advantage of these issues to revive the theory of "permanent revolution" as an alternative to Lenin's NEP.

Trotsky began reprinting in 1922 his earlier works, where the Russian socialist revolution was analyzed from the point of view of the theory of "permanent revolution". Thus, his disagreements over the NEP were raised into a new discussion on fundamental issues of the theory of socialist revolution. [189]

In March 1922, on the eve of the XI Congress of the RCP(B), appeared a collection dedicated to the 1905 revolution with a preface written by Trotsky in January 1922, where he confirmed the validity of all his basic assessments that were contrary to the Leninist theory of developing the bourgeois-democratic revolution into a socialist revolution, namely:
“It was precisely in the interval between January 9 and the October strike of 1905 that those views which came to be called the theory of ‘permanent revolution’ were formed in the author’s mind. … the Russian revolution … could not solve its immediate, bourgeois tasks except by putting the proletariat into power. And the proletariat… would not be able to remain confined within the bourgeois framework … the proletarian vanguard in the very earliest stages of its rule would have to make extremely deep inroads not only into feudal but also into bourgeois property relations. While doing so it would enter into a hostile conflict, not only with all those bourgeois groups which had supported it … but also with the broad masses of the peasantry
The contradictions between a workers’ government and an overwhelming majority of peasants in a backward country could be resolved only on an international scale, in the arena of a world proletarian revolution. …
Despite an interruption of twelve years [that is, in 1917], this analysis has been entirely confirmed.” [190]

Therefore, Trotsky remained in the "permanent revolution"; his thesis had been "entirely confirmed" in 1917; there had been no socialist revolution in 1917 – since that would require entering into a "hostile conflict" with "the broad masses of the peasantry" (which did not happen) and it would require, in order to resolve the contradictions the "world proletarian revolution” (which had not happened either); therefore, the October revolution was of a political, proletarian nature, but not socialist.

Trotsky also republished in 1922 his 1917 brochure, The Peace Program, with a specially written postscript, in which he openly challenged Lenin's conclusion that it was possible to build and develop socialism in Russia under capitalist encirclement:
“But having defended ourselves in the political and military sense, as a State, we did not come to the creation of a socialist society and did not even approach it. …. As long as the bourgeoisie is in power in other European countries, we are compelled, in the fight against economic isolation, to seek agreements with the capitalist world; at the same time, we can confidently say that these agreements, at best, can help us heal one or another economic wound, take one or another step forward, but a genuine rise in the socialist economy in Russia will become possible only after the victory of the proletariat in the most important European countries.” [191]

Trotsky's statements also reveal his disagreement with Lenin on the most important Marxist principle: the dictatorship of the proletariat. To Lenin's thesis that the essence of the dictatorship of the proletariat was the union of the proletariat with the peasantry under the guiding role of the proletariat, Trotsky opposed his own thesis: the dictatorship of the proletariat is the power of the working class directed against all non-proletarian layers of the society. Moreover, Trotsky in 1922, also opposing Lenin as in 1905 and 1917, gave primacy to external factors in the development of the socialist revolution in Russia, ahead of the internal ones. Conclusion: over the years, the divergences between Lenin and Trotsky -- despite him being a member of the RSDLP -- had not diminished, but on the contrary had intensified.

In our view, V. Sakharov correctly points out in this regard: “The term “revival” [used by the mainstream historiography] of the theory of “permanent revolution” faithfully conveys the external side of the matter, but does not register the internal political evolution that this theory underwent during the socialist revolution ... Previously, it demanded moving the revolution forward, despite the possible danger of defeat. Now, it was used to evaluate the road traveled by the revolution and justify the prediction of its inevitable fall outside the framework of the victorious world proletarian revolution. Thus, Trotsky from “awkwardly left” (according to Lenin's definition) turned into an ordinary social-democrat.”

