Em 18 de Julho passado o Tribunal Penal
Internacional para a antiga Jugoslávia em Haia (ICTY) ilibou o ex-Presidente e
dirigente da Liga dos Comunistas da Sérvia, Slobodan Milosevitch, de todas as acusações
de crimes de guerra, limpeza étnica, etc. Esta notícia merece-nos os seguintes aditamentos
e comentários:
-- O veredicto, extremamente incómodo para o
Império Ianque & C.ª, não foi noticiado pelos media imperiais: as grandes cadeias internacionais e nacionais de
notícias que o Império controla. Incluindo a TV portuguesa. Eis aqui mais uma
demonstração das virtudes da «liberdade de informação» proporcionada aos
cidadãos pelos que detêm os sacos de dinheiro: Quando uma notícia não agrada ao
Império… é omitida.
-- O veredicto do tribunal surge dez anos depois da morte de Milosevitch em Haia, morte para a qual contribuiu a sua prisão desde Janeiro de 2002. Dez
anos! Foram precisos dez anos para oficialmente inocentar Milosevitch. Isto,
apesar de pouco depois da sua morte, em 24 de Março de 2016, já o ICTY ter
emitido uma declaração de que não tinha encontrado «suficiente» evidência dos
crimes de que era acusado. Uma conclusão inescapável que se tira de tudo isto é
de que os dez anos foram precisos não porque andaram durante esse tempo à cata
de evidência total e não apenas «suficiente». Não, os dez anos foram
necessários para que o caso fosse esquecido pela opinião pública, podendo então
o veredicto ser impunemente silenciado pelos media imperiais. Quem se lembra ainda ou se interessa por
Milosevitch?
-- Afinal,
Milosevitch, que o Império encabeçado por Bill Clinton e Tony Blair demonizou
como o «carniceiro dos Balcãs», não foi carniceiro nenhum. Pelo contrário, o ICTY reconheceu que ele sempre se tinha
oposto às limpezas
étnicas, à violência de Karadzic, etc.
-- O veredicto do ICTY é como que a última
peça do puzzle que torna perfeitamente claro ter sido o desmembramento violento
da Jugoslávia – a «aniquilação de uma nação», conforme o título preciso de um
excelente livro de Michael Parenti – o resultado de uma orquestração bem
sucedida do Império, com excelente desempenho da Alemanha e do Vaticano.
-- Orquestração que se tornou um dos modelos da
ingerência imperial Ianque & C.ª – demonização de dirigentes, protestos
«populares», etc. – reaplicado noutras partes do globo com governos que
incomodam(vam) o Império, nomeadamente na Líbia, Síria, Ucrânia, etc., e,
actualmente com os devidos ajustes, na Venezuela.
-- Quanto à Líbia e Síria temos que fazer um mea culpa relativamente aos nossos
anteriores artigos sobre a «Primavera Árabe». Na Líbia e Síria a ingerência imperial surgiu logo no início (documentos
revelados recentemente comprovam-no) e não apenas numa fase avançada, como na
altura julgávamos e escrevemos. Isso não exclui que várias forças autenticamente
populares e progressistas se tenham desde o início oposto a Khadafi e Assad, e
sacrificado a vida por uma causa que não era a imperial.
-- De tudo isto se confirma mais uma vez a
seguinte conclusão (expressa por Che Guevara, embora não nos lembremos as
palavras exactas): é preciso desconfiar
de toda a informação que provém do Império, cujas afirmações mentirosas são
constantes; com particular acuidade
quando se refere a países que o incomodam.
* *
*
Sobre estes temas apresentamos a tradução de
um recente artigo de John Pilger que consideramos de muito interesse.
* *
*
Incitando à Guerra
Nuclear através dos media
John Pilger, 23 de Agosto
de 2016, "Information
Clearing House" - "RT"
A ilibação de um homem acusado dos piores
crimes não apareceu nos títulos dos jornais. Nem a BBC nem a CNN a
noticiaram. O Guardian só lhe concedeu
um breve comentário. Uma tão rara ilibação oficial foi, como se compreenderá, enterrada
ou suprimida, já que diria demasiado sob a forma de como os reis do mundo
reinam.
