sábado, 31 de agosto de 2019

Um artigo de Lénine de 31-10-1911


Nota Prévia:
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A Nova Fracção dos Conciliadores, ou os Virtuosos

V. I. Lénine

Sotsial-Demokrat, n.º 24, 31 de Outubro de 1911

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Tradução do original em russo por J. P. M. Sá. A sigla CC designa “Comité Central”. A partir de cerca de um terço do texto Lénine usa a sigla que designa “Bureau do CC no Estrangeiro”. Em português, a sigla é BCCE. As interpolações no texto, entre parênteses rectos, são de Lénine.
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O Informatsionnii Biulleten [1] da Comissão Técnica no Estrangeiro (n.º 1 de 11 de Agosto de 1911) e o folheto A Todos os Membros do POSDR, assinados por “Grupo de Bolcheviques Pró-Partido”, que apareceram quase simultaneamente em Paris, são ataques semelhantes no conteúdo contra o “bolchevismo oficial” ou, segundo outra expressão, contra os “bolcheviques leninistas”. Estes documentos estão cheios de cólera; contêm mais exclamações e declamações de cólera do que substância real. Contudo, há que analisá-los, pois abordam as mais importantes questões do nosso partido. E será mais natural caber-me a mim a tarefa de avaliar a nova fracção, primeiro, porque fui eu que escrevi sobre essas mesmas questões, em nome de todos os bolcheviques, há exactamente ano e meio (ver Diskussionnii Listok, n.º 2 [2]) e, segundo, porque estou plenamente consciente da minha responsabilidade pelo “bolchevismo oficial”. Quanto à expressão “leninista”, é apenas uma tentativa pouco feliz de malícia, para insinuar que é apenas uma questão dos apoiantes de uma única pessoa,  Na realidade, todos sabem perfeitamente que a questão não é de forma alguma a de compartilhar as minhas opiniões pessoais sobre um ou outro aspecto do bolchevismo.

Os autores do folheto, que assinam “bolcheviques pró-partido”, também se proclamam “bolcheviques não-fraccionistas”, observando que “aqui” (em Paris) são “bastante desacertadamente” chamados de conciliadores. Na verdade, como o leitor verá a seguir, essa designação que já corre há mais de quinze meses, não só em Paris, não só no estrangeiro, mas também na Rússia, é a única que expressa com acerto a essência política da nova fracção.

Conciliacionismo é a totalidade de sentimentos, aspirações e pontos de vista que estão indissoluvelmente ligados à própria essência da tarefa histórica que se coloca perante o POSDR na época da contra-revolução de 1908-1911. É por isso, que nesta época, um certo número de social-democratas, partindo das mais variadas premissas, “caíu” na conciliação. Trotski exprimiu o conciliacionismo de forma mais consistente do que qualquer outra pessoa e foi provavelmente o único que tentou dar um fundamento teórico a esta corrente. O fundamento é o seguinte: fracções e fraccionismo exprimem a luta dos intelectuais “para influir no proletariado imaturo”. O proletariado está a amadurecer e o fraccionismo perece por si mesmo. Não são as mudanças nas relações entre as classes, nem a evolução das ideias fundamentais das duas principais fracções que servem de base ao processo de fusão das fracções, mas sim a questão da observância ou não de acordos entre todas as fracções "intelectuais". Trotski vem pregando com obstinação – desde há bastante tempo, oscilando umas vezes mais para o lado dos bolcheviques e outras vezes mais para o lado dos mencheviques -- esse acordo (ou compromisso) entre todas e quaisquer fracções.

A concepção oposta (ver n.ºs 2 e 3 do Diskussionnii Listok [2]) é a de que a origem das fracções deve ser atribuída às relações entre as classes na revolução russa. Os bolcheviques e os mencheviques não fizeram mais que formular as respostas às questões colocadas ao proletariado pela realidade objectiva de 1905-1907. Portanto, só a evolução interna dessas fracções, fracções “fortes” pela suas raízes profundas, fortes pela concordância entre as suas ideias e determinados aspectos da realidade objectiva, só a evolução exclusivamente interna dessas fracções pode assegurar a fusão real das fracções, isto é, a criação de um partido proletário totalmente unido, do socialismo marxista na Rússia. Daqui decorre uma conclusão prática: só uma aproximação no trabalho prático entre essas duas fracções fortes -- e só na medida em que se libertam das correntes não social-democratas do liquidacionismo e do otzovismo – é uma política realmente partidista, que realmente tende à unidade, seguindo um caminho nada fácil, nem sem acidentes, e de forma alguma imediato, mas realista, diferentemente de obscuras promessas charlatãs de uma fusão fácil, sem acidentes e imediata de "todas" as fracções.

Estas duas concepções foram apontadas quando nas nossas discussões, ainda antes do plenário, sugeri a palavra de ordem: “Aproximação entre as duas fracções fortes, e nenhum lamento por dissolver fracções”. Isto foi tornado público logo após o plenário pelo Golos Sotsial-Demokrat [3]. Expus de forma clara, concreta e sistemática esses dois pontos de vista em Maio de 1910, isto é, há um ano e meio atrás e, para mais, na tribuna de “todo o partido”, em Diskussionnii Listok (n.º 2). Se os “conciliadores”, com quem vimos discutindo sobre esses assuntos desde Novembro de 1909, ainda não encontraram tempo para responder a esse artigo nem uma única vez, e não fizeram sequer uma tentativa de examinar essa questão mais ou menos sistematicamente, para expor as suas opiniões de maneira mais ou menos aberta e coerente – isso é inteiramente culpa deles. Eles chamam à sua exposição fraccionista, publicada em nome de um grupo individual, uma “resposta pública”. Mas tal resposta pública de quem permaneceu em silêncio há mais de um ano não é uma resposta à questão que foi levantada há muito tempo, discutida há muito tempo e respondida há muito tempo de duas maneiras fundamentalmente diferentes; é a confusão mais insolúvel, a confusão mais incrível de duas respostas irreconciliáveis. Os autores do folheto não apresentam uma única tese sem imediatamente a refutar. Não há uma única tese em que os supostos bolcheviques (na verdade, trotskistas inconsistentes) não ecoem os erros de Trotski.

De facto, prestemos atenção às principais ideias do  folheto.

Quem são os seus autores? Eles dizem que são bolcheviques que “não compartilham das concepções organizativas do bolchevismo oficial”. Dir-se-ia ser uma “oposição” apenas à questão da organização, não é? Leia-se a frase seguinte: “... São precisamente as questões organizativas, as questões de estruturar e restaurar o partido que hoje se colocam em primeiro plano, como já sucedia há ano e meio”. Isto é completamente falso, e constitui precisamente o erro de princípio que Trotski fez e que desmascarei há um ano e meio. No plenário, os problemas de organização puderam parecer primordiais apenas porque, e na medida em que, a renúncia ao liquidacionismo por todas as correntes foi considerada uma realidade, pois tanto o grupo do Golos como o do Vperiod [4] “assinaram” as resoluções contra o liquidacionismo e contra o otzovismo para “confortar” o partido. O erro de Trotski foi continuar a apresentar a aparência como realidade depois que o Nacha Zariá [5] desde Fevereiro de 1910 desfraldou definitivamente a bandeira do liquidacionismo, e o grupo Vperiod -- na sua notória escola em X [6] -- desfraldou a bandeira da defesa do otzovismo. No plenário, a aceitação do aparente pelo real podia ser o resultado de auto-engano. Depois do plenário e desde a primavera de 1910, Trotski enganou os trabalhadores da maneira mais sem princípios e desavergonhada, assegurando-lhes que os obstáculos à unidade eram principalmente (se não totalmente) de natureza organizativa. Esse engano é mantido em 1911 pelos conciliadores de Paris; pois dizer agora que as questões organizativas estão em primeiro plano é pura burla da verdade. Na realidade, o que está agora em primeiro plano não é de modo algum a questão organizativa, mas a questão de todo o programa, toda a táctica e todo o carácter do Partido, ou melhor, de dois partidos: o Partido Operário Social-Democrata e o partido trabalhista stolipiano [7] de Pótresov, Smirnov, Larin, Levitski e C.ª. Os conciliadores de Paris parecem ter dormido durante um ano e meio depois do plenário, durante os quais toda a luta contra os liquidadores mudou, tanto para nós como para os mencheviques pró-partido [8], dos problemas de organização para os da existência do partido operário social-democrata e não do partido trabalhista liberal. Discutir agora, digamos, com os senhores do Nacha Zariá sobre questões organizativas, sobre a relação entre organizações legais e ilegais, seria montar uma farsa, pois esses senhores sabem muito bem reconhecer uma organização “ilegal” tal como o Golos, que está ao serviço dos liquidadores! Já há muito tempo se sabe que os cadetes reconhecem e mantêm uma organização ilegal que serve o liberalismo monarquista. Os conciliadores auto-intitulam-se bolcheviques para repetir um ano e meio depois (com uma declaração especifíca de que o fazem em nome de todo o bolchevismo!) os erros de Trotski  que os bolcheviques desmascararam. Ora, não é isto um abuso das denominações estabelecidas no partido? Não é óbvio que somos obrigados, depois disto, a deixar que todo o mundo saiba que os conciliadores não são de modo algum bolcheviques, que nada têm em comum com o bolchevismo, que são simplesmente trotskistas inconsistentes?

Leiamos um pouco mais: “Pode-se discordar da maneira como o bolchevismo oficial e a maioria da Redacção do órgão central entenderam a tarefa da luta contra o liquidacionismo ...”. Será realmente possível afirmar com seriedade que a “tarefa da luta contra o liquidacionismo” é uma tarefa organizativa? Os próprios conciliadores declaram que diferem dos bolcheviques não apenas em questões de organização! Em que diferem concretamente? Não respondem a isso. A “resposta pública” deles continua a ser uma resposta de mudos... Ou irresponsáveis? Durante ano e meio, não tentaram sequer uma única vez corrigir o “bolchevismo oficial” ou expor a sua própria concepção da tarefa de luta contra o liquidacionismo! E o bolchevismo oficial travou essa luta desde há três anos, desde Agosto de 1908. Perante estes factos bem conhecidos, perguntamo-nos quais as causas desse estranho "silêncio" dos conciliadores, e queira-se ou não, vem-nos à memória a lembrança de Trotski e Iónov [9], que também asseguravam estar contra os liquidadores, mas que entendiam de forma diferente a tarefa de combatê-los. Isto é ridículo, camaradas -- declarar, três anos após o início da luta, que entendem o carácter dessa luta de forma diferente! Essa diferença de entendimento parece-se como duas gotas de água com a incompreensão absoluta!

Prossigamos. Na sua essência, a presente crise do partido reduz-se indubitavelmente à questão de saber se o nosso partido, o POSDR, se deve separar completamente dos liquidadores (incluindo os Golosistas) ou se deve continuar a política de conciliação com eles. Dificilmente se encontrará um social-democrata familiarizado com o caso que negue ser esta questão a essência de toda a situação actual do partido. Como respondem os conciliadores a esta pergunta?

Eles escrevem no seu folheto: “Dizem-nos que, com isso [apoiando o plenário], estamos a violar as formas [10] do partido e a causar uma cisão. Nós não pensamos assim [sic!]. Mas mesmo que assim fosse, não teríamos medo disso.” (Segue-se uma menção de que o plenário foi sabotado pelo Bureau do CC no Estrangeiro, que o “CC é objecto de um jogo”, que as "formas do partido começaram a ser preenchidas por um conteúdo fraccionista", etc.).

Esta resposta pode ser qualificada com toda a justiça de um espécimen “clássico” de impotência ideológica e política! Vejamos: eles estão a ser acusados de cisão. E a nova fracção, que afirma ser capaz de mostrar o caminho ao partido, declara de forma impressa e publicamente: “Nós não pensamos assim” [ou seja, eles não acham que haja ou irá haver uma cisão?], "mas"... mas "não teríamos medo disso".

Podemos ter a certeza de que na história dos partidos políticos não se achará um outro exemplo de confusão igual a este. Se “não pensam” que haja ou irá haver uma cisão, então expliquem porquê! Expliquem por que razão é possível trabalhar com os liquidadores! Digam francamente que é possível e, portanto, necessário, trabalhar com eles.

Os nossos conciliadores não só não dizem isso, como dizem o contrário. No artigo editorial do Boletim n.º 1 (uma nota de rodapé indica explicitamente que o artigo em questão foi contestado por um bolchevique partidário da plataforma bolchevique, isto é, da resolução do II Grupo de Paris [11]), lemos: “É um facto que o trabalho conjunto com os liquidadores na Rússia é impossível”, e um pouco antes admitem que “está a ser cada vez mais difícil traçar a mais fina linha divisória” entre o grupo Golos e os liquidadores.

Quem pode entender isto? Por um lado, uma declaração altamente oficial feita em nome da Comissão Técnica (na qual os conciliadores e os polacos, que agora os apoiam, constituem uma maioria contra os bolcheviques), afirma que o trabalho conjunto é impossível. Em linguagem simples, isso significa declarar uma cisão. A palavra cisão não tem outro significado. Por outro lado, o mesmo Boletim, n.º 1, declara que a Comissão Técnica foi criada “não para provocar uma cisão, mas para evitá-la” -- e estes mesmos conciliadores dizem que “não pensam assim” (que haja ou irá haver uma cisão).

Alguém pode imaginar uma confusão maior?

Se o trabalho conjunto é impossível, isto para um social-democrata só pode ser explicado e justificado ou por uma violação flagrante das decisões e deveres do partido por parte de um certo grupo de pessoas (e então uma cisão com esse grupo é inevitável), ou por uma diferença fundamental de princípio, diferença que faz com que todo o trabalho de certa corrente esteja afastado da social-democracia (e então uma cisão com toda essa corrente é inevitável). Como sabemos, temos ambas as coisas: o plenário de 1910 declarou que era impossível trabalhar com a corrente liquidacionista, e agora produziu-se a cisão com o grupo Golos, que violou todas as suas obrigações e se passou definitivamente para os liquidadores.

Seja quem for que diga conscientemente “o trabalho conjunto é impossível”, tenha meditado nessa afirmação e compreendido os princípios básicos, deveria inevitavelmente dirigir toda a sua atenção e esforços para explicar os princípios básicos às mais amplas massas,  poupando-as tão cedo e tão plenamente quanto possível de todas as tentativas fúteis e prejudiciais de manter qualquer relação com aqueles com quem é impossível trabalhar. Mas quem faça essa afirmação e ao mesmo tempo acrescente “não pensamos” que irá haver uma cisão, “mas não teríamos medo dela”, revela pela sua linguagem confusa e tímida que tem medo de si próprio, está assustado com o passo que deu, assustado pela situação criada! O folheto dos conciliadores produz exactamente essa impressão, estão ansiosos por se justificar de alguma coisa, ansiosos por parecerem “gentis” aos olhos de alguém, piscam o olho a alguém... Adiante veremos o significado do piscar de olhos ao Vperyod e Pravda. Antes, porém, devemos terminar a questão de como os conciliadores interpretam o “resultado do período decorrido desde o plenário”, o resultado que foi apurado pela Reunião dos membros do CC [12].

É realmente necessário compreender este resultado, compreender por que foi inevitável, caso contrário a nossa participação nos acontecimentos seria espontânea, impotente, acidental. Observe-se como o compreendem os conciliadores. Como respondem à pergunta por que razão do trabalho do plenário e das suas resoluções, visando a união, resultou uma cisão entre o BCCE (=liquidadores) e os anti-liquidadores. A resposta dos nossos trotskistas inconsistentes foi simplesmente copiada de Trotski e Iónov, e sou forçado a repetir o que disse em Maio passado  [13] contra esses conciliadores consistentes.

Resposta dos conciliadores: a culpa é do fraccionismo, o fraccionismo dos mencheviques, do grupo Vperiod e do Pravda (enumeramos os grupos fraccionistas pela ordem em que aparecem no folheto) e, por último, dos “representantes oficiais do bolchevismo” que “provavelmente ultrapassaram todos esses grupos nos seus esforços fraccionistas”. Os autores do folheto aplicam abertamente e sem apelo o termo não-fraccionistas apenas a si próprios, os conciliadores de Paris. Todos são maus; eles são virtuosos. Os conciliadores não apresentam quaisquer razões ideológicas para explicar o fenómeno em questão. Não assinalam nenhuma particularidade organizativa dos grupos, ou outras características, que tivessem dado origem a esse fenómeno. Não dizem nada, nem uma palavra, para explicar o assunto, excepto que fraccionismo = perversidade e não-fraccionismo = virtude. A única diferença entre Trotski e os conciliadores de Paris é que os últimos consideram Trotski um fraccionista e consideram-se a  si próprios não-fraccionistas, enquanto Trotski mantém a visão oposta.

Devo confessar que esta formulação da questão – a explicação dos fenómenos políticos apenas pela iniquidade de alguns e pela virtude de outros -- sempre me evoca essas fisionomias que exibem uma tal pose bondosa que não se pode deixar de pensar: “provavelmente é um trapaceiro”.

Consideremos a seguinte comparação: os nossos conciliadores são não-fraccionistas, são virtuosos, Nós, os bolcheviques, ultrapassamos todos os grupos nos esforços fraccionistas, ou seja, somos os mais perversos. Portanto, a fracção virtuosa apoiou os mais perversos, a fracção bolchevique na sua luta contra o BCCE! Há algo de errado nisto, camaradas! Com cada nova afirmação vocês ainda se embrulham cada vez mais e mais.

Vocês tornam-se ridículos quando, como Trotski, lançam acusações de fraccionismo uns aos outros, como se estivessem a jogar à bola; não se dão sequer ao trabalho de pensar: o que é uma fracção? Tratem de defini-la, e prevemos que irão enredar-se ainda mais, porque vocês mesmos constituem uma fracção -- uma fracção vacilante, sem princípios, que não conseguiu entender o que aconteceu no plenário e depois dele.