Trotsky also republished in the collection 1905 his article Our Divergences, containing a controversy with Lenin about the place and role of the peasantry in the socialist revolution, in which he said:
“… the anti-revolutionary features of Bolshevism pose a great danger only in the event of a revolutionary victory.”
But the Bolshevik victory of 1917, etc., contradicted this statement. Trotsky removed the contradiction between his prediction and the facts of history, with the following note in the 1922 republication:
“This, as is known, did not happen, because, under the leadership of comr. Lenin, Bolshevism accomplished (not without an internal struggle) its ideological rearmament in this most important issue in the spring of 1917, i.e.. before the conquest of power. (1922)” [192]

In other words, as observed by Sakharov, for Trotsky it were not the Bolsheviks who really took power in October 1917, but newly-graduated Trotskyists who had not yet realized that they were so, and who by inertia maintained their old denomination and their old allegiance to theoretical and political schemes. Later, after Lenin's death, Trotsky would go further in this view of historical facts.

These republications mark the beginning of Trotsky's rewriting of the history of the revolution. He needed this to show that he was superior to Lenin, that he was the true leader of Bolshevism's "Bolshevization" and therefore Lenin's natural successor.

As observed by V. Sakharov, the tactic of republishing old writings with appropriate comments was superior to the tactic of publishing a new article describing old differences. It allowed him to show more fully the origins and depth of the differences, to present a detailed and reasoned argument for his anti-Leninist position, to criticize Lenin without raising criticism of his previous opinions, to combine criticisms of the NEP, Lenin and Bolshevism, to point out previous errors as the cause of current errors, and to base the thesis on the danger of the Leninist course for the destiny of the revolution. This allowed Trotsky to disseminate the idea that he had always been right in the fight against Lenin, asserting himself as the main but underestimated theorist of the Party.
*   *   *
Trotsky also used Lenin's disease to his advantage, gaining support of people close to Lenin: Lenin’s wife and secretaries. In late December 1922, Lenin allegedly wrote the set of letters and notes known as "Lenin's Testament", which Trotsky and his supporters used in their fight against Leninism. We will address this issue in a following article, pointing out why it is appropriate to say "allegedly".


Notas VIII | Notes VIII

[139] Valentin A. Sakharov (nascido em 1946) é um historiador russo, Doutor em Ciências Históricas, Professor Associado da Universidade Estatal de Moscovo. É autor de obras sobre a história da revolução russa, transformações socioeconómicas e políticas na primeira metade do século XX, história da política externa da URSS na década de 1920 e no início da década de 1950, actividade de I.V. Estáline, etc.  A publicação do livro sobre o "Testamento Político" de Lénine foi apoiada pelo Comité Executivo da União Patriótica Popular da Rússia. Tem um prefácio do editor científico Professor V.I. Tropin, e utilizou documentos do Arquivo Estatal Russo de História Sociopolítica (sigla russa RGASPI).
O autor declara na «Introdução»: «A base metodológica do estudo é o materialismo dialéctico em combinação orgânica com a chamada "abordagem civilizacional", que, como o autor acredita, não se opõe ao materialismo dialéctico, antes está organicamente aticulada com ele.»
Não temos qualquer razão para duvidar das referências do livro. Pelo contrário, nas muitas vezes que as pudemos verificar estavam certas.
Valentin A. Sakharov (born 1946) is Russian historian, Doctor of Historical Sciences, Associate Professor of the Moscow State University. He is the author of works on the history of the Russian revolution, socio-economic and political transformations in the first half of the 20th century, history of the foreign policy of the USSR in the 1920s and early 1950s, the activities of I.V. Stalin, etc. The publication of his book on Lenin’s “Political Testament” was supported by the Executive Committee of the People's Patriotic Union of Russia. It has a preface by the scientific editor Professor V.I. Tropin, and used documents from the Russian State Archives of Socio-Political History (Russian acronym RGASPI).
The author states in the "Introduction": "The methodological basis of the study is dialectical materialism in organic combination with the so-called ‘civilizational approach’, which, as the author believes, does no oppose dialectical materialism, and is organically combined with it.”
We have no reason to doubt the references of the book. On the contrary, in the many times that we were able to check them they were right.