O Tribunal Penal Internacional para a Antiga
Jugoslávia (ICTY) ilibou silenciosamente o último presidente sérvio Slobodan
Milosevitch de crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia em
1992-95, incluindo o massacre de Srebrenica.
Longe de conspirar com o culpado dirigente
bósnio-sérvio Radovan Karadzic, Milosevitch, na realidade, «condenou a limpeza
étnica», opôs-se a Karadzic e procurou pôr um fim à guerra que desmembrou a
Jugoslávia. Esta verdade encontra-se inserta perto do trecho final de um
veredicto de 2.590 páginas sobre Karadzic, do passado mês de Fevereiro. Ela
destrói ainda mais a propaganda justificativa do ataque ilegal da Nato à Sérvia
em 1999.
Milosevitch morreu de ataque do coração em
2006, sozinho na sua cela em Haia, no que constituiu uma farsa de julgamento
num «tribunal internacional» inventado pelos americanos. Foi-lhe negada
cirurgia do coração que lhe poderia ter salvo a vida. O seu estado piorou,
tendo sido monitorizado e mantido em segredo por funcionários dos EUA, conforme
já revelou a WikiLeaks.
Milosevitch foi vítima da propaganda de guerra
que hoje jorra às catadupas nos nossos ecrãs e jornais, ameaçando-nos a todos de
grande perigo. Ele era o protótipo do demónio, vilipendiado pelos media ocidentais como o «carniceiro dos Balcãs», responsável
por genocídio, especialmente na província separatista do Kosovo.
O primeiro-ministro Tony Blair assim o declarara, invocando o holocausto e
pedindo acção contra «este novo Hitler».
O Embaixador-Geral dos EUA para Crimes de Guerra
(sic!), David Scheffer, declarara que no mínimo «225.000 homens da etnia
albanesa entre 14 e 59 anos» podiam ter sido assassinados pelas forças de
Milosevitch.
Foi esta a justificação para o bombardeamento
da Nato, liderado por Bill Clinton e Blair, que matou centenas de civis em
hospitais, escolas, igrejas, parques e estúdios de televisão, destruindo a
infra-estrutura económica da Sérvia. Uma acção gritantemente movida por razões
ideológicas. Milosevitch foi confrontado com Madeleine Albright, secretária de
estado dos EUA, numa notória «conferência de paz» em Rambouillet, França. Uma
Albright que atingiria a infâmia quando declarou que as mortes de meio milhão
de crianças iraquianas tinham «valido a pena».
Albright apresentou uma «oferta» a Milosevitch
que nenhum dirigente nacional poderia aceitar. Só se ele concordasse com a
ocupação militar do seu país, com forças de ocupação agindo «fora do
procedimento legal», e com a imposição de um «mercado livre» neo-liberal, é que
a Sérvia não seria bombardeada. Estes ditames constavam de um «Apêndice B» que
os media ou não leram ou suprimiram.
O objectivo era esmagar o último estado europeu independente e «socialista».
Assim que a Nato começou a bombardear deu-se a
debandada de refugiados kosovar «fugindo do holocausto». Quanto o
bombardeamento terminou, equipas internacionais de polícias foram despejadas no
Kosovo para exumar as vítimas. Os polícias do FBI não conseguiram encontrar uma
única vala comum e regressaram a casa. A equipa espanhola de exame forense fez
o mesmo; o respectivo chefe denunciou indignadamente «a pirueta semântica das
máquinas de propaganda de guerra». A contagem final de mortos no Kosovo foi de
2.788 e incluía combatentes de ambos os lados, bem como sérvios e ciganos
assassinados pela pró-Nato Frente de Libertação do Kosovo. Não tinha havido
qualquer genocídio. O ataque da Nato tinha sido simultaneamente uma fraude e um
crime de guerra.
Dos tão aclamados mísseis americanos de
«orientação precisa», exceptuando uma parte, quase todos eles atingiram alvos
civis -- e não militares --, incluindo os estúdios da Rádio e Televisão Sérvia em Belgrado. Dezasseis
pessoas morreram, incluindo operadores de câmara, produtores e maquilhadores.
Blair qualificou profanamente os mortos, como fazendo parte do «comando e
controlo» da Sérvia.
Em 2008 a Procuradora do ICTY, Carla Del Ponte,
revelou que tinha sido pressionada no sentido de não investigar os crimes da
Nato.