Uma fracção é uma organização dentro de um partido, unida, não pelo seu local de trabalho, idioma ou outras condições objectivas, mas sim por uma plataforma particular de concepções sobre questões partidárias. Os autores do folheto constituem uma fracção, porque o folheto constitui a sua plataforma (muito ruim, mas há fracções com plataformas erradas). São uma fracção, porque, como qualquer outra organização, estão ligados por disciplina interna; o vosso grupo nomeia o seu representante para a Comissão Técnica e para a Comissão Organizadora por maioria de votos; o grupo elaborou e publicou o folheto, a plataforma, etc. Estes são os factos objectivos que apontam como hipócritas os que vociferam contra o fraccionismo. Tanto Trotski como os “trotskistas inconsequentes” sustentam que não são uma fracção porque... o seu “único” fim ao juntarem-se (numa fracção) é abolir as fracções, defender a sua união, etc., mas todas essas declarações são meros auto-elogios e um jogo cobarde de esconde-esconde, pela simples razão de que nenhum fim da fracção (mesmo o mais virtuoso) altera o facto de que a fracção existe. Toda a fracção está convencida de que a sua plataforma e a sua política são o melhor caminho para abolir fracções, pois ninguém considera como ideal a existência destas. A única diferença é que as fracções que têm uma plataforma clara, consequente e íntegra, defendem abertamente a sua plataforma, enquanto as fracções sem princípios se escondem atrás de gritos baratos sobre a sua virtude, sobre o seu não-fraccionismo.

Qual a razão da existência de fracções no POSDR? Elas existem como continuação da cisão de 1903-1905. São o fruto da debilidade das organizações locais, impotentes para impedir que os grupos de literatos que expressam novas correntes, grandes e pequenas, se convertam em novas “fracções”, isto é, em organizações nas quais a disciplina interna ocupa o primeiro lugar. Como garantir a erradicação das fracções? eliminando completamente a cisão do tempo da revolução (e isso apenas será conseguido limpando as duas principais fracções do liquidacionismo e otzovismo), e criando uma organização proletária tão forte que possa obrigar a minoria a submeter-se à maioria. Enquanto tal organização não existir, um acordo entre todas as fracções poderia acelerar o processo do seu desaparecimento. Daqui decorre, claramente, tanto o mérito ideológico do plenário quanto o seu erro conciliacionista. O seu mérito foi a rejeição das ideias do liquidacionismo e do otzovismo; o seu erro foi o acordo indiscriminado com pessoas e grupos, sem correspondência das promessas (as “resoluções assinadas”) com os actos. A aproximação ideológica com base na luta contra o liquidacionismo e o otzovismo segue em frente, apesar de todos os obstáculos e dificuldades. O erro conciliacionista do plenário [14] provocou inevitavelmente o fracasso das suas decisões conciliatórias, ou seja, o fracasso da aliança com o grupo Golos. A ruptura dos bolcheviques (e mais tarde do Encontro dos membros do CC) com o BCCE corrigiu o erro conciliacionista do plenário. A aproximação das fracções que estão efectivamente a combater o liquidacionismo e o otzovismo irá agora prosseguir apesar das formas decididas pelo plenário, pois estas formas não correspondem ao conteúdo. O conciliacionismo em geral, assim como o do plenário em particular, fracassou porque o conteúdo do trabalho separava os liquidacionistas dos social-democratas, e nenhuma forma, nenhuma diplomacia e nenhum jogo dos conciliadores podiam superar esse processo de separação.

A partir disto, e somente deste ponto de vista que expus em Maio de 1910, tudo o que aconteceu depois do plenário torna-se inteligível, inevitável, resultante não da “maldade” de alguns e da “virtude” de outros, mas do curso objectivo dos eventos, que isola a corrente liquidacionista e varre todos os grupos e grupitos intermédios.

A fim de dissimular o facto político indiscutível do completo fracasso do conciliacionismo, os conciliadores são forçados a recorrer à total distorção dos factos. Escute-se o que dizem: “A política fraccionista dos bolcheviques leninistas foi particularmente prejudicial porque contavam com a maioria em todas as principais instituições do partido, de modo que a sua política fraccionista justificou a separação orgânica das outras correntes e deu-lhes armas contra as instituições oficiais do partido”.

Esta tirada não é outra coisa senão uma “justificação” cobarde e tardia do... liquidacionismo, pois foram precisamente os representantes dessa corrente quem sempre invocaram o “fraccionismo” dos bolcheviques. Esta justificação é tardia porque era dever de todo o verdadeiro membro do partido (em contraste com pessoas que usam a palavra “pró-partido” para auto-propaganda) agir no momento em que esse “fraccionismo” começou, e não um ano e meio depois! Os conciliadores, defensores do liquidacionismo, não podiam e não falaram antes, porque não dispunham de factos. Estão-se a aproveitar do actual “período de perturbações” para pôr em relevo as afirmações infundadas dos liquidadores. Mas os factos são claros e inequívocos. Logo após o plenário, em Fevereiro de 1910, o senhor Pótresov desfraldou a bandeira do liquidacionismo. Também de seguida, em Fevereiro ou Março, os senhores Mikail, Roman e Iúri traíram o partido. Imediatamente depois, o grupo Golos iniciou uma campanha em favor do Golos (veja-se o que diz o Diário de Plekanov no dia seguinte ao plenário) e retomou a publicação do Golos. Também de seguida, o grupo Vperiod começou a organizar a sua própria “escola”. O primeiro passo fraccionista dos bolcheviques, pelo contrário, foi fundar a Rabotchaia Gazeta em Setembro de 1910, depois da ruptura de Trotski com os representantes do CC.

Por que precisam os conciliadores desta distorção de factos bem conhecidos? Para piscar o olho aos liquidadores, e obter a sua benevolência. Por um lado, “o trabalho conjunto com os liquidadores é impossível”. Por outro lado, o fraccionismo dos bolcheviques "justifica-os"! Perguntamos a qualquer social-democrata não contaminado pela diplomacia estrangeira, que confiança política se pode depositar em pessoas que se enredam em tais contradições? Tudo o que merecem são os beijos com os quais o Golos os recompensou publicamente e nada mais.

Os conciliadores chamam “fraccionismo” ao carácter implacável da nossa polémica (pela qual nos censuraram milhares de vezes nas assembleias gerais em Paris) e a nossa denúncia implacável dos liquidadores (eles eram contra a denúncia de Mikail, Iúri e Roman). Durante todo este tempo os conciliadores defenderam e encobriram os liquidadores, mas nunca se atreveram a defendê-los abertamente, quer no Diskussionnii Listok quer em qualquer apelo público impresso. Agora lançam a sua impotência e cobardia contra as rodas do partido, que começou a separar-se decididamente dos liquidadores. Estes dizem que não há liquidacionismo, que é um "exagero" por parte dos bolcheviques (ver a resolução dos liquidadores do Cáucaso [15] e os discursos de Trotski). Os conciliadores dizem que é impossível trabalhar com os liquidadores, mas... mas o fraccionismo dos bolcheviques os "justifica". Não é claro que o verdadeiro sentido desta ridícula contradição de juízos subjectivos é única e exclusivamente a defesa cobarde do liquidacionismo, o desejo de passar uma rasteira aos bolcheviques e apoiar os liquidacionistas?

Mas isto não é tudo. A pior e mais maligna distorção dos factos é a afirmação de que possuíamos a “maioria” nas “principais instituições do Partido”. Esta flagrante mentira tem apenas um propósito: encobrir o fracasso político do conciliacionismo. Pois na realidade, depois do plenário, os bolcheviques não tiveram a maioria em nenhuma das “principais instituições do partido”; a maioria tiveram-na precisamente os conciliadores. Desafiamos qualquer um a tentar contestar os seguintes factos. Depois do plenário, havia apenas três “principais instituições do partido”: (1) o Bureau do CC na Rússia, composto principalmente por conciliadores [16]; (2) o BCCE, no qual, de Janeiro a Novembro de 1910, os bolcheviques foram representados por um conciliador; como o bundista [17] e o letão adoptaram oficialmente o ponto de vista conciliacionista, a maioria, durante onze meses após o plenário, foi conciliadora; (3) a Redacção do órgão central, no qual dois "fraccionistas bolcheviques" foram combatidos por dois partidários do Golos, e sem o polaco não havia maioria.

Por que razão os conciliadores tiveram que recorrer a uma mentira deliberada? Pois, para esconder a cabeça, para encobrir a bancarrota política do conciliacionismo. O conciliacionismo predominou no plenário, teve a maioria após o plenário em todos os principais centros práticos do partido, e num ano e meio sofreu um fracasso total. Não conseguiu "reconciliar" ninguém; não criou nada em lugar algum; oscilou impotentemente de um lado para o outro, merecendo por isso, com toda a razão, os beijos do Golos.

Os conciliadores sofreram o mais rotundo fracasso na Rússia, e quanto mais zelo põem os conciliadores de Paris em demagogicamente se referirem à Rússia, tanto mais importante é sublinhar isso. A Rússia é conciliacionista em contraste com o estrangeiro: é esta a cantilena dos conciliadores. Comparem-se estas palavras com os factos, e ver-se-á que isso não é mais que demagogia oca e barata. Os factos mostram que, durante mais de um ano após o plenário, havia apenas conciliadores no Bureau do CC na Rússia; só eles faziam os relatórios oficiais sobre o plenário e negociavam oficialmente com os legalistas [18]; só eles designavam os seus agentes e enviavam-os às várias instituições; só eles lidavam com todos os fundos que lhes eram enviados sem discutir pelo BCCE; só eles negociaram com os escritores “russos” que lhes pareciam de capacidade promissora para a confusão (ou seja,  respeito pelo conciliacionismo), etc.

E qual foi  o resultado?

O resultado foi  nulo. Nem um único folheto, nem uma única declaração, nem um único órgão da imprensa, nem uma única “conciliação”. Enquanto isso, os “fraccionistas” bolcheviques após duas edições consolidaram a sua Rabotchaia Gazeta, publicada no estrangeiro (para não falar de outros assuntos sobre os quais apenas o Sr. Mártov fala abertamente, ajudando assim a polícia secreta). O conciliacionismo é uma nulidade, palavras, desejos ocos (e rasteiras ao bolchevismo com base nesses desejos "conciliatórios"); o bolchevismo “oficial” provou por actos que é absolutamente preponderante precisamente na Rússia.

É isto uma casualidade? O resultado de detenções? Mas as detenções “pouparam” os liquidadores, que não trabalhavam no partido, enquanto ceifavam bolcheviques e conciliadores.

Não, isto não é uma casualidade ou o resultado da sorte ou sucesso de certas pessoas. É o resultado do fracasso de uma corrente política baseada em falsas premissas. Os falsos fundamentos do conciliacionismo são: o desejo de construir a unidade do partido do proletariado pela aliança de todas as fracções, incluindo as fracções anti-social-democratas e não-proletárias; a ausência total de princípios da sua projecto-mania «unificadora» que não leva a nada; as suas falsas frases contra as “fracções” (quando, de facto, se formou uma nova fracção), frases impotentes para dissolver as fracções antipartido e que minam a fracção bolchevique que suportou nove décimos do peso da luta contra o liquidacionismo e o otzovismo.

Trotski fornece-nos uma abundância de exemplos de projecto-mania “unificadora” carente de princípios. Lembremo-nos, por exemplo (tomo um dos últimos exemplos), de como elogiou o Rabotchaia Jizn [19] de Paris, periódico cuja direcção era compartilhada em Paris pelos conciliadores e os Golos-istas. Sublime! -- dizia Trotski nos seus escritos -- "nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário". O pobre herói das frases só não percebeu uma mera bagatela: só é revolucionário o social-democrata que compreende o dano do pseudo-social-democratismo anti-revolucionário num dado país num dado momento, isto é, o dano do liquidacionismo e do otzovismo na Rússia de 1908-1911, e quem sabe lutar contra essas tendências não social-democratas. Ao beijar o Rabotchaia Jizn -- que nunca lutou contra os social-democratas não-revolucionários da Rússia -- Trotski não fez senão desmascarar o plano dos liquidadores a quem serve fielmente: a paridade no órgão central significa o cessar da luta contra os liquidadores; os liquidadores gozam efectivamente de total liberdade para lutar contra o partido, enquanto o partido deve ficar atado de pés e mãos no órgão central (e no CC) pela “paridade” entre os homens do Golos e os membros do partido. Isso asseguraria a vitória completa dos liquidadores e só os seus lacaios podiam propor ou defender um tal plano.

Vimos no plenário exemplos da projecto-mania “unificadora” de Iónov, Innokentiev e outros conciliadores; projectos sem princípios, que prometem paz e felicidade sem uma luta longa, tenaz e renhida contra os liquidadores. Vimos outro exemplo semelhante no folheto dos nossos conciliadores que justificam o liquidacionismo com base no “fraccionismo” bolchevique. Outro exemplo ainda: os seus discursos sobre o “isolamento” dos bolcheviques “de outras correntes (Vperiod, Pravda) que se situam no terreno do partido social-democrata ilegal”.

Os itálicos nesta notável tirada são nossos. Assim como uma pequena gota de água reflecte o sol, esta tirada reflecte a absoluta falta de princípios do conciliacionismo, que está na raiz de sua impotência política.

Em primeiro lugar: o Pravda e o Vperiod representam correntes social-democratas? Não, pois o Vperyod representa uma corrente não social-democrata (otzovismo e machismo [20]) e o Pravda representa um grupito que não deu respostas independentes e sólidas a nenhum problema de princípios importante da revolução e contra-revolução. Só se pode chamar corrente a uma soma de ideias políticas bem definidas definidas relativamente a todos os problemas mais importantes tanto da revolução (pois nos afastámos muito pouco dela e dependemos dela em todos os aspectos) como da contra-revolução; ideias que, além disso, provaram o seu direito à existência como uma corrente, devido à sua difusão entre as camadas mais amplas da classe trabalhadora. Que tanto o menchevismo quanto o bolchevismo são correntes social-democratas, provou-o a experiência da revolução, a história de oito anos do movimento da classe operária. Quanto aos pequenos grupos que não representam nenhuma corrente, houve-os a granel durante esse período, assim como os houve antes. Confundir uma corrente com grupitos significa condenar-se às intrigas na política do partido, já que o surgimento de grupitos sem princípios, a sua existência efémera, os seus esforços para dizer as “suas palavras”, as suas “relações” de uns com os outros como se fossem potências especiais, constituiem precisamente a base das intrigas vigentes no estrangeiro e delas não há nem pode haver salvação, a não ser por uma fidelidade rigorosa e firme aos princípios testados pela experiência na longa história do movimento da classe operária.

Em segundo lugar -- e aqui observamos imediatamente a transformação prática da falta de princípios dos conciliadores em intrigas – o folheto dos parisienses mente clara e deliberadamente quando diz que “o otzovismo já não tem adeptos nem defensores declarados no nosso Partido”. Isto não é verdade e toda a gente sabe isso. O n.º 3 do Vperiod, (Maio de 1911) refuta com clareza essa mentira quando afirma abertamente que o otzovismo é uma “corrente perfeitamente legítima dentro de nosso partido” (p. 78). Afirmarão os nossos sábios conciliadores que tal declaração não é uma defesa do otzovismo?

É quando as pessoas não podem justificar, baseando-se em princípios, a sua associação com este ou aquele grupito, que não têm outra saída senão recorrer a uma política de mentiras e adulação mesquinhas, de acenos furtivos e piscar de olhos, isto é, a tudo que somado produz o conceito de "intriga". O Vperiod elogia os conciliadores, os conciliadores elogiam o Vperiod e, enganando o partido, tranquilizam-no quanto ao otzovismo. Como resultado, há regateios e transacções sobre posições e cargos com os defensores do otzovismo, com os infractores de todas as decisões do plenário. O destino do conciliacionismo e a essência das suas impotentes e mesquinhas intrigas consiste em secretamente ajudar tanto os liquidadores quanto os otzovistas.

Em terceiro lugar, "... o trabalho conjunto com os liquidadores na Rússia é impossível". Até os conciliadores tiveram que admitir essa verdade. A questão é: os grupos Vperiod e Pravda reconhecem essa verdade? Não só não reconhecem como afirmam exactamente o contrário, exigem abertamente o "trabalho conjunto" com os liquidadores, e trabalham com eles abertamente (ver, por exemplo, o 2.º relatório da escola do Vperiod). Perguntamo-nos se existe mesmo um grão de fidelidade aos princípios e de honestidade na proclamação de uma política de aproximação a grupos que dão respostas diametralmente opostas a questões fundamentais, já que uma resolução explícita e aprovada por unanimidade pelo plenário reconheceu a questão do liquidacionismo como sendo fundamental. Está claro que não; está claro que estamos perante um abismo ideológico e que, todas as tentativas de colocar sobre ele uma ponte de palavras, diplomática, independentemente das melhores intenções de X ou Y, inevitavelmente os condenam a intrigas.

Enquanto não se mostrar e provar por factos fidedignos ​​e uma análise das questões mais importantes que Vperiod e Pravda representam correntes social-democratas (e ninguém, durante o ano e meio após o plenário tentou provar isso, porque é impossível provar), não nos cansaremos de explicar aos operários a nocividade desses subterfúgios sem princípios, de intrigantes, que são a essência da aproximação com o Vperiod e o Pravda pregada pelos conciliadores. É o primeiro dever dos social-democratas revolucionários isolar esses grupitos não social-democratas e sem princípios que estão a ajudar os liquidadores. Apelar aos trabalhadores russos vinculados ao Vperiod e Pravda, por sobre as cabeças destes grupos e contra eles: esta é a política que tem sido e está a ser aplicada pelo bolchevismo e que aplicará até ao fim, apesar de todos os obstáculos.