[140] N. Popov, Esboço da História do Partido Comunista da União Soviética, Parte II, L., Martin Lawrence Ltd. (A biografia do revolucionário, líder do Partido e historiador, Nikolai Nikolaevich Popov (5-Jan-1891 - 10-Fev-1938) pode ser consultada aqui (ru.wikipedia).
N. Popov, Outline History Of The Communist Party Of The Soviet Union, Part II, L., Martin Lawrence Ltd. (The biography of the revolutionary, Party leader and historian, Nikolai Nikolaevich Popov (January 5, 1891- February 10, 1938) can be found here (ru.wikipedia)

[141] Disponível em português no Marxists Internet Archive (MIA) | Available at the Marxists Internet Archive (MIA).

[142] V. Sakharov, op. cit., 1.2.1.

[143] Ibid.

[144] Ibid. «M. Ulyanova [irmã de Lénine] recordou: “Numa reunião do PB Trotski chamou Ilyich [Lénine] de “rufião”. V. I. [Lénine] empalideceu como giz, mas conteve-se. "Parece que os nervos de algumas pessoas lhes pregam ‘partidas’"; disse algo assim à grosseria de Trotski, de acordo com os camaradas que me contaram o incidente. Ele [Lénine] não sentia simpatia por Trotski; este indivíduo tinha muitas características que complicavam de maneira incomum o trabalho colectivo com ele». Sakharov cita o Novosti TsK KPSS (Notícias do CC do PCUS) n.º 12 de de 1989, p. 197. Notar que esta e outras referências às Notícias do CC do PCUS se reportam a anos da «perestroika».
Ibid. M. Ulyanova recalled: “At one meeting of the PB Trotsky called Ilyich [Lenin] a “bully”. V. I. [Lenin] turned pale as chalk, but restrained himself. ‘It seems that the nerves of some people are playing ‘tricks’’; he said something like this to Trotsky’s rudeness, according to the comrades who told me about the incident. He did not feel sympathy for Trotsky; this person had too many traits that complicated the team work with him in an unusual way.” Novosti TsK KPSS (News of the CPSU CC), 1989. No. 12, p. 197. Note that this and other references to the News of the CPSU CC refer to “perestroika” years.

[145] Ibid., Novosti TsK KPSS n.º 7, 1990.

[146] A carta era assinada por: Zinoviev, Kamenev, Estáline, Bukharine, Kalinine, Molotov, Rudzutak, Rikov e Tomski. (Membros do PB: Lénine, Trotski, Zinoviev, Kamenev, Estáline; candidatos: Bukharine, Kalinine, Molotov.)
The letter was signed by: Zinoviev, Kamenev, Stalin, Bukharin, Kalinin, Molotov, Rudzutak, Rykov and Tomsky. (PB members: Lenin, Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Stalin; candidates: Bukharin, Kalinin, Molotov.)

[147] Ibid., Novosti TsK KPSS n.º 7, 1991.

[148] Sto sorok besed s Molotovym: Iz dnevnika Feliks Chuyev (Cento e quarenta conversas com Molotov: Do de díario de F. Chuev), ТЕRRА, М., 1991, p. 48. Existe uma tradução em inglês (Molotov Remembers. Inside Kremlin Politics, Ivan R. Dee, Chicago, 1993) de fraca qualidade e introdução e comentários insultuosos. Não encontrámos nessa tradução a citação mencionada. Mas ela de facto consta do original em russo.
Sto sorok besed s Molotovym: Iz dnevnika Feliks Chuyev (One Hundred and Forty Conversations with Molotov: From the Diary of F. Chuev), ТЕRRА, М., 1991, p. 48. There is a poor English translation (Molotov Remembers. Inside Kremlin Politics, Ivan R. Dee, Chicago, 1993) with outrageous introduction and comments. We did not find the mentioned quotation in that translation. But we found it in the original in Russian.