Foi este o modelo [de intervenção militar]
adoptado por Washington nas invasões subsequentes do Afeganistão, Iraque, Líbia
e, por aviões furtivos, da Síria. Todas correspondem a «crimes proeminentes» segundo
o padrão de Nuremberga. Todas dependeram da propaganda dos media. Ainda que o jornalismo tablóide tivesse desempenhado o seu
papel tradicional, foi, porém, o jornalismo sério e credível, por vezes liberal
[no sentido americano de «liberal», com um cheiro a «esquerda»], que desempenhou
o papel mais eficiente: a promoção evangélica de Blair e das suas guerras feita
pelo Guardian, as mentiras
incessantes sobre as não existentes armas de destruição maciça de Saddam
Hussein no Observer e no New York Times, e o assestado rufar de
tambores da propaganda do governo na BBC.
No pico do bombardeamento, [a jornalista] Kirsty
Wark da BBC entrevistou o general
Wesley Clark, comandante da Nato. A cidade sérvia de Nis tinha acabado de ser
polvilhada por bombas de fragmentação, matando mulheres, velhos e crianças num mercado
aberto e num hospital. Wark não fez nenhuma pergunta sobre isto ou sobre
quaisquer outras mortes de civis.
Outros [jornalistas] foram mais descarados. Em
Fevereiro de 2003, no dia a seguir a Blair e Bush terem incendiado o Iraque, o
editor político da BBC Andrew Marr
esteve na Downing Street e pronunciou uma espécie de discurso da vitória. Disse
euforicamente aos seus espectadores que Blair tinha «dito que seriam capazes de
tomar Bagdade sem um banho de sangue e que no final os iraquianos estariam a
celebrar isso. E Blair acertou totalmente em ambas as previsões». Hoje, com um
milhão de mortos e uma sociedade em ruínas, as entrevistas de Marr na BBC são as recomendadas pela embaixada
dos EUA em Londres.
Os colegas de Marr juntaram-se «em defesa» de
Blair. O correspondente em Washington da BBC,
Matt Frei, disse que «não há dúvida de que o desejo de levar o bem, de levar os
valores americanos ao resto do mundo e especialmente ao Médio Oriente… está
hoje cada vez mais ligado à capacidade militar».
A obediência aos EUA e aos seus colaboradores
como sendo uma força benigna que «leva o bem» está profundamente enraizada no
jornalismo institucional do ocidente. Tal obediência assegura que a culpa pela
catástrofe actual na Síria seja atribuída exclusivamente a Bashar al-Assad, que
o Ocidente e Israel desde há muito conspiraram derrubar; não por razões
humanitárias, mas sim para consolidar o poder agressivo de Israel na região. As
forças jihadistas lançadas e armadas pelos EUA, Grã-Bretanha, França, Turquia e
seguidores da sua «coligação», servem para esse fim. São elas que fornecem a
propaganda e vídeos que se transformam em notícias nos EUA e Europa, que
permitem o acesso a jornalistas e que garantem uma «cobertura» unilateral da
Síria.
A cidade de Alepo está nas notícias. A maior
parte dos leitores e espectadores não tem ideia de que a maioria da população
de Alepo vive na parte ocidental da cidade controlada pelo governo, e que sofre
bombardeamentos diários de artilharia pela al-Qaida patrocinada pelo ocidente.
Isso não vem nas notícias. Bombardeiros franceses e americanos atacaram uma
vila na província de Alepo em 21 de Julho. Mataram pelo menos 125 civis. Isto
foi relatado na página 22 do Guardian,
mas sem fotografias.
Tendo criado e apoiado o jihadismo no
Afeganistão nos anos 1980 como Operação Ciclone – uma arma para destruir a
União Soviética – os EUA fizeram algo de semelhante na Síria. Tal como os mujahidin afegãos os «rebeldes» sírios
são os soldados infantes da América e Grã-Bretanha. Muitos lutam em nome da al-Qaida
e suas variantes; alguns, como a Frente Nusra, reformataram-se de forma a
satisfazer as sensibilidades americanas sobre o 9/11. A CIA controla-os, com
dificuldade, tal como controla os jihadistas em todo o mundo.