Disse que depois de ano e meio de domínio nos centros do partido o conciliacionismo sofreu o mais rotundo fracasso político. A réplica usual é: sim, mas isso é porque vocês, os fraccionistas nos estorvaram (veja-se a carta dos conciliadores – mas não bolcheviques -- Guermann e Arkadi [21] no Pravda, n.º 20).

A bancarrota política de uma tendência ou de um grupo reside justamente no facto de que tudo “a estorva”, tudo se opõe a ela; pois calculou equivocadamente este "tudo", pois tomou como base palavras vazias, suspiros, lamentações, gemidos.

No nosso caso, senhores, tudo e todos vieram em nosso auxílio, e nisto reside a garantia do nosso êxito. Fomos ajudados pelos senhores Pótresov, Larin, Levitski, que não conseguiam abrir a boca sem confirmar os nossos argumentos sobre o liquidacionismo. Fomos ajudados pelos senhores Mártov e Dan, porque obrigaram todos a concordar com a nossa apreciação de que o grupo Golos e os liquidadores são a mesma coisa. Fomos ajudados por Plekanov na medida em que desmascarou os liquidadores, apontou nas resoluções do plenário as "escapatórias para os liquidadores" (deixadas pelos conciliadores) e ridicularizou as passagens "pomposas" e "integralistas" (redigidas pelos conciliadores contra nós). Fomos ajudados pelos conciliadores russos cujo “convite” a Mikail, Iúri e Roman, foi acompanhado por ataques injuriosos a Lénine (ver Golos), confirmando assim que a refutação dos liquidadores não se devia à insídia dos “fraccionistas”. Como pôde acontecer, estimados conciliadores, que, apesar da vossa virtude, todos vos obstacularizaram, ao passo que todos nos ajudaram apesar da nossa maldade fraccionista?

Foi porque a política do vosso grupito dependia apenas de frases, muitas vezes muito benevolentes e bem intencionadas, porém vazias. À unidade só se pode chegar através da convergência de fracções fortes, fortes na sua integridade ideológica e na sua influência sobre as massas, comprovada pela experiência da revolução.

Mesmo agora, as vossas exclamações contra o fraccionismo continuam a ser meras frases, porque vós mesmos sois uma fracção, e certamente uma das piores, das menos seguras, das mais carentes de princípios. A vossa ensurdecedora e aparatosa declaração “nem um cêntimo para as fracções” (no Informatsionnii Biuletten), é uma mera frase. Se a dissesteis a sério, acaso poderíeis ter gasto os vossos “cêntimos” na edição de um folheto-plataforma de um novo grupito? Se a dissesteis a sério, acaso poderíeis ter ficado calados vendo os órgãos fraccionistas como Rabotchaia Gazeta e e o Dnievnik Sotsial-Demokrat? Não deveríeis vós ter exigido publicamente que fossem fechados? [22] Se tivésseis exigido isso, colocado tal condição seriamente, seríeis simplesmente ridicularizados. E se vós, estando bem cientes disso, vos limitais a lânguidos suspiros, não será que isso demonstra ainda mais uma vez que o vosso conciliacionismo está suspenso no ar?

O desarmamento das fracções só é possível na base da reciprocidade; caso contrário, é uma palavra de ordem reaccionária, extremamente prejudicial à causa do proletariado; é uma palavra de ordem demagógica, pois apenas facilita a luta implacável dos liquidadores contra o partido. Quem lança agora essa palavra de ordem, após a tentativa fracassada do plenário de aplicá-la, após as fracções Golos e Vperyod terem frustrado a tentativa de amalgamar (as fracções), quem faça isso sem se atrever sequer a repetir a condição de reciprocidade, sem sequer tentar apresentá-la com clareza e definir os meios de controlo sobre o seu cumprimento real, está simplesmente a embriagar-se com palavras que soam doces.

Bolcheviques, cerrai fileiras. Vocês são o único baluarte de uma luta coerente e resoluta contra o liquidacionismo e o otzovismo.

Aplicai a política de aproximação com o menchevismo anti-liquidacionista, uma política testada pela prática, confirmada pela experiência. É essa a nossa palavra de ordem. É uma política que não promete uma terra fluindo com o leite e o mel da “paz universal”, impossível de lograr em tempos de desorganização e dispersão, mas é uma política que no processo de trabalho realmente favorece a aproximação de correntes que representam tudo o que é forte, sólido e vital no movimento proletário.

O papel desempenhado pelos conciliadores durante o período de contra-revolução pode ser descrito da seguinte forma. Com grandes esforços, os bolcheviques empurram o carro do nosso partido subindo uma montanha íngreme. Os liquidadores do Golos estão a tentar com toda a força arrastá-lo novamente para baixo da montanha. No carro vai sentado um conciliador.  A sua expressão é terna, muito terna; o seu rosto doce, dulcíssimo como o de Jesus. Parece a própria encarnação da virtude. E, baixando modestamente os olhos enquanto ergue os braços ao céu, o conciliador exclama: “Eu te agradeço, Senhor, pois não sou como esses homens” – e aqui acena com a cabeça para os bolcheviques e mencheviques -- “pérfidos fraccionistas que impedem todo o progresso”. Mas o carro avança lentamente e nele vai sentado o conciliador. Quando os fraccionistas bolcheviques derrotaram o BCCE liquidacionista, abrindo caminho para a construção de uma nova casa, para um bloco (ou pelo menos uma aliança temporária) de fracções pró-partido, os conciliadores entraram na casa (insultando os fraccionistas bolcheviques) e aspergiram a nova morada com a água benta dos seus doces discursos sobre o não-fraccionismo!

*   *   *

Que teria sido da obra historicamente memorável do velho Iskra, se, em vez de empreender uma campanha consequente e implacável, baseada em princípios, contra o Economismo e o struvismo [23], tivesse concordado com algum bloco, aliança ou “fusão” de todos os grupos grandes e pequenos que eram na altura tão numerosos no estrangeiro como são hoje?

Certamente, as diferenças entre a nossa época e a época do velho Iskra aumentam consideravelmente o dano causado pelo conciliacionismo sem princípios e verborreico.

A primeira diferença é que alcançámos um nível muito mais alto no desenvolvimento do capitalismo e da burguesia, na clareza da luta de classes na Rússia. Existe já (pela primeira vez na Rússia) certo terreno objectivo para a política operária liberal dos senhores Pótresov, Levitski, Larin e C.ª. O liberalismo stolipiano dos cadetes e do partido trabalhista stolipiano já estão em processo de formação. Por isso tanto mais nocivas são na prática as frases e intrigas conciliacionistas com os grupitos no estrangeiro que apoiam os liquidadores.

A segunda diferença é o nível incomensuravelmente mais alto de desenvolvimento do proletariado, da sua consciência de classe e solidariedade de classe. Por isso é tanto mais nocivo ainda o apoio artificial dado pelos conciliadores aos grupitos efémeros no estrangeiro (Vperiod, Pravda, etc.), que não criaram nem podem criar qualquer corrente na social-democracia.

A terceira diferença é que durante o período do Iskra houve organizações clandestinas de Economistas na Rússia, que havia que derrotar e dividir para unir contra elas os social-democratas revolucionários. Hoje, não existem organizações clandestinas paralelas; hoje trata-se apenas de lutar contra grupos legais que se separaram. E este processo de segregação (mesmo os conciliadores são forçados a admitir isso) está a ser impedido pelo jogo político dos conciliadores com as fracções no estrangeiro que não desejam nem são capazes de trabalhar para que se trace uma linha de demarcação.

O bolchevismo "superou" a doença otzovista, a doença da frase revolucionária, o jogo do "esquerdismo", o desvio de esquerda da social-democracia. Os otzovistas começaram a actuar como fracção quando não era possível “revocar” os social-democratas da Duma.

O bolchevismo superará também a doença “conciliadora”, a oscilação na direcção do liquidacionismo (pois, na realidade, os conciliadores sempre foram um joguete nas mãos dos liquidadores). Os conciliadores também estão irremediavelmente atrasados. Começaram a actuar como fracção depois que o domínio do conciliacionismo tinha esgotado todos os seus recursos durante o ano e meio após o plenário, quando já não havia a quem conciliar.

P.S. O presente artigo foi escrito há mais de um mês. Critica a “teoria” dos conciliadores. Quanto à “prática” dos conciliadores, que se expressa nas querelas incorrigíveis, absurdas, mesquinhas e vergonhosas que enchem as páginas do Biulleten n.º 2 dos conciliadores e dos polacos, não vale a pena perder o tempo com isso.

Notas

[1] Boletim Informativo da Comissão Técnica no Estrangeiro. Foi publicado em Paris, em dois números (11 de Agosto e 28 de Outubro de 1911). Os conciliadores fizeram dele o seu órgão fraccionista, a partir do qual combateram sem escrúpulos os bolcheviques. – N. Ed.

[2] Ver: Lénine, Notas de um publicista, § II e O sentido histórico da luta interna do partido na Rússia, §4. -- N. Ed.
Diskussionnii Listok = Boletim de Debates: suplemento do Sotsial-Demokrat, órgão central do POSDR. Foi  editado en París  por resolucão do plenário do CC de Janeiro de 1910. A Redacção era composta por bolcheviques, mencheviques, ultimatistas, bundistas, plekanovistas, e membros da social-democracia polaca e letã. – N. T.

[3] Golos Sotsial-Demokrat = Voz Social-Democrata. Periódico dos mencheviques no estrangeiro; publicou-se de Fevereiro de 1908 até Dezembro de 1911, primeiro em Genebra e mais tarde em París. A sua Redacção era integrada por P. Axelrod, F. Dan, L. Mártov, A. Martinóv e G. Plekanov. Defendeu desde o primeiro número os liquidadores, justificando a sua actividade antipartidária. Quando Plekanov se retirou da Redacção, depois de condenar a posição liquidadora do periódico, este converteu-se definitivamente no centro ideológico dos liquidadores. – N.T.

[4] O grupo "Vperiod" (Avante!) era um grupo antibolchevique e antipartido dos otzovistas, ultimatistas, construtores de Deus e empiriocriticistas, constituído por iniciativa dos “bolcheviques” A. Bogdánov e G. Alexinski em Dezembro de 1909, quando se dissolveu a escola de Capri (ver nota 6). Editava un periódico com o nome do grupo.
A luta do grupo contra os bolcheviques caracterizou-se pela falta de princípios e por métodos pouco escrupulosos. No plenário de Janeiro de 1910 os membros do "Vperiod" mantiveram contacto estreito com os liquidadores do Golos e os trotskistas. Depois do plenário lançaram una violenta campanha contra as respectivas resoluções, negando-se subordinar-se a elas. Em Janeiro de 1912, na Conferência do POSDR em Praga, juntaram-se aos liquidadores e trotskistas contra as resoluções da Conferência. A sua actividade renhida contra o POSDR levou a que os trabalhadores abandonassem o grupo, que se disolveu em 1913.
Alexander Bogdánov foi um físico eminente que permaneceu fiel ao poder soviético e, entre outras contribuições, teve papel destacado na criação de centros de transfusão de sangue tendo sido director do Instituto Científico Estatal da Transfusão de Sangue de 1926 a 1928. Morreu em 1928 ao experimentar uma transfusão de sangue em si próprio. G. Alexinski, pelo contrário, difamou Lénine e os bocheviques, passou para o lado contra-revolucionário e fugiu em 1918 para o estrangeiro onde integrou o campo aultra-reaccionário. – N.T.

[5] Nasha Zariá (A Nossa Aurora) revista mensal menchevique de tendêneia liquidacionista que apareceu legalmente em S. Petersburgo de Janeiro de 1910 a Setembro de 1914, dirigida por A. Potrésov com colaboração de F. Dan e outros. Foi o centro dos liquidadores na Rússia. – N.T.

[6] Lénine refere-se à escola de Capri, estabelecida em 1909 e organizada por A. Bogdánov, que foi o centro fraccionista dos otzovistas e ultimatistas. – N.T.

[7] P. Stolipin foi PM do governo contra-revolucionário russo de 1906 a 1911. Era um monarquista “liberal” que tinha o apoio da nobreza, dos latifundiários, e da alta burguesia. Lénine refere-se ao facto de que os liquidadores, encabeçados por A. Potrésov, E. Smirnov (Gurevitch), I. Larin, V. Levitski (V. Tsederbaum, irmão de Martov) e outros consituiram a fracção “social-democrata” dos liquidadores que condenava as lutas dos trabalhadores e defendia entendimentos com a burguesia e uma existência legal de “paz social” que servia os interesses do governo czarista de Stolipin. – N.T.

[8] Grupo menchevique encabeçado por G. Plekanov que, já no plenário de Janeiro de 1910, advogou o entendimento prático com os bolcheviques (ver nota 3). – N.T.

[9] Ionov (F. M. Koigen) era um dos líderes do Bund. O Bund era uma organização dos trabalhadores judeus na Lituânia, Polónia e Rússia filiada no POSDR que a partir de 1906 aderiu aos mencheviques. Tomava posições nacionalistas. - N. T.

[10] No original, формы (formy) plural de форма (forma). A tradução literal “formas” é a que consta nas traduções deste artigo em espanhol, italiano e inglês nas respectivas obras completas de Lénine e é também a que adoptámos. Segundo se depreende, por “formas do partido” eram entendidas aqui as duas principais “formas” do partido: bolcheviques e mencheviques. - N. T.

[11] O II Grupo de colaboradores do POSDR em Paris foi formado em 18 de Novembro, 1908. Em 1911 o II Grupo de Paris era composto por  mais de 40 pessoas. A maioria eram bolcheviques (Lénine, Krúpskaia, Semashko, Vladimirski, etc.); havia também conciliadores e alguns membros do grupo Vperiod. O grupo estava ligado às organizações do partido na Rússia às quais prestava colaboração, e lutou contra os liquidacionistas e trotskistas. Na reunião de 1 de Julho, presidida por Vladimirski, foi discutida a situação interna do partido. Por 27 votos contra 10 o grupo aprovou uma resolução preparada por Lénine. - N. T.

[12] O obstrucionismo ilegal do Bureau do CC no Estrangeiro à convocação de um plenário do CC e conferência do partido, levou Lénine a convocar uma reunião dos membros do CC do POSDR residentes no estrangeiro, que veio a decorrer em Paris de 10 a 17 de Junho. Participaram bolcheviques, representantes dos social-democratas polacos e letões, um membro do Golos e um do Bund. Foram aprovadas convocações de um plenário do CC no estrangeiro (no mais curto prazo) e de uma conferência do partido, e outras resoluções.

[13] Lénine, Notas de um publicista, § II, 7 de Junho de 1910. - N. Ed.

[14] Diskussionnii Listok n.º 2. Ver: Lénine, Notas de um publicista, § II, 7 de Junho de 1910. - N. Ed.

[15] Lénine refere-se à resolução "Sobre o liquidacionismo", adoptada na Conferência de Liquidadores de Trascaucásia, na primavera de 1911. A natureza antipartidária dessa Conferência foi revelada em "Carta do Cáucaso”, de Estáline, publicada em Sotsial-Demokrat, n.º 24, de 31 de Outubro de 1911. - N. Ed.

[16] Claro que nem todos os conciliadores são iguais. E certamente, nem todos os ex-membros do Bureau russo podem (nem desejam) assumir a responsabilidade pelos disparates dos conciliadores de París, simples imitadores de Trotski. Lénine.

[17] Membro do Bund, organização dos trabalhadores judeus na Lituânia, Polónia e Rússia que se filiou no POSDR e a partir de 1906 aderiu aos mencheviques. Tomava posições nacionalistas.

[18] Outra designação dos liquidadores que, em plena contra-revolução, defendiam limitar o POSDR a actividades legais, essencialmente na Duma e nos seus jornais que não incomodavam as autoridades czaristas. - N.T.

[19] Rabochaia Jizn, Vida Operária: publicação mensal dos mencheviques, partidários de Golos e conciliadores. Publicou-se em Paris em tres números de 6 de Março a 1 de Maio de 1911. - N.Ed.

[20] “Machismo” designa a filisosofia empriocriticista do físico Ernst Mach que Lénine analisou em detalhe no seu livro Materialismo e Empiriocriticismo. Comentários críticos sobre uma filosofia reaccionária, escrito em 1908. Nele expõe o conteúdo idealista do empriocriticismo de Mach e de outros. - N.T.

[21] Guermann—K. K. Danichevski, Arkadi—F. I. Kalinine. - N.Ed.

[22] Na verdade, os conciliadores de Paris que publicaram agora o seu folheto, estavam contra a fundação do Rabotchaia Gazeta e retiraram-se na primeira reunião para que foram convidados pela Redacção. Lamentamos que não nos tenham ajudado a desmascarar a futilidade do conciliacionismo denunciando publicamente o Rabotchaia Gazeta. – Lénine.

[23] Designação da distorção liberal-burguesa do marxismo de P. Struve, um social-democrata russo defensor do "marxismo legal" que se juntou aos cadetes de direita em 1905, tornando-se mais tarde um monarquista.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Acerca de um artigo de Lénine sobre o conciliacionismo trotskista


About an article by Lenin on Trotskyist conciliationism

I - Introdução

Em 31 de Outubro de 1911, o Sotsial-Demokrat, órgão central (O.C.) do POSDR [1], publicou um artigo de Lénine intitulado A Nova Fracção dos Conciliadores, ou os Virtuosos. (A tradução em português – que não consta das obras de Lénine em seis tomos das Edições Avante! – será publicada no próximo artigo deste blog.) No nosso estudo sobre o percurso político de Trotski  deparámos com este artigo que não nos parece ter sido muito citado, ou quando muito só superficialmente, e que, todavia, contém várias observações e análises importantes, que vão além do conciliacionismo trotskista, assinalando traços essenciais do trotskismo.

Para compreender bem o artigo importa recordar primeiro os antecedentes [2].
I - Introduction

On October 31, 1911, the Sotsial-Demokrat, central organ (C.O.) of the RSDLP [1], published an article by Lenin entitled The New Faction of Conciliators, or the Virtuous. In our study of Trotsky's political career we came across this article which does not seem to have been much quoted, or at best only superficially, but which, nonetheless, contains a number of important analyzes and observations that reach beyond Trotskyist conciliationism, pointing out essential features of Trotskyism.