[149] Sayers and Kahn (op. cit. Parte V, nota 99, p. 67) refere que no X Congresso o CC «advertiu especificamente o "camarada Trotski" contra as suas "actividades fraccionistas"» e que vários trotskistas importantes foram removidos: o principal assessor militar de Trotski, Muralov, foi removido de comandante da guarnição militar de Moscovo e substituído por Voroshilov.
O historiador trotskista Isaac Deutscher também menciona (op. cit. Parte VI, nota 112, p. 223) que os secretários Krestinski, Serebriakov e Preobrajenski, que tinham mostrado inclinação ou complacência em relação à «Oposição Operária», foram afastados do cargo e substituídos por Molotov e Yaroslavski. Note-se que a palavra «Trotskista» foi pela primeira vez usada no X Congresso pelo delegado Kutuzov. E, como afirma V. Sakharov, ninguém (incluindo Trotski) perguntou o que era o trotskismo e quem eram os trotskistas.
Sayers and Kahn (op. cit. Part V, note 99, p. 67) states that at the X Congress the CC “specifically warned ‘comrade Trotsky’ against his ‘factional activities’" and that several important Trotskyists were removed: Trotsky's chief military adviser, Muralov, was removed from commander of the Moscow military garrison and replaced by Voroshilov.
The Trotskyist historian Isaac Deutscher also mentions (op. cit. Part VI, note 112, p. 223) that the secretaries Krestinsky, Serebryakov and Preobrazhensky, who had shown inclination or complacency towards the "Workers' Opposition", were removed from office and replaced by Molotov and Yaroslavsky. Let us note that the word “Trotskyist” was used for the first time at the X Congress by the delegate Kutuzov. And,  as asserted by V. Sakharov, no one (including Trotsky) asked what Trotskyism was and who were the Trotskyists.

[150] 3.ª Sessão, 28-Mar-1922 | 3rd Session, 28-Mar-1922. Protokoly XI s"yezda RKP (b) (Actas do XI Congresso do PCR(b) | Minutes of the XI Congress of the RCP(B)), M., 1936 g., p.142, http://publ.lib.ru/ARCHIVES/K/KPSS/_KPSS.html

[151] Trotski não era avesso a usar as tendências anarco-sindicalistas de Bukharine. Preobrajensky, membro do grupo «pára-choques» de Bukharine, era um elemento de ligação entre Trotski e Bukharine.
Trotsky was not averse to using Bukharin's anarcho-syndicalist tendencies. Preobrazhensky, a member of Bukarin's “buffer” group, served as liaison between Trotsky and Bukharin.

[152] Popov, op. cit., p. 132.

[153] Molotov explicou esta expressão idiomática russa: “No sentido de que já não era possível conservar o poder”. Chuev, op. cit. p. 48. O episódio é mencionado por Sayers and Kahn, op. cit., p. 194, por Estáline em Letter to the members of the Central Committee of the RCP(B), 17-Jan-1923 (em russo), por Popov, op. cit., p. 133, e pela ru.wikipedia. Nesta última o episódio é referido como tendo ocorrido em 25-Aug-1921, at a PB meeting. Popov refere que ocorreu «depois do [X] Congresso».
Molotov explained this Russian idiom: "In the sense that holding power was no longer possible", Chuev, op. cit. p. 48. The episode is mentioned by Sayers and Kahn, op. cit., p. 194, by Stalin in Letter to the members of the Central Committee of the RCP(B), 17-Jan-1923 (in Russian), by Popov, op. cit., p. 133, and the ru.wikipedia. In the latter, the episode is said to have occurred at a PB meeting on 25-Aug-1921. Popov says that it occurred "after the [X] Congress".

[154] V. Sakharov, op. cit. 1.2.1, nota 7, Novosti TsK KPSS, 1989. No. 4, p. 189.

[155] Protokoly XI s"yezda RKP(b), М., 1936, p. 284.

[156] V. Sakharov, op. cit., 1.1.1 nota 6: Trotskiy L.D. Osnovnyye zadachi i trudnosti khozyaystvennogo stroitel'stva. Iz doklada na zasedanii Moskovskogo komiteta RKP(b). 6 yanvarya 1920 g. (As principais tarefas e dificuldades da construção económica. De um relatório a uma reunião do Comitê de Moscovo do PCR(b)| The main tasks and difficulties of economic construction. From a report at a meeting of the Moscow Committee of the RCP(B)).