O objectivo imediato é destruir o governo de
Damasco, o qual, segundo o inquérito mais credível (YouGov Siraj), a maioria
dos sírios apoia ou pelo menos procura nele protecção, apesar do barbarismo nas
suas sombras. O objectivo a longo prazo é negar à Rússia um aliado chave no
Médio Oriente, como parte da guerra de desgaste da Nato contra a Federação
Russa com vista a eventualmente a destruir.
O risco nuclear é óbvio, embora seja suprimido
pelos media do «mundo livre». Os
escritores editoriais do Washington Post,
que promoveram a ficção das armas de destruição maciça no Iraque, pedem a Obama
que ataque a Síria. Hillary Clinton, que publicamente se gabou do seu papel de
carrasco durante a destruição da Líbia, tem repetidamente indicado que, como
presidente, «irá ainda mais longe» que Obama.
Gareth Porter, um jornalista de Washington,
revelou recentemente os nomes dos possíveis membros do governo Clinton que
planeiam atacar a Síria. Todos têm historiais da beligerância da guerra fria; o
ex-director da CIA Leon Panetta diz que «o próximo presidente terá de
considerar a colocação de forças especiais adicionais no terreno».
O mais notável da propaganda de guerra,
fluindo agora livremente, é a sua clara absurdidade e familiaridade. Estive a
olhar para um filme de arquivo de Washington dos anos de 1950, quando
diplomatas, funcionários públicos e jornalistas eram alvo de caça às bruxas e
arruinados pelo senador Joe McCarthy, por terem desafiado as mentiras e
paranóia acerca da União Soviética e da China. O culto anti-Rússia voltou, tal
como um furúnculo recorrente.
Na Grã-Bretanha, Luke Harding do Guardian lidera os-que-odeiam-a-Rússia
numa torrente de paródias que atribuem a Vladimir Putin todas as iniquidades
terrestres. Quando os Panama Papers [«documentos
do Panamá», revelados pela Wikileaks, contendo as provas de evasão fiscal de
várias celebridades mundiais do grande capital] foram revelados a página da
frente dizia que se tratava de Putin e trazia uma foto dele. Isto, apesar de
Putin não ser mencionado nos Paper.
Tal como Milosevitch, Putin é o Demónio Número
Um. Foi Putin que fez cair o avião malaio na Ucrânia. Título: «Quanto a mim,
Putin matou o meu filho». Não interessam as evidências. Foi Putin o responsável
pelo derrube do governo em Kiev em 2014, embora o derrube fosse agendado e pago
por Washington. A campanha de terror das milícias fascistas que se seguiu,
contra as populações de língua russa, foi também o resultado da «agressão» de
Putin. Mais exemplos da «agressão» de Putin foram o ter impedido a Crimeia de
se tornar uma base de mísseis da Nato, e a protecção da sua população, na
maioria russa, que tinha votado num referendo para se reunir à Rússia – da qual
tinha sido em tempos separada e anexada à Ucrânia.
Nos EUA a campanh anti-Rússia elevou-se a
realidade virtual. O colunista Paul Krugman do New York Times (um economista com o Prémio Nobel) chamou Donald
Trump de «candidato siberiano» porque, diz ele, Trump é o homem de Putin. Trump
ousou sugerir, num momento de rara lucidez, que a guerra com a Rússia poderia
ser uma má ideia. De facto, foi ainda mais longe, e retirou as entregas de
armamentos à Ucrânia da proposta republicana. «Não é que seria bom se nos
déssemos bem com a Rússia?» disse ele.
É por isso que a instituição liberal-belicista
americana o odeia. E não por causa do racismo e baixa demagogia de Trump. O
registo de racismo e extremismo de Bill e Hillary Clinton
sobre-trombeteiam [trocadilho:
trump=trombeta] de longe o de Trump. (Esta semana é o 20-ésimo aniversário da
«reforma» social de Clinton que lançou a guerra contra os afro-americanos.)
Quanto a Obama: enquanto a polícia americana atira a matar os seus congéneres
afro-americanos, a grande esperança destes na Casa Branca não fez nada para os
proteger, nada para aliviá-los do empobrecimento, enquanto quatro guerras
predadoras e uma campanha sem precedentes de assassinatos se desenrolava.