(We changed, in quotations from Lenin below, a few words of MIA English translation which don’t match the original in Russian and translations in other idioms as well. Our changes are marked yellow. The reader can see the MIA version in Notes.)

In order to fully understand the article one needs first to recall the antecedents [2].

II - Antecedentes

As poderosas lutas do operariado russo, após a revolução de Janeiro de 1905, foram esmagadas ao longo dos dois anos e meio seguintes. Algumas conquistas foram, contudo, obtidas, p. ex. a possibilidade de participação de sociais-democratas (membros do POSDR) na Duma (parlamento russo), o que lhes permitia alguma denúncia pública das medidas contra-revolucionárias do governo totalmente dominado pela nobreza latifundiária com o apoio da grande burguesia industrial e financeira. Em Junho de 2007 a II Duma foi dissolvida pelo PM Stolipin e proclamada uma nova lei eleitoral que aumentava consideravelmente a representação dos latifundiários e da burguesia reduzindo o já escasso número de representantes dos trabalhadores. Em 1908, a contra-revolução campeava. Os bolcheviques [3] foram perseguidos, muitos foram presos, e a sua imprensa proibida.
    
Sob pressão da contra-revolução formaram-se três fracções no POSDR:
   
(i) Nos mencheviques [3] formou-se em Dezembro de 1908 uma fracção importante que advogava a limitação da actividade do partido às organizações legais, isto é, consentidas pelo governo de Stolipin, a dissolução da actividade clandestina, a transformação do partido num conjunto solto de organizações, e a aliança dos trabalhadores com a burguesia. No fundo, o que esta corrente advogava levaria à liquidação do partido como partido marxista revolucionário e, por isso mesmo, os seus membros eram designados por liquidadores. O jornal dos liquidadores era o Golos Sotsial-Demokrata (Voz Social-Democrata), pelo que também eram designados por Golos-istas.

(ii) Nos bolcheviques formou-se na Primavera de 1908 uma pequena fracção «esquerdista» que argumentava que a reacção esmagadora obrigava o partido a limitar-se ao trabalho ilegal, pelo que não devia exercer qualquer actividade nas organizações legais ou semi-legais (Duma, sindicatos, cooperativas, etc.). Defendiam que o partido devia imediatamente revocar (retirar da Duma) os seus deputados, pelo que ficaram conhecidos por otzovistas  (do russo, “revocadores”). A tese dos otzovistas teria isolado o partido das massas, transformando-o numa organização sectária incapaz de reunir forças para outro surto revolucionário. Era a liquidação pela «esquerda». Os otzovistas formaram com outros o grupo Vperiod (Avante!) que publicava um jornal com o mesmo nome.

(iii) O pequeno grupo de Trotski e seguidores, do seu jornal Pravda de Viena, adoptou desde Dezembro de 1909 a posição de conciliadores. Em palavras, diziam querer unir todas a fracções, conciliá-las. Na prática, porém, fechavam os olhos e secretamente estimulavam as acções anti-partido dos liquidadores e otzovistas, erigindo como inimigos Lénine e o que chamavam de «bolchevismo oficial».

Lénine e outros bolcheviques combateram renhidamentes estas fracções que arruinavam o partido. [4] Logo em Maio de 1908, na conferência social-democrata da cidade de Moscovo, derrotaram uma moção otzovista. Na V Conferência do POSDR, de 3 a 9 de Janeiro de 1909, lutaram contra os liquidadores que se opuseram em todos os pontos da conferência e contra os otzovistas que se opuseram em vários pontos. Numa reunião da Redacção do O.C. em 3 de Novembro de 1909, Lénine propôs a  publicação  de um artigo editorial apelando à luta decidida contra o liquidacionismo, mas a maioria conciliatória-liquidacionista da Redacção (os bolcheviques G.  Zinoviev, L. Kamenev e Varski, aliados ocultos de Trotski, [5] e o menchevique Mártov) rejeitaram o artigo de Lénine, bem como uma sua proposta de resolução. Em Dezembro de 1909 Estáline também enviou ao O.C. a sua Carta do Cáucaso descrevendo a luta contra os liquidacionismo local. Foi também rejeitada pela Redacção [6].
    
De 15 de Janeiro a 5 de Fevereiro de 1910 decorreu em Paris um plenário do Comité Central (CC) do POSDR, com representantes de todas as fracções. Zinoviev, Kámenev e A. Ríkov, aliados ocultos de Trotski [5], lideraram essa convocatória [7] que tinha grandes defensores no grupo de Trotski. O plenário foi dominado pelos conciliadores -- Trotski e o seu grupo de Viena, e outros -- a que se juntaram Zinoviev, Kámenev, Ríkov e mesmo os liquidadores. Este importante plenário iria influenciar acontecimentos posteriores. É citado por Lénine em vários trabalhos da época apenas como o «plenário». Durante as sessões do plenário Lénine lutou tenazmente contra os oportunistas e conciliadores. (Mais tarde caracterizou assim o clima do plenário numa carta a M. Gorki (11-Abr-1910): «foram três semanas extenuantes, que nos destroçaram os nervos; algo de mil diabos!") Lénine conseguiu que fosse aprovada uma resolução que condenava o liquidacionismo e otzovismo e apelava a combatê-las. Mas liquidadores + otzovistas + conciliacionistas (LOCs) impuseram várias medidas duras aos bolcheviques – que estes cumpriram – a troco de medidas mais suaves para eles, que não cumpriram. Lénine denunciou esse não cumprimento e a política sem princípios de Trotski na Carta Aberta ao Colégio do CC do POSDR na Rússia, de 28 de Dezembro de 1910. Escreveu também uma carta ao CC em 4 de Fevereiro de 1911, onde, recordando o incumprimento dos LOCs, declara «Restabelecemos a nossa liberdade de lutar contra os liberais e anarquistas, que são encorajados pelo líder dos "conciliadores", Trotski».
    
A corrente leninista procurou na primavera de 1911 obter do Bureau do CC no Estrangeiro (BCCE) a convocação urgente de um plenário do CC para resolver a crise no partido, mas a maioria conciliatória-liquidadora do BCCE obstruiu repetidamente tal diligência, violando disposições do partido. Perante isto, Lénine convocou uma reunião dos membros do CC do POSDR no estrangeiro (10 a 17 de Junho de 1911) e logo depois uma reunião do II Grupo do POSDR de Paris. Estas diligências acabam por levar à constituição de comissões de organização (na Rússia, COR e no estrangeiro, COE) da VI Aconferência de Toda a Rússia do POSDR (18–30 de Janeiro de 1912), em Praga, que desempenhou um papel extraordinário na criação do Partido Bolchevique, um partido de tipo novo.
    
Enquanto se processavam as diligências de organização da VI Conferência os conciliadores que dominavam a Comissão Técnica no Estrangeiro (CTE) [8], sediada em Paris, boicotaram a convocação da conferência, retendo fundos para a COE e um jornal bolchevique e atacaram Lénine no boletim oficial da CTE, Informatsionnii Biulleten, e num folheto.
   
É a resposta de Lénine a estes ataques dos conciliadores da CTE que iremos agora analisar.
II - Antecedents

The powerful struggles of the Russian working class after the January 1905 revolution were crushed over the next two and a half years. Some achievements were, nevertheless, obtained, e.g., the possibility of social democrats (members of the RSDLP) participating in the Duma (Russian Parliament), therefore allowing some public exposure of the counterrevolutionary measures of a government totally dominated by the landlord nobility with the support of the big industrial and financial bourgeoisie. In June 2007 the 2nd Duma was dissolved by PM Stolypin and a new electoral law was proclaimed that considerably increased the representation of landlords and the bourgeoisie by reducing the already small number of workers' representatives. In 1908, the counterrevolution raged. The Bolsheviks [3] were persecuted, many were arrested, and their press banned.

Under counter-revolution pressure three factions were formed in the RSDLP:

(i) Within the Mensheviks [3] was formed in December 1908 an important faction advocating the limitation of party activity to legal organizations, that is, those allowed by Stolypin’s government, the dissolution of clandestine activity, the transformation of the party into a loose set of organizations, and the alliance of the workers with the bourgeoisie. In essence, what this trend advocated would lead to the liquidation of the party as a revolutionary Marxist party, and for this very reason its members were designated liquidators. The liquidators' newspaper was the Golos Sotsial-Demokrata (Social Democratic Voice) and for that reason they were also designated Golosists.

(ii) Within the Bolsheviks a small “leftist” faction was formed in the spring of 1908, arguing that the overwhelming reaction forced the party to confine itself to illegal work and therefore should not engage in any activity in legal or semi-legal organizations (Duma, trade unions, cooperatives, etc.). They argued that the party should immediately recall (remove from the Duma) its deputies, so they became known as otzovists ("recallers" in Russian). The otzovist thesis would have isolated the party from the masses, transforming it into a sectarian organization unable to gather forces for another revolutionary upsurge. It amounted to liquidation from the "left". The otzovists formed with others the Vperiod (Forward) group and published a newspaper with the same name.

(iii) The small group of Trotsky and associates of his Vienna Pravda newspaper adopted the position of conciliators since December 1909. In words, they said they wanted to unite all factions, reconcile them. In real practice, however, they closed their eyes and secretly encouraged anti-Party actions of the liquidators and otzovists, erecting as their enemies Lenin and what they called "official Bolshevism."

Lenin and other Bolsheviks fought tenaciously against these factions which were ruining the Party [4]. As early as May 1908, at the Moscow Social Democratic Conference, they defeated an otzovist motion. At the Fifth RSDLP Conference, from 3 to 9 January 1909, they fought against the liquidators who stood as opposition in all topics of the conference, and against the otzovists who stood opposed in several topics. At a meeting of the C.O. editorial board on 3 November 1909, Lenin proposed the publication of an editorial article demanding a determined fight against liquidationism, but the conciliatory-liquidationist majority of the editorial board (the Bolsheviks G. Zinoviev, L. Kamenev and Varski, concealed agents of Trotsky [5], and the Menshevik Martov) rejected Lenin's article, as well as his proposal for a resolution. In December 1909 Stalin also sent the C.O. his Letter from the Caucasus describing the fight against local liquidationism. It was also rejected by the editorial board [6].

From January 15 to February 5, 1910, a plenary meeting of the RSDLP Central Committee (CC) was held in Paris, with representatives of all factions. Zinoviev, Kamenev, and A. Rykov, concealed allies of Trotsky [5], led this call [7] which had great supporters in Trotsky's group. The plenum was dominated by the conciliators -- Trotsky and his Vienna group, and others -- joined by Zinoviev, Kamenev, Rykov and even the liquidators. This important plenum would influence later events. It is cited by Lenin in several works of the time as the "plenary". Lenin struggled tenaciously during the plenary sessions against the opportunists and conciliators. (He later characterized the mood of the plenary in a letter to M. Gorki (11-Apr-1910): “It was a strenuous three weeks that broke our nerves; something of a thousand devils!”) Lenin managed to have a resolution approved that condemned liquidationism and otzovism and appealed to fight them, but the liquidators + otzovists + conciliationists (LOCs) imposed several harsh measures on the Bolsheviks -- which they complied with -- in exchange for milder measures for them, which they didn’t comply with. Lenin denounced this non-compliance and Trotsky's unprincipled policy in his Letter to the Russian Collegium of the CC of the RSDLP, of 28 December 1910. He also wrote a letter to the CC on 4 February 1911, where, recalling the non-compliance of the LOCs, he stated: “We resume our freedom of struggle against the liberals and anarchists, who are being encouraged by the leader of the ‘conciliators’, Trotsky.”

The Leninist trend took steps in the spring of 1911 to obtain from the CC Bureau Abroad (CCBA) the urgent convening of a CC plenum to resolve the party crisis, but the conciliatory-liquidationist majority of the CCBA repeatedly obstructed this, violating party provisions. In this light, Lenin convened a meeting of the CC members of the RSDLP abroad (10-17 June 1911) and shortly thereafter a meeting of the Second Paris Group of the RSDLP. These moves ultimatey led to the setting up of organizational committees (in Russia, OCR and abroad, OCA) of the Sixth RSDLP All-Russian Conference (18–30 January 1912) in Prague, which played an extraordinary role in building the Bolshevik Party, a party of new type.

While the Sixth Conference was being organized, the conciliators who dominated the Paris-based Technical Commission Abroad (TCA) [8] boycotted the convening of the conference, withholding funds for the OCA and for a Bolshevik newspaper, and attacked Lenin in the TCA official newsletter, the Informatsionnyi Biulleten, and in a leaflet.

It is Lenin's response to these attacks by the TCA conciliators that we will now analyze.

III – Análise de A Nova Fracção dos Conciliadores, ou os Virtuosos,
escrito por V. I. Lénine
e publicado no Sotsial-Demokrat em 31 de Outubro de 1911

Lénine começa por dizer que o Informatsionnii Biulleten (Boletim Informativo) da CTE de 11 de Agosto de 1911 e o folheto A Todos os Membros do POSDR, ambos assinados por “Grupo de bolcheviques pró-partido”, que apareceram em Paris

«... são ataques semelhantes no conteúdo contra o “bolchevismo oficial” ou, segundo outra expressão, contra os “bolcheviques leninistas”. Estes documentos estão cheios de cólera; contêm mais exclamações e declamações de cólera do que substância real. Contudo, há que analisá-los, pois abordam as mais importantes questões do nosso partido. E será mais natural caber-me a mim a tarefa de avaliar a nova fracção, primeiro, porque fui eu que escrevi sobre essas mesmas questões em nome de todos os bolcheviques há exactamente ano e meio ... e, segundo, porque estou plenamente consciente da minha responsabilidade pelo “bolchevismo oficial”».

Sobre o conciliacionismo assinala que

«Trotski exprimiu o conciliacionismo de forma mais consistente do que qualquer outra pessoa e foi provavelmente o único que tentou dar um fundamento teórico a esta corrente. O fundamento é o seguinte: fracções e fraccionismo exprimem a luta dos intelectuais “para influir no proletariado imaturo”. ... [Para Trotski - JMS] Não são as mudanças nas relações entre as classes, nem a evolução das ideias fundamentais das duas principais fracções que servem de base ao processo de fusão das fracções, mas sim a questão da observância ou não de acordos entre todas as fracções "intelectuais". Trotski vem pregando com obstinação – desde há bastante tempo, oscilando umas vezes mais para o lado dos bolcheviques e outras vezes mais para o lado dos mencheviques -- esse acordo (ou compromisso) entre todas e quaisquer fracções.» (As nossas interpolações são indicadas, como acima, com JMS.)

Lénine designa por «principais fracções», e mais à frente por «fracções “fortes”», os mencheviques e bolcheviques. O itálico (aqui e noutras citações) é de Lénine e o «entre todas e quaisquer fracções» é  importante. Prossigamos com a concepção de Lénine:

«A concepção oposta ... é que a origem das fracções deve ser atribuída às relações entre as classes na revolução russa. Os bolcheviques e os mencheviques não fizeram mais que formular as respostas às questões colocadas ao proletariado pela realidade objectiva de 1905-1907. Portanto, só a evolução interna dessas fracções, fracções “fortes” pela suas raízes profundas, fortes pela concordância entre as suas ideias e determinados aspectos da realidade objectiva, só a evolução exclusivamente interna dessas fracções pode assegurar a fusão real das fracções, isto é, a criação de um partido proletário totalmente unido, do socialismo marxista na Rússia. Daqui decorre uma conclusão prática: só uma aproximação no trabalho prático entre essas duas fracções fortes -- e só na medida em que se libertam das correntes não social-democratas do liquidacionismo e do otzovismo – é uma política realmente partidista ...»

Uma das teses que os conciliadores de Paris – que se diziam bolcheviques que «não compartilham das concepções organizativas do bolchevismo oficial» -- ecoavam de Trotski era a de que as fracções eram o resultado de questões organizativas que, segundo eles se colocavam em Agosto de 1911 em primeiro plano tal como já sucedia há ano e meio atrás, no plenário de Janeiro de 1910. Responde Lénine:

«Isto é completamente falso, e constitui precisamente o erro de princípio que Trotski fez e que desmascarei há ano e meio. No plenário, os problemas de organização puderam parecer primordiais apenas porque, e na medida em que, a renúncia ao liquidacionismo por todas as correntes foi considerada uma realidade, pois tanto o grupo de Golos como o do Vperiod “assinaram” as resoluções contra o liquidacionismo e contra o otzovismo ... O erro de Trotski [depois da violação das resoluções - JMS] foi continuar a apresentar a aparência como realidade depois que o Nasha Zariá desde Fevereiro de 1910 desfraldou definitivamente a bandeira do liquidacionismo, e o grupo Vperiod ... desfraldou a bandeira de defesa do otzovismo. No plenário, a aceitação do aparente pelo real podia ser o resultado de auto-engano. Depois do plenário e desde a primavera de 1910, Trotski enganou os trabalhadores da maneira mais sem princípios e desavergonhada, assegurando-lhes que os obstáculos à unidade eram principalmente (se não totalmente) de natureza organizativa. ...»

E acrescenta:

«... o que está agora em primeiro plano não é de modo algum a questão organizativa, mas a questão de todo o programa, toda a táctica e todo o carácter do partido ... Discutir agora, digamos, com os senhores do Nasha Zariá sobre questões organizativas, sobre a relação entre organizações legais e ilegais, seria montar uma farsa, pois esses senhores sabem muito bem reconhecer uma organização “ilegal” ... Os conciliadores auto-intitulam-se bolcheviques para repetir ano e meio depois (com uma declaração especifíca de que o fazem em nome de todo o bolchevismo!) os erros de Trotski ... Ora, não é isto um abuso das denominações estabelecidas no partido? Não é óbvio que somos obrigados, depois disto, a deixar que todo o mundo saiba que os conciliadores não são de modo algum bolcheviques, que nada têm em comum com o bolchevismo, que são simplesmente trotskistas inconsistentes?»