[157] Popov, op. cit., pp. 139, 162, 169. refere que estavam a espalhar a demagogia que a transição para a NEP significava um repúdio ao comunismo, uma rendição das posições revolucionárias, um pisar no freio e a restauração do poder da burguesia.
Popov, op. cit., pp. 139, 162, 169. states that they were spreading the demagogy that the transition to the NEP meant a repudiation of communism, a surrender of revolutionary positions, a step on the brake and the restoration of the power of the bourgeoisie.

[158] Ibid., p. 163. Há outros autores que concordam | Other authors concur.

[159] «Contamos firmemente com a revolução na Europa. A nova política económica é um mero estratagema para acompanhar o seu desenvolvimento ... Se o mundo capitalista durar mais algumas décadas, selará, assim, o destino da revolução socialista que terá que atravessar a fase da democracia burguesa ou apodrecer “em outras formas"»
"We firmly rely on revolution in Europe. The new economic policy is a mere stratagem to keep pace with its development... If the capitalist world lasts several more decades it will thereby seal the fate of the socialist revolution which will either have to go through the phase of bourgeois democracy or rot away 'in other forms'."
L. Trotskiy. Sochineniya. Novaya ekonomicheskaya politika Sovetskoy Rossii i perspektivy mirovoy revolyutsii. Tom 12, Moskva-Leningrad, 1925. (L. Trotsky, The New Economic Policy of Soviet Russia and the Perspectives of the World Revolution (Part II). Delivered at the November 14, 1922 Session of the IV World Congress of the Comintern.)

[160] V. Sakharov, op. cit., 1.1.1 nota 19 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[161] Ibid., 1.2.2.

[162] Sétima Conferência do Organização Provincial de Moscovo do Partido | Seventh Conference of the Moscow Provincial Organization of the Party.

[163] Estáline escreveu numa carta a Lénine (Maio de 1922): “Não me importo com a proibição formal de medidas que enfraquecem o monopólio do comércio exterior nesta fase. Penso, no entanto, que o enfraquecimento está-se a tornar inevitável. ”
Stalin wrote in a letter to Lenin (May 1922): “I do not mind the formal prohibition of steps towards weakening the monopoly of foreign trade at this stage. I think, nevertheless, that the weakening is becoming inevitable.”

[164] V. Sakharov, op. cit., 1.3.3, nota 99 (documento do RGASPI | RGASPI document).
«Manter e fortalecer o monopólio do comércio externo é uma necessidade absoluta ... Por outro lado, modificações e melhorias dos métodos de monopólio do comércio externo são absolutamente necessárias.»
“Maintaining and strengthening the foreign trade monopoly is an absolute necessity ... On the other hand, modifications and improvement of the methods of foreign trade monopoly are absolutely necessary.”

[165] Ibid.: «A questão mais importante, no entanto, foi e continua a ser a regulamentação do comércio externo russo na estrutura de todo o trabalho económico em geral. ... Essas decisões são necessárias não em termos de regulamentação legislativa, de listas fixas, mas em termos de práticas, de mudanças, e sempre adaptadas a todo o escopo das necessidades económicas.»
Ibid.: “The most important issue, however, was and remains the regulation of Russian foreign trade in the structure of all economic work in general. ... These decisions are needed not in terms of legislative regulation, of fixed listings, but in terms of practical, changes, and always adapted to the whole scope of economic needs.”

[166] Nessa altura Lénine sofria de paralisia e não conseguia escrever. O seu último discurso público foi em 20-Nov-1922 no Soviete de Moscovo.
At that time Lenin suffered from paralysis and was unable to write. His last public speech was on 20-Nov-1922 at the Moscow Soviet.

[167] Ver Diário das Secretárias de Lénine | See the Journal of Lenin’s Secretaries: MIA: vol.  42.

[168] V. Sakharov, op. cit., 1.3.3 nota 128 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[169] Protokoly XII s"yezda RKP(b), M., 1922. pp. 205-206, 294.