A CIA pediu que Trump não fosse eleito. Os
generais do Pentágono pediram que ele não fosse eleito. Os pró-guerra do New York Times – quando em pausa da
incessante campanha de aviltamento de Putin – pedem que não seja eleito. Algo
cheira aqui mal. Estes tribunos da «guerra perpétua» estão aterrorizados pela
perspectiva do negócio da guerra, de muitos milhões de milhões de dólares, pelo
qual os EUA mantêm a sua hegemonia, ser minada se Trump fizer um acordo com
Putin e depois com a China de Xi Jinping. O pânico deles pela possibilidade da
maior potência mundial falar em paz – embora inverosímil – constituiria apenas
uma farsa negra se as questões em jogo não fossem tão terríveis.
O vice-presidente Joe Biden gritou num comício
de Hillary Clinton: «Trump teria gostado de Estáline!». Com a aprovação de
Clinton, gritou: «nós nunca nos curvaremos. Nunca nos dobraremos. Nunca nos
ajoelharemos. Nunca nos entregaremos. A meta final é nossa. É assim que nós somos.
Nós somos América!»
Jeremy Corbyn na Grã-Bretanha também excitou a
histeria dos belicistas do partido trabalhista e dos media, que o querem pôr no caixote do lixo. Lord West um
ex-almirante e ministro trabalhista colocou claramente a questão: Corbyn estava
a tomar uma «infame» posição anti-guerra «porque tal posição lhe valia os votos
das massas que não pensam».
Num debate com Owen Smith, o rival à
liderança, o moderador perguntou a Corbyn: «Como agiria se Vladimir Putin
violasse um estado membro da Nato?», Corbyn respondeu: «Primeiro que tudo
procurar-se-ia evitar que tal acontecesse. Construir-se-ia um bom diálogo com a
Rússia… Procurar-se-ia introduzir a desmilitarização das fronteiras da Rússia
com a Ucrânia e de outros países que estão na fronteira entre a Rússia e a
Europa de Leste. O que não se pode permitir é uma série de concentrações
calamitosas de tropas de ambos os lados, que só podem conduzir a um grande
perigo».
Pressionado a dizer se autorizaria uma guerra
contra a Rússia «se tivesse de ser», Corbyn respondeu: «Não quero ir para a
guerra; o que quero é construir um mundo onde não se tenha de ir para guerra».
A forma como as perguntas foram colocadas tem muito a ver com a ascensão dos
belicistas liberais ingleses. O partido trabalhista e os media já há muito tempo que lhes vêm oferecendo oportunidades de
carreira. Durante um certo tempo o tsunami moral do grande crime no Iraque
deixou-os a patinhar, e as suas inversões da verdade constituíram um embaraço
temporário. Apesar de Chilcot [refere-se ao inquérito oficial britânico que
reconheceu a falsidade das razões apresentadas para a invasão do Iraque] e da
montanha de factos incriminatórios, Blair continua a ser a inspiração desses
belicistas porque foi um «vencedor».
O jornalismo e as posições académicas
discordantes têm sido sistematicamente banidas ou aprisionadas, as ideia
democráticas esvaziadas de conteúdo e preenchidas por uma «política de
identidade» que confunde género com feminismo, ansiedade geral pelo estado do
mundo com libertação, e que ignora intencionalmente a violência estatal e os
aproveitadores de armamentos que destroem inumeráveis vidas em lugares
distantes, como o Iémen e a Síria, ao mesmo tempo acenando com uma guerra
nuclear na Europa e em todo o globo.
A movimentação popular de todas as idades em
torno da subida espectacular de Corbyn contrapõe-se, em certa medida, a isso. Corbyn
tem esclarecido o horroroso da guerra ao longo da sua vida. O problema para
Corbyn e seus apoiantes é o partido trabalhista. O problema na América para os
milhares de seguidores de Bernie Sanders foi o partido democrático, bem como a
traição final de Sanders.
Nos EUA as raízes de uma versão moderna dos
grandes movimentos pelos direitos civis e anti-guerra estão a ser lançadas pelo
movimento Black Lives Matter e por
movimentos afins do Codepink
[Mulheres pela Paz]. Só um movimento que encha as ruas, atravesse as fronteiras
e não desista pode parar os belicistas.