A inconsistência reside também em que os «autores do folheto não apresentam uma única tese sem imediatamente a refutar». Lénine apresenta um exemplo: os conciliadores da CTE diziam que a «tarefa da luta contra o liquidacionismo» é uma tarefa organizativa, dando a entender que é aí que diferem do «bolchevismo oficial» mas depois declaram que diferem noutras questões mantendo-se em silêncio sobre quais. Lénine comenta:

«Durante ano e meio, não tentaram sequer uma única vez corrigir o “bolchevismo oficial” ou expor a sua própria concepção da tarefa de luta contra o liquidacionismo! ... Perante estes factos bem conhecidos, perguntamo-nos quais as causas desse estranho "silêncio" dos conciliadores, e queira-se ou não, vem-nos à memória a lembrança de Trotski e Iónov [9], que também asseguravam estar contra os liquidadores, mas que entendiam de forma diferente a tarefa de combatê-los. Isto é ridículo, camaradas -- declarar, três anos após o início da luta, que entendem o carácter dessa luta de forma diferente!»

Um outro exemplo de inconsistência e confusão apontado por Lénine: os conciliadores da CTE diziam que apoiando as resoluções do plenário – o que implicaria, p. ex., ser possível trabalhar com os liquidadores -- não pensavam que fosse haver uma cisão; mas, num artigo editorial do mesmo boletim, diziam: “É um facto que o trabalho conjunto com os liquidadores na Rússia é impossível”, e que “está a ser cada vez mais difícil traçar a mais fina linha divisória” entre o grupo Golos e os liquidadores. Lénine observa sobre isto:

«Se o trabalho conjunto é impossível, isto para um social-democrata só pode ser explicado e justificado ou por uma violação flagrante das decisões e deveres do partido por parte de um certo grupo de pessoas (e então uma cisão com esse grupo é inevitável), ou por uma diferença fundamental de princípio, diferença que faz com que todo o trabalho de certa corrente esteja afastado da social-democracia (e então uma cisão com toda essa corrente é inevitável). Como sabemos, temos ambas as coisas: o plenário de 1910 declarou que era impossível trabalhar com a corrente liquidacionista, e agora produziu-se a cisão com o grupo Golos, que violou todas as suas obrigações e se passou definitivamente para os liquidadores.»

Lénine passa depois à análise de como os conciliadores da CTE interpretam o resultado do período decorrido desde o plenário:

«Como respondem à pergunta por que razão do trabalho do plenário e das suas resoluções, visando a união, resultou uma cisão entre o BCCE (=liquidadores) e os anti-liquidadores? A resposta dos nossos trotskistas inconsistentes foi simplesmente copiada de Trotski e Iónov ...

«Resposta dos conciliadores: a culpa é do fraccionismo, o fraccionismo dos mencheviques, do grupo Vperiod e do Pravda ... e, por último, dos “representantes oficiais do bolchevismo” que “provavelmente ultrapassaram todos esses grupos nos seus esforços fraccionistas”. Os autores do folheto aplicam abertamente e sem apelo o termo não-fraccionistas apenas a si próprios, os conciliadores de Paris. Todos são maus; eles são virtuosos. Os conciliadores não apresentam quaisquer razões ideológicas para explicar o fenómeno em questão. Não assinalam nenhuma particularidade organizativa dos grupos, ou outras características, que tivessem dado origem a esse fenómeno. Não dizem nada, nem uma palavra, para explicar o assunto, excepto que fraccionismo = perversidade e não-fraccionismo = virtude. A única diferença entre Trotski e os conciliadores de Paris é que os últimos consideram Trotski um fraccionista e consideram-se a si próprios não-fraccionistas, enquanto Trotski mantém a visão oposta.»
    
E mais à frente:
    
«Vocês tornam-se ridículos quando, como Trotski, lançam acusações de fraccionismo uns aos outros ...; não se dão sequer ao trabalho de pensar: o que é uma fracção? Tratem de defini-la, e prevemos que irão enredar-se ainda mais, porque vocês mesmos constituem uma fracção -- uma fracção vacilante, sem princípios, que não conseguiu entender o que aconteceu no plenário e depois dele».
    
Lénine expõe então com grande clareza o tema do fraccionismo, pois parte de definições concretas (é preciso pensar nelas!) baseadas na realidade objectiva:

«Uma fracção é uma organização dentro de um partido, unida, não pelo seu local de trabalho, idioma ou outras condições objectivas, mas sim por uma plataforma particular de concepções sobre questões partidárias. Os autores do folheto constituem uma fracção, porque o folheto constitui a sua plataforma (muito ruim, mas há fracções com plataformas erradas). São uma fracção, porque, como qualquer outra organização, estão ligados por disciplina interna; o vosso grupo nomeia o seu representante para a Comissão Técnica e para a Comissão Organizadora por maioria de votos; o grupo elaborou e publicou o folheto, a plataforma, etc., etc. Estes são os factos objectivos que apontam como hipócritas aos que vociferam contra o fraccionismo. Tanto Trotski como os “trotskistas inconsequentes” sustentam que não são uma fracção porque... o seu “único” fim ao juntarem-se (numa fracção) é abolir as fracções, defender a sua união, etc., mas todas essas declarações são meros auto-elogios e um jogo cobarde de esconde-esconde, pela simples razão de que nenhum fim da fracção (mesmo o mais virtuoso) altera o facto de que a fracção existe. Toda a fracção está convencida de que a sua plataforma e a sua política são o melhor caminho para abolir fracções, pois ninguém considera como ideal a existência destas. A única diferença é que as fracções que têm uma plataforma clara, consequente e íntegra, defendem abertamente a sua plataforma, enquanto as fracções sem princípios se escondem atrás de gritos baratos sobre a sua virtude, sobre o seu não-fraccionismo.»

Lénine aponta depois como causa da existência de fracções no POSDR a cisão de 1903-05 e a «debilidade das organizações locais, impotentes para impedir que os grupos de literatos que expressam novas correntes, grandes e pequenas, se convertam em novas “fracções”, isto é, em organizações nas quais a disciplina interna ocupa o primeiro lugar». Logo, a erradicação das fracções então existentes passa por eliminar a cisão do tempo da revolução o que «apenas será conseguido limpando as duas principais fracções do liquidacionismo e otzovismo e criando uma organização proletária tão forte que possa obrigar a minoria a submeter-se à maioria». Acrescenta: «Daqui decorre, claramente, tanto o mérito ideológico do plenário quanto o seu erro conciliacionista. O seu mérito foi a rejeição das ideias do liquidacionismo e do otzovismo; o seu erro foi o acordo indiscriminado com pessoas e grupos, sem correspondência das promessas ... com os actos». Mais à frente, observando que «o conciliacionismo em geral, assim como o do plenário em particular, fracassou porque o conteúdo do trabalho separava os liquidacionistas dos social-democratas» e nada podia superar essa separação, passa a caracterizar o conciliacionismo, nomeadamente a sua necessidade de «recorrer à total distorção dos factos»:
    
«Escute-se o que dizem: “A política fraccionista dos bolcheviques leninistas foi particularmente prejudicial porque contavam com a maioria em todas as principais instituições do partido, de modo que a sua política fraccionista justificou a separação orgânica de outras correntes e deu-lhes armas contra as instituições oficiais do partido”».
     
Esta tirada é típica do trotskismo. Convincente à primeira vista... se não se tiverem em conta as definições (os princípios) e se for ignorante dos factos ou se deliberadamente se ignorarem os factos. Pode-se dizer que nesta tirada os «alunos» da CTE aprenderam bem com o mestre. Eis como Lénine a desmonta:
    
«Esta tirada não é outra coisa senão uma “justificação” cobarde e tardia do... liquidacionismo, pois foram precisamente os representantes dessa corrente quem sempre invocaram o “fraccionismo” dos bolcheviques. Esta justificação é tardia porque era dever de todo o verdadeiro membro do partido (em contraste com pessoas que usam a palavra “pró-partido” para auto-propaganda) agir no momento em que esse “fraccionismo” começou, e não um ano e meio depois! ... Mas os factos são claros e inequívocos. Logo após o plenário, em Fevereiro de 1910, o senhor Pótresov desfraldou a bandeira do liquidacionismo. ... em Fevereiro ou Março, os senhores Mikail, Roman e Iúri traíram o partido. Imediatamente depois, o grupo Golos iniciou uma campanha ... e retomou a publicação do Golos. Também de seguida, o grupo Vperiod começou a organizar a sua própria “escola”. O primeiro passo fraccionista dos bolcheviques, pelo contrário, foi fundar a Rabotchaya Gazeta em Setembro de 1910, depois da ruptura de Trotski com os representantes do CC.
    
«Por que precisam os conciliadores desta distorção de factos bem conhecidos? Para piscar o olho aos liquidadores, e obter a sua benevolência. Por um lado, “o trabalho conjunto com os liquidadores é impossível”. Por outro lado, o fraccionismo dos bolcheviques "justifica-os"! Perguntamos a qualquer social-democrata não contaminado pela diplomacia estrangeira, que confiança política se pode depositar em pessoas que se enredam em tais contradições? Tudo o que merecem são os beijos com os quais o Golos os recompensou publicamente e nada mais.
    
«Os conciliadores chamam “fraccionismo” ao carácter implacável da nossa polémica ... e a nossa denúncia implacável dos liquidadores (eles eram contra denunciar Mikail, Iúri e Roman). Durante todo este tempo os conciliadores defenderam e encobriram os liquidadores, mas nunca se atreveram a defendê-los abertamente, quer no Diskussionnii Listok quer em qualquer apelo público impresso. Agora lançam a sua impotência e cobardia contra as rodas do partido que começou a separar-se decididamente dos liquidadores. Estes dizem que não há liquidacionismo, que é um "exagero" por parte dos bolcheviques (ver a resolução dos liquidadores do Cáucaso [10] e os discursos de Trotski). Os conciliadores dizem que é impossível trabalhar com os liquidadores, mas... mas o fraccionismo dos bolcheviques os «justifica». Não é claro que o verdadeiro sentido desta ridícula contradição de juízos subjectivos é única e exclusivamente a defesa cobarde do liquidacionismo, o desejo de rasteirar os bolcheviques e apoiar os liquidacionistas?

«Mas isto não é tudo. A pior e mais maligna distorção dos factos é a afirmação de que possuíamos a “maioria” nas “principais instituições do Partido”. Essa flagrante mentira tem apenas um propósito: encobrir o fracasso político do conciliacionismo. [Lénine desmonta com factos essa mentira - JMS] ...

«Por que razão os conciliadores tiveram que recorrer a uma mentira deliberada? Pois, para esconder a cabeça, para encobrir a bancarrota política do conciliacionismo. O conciliacionismo predominou no plenário, teve a maioria após o plenário em todos os principais centros práticos do partido, e num ano e meio sofreu um fracasso total. Não conseguiu "reconciliar" ninguém; não criou nada em lugar algum; oscilou impotentemente de um lado para o outro, merecendo por isso, com toda a razão, os beijos do Golos.

«Os conciliadores sofreram o mais rotundo fracasso na Rússia, e quanto mais zelo põem os conciliadores de Paris em demagogicamente se referirem à Rússia, tanto mais importante é sublinhar isso. A Rússia é conciliacionista em contraste com o estrangeiro: é esta a cantilena dos conciliadores. Comparem-se estas palavras com os factos, e ver-se-á que isso não é mais que demagogia oca e barata. Os factos mostram que, durante mais de um ano após o plenário, havia apenas conciliadores no Bureau do CC na Rússia. ...

«O resultado [deles - JMS] foi  nulo. Nem um único folheto, nem uma única declaração, nem um único órgão da imprensa, nem uma única “conciliação”. ... O conciliacionismo é uma nulidade, palavras, desejos ocos (e rasteiras ao bolchevismo com base nesses desejos "conciliatórios"); o bolchevismo “oficial” provou por actos que é absolutamente preponderante precisamente na Rússia. ...

«... isto não é uma casualidade ou o resultado da sorte ou sucesso de certas pessoas. É o resultado do fracasso de uma corrente política baseada em premissas falsas. Os fundamentos falsos do conciliacionismo são: o desejo de construir a unidade do partido do proletariado pela aliança de todas as fracções, incluindo as fracções anti-social-democratas e não-proletárias; a ausência total de princípios da sua projecto-mania «unificadora» que não leva a nada; as suas falsas frases contra as “fracções” (quando, de facto, se formou uma nova fracção), frases impotentes para dissolver as fracções antipartido e que minam a fracção bolchevique que suportou nove décimos do peso da luta contra o liquidacionismo e o otzovismo.

«Trotski fornece-nos uma abundância de exemplos de projecto-mania “unificadora” carente de princípios. Lembremo-nos, por exemplo ... de como elogiou o Rabotchaia Jizn de Paris, periódico cuja direcção era compartilhada em Paris pelos conciliadores os Golos-istas. Sublime! -- dizia Trotski nos seus escritos -- "nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário". O pobre herói das frases só não percebeu uma mera bagatela: só é revolucionário o social-democrata que compreende o dano do pseudo-social-democratismo anti-revolucionário num dado país num dado momento ... e quem sabe lutar contra essas correntes não social-democratas. Ao beijar o Rabotchaia Jizn -- que nunca lutou contra os social-democratas não-revolucionários da Rússia -- Trotski não fez senão desmascarar o plano dos liquidadores a quem serve fielmente: a paridade no órgão central significa o cessar da luta contra os liquidadores; os liquidadores gozam efectivamente de total liberdade para lutar contra o partido, enquanto o partido deve ficar atado de pés e mãos no órgão central (e no CC) pela “paridade” entre os homens do Golos e os membros do partido. Isso asseguraria a vitória completa dos liquidadores e só os seus lacaios podiam propor ou defender um tal plano».
     
A uma tirada dos conciliadores sobre o «isolamento» dos bolcheviques «de outras correntes (Vperiod, Pravda) que se situam no terreno do partido social-democrata ilegal», Lénine responde:
    
«... o Pravda e o Vperiod representam correntes social-democratas? Não, pois o Vperyod representa uma corrente não social-democrata (otzovismo e machismo [11]) e o Pravda representa um grupito que não deu respostas independentes e sólidas a nenhum problema de princípios importante da revolução e contra-revolução. Só se pode chamar corrente a uma soma de ideias políticas bem definidas definidas relativamente a todos os problemas mais importantes tanto da revolução (pois nos afastámos muito pouco dela e dependemos dela em todos os aspectos) como da contra-revolução; ideias que, além disso, provaram o seu direito à existência como uma corrente, devido à sua difusão entre as camadas mais amplas da classe trabalhadora. »
     
Sobre a desculpa dos conciliacionistas do seu fracasso político -- «sim, mas isso é porque vocês, os fraccionistas nos estorvaram» -- desculpa bem trotskista, Lénine responde:
     
«A bancarrota política de uma corrente ou de um grupo reside justamente no facto de que tudo “a estorva”, tudo se opõe a ela; pois calculou equivocadamente este "tudo", pois tomou como base palavras vazias, suspiros, lamentações, gemidos.
      
«No nosso caso, senhores, tudo e todos vieram em nosso auxílio, e nisto reside a garantia do nosso êxito. Fomos ajudados pelos senhores Pótresov, Larin, Levitski, que não conseguiam abrir a boca sem confirmar os nossos argumentos sobre o liquidacionismo. Fomos ajudados pelos senhores Mártov e Dan, porque obrigaram todos a concordar com a nossa apreciação de que o grupo Golos e os liquidadores são a mesma coisa. Fomos ajudados por Plekanov na medida em que desmascarou os liquidadores, apontou nas resoluções do plenário as "escapatórias para os liquidadores" deixadas (pelos conciliadores) e ridicularizou as passagens "pomposas" e "integralistas" (redigidas pelos conciliadores contra nós). Fomos ajudados pelos conciliadores russos cujo “convite” a Mikail, Iúri e Roman, foi acompanhado por ataques injuriosos a Lénine (ver Golos), confirmando assim que a refutação dos liquidadores não se devia à insídia dos “fraccionistas”. Como pôde acontecer, estimados conciliadores, que, apesar da vossa virtude, todos vos obstacularizaram, ao passo que todos nos ajudaram apesar da nossa maldade fraccionista?

«Foi porque a política do vosso grupito dependia apenas de frases, muitas vezes muito benevolentes e bem intencionadas, porém vazias. À unidade só se pode chegar através da convergência de fracções fortes, fortes na sua integridade ideológica e na sua influência sobre as massas, comprovada pela experiência da revolução.

«Mesmo agora, as vossas exclamações contra o fraccionismo continuam a ser meras frases, porque vós mesmos sois uma fracção, e certamente uma das piores, das menos seguras, das mais carentes de princípios. A vossa ensurdecedora e aparatosa declaração “nem um cêntimo para as fracções” (no Informatsionnii Biuletten), é uma mera frase. Se a dissésteis a sério, acaso poderíeis ter gasto os vossos “cêntimos” na edição de um folheto-plataforma de um novo grupito? Se a dissésteis a sério, acaso poderíeis ter ficado calados vendo os órgãos fraccionistas como Rabotchaia Gazeta e e o Dnievnik Sotsial-Demokrat? Não deveríeis vós ter exigido publicamente que fossem fechados? Se tivésseis exigido isso, colocado tal condição seriamente, seríeis simplesmente ridicularizados. E se vós, estando bem cientes disso, vos limitais a lânguidos suspiros, não será que isso demonstra ainda mais uma vez que o vosso conciliacionismo está suspenso no ar?