[170] MIA, vol. 42: A Letter to A. D. Tsyurupa with a Draft Resolution for the All-Russia Central Executive Committee and a Note to the Members of the Politburo of the C.C., R.C.P.(B.), 28-30 November 1921.

[171] Ibid., To Comrade Krzhizhanovsky, The Presidium Of The State Planning Commission, 14 May, 1921.

[172] V. Sakharov, op. cit., 1.1.1 nota 25 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[173 ] Ibid., nota 27 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[174] Ibid. nota 28. Novosti TsK KPSS, 1990, No. 7. p. 179.

[175] O CC adoptou o projecto "Teses sobre a implementação da nova política económica", elaborado em Junho-Julho de 1921 pelo SEC e pelo CC com a participação activa de Lénine.
The CC adopted the project "Theses On The Implementation Of The New Economic Policy", prepared in June-July 1921 by the SEC and the CC with the active participation of Lenin.

[176] V. Sakharov, op. cit., 1.1.1 nota 35 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[177] MIA, vol. 33. V.I. Lenin, Reply to Remarks Concerning the Functions of the Deputy Chairmen of the Council of People’s Commissars. To Comrade Stalin with the request to pass it on (do not duplicate it -- to do so would give publicity to polemics) to members of the Political Bureau and Comrade Tsyurupa (asking them to sign it and give the date when they have read it).

[178] Nas resoluções «Sobre o Relatório do Comité Central» e «Sobre o Fortalecimento e Novas Tarefas do Partido» | In the resolutions "On the Report of the Central Committee" and "On the Strengthening and New Tasks of the Party".

[179] Chuev, op. cit., pp. 182, 207.

[180] V. Sakharov, op. cit., 1.2.1 nota 29 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[181] Chuev, op. cit., p. 207.

[182] V. Sakharov, op. cit., 1.2.1 nota 34: Proceedings of the CPSU CC, 1990. No. 7. p. 177.

[183] V. Sakharov, op. cit., 1.3.1 nota 9 (documento do RGASPI | RGASPI document). Também na wikipedia em russo e na nota 92 do vol. 53 das Obras Completas de Lénine em russo.
Also in the Russian wikipedia and the note 92, vol. 53, of V.I. Lenin, Complete Works, in Russian.

[184] Lenin V. I. Polnoye sobraniye sochineniy, T. 53, S. 84. Não disponível em português. Not available in MIA- English.

[185] V. Sakharov, op. cit., 1.3.1 nota 11 (documento do RGASPI | RGASPI document).

[186] Ibid.

[187] Ibid., nota 29, Novosti TsK KPSS, 1991. No. 3. p. 213.

[188] Trotski já tinha levantado a questão de aumentar o orçamento para a armada no XI Congresso. V. Sakharov refere que no Outono de 1922, ao discutir o orçamento para 1923, Piatakov, que era Vice-Presidente do Gosplan e apoiante de Trotski, reclamou um enorme orçamento para o departamento militar que o PB cortou em Novembro.
Trotsky had already raised the question of increasing the navy budget at the XI Congress. V. Sakharov mentions that in the autumn of 1922, when discussing the budget for 1923, Pyatakov, Vice Chairman of the Gosplan and a supporter of Trotsky, demanded a huge budget for the military department that the PB cut down in November.

[189] V. Sakharov, op. cit., 1.1.2.

[190] MIA: L. Trotsky, 1905. Preface to the First Edition, 1922.

[191] Traduzido do russo | Translated from the Russian text. https://www.marxists.org/russkij/trotsky/works/trotl245.html

[192] See note at the end of section VI of: Trotskiy: Nashi raznoglasiya (Our Divergences) http://iskra-research.org/Trotsky/Permanent/chapter27.shtml. The same note is quoted by Trotsky in the appendix to the chapter “Rearming the Party” of his History of the Russian Revolution: https://www.litmir.me/br/?b=112502&p=110
The MIA version of the History of the Russian Revolution omits this appendix.