«O desarmamento das fracções só é possível na base da reciprocidade; caso contrário, é uma palavra de ordem reaccionária, extremamente prejudicial à causa do proletariado; é uma palavra de ordem demagógica, pois apenas facilita a luta implacável dos liquidadores contra o partido. Quem lança agora essa palavra de ordem, após a tentativa fracassada do plenário de aplicá-la, após as fracções Golos e Vperyod terem frustrado a tentativa de amalgamar (as fracções), quem faça isso sem se atrever sequer a repetir a condição de reciprocidade, sem sequer tentar apresentá-la com clareza e definir os meios de controlo sobre o seu cumprimento real, está simplesmente a embriagar-se com palavras que soam doces.»
III - Analysis of The New Faction of Conciliators, or the Virtuous,
written by V. I. Lenin
and published in the Sotsial-Demokrat, October 31, 1911

Lenin begins is article by saying that the TCA Informatsionnyi Biulleten (Information Bulletin) of 11 August 1911 and the leaflet [8a]  To All Members of the RSDLP, both signed by “A Group of Pro-Party Bolsheviks”, who appeared in Paris

“… are attacks identical in substance upon ‘official Bolshevism’ or, according to another expression, upon the ‘Leninist Bolsheviks’. These documents are full of ire; they contain more angry exclamations and declamations than real substance. Nevertheless, it is necessary to deal with them, for they touch upon the most important problems of our Party. It is all the more natural for me to undertake the job of assessing the new faction, first, because it was I who wrote on these very questions in the name of all the Bolsheviks exactly a year and a half ago … and, secondly, because I am fully conscious of my responsibility for ‘official Bolshevism’.”

Regarding conciliationism, he points out that

“Trotsky expressed conciliationism more consistently than anyone else. He was probably the only one who attempted to give the trend a theoretical foundation, namely: factions and factionalism express the struggle of the intelligentsia ‘for influence over the immature proletariat’. ... [According to Trotsky - JMS] The root of the process of fusion of the factions is not the change in the relations between the classes, not the evolution of the fundamental ideas of the two principal factions, but the observance or otherwise of agreements concluded between all the ‘intellectual’ factions. For a long time now, Trotsky -- who at one moment has wavered more to the side of the Bolsheviks and at another more to that of the Mensheviks -- has been persistently carrying on propaganda for an agreement (or compromise) between all and sundry factions.” (Our interpolations are marked, as above, with JMS.)

Lenin designates as “principal factions”, and later as “’strong’ factions”, the Mensheviks and the Bolsheviks. The italics (here and in other quotations) are from Lenin, and the "between all and sundry factions" is important. Let us proceed to Lenin’s conception:

“The opposite view … is that the origin of the factions is to be traced to the relations between the classes in the Russian revolution. The Bolsheviks and the Mensheviks only formulated the answers to the questions with which the objective realities of 1905–07 confronted the proletariat. Therefore, only the inner evolution of these factions, of the “strong” factions, strong because of their deep roots, strong because their ideas correspond to certain aspects of objective reality, only the inner evolution of precisely these factions is capable of securing a real fusion of the factions, i.e., the creation of a genuinely and completely united party of proletarian Marxist socialism in Russia. From this follows the practical conclusion that only a rapprochement in practical work between these two strong factions -- and only insofar as they rid themselves of the non-Social-Democratic tendencies of liquidationism and otzovism -- represents a real Party policy …”

One of the theses that the Paris conciliators -- claiming to be Bolsheviks who “do not share the organisational views of official Bolshevism” -- echoed from Trotsky was that factions were the result of organizational issues which, according to them, stood in August 1911 in the forefront, in the same way as they stood a year and a half ago in the January 1910 plenum. To this Lenin replies:

“This is obviously [8b] untrue, and constitutes the very error of principle which Trotsky made, and which I exposed a year and a half ago. At the Plenary Meeting, the organisational question probably seemed of paramount importance only because, and only insofar as, the rejection of liquidationism by all factions was taken to be real, because the Golos and the Vperyod representatives “signed” the resolutions against liquidationism and against otzovism ... Trotsky’s error [after the violation of the reolutions - JMS] was in continuing to pass off the apparent for the real after February 1910, when Nasha Zarya finally unfurled the banner of liquidationism, and the Vperyod group … unfurled the banner of defence of otzovism. At the Plenary Meeting, the acceptance of the apparent for the real may have been the result of self-delusion. But after it, ever since the spring of 1910, Trotsky has been deceiving the workers in a most unprincipled and shameless manner by assuring them that the obstacles to unity were principally (if not wholly) of an organisational nature.

And Lenin adds:

“… it is by no means the organisational question that is now in the forefront, but the question of the entire programme, the entire tactics and the whole character of the Party ... To argue now, let us say, with the gentlemen of Nasha Zarya about organisational questions, about the relative importance of the legal and illegal organisations, would be simply putting on an act, for these gentlemen may fully recognise an “illegal” organisation … The conciliators call themselves Bolsheviks, in order to repeat, a year and a half later (and specifically stating moreover that this was done in the name of Bolshevism as a whole!), Trotsky’s errors ... Well, is this not an abuse of established Party titles? Are we not obliged, after this, to let all and sundry know that the conciliators are not Bolsheviks at all, that they have nothing in common with Bolshevism, that they are simply inconsistent Trotskyites?”

The inconsistency also lies in the fact that “every proposition the authors of the leaflet [8a] put forward, they immediately refute”. Lenin gives an example: the conciliators of the TCA said that the “task of the struggle against liquidationism” is an organizational task, implying that this is where they differ from 'official Bolshevism'; further on, however, they state that they differ in other matters but keep silent which ones they meant. Lenin comments:

“For a year and a half they did not attempt even once to correct ‘official Bolshevism’ or to expound their own conception of the task of the struggle against liquidationism! ... In comparing these well-known dates we involuntarily seek for an explanation of this strange ‘silence’ of the conciliators, and this quest involuntarily recalls to our mind Trotsky and Ionov [9], who asserted that they too were opposed to the liquidators, but that they understood the task of combating them differently. It is ridiculous, comrades—to declare, three years after the struggle began, that you understand the character of this struggle differently!”

Another example of inconsistency and confusion pointed out by Lenin: the TCA conciliators said that by upholding the plenary resolutions -- which would imply, e.g., being able to work with the liquidators -- they did not think there would be a split; but, in an editorial article in the same bulletin, they said: “It is a fact that joint work with the liquidators in Russia, is impossible,” and that it is “becoming more and more difficult to draw even the finest line of demarcation” between the Golos group and the liquidators. Lenin observes on this:

If joint work is impossible -- that can be explained to Social-Democrats and justified in their eyes either by an outrageous violation of Party decisions and obligations on the part of a certain group of persons (and then a split with that group of persons is inevitable), or by a fundamental difference in principle, a difference which causes the entire work of a certain trend to be directed away from Social-Democracy (and then a split with the whole trend is inevitable). As we know, we have both these things; the Plenary Meeting of 1910 declared it impossible to work with the liquidationist trend, while the split with the Golos group, which violated all its obligations and definitely went over to the liquidators, is now taking place.”

Lenin then proceeds to examining how the TCA conciliators interpret the outcome of the period since the plenary:

How do they answer the question of why the work and the decisions of the Plenary Meeting, which primarily were meant to bring about unity, resulted in a split between the CCBA (=liquidators) and the anti-liquidators? Our inconsistent Trotskyites have simply copied the answer to this from Trotsky and Ionov …

“The conciliators answer by saying: it is the fault of factionalism, the factionalism of the Mensheviks, the Vperyod group, and of Pravda … and, finally, of the ‘official representatives of Bolshevism’ who ‘have probably outdone all these groups in their factional efforts’. The authors of the leaflet [8a] openly and definitely apply the term non-factional only to themselves, the Paris conciliators. All are wicked, they are virtuous. The conciliators give no ideological reasons in explanation of the phenomenon in question. They do not point to any of the organisational or other distinguishing features of the groups that gave rise to this phenomenon. They say nothing, not a word, to explain matters, except that factionalism = wickedness and non-factionalism = virtue [9a]. The only difference between Trotsky and the conciliators in Paris is that the latter regard Trotsky as a factionalist and themselves as non-factional, whereas Trotsky holds the opposite view.”

And further:

“You make yourselves ridiculous when you and Trotsky hurl accusations of factionalism at one another …; you do not take the trouble to think: what is a faction? Try to give a definition, and we predict that you will entangle yourselves still more; for you yourselves are a faction -- a vacillating, unprincipled faction, one that failed to understand what took place at the Plenary Meeting and after it.”

Lenin then presents with great clarity the theme of factionalism, since he starts from concrete definitions (one should first think about them!) based on objective reality:

“A faction is an organisation within a party, united, not by its place of work, language or other objective conditions, but by a particular platform of views on party questions. The authors of the leaflet [8a] are a faction, because the leaflet [8a] constitutes their platform (a very bad one; but there are factions with wrong platforms). They are a faction, because like every other organisation they are bound by internal discipline; their group appoints its representative to the Technical Commission and to the Organising Commission by a majority of votes; it was their group that drew up and published the leaflet [8a], the platform, and so on. Such are the objective facts which show that outcries against factionalism are bound to be hypocrisy. Yet Trotsky and the “inconsistent Trotskyites maintain that they are not a faction because ... ‘the only’ aim [9b] of their uniting (into a faction) is to abolish factions and to advocate their fusion, etc. But all such assurances are merely self-praise and a cowardly game of hide-and-seek, for the simple reason that the fact that a faction exists is not affected by any (even the most virtuous) aim of the faction. Every faction is convinced that its platform and its policy are the best means of abolishing factions, for no one regards the existence of factions as ideal. The only difference is that factions with clear, consistent, integral platforms openly defend their platforms, while unprincipled factions hide behind cheap shouts about their virtue, about their non-factionalism.”

Lenin then points out as a cause of the existence of factions in the RSDLP the 1903-1905 split and the “weakness of the local organisations which are powerless to prevent the transformation of literary groups that express new trends, big and small, into new “factions”, i.e., into organisations in which internal discipline takes first place”. Thus, the eradication of the existing fractions can only be achieved by eliminating the split from the time of the revolution, and this "will be brought about only by ridding the two main factions of liquidationism and otzovism), and by creating a proletarian organisation strong enough to force the minority to submit to the majority.” He adds: “Hence, both the ideological merit of the Plenary Meeting and its conciliationist error become clear. Its merit was the rejection of the ideas of liquidationism and otzovism; its mistake was the agreement concluded indiscriminately with persons and groups whose deeds are not in accordance with their promises …”. Further on, noting that “conciliationism in general, as well as the conciliationism of the Plenary Meeting, came to grief because the content of the work separated the liquidators from the Social-Democrats” and nothing could overcome the separation, Lenin proceeds to characterizing conciliationism, namely its need “to resort to a downright distortion of facts”:

Just listen to this: ‘The factional policy of the Leninist Bolsheviks was particularly harmful because they had a majority in all the principal Party institutions, so that their factional policy justified the organisational separatism of other trends and armed those trends against the official Party institutions’.”

This tirade is typical of Trotskyism. Convincing at first glance... provided one doesn’t take the definitions (the principles) into account and one is ignorant of the facts or deliberately chooses to ignore the facts. It can be said that in this tirade the TCA "students" learned well from the master. Here's how Lenin takes it apart:

“This tirade is nothing but a cowardly and belated ‘justification’ of... liquidationism, for it is precisely the representatives of that tendency who have always justified themselves by references to the “factionalism” of the Bolsheviks. This justification is belated because it was the duty of every real Party member (in contrast to persons who use the catch word “pro-Party” for self-advertisement) to act at the time when this “factionalism” began, and not a year and a half later! ... But the facts are explicit and unambiguous; immediately after the Plenary Meeting, in February 1910, Mr. Potresov unfurled the banner of liquidationism. … in February or March, Messrs. Mikhail, Roman, and Yuri betrayed the Party. Immediately after that, the Golos group started a campaign for and resumed the publication of Golos. Immediately after that, the Vperyod people began to build up their own “school”. The first factional step of the Bolsheviks, on the other hand, was to found Rabochaya Gazeta in September1910, after Trotsky’s break with the representatives of the CC.

“Why did the conciliators resort to such a distortion of well-known facts? In order to give a wink [9c] to the liquidators, and curry favour with them. On the one hand, ‘joint work with the liquidators is impossible’. On the other hand—they   are ‘justified’ by the factionalism of the Bolsheviks!? We ask any Social-Democrat not contaminated with foreign [9d] diplomacy, what political confidence can be placed in people who are themselves entangled in such contradictions? All they deserve are the kisses [9e] with which Golos publicly rewarded them.

“By ‘factionalism’ the conciliators mean the ruthlessness of our polemics … and the ruthlessness of our exposure of the liquidators (they were against exposing Mikhail, Yuri, and Roman). The conciliators have been defending and screening the liquidators all the time but have never dared to express their defence openly, either in the Diskussionny Listok or in any printed public appeal. And now they are using their impotence and cowardice to put a spoke in the wheel of the Party, which has begun emphatically to dissociate itself from the liquidators. The liquidators say, there is no liquidationism, it is an “exaggeration” on the part of the Bolsheviks (see the resolution of the Caucasian liquidators [10] and Trotsky’s speeches). The conciliators say, it is impossible to work with the liquidators, but... but the factionalism of the Bolsheviks provides them with a “justification”. Is it not clear that this ridiculous contradiction of subjective opinions has one, and only one, real meaning: cowardly defence of liquidationism, a desire to trip up the Bolsheviks and lend support to the liquidators?

“But this is by no means all. The worst and most malicious distortion of facts is the assertion that we had a “majority” in the “principal Party institutions”. This crying untruth has only one purpose: to cover up the political bankruptcy of conciliationism. [Lenin dismantles the lie with facts - JMS] …

“Why did the conciliators have to resort to a deliberate lie? For no other purpose than that of camouflage, to cover up the political bankruptcy of conciliationism. Conciliationism predominated at the Plenary Meeting; it had a majority in all the principal practical centres of the Party after the Plenary Meeting, and within a year and a half it suffered complete collapse. It failed to “reconcile” anyone; it did not create anything anywhere; it vacillated helplessly from side to side, and for that it fully deserved the kisses [9e] of Golos.

“The conciliators suffered the most complete failure in Russia, and the more assiduously and demagogically the Paris conciliators refer to Russia the more important is it to stress this. The leit-motif of the conciliators is that Russia is conciliationist in contrast with what we have abroad. Compare these words with the facts, and you will see that this is just hollow, cheap demagogy. The facts show that for more than a year after the Plenary Meeting there were only conciliators on the Central Committee Bureau in Russia. …

“The result [from them - JMS] is nil. Not a single leaflet, not a single pronouncement, not a single organ of the press, not a single ‘concillation’. ... Conciliationism is nil, words, empty wishes (and attempts to trip up Bolshevism on the basis of these ‘conciliatory’ wishes); ‘official’ Bolshevism has proved by deeds that it is absolutely preponderant precisely in Russia. …

“… this is not an accident, or the result of the luck or success of individuals. It is the result of the bankruptcy of a political tendency which is based on false premises. The very foundation of conciliationism is false -- the wish to base the unity of the party of the proletariat on an alliance of all factions, including the anti-Social-Democratic, non-proletarian factions; false are its unprincipled “unity” schemes which lead to nothing; false are its phrases against ‘factions’ (when in fact a new faction is formed) -- phrases that are powerless to dissolve the anti-Party factions, but are intended to weaken the Bolshevik faction which bore nine-tenths of the brunt of the struggle against liquidationism and otzovism.

“Trotsky provides us with an abundance of instances of scheming to establish unprincipled “unity”. Recall, for example … how he praised the Paris Rabochaya Zhizn, in the management of which the Paris conciliators and the Golos group had an equal share. How wonderful!—wrote Trotsky—“neither Bolshevik, nor Menshevik, but revolutionary Social-Democrat”. The poor hero of phrase-mongering failed to notice a mere bagatelle -- only that Social-Democrat is revolutionary who understands how harmful anti-revolutionary pseudo-Social-Democracy can be in a given country at a given time … and who knows how to fight against such non-Social-Democratic tendencies. By his kissing [9f] of Rabochaya Zhizn which had never fought against the non-revolutionary Social-Democrats in Russia, Trotsky was merely revealing the plan of the liquidators whom he serves faithfully -- parity   on the Central Organ implies the termination of the struggle against the liquidators; the liquidators actually enjoy full freedom to fight the Party; and let the Party be tied hand and foot by the “parity” of the Golos and Party men on the Central Organ (and on the CC). This would assure complete victory for the liquidators and only their lackeys could pursue or defend such a line of action.”

To a conciliator's tirade on the “isolation” of the Bolsheviks “from other trends (Vperyod, Pravda) which advocate an illegal Social-Democratic party” Lenin replies:

“… do Pravda and Vperyod represent Social-Democratic trends? No, they do not; for Vperyod represents a non-Social-Democratic trend (otzovism and Machism [11]) and Pravda represents a tiny group, which has not given an independent and consistent answer to any important fundamental question of the revolution and counter-revolution. We can call a trend only a definite sum of political ideas which have become well-defined in regard to all the most important questions of both the revolution (for we have moved away but little from it and are dependent on it in all respects) and the counter-revolution; ideas which, moreover, have proved their right to existence as a trend by being widely disseminated among broad strata of the working class.”

Concerning the conciliationists' excuse for their political bankruptcy -- "yes, but that is because you factionalists were hampering us " -- a typical Trotskyist excuse Lenin replies:

“The political bankruptcy of a tendency or a group lies precisely in the fact that everything ‘hampers’ it, everything turns against it; for it has wrongly estimated this ‘everything’, for it has taken as its basis empty words, sighs, regrets, whimpers.

“Whereas in our case, gentlemen, everything and everybody came to our assistance -- and herein lies the guarantee of our success. We were assisted by the Potresovs, Larins, Levitskys -- for they could not open their mouths without confirming our arguments about liquidationism. We were assisted by the Martovs, Dans and others -- for they compelled everyone to agree with our view that the Golos group and the liquidators are one and the same. We were assisted by Plekhanov to the very extent that he exposed the liquidators, pointed out the loopholes” left open ‘for the liquidators’ (by the conciliators) in the resolutions of the Plenary Meeting, and ridiculed the ‘puffy’ and ‘integralist’ passages in these resolutions (passed by the conciliators against us). We were assisted by the Russian conciliators whose ‘invitation’, extended to Mikhail, Yuri, and Roman, was accompanied by abusive attacks upon Lenin (see Golos), thereby confirming the fact that the refusal of the liquidators was not due to the insidiousness of the ‘factionalists’. How is it, my dear conciliators, that, notwithstanding your virtue everybody hampered you, whereas everyone helped us in spite of all our factional wickedness?

“It was because the policy of your petty group hinged only on phrase-mongering, often very well-meaning and well-intentioned phrase-mongering, but empty nonetheless. A real approach to unity is created only by a rapprochement of strong factions, strong in their ideological integrity and an influence over the masses that has been tested by the experience of the revolution.

“Even now, your outbursts against factionalism remain mere words, because you yourselves are a faction, one of the worst, least reliable, unprincipled factions. Your loud, sweeping pronouncement (in the Information Bulletin) -- “not a centime for the factions” -- was mere words. Had you meant it seriously, could you have spent your “centimes” on the publication of the pamphlet-platform of a new tiny [11a] group? Had you meant it seriously, could you have kept quiet at the sight of such factional organs as Rabochaya Gazeta and Dnievnik Sotsial-Demokrat [11b]? Could you have abstained from publicly demanding that they be closed down? Had you demanded this, had you seriously stipulated such a condition, you would simply have been ridiculed. However, if, being well aware of this, you confine yourselves to languid sighs, does it not prove over and over again that your conciliationism hangs in the air [11c]?

“The disarming of the factions is possible only on the basis of reciprocity -- otherwise it is a reactionary slogan, extremely harmful to the cause of the proletariat; it is a demagogical slogan, for it only facilitates the uncompromising struggle of the liquidators against the Party. Anyone who advances this slogan now, after the attempt of the Plenary Meeting to apply it has failed, after the attempt to amalgamate (the factions) has been thwarted by the Golos and Vperyod factions -- anyone who does this without even daring to repeat the condition of reciprocity, without even trying to state it clearly, to determine the methods of control over its actual fulfilment, is simply becoming intoxicated by sweet-sounding words.”

IV – Síntese

No que se segue identificamos e sintetizamos as principais características de Trotski e seus associados, os conciliadores de Paris, que Lénine revela neste trabalho. Cada característica é exemplificada com citações de Lénine. (Só usamos as citações acima. No artigo completo de Lénine encontram-se muitos mais exemplos.) Em cada citação, o que respeita à característica identificada é marcado a negrito e por vezes também sublinhado. As características estão numeradas mas a ordem é irrelevante. Todas as interpolações nas citações são nossas.
     
1 - Os adversários

Os adversários concretos de Trotski e trotskistas não são os partidos de direita. São os «bolcheviques oficiais [!]», os «bolcheviques leninistas».
     
a) «[Os dois documentos] assinados por “Grupo de bolcheviques pró-partido”, que apareceram em Paris ... são ataques semelhantes no conteúdo contra o “bolchevismo oficial” ou, segundo outra expressão, contra os “bolcheviques leninistas”. Estes documentos estão cheios de cólera; contêm mais exclamações e declamações de cólera do que substância real».
     
b) «Os fundamentos falsos do conciliacionismo são: o desejo de construir a unidade do partido do proletariado pela aliança de todas as fracções, incluindo as fracções anti-social-democratas e não-proletárias; a ausência total de princípios da sua projecto-mania «unificadora» que não leva a nada; as suas falsas frases contra as “fracções” ... frases impotentes para dissolver as fracções anti-partido e que minam a fracção bolchevique que suportou nove décimos do peso da luta contra o liquidacionismo e o otzovismo».
     
c) «Trotski fornece-nos uma abundância de exemplos de projecto-mania “unificadora” carente de princípios. Lembremo-nos ... de como elogiou o Rabotchaia Jizn [jornal de conciliadores e liquidadores]. Sublime! -- dizia Trotski nos seus escritos -- "nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário". O pobre herói das frases só não percebeu uma mera bagatela: só é revolucionário o social-democrata que compreende o dano do pseudo-social-democratismo anti-revolucionário num dado país num dado momento».
      
d) «Ao beijar o Rabotchaia Jizn -- que nunca lutou contra os social-democratas não-revolucionários da Rússia -- Trotski não fez senão desmascarar o plano dos liquidadores a quem serve fielmente: .... Isso asseguraria a vitória completa dos liquidadores [contra o POSDR maioritariamente bolchevique] e só os seus lacaios podiam propor ou defender um tal plano».
     
2 -  A fraseologia
     
Fraseologia de «esquerda», empolada, vazia de conteúdo real, para esconder a demagogia, a falta de princípios e acções de apoio à direita.
     
a) «... Estes documentos estão cheios de cólera; contêm mais exclamações e declamações de cólera do que substância real»
     
b) «... as suas falsas frases contra as “fracções” ... frases impotentes para dissolver as fracções anti-partido e que minam a fracção bolchevique ...»
     
c) «Trotski fornece-nos uma abundância de exemplos de projecto-mania “unificadora” carente de princípios. Lembremo-nos ... de como elogiou o Rabotchaia Jizn [jornal de conciliadores e liquidadores]. Sublime! -- dizia Trotski nos seus escritos -- "nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário". O pobre herói das frases só não percebeu uma mera bagatela: só é revolucionário o social-democrata que compreende o dano do pseudo-social-democratismo anti-revolucionário num dado país num dado momento»
     
e) «Mesmo agora, as vossas exclamações contra o fraccionismo continuam a ser meras frases, porque vós mesmos sois uma fracção, e certamente uma das piores, das menos seguras, das mais carentes de princípios»
     
f) «Como pôde acontecer, estimados conciliadores, que, apesar da vossa virtude, todos vos obstacularizaram, ao passo que todos nos ajudaram apesar da nossa maldade fraccionista? Foi porque a política do vosso grupito dependia apenas de frases, muitas vezes muito benevolentes e bem intencionadas, porém vazias».
     
g) «O desarmamento [de fundos e jornais] das fracções só é possível na base da reciprocidade; caso contrário [caso de Trotski], é uma palavra de ordem reaccionária, extremamente prejudicial à causa do proletariado; é uma palavra de ordem demagógica, pois apenas facilita a luta implacável dos liquidadores contra o partido».

3 -  A incapacidade teórica
     
A incapacidade teórica está intimamente relacionada com o posicionamento de classe do trotskismo e traduz-se em: o desprezo pela realidade concreta, a falta de princípios, as vacilações entre direita e esquerda.
     
b) «Os fundamentos falsos do conciliacionismo são: o desejo de construir a unidade do partido do proletariado pela aliança de todas as fracções, incluindo as fracções anti-social-democratas e não-proletárias; a ausência total de princípios da sua projecto-mania “unificadora” que não leva a nada ...»
      
c) «Trotski fornece-nos uma abundância de exemplos de projecto-mania “unificadora” carente de princípios. ... Sublime! -- dizia Trotski nos seus escritos -- "nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário". ...»
     
h) «Trotski vem pregando com obstinação – desde há bastante tempo, oscilando umas vezes mais para o lado dos bolcheviques e outras vezes mais para o lado dos mencheviques -- esse acordo (ou compromisso) entre todas e quaisquer fracções».
     
i) «Vocês tornam-se ridículos quando, como Trotski, lançam acusações de fraccionismo uns aos outros ...; não se dão sequer ao trabalho de pensar: o que é uma fracção? Tratem de defini-la, e prevemos que irão enredar-se ainda mais, porque vocês mesmos constituem uma fracção -- uma fracção vacilante, sem princípios ...».
      
j) «Isto é completamente falso, e constitui precisamente o erro de princípio que Trotski fez e que desmascarei há ano e meio. ... O erro de Trotski foi continuar a apresentar a aparência como realidade .... Depois do plenário e desde a primavera de 1910, Trotski enganou os trabalhadores da maneira mais sem princípios e desavergonhada, assegurando-lhes que os obstáculos à unidade eram principalmente (se não totalmente) de natureza organizativa. ...»

4  - A inconsistência
     
k) «[os conciliadores de Paris, trotskistas] não apresentam uma única tese sem imediatamente a refutar»

l) «A única diferença entre Trotski e os conciliadores de Paris é que os últimos consideram Trotski um fraccionista e consideram-se a  si próprios não-fraccionistas, enquanto Trotski mantém a visão oposta».

5 – A mentira
     
Trotski e os trotskistas usam a distorção dos factos e a mentira pura e simples para os mais variados propósitos:
     
a) «[Os dois documentos os conciliadores de Paris, trotskistas] assinados por “Grupo de bolcheviques pró-partido”, que apareceram em Paris ...».  
     
Duas mentiras para se fazerem passar pelo que não são: 1) queriam passar por bolcheviques, dissimulando esta mentira sob o pretexto de que não eram «bolcheviques oficiais» ou «bolcheviques leninistas», como se houvesse outros! 2) queriam passar por pró-partido, embora fizessem tudo para fraccionar o partido.
      
j) «Isto é completamente falso, e constitui precisamente o erro de princípio que Trotski fez e que desmascarei há ano e meio. ... O erro de Trotski foi continuar a apresentar a aparência como realidade .... Depois do plenário e desde a primavera de 1910, Trotski enganou os trabalhadores da maneira mais sem princípios e desavergonhada, assegurando-lhes que os obstáculos à unidade eram principalmente (se não totalmente) de natureza organizativa. ...»
     
Mentira para «apresentar a aparência como realidade» e com isso enganar os trabalhadores.

m) «A fim de dissimular o facto político indiscutível do completo fracasso do conciliacionismo, os conciliadores são forçados a recorrer à distorção total dos factos. Escute-se o que dizem: “A política fraccionista dos bolcheviques leninistas foi particularmente prejudicial porque contavam com a maioria em todas as principais instituições do partido, de modo que...” ...»
      
Lénine desmente a com factos bem conhecidos esta mentira usada pelos trotskistas para dissimular o seu fracasso político atribuindo a culpa pelo fracasso aos bolcheviques leninistas.
      
n) «Por que precisam os conciliadores desta distorção de factos bem conhecidos? Para piscar o olho aos liquidadores, e obter a sua benevolência. Por um lado, “o trabalho conjunto com os liquidadores é impossível”. Por outro lado, o fraccionismo dos bolcheviques "justifica-os"!».
      
Mentira para ficar de bem com a direita e atribuir a culpa aos bolcheviques leninistas.
      
o) «Eles [os conciliadores de Paris, trotskistas] dizem que são bolcheviques que “não compartilham das concepções organizativas do bolchevismo oficial”».

Mentira para sustentar a sua auto-intitulação como bolcheviques que só diferem nas concepções organizativas, como se isso não fosse contraditório com ser bolchevique. (Lénine desmente tal tese detalhadamente.)
     
p) «Trotski e Iónov [membro do Bund!] ... também asseguravam estar contra os liquidadores, mas que entendiam de forma diferente a tarefa de combatê-los. Isto é ridículo, camaradas -- declarar, três anos após o início da luta, que entendem o carácter dessa luta de forma diferente!»
     
Mentira para dissimular o apoio à direita a pretexto de que entendem de forma diferente a tarefa de combatê-la. De facto, não a combatendo.
     
6 – Incapacidade  de auto-crítica
     
A culpa do constante fracasso político de Trotski e trotskistas é sempre dos outros, principalmente dos «representantes oficiais do bolchevismo».
      
q) «... a culpa [atribuída pelos conciliadores de Paris, trotskistas] é do fraccionismo, o fraccionismo dos mencheviques, do grupo Vperiod e do Pravda ... e, por último, dos “representantes oficiais do bolchevismo” que “provavelmente ultrapassaram todos esses grupos nos seus esforços fraccionistas”»
      
r) «Disse que depois de ano e meio de domínio nos centros do partido o conciliacionismo sofreu o mais rotundo fracasso político. A réplica usual é: sim, mas isso é porque vocês, os fraccionistas nos estorvaram (veja-se a carta dos conciliadores – mas não bolcheviques -- Guermann e Arkadi no Pravda [do grupo Trotski de Viena], n.º 20)».
     
f) «Como pôde acontecer, estimados conciliadores, que, apesar da vossa virtude, todos vos obstacularizaram, ao passo que todos nos ajudaram apesar da nossa maldade fraccionista? ...»
IV - Synthesis

In what follows we identify and synthesize the main features of Trotsky and his associates, the Paris conciliators, which Lenin revealed in his article. Each feature is exemplified with quotations from Lenin’s text. (We only use the above quotations. In the full article by Lenin there are much more examples.) In each quotation, what respects to the identified feature is emphasized with boldface and sometimes also underlined. The features are numbered but the order is irrelevant. All interpolations in the quotations are ours.

1 - The opponents

The concrete opponents of Trotsky and Trotskyists are not the right-wing parties. They are indeed the "official [!] Bolsheviks", the "Leninist Bolsheviks".

a) “[The two documents] signed by ‘A Group of Pro-Party Bolsheviks’, which appeared … in Paris, are attacks identical in substance upon ‘official Bolshevism’ or, according to another expression, upon the ‘Leninist Bolsheviks’. These documents are full of ire; they contain more angry exclamations and declamations than real substance.”

b) “The very foundation of conciliationism is false -- the wish to base the unity of the party of the proletariat on an alliance of all factions, including the anti-Social-Democratic, non-proletarian factions; false are its unprincipled “unity” schemes which lead to nothing; false are its phrases against “factions” … phrases that are powerless to dissolve the anti-Party factions, but are intended to weaken the Bolshevik faction which bore nine-tenths of the brunt of the struggle against liquidationism and otzovism."

c) “Trotsky provides us with an abundance of instances of scheming to establish unprincipled “unity”. Recall … how he praised the Paris Rabochaya Zhizn [newspaper of conciliators and liquidators]. How wonderful! -- wrote Trotsky -- “neither Bolshevik, nor Menshevik, but revolutionary Social-Democrat”. The poor hero of phrase-mongering failed to notice a mere bagatelle -- only that Social-Democrat is revolutionary who understands how harmful anti-revolutionary pseudo-Social-Democracy can be in a given country at a given time.”

d) “By his kissing of Rabochaya Zhizn which had never fought against the non-revolutionary Social-Democrats in Russia, Trotsky was merely revealing the plan of the liquidators whom he serves faithfully -- ... This would assure complete victory for the liquidators [against the RSDLP of Bolshevik majority] and only their lackeys could pursue or defend such a line of action.

2 - Phraseology

“Leftist” phraseology, pompous, empty of any real content, destined to mask demagogy, lack of principles and supportive actions to the rightists.

a) “… These documents are full of ire; they contain more angry exclamations and declamations than real substance.

b) “... false are its phrases against “factions” … phrases that are powerless to dissolve the anti-Party factions, but are intended to weaken the Bolshevik faction ..."

c) “Trotsky provides us with an abundance of instances of scheming to establish unprincipled “unity”. Recall … how he praised the Paris Rabochaya Zhizn [newspaper of conciliators and liquidators]. How wonderful! -- wrote Trotsky -- “neither Bolshevik, nor Menshevik, but revolutionary Social-Democrat”. The poor hero of phrase-mongering failed to notice a mere bagatelle -- only that Social-Democrat is revolutionary who understands how harmful anti-revolutionary pseudo-Social-Democracy can be in a given country at a given time.”

e) "Even now, your outbursts against factionalism remain mere words, because you yourselves are a faction, one of the worst, least reliable, unprincipled factions."

f) “How is it, my dear conciliators, that, notwithstanding your virtue everybody hampered you, whereas everyone helped us in spite of all our factional wickedness?  It was because the policy of your petty group hinged only on phrase-mongering, often very well-meaning and well-intentioned phrase-mongering, but empty nonetheless.”

g) “The disarming [of funds and newspapers] of the factions is possible only on the basis of reciprocity -- otherwise it is a reactionary slogan, extremely harmful to the cause of the proletariat; it is a demagogical slogan, for it only facilitates the uncompromising struggle of the liquidators against the Party.

3 - Theoretical inability

The theoretical inability is intimately related to the class position of Trotskyism, and translates into: contempt for concrete reality, lack of principles, vacillations between right and left.

b) “The very foundation of conciliationism is false -- the wish to base the unity of the party of the proletariat on an alliance of all factions, including the anti-Social-Democratic, non-proletarian factions; false are its unprincipled “unity” schemes which lead to nothing ..."

c) “Trotsky provides us with an abundance of instances of scheming to establish unprincipled ‘unity’. … How wonderful! -- wrote Trotsky – ‘neither Bolshevik, nor Menshevik, but revolutionary Social-Democrat. …”

h) “For a long time now, Trotsky -- who at one moment has wavered more to the side of the Bolsheviks and at another more to that of the Mensheviks -- has been persistently carrying on propaganda for an agreement (or compromise) between all and sundry factions.”

i) You make yourselves ridiculous when you and Trotsky hurl accusations of factionalism at one another …; you do not take the trouble to think: what is a faction? Try to give a definition, and we predict that you will entangle yourselves still more; for you yourselves are a faction—a vacillating, unprincipled faction …”

j) “This is obviously untrue, and constitutes the very error of principle which Trotsky made, and which I exposed a year and a half ago. ... Trotsky’s error was in continuing to pass off the apparent for the real ... But after it [the Plenary], ever since the spring of 1910, Trotsky has been deceiving the workers in a most unprincipled and shameless manner by assuring them that the obstacles to unity were principally (if not wholly) of an organisational nature.”

4 – Inconsistency

k) “Every proposition the authors of the pamphlet [the Paris conciliators, Trotskyists] put forward, they immediately refute.

l) “The only difference between Trotsky and the conciliators in Paris is that the latter regard Trotsky as a factionalist and themselves as non-factional, whereas Trotsky holds the opposite view.

5 – Lies

Trotsky and the Trotskyists use the distortion of the facts and outright lies for various purposes:

a) "[The two documents of the Paris Trotskyist conciliators] signed by ‘A Group of Pro-Party Bolsheviks’, which appeared  in Paris …”

Two lies aimed at pretending to be what they were not: 1) They wanted to be seen as Bolsheviks, concealing this lie under the pretext they were not "official Bolsheviks" or "Leninist Bolsheviks" as if there were others sorts! 2) They wanted to be seen as pro-Party, although they did everything to split the party.

j) “This is obviously untrue, and constitutes the very error of principle which Trotsky made, and which I exposed a year and a half ago. ... Trotsky’s error was in continuing to pass off the apparent for the real ... But after it [the Plenary], ever since the spring of 1910, Trotsky has been deceiving the workers in a most unprincipled and shameless manner by assuring them that the obstacles to unity were principally (if not wholly) of an organisational nature.”

A lie to present appearance as reality and thereby deceive workers.

m) “In order to obscure this undoubted political fact, the complete failure of conciliationism, the conciliators are forced to resort to a downright distortion of facts. Just listen to this: ‘The factional policy of the Leninist Bolsheviks was particularly harmful because they had a majority in all the principal Party institutions, so that ...’”

Lenin refutes with well-known facts this lie used by the Trotskyists to conceal their political failure by blaming the Leninist Bolsheviks for it.

n) “Why did the conciliators resort to such a distortion of well-known facts? In order to give a wink to the liquidators, and curry favour with them. On the one hand, ‘joint work with the liquidators is impossible’. On the other hand—they   are ‘justified’ by the factionalism of the Bolsheviks!

A lie to curry favour with the right-wing and to blame the Leninist Bolsheviks.

o) "They [the Trotskyist Paris conciliators] say they are Bolsheviks who ‘do not share the organisational views of official Bolshevism’."

A lie to support their self-entitlement as Bolsheviks who only differ in organizational conceptions, as if this was not contradictory to being Bolshevik. (Lenin refutes such a thesis in detail.)

p) “Trotsky and Ionov [member of the Bund!], who asserted that they too were opposed to the liquidators, but that they understood the task of combating them differently. It is ridiculous, comrades—to declare, three years after the struggle began, that you understand the character of this struggle differently!”

A lie to dissimulate support of the right-wing on the grounds that they understand in a different way the task of fighting it. In fact, amounting to not fighting it.

6 - Inability to self-criticize

The cause of the continuing political failure of Trotsky and Trotskyists is always blamed on others, especially the "official representatives of Bolshevism."

(q) “… it is [as attributed by the Paris Trotskyist conciliators] the fault of factionalism, the factionalism of the Mensheviks, the Vperyod group, and of Pravda … and, finally, of the ‘official representatives of Bolshevism” who “have probably outdone all these groups in their factional efforts’.

r) “I have said that after a year and a half of domination in the Party centres, conciliationism has suffered complete political bankruptcy. The usual answer to this is yes, but that is because you factionalists were hampering us (see the letter of the conciliators—not Bolsheviks—Hermann and Arkady in Pravda [Trotsky’s Vienna group], No. 20).”

f) “How is it, my dear conciliators, that, notwithstanding your virtue everybody hampered you, whereas everyone helped us in spite of all our factional wickedness?...”

Notas | Notes

[1] POSDR = Partido Operário Social-Democrata Russo. Nessa época os vários partidos marxistas designavam-se social-democratas. O Sotsial-Demokrat era o jornal do POSDR publicado na clandestinidade de Fevereiro de 1908 a Janeiro de 1917 (58 números). Mais de 80 artigos e notas de Lenin apareceram no Sotsial-Demokrat. Alguns dos editores (Kámenev e Zinoviev) adoptaram uma atitude conciliatória em relação aos liquidadores e tentaram impedir a implementação da linha leninista. Os membros mencheviques, Mártov e Dan, sabotaram o trabalho da Redacção do jornal e defendiam abertamente o liquidacionismo no Golos Sotsial-Demokrata. A luta intransigente de Lénine contra os liquidadores levou Mártov e Dan a saírem da Redacção em Junho de 1911.
RSDLP = Russian Social Democratic Labour Party. At the time the various Marxist parties were denominated social democratic. The Sotsial-Demokrat was the RSDLP journal published clandestinely from February 1908 to January 1917 (58 issues). Over 80 articles and notes by Lenin appeared in Sotsial-Demokrat. Some of the editors (Kamenev and Zinovyev) adopted a conciliatory attitude towards the liquidators, and tried to prevent the implementation of the Leninist line. The Menshevik members, Martov and Dan, sabotaged the work of the Editorial Board of the paper and openly defended liquidationism in Golos Sotsial-Demokrata. Lenin’s uncompromising struggle against the liquidators led to Martov and Dan leaving the Editorial Board of Sotsial-Demokrat in June 1911.

[2] Na descrição de acontecimentos históricos baseamo-nos não só nos trabalhos de Lénine como também em notas a esses trabalhos publicadas pelas Edições Progresso de Moscovo, usadas nas obras completas de Lénine em várias línguas, nomeadamente em português, inglês (no MIA com apreciável influência trotskista), espanhol, francês e italiano, que compulsámos. Essas notas baseiam-se em factos objectivos: actas de reuniões, conferências e congressos, que foram publicadas e eram do domínio público, órgãos editoriais de jornais, dados sobre votações, etc. Em algumas poucas actas originais em russo que analisámos em parte não encontrámos discrepância com notas das Edições Progresso. Também nos socorremos de artigos e livros de historiadores de várias persuasões (citados em artigos anteriores) onde nunca encontrámos qualquer desmentido sobre as referidas notas, inclusive de historiadores hostis ao poder soviético.
In describing historical events we rely not only on Lenin's works but also on the respective notes published by the Progress Editions, Moscow, which appear in Lenin's complete works in various languages, namely Portuguese, English (in MIA with considerable Trotskyist influence), Spanish, French and Italian, which we have consulted and compared. These notes are based on objective facts: minutes of meetings, conferences and congresses, which were published and were in the public domain, newspaper editorial bodies, voting data, etc. In the few original Russian minutes we have partially analysed, we found no discrepancy with the notes from Progress Editions. We have also relied on articles and books by historians of various persuasions (cited in previous articles) where we have never found any denial of the mentioned notes, including from historians hostile to Soviet power.

[3] Os bolcheviques correspondiam à fracção maioritária (daí o nome) que emergiu do II Congresso do POSDR como defensora de um partido marxista revolucionário. Os mencheviques correspondiam à fracção minoritária (daí o nome) que emergiu do II Congresso do POSDR com posições oportunistas. Ver: Sobre Trotski I e II e nota 12 de II.
The Bolsheviks corresponded to the majority faction (hence the name) that emerged from the Second RSDLP Congress as defender of a revolutionary Marxist party. The Mensheviks corresponded to the minority faction (hence the name) that emerged from the II RSDLP Congress with opportunistic positions. See: On Trotsky I and II and note 12 of II.

[4] No trabalho No Caminho, de 10 de Fevereiro de 1909, Lénine retrata bem a gravíssima crise que atravessava o POSDR: «Passámos por um ano de desintegração, un ano de discrepâncias ideológicas e politicas, un ano de desorientação do partido. Todas as organizações do partido viram reduzidos os seus efectivos, e algumas -- precisamente as que contavam com uma menor quantidade de proletários -- ruíram. As organizações partidárias semilegais criadas pela revolução sofreram golpe atrás de golpe. A tal ponto chegaram as coisas que alguns membros do partido, influenciados pelo ambiente de desagregação, preguntavam se era preciso manter o Partido Social-Democrata tal como antes ...»
Também Estáline, escrevia do Cáucaso em Agosto de 1909 em A Crise do Partido e as nossas Tarefas: «Não é  segredo para ninguém que o Partido está a passar por uma crise severa. A perda de membros, a contracção e debilidade das organizações, o seu mútuo isolamento, a ausência de trabalho coordenado do Partido – tudo isto mostra que o Partido não anda bem, está a passar por uma grave crise.»
In his work On the Road, 10 February 1909, Lenin presents a clear picture of the very serious crisis that the RSDLP was going through: “A year of disintegration, a year of ideological and political disunity, a year of Party driftage lies behind us. The membership of all our Party organisations has dropped. Some of them—namely, those whose membership was least proletarian—have fallen to pieces. The Party’s semi-legal institutions created by the revolution have been broken up time after time. Things reached a point when some elements within the Party, under the impact of the general break-up, began to ask whether it was necessary to preserve the old Social-Democratic Party ...” 
Stalin also wrote from the Caucasus on August 1 and 27, 1909, in The Party Crisis and Our Tasks: “It is no secret to anyone that our Party is passing through a severe crisis. The Party’s loss of members, the shrinking and weakness of the organisations, the latter’s isolation from one another, and the absence of co-ordinated Party work—all show that the Party is ailing, that it is passing through a grave crisis.”

[5] A asserção de que G. Zinoviev e L. Kamenev (e outros) eram já nessa altura aliados ocultos de Trotski, que consta das notas das Edições Progresso, parece-nos bem alicerçada em muitos factos, nomeadamente:
-- A rejeição do artigo de Lénine na reunião da Redacção do Sotsial-Demokrat em 3 de Novembro de 1909.
--  Na conferência da Redacção ampliada do Proletari (órgão dos bolcheviques) convocada por Lénine e realizada em Paris de 21 al 30 de Junho de 1909, Zinóviev, Kámenev, Rikov e Tomski tomaram posições conciliadoras em várias questões. Na conferência participaram otzovistas: A. Bogdánov, V. Shántser e o representante da organização regional de Moscovo, V. Shuliátikov.
-- Em Novembro de 1909, Lénine, de acordo com a resolução da citada conferència do Proletari, apresentou um plano de aproximação dos bolcheviques com os mencheviques pró-partido para lutar em comum contra os liquidadores e otzovistas. Zinóviev, Kámenev e Rikov opuseram-se ao plano leninista e tomaram posições conciliadoras semelhantes às de Trotski.
-- No plenário do CC em Paris de 15 de Janeiro a 5 de Fevereiro de 1910, Zinóviev, Kámenev e Rikov de novo tomam posições conciliadoras. Quando, na resolução final, se decide subsidiar o Pravda (de Viena) de Trotski, sob condição de incorporar um representante do CC na sua Redacção, é bastante suspeito que tenha sido nomeado Kámenev, cunhado de Trotski, para desempenhar esse cargo. É ainda mais suspeito que Trotski não tenha encontrado em Kámenev oposição à sua violação da resolução; pelo contrário, de imediato o «exonerou» do cargo.
-- Lénine diz o numa Carta a G. Zinoviev de 24 de Agosto  de 1909 (ver em Trotski II) «... espero que o tenha convencido de que Trotski se comporta como um infame carreirista e fraccionista do tipo Ryazanov e C.ª». Este «espero que o tenha convencido» só pode significar que Lénine sabia que Zinoviev ainda não estava «convencido».
We consider the assertion which appears in the notes of Progress Editions, that G. Zinoviev and L. Kamenev (and others) were already at that time concealed allies of Trotsky, to be well grounded in many facts, particularly:
-- The rejection of Lenin's article at the meeting of the Sotsial-Demokrat editorial board on 3 November 1909.
-- At the Proletari (Bolshevik organ) conference convened by Lenin and held in Paris from 21 to 30 June 1909, Zinoviev, Kamenev, Rykov and Tomsky took conciliatory positions on a number of issues. The conference was attended by otzovists: A. Bogdánov, V. Shántser, and the representative of the Moscow regional organization, V. Shuliátikov.
-- In November 1909, Lenin, in accordance with the resolution of the cited Proletari conference, proposed a plan for a rapprochement of the Bolsheviks with the pro-party Mensheviks in order to fight together against the liquidators and otzovists. Zinoviev, Kamenev, and Rikov opposed the Leninist plan and took conciliatory positions similar to those of Trotsky.
-- At the CC plenum in Paris from 15 January to 5 February 1910, Zinoviev, Kamenev and Rykov again took conciliatory positions. When in the final resolution it was decided to subsidize Trotsky's Pravda (of Vienna), on condition that it incorporated a CC representative into its editorial board, it is highly suspicious that Trotsky's brother-in-law Kamenev was appointed to that position. It raises even more suspicions that Trotsky did not find from Kamenev any opposition to his violation of the resolution; on the contrary, he immediately discharged” him from office.
-- Lenin says in a letter to G. Zinoviev of 24 August 1909 (see Trotsky II) “... I hope it has convinced you that Trotsky behaves like a despicable careerist and factionalist of the Ryazanov-and-Co. type”. This "I hope it has convinced you" can only mean that Lenin knew that Zinoviev wasn’t yet "convinced".

[6] Lénine refere-se em Notas de um Publicista (Março 19 e Junho 7, 1910)  a esta carta de Estáline (camarada K. St.), que desenvolvia a sua actividade revolucionária no Cáucaso. A carta, dirigida contra os liquidadores de Tiflis, foi escrita em Dezembro de 1909. A fracção menchevique da Redacção do Sotsial-Demokrat negou-se a publicar a carta; apareceu em 7 de Junho de 1910 no Diskussionnii Listok, n.º 2, junto com a resposta de N. Jordania, dirigente dos mencheviques do Cáucaso. Lénine diz que a resposta de Jordania (camarada An) «confirma as graves acusações do  autor da Carta do Cáucaso »
Lenin mentions this letter from Stalin (Comrade K. St.) in Notes from a Publicist (March 19 and June 7, 1910). Stalin was then engaged in revolutionary activity in the Caucasus. The letter, directed against the Tiflis liquidators, was written in December 1909. The Menshevik section of the Sotsial-Demokrat editorial board refused to publish the letter; it appeared on June 7, 1910 in Diskussionnyi Listok, No. 2, along with the response of N. Jordania, leader of the Caucasus Mensheviks. Lenin says that Jordania's response (Comrade An) "confirms the gravest accusations of the author of the Letter from the Caucasus”.

[7] Em Novembro de 1909, Lénine, de acordo com a resolução da Conferência da Redacção ampliada do Proletari (jornal bolchevique), apresentou um plano de aproximação e formação de um bloco dos bolcheviques com os mencheviques pró-partido (grupo Plekanov) para lutarem juntos contra os liquidadores e otzovistas. Os conciliadores Zinóviev, Kámenev e Rikov esforçavam-se por unir os bolcheviques com os liquidadores e os trotskistas. Os membros do CC I. Dubrovinski e V. Noguin mostraram uma atitude vacilante e conciliadora. A rejeição da proposta de Lénine motivou a convocação do plenário do CC.
In November 1909, Lenin, in accordance with the resolution of the Conference of the enlarged editorial board of Proletari (Bolshevik newspaper), presented a plan for a rapprochement and formation of a block of the Bolsheviks with the pro-party Mensheviks (Plekhanov group) to fight together against the liquidators and otzovists. The conciliators Zinoviev, Kamenev, and Rykov strove to unite the Bolsheviks with the liquidators and the Trotskyists. The CC members I. Dubrovinski and V. Noguin showed a vaccilating and conciliatory attitude. The rejection of Lenin's proposal led to the convening of the CC plenum.

[8] A CTE foi constituída numa reunião do CC a 14 de Junho de 1911, com a missão de cumprir funções técnicas de edições do partido, transporte de publicações, etc. Depois dos ataques da CTE e da sua recusa de acatar as decisões da COR numa reunião de 1 de Novembro de 1911, os bolcheviques romperam com ela.
The TCA was formed at a CC meeting on 14 June 1911, with the mission of fulfilling technical functions of party editions, transportation of publications, etc. Following the TCA attacks and its refusal to abide by OCR's decisions at a meeting on November 1, 1911, the Bolsheviks broke with it.

[8a] MIA: message

[8b] MIA: quite

[9] Iónov (F. M. Koigen) era um dos líderes do Bund, uma organização dos trabalhadores judeus na Lituânia, Polónia e Rússia filiada no POSDR, que a partir de 1906 aderiu aos mencheviques. Tomava posições nacionalistas.
Ionov (F. M. Koigen) was one of the leaders of the Bund, an RSDLP-affiliated Jewish workers' organization in Lithuania, Poland and Russia which from 1906 joined the Mensheviks. It took nationalist positions.

[9a] The MIA translation uses “is” instead of the equal sign standing in the original (and in translations in other languages). Uses also “vice” instead of wickedness

[9b] MIA: object. (Below, they use “aim”.)

[9c] MIA: hint.

[9d] MIA: émigré.
[9e] MIA: bouquets.

[9f] MIA: praise.

[10] Lénine refere-se à resolução «Sobre o liquidacionismo» adoptada pela «Conferência das Organizações Social-Democráticas Transcaucasianas», que foi na verdade uma conferência de liquidadores caucasianos. A natureza anti-partidária da «conferência» foi exposta em correspondência publicada no n.º 24 de Sotsial-Demokrat de 31 de Outubro, 1911.
Lenin is referring to the resolution “On Liquidationism” adopted by the “Conference of Transcaucasian Social-Democratic Organisations”, which was really a conference of Caucasian liquidators. The anti-Party nature of the “conference” was exposed in correspondence published in No. 24 of Sotsial-Demokrat of October 18 (31), 1911.

[11] “Machismo” designa aqui a filisosofia empriocriticista do físico Ernst Mach que Lénine analisou em detalhe no seu livro Materialismo e Empiriocriticismo. Comentários críticos sobre uma filosofia reaccionária, escrito em 1908. Nele expõe o conteúdo idealista do empriocriticismo de Mach e de outros.

[11a] MIA: (missing).

[11b] MIA: The Diary of a Social-Democrat.

[11c] MIA: remains suspended.